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A produção cinematográfica no Rio Grande do Sul: constatações a partir de mapeamentos de IES e Editais no Estado 1

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Academic year: 2021

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A produção cinematográfica no Rio Grande do Sul: constatações a partir de mapeamentos de IES e Editais no Estado1

Yago Portella Dias2 Miriam de Souza Rossini3

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS

Resumo

A proposta do artigo é apresentar os mapeamentos feitos no Rio Grande do Sul, e que procuraram cruzar o espaço da produção audiovisual ficcional e documental, no Estado, com a presença de editais de financiamento público e privado, para o audiovisual, bem como com a presença de instituições de ensino superior que mantenham cursos de Comunicação e/ou de audiovisual. Observamos que a presença de universidades com cursos não apenas de cinema, mas de comunicação social – em especial Publicidade e Propaganda – influencia de forma significativa na produção cultural cinematográfica das diversas cidades do Estado.

Palavras-chave

Cinema Brasileiro; Rio Grande do Sul; Baixo Orçamento; IES; Financiamento.

1. Introdução

Este artigo é um dos resultados da pesquisa Cinema brasileiro e a economia da dádiva. O baixo orçamento como projeto político-estético, financiada pelo CNPq, sob coordenação da Profa. Miriam Rossini. A proposta da pesquisa é entender as características de produção do audiovisual de baixo orçamento, estipulado, para fins de análise, em até 500 mil reais. Para fins de levantamento de dados e qualificação desses dados, definiu-se como campo da pesquisa o Estado do Rio Grande do Sul, já que a pesquisa é feita na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A pesquisa sobre o cinema de baixo orçamento parte de um conceito desenvolvido e aplicado na Sociologia por Marcel Moss nos anos 1920 (2013), que é a Economia da Dádiva, para entender um aspecto recorrente na organização do campo audiovisual

1 Trabalho apresentado na IJ04 – Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação

Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Graduando do curso de Publicidade e Propaganda do Departamento de Comunicação (DECOM) da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista de Iniciação Científica (BIC-UFRGS). E-mail:

yagoportella@hotmail.com

3 Doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Mestre em Cinema pela USP.

Professora Associada do Departamento de Comunicação e do PPG em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: miriams.rossini@gmail.com.

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cinematográfico brasileiro que são: o auto patrocínio, as permutas e os apoios institucionais como forma de financiamento de filmes de diferentes formatos, incluindo o longa-metragem ficcional. Buscou-se testar, com isso, a hipótese de que mais do que uma prática motivada pela falta de uma indústria cinematográfica consolidada, essa é uma escolha político-estética dos realizadores de cinema do País, motivada pelo lugar de objeto de culto que o filme ocupa na cultura brasileira.

Entre as atividades da pesquisa para tentar mapear essa produção de baixo orçamento no Rio Grande do Sul, uma delas foi relacionar a existência de instituições de ensino superior que oferecessem cursos na área da Comunicação; também mapear editais de financiamentos, públicos e privados, com a existência de produtoras de audiovisuais. Através do mapeamento de dados referentes a universidades gaúchas, cidades com produtoras de cinema e destinação da verba de editais para produções feitas no Estado, foi possível levantar pontos interessantes – e mesmo curiosos – para se tratar do tema.

2. Mapeamentos

Os mapeamentos foram feitos entre 2019 e 2020, a partir de sites de instituições de ensino superior, prefeituras e outros órgãos que pudessem conter informações sobre nosso objeto. O período pesquisado foi entre 2010 e 2019, que coincide com a maior incidência da mudança tecnológica na produção audiovisual, propiciando não apenas um aumento na produção, como o surgimento de novos formatos produtivos, como os coletivos independentes, e a chegada de novos realizadores ao mercado (ROSSINI, 2015). Além disso, o cinema universitário é revitalizado, impulsionando este campo, em especial em cidades onde não havia produção audiovisual constante (TONETTO, 2017). Também foram feitos cruzamentos com os filmes encontrados em outras ações das pesquisas, em especial em listas de eventos e festivais de cinema realizados no Rio Grande do Sul, e assim conseguimos informações sobre as produtoras e realizadores de produções de baixo orçamento.

