Carlos R. Jamil Cury
Dados Internaclonais de Cataloga'rao na Publica'r8o (CIP) (Camara Brasileira do Uvro, SP, Brasil)
CUf)', Carlos Roberto Jamil,
1945-Educarrao e contradirriio : elementos melodol6gicos para uma leoria crftica do fen6meno educativo I Carlos Robel1o Jamil CUf)'.-7. cd. - Sao Paulo. Col1ez. 2000.
Original mente aprescntada como lese de doulorado ~
Pontiffcia Universidadc Cat61ica de Sao Paulo, 1979. Bibliografia
ISBN 85-249-0025-3
1. Educarrao - Filosofia 2. Educarrao - Finalidadcs e objelivos 3. Sociologia educacional I. Thulo.
COO -370.1 -370.11 85-0874 -370.193 N N
EDUCA~AO
E
CONTRADI~AO
7!edi~o
Indices para ca1alogo sistematico: I. Educarrao: Filosofia 370.1
2. Educarr:lo: Finalidadcs e objclivos 370.11 3. Educarriio: Tcorias 370.1
EDUCA<;:Ao E CONTRADI<;:AO:
elementos melodol6gicos para uma leoria crltica do fen6mcno educativo Carlos Roberto Jamil Cury
Revisiio: Sucly Bastos
Ncnhuma pane dCSla obm pode ser reproduzicla ou duplicada sem
autoriza~ao expressa do autor e do edilor.
<D 1983 by Carlos Roberto Jamil Cury
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05009-000 - S:Io Paulo - SP
Tel.: (0__II) 864-0 III Fax: (0- _II) 864-4290
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,1
SUMARIO
SITUANDO
INTRODU9
.
.
~
.
7AO
...
9
CAPITULO
IAs categorias
21 1. Essencia e fenomeno . . . 23 2. Representa<;:1i.o e cooceitua~ao 24 3. As categorias . . . 26 3.1. Contradi<;:1i.o . . . 30 3.2. Totalidade 34 3.3. Reproduyao 38 3.4. Mediayao . . . 43 3.5. Hegemonia ,... 45CAPITULO
IJ EdUCQ(:iio e categorias . 53 1. Educaeyao e hegemonia . 54 !. Educaeyao e reprodu~ao ,.59
,., .. j. Educaeyao e media<;:ao , . .:>.~ 4. Educaeyao e totalidade .67
5. Educaeyao e contradiyao .70
CAPITULO
IIIComponentes
basicosdo
fenomenoeducativo
'
'.' .
87
J. ldeias pedag6gicas .
89
2. Instituieyoes pedag6gicas .94
3. Material pedag6gico . 106 4. Agentes pedag6gicos . 112 5. Ritual pedag6gico . 118CONCLUSAO
.
121 BlBLJOGRAFIA13)
5SIlUftHDO .. .
Este trabalho foi elaborado com a finalidade de preencher requi·
sitos necessarios para a obten~ao do titulo de Doutor junto
a
P6sGra-dua~ao em Educa~ao da Pontificia Universidade Cat6lica de Sao Paulo. Sua defesa se deu em outubro de 1979. Porlanto, tratase de urn trabalho muito particul2rmente datado. Representa urn momento em
que se pretendia superar criticamente as teorias da reprodu~ao.
o
grupo, junto ao qual estudei. entendia que se tais teorias, deurn Iado, evidenciavam delerminados mecanismos de manuten;:ao da
ordem estabelecida, par outro lado, quase nao deixavam espa~ para
uma supera~ao destes mecanjsmos. Seria a reprodu~ao uma categoria
tao terminal assim?
A perspectiva de uma ayao transformadora dentro da educayao nao poderia ficar apenas com a reproduyao. Com a recupera<rao da
contradiyiio se poderia rever 0 sentido da a<rao edllcacional, ela mesma
contradit6ria. Custavanos aceitar que a educayao tivesse apenas uma
dimensao que satisfizesse a reproduyao das relayoes sociais, ja que tais
relal;6es sao contradit6rias.
Naquele momento, tais reflex6es represenlavam para n6s uma
ten-tativa de avanc;:o. Entretanto, 0 avanyo da sociedade civil,
°
espayo deresistencia conqllistado e as pr6prias rachaduras no bloco de poder
possibilitaram
°
desenvolvimento da pesquisa e do ensino, e a absory8ode educadores junto
a
administrac;:ao publica da educac;:ao.Vieram as encontros, as conferencias, os simp6sios sobre
educa-<rao, de dimens6es locais e nacionais. E sobretudo avan~u· a prMica
social.
Este conjunto de deterD'linal;6es possibilitou que se avan~asse oao
s6 te6rica como praticamente no terreno da educa<;ao. Varios temas nascidos de um confronto te6rico se viram problematizados pela a<;ao
politicopedag6gica. E novos enfoques surgiram, novas pesquisa~ se
fizeram e outras crIticas estao nascendo.
