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Economia solidária

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DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO - STA

VITOR SABOYA TEIXEIRA DE MELO

ECONOMIA SOLIDÁRIA

Niterói 2018

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Bibliotecária responsável: Sandra Filgueiras - CRB7/3861

Cláudio Roberto Marques Gurgel, orientador. Niterói, 2018. 73 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Administração)-Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, Niterói, 2018.

1. Economia solidária . 2. Política pública. 3. Administração pública . 4. Produção intelectual. I.

Título II. Gurgel,Cláudio Roberto Marques, orientador. III. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Administração e Ciências Contábeis. Departamento de Administração.

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-VITOR SABOYA TEIXEIRA DE MELO

ECONOMIA SOLIDÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Administração.

ORIENTADOR Prof. Cláudio Roberto Marques Gurgel

Niterói 2018

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ECONOMIA SOLIDÁRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau Bacharel em Administração.

Aprovado em 10 de julho de 2018.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________ Prof. Dr. Cláudio Roberto Marques Gurgel (Orientador)

STA / UFF - Universidade Federal Fluminense __________________________________ Profa. Dra. Agatha Justen Gonçalves Ribeiro STA / UFF - Universidade Federal Fluminense

__________________________________ Prof. Dr. Jaime Baron

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“Imagine não existir posses Me pergunto se você consegue Sem necessidade de ganância ou fome Uma irmandade do Homem Imagine todas as pessoas Compartilhando todo o mundo Você pode dizer Que sou um sonhador Mas não sou o único” John Lennon Yoko Ono

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AGRADECIMENTOS

A Deus, e às mais interessantes formas com que Ele manifesta sua potência; À minha família, que me deu todo suporte para chegar até aqui, sem seu amor eu nada seria;

Ao professor Gurgel, sem sua complacência e atenção este trabalho não existiria;

A Ramon Magalhães, que participou literalmente do primeiro ao último parágrafo;

A Michelle Mendonça, Raquel Cabral e Fabiana Milward, que tornaram a caminhada muito mais leve e divertida;

A Leo e Edi que aguentaram minhas lamurias e me ajudaram de diferentes formas;

A todos os professores, amigos e camaradas que contribuíram de algum modo com a construção desse texto.

E, na certeza de que o caminho compartilhado é muito mais frutífero, às oportunidades que a vida nos oferece...

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo analisar a construção da economia solidária no Brasil. Uma vez que a análise de um setor econômico abrange aspectos diversos, foi criado um panorama da realidade política em âmbitos federal, estadual e municipal. Para tal fim, foram feitos uma pesquisa bibliográfica e um estudo de caso dos empreendimentos sediados na cidade de Niterói, este último através de uma investigação documental dos dados de solicitação de inscrição de empreendimentos junto ao Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários – CADSOL, de onde foi possível verificar as congruências e divergências do que é proposto academicamente e politicamente como economia solidária.

Palavras-chave: Economia Solidária. Solidariedade. Administração Pública. Políticas Públicas.

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ABSTRACT

This research aimed to analyze the construction of the solidarity economy in Brazil. Since the analysis of an economic sector covers diverse aspects, a panorama of the political reality was created in federal, state and municipal scopes. For this purpose, a bibliographical research and a case study of the enterprises based in the city of Niterói were carried out, the latter through a documentary investigation of the data requesting the registration of enterprises with the National Register of Economic Solidarity Projects - CADSOL, from where it was possible to verify the congruences and divergences of what is proposed academically and politically as solidarity economy.

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1.1 Problema de pesquisa ... 9 1.2 Objetivos ... 12 1.2.1. Objetivo Geral ... 12 1.2.2. Objetivos específicos ... 12 1.3 Suposições ... 13 1.4 Relevância do estudo ... 13 2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 14 2.1 Tipo de Pesquisa ... 14 2.2 Universo e Amostra ... 15

2.3 Coleta dos dados ... 15

2.4 Tratamento dos dados ... 16

2.5 Limitações do Método ... 16

3. REFERENCIAL TEÓRICO ... 17

3.1 Paul Singer ... 17

3.2 Luiz Inácio Gaiger ... 18

3.3 Jean Louis Laville ... 19

4. ESTRUTURAÇÃO POLÍTICA E JURÍDICA ... 21

4.1 Como as organizações são reconhecidas pelo Estado ... 22

4.1.1. Cooperativa ... 22

4.1.2. Associação ... 24

4.1.3. Microempresa ... 25

4.1.4. Grupo Informal ... 27

4.2 Políticas e programas de fomento ativos ... 28

4.2.1. Cenário em nível federal: Brasil ... 28

4.2.2. Cenário em nível estadual: Rio de Janeiro ... 32

4.2.3. Cenário em nível municipal: Niterói ... 34

5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 35

6. CONCLUSÕES ... 43

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 46

8. SITES ACESSADOS ... 48

9. ANEXOS ... 50

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Problema de pesquisa

A economia solidária é um modo específico de organização de atividades econômicas, isto é, de trabalho e geração de riqueza. Ela se caracteriza pela autogestão, pela autonomia de cada unidade ou empreendimento, e pela igualdade entre os seus membros.

A definição disponível no site oficial da Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES para exemplificar estas atividades é que:

A Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Enquanto na economia convencional existe a separação entre os donos do negócio e os empregados, na economia solidária os próprios trabalhadores também são donos. São eles quem tomam as decisões de como tocar o negócio, dividir o trabalho e repartir os resultados. (<http://trabalho.gov.br/trabalhador-economia-solidaria>, acesso em 27 jun. 2017)

Existem diferentes autores que se dedicam ao tema da economia solidária, e podemos destacar três deles no contexto brasileiro: Paul Singer, Luiz Gaiger e Jean Laville. Suas obras discorrem sobre as relações econômico-sociais construídas a partir deste modelo, e é esta realidade complexa que nos interessa.

Existe uma visão intercultural sobre a economia solidária, em que as práticas econômicas fundadas sobre princípios de solidariedade existiram não só na Europa, mas talvez em todos os continentes, e muito antes da Revolução Industrial. Práticas solidárias centenárias no campo econômico foram reconhecidas e têm sido estudadas no cerne das diferentes culturas como elementos fundamentais da agregação e coexistência de comunidades humanas. Portanto, identificar a economia solidária apenas com as vertentes do movimento operário europeu seria um equívoco, pois sua história pode ser recontada, por exemplo, a partir das tradições da América pré-colombiana, ou dos povos africanos e asiáticos.

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Laville e Gaiger afirmam que a expressão economia solidária foi cunhada somente na última década do século XX (GAIGER; LAVILLE, 2009. p. 162).

De acordo com Jean Louis Laville:

Precisamos romper com a ideia segundo a qual só existe uma forma de empresa: a sociedade de capitais. (...) Não há um único princípio de mercado; não há um único tipo de empresa; não há uma única motivação humana baseada no material e no lucro. Existem outras motivações que podem ser incluídas, como a solidariedade que pode representar um fator organizador da produção. (LAVILLE, 2003, p.17).