2.1 Editais

Esse tópico pode ser chamado de Projetos Gaúchos Aprovados em Editais entre 2010 e 2019. Foram encontrados um total de trinta e sete (37) projetos cinematográficos aprovados nesse período. Vale comentar que a única prefeitura que entrou na pesquisa foi

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editais que surgiram na pesquisa são oriundos de verbas do Estado do Rio Grande do Sul – através da LIC (Lei de Incentivo à Cultura) –, da ANCINE (Agência Nacional do Cinema) em parceria com a ICAU (Instituto Nacional del Cine y el Audiovisual Uruguayo) e do Grupo RBS (Rede Brasil Sul de Televisão).

Conforme a Tabela 1, o primeiro ponto que chama a atenção é o fato de que todas as produtoras identificadas por detrás dos projetos selecionados para os mais variados editais são da cidade de Porto Alegre, sem exceção. A capital concentrou todos os recursos públicos e privados destinados ao audiovisual gaúcho na última década.

Um segundo destaque é o de que, com exceção dos financiamentos da ANCINE em parceria com a ICAU, que foram de cento e cinquenta mil (U$ 150.000,00) dólares cada, não houve edital que tenha pago valor acima de duzentos mil (R$ 200.000,00) reais. Com isso, todos os projetos pesquisados se enquadram na classificação de baixo orçamento feita pela ANCINE para filmes nacionais.

Tabela 1: Projetos Gaúchos Aprovados em Editais entre 2010 e 2019

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Por fim, vale ressaltar que a segunda metade da década não foi nem um pouco promissora para o mercado do cinema no Estado. Isto se deve ao fato de que apenas onze por cento (11%) dos editais presentes no mapeamento estão compreendidos entre os anos de 2015 e 2019.

2.2 Instituições de Ensino Superior

O segundo e o terceiro mapeamentos realizados dizem respeito aos cursos de Ensino Superior – bacharelados e tecnólogos – nas áreas de Cinema e Comunicação Social. O nicho foi determinado em decorrência dos mais variados relatos de diretores que participaram do projeto de extensão CineF – Mostra Cinema de Baixo Orçamento, os quais muitas vezes apontaram terem começado suas carreiras cursando Publicidade e Propaganda ou Jornalismo em suas universidades. O evento foi realizado pelo Grupo de Pesquisas Processos Audiovisuais entre os meses de abril e novembro, junto à Faculdade de Comunicação e Biblioteconomia (FABICO) da UFRGS, durante o ano de 2019.

Para o evento foram convidados diretores e diretoras que fazem cinema no Estado, utilizando verbas de até quinhentos mil (R$ 500.000,00) reais, para exibirem seus filmes e debaterem não apenas sobre como foi fazê-los, mas também acerca de suas vidas no cinema, como se dá essa relação deles com o baixo orçamento e se o mercado audiovisual é suficiente para ser sua única fonte de renda. O evento ocorreu uma vez por mês ao longo de oito (08) meses (ROSSINI, 2019).

Como os realizadores vinham de diferentes partes do RS, decidimos cruzar as informações sobre existência de cursos de graduação em Comunicação e/ou Cinema e a existência de produtoras em audiovisual para diversos fins, como o publicitário, e a presença de produção de curtas ou longas-metragens ficcionais e/ou documentais.

A Tabela 2 nos mostra as cidades gaúchas onde há cursos nas áreas da Comunicação (Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda), enquanto a Tabela 3 apresenta as cidades com a presença de cursos em Cinema e/ou Audiovisual.

No total, são 15 municípios que apresentam 24 cursos de formação em Comunicação, sendo que Porto Alegre concentra sete desses cursos. Das cinco Universidades Federais do Estado, quatro (UFRGS, UFPel, UFSM em seus dois campi, e Unipampa) possuem cursos de Comunicação. Apenas a FURG não tem curso na área.