Felizmente, assistese a urn verdadeiro fervilhar de pensamento em que a ayao prMica e as teorias crIticas se fecundam e se redefinem mutuamente.
o
momento em que est.e trabalho se realizou, com suas referencia>. cit8s;oes e seu pr6prio conteudo possibilita ao leitor estabelecer urn para· .:IGtro de quanta 0 avaris;o social inovou e superou no ambito da eu lcas;ao.Do ponto de vista do texto ora pubUcado, prbcurou-se mante-Io qUllse que identico ao da tese. Algumas atualiza~6es de datas na biblio. grafia, alguns cortes se fizeram necessarios ao caniter de livro.
De qualquer modo, sua finalidade te6rico-metodoJ6gica dentro da perspectiva dialetica da educa~ao continua direcionada a uma peda-gogia, ao mesmo tempo critica e democratica, em func,:ao dos que atuam no espayo educacional.
Carlos Roberto
J
amil Cury8
II
NTRODUCAO
Este ensaio se propoe a estabelecer algumas categorias capazes de permilir a compre~ns~o. do f~n~meno educa~ivo dentro de uma abran-gencia maior. ~ P:ID~t.pIO cogltel de entrel.ac,:a.las .de modo a aprof~ndar
8 rel8yiio teona-hlstona, tal como me
fO!
sugendo quando da dlsser-t8yaO de Mestrado (Cury, 1984). Entretanto, 8 tentativa de desenvolver eSS8S categorias no conjunto de atividades exercidas no ambito do magistcrio me revelou a necessidade de estuda-las especificamente. 0 estudo, deslocado para 0 momenta te6rico, tornou-se problematico.No exercicio do magisterio, especialmente nas aulat; de Filosofia da Educayao do Programa de Licenciatura da Pontificia Universidade Cal6lica de Sao Paulo, e tambem nos cursos do Mestrado em Educac;ao como discente e docente, percebi a necessidade de explicitar determi-nados conceitos, cujo esclarecimento viesse a
sec
urn instrumento de compreensao do fen6meno educativo. Essa necessidade nasceu tanto de minha preocupac;ao em tornar mais clara a analise quanto da dos dis-centes em entrar em contato com uma perspectiva mais tcarica. Alunos e colegas de varias areas das ciencias humanas e das ciencias exatas (nos cursos de licenciatura) alertaram-me para uma tarefa nesse sen-tido. A forma como se conduziu 0 curso de doutoramento fez com queisso se tornasse para mim uma oecessidade objetiva e de carateI' dida-tieo. Urgia uma res posta
a
problemarica e vi na tese de doutorado 0momento dessa resposta.
o
modo como 0 trabalho foi construido, de certa forma, acom-panhou a crescimento dessa necessidade. A prLncipio algumas ideias, posteriormente uma tentativa de elaborac;ao mais pensada, ainda que incipiente (Cury, 1979) e assim sucessivamente, como que num diaIogo critico entre a expressiio coerente do objeto de estudo e um meio ade-guado de realiza-Ia. 0 raciocinio cresceu POl' dentro, para 0 que muitocontribufram as observayOes feitas por alunos, colegas de curso, profes-sores, estudos pessoais e oricntac;ao. Ap6s varias tentativas, cheguei a Uma formulac;ao que julgo satisfat6ria para as finalidades didatico-ins-trumentais a que esse trabalho se propOe. Mas, de modo algum penso ser essa uma reda<;iio permanente ou definitiva. Ao contrario, trata-se
--
-
---
-de urn trabalho aberte, nao so as sugestoes possiveis, mas tambem
a
sua provisoriedade DO tempo e nO espac;o.
Assim, apesar de ter partido da quase-obrigatoriedade de urn entre-laltamento da teoria com urn momento hist6rico definido da educayao brasileira, julguei oportuno, por outro lado, a preenchimento da neces-sidade didatica acima referida como resposta a urna carencia que, sem
duvida, tern alguma coisa a vet com 0 momento hist6rico que vivemos.
A preocupas;ao irucial de continuidade da disserta~ao de Mestrado se
deslocou para 0 momento te6rieo da educaltao. Em outros termos, isto
quer dizer que se optou por uma enfase maior no momento propria-mente te6rieofilos6fico do que no hist6ricopolftico. Nao que esse ultimo
fosse separado do momento anterior. Pelo contrario, a politica, como
sugere Grarnsci, nao e senao uma filosolia em a~iio (Gramsci, 1978: 44
e 212).
0
que signifies uma unidade entre am~u sej~idadee~eoria e pratlea. ~ essa unid~de se identific~6 na mutua
complementaridade de ambos os momentos, m~-lamh~JJL_ns feleologia
q1:ieOS1i1forma. ~ ha
e
urns distTri~fio (e nao divisao) entre ambos,eta! aistins:ao,
quan4
olhada do ponto de vista da mosoHa, sepreo-cups. com 0 grau de abrangencla com:!ue as ea ~g n~ ~~
deter-minada teorla aj;teencrerD'"Oteal na sua concretude. E, nesse ensaio, o momenta filos6fico quer reveIaro g;;u mais abrangente de certas
categorias da filosofia da praxis para 0 dimensionamento do fen6meno
educativo.
