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Carlos R. Jamil Cury. Dados Internaclonais de Cataloga'rao na Publica'r8o (CIP) (Camara Brasileira do Uvro, SP, Brasil)

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(1)

Carlos R. Jamil Cury

Dados Internaclonais de Cataloga'rao na Publica'r8o (CIP) (Camara Brasileira do Uvro, SP, Brasil)

CUf)', Carlos Roberto Jamil,

1945-Educarrao e contradirriio : elementos melodol6gicos para uma leoria crftica do fen6meno educativo I Carlos Robel1o Jamil CUf)'.-7. cd. - Sao Paulo. Col1ez. 2000.

Original mente aprescntada como lese de doulorado ~

Pontiffcia Universidadc Cat61ica de Sao Paulo, 1979. Bibliografia

ISBN 85-249-0025-3

1. Educarrao - Filosofia 2. Educarrao - Finalidadcs e objelivos 3. Sociologia educacional I. Thulo.

COO -370.1 -370.11 85-0874 -370.193 N N

EDUCA~AO

E

CONTRADI~AO

7!edi~o

Indices para ca1alogo sistematico: I. Educarrao: Filosofia 370.1

2. Educarr:lo: Finalidadcs e objclivos 370.11 3. Educarriio: Tcorias 370.1

(2)

EDUCA<;:Ao E CONTRADI<;:AO:

elementos melodol6gicos para uma leoria crltica do fen6mcno educativo Carlos Roberto Jamil Cury

Revisiio: Sucly Bastos

Ncnhuma pane dCSla obm pode ser reproduzicla ou duplicada sem

autoriza~ao expressa do autor e do edilor.

<D 1983 by Carlos Roberto Jamil Cury

Direilos para eSla edil\l:Io

CORTEZ EDITORA

Rua Banira. 317 - Perdizes

05009-000 - S:Io Paulo - SP

Tel.: (0__II) 864-0 III Fax: (0- _II) 864-4290

E-mail: cortcz@cortczeditora.com.br Impresso no Brasil - abril de 2000

,1

SUMARIO

SITUANDO

INTRODU9

.

.

~

.

7

AO

...

9

CAPITULO

I

As categorias

21 1. Essencia e fenomeno . . . 23 2. Representa<;:1i.o e cooceitua~ao 24 3. As categorias . . . 26 3.1. Contradi<;:1i.o . . . 30 3.2. Totalidade 34 3.3. Reproduyao 38 3.4. Mediayao . . . 43 3.5. Hegemonia ,... 45

CAPITULO

IJ EdUCQ(:iio e categorias . 53 1. Educaeyao e hegemonia . 54 !. Educaeyao e reprodu~ao ,.

59

,., .. j. Educaeyao e media<;:ao , . .:>.~ 4. Educaeyao e totalidade .

67

5. Educaeyao e contradiyao .

70

CAPITULO

III

Componentes

basicos

do

fenomeno

educativo

'

'.' .

87

J. ldeias pedag6gicas .

89

2. Instituieyoes pedag6gicas .

94

3. Material pedag6gico . 106 4. Agentes pedag6gicos . 112 5. Ritual pedag6gico . 118

CONCLUSAO

.

121 BlBLJOGRAFIA

13)

5

(3)

SIlUftHDO .. .

Este trabalho foi elaborado com a finalidade de preencher requi·

sitos necessarios para a obten~ao do titulo de Doutor junto

a

P6s­Gra-dua~ao em Educa~ao da  Pontificia  Universidade  Cat6lica  de  Sao  Paulo.  Sua  defesa  se  deu  em  outubro  de  1979.  Porlanto,  trata­se  de  urn  trabalho  muito  particul2rmente  datado.  Representa  urn  momento  em 

que  se  pretendia  superar  criticamente  as  teorias  da reprodu~ao.

o

grupo,  junto  ao  qual  estudei.  entendia  que  se  tais  teorias,  de 

urn  Iado,  evidenciavam  delerminados  mecanismos  de  manuten­;:ao  da 

ordem  estabelecida,  par  outro  lado,  quase  nao  deixavam  espa~ para 

uma supera~ao destes  mecanjsmos.  Seria  a reprodu~ao uma  categoria 

tao  terminal  assim? 

A  perspectiva  de  uma  ayao  transformadora  dentro  da  educayao  nao  poderia  ficar  apenas  com  a  reproduyao.  Com  a  recupera<rao  da 

contradiyiio  se  poderia  rever 0 sentido  da  a<rao  edllcacional,  ela  mesma 

contradit6ria.  Custava­nos  aceitar  que  a  educayao  tivesse  apenas  uma 

dimensao  que  satisfizesse  a  reproduyao  das  relayoes  sociais, ja que  tais 

relal;6es  sao  contradit6rias. 

Naquele  momento,  tais  reflex6es  represenlavam  para  n6s  uma 

ten-tativa  de  avanc;:o.  Entretanto, 0 avanyo  da  sociedade  civil, 

° 

espayo  de 

resistencia  conqllistado  e  as  pr6prias  rachaduras  no  bloco  de  poder 

possibilitaram 

°

desenvolvimento  da  pesquisa  e  do  ensino,  e  a  absory8o 

de  educadores  junto 

administrac;:ao  publica  da  educac;:ao. 

Vieram  as  encontros,  as  conferencias,  os  simp6sios  sobre 

educa-<rao,  de  dimens6es  locais  e  nacionais.  E  sobretudo avan~u· a  prMica 

social. 

Este  conjunto  de  deterD'linal;6es  possibilitou  que  se avan~asse oao 

s6  te6rica  como  praticamente  no  terreno  da  educa<;ao.  Varios  temas  nascidos  de  um  confronto  te6rico  se  viram  problematizados  pela  a<;ao 

politico­pedag6gica.  E  novos  enfoques  surgiram,  novas  pesquisa~ se 

fizeram  e  outras  crIticas  estao  nascendo. 

Felizmente,  assiste­se  a  urn  verdadeiro  fervilhar  de  pensamento  em  que  a  ayao  prMica  e  as  teorias  crIticas  se  fecundam  e  se  redefinem  mutuamente. 