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Tabela 3: Universidades com Graduação em Cinema/Audiovisual no RS

Fonte: Dados compilados pelos Autores

Já a Tabela 3, específica sobre os cursos de Cinema e/ou Audiovisual, deixa claro que as instituições de ensino privado são as que mais oferecem cursos na área. Apenas a UFPel tem um curso em Cinema e Audiovisual.

Portanto, conforme é possível averiguar nas tabelas acima, foram apuradas vinte e quatro (24) universidades, entre privadas e federais, com cursos superiores nas áreas de cinema e/ou comunicação social, espalhadas pelo Rio Grande do Sul. A esmagadora maioria se encontra na Capital do Estado, Porto Alegre, seguida por Caxias do Sul e Santa Maria.

O número de cursos em cada cidade segue com Porto Alegre na primeira colocação. Em segundo lugar se estabelece, sozinha, Caxias do Sul. Santa Maria vem logo atrás, mas acompanhada por Pelotas e São Leopoldo. Na sequência discutiremos os efeitos disso para o mercado cinematográfico no Estado.

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Tabela 4: Produtoras de Cinema em Cidades com Cursos de Cinema e/ou Comunicação Social

Fonte: Autor

Tabela 5: Empreendimentos que Fazem Cinema sem Serem Produtoras nas Cidades das Faculdades

Fonte: Autor

A tabela acima é a tabela definitiva, aquela que reúne o maior número possível de informações sobre os aspectos tratados neste artigo. Com ela podemos finalmente perceber o impacto que a educação tem sobre a produção audiovisual no Rio Grande do Sul. Como era de se esperar, Porto Alegre é a cidade que reúne o maior número de produtoras de cinema dentre todas as demais pesquisadas, contendo vinte e nove (29) ao

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todo, além de sete (07) agências de publicidade que usam sobra de caixa em suas produções cinematográficas e uma (01) produtora musical que faz o mesmo. E em 2ª lugar temos Caxias do Sul, mantendo a mesma posição que ocupa no ranking de número de universidades e de cursos, contando com cinco (05) produtoras de cinema e três (03) agências de publicidade que também fazem seus filmes como atividade secundária.

Apesar disso, no entanto, a 3ª colocação parece ser uma prova de que a cultura se desenvolve também apesar de, e não apenas em função de um aspecto específico. A cidade de Santa Cruz do Sul, que ocupa a 9ª colocação dentre as que mais possuem cursos de cinema e/ou comunicação social dentre as quinze (15) apuradas – ao lado de Lajeado, Passo Fundo e Taquara –, se mostrou o 3º maior polo cinematográfico do Estado, com três (03) produtoras dentro de seu território. Um dado impressionante e que não pode ser desprezado.

Por fim, salientamos o fato de que, apesar de se encontrar na terceira colocação no ranking de cidades com mais cursos de cinema e/ou comunicação social no Estado, São Leopoldo não possui produtoras de cinema. Junto a isso também cabe ressaltar que Canoas, 6ª colocada nesse mesmo recorte, também não conta com produtoras em seu território, mas apenas uma promotora de eventos que faz cinema com o dinheiro da sobra de caixa. O que une esta segunda no mesmo parágrafo a primeira cidade mencionada é o fato de que ambas se encontram na região da Grande Porto Alegre.

3. Considerações finais

Após a coleta dos dados, e as análises do mesmo, evidencia-se aquilo que normalmente já se percebe na produção audiovisual no Estado: Porto Alegre é a grande detentora dos meios de produção do cinema no Rio Grande do Sul. Praticamente toda a verba relacionada ao mercado cinematográfico gaúcho gira na capital. Não obstante, nela se concentram quase todas as produtoras do Estado, incluindo uma das mais antigas e estabelecidas no mercado audiovisual brasileiro: a Casa de Cinema de Porto Alegre.