Mais do que lim exercicio especulativo, este estudo nao tern raziio
em si mesrno, mas como urn instrumento possivel de analise de con-;untura. 0 fato de se apoiar numa linha gramsciana quer dizer apenas
que 0 pensamento desse autor contribui mais positivamente ao objetivo
do traba!ho, que nao se limita a ela, se pode vir a ser refors:acla por uma pluralidade de autores que, dentro de urn horizonte comum,
cola-borem nessa proposis:iio. 0 que se quer revelar
e
que a contribuiltao deGramsci, coadjuvada por outros autores, permite uma leitura, quiya menos erudita, porem mais aproximada da realidade. As conceitualt0es
d~lilosofia da""'praxis valorizarn detenninadas categorias ~~ ;;'ao sao
I
v~onz1i(raS
em..out~s
conceit~ac;6es
~p~mai0t:..g[au
deabrangen-II
cia, permitem uma leitura mais compreensiva do Leal.,.
Embora correndo 0 risco de uma visualizayao ahistorica, 0
feno-meno educativo foi considerado na 16gica fundamental do capitalismo,
e naquilo que !he
e
determinante onde quer que e1e exista: suasrela-foes sociais contraditOrias no contexto da apropriayao do exeedente econ6mico e da luta de classes, Iatente ou manifesta.
1. PRIMEIRO PROBLEMA -
A CAMINHO DE UMA POSTURA
DIAL£TlCA
Inicialmente entendemos jii ser possfvel a supera<;ao das categorias ue pretendem dar conta do fenomeno educativo ficando apenas em
q d d .
seus elementos aparentes ou propon 0 a e ucayao como urn uruverso
separado do mundo das relac;:oes sociais, ou mesmo vendoa como urn mero epifenomeno das estruturas de base.
A teoria determinista propunba a educac;:ao como mera adaptatyao do individuo as exigencias e objetivos de uma situas:ao dada, contra os quais elc nao poderia se opor. As normas previamente dadas e deter-minadas deveriam ser assumidas peIo indivlduo. Exemplos dessa teoria sao as correntes americanas surgidas no decurso dos regimes nazifas-cistas do seculo XX, as conentes americanas do perenalismo e as dos
seguidores de Durkbeim. 0 perenalismo acaba por afinnar a
perma-nencia sobre a mudanc;:a. A permaperma-nencia seria mais eonereta que a
transformac;:ao, pais a natureza do homem
e
constante. Assim, tambema educayao deve ser constante. Nessa medida, enquanto os homens sao basicamente os mesmos em toda a parte, a educayao deve ser a mesma
para todos, preocupada com as permanencias espirituais e Jisicas do
mundo.t Os seguidores de Dutkheim indicam que 0 social
e
hetero-geneo e que a funyao da educac;:ao
e
garantir essa heterogeneidade,ajustando 0 indivlduo
a
ordem social, mediante uma homogeneidadeideologiea.::
Nessas correntes, 0 pape! reservado ao homem concreto, ator e
I
sutor de uma estrutura social,
e
0 de se enquadrar aos ditames domi \nantes desta, ja gue em momento algum se questiona a totalidade da ,
estrutura social. /Assim, a educaS;ao nao passaria de urn mecanismo gu~
.~justa os individuos
a
ordem social vigente, pela transmissao de urn saber definido pelo poder politico estabelecido.Por outro lado, a teada individualista, baseada na Iiberdade enos
direitos do indivfduo, propunha a educas:ao como 0 desenvolvimento e
aperfeiyoamento das for~as individuais, ajudando 0 homem a se realizar
a si mesmo, sem que os objetivos da ordem social {ossem, na sua
essencia, postos em dt'ivicla. Caberia a educa~ao, mediante 0 plena
desen-1. Para uma exposiitao mais detathada dos princlpios do perenalismo cr. KNELLER, G. F. (1966: 141148). Conludo
e
born observar que 0 estudo das condic;:6es hist6ricas e sociais nao esta presente nas analises desse aUlor, de modo a evidenciar 0 processo de surgimento dessas teorias.2. Para uma visao mais direta desse pensador frances. cf FORACCHI, M. e PEREIRA. L. (1971: 3448). No Brasil. urn educador que se pautou oa linhll durkheimiana foi Fernando de Azevedo.
volvimento de cada urn, realizar uma ordem social mais justa, pois esse desenvolvimento significaria urn melhorarnento de todos os grupos sociais. Tambem surgidas no inkio do secul0, essas teorias de cunho reno-vador tiveram urn grande desenvolvimento nos EUA, em CUj0 interior
o nome de Dewey aparece como expoente fundamental. 0 movimento
escolanovista representava essa tendencia e a decada de 30 foi, no Brasil,
urn dos momentos mais ferteis de sua difusao (Cury, 1978; Ribeiro,
1978).
Enquanto a tearia determinista afirma 0 status quo, a individuaIista
afirma 0 individual. De fato, a primeira centra a educayao em tomo
de urn mundo estaticamente considerado, e a realidade social ou is urn
obstaeulo para 0 desenvolvimentOdo individuo, ou uma fonte de
bene-'f[clOs, atraves da qual 0 individuo luta por uma existencia vitoriosa.