(4)

o

momento em que est.e trabalho se realizou, com suas referencia>. cit8s;oes e seu pr6prio conteudo possibilita ao leitor estabelecer urn para· .:IGtro de quanta 0 avaris;o social inovou e superou no ambito da eu lcas;ao.

Do ponto de vista do texto ora pubUcado, prbcurou-se mante-Io qUllse que identico ao da tese. Algumas atualiza~6es de datas na biblio. grafia, alguns cortes se fizeram necessarios ao caniter de livro.

De qualquer modo, sua finalidade te6rico-metodoJ6gica dentro da perspectiva dialetica da educa~ao continua direcionada a uma peda-gogia, ao mesmo tempo critica e democratica, em func,:ao dos que atuam no espayo educacional.

Carlos Roberto

J

amil Cury

8

II

NTRODUCAO

Este ensaio se propoe a estabelecer algumas categorias capazes de permilir a compre~ns~o. do f~n~meno educa~ivo dentro de uma abran-gencia maior. ~ P:ID~t.pIO cogltel de entrel.ac,:a.las .de modo a aprof~ndar

8 rel8yiio teona-hlstona, tal como me

fO!

sugendo quando da dlsser-t8yaO de Mestrado (Cury, 1984). Entretanto, 8 tentativa de desenvolver eSS8S categorias no conjunto de atividades exercidas no ambito do magistcrio me revelou a necessidade de estuda-las especificamente. 0 estudo, deslocado para 0 momenta te6rico, tornou-se problematico.

No exercicio do magisterio, especialmente nas aulat; de Filosofia da Educayao do Programa de Licenciatura da Pontificia Universidade Cal6lica de Sao Paulo, e tambem nos cursos do Mestrado em Educac;ao como discente e docente, percebi a necessidade de explicitar determi-nados conceitos, cujo esclarecimento viesse a

sec

urn instrumento de compreensao do fen6meno educativo. Essa necessidade nasceu tanto de minha preocupac;ao em tornar mais clara a analise quanto da dos dis-centes em entrar em contato com uma perspectiva mais tcarica. Alunos e colegas de varias areas das ciencias humanas e das ciencias exatas (nos cursos de licenciatura) alertaram-me para uma tarefa nesse sen-tido. A forma como se conduziu 0 curso de doutoramento fez com que

isso se tornasse para mim uma oecessidade objetiva e de carateI' dida-tieo. Urgia uma res posta

a

problemarica e vi na tese de doutorado 0

momento dessa resposta.

o

modo como 0 trabalho foi construido, de certa forma, acom-panhou a crescimento dessa necessidade. A prLncipio algumas ideias, posteriormente uma tentativa de elaborac;ao mais pensada, ainda que incipiente (Cury, 1979) e assim sucessivamente, como que num diaIogo critico entre a expressiio coerente do objeto de estudo e um meio ade-guado de realiza-Ia. 0 raciocinio cresceu POl' dentro, para 0 que muito

contribufram as observayOes feitas por alunos, colegas de curso, profes-sores, estudos pessoais e oricntac;ao. Ap6s varias tentativas, cheguei a Uma formulac;ao que julgo satisfat6ria para as finalidades didatico-ins-trumentais a que esse trabalho se propOe. Mas, de modo algum penso ser essa uma reda<;iio permanente ou definitiva. Ao contrario, trata-se

(5)

--

-

---

-de urn trabalho aberte, nao so as sugestoes possiveis, mas tambem

a

sua provisoriedade DO tempo e nO espac;o.

Assim, apesar de ter partido da quase-obrigatoriedade de urn entre-laltamento  da  teoria  com  urn  momento  hist6rico  definido  da  educayao  brasileira,  julguei  oportuno,  por  outro  lado,  a  preenchimento  da  neces-sidade  didatica  acima  referida  como  resposta  a  urna  carencia  que,  sem 

duvida,  tern  alguma  coisa  a  vet  com 0  momento  hist6rico  que  vivemos. 

A  preocupas;ao  irucial  de  continuidade  da disserta~ao de Mestrado se 

deslocou  para 0  momento  te6rieo  da  educaltao.  Em  outros  termos,  isto 

quer  dizer  que  se  optou  por  uma  enfase  maior  no  momento  propria-mente  te6rieo­filos6fico  do  que no  hist6rico­polftico.  Nao  que  esse  ultimo 

fosse  separado do  momento  anterior.  Pelo  contrario,  a  politica,  como 

sugere  Grarnsci,  nao  e  senao  uma filosolia em a~iio (Gramsci,  1978:  44 

e  212). 

que  signifies  uma unidade entre am~u sej~idade

e~eoria e  pratlea.  ~ essa unid~de se  identific~6 na  mutua 

complementaridade  de  ambos  os  momentos, m~-lamh~JJL_ns feleologia 

q1:ieOS1i1forma. ~ ha 

e

urns distTri~fio (e  nao  divisao)  entre  ambos, 

eta! aistins:ao, 

quan4 

olhada  do  ponto  de  vista  da  mosoHa,  se 

preo-cups.­ com 0  grau  de  abrangencla  com­:!ue  as  ea ~g n~ ~~

deter-minada  teorla  aj;teencrerD'"Oteal  na  sua  concretude.  E,  nesse  ensaio,  o  momenta  filos6fico  quer  reveIaro  g;;u  mais  abrangente  de  certas 

categorias  da  filosofia  da  praxis  para 0  dimensionamento  do  fen6meno 

educativo. 

Mais  do  que  lim  exercicio  especulativo, este estudo nao tern raziio

em si mesrno, mas como urn instrumento possivel de analise de con-;untura. 0  fato  de  se  apoiar  numa  linha  gramsciana  quer  dizer  apenas 

que 0 pensamento  desse  autor  contribui  mais  positivamente  ao  objetivo 

do  traba!ho,  que  nao  se  limita  a  ela,  se  pode  vir  a  ser  refors:acla  por  uma  pluralidade  de  autores  que,  dentro  de  urn  horizonte  comum, 

cola-borem  nessa  proposis:iio. 0  que  se  quer  revelar 

que  a  contribuiltao  de 

Gramsci,  coadjuvada  por  outros  autores,  permite  uma  leitura,  quiya  menos  erudita,  porem  mais  aproximada  da  realidade.  As  conceitualt0es 

d~lilosofia da""'praxis  valorizarn  detenninadas  categorias ~~ ;;'ao  sao

I

v~onz1i(raS

em..out~s

conceit~ac;6es

~p~mai0t:..g[au

de 

abrangen-II

cia,  permitem  uma  leitura  mais  compreensiva  do  Leal. 