Singer propõe que a economia solidária seja uma estratégia possível de luta contra as desigualdades sociais e o desemprego:

A construção da economia solidária é uma destas outras estratégias. Ela aproveita a mudança nas relações de produção provocada pelo grande capital para lançar os alicerces de novas formas de organização da produção, à base de uma lógica oposta àquela que rege o mercado capitalista. Tudo leva a acreditar que a economia solidária permitirá, ao cabo de alguns anos, dar a muitos, que esperam em vão um novo emprego, a oportunidade de se reintegrar à produção por conta própria individual ou coletivamente. (SINGER, 1997, p. 13)

Já de acordo com Luiz Gaiger, a economia solidária apresenta-se como uma "reconciliação" do trabalhador com os meios de produção, e fornece uma experiência profissional fundamentada na equidade e na dignidade, por meio da qual ocorre um enriquecimento do ponto de vista cognitivo e humano. As atividades são executadas com as pessoas mais motivadas, e a divisão dos benefícios é definida por todos os associados levando-se em consideração a solidariedade e não somente a produtividade. Essas condições de trabalho, como destaca o autor, criam um maior interesse dos trabalhadores para que o empreendimento alcance o sucesso; com isto, eles buscam eliminar desperdícios, tempos ociosos, absenteísmos e buscam entregar produtos de melhor qualidade (GAIGER, 2003).

Fugindo aos mitos de origem, devemos entender a economia solidária através de uma visão processual e dialética da história, uma vez que os fenômenos sociais são expressões da realidade reinterpretada e modificada, que passam a ser objeto de reconhecimento acadêmico e político (LECHAT, 2002). Da mesma maneira,

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devemos estender essa perspectiva, em que a teoria deve se adaptar à realidade observada assim como o objeto social é influenciado pelo seu pesquisador, e os conceitos devem ser revisitados e redefinidos.

No entanto, devemos considerar os entraves de adaptação do Direito e do fato de que políticas públicas possam ser incipientes; diante disso, as produções acadêmicas se apresentam como uma alternativa de fomento às experiências econômicas que fogem do modelo econômico capitalista vigente.

A discussão dos princípios: Cooperação, Autogestão, Ação Econômica e Solidariedade, são apontados pela SENAES como os norteadores dos empreendimentos econômicos solidários. As definições da SENAES para tais princípios são as seguintes:

• Cooperação: ao invés de competir, todos devem trabalhar de forma colaborativa, buscando os interesses e objetivos em comum, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva e a partilha dos resultados;

• Autogestão: as decisões nos empreendimentos são tomadas de forma coletiva, privilegiando as contribuições do grupo ao invés de ficarem concentradas em um indivíduo. Todos devem ter voz e voto. Os apoios externos não devem substituir nem impedir o papel dos verdadeiros sujeitos da ação, aqueles que formam os empreendimentos;

• Ação Econômica: sem abrir mão dos outros princípios, a economia solidária é formada por iniciativas com motivação econômica, como a produção, a comercialização, a prestação de serviços, as trocas, o crédito e o consumo;

• Solidariedade: a preocupação com o outro está presente de várias formas na economia solidária, como na distribuição justa dos resultados alcançados, na preocupação com o bem-estar de todos os envolvidos, nas relações com a comunidade, na atuação em movimentos sociais e populares, na busca de um meio ambiente saudável e de um desenvolvimento sustentável.

(<http://trabalho.gov.br/trabalhador-economia-solidaria>, acesso em 27 jun. 2017)

Buscamos entender como se constrói o ramo econômico solidário, que abrange experiencias diversas e aspectos sociais complexos. Identificando como estes princípios são debatidos pelos principais autores no Brasil, qual sua relevância na construção das políticas públicas voltadas ao setor, e como estes princípios aparecem na construção dos empreendimentos.

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1.2 Objetivos

1.2.1. Objetivo Geral

O objetivo geral do presente trabalho é identificar como a economia solidária é representada na sociedade brasileira, e se há discrepâncias entre os discursos e as práticas. Partindo da premissa de que o Estado Democrático de Direito se constrói na conjunção dos três poderes: legislativo, executivo e judiciário, propomos um levantamento da legislação e das políticas públicas vigentes no Brasil, avançando da esfera federal, passando pelo estado do Rio de Janeiro, até o âmbito do município de Niterói. A partir deste cenário político, e com base no levantamento teórico sobre o conceito de economia solidária, analisaremos os dados do Cadastro Nacional de Empreendimentos Econômicos Solidários - CADSOL.

1.2.2. Objetivos específicos

Os objetivos específicos deste trabalho são:

• Fazer um levantamento das organizações econômicas da cidade de Niterói que

almejam reconhecimento oficial junto ao Estado como empreendimentos econômicos solidários – EES, através dos dados do CADSOL.

• Relacionar estes dados obtidos com o referencial teórico sobre o conceito de

Economia Solidária e com a política vigente, buscando congruências e discrepâncias.

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1.3 Suposições

As suposições do presente trabalho são as seguintes:

• Em decorrência do que se veicula na imprensa, supõe-se que as políticas

públicas vinculadas ao fomento de atividades econômicas que fogem ao modelo capitalista sejam incipientes.

• Existe uma grande distorção entre o que é concebido academicamente sobre

a economia solidária e o que é aplicado nas políticas públicas atuais, assim como na construção diversa dos empreendimentos.

1.4 Relevância do estudo

A lógica do sistema capitalista prevê um alto grau de competitividade e, por vezes, pode levar à desestruturação das relações sociais, que acarretam em sofrimento no trabalho, face ao esgotamento do sistema. Já as relações de trabalho construídas nos empreendimentos de economia solidaria incentivam a diminuição de desigualdades sociais e econômicas, uma vez que aquilo que é produzido não é expropriado por proprietários dos meios de produção externos, e acarretam em crescimento para todos os membros participantes. Assim, as atividades econômicas respaldadas pela noção de solidariedade se apresentam como alternativas ao sistema vigente, e estudá-las é uma forma de incentivar e fornecer informações para o crescimento destas atividades.

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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1 Tipo de Pesquisa

Para a classificação desta pesquisa, tomamos como base a taxinomia apresentada por Vergara (2016), que a qualifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, esta pesquisa se classifica como descritiva, pois expõe características de determinada população de indivíduos e fenômenos econômicos, estabelecendo correlações entre variáveis, sem compromisso de explicar os fenômenos em sua complexidade, embora sirva de base para tal explicação. Vale dizer adicionalmente que se reconhece que o tipo descritivo não deve ser considerado como isento de interpretação do autor.

Também pode ser classificada como metodológica porque se utiliza de instrumento de captação da realidade, isto é, as análises propostas se apropriam das formas e modelos já determinados do que seria um empreendimento econômico solidário. Este modelo já foi estipulado na criação do questionário do site do CADSOL, que deve ser preenchido por aquelas organizações que objetivam serem reconhecidas perante o Estado como instituições vinculadas a economia solidária. A autora exemplifica este tipo de pesquisa:

Pesquisa metodológica é o estudo que se refere a instrumentos de captação ou de manipulação da realidade. Está, portanto, associada a caminhos, formas, maneiras, procedimentos, modelos para atingir determinado fim. Construir um instrumento para avaliar o grau de descentralização decisória de uma organização é exemplo de pesquisa metodológica. (VERGARA, 2016, n.p.)

Quanto aos meios, esta pesquisa é uma investigação documental dos dados tabelados dos pedidos de inscrição no CADSOL, assim como da sua interação com a legislação vigente, apresentada para construção do cenário político em que estas organizações estão inseridas. Portanto, também se classifica como uma pesquisa bibliográfica, sendo um estudo sistematizado de publicações de livros e artigos acessíveis, que nos fornecem instrumentos analíticos da pesquisa documental.

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Finalmente se classifica como um estudo de caso, pois é circunscrito ao município de Niterói, não objetivando demonstrar a realidade de todos empreendimentos envolvidos no setor econômico entendido como solidário.