Ja
a 5egunda 56 ve a contradiy80 entre indivfduo e sociedade,que se resolve tanto pela adequayao do individuo a ordem, quanta peIa
correc;ao da ordem atraves
doapertel
oamento continuado dos indiyfduos.ffibas, a 0 0 ponto de vista sob 0 qual veem 0 fen6meno educativo,
acabam por reprcsentaIo dentro de urn sistema objetivo de rela<;:oes
sociais que permite sua reproduyao, 0 que implica a aceita<tao das
rela-<;:oes sociais existentes.
Em ambas,
hi
uma falta de compreensao dialetica do E.rocessomedra~
era
eCluca<;:ao. Transformam aspectos do real em categorias independentes e;stas, por sua vez, se transformam em for9asindepen-dentes que regulam a atividade humana. A rela<tao entre tais forl;;as_
e
:vista em suas ·conexoes reciprocas, externas e mecanicas.
Ora, um tal dualismo tem sua 16gica contestada na medida em
que a dialetica individuosociedade nao &e
da
senaQ..pela.mediayao. do.mundo Qpjetivo hist6rieo e social. Como diz Suchodolski:
"Nas contradi~5es que agitam 0 mundo objetivo dos homens, as con· cep~5es burguesas apenas viam dois antagonistas: 0 indivlduo e 0 gru-po. Os liberai5 56 davam razao ao primeiro. enquanto que os totalita-rios 56 a conferiam ao segundo. Mas nem uns e nem outros queriam reconhecer que nessas conlradis:6es inlervinham nao 56 dois elementos, mas Ires, e que esle terceiro antagonista, que 6 0 mundo objetivo, hist6rico e social, tem um papel preponderante" (Suchodolski, 1976: 18).
Mais recentemente surge uma terceira tendencia que se opoe as
duas primeiras. Opoese a
ebs
pois critica a convergeDcia de ambas oaaceita9ao das rela<toes sociais exi6tentes. Tratase da teoria da vioLencia
simb6lica de Bourdieu e Passeron e da teoria marxista dos aparelhos ideo/6gicos de Estado (Bourdieu e Passeron, 1975; Althusser. 1974).
Insistindo demasiado na reproduC;ao das rela~oes sociais e no refon;:o
12
educac;ao Ihes da, enfatizando a impositividade quase absoluta
que a d aparelhos ideol6gtcoS . (e entre esses a e ucac;ao em suas d - d'f
I ereotes
os _ 5 l'nsIJ'tucionalizadas), essa tendencia acabou por DaO dar 0 deyiclo
versoe ..
nee
a
eontradis:ao. Ao enfatizar 0 caniter reprodutor e impositivo daI
aca
_00
.
1 d deduca~ao, nao aeentuot~ ~onvenlentement: 0 ~ap~ . a. contra. ic;ao nas . stancias poHtico·ideoJoglC8s, como tam bern nao InSlshu naqullo que a
I~ucayao
dominante pretende dissimular: a pr6pria contradiyao no seio. aas relas:6es de prodw;ao c das forcas produtiyas. Nesse caso, 0 papel
mediador da educac;ao, no seu aspecto espeeifieamente educativo, tinha
apenas uma mao de dire<;:ao, urn sentido: 0 de eima para baixo.
A crltica dessas coneepyoes trouxe a luz nao s6 os mecanismos usados pelas classes dominantes a fim de manterem urn estado de coisas, mas tambem a necessidade de desenvolver categorias que dessem c'
d~eno
educatiyo no seiode
reJa¢ies cODtradit6rias.Uma visao dialetica do homem e de seu mundo hist6ricosocial impliea conceber os dois termos da contradiyao (indivfduosociedade) de modo.a rejcitar tanto a concersao que unilateraliza a adaptayao do
individuo
a
realidade do status quo, como a que propoe a realidadecomo urn dado estatico.
i
Mas, alem disso, implica conceber a realidadesocial como efetivo espayo da luta de classes, no interior da qual se
efetua a edUC8yaO, rejeitando a impositividade da dominayao, como 0
espontaneismo das classes dominadas."I
A educaeyao se opera, Da sua unidade dialetica corn a tptalidade, como um proccsso que con juga as aspirayoes e necessidades do homem no contexto objetivo de sua situa9ao hist6ricosocial. A educac;aoe .entao, uma atividade humana participe da totalidade da organiza<;:ao social. Essa relaC;ao exige que se a considere como historicamente deter-minada por urn modo de produc;:ao dominante, em nosso caso, 0 capi-talista. E, no modo de produ<tao capitalista, eIa tern uma especificidade que s6 IS inteligfvel no contexto das relayoes sociais resultantes dos
con-f1itos das duas classes fundamentais. AssJrn, considerar a educa<;:ao na
I'
sua unidade cliaI€tica com a sociedade capitalista e consideraIa no
lprocesso das relaeyoes de dasse, enquanto essas sao determinadas, em
~ltima instancia, pelas relas:6es de produyao. Do antagonismo entre as
classes, uma delas emerge como dominante e tenta a direyao sobre 0
conjunto da sociedade, atraves do consenso. Assim, a cJasse dominante, para se manter como tal, necessita permanentemente reproduzir as
con-diyoes que possibilitam as suas fonnas de domina9ao, ~ 0 gue as
contradis:6es do proprio sistema viriam
a
luz do dia.Uma dessas condi<;:oes
e
a obten<;:ao de um consenso que legitimea concepyiio de mundo da classe dominante pela explicayao e (re)defi. 13
nieao de ideias, valores e crencas consentaneas a essa conc",pC;~ll. ,k
tal forma que ganhem validade cognoscitiva e justificadora da onkm vigente. Entao 0 consenso se torna lmportante, pois atraves dele se
assegura e se tenta validar a dominaciio.