,.

Embora  correndo 0  risco  de  uma  visualizayao  a­historica, 0 

feno-meno  educativo  foi  considerado  na  16gica  fundamental  do  capitalismo, 

e  naquilo  que  !he 

determinante  onde  quer  que  e1e  exista:  suas

rela-foes sociais contraditOrias no  contexto  da  apropriayao  do  exeedente  econ6mico  e  da  luta  de  classes,  Iatente  ou  manifesta. 

1. PRIMEIRO PROBLEMA -

A CAMINHO DE UMA POSTURA

DIAL£TlCA

Inicialmente  entendemos  jii  ser  possfvel  a  supera<;ao  das  categorias  ue  pretendem  dar  conta  do  fenomeno  educativo  ficando  apenas  em 

q   d d ­ .

seus  elementos  aparentes  ou  propon 0 a  e  ucayao  como  urn  uruverso 

separado  do  mundo  das  relac;:oes  sociais,  ou  mesmo  vendo­a  como  urn  mero  epifenomeno  das  estruturas  de  base. 

A  teoria  determinista  propunba  a  educac;:ao  como  mera  adaptatyao  do  individuo  as  exigencias  e  objetivos  de  uma  situas:ao  dada,  contra  os  quais  elc  nao  poderia  se  opor.  As  normas  previamente  dadas  e  deter-minadas  deveriam  ser  assumidas  peIo  indivlduo.  Exemplos  dessa  teoria  sao  as  correntes  americanas  surgidas  no  decurso  dos  regimes  nazi­fas-cistas  do  seculo  XX,  as  conentes  americanas  do  perenalismo  e  as  dos 

seguidores  de  Durkbeim. 0  perenalismo  acaba  por  afinnar  a 

perma-nencia  sobre  a  mudanc;:a.  A  permaperma-nencia  seria  mais  eonereta  que  a 

transformac;:ao,  pais  a  natureza  do  homem 

constante.  Assim,  tambem 

a  educayao  deve  ser  constante.  Nessa  medida,  enquanto  os  homens  sao  basicamente  os  mesmos  em  toda  a  parte,  a  educayao  deve  ser  a  mesma 

para  todos,  preocupada  com  as  permanencias  espirituais e Jisicas do 

mundo.t  Os  seguidores  de  Dutkheim  indicam  que  social 

hetero-geneo  e  que  a  funyao  da  educac;:ao 

garantir  essa  heterogeneidade, 

ajustando 0 indivlduo 

a

ordem  social,  mediante  uma  homogeneidade 

ideologiea.:: 

Nessas  correntes,  0  pape!  reservado  ao  homem  concreto,  ator  e 

I

sutor  de  uma  estrutura  social, 

0  de  se  enquadrar  aos  ditames  domi­ \ 

nantes  desta,  ja  gue  em  momento  algum  se  questiona  a  totalidade  da  , 

estrutura  social. /Assim,  a  educaS;ao  nao  passaria  de  urn  mecanismo gu~

.~justa os  individuos 

ordem  social  vigente,  pela  transmissao  de  urn  saber  definido  pelo  poder  politico  estabelecido. 

Por  outro  lado,  a  teada  individualista,  baseada  na  Iiberdade  enos  

direitos  do  indivfduo,  propunha  a  educas:ao  como 0 desenvolvimento  e  

aperfeiyoamento  das for~as individuais,  ajudando 0 homem  a  se  realizar  

a  si  mesmo,  sem  que  os  objetivos  da  ordem  social  {ossem,  na  sua  

essencia,  postos  em  dt'ivicla.  Caberia  a educa~ao, mediante 0 plena 

desen-1.   Para  uma  exposiitao  mais  detathada  dos  princlpios  do  perenalismo  cr.  KNELLER,  G.  F.  (1966:  141­148).  Conludo 

born  observar  que 0 estudo  das  condic;:6es  hist6ricas  e  sociais  nao esta presente  nas  analises  desse  aUlor,  de  modo  a  evidenciar 0  processo  de  surgimento  dessas  teorias. 

2.   Para  uma  visao  mais  direta  desse  pensador  frances.  cf  FORACCHI,  M.  e   PEREIRA.  L.  (1971:  34­48).  No  Brasil.  urn  educador  que  se  pautou  oa  linhll   durkheimiana  foi  Fernando  de  Azevedo.  

(6)

volvimento de cada urn, realizar uma ordem social mais justa, pois esse desenvolvimento significaria urn melhorarnento de todos os grupos sociais. Tambem surgidas no inkio do secul0, essas teorias de cunho reno-vador  tiveram  urn  grande  desenvolvimento  nos  EUA,  em  CUj0  interior 

o  nome  de  Dewey  aparece  como  expoente  fundamental.  0  movimento 

escolanovista  representava  essa  tendencia  e  a  decada  de 30  foi,  no Brasil, 

urn  dos  momentos  mais  ferteis  de  sua  difusao  (Cury,  1978;  Ribeiro, 

1978). 

Enquanto  a  tearia  determinista  afirma 0  status quo, a  individuaIista 

afirma 0 individual.  De  fato,  a  primeira  centra  a  educayao  em  tomo 

de  urn  mundo  estaticamente  considerado,  e  a  realidade  social  ou is urn 

obstaeulo  para 0  desenvolvimentOdo  individuo,  ou  uma  fonte  de 

bene-'f[clOs,  atraves  da  qual 0  individuo  luta  por  uma  existencia  vitoriosa. 