2.2 Universo e Amostra

Podemos considerar que o universo da presente pesquisa seja o município de Niterói, uma vez que não são considerados dados de outras cidades. E a população amostral é construída por tipicidade, uma vez que estamos considerando que todos os empreendimentos econômicos solidários tenham interesse de obtenção de cadastro no CADSOL. Desta forma, também podemos dizer que a amostra foi construída por motivo de acessibilidade, por facilidade de acesso aos dados via internet.

2.3 Coleta dos dados

Pretendemos é traçar um panorama da economia solidária na cidade de Niterói e identificar se há distorções entre o que é defendido academicamente como economia solidária e o que é apresentado como política para esse setor; os meios para resolução de nosso problema serão construídos com base no formulário de solicitação de cadastramento no CADSOL, com suas perguntas e respostas. Esse cadastramento se configura como um questionário fechado, e a pesquisa está sendo considerada uma coleta de dados transversal, isto é, como os dados se apresentam em um único momento do tempo, neste caso, em 22 de junho de 2017.

A tabela apresentada no apêndice foi construída com base em consulta pública ao site do CADSOL. Filtramos todas as solicitações de cadastramento dos empreendimentos sediados no município de Niterói e compilamos as respostas de cada formulário, estruturando uma planilha que nos permitisse analisar os dados. Na data de consulta foram encontrados 63 (sessenta e três) registros em tramite ou concluídos.

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2.4 Tratamento dos dados

Buscamos entender como se configuram os Empreendimentos Econômicos Solidários – EES, para tanto, serão construídas médias e proporções que tracem panoramas generalizantes, além de destacar casos específicos. Na tentativa de evitar distorções da realidade local, no tratamento dos dados, foram excluídos os cadastros que visivelmente são duplicados, ou que estão preenchidos de forma tão incompleta que impossibilitem sua utilização.

A identificação das organizações que fizeram solicitações duplicadas foi feita pelo campo “Nome do Empreendimento” presente logo no início do formulário como pode ser visualizado no Anexo A, que se constitui das telas que são seguidas pelos solicitantes durante o preenchimento do cadastro. Como critério de seleção das solicitações duplicadas, ficaram prevalecendo as solicitações mais recentes, uma vez que podem configurar uma atualização da realidade do EES. Isso posto, das considerações que seguem, usamos como base 45 (quarenta e cinco) empreendimentos. Este será nosso espaço amostral de análise.

2.5 Limitações do Método

Dentre as limitações que o método de pesquisa apresenta, existe a possibilidade de que os questionários tenham sido preenchidos de forma a satisfazer apenas as expectativas do conselho julgador, garantindo o aceite, e que não representem a realidade dos empreendimentos. Também devemos considerar que boa parte da construção da economia solidária é feita de forma informal, e que os dados obtidos não representam a forma e o número real de EES que atuem na cidade de Niterói, uma vez que muitos dos participantes desses empreendimentos têm dificuldades de acesso à informação.

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3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Paul Singer

Paul Singer é um economista tido como referência nos estudos sobre economia solidária, produzidos no Brasil. Austríaco, mudou-se para o Brasil em 1940, foi chefe do departamento de Economia da PUC-SP entre 1979 e 1983, foi professor da Universidade de São Paulo e membro fundador do Partido dos Trabalhadores. Participou como secretário de planejamento do Município de São Paulo no mandato da prefeita Luiza Erundina, em 1989. Já em 2003, no mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundou a Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES, onde permaneceu como líder até 08 de junho de 2016, quando foi substituído por Natalino Oldakoski. A SENAES é uma pasta vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Dourado (2015) destaca que Paul Singer parte de bases teóricas marxistas, e identifica a capacidade revolucionária da Economia Solidária como característica principal. A sua visão é a mais politizada e engajada, reflexo de sua trajetória política. Singer identifica a “Empresa Solidária” como uma instituição oposta à empresa capitalista, porque nela não há distinção entre os trabalhadores e os proprietários dos meios de produção. Seu fim é a maximização da qualidade do trabalho em vez do lucro.

O programa da economia solidária se fundamenta na tese de que as contradições do capitalismo criam oportunidades de desenvolvimento de organizações econômicas cuja lógica é oposta à do modo de produção dominante. (SINGER, 2002, p. 112)

A cooperativa de produção é a “unidade típica” da Economia Solidária. Seus princípios são definidos por:

• Posse coletiva dos meios de produção;

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• Divisão dos resultados.

As empresas cooperativas adotam as assembleias como forma de tomada de decisões, buscando criar e utilizar a autogestão como forma estratégica. No entanto, não existem tipos puros de empresa, mas sim uma meta de construção. Singer afirma que quanto mais os integrantes aprenderem e absorverem os valores da Economia Solidária mais é possível a construção da autogestão (DOURADO, 2015, n.p.).

A solidariedade é um indicador de eficiência em oposição ao lucro e à competitividade. Assim, as cooperativas objetivam não apenas sua subsistência, e sim o desenvolvimento durável e sustentável da qualidade de vida dos que dela fazem parte, contemplando aspectos psicológicos e sociais.

Dourado (2015) indica três características, que foram debatidas nas obras de Singer, da economia solidária:

• Pedagógica: que é uma perspectiva do trabalho como forma de aprendizagem

de crescimento e amadurecimento individual;

• Experiência libertadora: quando o indivíduo participa das deliberações da

instituição, o que proporciona melhoria no ambiente do trabalho;

• Ação estratégica: quando, na luta dos trabalhadores contra as desvalias do

sistema capitalista, é possível construir uma outra economia, mais igualitária e justa.

3.2 Luiz Inácio Gaiger

Graduado em História, mestre e doutor em Sociologia, professor Titular da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e docente do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, integra o Grupo de Pesquisa em Economia Solidária e Cooperativa. Coordena a Rede de Investigadores Latino-americanos em Economia Social e Solidária - RILESS e dirige a Revista Otra Economía. Luiz Inácio Gaiger trabalhou como consultor em todos os mapeamentos de economia solidária

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realizados nos anos de 1996 a 2009, promovidos pelo governo federal, e utiliza estes dados como fonte para formulação de grande parte de sua obra.

Dourado (2015) comenta que na obra de Gaiger podem-se identificar os conceitos weberianos de “tipo ideal” e o conceito marxista de “modo de produção”, e propõe-se uma análise embasada em dados quantitativos e qualitativos.

Nos estudos das organizações econômicas, Gaiger utiliza o conceito de “empreendimentos econômicos solidários”, uma concepção de modelo que reúne as características ideais de um empreendimento perfeitamente solidário (GAIGER, 1999 apud DOURADO, 2015, n.p.). Estes empreendimentos configuram diferentes modalidades de organização econômica, frutos de livre associação dos trabalhadores com base nos princípios de autogestão, cooperação, eficiência e viabilidade.

Na formulação teórica deste modelo ideal, o aspecto do empreendedorismo é tido como característica fundamental - estando ligado à administração e à liderança, como também à gestão dos recursos - por meio do qual é possível agregar valor.

3.3 Jean Louis Laville

É professor do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios – CNAM (França), onde ocupa a cátedra de "Economia Solidária", e leciona no mestrado "Recursos Humanos e sociologia". É membro do Laboratório Interdisciplinar de Sociologia Econômica - LISE; e do Instituto Francês de Pesquisa de Inovação Social - IFRIS onde coordena o eixo “Inovação social" do Labex SITES, instituto de colaboração dedicado à investigação da interação entre ciência, tecnologia e sociedade. Também é coordenador europeu do Karl Polanyi, instituto de Economia Política; e membro fundador e secretário-geral da rede européia EMES, que organiza atividades científicas internacionais regulares sobre a inovação social e a RILESS rede sul-americana (Latin American Pesquisadores Rede Economia social e Solidária).