t.
aqui que a educacao oeupaum papel especlfico como mediacao de uma hegemonia em curso. Como afirma Lefebvre, a reproducao das relac6es de produyao:
"nao pode e nao
po
de consumar·se sem um certo consentimento pelo menos possi vo do classe operario... 0 consentimento roi arrancado por lodos os meios, pela viol€ncia e pela persuasao" (Lefebvre. 1973: 71).Mas, em que pesem os esforcos da classe dominante, a contra· diyao se introduz tambem af porque as relacoes entre as classes se dao num processo dialetico de oposicao/subordinac;ao.
A educacao e sua analise, entao, devem ter como ponto de partida sua presenca imanente numa totalidade hist6rica e social. Ela manifesta essa totalidade, ao mesmo tempo que participa na sua produCao. Tal manifestacao se da na pr6pria estruturaciio capitalista dessa totalidade.
A educayao entao nao reprodu~_ as ..relacoes de-.., dasse, mas estas se
fazem presentes naeducacao, articulandoa com a tofiiliaade.
---~
-
---Muitas vezes. ao se falar em edueac;ao, corre-se 0 risco de com·
preende-Ia de forma homogenea. A enfase na homogeneidade se torna
problematica. 0 carater equfvoco nesta quesHio nao
e
gerado apenaspor um mal-entendido semantico. 0 carater equivoco reside na
concei-tuac;ao e nasce na pr6pria localizacao social dos que elaboram tal
discurso. e.ois 0 lygar social imp6e uma forma
de
apreender 0 mundo,----~--
---
---coerente com seu modo de l'elacionamento com 0 rearPor isso a figacao
das teorias pedag6gicas com 0
lugar social
ocupado pelos que discursamnao
e
mere trabalho academico, ~~mente a possibi~de deh.isto-ricizar aquela ligay80. .
o
e1enco de categorias metodol6gicas que se pretende evidenciarse abl'e a duas dimensoes.
Primeira:
coloca-las numa relac;aohistorici-zante, isto
e,
toda a producao social, no seu mais amplo sentido, 6determinada pelas condic6es sociais que caracterizam uma sociedade, no
nosso caso, a capitalista. 0 que significa que a producao do modo de
existencia sob 0 capitalismo se Jiga com a afirmacao da divisao da
sociedade em classes e suas conseqiiencias. Assim, 0 carater equivoco
das categorias das teorias pedag6gicas decorre da posiCao ocupad~_'p-eLos
. agentes sociais que as elaboram no processOde prodUyao da existencia.
~ A sociedade capitalista, dada sua divisao em classes, nao pode tel'
.flnalidadesnomogeneas. Par isso seus dlSCurSOS tambem sao
confli-tuosos, ainda que nem sempre aparecam como tais.
0
conhecimentodessa equivocidade sup6e urn referencial te6rico-metodol6gico que
ins-mentalize a compreensao dos mecanismos da sociedade e dos
inte-tru ses sociais que con uzem a pr pna mamlca SOCIa. d 6 . d' A ' • I p' b
015 em, ~
res . - ' d' , . t h '
lementos teoncos sao 111 IspensavelS para es e can eCimentQ e essa
~JDpreensao?
Que elementoste6rico-metodo16gico~
sao indispensaveis para que em cada situacao seja posslvel a aprofundamento dessacorn-- ? preensao.
Segunda:
coloca-las de modo didatico, sem esgotar as virtualidades da pl'oposta. As categorias da contradicao, totalidade, mediac;ao,repro-du~ao e hegemonia sao mutuamente implicadas e de tal forma que a
exposiyao e explicac;ao de uma ja
e
e exige a explicac;ao e exposiCaodas outras. Dessa forma, pretende-se categorias dialetizadas que se mediem mutuamente. A categoria da contradiyao, para nao se tornar cega, s6
se explicita pelo recurso
a
da totalidade. Essa, por sua vez, parase tornar vazia, necessita recuperar a da contradicao em uma sintese mais abrangente. Conseqiientemente, exige a superac;ao dos dualismos
ou reducionismos. A categoria da totalidade, pOl' sua vez, exige uma
cadeia de mediayoes que articule 0 movimento hist6rico e os homens
concretos. Semelhantemente as cadeias de mediacoes, nu~totalidade
'concreta e contraditoria (como
e
a sociedade capitalista), necessitamexplicitar 0 que mediar. Nesse caso
e
necessaria 0 recurso a categoriada repl'oduc;ao, porque 0 sistema vigente, ao tentar se reproduzir par_a
se manter, reproduz as contradis:oes dessa totalidade, reveladas em seus
instrumentos e enlaces mediadores. E POl' Hm a manutencao desse mesrno
sistema, especialmente no caso da educacao, implica a busca de urn
consentimento coletivo pOl' parte das classe~aiA. Oaf 0 recurso
a
.-~~~o
de hegemonia. Mas essae
urna nocao dialetizada, e pOl' isso mesmoela nao
e
compreensivel sem a referencia as contradiy6es que a propriadirecao hegemonica busca atenuar.
o
risco que ::.~ corre de transformar a didatica em catequesee
Hiogrande quanta 0 de transformar 0 discurso em herrnetismo. A exposiy80
didatica pretende ser urn serviyo de orientacao para pesquisas voltadas
para uma aoalise de conjuntura.