Ja 

a  5egunda  56  ve  a  contradiy80  entre  indivfduo  e  sociedade, 

que  se  resolve  tanto  pela  adequayao  do  individuo  a  ordem,  quanta  peIa 

correc;ao  da ordem atraves 

doapertel 

oamento continuado dos  indiyfduos. 

ffibas,  a 0 0 ponto  de  vista  sob 0 qual  veem 0 fen6meno  educativo, 

acabam  por  reprcsenta­Io  dentro  de  urn  sistema  objetivo  de rela<;:oes 

sociais  que  permite  sua  reproduyao, 0  que  implica  a  aceita<tao  das 

rela-<;:oes  sociais  existentes. 

Em  ambas, 

hi

uma  falta  de  compreensao  dialetica  do  E.rocesso 

medra~

era

eCluca<;:ao.  Transformam  aspectos  do  real  em  categorias  indepen­dentes  e;stas,  por  sua  vez,  se  transformam  em  for9as 

indepen-dentes  que  regulam  a  atividade  humana.  A  rela<tao  entre  tais  forl;;as_ 

:vista  em  suas ·conexoes  reciprocas,  externas  e  mecanicas. 

Ora,  um  tal  dualismo  tem  sua  16gica  contestada  na  medida  em 

que  a  dialetica  individuo­sociedade  nao  &e 

da

senaQ..pela.­mediayao.  do 

.mundo  Qpjetivo  hist6rieo  e  social.  Como  diz  Suchodolski: 

"Nas contradi~5es que  agitam 0  mundo  objetivo  dos  homens,  as  con·  cep~5es burguesas  apenas  viam  dois  antagonistas: 0  indivlduo  e 0  gru-po.  Os  liberai5  56  davam  razao  ao  primeiro.  enquanto  que  os  totalita-rios  56  a  conferiam  ao  segundo.  Mas  nem  uns  e  nem  outros  queriam  reconhecer  que  nessas  conlradis:6es  inlervinham  nao  56  dois  elementos,  mas  Ires,  e  que  esle  terceiro  antagonista,  que  6 0  mundo  objetivo,  hist6rico  e  social,  tem  um  papel  preponderante"  (Suchodolski,  1976:  18). 

Mais  recentemente  surge  uma  terceira  tendencia  que  se  opoe  as 

duas  primeiras.  Opoe­se  a 

ebs 

pois  critica  a  convergeDcia  de  ambas  oa 

aceita9ao  das  rela<toes  sociais  exi6tentes.  Trata­se  da teoria da vioLencia

simb6lica de  Bourdieu  e  Passeron  e  da teoria marxista dos aparelhos ideo/6gicos de Estado (Bourdieu  e  Passeron,  1975;  Althusser.  1974). 

Insistindo  demasiado  na  reproduC;ao  das rela~oes sociais  e  no  refon;:o 

12

educac;ao  Ihes  da,  enfatizando  a  impositividade  quase  absoluta 

que a  aparelhos ideol6gtcoS (e  entre  esses  a  e  ucac;ao  em  suas d - d'f

I ereotes 

os  _ 5 l'nsIJ'tucionalizadas),  essa  tendencia  acabou  por  DaO  dar 0  deyiclo

versoe  ­ .. 

nee 

a

eontradis:ao.  Ao  enfatizar 0 caniter  reprodutor  e  impositivo  da 

I

aca

_00 

1 d  d

educa~ao, nao aeentuot~ ~onvenlentement: 0 ~ap~ . a.  contra. ic;ao  nas   .  stancias  poHtico·ideoJoglC8s,  como  tam bern  nao  InSlshu  naqullo  que  a  

I~ucayao

dominante  pretende  dissimular:  a  pr6pria  contradiyao  no  seio  

. aas  relas:6es  de  prodw;ao  c  das  forcas  produtiyas.  Nesse  caso, 0 papel  

mediador  da  educac;ao,  no  seu  aspecto  espeeifieamente  educativo,  tinha  

apenas  uma  mao  de  dire<;:ao,  urn  sentido:  0 de  eima  para  baixo. 

A  crltica  dessas  coneepyoes  trouxe  a  luz  nao  s6  os  mecanismos  usados  pelas  classes  dominantes  a  fim  de  manterem  urn  estado  de  coisas,  mas  tambem  a  necessidade  de  desenvolver  categorias  que  dessem  c' 

d~eno

educatiyo  no  seio 

de 

reJa¢ies  cODtradit6rias. 

Uma  visao  dialetica  do  homem  e  de  seu  mundo  hist6rico­social  impliea  conceber  os  dois  termos  da  contradiyao  (indivfduo­sociedade)  de  modo.a  rejcitar  tanto  a  concers­ao  que  unilateraliza  a  adaptayao  do 

individuo 

realidade  do status quo, como  a  que  propoe  a  realidade 

como  urn  dado  estatico. 

i

Mas,  alem  disso,  implica  conceber  a  realidade 

social  como  efetivo  espayo  da  luta  de  classes,  no  interior  da  qual  se 

efetua  a  edUC8yaO,  rejeitando  a  impositividade  da  dominayao,  como 0 

espontaneismo  das  classes  dominadas."I 

A  educaeyao  se  opera,  Da  sua  unidade  dialetica  corn  a  tptalidade,  como  um  proccsso  que  con juga  as  aspirayoes  e  necessidades  do  homem  no  contexto  objetivo  de  sua  situa9ao  hist6rico­social.  A  educac;aoe  .entao,  uma  atividade  humana  participe  da  totalidade  da  organiza<;:ao  social.  Essa  relaC;ao  exige  que  se  a  considere  como  historicamente  deter-minada  por  urn  modo  de  produc;:ao  dominante,  em  nosso  caso,  0  capi-talista.  E,  no  modo  de  produ<tao  capitalista,  eIa  tern  uma  especificidade  que  s6  IS  inteligfvel  no  contexto  das  relayoes  sociais  resultantes  dos 

con-f1itos  das  duas  classes  fundamentais.  AssJrn,  considerar  a  educa<;:ao  na 

I'

sua  unidade  cliaI€tica  com  a  sociedade  capitalista  e  considera­Ia  no 

lprocesso  das  relaeyoes  de  dasse,  enquanto  essas  sao  determinadas,  em 

~ltima instancia,  pelas  relas:6es  de  produyao.  Do  antagonismo  entre  as 

classes,  uma  delas  emerge  como  dominante  e  tenta  a  direyao  sobre 0 

conjunto  da  sociedade,  atraves  do  consenso.  Assim,  a  cJasse  dominante,  para  se  manter  como  tal,  necessita  permanentemente  reproduzir  as 

con-diyoes  que  possibilitam  as  suas  fonnas  de  domina9ao, ~ 0 gue  as 

contradis:6es  do  proprio  sistema  viriam 

a

luz  do  dia. 