Ele é regularmente convidado para várias universidades, como em Barcelona, Buenos Aires, Quito, Louvain-la-Neuve, Porto Alegre e Salvador. Jean Louis Laville dedica-se há muitos anos ao tema da economia solidária, sendo um dos pioneiros

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na produção sobre o assunto. Em algumas de suas obras se propõe a discutir o contexto brasileiro, escrevendo em parceria com o sociólogo Genauto de França Filho.

Para Laville, a lógica capitalista não é a única forma possível de geração de riqueza. Nesta perspectiva, os empreendimentos solidários se apresentam como alternativas em que a ação conjunta de oferta e demanda é norteada pelo princípio da reciprocidade.

As iniciativas econômicas solidárias são caracterizadas por cinco critérios na obra de Laville e França Filho, como destaca Dourado (2015):

• Pluralidade de princípios econômicos, que reflete sobre a natureza e origem dos

recursos mobilizados;

• Autonomia Institucional, que reflete sobre a gestão e a natureza das relações

entre as instituições;

• Democratização, que reflete sobre os processos de tomada de decisão;

• Associabilidade comunitária pública, que reflete sobre as relações sociais do

grupo de trabalho;

• Finalidade multidimensional, que reflete sobre os objetivos que podem ser

econômicos, sociais, políticos, ecológicos e culturais.

Segundo Dourado (2015), as formulações propostas por Laville sobre “Iniciativas de Economia Solidária” são diferentes das proposições da chamada “Economia Social”. Na França, a dimensão política é um eixo fundamental da economia solidária, enquanto o papel da economia social seria apenas de apêndice do Estado. Já no Brasil, a “Economia Popular” é o eixo de construção da economia solidária aproveitando-se das relações já existentes nos grupos sociais.

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4. ESTRUTURAÇÃO POLÍTICA E JURÍDICA

Em 2003, foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES, sendo uma pasta vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego, com o objetivo, entre outros tantos, de:

(...) estimular a criação, manutenção e ampliação de oportunidades de trabalho e acesso à renda, por meio de empreendimentos autogestionados, organizados de forma coletiva e participativa, inclusive da economia popular. (DECRETO Nº 5.063, DE 3 DE MAIO DE 2004)

A criação da SENAES é fruto de uma longa jornada de debates na busca de implementar uma política que atendesse aos anseios dos grupos da economia social. A partir da década de 1980, a economia solidária se tornou mais representativa, com a ampliação do número de cooperativas, empresas de autogestão e outros empreendimentos. Criou-se, desta forma, um espaço de discussão que acabou culminando em uma expressiva participação brasileira nas atividades temáticas do I Fórum Social Mundial em 2001.

Já no III Fórum Social Mundial, em janeiro de 2003, o grupo de estudos brasileiros, que havia se tornado referência até mesmo internacional no tema, promoveu uma reunião nacional para discutir o papel da economia solidária no futuro governo, tendo em vista a eleição à presidência de Luiz Inácio Lula da Silva. Nessa reunião, foi elaborada uma Carta para o presidente eleito propondo a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária, e foi decidido que em dezembro do mesmo ano ocorreria a 1º Plenária Nacional.

O Fórum Brasileiro de Economia Solidária - FBES foi criado em junho de 2003 na 3ª Plenária Nacional, no mesmo momento de criação da SENAES. O Fórum passou a ter o papel de interlocutor com a SENAES, no sentido de apresentar demandas, sugerir políticas e acompanhar a execução das políticas públicas de economia solidária.

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4.1 Como as organizações são reconhecidas pelo Estado

Segundo a SENAES, os empreendimentos econômicos solidários podem assumir diversas formas jurídicas, como por exemplo: associações, empresas autogeridas, empresas falimentares assumidas em autogestão pelos seus antigos funcionários, clubes de troca, entre outros. No entanto, considerando os arranjos mais comuns de organização e a classificação legal, podemos dar destaque a quatro formas principais: Cooperativa, Associação, Microempresa, e Grupo Informal.

4.1.1. Cooperativa

Univaldo Cardoso (2014a), em cartilha desenvolvida pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, ressalta que o termo “cooperativa” varia de acordo com o viés doutrinário e a época. Desta forma, é difícil encontrar um conceito que abarque toda multiplicidade destes empreendimentos. Baseando-se na Lei Geral do Cooperativismo (5.764/71), Cardoso destaca:

As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos associados, distinguindo-se das demais sociedades. (LEI Nº 5.764, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1971)

Como aponta Bitelman (2008), no ano de 1932 foi aprovada a primeira Lei Cooperativa (22.239/32) no Brasil, tendo como base as experiências europeias. Essa lei foi revogada dois anos depois por Getúlio Vargas, na tentativa de implementar um modelo cooperativista sindicalista. Diante de um novo cenário econômico, social e político, somente em 1971 foi aprovada nova lei (5.764/71), assinada por Médici, que implantou a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que obrigava a filiação de todas as cooperativas a essa instituição.

Com a promulgação da Constituição de 1988, pela primeira vez menções ao assunto do cooperativismo passam a vigorar num texto constitucional brasileiro.

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Nesta fica proibido que o Estado faça interferências em associações, o que acabou com a obrigatoriedade de cadastramento na OCB.

No entanto, apesar de a Constituição de 1988 versar sobre o cooperativismo em casos omissos, a lei a ser consultada ainda é a lei 5.764/71, assim como a lei 10.406/02, de instituição do Código Civil.

A lei 12.690 de julho de 2012, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, regula o funcionamento das Cooperativas de Trabalho, no que ela não colide com as leis 5.764/71 e o Código Civil:

Art. 2º Considera-se Cooperativa de Trabalho a sociedade constituída por trabalhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia e autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho. (LEI Nº 12.690, DE 19 DE JULHO DE 2012.)

Entende-se que a lei 12.690/12 foi uma resposta das demandas sociais e institucionais, bem como de atualização da lei 5.764/71 que, em matéria divulgada em 2014 pelo Senado, alertava sobre o fato de que os projetos de revisão da Lei Geral do Cooperativismo estão há anos em tramitação sem que se tenha conseguido acordo para aprovação de mudanças.

Uma reivindicação sempre presente na pauta dos movimentos da economia solidaria é a atualização da Lei Geral do Cooperativismo, que exige o número mínimo de 20 (vinte) associados para legalização de um empreendimento econômico na forma jurídica de Cooperativa. Como apontou Bitelman (2008) este número é considerado alto para os padrões dos EES que encontramos no Brasil, onde identificamos grupos menores de associados, o que por muitas vezes é o que garante sua viabilidade. Além disso, existe também o problema do alto custo relacionado a burocracia da abertura e manutenção da cooperativa.

Como apontando por Cardoso (2014a), a pluralidade de legislações acabou gerando uma discussão sobre o número mínimo de cooperados, uma vez que a lei 12.690 de 2012, no artigo 6º, define que o número mínimo para constituição da cooperativa de trabalho será de 7 (sete) sócios. Esta é a legislação mais recente e a que, a princípio prevalece, no entanto o que se verifica ainda é a exigibilidade de no mínimo 20 pessoas na assembleia de fundação. Tal deliberação de 2012 se

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aproximaria do que foi estipulado no Código Civil em 2002, no artigo 1.094º, que define como características da sociedade cooperativa:

II - Concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo. <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>, acesso em 27 jun. 2017)

É interessante ressaltar que a economia solidária e o cooperativismo têm aspectos em comum; porém, podem distinguir-se em outros. Bitelman (2008) destaca que as cooperativas autogestionárias, ou seja, as que são geridas pelos próprios cooperados, donos e também trabalhadores, podem se enquadrar tanto no cooperativismo como na economia solidária. Contudo, dentro do grupo das cooperativas, abrigam-se empreendimentos cujo objetivo principal é terceirizar e precarizar as relações de trabalho, não buscando o bem-estar e desenvolvimento do trabalhador.