0
risco da didatica-catequesee
evidente.As referencias metodol6gicas podem se reificar e se tornarem a-hist6-ricas, metafisicas e, pOI' conseqiiencia, incapazes de dar conta do real. .A mutabilidade real das coisas nao se compatibiliza com uma
imuta-bilidade conceitual. Na verdade, as referencias nunca estao pronlas. Elas se inserem no processo social porque nascem dele e dele sao expressao .
.Ora, 0 processo social
e
mutavel, e 0e
tambem porgue incorporaele-mentos de conhecimento, nascidos da reflexao .
o
sentido do entrelat;:ameoto das duas dimens6es em relacao ade sua proposta e DaO apenas 0 modo de faze-lao 0 modo de faze-l a
(mais ou menos didatico) vale 0 quanto 'a proposta educacional em
atuayao consegue a sua pretens8o, 0 seu projeto.
o
sentido deste ensaio, pais.e
expor de modo mais abrangentereferencias metodo16gicas que evidenciem aquilo que 0 discurso
domi-nante esconde. Este pretende se identificar com a sociedade no seu todo e por isso busca uma representay80 homogenea da sociedade e tambem
da educayao .•
0
sentido dessa tentativa de homogeneizayaoe
ocultar adivisao de classes, para que 0 projeto da classe dominante seja tomado
como 0 projeto da sociedade em geTa!. Portanto, a homogeneidade do
discurso pedag6gico na sociedade capitalista pretende contrariar e, nesse
movimento, [al~ear 0 movime..!}to do real. Tal movimento necessita ser
analisado e explicitado, a fim de evidenciar que a homogeneizay80 de
termos
e
equivoca e levanta suspeitas. A suspeita quanta ao sentido dahomogeneizayao, e a suspeita de que a equivocidade
e
apenas urn modoingenuo de se traduzir a contradiyao.
Neste trabalbo dase
a
categoria da contradic;:ao urn carater central,cspecialmente nas rela(foes que podem ser estabelecidas para uma ana-lise do fen6meno educativo. As falhas dos discursos pedag6gicos, scjam de carMer homogeneo au de equfvoco, nascem da naocaptay80 ou do escamoteamento da contradiyao. Por isso nao dao conta do real tal
como este se apresenta sob a sociedade capitalista. 0 real af se da sob
a forma contradit6ria de relay5es entre classes, expressas na.o 56 na
explorayao do trabalho pelo capital. mas tambem na tentativa de direc;:iio
axio16gi~~, forma sob a q~al o~ discorsos pedag6gicos dominantes tentam ocultar a luta de classes.
A categoria da contradir;:ao, ao pretender expressar 0 real
contra-dit6rio como ele
e,
deve buscar nas relar;:oes sociais a materia de5~b:expressao, e como essas relar;:5es articulam 0 discurso pedag6gico com a totalidade.
A articulay80 de urn disc\Jrso pedag6gico a partir da contradiyao possibilita a percepr;:ao do carater contradit6rio da pr6pria educayao, das suas possibilidades e !imites. A possibilidade de ultrapassar os discursos pedag6gicos que ocultam ou escamoteiam 0 real esta na descoberta do carater contradit6rio das mesmas relayoes que esses discursos preten-dem encobrir.
Se 0 carater central da contradiyao
e
encoberto por categoriasba-seadas finalmente no princfpio da naocontradiyao, entao a justificativa desse trabalho esta na enCase no carater central dessa categoria, pela fLua! se iluminam as rela<;oes que estao em sua base e se abrem caminhos 16
;1 sua concretude, como tambem
mesmo real.
2. SEGUNDO PROBLEMA COMO JUSTIFICAR UM TRABALHO
ASSIM TEORICO?
Este ponto merece urn pequeno destaque.
Esta formula(fao de conteudo cujos Iimites e possibilidades nao
me sao desconhecidos nao foi elaborada a partir de urn universe
conceitual separado da essencia econ<>Qlica de nossa sociedade. Ela [oi construfda a partir do modo especffico da produyao social da existencia
sob 0 capitaJismo.
A divisao capitalista do trabalbo
e
contradit6ria. De urn lado liberaa for~a de trabalha, de outro a transforma em mercadoria. ~ocializa 0
trabalbo enquanto se apropria dos seus resultados de modo a que 0 trabalhador perea tanto ocontrole sobre 0 processo de trabalho quanto
sobre 0 valor do produto.
o
capitalismoe
urn conjunto de relas:6es sociais que, ao transformaro servo em trabalhador livre, coletivizou 0 trabalha, desenvolveu a
indus-tria, rcquereu uma nova habilitas:ao no interior da fflbrica e se expandiu atraves da divisao internacional do trabalho.
