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O filho entre o amor e ódio RESUMO

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Academic year: 2021

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O filho entre o amor e ódio

Pedro Teixeira Castilhoi RESUMO

Buscaremos percorrer a construção de Freud sobre a identificação ao Pai que culmina no sentimento da ambivalência. Para recuperar este percurso apontaremos que a organização da pulsão não está desvinculada do complexo de Édipo. As formulações freudianas sobre o complexo de Édipo devem ser desenvolvidas juntamente com a dissolução deste complexo que caminha com a fase fálica. Pretendemos demonstrar que a questão da ambivalência ao Pai se concentra na fase fálica. Isso quer dizer, na representação do órgão sexual, desenhando assim os afetos de amor e ódio dirigidos ao Pai.

Palavras-chaves: fase fálica; pai; identificação; amor e ódio

i Psicanalista

Mestre em Literatura e Psicanálise – UFMG. Doutorando em Teoria Psicanalítica - UFRJ

Rua São Domingos do Prata, 305 – apt 201. Bairro São Pedro. Cidade: Belo Horizonte. Minas Gerais Brasil. Cep: 30330 – 110. Tel: (031) 3223 90 54

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“ Love and hate come together” William Shakespeare

Buscaremos percorrer a construção de Freud sobre a identificação ao Pai que teria como expressão o sentimento da ambivalência. Para demonstrar esse percurso pretendemos apontar que a organização da pulsão não está desvinculada do complexo de Édipo.

Para isso as formulações freudianas sobre o complexo de Édipo devem ser desenvolvidas juntamente com a dissolução deste complexo que está justaposto com a fase fálica. Pretendemos demonstrar que a questão da ambivalência ao Pai se concentra na fase fálica.

No texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (FREUD, 1901-05/2003), uma das obras mais conhecidas de Freud, há a hipótese do psicanalista em colocar a sexualidade humana na dimensão perversa polimorfo. A obra de Freud é construída em torno da posição de demonstrar que a sexualidade não visa um fim reprodutivo

A partir deste ponto, podemos vislumbrar uma crítica de Freud à sexologia refutando toda hipótese de pensar o sexual centrado apenas na genitália com fins reprodutivos. A sexualidade não pode ser articulado no campo do instinto mas, passa a ser uma questão muito mais ampla estando no campo da pulsão.

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identificatório Freud faz um resgate à mitologia grega batizando o complexo de Édipo como algo da gênese da pulsão.

A partir desta breve construção, para chegar ao complexo de Édipo, pretendemos partir dos textos Os três ensaios da teoria da sexualidade, e as pulsões e seus destinos para demonstrar as origens da pulsão. Esse caminho visa chegar à ambivalência que não pode ser pensando sem se aproximar à um dos destinos da pulsão. O recalque é o paradigma para o complexo de Édipo juntamente com a ambivalência que ele desperta.

Para a dissolução do complexo de Édipo, é necessária uma articulação entre a ameaça de castração e as identificações edipianas. Se as conseqüências da ação paterna têm em seu bojo uma nova regulação dos afetos, essa abordagem implica na montagem do aparelho psíquico. As bases para esse percurso são os textos metapsicológicos de Freud sobre os mecanismos do inconsciente. Se o pai é incerto no que concerne à sua apreensão teríamos na ação do Pai uma garantia para a montagem das barreiras subjetivas.

Levando em consideração o complexo de Édipo, cabe aqui confirmar a hipótese da neurose a partir do desejo de morte do Pai. Pretendo demonstrar que o desejo de morte do Pai é a subjetivação do que Freud chamou de ambivalência de amor e ódio.

No texto Três ensaios sobre a teoria da sexualidade está a primeira referência freudiana à pulsão, termo recuperado da poesia de Schiller e um dos conceitos fundamentais da psicanálise (FREUD, 1915/2003). Esse conceito surge, no final do primeiro ensaio, como referência à sexualidade polimorfa, desde então interpretando-se a sexualidade para além do campo da genitalidade.