4.1.2. Associação

Conforme define o Código Civil Brasileiro, lei 10.406/02:

Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

(<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>, acesso em 27 jun. 2017)

Entendemos que a legislação, ao especificar “fins não econômicos”, esteja deliberando que esta união de pessoas não deve ter como fim a geração de lucro, embora ela movimente capital. Desta forma, podemos configurar as associações como a união de duas ou mais pessoas físicas - eventualmente são aceitas pessoas jurídicas - que têm objetivos comuns, exceto o de obter lucro por meio da formulação da nova pessoa jurídica. As associações possuem finalidades diversas, no entanto unem-se sob esse termo por possuírem características semelhantes e básicas. Por configurar uma relação do direito privado, o estatuto de criação de uma associação é instrumento legal para formalizar e resguardar as relações estabelecidas no

(26)

cumprimento das atividades que motivaram a união de distintas pessoas. Por isso, deve conter de forma clara:

• Os objetivos e fins da relação e união;

• A sede de trabalho;

• A forma de inclusão e exclusão dos associados, assim como seus direitos e

deveres perante a organização;

• As fontes dos recursos para manutenção das atividades.

Segundo Cardoso (2014b), as associações assumem os princípios da doutrina do associativismo, que expressa a crença de que os indivíduos juntos podem encontrar soluções melhores para os conflitos que a vida em sociedade apresenta, e obter melhores resultados do que conseguiriam como forças isoladas. O que diferencia a forma jurídica de cada tipo de associação são basicamente os objetivos que se pretende alcançar. Pode-se classificá-las de acordo com a finalidade, em três grupos principais:

• As que têm por fim beneficiar os interesses únicos e exclusivos dos associados,

como sociedades recreativas, clubes de trocas, entre outros;

• As que têm como objeto principal atividades alheias aos interesses pessoais

dos associados, beneficiando terceiros, desde que tais atividades fiquem sob dependência da associação, como as instituições de caridade;

• As associações que têm por finalidade principal ficarem subordinadas a uma

obra dirigida autonomamente por terceiras pessoas, como instituições religiosas.

4.1.3. Microempresa

Muitas políticas públicas vêm reconhecendo que os EES não precisam necessariamente adotar a forma jurídica de cooperativa ou associação. Desta forma,

(27)

podemos identificar até mesmo microempresas, desde que a autogestão esteja presente.

A Lei Geral das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (123/2006) foi implementada de forma a complementar e regulamentar o que a Constituição Brasileira prevê, que é, um tratamento diferenciado e favorecido a empresas de pequeno porte.

Neste cenário, foi construído o Portal da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, fruto da parceria entre o SEBRAE e a Confederação Nacional da Indústria - CNI, como um observatório para acompanhar as novidades da lei 123/2006, e os reflexos nos pequenos negócios. No artigo que explica o que é a Lei Geral, destaca-se que o tratamento diferenciado dado as microempresas objetiva contribuir para o desenvolvimento e competitividade destes empreendimentos econômicos:

(...) como estratégia de geração de emprego, distribuição de renda, inclusão social, redução da informalidade e fortalecimento da economia (<http://www.leigeral.com.br/o-site/o-que-e-a-lei-geral>, acesso em 10 nov. 2017)

O capítulo II da Lei Complementar (123/2006) faz a definição legal de microempresa, passando a considerar aspectos dos negócios com base na receita bruta anual e a constituição societária do empresariado. Podem-se beneficiar do tratamento diferenciado previsto nesta lei aqueles empreendimentos que se classificarem como:

• Microempresa, as organizações que contabilizem no ano-calendário receita

bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);

• Empresa de Pequeno Porte, que contabilizem receita bruta superior a

R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais);

• Microempreendedor Individual – MEI, o empreendedor que exerça atividades

que no ano-calendário não ultrapassem o valor de R$60.000,00 (sessenta mil reais).

(28)

No Portal da Lei Geral é possível obter informações vinculados ao tema, como a legislação estadual e municipal, assim como acompanhamento das leis em tramitação, e números, em estatísticas e relatórios obtidos através de pesquisas constantes do panorama nacional. Da mesma forma se propõe uma abordagem simplificada da burocracia envolvida para enquadramento dos negócios em micro e pequenas empresas, destacam-se as informações sobre:

• O processo de registro e legalização da empresa, que deve ser executado de

forma unificada, com a criação de base e inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas - CNPJ;

• As condições e características das pessoas físicas que em conjunto desejam

construir uma sociedade jurídica;

• Possibilidade de enquadramento no Simples Nacional, regime de tributação que

simplifica e engloba diversas obrigações no pagamento de uma única guia mensal de recolhimento;

• Outros benefícios do enquadramento, como tratamento diferenciado em

licitações públicas, regras de exportação de bens e serviços, acesso a crédito e a justiça.

4.1.4. Grupo Informal

Segundo Bitelman (2008), a economia solidária resguarda proximidades com os conceitos de Economia Popular e Economia Informal. A Economia Popular se caracteriza pela posse dos meios de produção por parte dos trabalhadores, com uso da própria força de trabalho para garantir a subsistência, isto é, a necessidade de geração de renda para consumo imediato, sendo a força de trabalho o principal recurso de produção, como ocorre por exemplo no artesanato e na agricultura familiar. Neste sentido, essa modalidade econômica representa melhores condições que aquelas pessoas que fazem parte da Economia Informal. Esta por sua vez, representa as pessoas que estão subordinadas a relações de trabalho flexibilizadas que servem apenas aos interesses distintos das empresas capitalistas, reunindo neste conceito atividades marginais do capitalismo.

(29)

Com as mudanças ocorridas no mercado de trabalho referente ao contexto econômico da década de 1990, como a privatização de grandes empresas estatais, a discussão sobre o tema da economia informal ganhou destaque, fruto do grande aumento de desempregados.

Fenômenos tais como a contratação ilegal de trabalhadores sem registro em carteira, os contratos atípicos de trabalho, as falsas cooperativas de trabalho, o trabalho em domicílio, os autônomos sem inscrição na previdência social, a evasão fiscal das microempresas, o comércio ambulante e a economia subterrânea, podem ser evocados como exemplos da diversidade de situações que podem caracterizar o que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) denomina “economia informal” .(KREIN, WEISHAUPT, 2010, p. 7)

Apesar das diferentes formas de manifestação dos grupos informais, há um denominador comum, que é o fato de envolver trabalhadores em condições mais precárias, em razão de executarem atividades em desacordo com as normas legais e fora do alcance das instituições públicas de seguridade social. Qualquer que seja a conceituação proposta pelos acadêmicos ou formuladores de políticas, para definir os grupos informais a questão não pode ser pensada como um problema restrito a um setor atrasado e estagnado da economia (KREIN, WEISHAUPT, 2010).

Como veremos a seguir, algumas diretrizes públicas criam estratégias de acesso desses trabalhadores aos programas de fomento das atividades econômicas solidárias.