Esta tendencia, propria do capitaJismo, nao se confinou a regi6es
delimitadas. Ela se universalizou, redefinindo as
rela~6es
sociais, avan-~ando
em todos os espa(fOs. Tratase, pois, de urn fen6meno objetivo mediado pela divisao social do trabalho. Ora,"as lIbstras;5es mais gerais s6 nascem, em resumo. corn a desenvolvi- menta conCreto rnais rico, ern que urn carliter aparece como cornum
II muitos, como cornum a todos. Dcixa de ser posslvel deste modo
pcnsaIo apenas sob urna forma particular" (Marx, 1977a: 222).
Logo, estas
"abstra~6es
mais ricas" nascidas la onde 0 concreto sedesenvolve mais ricamente perrnitem SUl.\ expressao sob a forma de
ca-tegoria~ que apreendem esse movimento do real.
Essa apreensao se da atraves de dois momentos dialeticamente conectados entre si cuja possibilidade e dada pela materia hist6rica:
"A
produ~1io
em geral~
uma abstra9fjo, mas uma abstras;ao racio \) nal, na medida em que, sublinhando e preeisando as tras;os comuns, ... . nos evita a repetis;ao. No entanlo, esse earater geral ou estes tra~os J,'..l-comuns ( ... ) formam par seu lado urn eonjunto complexo eujos1
'
elementos divergem para revestir diferentes determinaC(3es. Algumas ...,.t
destas earaeterfstieas pertencem a todas as~poeas,
outras apenas co~ ::Y
muns a umas poucas ... " (Marx, 1977a:.203). ~. ~ \E mais adiante:
" ... todos os estAgios da produ98o possuem determina<,:oes comuns lis quais 0 pensamento dA urn carater geral; mas as pretensas condiyoes gerais de qualquer produ9lio nlio sao mais que esses {atores abstratos. sem qualquer correspondencia num estagio hist6rico real da produyao" (Marx:, 1977a; 206).
o
concreto enquanto "sintese de multiplas determinac;oes", aindaque nao expHcitamente aferido par uma consciencia,
e
a prernissa paraa consciencia do concreto.
o
concretoe
a premissa tanto para as determina!(oes comuns, como"p~ra
as-d~rminac;oes
especificas. Mas 0 acesso ao conhecimento doreal-concreto se faz par ambas determinayoes como momentos de uma teoria explicativa do real.
o
referencial para 0 concreto sera, pois, a produyiio social de umasociedade historicamenle dada. E as categorias para a sua explicilayaO
e compreensao serao sempre hist6ricas, assim como
e
hisl6rico 0movi-mento do real.
_ <-- lsso significa que 0 conteudo de urna produyao social
historica-mente dada lraz dentro de si urna forma que
lhe
e
consentanea. Estaforma ja esta contida de modo latente no pr6prio conteudo e dele
e
reti-rada na conexao diaJetica entre 0 momento das determinac;oes comuns
':'-0
da~rminay6es
especfficas.-Este trabalho se preocupou em como fixar 0 primeiro momenta.
Busca evidenciar, sob 0 modo de produyiio capitalista, quais as
deter-minac;oes comuns, expressas em calegorias, que permitem um acesso ao conhecimento da educac;ao.
o
momento da determinayiio especifica historicamente saturado naoesta explfcito, mas impHcito. Vale dizer: 0 objeto hist6rko esta abslrafdo
a fim de ressaltar os trayos comuns do capitalismo que permitam uma leitura da educayao. Pois a emersao dessas categorias, sob este ponto de vista, nao seria posslvel se nao bouvesse estofo hist6rico imerso.
Se a preocupayiio com a realidade hisl6rica como fonte e fim de
urn estudo centrado na generalizayao
e
fundamental para evitar que asonceitos se tornem invariantes, por outro lado, DaO
e
necessario tersempre como objeto de estudo explfcito e explicitado uma certa reali· dade bisl6rica particular de modo a excluir urn estudo conceitua!' Mesmo
porque 0 estudo de uma temporaHdade empirica nao iluminado por
uma teoria corre, ele tambem, 0 risco de urna abstraerao.
Assim, 0 estudo conceitual nascido de urn ponto de vista que expressa as rela«;:oes sociais e simultaneamente possibilidade e limite.
18
P
ssibilidade enquanto via de acesso necessaria - embora nao sufieiente~
para caracterizar uma reaJjdade em suas determina<;5es mais amplas.Limite porque caracterizar 0 real tendo apenas por pressuposto estas
determinayees
e
permanecer na abstrayao, ainda que justificada (racional).o
canlter de abstra<;ao justificada (racional) nasce dasdetermina-<;Oes comuns a este modo de produ<;ao, que possui uma 16gica pr6pria em seus elementos historicamente constitutivos.
Em sua marcha vitoriosa para 0 poder, a burguesia se imp6s
hege-monicamente it totalidade das classes sociais. Instala'da no poder, suas
tendencias progressistas, antes decisivas, passam
a
ser, embora nao total.mente, reiCicadas.