Além disso, na Capital há a esmagadora maioria de universidades e cursos superiores nas áreas de Cinema e de Comunicação Social, sejam eles Jornalismo, Publicidade e Propaganda ou Relações Públicas. E é interessante, pois muitos dos professores dos cursos de Comunicação também são realizadores e encontram na docência uma forma de fazer audiovisual no âmbito universitário, mas também ter uma

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O fato de Porto Alegre ocupar essa posição, segundo os dados apontados pelos mapeamentos realizados, parece atrair para si todo tipo de iniciativa ligada ao cinema em suas imediações. Prova disso é o fato de que São Leopoldo e Canoas, apesar dos cursos superiores que possuem, apresentam produção cinematográfica profissional praticamente nula. Tal fato – o de atrair a produção cinematográfica para si – foi também apontado por muitos dos diretores convidados para o evento de extensão do grupo de pesquisa PROAV. Embora alguns fosse de outras cidades gaúchas, há vários anos estavam sediados em Porto Alegre, por conta da facilidade para obter financiamentos, contatos, profissionais. E mesmo o que não estão sediados em Porto Alegre, mantêm contato com os profissionais da cidade.

Outro dado extremamente relevante é o da importância dos cursos de Comunicação Social como porta de entrada, para os jovens estudantes, no mercado cinematográfico. Não apenas o curso, mas o que vem em decorrência dele, que é a fundação de agências de publicidade, se trata de uma das grandes fontes de produção audiovisual no Rio Grande do Sul. Quando não são as produtoras, quem garante que a cultura do cinema se desenvolva são essas agências formadas por estudantes que viram na publicidade uma forma de garantir o seu sustento e fazer aquilo que amam. Isso tudo também foi mais uma vez corroborado pelas falas dos convidados durante os debates do CineF.

Concluímos, portanto, que a educação detém, sim, uma grande responsabilidade na produção cultural de uma cidade, o que acaba por se tornar a produção cultural de todo um Estado. Contudo, mesmo quando as universidades faltam, parece que o derradeiro fator para que haja cinema, para que haja esta forma de arte que tanto nos comove, é a vontade das pessoas, o desejo do ser humano, pois a arte e a cultura fazem parte da alma do ser, e podem florescer mesmo em campos aparentemente não tão propícios a elas.

Referências bibliográficas:

GODELIER, Maurice. O Enigma do dom. Rio de Janeiro: Civilização brasileira,2001.

LEITE, Sidney Ferreira. Cinema brasileiro. Das origens à Retomada. 1ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.

MAUSS, Marcel. Ensaio sobre a dádiva. São Paulo: Cosac Naif, 2013.

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economia da dádiva. In: Anais do XXIII Encontro da Socine, Porto Alegre, 2019.

ROSSINI, Miriam de Souza. Possibilidades de ubiquidade no audiovisual contemporâneo. In: SERRA, P.; SÁ, S.; SOUZA FILHO, W. A televisão ubíqua. Beira Interior: Livros LabCom, 2015, p. 235-252

RUY, Karine dos Santos. Um longa na cabeça e (bem) menos de R$ 1 milhão na

conta: estudo sobre a produção e a circulação do cinema de baixo orçamento no Rio Grande do Sul. 2016. 259f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) –

Faculdade de Comunicação Social, PUCRS, Porto Alegre, 2016.

RUY, Karine dos Santos. Os espaços do cinema de baixo orçamento no Brasil. 2016. Revista Rebeca.

SILVA, Vitáli. A Produção contemporânea de longas-metragens no Rio Grande do

Sul: um olhar antropológico sobre a relação entre cineastas, Estado e mercado. 2017.

Dissertação de mestrado (Mestre em Antropologia Social) UFRGS, Porto Alegre, 2017.[Orientador: Prof. Dr. Ruben George Oliven].

TONETTO, Maria Cristina. A circulação do cinema universitário português e

brasileiro nas redes sociais digitais: a produção das Instituições Públicas entre 2010 e

2013. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação). Universidade da Beira Interior, Portugal, 2017.

Referências

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