4.2 Políticas e programas de fomento ativos

4.2.1. Cenário em nível federal: Brasil

O panorama das políticas nacionais voltadas à economia solidária passou a ser alvo de maior destaque e conseguiu significativo desenvolvimento nos últimos anos, especialmente a partir da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária no primeiro mandato do Presidente Lula, em 2003.

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Como destacado no Atlas do ano de 2005, promovido pelo Sistema Nacional de Informações em Economia Solidaria - SIES, o conceito utilizado pelo governo federal para definir a economia solidária é:

No âmbito do SIES a Economia Solidária é compreendida como o conjunto de atividades econômicas – de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e realizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma coletiva e autogestionária. Nesse conjunto de atividades e formas de organização destacam-se quatro importantes características: cooperação, autogestão, viabilidade econômica e solidariedade. (Atlas da Economia Solidária no Brasil 2005. Brasília: MTE, SENAES, 2006, p. 11)

O Ministério do Trabalho e Emprego é o departamento superior ao qual a SENAES está vinculada. No entanto, a secretaria também promove parcerias com os demais ministérios, de forma a construir uma política mais organizada e estratégica. Através do Decreto Nº 8.894, de 3 de novembro de 2016, assinado pelo presidente Michel Temer, ficou aprovado a reestruturação do Ministério do Trabalho, onde a SENAES passa a ser considerada uma subsecretaria, perdendo alguns cargos, que também acarretou significativos impactos institucionais.

Neste sentido de organização das demandas, a SENAES identifica e trabalha com quatro categorias de desenvolvedores da economia solidária, que atuam em níveis e formas diferentes: os Empreendimentos Econômicos Solidários, as entidades de Apoio e Fomento, as organizações representativas e movimentos sociais, e os órgãos governamentais. Estes desenvolvedores são descritos no site do Ministério do Trabalho.

Os Empreendimentos Econômicos Solidários – EES são as organizações de fato inseridas na economia de mercado que têm como objetivo produzir bens e serviços, capazes de gerar receita. São as unidades típicas. Caracterizados por alguns aspectos comuns, como a construção coletiva e suprafamiliar, os trabalhadores exercem a gestão democrática das atividades e a distribuição dos resultados, e têm como objetivo a realização de atividades econômicas de modo permanente, e não apenas para resolução de uma demanda momentânea. Eles podem assumir as formas jurídicas de cooperativa, associações, grupos informais e

(31)

sociedade mercantis, mas não estão aptos a receber transferência de recursos financeiros diretos como apoio da SENAES.

As Entidades de Apoio e Fomento – EAF são as organizações públicas e privadas, sem fins lucrativos, que apoiam diretamente os EES através de capacitação, assessoria, incubação e assistência técnica. Enquadram-se nessa categoria as ONG’s e incubadoras universitárias, entre outros, que recebem recursos da SENAES através de editais para criação de convênios com objetivos específicos.

As Organizações Representativas e Movimentos Sociais - são os grupos que atuam na mobilização e defesa dos interesses da economia solidária junto ao Estado. Entre esses grupos se destacam o Fórum Brasileiro de Economia Solidária, também criado em 2003, e a União Nacional das Organizações Cooperativas Solidárias - UNICOPAS, composta em 2014 pela união de três grandes organizações de defesa do cooperativismo e economia solidaria: UNISOL, UNICAFES e CONCRAB.

Os Órgãos Governamentais - se dividem nos três níveis: federal, estadual, e municipal, e coordenam atividades de apoio à economia solidária incluindo as demandas sociais em seus programas de governo. Esse apoio se concretiza na inclusão de orçamentos e metas no Plano Plurianual, na Lei Orçamentária Anual, ou atendendo a demandas de um nível governamental superior. Com o objetivo de consolidar as políticas voltadas para este setor, foi criada a Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária, em 2003, que é um espaço institucional de discussão, formação dos gestores e representação das demandas sociais. Até o final do ano de 2016, a Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária contava com a representação de 128 municípios e 16 estados (6º Boletim Eletrônico, Ano II, Nov/2016, p.7), e até o final do ano de 2017 passou a contar com a participação de gestores de 450 municípios (8º Boletim Eletrônico, Ano III, Set/2017, p.6) Essa instituição utiliza a mesma definição da SENAES do que é Economia Solidária, para definir os beneficiários das políticas das suas administrações-membros. Essa coincidência operacional se mostra especialmente útil no diálogo para construção de políticas influenciadas e apoiadas pela SENAES (BITELMAN, 2008).

(32)

Na tentativa de produzir políticas públicas mais assertivas, em 2014 foi criado o Cadastro Nacional de Empreendimento Solidários - CADSOL, por meio da Portaria 1780/2014 do Ministério do Trabalho e Emprego. Os empreendimentos nele cadastrados, após passarem por análise de uma comissão local, recebem a Declaração de Empreendimento Econômico Solidário - DCSOL. Esse documento facilita o acesso às políticas de apoio, como programas de financiamento, compras governamentais, e se torna requisito obrigatório para acesso a algumas outras, como no Sistema Nacional de Comércio Justo e Solidário.

Aqui destacamos um trecho do texto da lei que abre uma brecha para cadastro e reconhecimento de grupos informais, que podem se beneficiar das políticas de fomento:

Art. 2º Para fins desta Portaria, entende-se por Empreendimentos Econômicos Solidários aquelas organizações coletivas de caráter associativo e supra familiares que realizam atividades econômicas permanentes, cujos participantes são trabalhadores do meio urbano ou rural e exercem democraticamente a gestão das atividades e a alocação dos resultados.

§ 1º Os Empreendimentos Econômicos Solidários podem assumir diferentes formas societárias.

§ 2º Os Empreendimentos Econômicos Solidários em processo de formalização poderão ser cadastrados no CADSOL desde que contemplem as características do caput.

(PORTARIA Nº 1.780, DE 19 DE NOVEMBRO DE 2014)

Os dados de solicitação de cadastramento no CADSOL dos empreendimentos econômicos solidários situados na cidade de Niterói serão nosso objeto de estudo.

Ainda quanto às políticas federais, precisamos dar destaque à elaboração do 1º Plano Nacional de Economia Solidária, vigente entre os anos de 2015 e 2019. Este instrumento de orientação das políticas públicas foi formulado em 2014, com uma expressiva participação de gestores, convidados e observadores em diversas etapas e reuniões.

O Plano Nacional de Economia Solidária é uma conquista de todos e está organizado em três eixos:

(33)

EIXO I - CONTEXTUALIZAÇÃO: análise das forças e fraquezas (internas) e das oportunidades e ameaças (externas) para o desenvolvimento da economia solidária no atual contexto socioeconômico, político, cultural e ambiental, nacional e internacional; EIXO II - OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS: definições estratégicas, considerando a análise do contexto e as demandas dos empreendimentos econômicos solidários, à luz dos princípios, práticas e valores da economia solidária;

EIXO III - LINHAS DE AÇÃO E DIRETRIZES OPERACIONAIS: elaboração de diretrizes operacionais a partir de eixos estratégicos de ação que ofereçam subsídios para a formulação de metas e atividades. (<h ttp://trabalho.gov.br/trabalhador-economia-solidaria/plano-nacional-de-economia-solidaria>, acesso em 26 mar. 2018)

4.2.2. Cenário em nível estadual: Rio de Janeiro

A Rede de Gestores em Políticas Públicas de Economia Solidária divulga três legislações importantes para o estado do Rio de Janeiro, que configuram marcos que institucionalizam as políticas de apoio e fomento.