Na medida em que a classe prolelaria surge como nova classe, oposta ao capital e capaz de autonomia, ela se torna, COmo antes a burguesia Crente ao poder feudal, eapaz de ultrapassar as novas
contra-diy6es
c
incorporar de modo superador a heran<;a burguesa.Estabelecer, pois, conexoes entre categorias da fHosofia da praxis,
nascidas desta praxis, com certas areas especificas do real
e
jii p6r-se.c
mJIlL12Q!!!9 de.. vista que nao pretende cristalizar a 8<;ao e araiao
humanas.Indicar a real como contradit6rio significa fornecer armas teoricas
!ill-moyjmenjo-
d~peraerao
da sociedade capitalista. A oeulta<;ao dessecarater impliea a justifica<;iio te6rica do existente.
o
momento de explicita<;80 te6riea de elementos comuns a umavisao de mundo que se quer transformadora se impoe como clemen to fundamental para a retac;ao teoria e pTlltica.
3. A ESTRUTURA DO TEXTO
A estrutura desse trabalbo segue, de cerIa forma, passos que pos-sam expressar as relayoes da educac;ao com as calegorias propostas.
Pretende·se partir da contradi<;iiO como categoria ehave do
real
e daichegar it articulayao da educayao com a contradiC;ao, para que essa
ulti-ma se eoloque como ponto de chegada (provis6rio,
e
claro), em urnconjunto que inclua mutuamente lodas as categorias.
Assim, apas essa Introduc;iio, 0 primeiro capitulo pretende tratar das categorias. A fonna de tralli-las seguini os seguinles passos: da
conlradic;iio
a
totalidade, da totalidadea
media<;ao, da mediac;aoa
re-produ~ao,
e dessa it hegemonia. Com iSlo pretende-se dispor 0 capituloimpli' \
-citas, mas fuginda
a
teoria da causa e efeito, pois se indicam as me-diayoes interiores ao processa social.o
segundo capitulo preteode tratar daeducafGo e categorias.
A forma que se pretende dar as articulay6es da educayao com as categoriase
agora ioversa ao do capitulo aoterior. Da educayao e hegemonia para educaeyao e reproduyao, dessa para educayao e mediaeyao. Da educaeyaomediaeyao para educaey80 e totalidade e, por fim, dessa para
educa~o
e contradiyao. Aqui 0 caminho
e
inverso, porque 0 primeiro capitulopretendeu explicitar, a partir da contradiyao, as categorias que iluminam o fenomeno educativo.
0
segundo capitulo, entao, se prop6e a uma analise desse fenomeno que nao dissolva a contradiyao, mas que a tenha como seu centro. E a tern como tal, agora indo dos elementos menos impHcitos (ia explicitados pela contradiyao) ao elemento mais impHcito e, no caso, 0 mais explicitador.Nessa ordem de coisas pretendese mostrar, alem do carater contra-dit6rio do real, 0 caniter mediador da educay80 dentro desse processo.
o
terceiro capitulo,componentes bdsicos do fenomeno educativo,
tranl
a
luz como a teoria anteriormente exposta pode dar conta da especificidade do fenomeno educativo, isto e, 0 modo pr6prio como aeducayao se desenvolve na complexidade de seus elementos.
A
conclusao
pretende evidenciar 0 significado do trabalho como um todo, apresentando os limites e possibilidades da fecundidade do quadro te6rico proposto como guia indicativo de estudos especificos sobre edu-cayao.A
20
Capitulo I
AS CATE60RIAS
As categorias sao conceitos basicos que pretendem refJetir os aspec-tos gerais e essenciais do real, suas conexoes e relaeyoes. Elas surgem da analise da multiplicidade dos fen6menos e pretendem urn alto grau de generalidade.
Desde logo observese que as categorias devem corresponder as condiyoes con(;etas de cada tempo e lugar. Elas nao sao algo definido de uma vez por todas e nao possuem urn fim em si mesmas. Elas ganham sentido enquanto instrumento de compreensao de uma realidade social concreta, compreensiio esta que, por sua vez, 56 ganha sentido quando assumida pelos grupos e agentes que participam de uma pratica educativa. As categorias possuem simultaneamente a funeyao de interpretes do real ide indicadoras de uma estrategia politica. Portanto, a exposiyao Cormal que se segue s6 tem sentido enquanto instrumento metodol6gico de amllise, ligado
a
prfitica educativa e no contexto de urn tempo e urn lugar determinados.As categorias, assim, so adquirem real consistencia quando ela-boradas a partir de urn contexto economicosocial e politico, historica-mente determinado, pois a realidade nao
e
uma petrificayao de modelos ou urn congelamento de movimentos. Pelo contrario,slntese de
mulJi-plas determina(:oes
(Marx, 1977 a: 218), esta em constante movimento
e expansao. Por issoe
importante considerar 0 contexto, porquee
eleque
p~bilita
que as categorias nao se isolem em estruturasconcei-tuais puras, mas se mesclem de realidade e movimento.
Por exemplo, ao se falar em educayao sob 0 capitaUsmo, e nas categorias que 0 regem, hii de se pensar em terrnos de capitalismos, p.Qis 0 movimeolo do capital nao
e
igual em todos os lugares. Hii variasformas pelas quais 0 capital se apropria do excedente economico .
.K
~a interaeyao desla ou daquela forma com a educaeyao que a categoria revela seu papel de momento esclarecedor da propria diversidade
hist6-21