Uma  dessas  condi<;:oes 

a  obten<;:ao  de  um  consenso  que  legitime 

a  concepyiio  de  mundo  da  classe  dominante  pela  explicayao  e  (re)defi.  13 

(7)

nieao de ideias, valores e crencas consentaneas a essa conc",pC;~ll. ,k

tal forma que ganhem validade cognoscitiva e justificadora da onkm vigente. Entao 0 consenso se torna lmportante, pois atraves dele se

assegura e se tenta validar a dominaciio.

t.

aqui que a educacao oeupa

um papel especlfico como mediacao de uma hegemonia em curso. Como afirma Lefebvre, a reproducao das relac6es de produyao:

"nao pode e nao

po

de consumar·se sem um certo consentimento pelo menos possi vo do classe operario... 0 consentimento roi arrancado por lodos os meios, pela viol€ncia e pela persuasao" (Lefebvre. 1973: 71).

Mas, em que pesem os esforcos da classe dominante, a contra· diyao se introduz tambem af porque as relacoes entre as classes se dao num processo dialetico de oposicao/subordinac;ao.

A educacao e sua analise, entao, devem ter como ponto de partida sua presenca imanente numa totalidade hist6rica e social. Ela manifesta essa totalidade, ao mesmo tempo que participa na sua produCao. Tal manifestacao se da na pr6pria estruturaciio capitalista dessa totalidade.

A educayao entao nao reprodu~_ as ..relacoes de-.., dasse, mas estas se

fazem presentes naeducacao, articulandoa com a tofiiliaade.

---~

-

---Muitas vezes. ao se falar em edueac;ao, corre-se 0 risco de com·

preende-Ia de forma homogenea. A enfase na homogeneidade se torna

problematica. 0 carater equfvoco nesta quesHio nao

e

gerado apenas

por um mal-entendido semantico. 0 carater equivoco reside na

concei-tuac;ao e nasce na pr6pria localizacao social dos que elaboram tal

discurso. e.ois 0 lygar social imp6e uma forma

de

apreender 0 mundo,

----~--

---

---coerente com seu modo de l'elacionamento com 0 rearPor isso a figacao

das teorias pedag6gicas com 0

lugar social

ocupado pelos que discursam

nao

e

mere trabalho academico, ~~mente a possibi~de de

h.isto-ricizar aquela ligay80. .

o

e1enco de categorias metodol6gicas que se pretende evidenciar

se abl'e a duas dimensoes.

Primeira:

coloca-las numa relac;ao

historici-zante, isto

e,

toda a producao social, no seu mais amplo sentido, 6

determinada pelas condic6es sociais que caracterizam uma sociedade, no

nosso caso, a capitalista. 0 que significa que a producao do modo de

existencia sob 0 capitalismo se Jiga com a afirmacao da divisao da

sociedade em classes e suas conseqiiencias. Assim, 0 carater equivoco

das categorias das teorias pedag6gicas decorre da posiCao ocupad~_'p-eLos

. agentes sociais que as elaboram no processOde prodUyao da existencia.

~ A sociedade capitalista, dada sua divisao em classes, nao pode tel'

.flnalidadesnomogeneas. Par isso seus dlSCurSOS tambem sao

confli-tuosos, ainda que nem sempre aparecam como tais.

0

conhecimento

dessa equivocidade sup6e urn referencial te6rico-metodol6gico que

ins-mentalize a compreensao dos mecanismos da sociedade e dos

inte-tru ses sociais que con uzem a pr pna mamlca SOCIa. d 6 . d' A ' • I p' b

015 em, ~

res . - ' d' , . t h '

lementos teoncos sao 111 IspensavelS para es e can eCimentQ e essa

~JDpreensao?

Que elementos

te6rico-metodo16gico~

sao indispensaveis para que em cada situacao seja posslvel a aprofundamento dessa

corn-- ? preensao.

Segunda:

coloca-las de modo didatico, sem esgotar as virtualidades da pl'oposta. As categorias da contradicao, totalidade, mediac;ao,

repro-du~ao e hegemonia sao mutuamente implicadas e de tal forma que a

exposiyao e explicac;ao de uma ja

e

e exige a explicac;ao e exposiCao

das outras. Dessa forma, pretende-se categorias dialetizadas que se mediem mutuamente. A categoria da contradiyao, para nao se tornar cega, s6

se explicita pelo recurso

a

da totalidade. Essa, por sua vez, para

se tornar vazia, necessita recuperar a da contradicao em uma sintese mais abrangente. Conseqiientemente, exige a superac;ao dos dualismos

ou reducionismos. A categoria da totalidade, pOl' sua vez, exige uma

cadeia de mediayoes que articule 0 movimento hist6rico e os homens

concretos. Semelhantemente as cadeias de mediacoes, nu~totalidade

'concreta e contraditoria (como

e

a sociedade capitalista), necessitam

explicitar 0 que mediar. Nesse caso

e

necessaria 0 recurso a categoria

da repl'oduc;ao, porque 0 sistema vigente, ao tentar se reproduzir par_a

se manter, reproduz as contradis:oes dessa totalidade, reveladas em seus

instrumentos e enlaces mediadores. E POl' Hm a manutencao desse mesrno

sistema, especialmente no caso da educacao, implica a busca de urn

consentimento coletivo pOl' parte das classe~aiA. Oaf 0 recurso

a

.-~~~o

de hegemonia. Mas essa

e

urna nocao dialetizada, e pOl' isso mesmo

ela nao

e

compreensivel sem a referencia as contradiy6es que a propria

direcao hegemonica busca atenuar.

o

risco que ::.~ corre de transformar a didatica em catequese

e

Hio

grande quanta 0 de transformar 0 discurso em herrnetismo. A exposiy80

didatica pretende ser urn serviyo de orientacao para pesquisas voltadas

para uma aoalise de conjuntura.