A Lei 6.684/14 do Rio de Janeiro, decretada pela Assembleia Legislativa, e sancionada pelo Governador Sergio Cabral em 2014, dispõe sobre a política pública de incentivo ao consumo consciente no estado do Rio de Janeiro. No texto, o consumo consciente é descrito da seguinte forma:

(...) considera-se consumo consciente o sistema pautado na educação do consumidor e na divulgação de informação adequadas sobre a capacidade de consumo e usabilidade de produtos e serviços na circunscrição no Estado do Rio de Janeiro (Art2º Lei 6.684/14)

Esta legislação não é especificamente voltada à economia solidária e não estipula metas orçamentárias para execução da lei, deixando-as a cargo da disponibilidade fiscal de verbas. No entanto, os programas e ações dela decorrentes que objetivam a educação da população quanto ao consumo se caracterizam como importantes oportunidades de divulgação dos bens e serviços ofertados pelos EES, que em sua constituição já prezam pela construção de uma cadeia produtiva justa e consciente.

(34)

A segunda lei que merece destaque é a Lei 5.315/2008, que institui o Conselho Estadual da Economia Solidária – CEES/RJ, vinculado à Secretaria de Trabalho e Renda. Tem os objetivos, entre outros, de:

• Definir critérios para seleção de programas e projetos a serem financiados com

recursos públicos e acompanhá-los em sua gestão;

• Criar e gerenciar o Fundo Estadual de Economia Solidária;

• Estimular a pesquisa e divulgação dos resultados, assim como a capacitação

técnica dos trabalhadores;

• Articular Municípios, Estado e União.

O Conselho é composto por 20 (vinte) membros, sendo 10 (dez) representantes do poder público estadual, que devem ser distribuídos preferencialmente entre as Secretarias Estaduais de: Assistência Social e Direitos Humanos, do Ambiente, Agricultura, Pesca e Abastecimento, da CODIN, e outras; e 10 (dez) representantes da sociedade civil. No entanto, em nova redação dada pela Lei 5.888/2011, a presidência e a secretaria executiva do CEES/RJ serão ocupadas obrigatoriamente por representantes da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda, caracterizando o controle da gestão da organização por parte do poder executivo, que também regulamenta a execução da Lei 5.315/2008, a qual inclusive se mostrou incipiente nos primeiros anos, como demonstra o projeto da Lei 2.007/2011:

(...) solicitamos ao Poder Executivo que envide os esforços necessários à implementação do Conselho Estadual de Economia Solidária – CEES/ERJ, a fim de beneficiar cerca de 1,25 milhão de trabalhadores reunidos em cooperativas, associações, grupos de produção e de oferta de serviços, além de organizações da sociedade civil organizada.

Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 14 de dezembro de 2010.

Deputada INÊS PANDELÓ (Proj. Lei 2007/2011 - Proposições Gerais)

A primeira reunião do Conselho Estadual de Economia Solidária ocorreu apenas em 29 de maio de 2015, e tratou de assuntos como a elaboração do Plano Estadual de Economia Solidária, que foi divulgado em junho de 2017.

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A terceira legislação que merece destaque é a Lei 7.368/2016, que autoriza o Poder Executivo a criar o Fundo Estadual de Fomento à Economia Popular Solidária - FEFEPS, que tem como objetivo proporcionar financiamento dos empreendimentos populares solidários e, através destes, a geração de renda autossustentável e a formação cidadã. O CEES/RJ é o responsável pela administração do Fundo, e este pode receber recursos de diferentes formas, como: contribuições da União, Estado e Municípios; programas de cooperação entre o Estado e instituições públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras; doações; juros de aplicações financeiras, entre outros.

4.2.3. Cenário em nível municipal: Niterói

Não foi identificado pela Rede de Gestores, no município de Niterói uma legislação específica que institucionaliza políticas públicas de forma permanente. No entanto, nos últimos anos foram estabelecidos recursos e metas para fomento à economia solidária nos programas de governo. Atualmente, existe a Coordenadoria de Economia Solidária da Prefeitura de Niterói, vinculada à Secretaria de Assistência Social, e também o Fórum Ecosol de Niterói, que acompanha os desdobramentos do setor e os empreendimentos.

A Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO de 2015 da Prefeitura de Niterói estipulava como prioridade e meta o valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte cinco mil reais) para promover o fortalecimento e divulgação da economia solidária. Este valor destinava-se a três ações: realizar Feira de Orgânicos, implantar Bancos Comunitários, realizar coleta seletiva. (LDO 2015 – Anexo I, p.47).

Já no ano de 2017, o poder executivo propõe o orçamento de R$135.000,00 (cento e trinta e cinco mil reais) para manutenção das mesmas ações estipuladas em 2015 (LDO 2017 – Anexo V, p. 60). A este projeto de lei orçamentária foram apresentadas algumas emendas pela Câmara de Vereadores, como a solicitação de aumento de recursos e ampliação de ações, como a criação de centro popular para atendimento e fomento dos EES, e financiamento para compra de equipamentos.

(36)

5. DISCUSSÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A tabela apresentada no apêndice foi construída com base em consulta pública ao site do CADSOL em 22 de junho de 2017, filtrando todas as solicitações de cadastramento dos empreendimentos sediados no município de Niterói. Na data de consulta foram encontrados 63 (sessenta e três) registros. Após tratamento dos dados, onde foram identificados e descartados os cadastros duplicados de um mesmo empreendimento, ou solicitações de cadastramento com tantas respostas faltantes que seria impossível proceder analise daquele empreendimento, ficamos com 45 (quarenta e cinco) formulários de solicitação de cadastramento para serem analisados.

Do total de solicitações, apenas 06 (seis) EES constam como efetivamente cadastrados, possuindo a Declaração de Empreendimento Econômico Solidário - DCSOL, que lhes garante acesso a diversas políticas públicas. Sendo que 03 (três) destes EES têm sua data de cadastramento em 24 de março de 2014, ano em que foi instituído o CADSOL, e que de acordo com a Portaria nº 1.780 do MET, as instituições que estivessem cadastradas no Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária - SIES, estariam automaticamente cadastrados no CADSOL, portanto infere-se que estes três empreendimentos não chegaram a passar pelo conselho consultivo.

Analisando as formas legais que as organizações podem assumir perante o Estado temos a seguinte distribuição na amostra:

Quantidade de EES

Forma legal Porcentagem aproximada de

representação na amostra

4 Associação 9%

3 Cooperativa 7%

36 Grupo Informal 80%

(37)

Deste cenário, podemos fazer as seguintes inferências: praticamente 80% das solicitações de cadastro são de empreendimentos que ainda não estão regularizados junto aos órgãos fiscais e registros comerciais, ou estão registrados sob formas que não representam sua real forma administrativa. Essa segunda inferência é baseada na comparação dos números dos CNPJs apresentados, 16 (dezesseis) ao total; sendo que 07 (sete) desses são das organizações que estão configuradas como associações e cooperativas, o que exige obrigatoriamente por lei a emissão do CNPJ e documentação específica. Os outros 09 (nove) CNPJs apresentados estão legalizados como Micro-Empreendores Individuais- MEIS, conforme pode ser identificado ao fazer consulta pública ao site da Receita Federal, tal situação é uma demonstração da dificuldade destes trabalhadores de terem acesso ao registro formal, como também de fazê-lo de uma forma que realmente represente seu quadro societário e administrativo.