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construídas pelo aparelho psíquico são garantia da sobrevivência do organismo biológico. A condição para que haja o biológico é o psíquico, implicado na satisfação das vicissitudes da cultura. Criam-se, assim, inscrições do psiquismo no registro do corpo o que negando qualquer gênese solipsista do sujeito.

As construções desse engendramento surgem com os estudos sobre a sexualidade polimorfa. Ou seja, sobre as pulsões parciais, fundamentando a noção de pulsão à fase oral (o canibalismo), da fase anal (a primitiva) e da fase fálica (a genital) (FREUD, 1901-05/2003). Para que a pulsão crie seus destinos é necessário que ela registre essas fases, criando, seus circuitos.

A força pulsional surge como exigência de trabalho, estado de urgência da vida, visando uma descarga de excitação ativa para estabelecer uma quietude no organismo. Para que a pulsão tenha seus destinos, através da pressão, da finalidade, do objeto e da fonte é necessário que as pulsões parciais se organizem, criando uma finalidade de satisfação, que nunca é alcançada plenamente, é exatamente a insatisfação que origina e mantém o circuito pulsional em funcionamento. A solução freudiana contra esse impasse foi a construção de uma pulsão inibida quanta a meta (Zielgehent), ou seja, a pulsão não se satisfaz plenamente. (Freud, 2003/1921).

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próprio corpo. As fixações são as ligações da pulsão com os objetos, a partir dos encontros contingenciais com os mesmo. E, por último, a fonte (Quelle) é o processo somático que ocorre em um órgão, ou parte dele, e tem o estímulo na vida mental, determinando a pulsão. Para essa construção da montagem da pulsão, Freud, no texto “O narcisismo” faz uma analogia com os pseudópodos da ameba, partindo do corpo em direção ao objeto, criando os investimentos libidinais. Freud estabelece destinos para as pulsões, abarcando as maneiras com que as mesmas podem se satisfazer na cultura. A construção dos destinos da pulsão é estabelecida em dois grupos: um primeiro, a reversão a seu oposto, o retorno em direção ao próprio eu; o segundo, a sublimação e o recalque. Este último é o responsável pela regulação homeostática do aparelho psíquico, cuja gênese está vinculada à ação paterna. O primeiro grupo demonstra que as pulsões possuem uma gramática, na qual se revela uma sintaxe: vozes ativas (chupar, defecar, ver e escutar), passivas (ser chupado, defecado, visto e escutado) e reflexivas (chupar-se, defecar-se, ver-se, escutar-se), juntamente aos pares sadismo/masoquismo e voyeurismo/exibicionismo.

Karl Abraham (1970), em Teoria psicanalítica da libido, demonstra a gramática das fases de desenvolvimento libidinal. Para esse discípulo de Freud, tal gramática é tratada a partir do caráter pré-genital dos estágios da libido.

Entre os alunos de Freud, Karl Abraham foi o que mais desenvolveu o tema das pulsões parciais, sobretudo a pulsão oral, como também o tema da psicologia da religião aproximando a pulsão oral ao ato de devoração ao Pai.

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relação – nesse caso, a oral – do sujeito com os objetos, que ele quer engolir para dentro de si, obedecendo à economia auto-erótica dos prazeres do órgão. Com relação a este aspecto, é importante lembrar, o próprio gesto de devorar o Pai totêmico que tem em seu bojo a identificação com o Pai via oral.

Na segunda etapa do desenvolvimento da libido, segundo Abraham, teríamos a fase anal, que se dividiria em destrutivo-repulsiva e dominante-retentora. Essa fase determina as fixações do erotismo anal, nos casos de melancolia e de neurose obsessiva. Ambos conteriam duas tendências de prazeres antagônicas no campo dos impulsos sádicos, percebendo-se a reversão ao seu oposto, do sadismo para o masoquismo.