0

risco da didatica-catequese

e

evidente.

As referencias metodol6gicas podem se reificar e se tornarem a-hist6-ricas, metafisicas e, pOI' conseqiiencia, incapazes de dar conta do real. .A mutabilidade real das coisas nao se compatibiliza com uma

imuta-bilidade conceitual. Na verdade, as referencias nunca estao pronlas. Elas se inserem no processo social porque nascem dele e dele sao expressao .

.Ora, 0 processo social

e

mutavel, e 0

e

tambem porgue incorpora

ele-mentos de conhecimento, nascidos da reflexao .

o

sentido do entrelat;:ameoto das duas dimens6es em relacao a

(8)

de sua proposta e DaO apenas 0 modo de faze-lao 0 modo de faze-l a

(mais ou menos didatico) vale 0 quanto 'a proposta educacional em

atuayao consegue a sua pretens8o, 0 seu projeto.

o

sentido deste ensaio, pais.

e

expor de modo mais abrangente

referencias metodo16gicas que evidenciem aquilo que 0 discurso

domi-nante  esconde.  Este  pretende  se  identificar  com  a  sociedade  no  seu  todo  e  por  isso  busca  uma  representay80  homogenea  da  sociedade  e  tambem 

da  educayao .•

sentido  dessa  tentativa  de  homogeneizayao 

ocultar  a 

divisao  de  classes,  para  que  0  projeto  da  classe  dominante  seja  tomado 

como 0 projeto  da  sociedade  em  geTa!.  Portanto,  a  homogeneidade  do 

discurso  pedag6gico  na  sociedade  capitalista  pretende  contrariar  e,  nesse 

movimento, [al~ear 0  movime..!}to  do  real.  Tal  movimento  necessita  ser 

analisado  e  explicitado,  a  fim  de  evidenciar  que  a  homogeneizay80  de 

termos 

equivoca  e  levanta  suspeitas.  A  suspeita  quanta  ao  sentido  da 

homogeneizayao,  e  a  suspeita  de  que  a  equivocidade 

apenas  urn  modo 

ingenuo  de  se  traduzir  a  contradiyao. 

Neste  trabalbo  da­se 

categoria  da  contradic;:ao  urn  carater  central, 

cspecialmente  nas  rela(foes  que  podem  ser  estabelecidas  para  uma  ana-lise  do  fen6meno  educativo.  As  falhas  dos  discursos  pedag6gicos,  scjam  de  carMer  homogeneo  au  de  equfvoco,  nascem  da  nao­captay80  ou  do  escamoteamento  da  contradiyao.  Por  isso  nao  dao  conta  do  real  tal 

como  este  se  apresenta  sob  a  sociedade  capitalista. 0  real  af  se  da  sob 

a  forma  contradit6ria  de  relay5es  entre  classes,  expressas  na.o  56  na 

explorayao  do  trabalho  pelo capital.  mas  tambem  na  tentativa  de  direc;:iio 

axio16gi~~, forma  sob  a q~al o~ discorsos  pedag6gicos  dominantes  tentam  ocultar  a  luta  de  classes. 

A  categoria  da  contradir;:ao,  ao  pretender  expressar  0  real 

contra-dit6rio  como  ele 

e, 

deve  buscar  nas  relar;:oes  sociais  a  materia  de5~b:

expressao,  e  como  essas  relar;:5es  articulam  0  discurso  pedag6gico  com  a  totalidade. 

A  articulay80  de  urn  disc\Jrso  pedag6gico  a  partir  da  contradiyao  possibilita  a  percepr;:ao  do  carater  contradit6rio  da  pr6pria  educayao,  das  suas  possibilidades  e  !imites.  A  possibilidade  de  ultrapassar  os  discursos  pedag6gicos  que  ocultam  ou  escamoteiam  0  real  esta  na  descoberta  do  carater  contradit6rio  das  mesmas  relayoes  que  esses  discursos  preten-dem  encobrir. 

Se 0  carater  central  da  contradiyao 

encoberto  por  categorias 

ba-seadas  finalmente  no  princfpio  da  nao­contradiyao,  entao  a  justificativa  desse  trabalho  esta  na  enCase  no  carater  central  dessa  categoria,  pela  fLua!  se  iluminam  as  rela<;oes  que  estao  em sua  base e  se  abrem  caminhos  16 

;1 sua  concretude,  como  tambem 

mesmo  real. 

2.  SEGUNDO  PROBLEMA  ­ COMO  JUSTIFICAR  UM  TRABALHO 

ASSIM  TEORICO? 

Este  ponto  merece  urn  pequeno  destaque. 

Esta  formula(fao  de  conteudo  ­ cujos  Iimites  e  possibilidades  nao 

me  sao  desconhecidos  ­ nao  foi  elaborada  a  partir  de  urn  universe 

conceitual  separado  da  essencia  econ<>Qlica  de  nossa  sociedade.  Ela  [oi  construfda  a  partir  do  modo  especffico  da  produyao  social  da  existencia 

sob 0  capitaJismo. 

A  divisao  capitalista  do  trabalbo 

e

contradit6ria.  De  urn lado libera  

a for~a de  trabalha,  de  outro  a  transforma  em  mercadoria. ~ocializa 0

trabalbo  enquanto  se  apropria  dos  seus  resultados  de  modo  a  que  0   trabalhador­ perea tanto  o­controle  sobre  0  processo  de  trabalho  quanto  

sobre 0 valor  do  produto. 

capitalismo 

e

urn  conjunto  de  relas:6es  sociais  que,  ao  transformar 

o servo em  trabalhador livre,  coletivizou 0 trabalha,  desenvolveu  a 

indus-tria,  rcquereu  uma  nova  habilitas:ao  no  interior  da  fflbrica  e  se  expandiu   atraves  da  divisao  internacional  do  trabalho.  