A grande maioria dos empreendimentos foi constituída na última década, sendo 37 (trinta e sete) deles, isto é, aproximadamente 82%, que declaram o início de suas atividades depois do ano de 2007. São consideradas organizações jovens aquelas que têm menos de cinco anos de atividade e que estão em período de estabilização. Em nossa amostra, 60% dos EES estão nessas condições, ou seja, 27 (vinte e sete) são organizações que iniciaram as atividades depois do ano de 2012.

Para analisarmos o percentual de participação do sexo feminino e masculino no quadro societário dos empreendimentos, vamos desconsiderar o IDCASOL 111776, que é a cooperativa COOPCARE, um empreendimento cadastrado e conta com 2000 (dois mil) sócios, o que se configura como um ponto fora da curva, já que a média de participantes em cada empreendimento nos outros casos é extremamente inferior. Totalizando todas as pessoas físicas que se apresentam como sócios, temos o número de 296 (duzentos e noventa e seis) participantes, do qual as mulheres representam 76% do total e os homens, 24% apenas. Essa expressiva participação feminina corrobora o pensamento de Singer, a luta dos movimentos sociais das mulheres em busca de emancipação teve um papel

(38)

estratégico no crescimento da economia solidária nos últimos anos no Brasil (SINGER, 2008).

Também se encontram 30 (trinta) participantes como pessoas físicas que trabalham nos empreendimentos, mas não são considerados sócios. Este número é bem distribuído na amostra, o que nos faz refletir que de fato aproximadamente 10% das pessoas envolvidas no total dos empreendimentos provavelmente não assumem papéis na gestão, já que não são considerados sócios. Essa realidade dentro de alguns empreendimentos pode configurar uma distorção do principio de Autogestão, que é fundamental na caracterização de um EES. Além disto também pode configurar relações assalariadas, portanto, estranhas à economia solidária no conceito dos teóricos citados.

Outro fato curioso é o da Cooperativa de Reciclagem do Morro do Céu Ltda que identifica em sua composição a presença de 20 pessoas jurídicas, provavelmente MEIs, desta forma existe uma representatividade individualizada dos participantes perante o Estado.

Questionados sobre qual seria a atividade econômica realizada prioritariamente dentro da organização, temos o seguinte quadro:

Quantidade de EES

Categoria de atividade econômica principal Porcentagem aproximada de

representação na amostra

14 Comercialização ou organização do comércio 32%

24 Produção 54%

1 Poupança, crédito ou finanças solidárias 2%

2 Prestação do serviço ou trabalho a terceiros 4%

2 Consumo uso coletivo de bens e serviços 4%

2 Não responderam à pergunta 4%

A partir desse quadro, podemos observar que a maior parte das atividades econômicas realizadas por estes empreendimentos são voltadas à satisfação de demandas do mercado, como produção e comércio. Apenas um número bem reduzido de EES tem como finalidade principal o compartilhamento de capital e serviços entre sócios, ou a satisfação de demandas da própria comunidade, como é

(39)

o caso do Banco do Preventório, que estimula a economia local através de financiamentos.

As instâncias de direção e coordenação podem ser efetuadas de formas múltiplas dentro de um mesmo empreendimento, a depender do assunto a ser tratado. Por exemplo, temas de nível estratégico podem possuir instância deliberativa diferente de temas operacionais, questões relativas ao marketing ou a entrada de novos sócios são debatidas de formas distintas. Desta forma, um mesmo EES pode ter formas diversas de administração, conforme pode ser observado no quadro abaixo.

Quantidade de EES

Instância de direção e coordenação Porcentagem aproximada de

representação na amostra

26 Grupos de Trabalho, Comissões ou Núcleos 58%

8 Assembleia ou reunião dos sócios 18%

2 Comissão ou Conselho de Ética 4%

3 Conselho consultivo ou similar 7%

2 Conselho Fiscal ou similar 4%

4 Coordenação/Direção/Conselho Diretor 9%

10 Outros tipos próprios 22%

Apenas um número reduzido possui instâncias mais institucionalizadas, como “Comissão ou Conselho de Ética, “Conselho consultivo ou similar”; “Conselho Fiscal ou similar”, “Coordenação/Direção/Conselho Diretor”, sendo estes em sua maioria configurados como Cooperativas ou Associações, em que a estruturação dos níveis de direção é estipulada por lei. Em outros empreendimentos, cerca de 22% dizem possuir outras formas de coordenação, que podem ser até mesmo individual, como exemplificado em resposta de um EES.

Com relação à periodicidade com que são realizadas as assembleias gerais ou reuniões coletivas dos sócios, temos:

(40)

Quantidade de EES

Periodicidade de realização das assembleias Porcentagem aproximada de

representação na amostra

6 Diariamente 14%

4 Semanal ou quinzenal 9%

27 Mensal 60%

1 Semestral 2%

2 Anual ou mais de um ano 4%

2 Não realiza assembleia ou reunião 4%

3 Não responderam à pergunta 7%

Aqui cabe destacar a importância na regularidade destas atividades, pois é de suma importância que se construam espaços de diálogo nos EES. Quando os encontros são distantes ou até mesmo inexistentes, como é o caso de 02 (dois) EES da amostra, a tomada de decisão tende a ser centralizada, já que não há tempo para consulta dos sócios, podendo-se até mesmo questionar a aplicabilidade da autogestão, que é característica fundamental da economia solidária.

Nas “Informações Complementares” do formulário do CADSOL existe o questionamento sobre os sócios do EES se identificarem como pertencentes a algum povo ou comunidade tradicional, dando opções como: indígenas, quilombolas, população negra, caboclos, entre outros. Aproximadamente 87% das respostas foram negativas, 39 (trinta e nove) dos EES dizem não haver predominância ou não aplicabilidade de nenhuma das classificações. Um deles declara haver predominância de pescadores artesanais, um outro é formado por membros de comunidades de terreiro, e outros dois têm predominância de população negra.

Com relação as características dos sócios, existe o questionamento sobre eles poderem se dizer pertencer ou já terem pertencido a algumas categorias sociais, como:

(41)

Quantidade de EES

Categorias sociais Porcentagem aproximada de

representação na amostra

34 Artesãos 76%

1 Agricultores familiares 2%

2 Catadores de material reciclável 4%

2 Desempregados (desocupados) 4%

2 Trabalhadores autônomos por conta própria 4%

3 Técnicos, profissionais de nível superior 7%

1 Não se aplica ou não há predominância 2%

Sublinhamos o percentual elevado de sócios que preferem se caracterizar pelas atividades que estão executando, como artesãos, que se relaciona com as atividades principais dos EES sediados em Niterói, comercialização e produção. Estas pessoas ao invés de se caracterizarem como desempregados tentando fugir da desocupação, passam então a ser definidos pelo o que executam dentro dos empreendimentos. O que corrobora a perspectiva pedagógica debatida por Singer, que é a possibilidade do trabalho como forma de aprendizagem e aperfeiçoamento individual (DOURADO, 2015, n.p.).

Uma das características da econômica solidária é a construção coletiva e social de demandas e oportunidades, por isso é perguntando se os empreendimentos participam de alguma rede de articulações ou representação, e se estão envolvidos nos movimentos sociais. Do total de organizações localizadas em Niterói, 40 (quarenta) delas dizem participar de algum fórum ou de rede de economia solidaria: isto representa 89% dos casos, a maioria deles participando do fórum municipal ou estadual. E destes alguns ainda participam em outros contextos de articulação, como associações de EES, conselhos de gestão e participação em políticas públicas, ou outro movimento social. No entanto 05 (cinco), dos empreendimentos sediados na cidade alegam não participar de nenhum fórum, rede ou movimento social.

Referências

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