A diferença entre as duas fases, oral e anal, está, respectivamente, no incorporar – pôr para dentro – e no expulsar e reter – eliminar. Nessas construções de Abraham (1970), fica evidente a gramática da libido no que se refere à reversão ao seu oposto e o retorno ao próprio eu. Se Abraham constrói de maneira mais detalhada as vozes passivas, ativas e reflexivas, juntamente do par sadismo e masoquismo, Freud recupera o par voyeurismo/exibicionismo na lógica da pulsão escópica, olhar/ser olhado, em uma cena que possui três tempos.

Em um primeiro tempo da cena freudiana, ainda na fase auto-erótica, existiria um prazer ativo voyeurista, com alguém olhando para um órgão sexual, marcando o prazer do órgão em ser olhado por alguém. Nesse tempo, o auto-erotismo começa a abandonar o corpo, surgindo uma prevalência do narcisismo; segundo Freud, a “pulsão de olhar passiva mantém o objeto narcísico”.

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Nesse ponto, o par voyeurismo/exibicionismo configura-se, de maneira definitiva, com a entrada de um terceiro – a figura do Pai. Como veremos mais tarde, essa cena é paradigmática para o complexo de Édipo, visto que a figura do Pai, o terceiro, é a condição para a gênese do sujeito na cultura. Freud resume essa dinâmica da seguinte maneira:

Alguém olhando para um órgão sexual = um órgão sexual sendo olhado por alguém

Alguém olhando para um objeto estranho = um objeto que é alguém ou parte e alguém sendo olhado por uma pessoa estranha

Com a entrada de um terceiro na cena escópica, fica claro que o significado de uma representação para o pênis existe apenas quando a libido se concentra na fase fálica. Nesse momento, ela desloca-se do auto-erotismo para o narcisismo. A referência de Abraham a uma história do desenvolvimento da libido leva à fase genital, sendo esta a fase que culmina no amor genital-fálico:

No nível da organização fálica da libido, é evidente que o último grande passo em seu desenvolvimento ainda não foi dado. Não o será até que atinja o nível mais alto da libido – o único que deveria ser chamado de nível genital. Dessa maneira, vemos que a obtenção do nível mais alto da organização da libido vai lado a lado com o passo final da evolução do amor objetal (ABRAHAM, 1970, p. 153).

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complexo de Édipo à noção de castração. Para isso, é importante chamar atenção que a fórmula "complexo de Édipo" surge no texto de Freud Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens (1910). A teoria dos estádios oral, anal e genital não pode articular-se facilmente com a descoberta dos desejos edipianos.

Esse desenvolvimento começa no estágio oral da libido, da sucção ou indiferenciação auto-erótica, passa para o estágio oral-canibal, seguindo para o estágio anal e, por último, o genital-fálico, na qual a criança constrói uma diferença sexual a partir da entrada de um terceiro. Para trabalharmos as conseqüências da entrada desse estranho, devemos articular o segundo grupo dos destinos da pulsão – o da sublimação e do recalque, mais precisamente, o recalque (Verdrängung).

Aquém da sublimação, está a estrutura polimorfa da pulsão sexual, que cria o caráter parcial dos primeiros objetos de satisfação. Nesse momento, as pulsões ainda padecem de alvo para uma satisfação do objeto, por serem auto-eróticas; o que está em jogo são os prazeres específicos dos órgãos, momento no qual cada zona erógena segue sua forma particular de satisfação. O amor de objeto só seria possível quando as moções pulsionais forem sublimadas pela cultura na fase fálica. Nesse sentido, a sublimação demanda um funcionamento do circuito da pulsão a partir da cultura, apenas quando os objetos de satisfação forem deslocados para objetos na cultura que existe a ação da sublimação.