Esta  tendencia,  propria  do  capitaJismo,  nao  se  confinou  a  regi6es  

delimitadas.  Ela  se  universalizou,  redefinindo  as 

rela~6es

sociais,  avan- 

~ando

em  todos  os  espa(fOs.  Trata­se, pois, de  urn  fen6meno  objetivo   mediado  pela  divisao  social  do  trabalho.  Ora, 

"as  lIbstras;5es  mais  gerais  s6  nascem,  em  resumo.  corn  a  desenvolvi-  menta  conCreto  rnais  rico,  ern  que  urn  carliter  aparece  como  cornum  

II muitos,  como  cornum  a  todos.  Dcixa  de  ser  posslvel  deste  modo  

pcnsa­Io  apenas  sob  urna  forma  particular"  (Marx,  1977a:  222).  

Logo,  estas 

"abstra~6es

mais  ricas"  nascidas  la  onde 0 concreto  se 

desenvolve  mais  ricamente  perrnitem SUl.\ expressao  sob  a  forma  de 

ca-tegoria~ que ­apreendem  esse  movimento  do  real. 

Essa  apreensao  se  da  atraves  de  dois  momentos  dialeticamente  conectados  entre  si  cuja  possibilidade  e  dada  pela  materia  hist6rica: 

"A 

produ~1io

em  geral 

~

uma  abstra9fjo,  mas  uma  abstras;ao  racio­ \)  nal,  na  medida  em  que,  sublinhando  e  preeisando  as  tras;os  comuns,  ...  .  nos  evita  a  repetis;ao.  No  entanlo,  esse  earater  geral  ou  estes  tra~os

J,'..l-comuns  ( ... )  formam  par  seu  lado  urn  eonjunto  complexo  eujos 

1

'

elementos  divergem  para  revestir  diferentes  determinaC(3es.  Algumas  ...,. 

t

destas  earaeterfstieas  pertencem  a  todas  as 

~poeas,

outras  apenas  co­

~ ::Y 

muns  a  umas  poucas ... "  (Marx,  1977a:.203).  ~. ~ ­\ 

(9)

E mais adiante:

" ... todos os estAgios da produ98o possuem determina<,:oes comuns lis quais 0 pensamento dA urn carater geral; mas as pretensas condiyoes gerais de qualquer produ9lio nlio sao mais que esses {atores abstratos. sem qualquer correspondencia num estagio hist6rico real da produyao" (Marx:, 1977a; 206).

o

concreto enquanto "sintese de multiplas determinac;oes", ainda

que nao expHcitamente aferido par uma consciencia,

e

a prernissa para

a consciencia do concreto.

o

concreto

e

a premissa tanto para as determina!(oes comuns, como

"p~ra

as-d~rminac;oes

especificas. Mas 0 acesso ao conhecimento do

real-concreto se faz par ambas determinayoes como momentos de uma teoria explicativa do real.

o

referencial para 0 concreto sera, pois, a produyiio social de uma

sociedade historicamenle dada. E as categorias para a sua explicilayaO

e compreensao serao sempre hist6ricas, assim como

e

hisl6rico 0

movi-mento do real.

_ <-- lsso significa que 0 conteudo de urna produyao social

historica-mente dada lraz dentro de si urna forma que

lhe

e

consentanea. Esta

forma ja esta contida de modo latente no pr6prio conteudo e dele

e

reti-rada na conexao diaJetica entre 0 momento das determinac;oes comuns

':'-0

da~rminay6es

especfficas.

-Este trabalho se preocupou em como fixar 0 primeiro momenta.

Busca evidenciar, sob 0 modo de produyiio capitalista, quais as

deter-minac;oes comuns, expressas em calegorias, que permitem um acesso ao conhecimento da educac;ao.

o

momento da determinayiio especifica historicamente saturado nao

esta explfcito, mas impHcito. Vale dizer: 0 objeto hist6rko esta abslrafdo

a fim de ressaltar os trayos comuns do capitalismo que permitam uma leitura da educayao. Pois a emersao dessas categorias, sob este ponto de vista, nao seria posslvel se nao bouvesse estofo hist6rico imerso.

Se a preocupayiio com a realidade hisl6rica como fonte e fim de

urn estudo centrado na generalizayao

e

fundamental para evitar que as

onceitos se tornem invariantes, por outro lado, DaO

e

necessario ter

sempre como objeto de estudo explfcito e explicitado uma certa reali· dade bisl6rica particular de modo a excluir urn estudo conceitua!' Mesmo

porque 0 estudo de uma temporaHdade empirica nao iluminado por

uma teoria corre, ele tambem, 0 risco de urna abstraerao.

Assim, 0 estudo conceitual nascido de urn ponto de vista que expressa as rela«;:oes sociais e simultaneamente possibilidade e limite.

18

P

ssibilidade enquanto via de acesso necessaria - embora nao sufieiente

~

para caracterizar uma reaJjdade em suas determina<;5es mais amplas.

Limite porque caracterizar 0 real tendo apenas por pressuposto estas

determinayees

e

permanecer na abstrayao, ainda que justificada (racional).

o

canlter de abstra<;ao justificada (racional) nasce das

determina-<;Oes comuns a este modo de produ<;ao, que possui uma 16gica pr6pria em seus elementos historicamente constitutivos.

Em sua marcha vitoriosa para 0 poder, a burguesia se imp6s

hege-monicamente it totalidade das classes sociais. Instala'da no poder, suas

tendencias progressistas, antes decisivas, passam

a

ser, embora nao total.

mente, reiCicadas.

Na medida em que a classe prolelaria surge como nova classe, oposta ao capital e capaz de autonomia, ela se torna, COmo antes a burguesia Crente ao poder feudal, eapaz de ultrapassar as novas

contra-diy6es

c

incorporar de modo superador a heran<;a burguesa.

Estabelecer, pois, conexoes entre categorias da fHosofia da praxis,

nascidas desta praxis, com certas areas especificas do real

e

jii p6r-se

.c

mJIlL12Q!!!9 de.. vista que nao pretende cristalizar a 8<;ao e a

raiao

humanas.