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É exatamente na fase que fálica que ocorre a justaposição do complexo de Édipo. Cabe, neste momento do texto, demonstrar as relações construídas em torno do Pai com o filho. A partir desta construção procura-se afirmar o caráter teológico de tal pacto.

Para Freud, as resistências do percurso da pulsão que impedem a satisfação devem-se ao fato de ela estar em estado de recalque. A condição para o recalque é o desprazer no lugar do prazer, estabelecendo um paradoxo no que concerne os destinos da destinos da pulsão.

Nesse caso, para a metapsicologia freudiana, é necessário que haja condições específicas para que a força que causa o desprazer se torne ainda mais poderosa do que aquela que produz a satisfação pulsional do prazer. A diferença em relação aos outros destinos da pulsão é que este foi inibido pela ação do recalque e desviado de seu fim pelo desprazer. A força que causaria um desprazer seria a ação de repelir do consciente a representação do recalque e mantê-lo afastado dele. No recalque está a base para a construção do objeto de satisfação do sujeito. Com relação à gênese do objeto, este carrega algo similar ao recalque. Em Pulsões e seus destinos, Freud (1915/2003) demonstra que a gênese do objeto de satisfação, para criar seus destinos, se dá como conseqüência do ódio, pois o “objeto nasce do ódio” (FREUD, 1915/2003). As questões sobre o masoquismo no corpo, que seria conseqüência, a nosso ver, do objeto que nasce do ódio, são trabalhadas a partir da noção do masoquismo original. (FREUD, 1915/2003. p. 141).

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original determina um sujeito dividido, para o qual representações inconscientes não teriam acesso ao sistema pré-consciente, instituindo o impossível de uma tradução inconsciente.

Temos, então, fundamentos para supor um recalque originário, uma primeira fase do recalque, que consiste em que o representante psíquico (da representação) da pulsão é privado de admissão no consciente. Com isso se dá uma fixação, o referido representante fica imutável e a pulsão permanece ligada a ele (Freud 1915/2003 p. 143).

Por outro lado, posterior à primeira ação, essa variação do recalque afeta os derivados mentais, sendo posterior à primeira ação. O recalque propriamente dito é aquele que cria as cadeias associativas de pensamentos. Nessa segunda variação, existe uma representação recalcada que provoca a significação.

É com o fenômeno da aparição do sintoma que se indica que o recalque não foi bem sucedido em sua montagem. Conforme o tipo de neurose, o mecanismo básico do recalque irá se articular a outros mecanismos (condensação e deslocamento) e contra-investir representações diferentes. Freud debruça-se sobre o caso clínico de uma criança que apresenta um sintoma de fobia de lobos. Tal sintoma, segundo o autor, surge como um retorno do recalcado, devido a uma falha do recalque. A fobia, a priori, deveria ser dirigida a uma agressividade inconsciente ao Pai, mas acaba por se manifestar como sintoma. Do que trata essa agressividade ao Pai que se apresentou como fobia de lobos?

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falo a partir da diferença sexual. Na investigação das teorias sexuais infantis, afirma a universalidade do pênis como o único órgão sexual existente. Essa afirmação, que surge de suas observações empíricas, leva-o a concluir que o pênis seria a referência para a diferenciação entre os sexos.

Todos os seres humanos teriam pênis, tanto os meninos quanto as meninas, que teriam o clitóris como um pênis menor. Desse modo, o falo, na organização sexual do masculino e do feminino, cria uma realidade sexual para o sujeito, um saber diante da castração – ter o falo ou desejar o falo –, surgindo uma ligação específica de satisfação do Outro social.

Assim, para que haja a “dissolução do complexo de Édipo”, nos meninos, é primeiramente necessário que eles pensem que o pênis, o phallus, existe também nas meninas e vai crescer, para que, em seguida, concluam que o pênis, o phallus, das meninas foi retirado. A idéia de que seu próprio pênis possa ser perdido, assim como teria acontecido às meninas, faz com que os meninos se deparem com a ameaça de castração. Quando assume as conseqüências dessa ameaça, separa-se da mãe e começa a se orientar pelo Pai.