Indicar a real como contradit6rio significa fornecer armas teoricas

!ill-moyjmenjo-

d~peraerao

da sociedade capitalista. A oeulta<;ao desse

carater impliea a justifica<;iio te6rica do existente.

o

momento de explicita<;80 te6riea de elementos comuns a uma

visao de mundo que se quer transformadora se impoe como clemen to fundamental para a retac;ao teoria e pTlltica.

3. A ESTRUTURA DO TEXTO

A estrutura desse trabalbo segue, de cerIa forma, passos que pos-sam expressar as relayoes da educac;ao com as calegorias propostas.

Pretende·se partir da contradi<;iiO como categoria ehave do

real

e dai

chegar it articulayao da educayao com a contradiC;ao, para que essa

ulti-ma se eoloque como ponto de chegada (provis6rio,

e

claro), em urn

conjunto que inclua mutuamente lodas as categorias.

Assim, apas essa Introduc;iio, 0 primeiro capitulo pretende tratar das categorias. A fonna de tralli-las seguini os seguinles passos: da

conlradic;iio

a

totalidade, da totalidade

a

media<;ao, da mediac;ao

a

re-produ~ao,

e dessa it hegemonia. Com iSlo pretende-se dispor 0 capitulo

(10)

impli' \

-citas, mas fuginda

a

teoria da causa e efeito, pois se indicam as me-diayoes  interiores  ao  processa  social. 

segundo  capitulo  preteode  tratar  da 

educafGo e categorias.

A  forma  que se  pretende  dar  as  articulay6es  da  educayao  com  as  categorias 

agora  ioversa  ao  do  capitulo  aoterior.  Da  educayao  e  hegemonia  para  educaeyao  e  reproduyao,  dessa  para  educayao  e  mediaeyao.  Da  educaeyao 

mediaeyao  para  educaey80  e  totalidade  e,  por  fim,  dessa  para 

educa~o

e  contradiyao.  Aqui 0  caminho 

inverso,  porque 0  primeiro  capitulo 

pretendeu  explicitar,  a  partir  da  contradiyao,  as  categorias  que  iluminam  o  fenomeno  educativo. 

segundo  capitulo,  entao,  se  prop6e  a  uma  analise  desse  fenomeno  que  nao  dissolva  a  contradiyao,  mas  que  a  tenha  como  seu  centro.  E  a  tern  como  tal,  agora  indo  dos  elementos  menos  impHcitos  (ia  explicitados  pela  contradiyao)  ao  elemento  mais  impHcito  e,  no  caso, 0 mais  explicitador. 

Nessa  ordem  de  coisas  pretende­se  mostrar,  alem  do  carater  contra-dit6rio  do  real,  0  caniter  mediador  da  educay80  dentro  desse  processo. 

terceiro  capitulo, 

componentes bdsicos do fenomeno educativo,

tranl 

a

luz  como  a  teoria  anteriormente  exposta  pode  dar  conta  da  especificidade  do  fenomeno  educativo,  isto  e, 0 modo  pr6prio  como  a 

educayao  se  desenvolve  na  complexidade  de  seus  elementos. 

conclusao

pretende  evidenciar  0  significado  do  trabalho  como  um  todo,  apresentando  os  limites  e  possibilidades  da  fecundidade  do  quadro  te6rico  proposto  como  guia  indicativo  de  estudos  especificos  sobre  edu-cayao. 

A

20 

Capitulo I

AS CATE60RIAS

As  categorias  sao  conceitos  basicos  que  pretendem  refJetir  os  aspec-tos  gerais  e  essenciais  do  real,  suas  conexoes  e  relaeyoes.  Elas  surgem  da  analise  da  multiplicidade  dos  fen6menos  e  pretendem  urn  alto  grau  de  generalidade. 

Desde  logo  observe­se  que  as  categorias  devem  corresponder  as  condiyoes  con(;etas  de  cada  tempo  e  lugar.  Elas  nao  sao  algo  definido  de  uma  vez  por  todas  e  nao  possuem  urn  fim  em  si  mesmas.  Elas  ganham  sentido  enquanto  instrumento  de  compreensao  de  uma  realidade  social  concreta,  compreensiio  esta  que,  por  sua  vez,  56  ganha  sentido  quando  assumida  pelos grupos e agentes que participam  de  uma  pratica educativa.  As  categorias  possuem  simultaneamente  a  funeyao  de  interpretes  do  real  ide indicadoras  de  uma  estrategia  politica.  Portanto,  a  exposiyao  Cormal  que  se  segue  s6  tem  sentido  enquanto  instrumento  metodol6gico  de  amllise,  ligado 

a

prfitica  educativa  e  no  contexto  de  urn  tempo  e  urn  lugar  determinados. 

As  categorias,  assim,  so  adquirem  real  consistencia  quando  ela-boradas  a  partir  de  urn  contexto  economico­social  e  politico,  historica-mente  determinado,  pois  a  realidade  nao 

uma  petrificayao  de  modelos  ou  urn  congelamento  de  movimentos.  Pelo  contrario, 

slntese de

mulJi-plas determina(:oes

(Marx,  1977  a:  218),  esta  em  constante  movimento 

­

e  expansao.  Por  isso 

importante  considerar 0 contexto,  porque 

ele 

que 

p~bilita

que  as  categorias  nao  se  isolem  em  estruturas 

concei-tuais  puras,  mas  se  mesclem  de  realidade  e  movimento. 

Por  exemplo,  ao  se  falar  em  educayao  sob  0 capitaUsmo,  e  nas  categorias  que  0  regem,  hii  de  se  pensar  em  terrnos  de  capitalismos,  p.Qis 0 movimeolo  do  capital  nao 

e

igual  em  todos  os  lugares. Hii varias 

formas  pelas  quais 0 capital  se  apropria  do  excedente  economico . 

.K

~a interaeyao  desla  ou  daquela  forma  com  a  educaeyao  que  a  categoria  revela  seu  papel  de  momento  esclarecedor  da  propria  diversidade 

hist6-21 

J-

======-=-~j

Referências

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