Em Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica entre os sexos, Freud (1924/2003) comenta que a castração é o modo pelo qual o sujeito se posiciona diante do outro sexo, um modo de referência para o feminino e para o masculino: a castração que foi executada, no caso da mulher, e a castração que foi ameaçada, no caso do homem. Enquanto nos meninos,o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas é a partir daí que ele se faz possível e é introduzido.

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que se estabelece com o surgimento do desejo de morte do Pai, para que, em um segundo momento, seja possível recuperar as etapas de desenvolvimento da libido até a fase fálica.

No texto Introdução ao narcisismo, Freud (1914/2003) aponta dois tipos de escolha de objeto, duas formas em que o ser humano escolhe seu objeto de amor: escolha narcisista - escolha do objeto amado à imagem do próprio sujeito -, e escolha anaclítica - apoiada nos objetos encarregados de cumprir sua função de autoconservação. Em um primeiro momento, o ser humano apóia-se na mãe para que haja uma origem da sexualidade, essa gênese de uma teoria sexual está vinculada à figura materna que traz, em seguida, a do Pai.

Verifica-se que a mãe, na cena da A Dissolução do complexo de Édipo, instala-se como o primeiro objeto sexual, enquanto o Pai intervém como o agente de castração. Essa concepção freudiana da castração é a origem da ambivalência. Partindo da fase fálica, Freud observa que o interesse do menino por seu pênis se manifesta a partir da manipulação do órgão, depois que ele passa a interpretar o Pai como ameaça de amputação do mesmo. Esse fato é constatado porque, em um primeiro momento, ele não se importa com o fato de ter o pênis, mas quando olha os genitais femininos, percebe que pode perdê-lo. Daí se observa que qualquer escolha que o menino faça equivale à perda do pênis, ou seja, à castração como castigo: a satisfação amorosa no campo do Édipo deve custar-lhe o pênis (FREUD, 1924/2003). O menino encontra-se, portanto, em um dilema, pois a satisfação de seu desejo acarreta a ameaça de perda do pênis. Pode, por isso, tanto renunciar ao objeto materno como preservar seu desejo de incesto.

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ser corretamente apreciado se sua origem na fase da primazia do falo for também apreciado.” (FREUD, 1924/2003, p. 185).

Logo, a partir do temor à castração, o menino identifica-se com o Pai pela introjeção da imago paterna (ego ideal); no ego, dá-se o recalque do desejo incestuoso (morte do Pai), aproximando o complexo de Édipo da castração. Se a criança se volta em direção ao Pai – ou à pessoa que o sustenta –, é porque ela se identifica com o olhar paterno.

A rivalidade com o Pai seria a subjetivação inconsciente do desejo de matá-lo, um desejo de morte do Pai, conseqüência da tentativa da criança de evitar a castração. Visto que esse desejo de morte não se realiza, torna-se inconsciente. Como não existe uma representação para a morte, o Pai, afastado, retornaria para castigar o filho em ato. O gesto de evitar a castração do filho provocaria o sentimento de morte como resultado da morte imposta ao Pai, o que vem evocar as vicissitudes da vida sexual da criança como condição para o encerramento do complexo de Édipo.

Procede que, no nascimento, o indivíduo esteja inteiramente destinado à morte, e que, talvez, sua disposição orgânica já possa conter a indicação daquilo que deve morrer. Não obstante, passou a ser interessante acompanhar como esse programa inato é executado e de que maneira nocividades acidentais exploram sua disposição (FREUD, 1924/2003. p. 185).

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Nesse momento, a castração é, portanto, idealizada com a morte do Pai, e o ponto que a criança evoca é a representação do Pai idealizado, uma vez que a satisfação amorosa deve custar o próprio pênis (FREUD, 1924/2003 p. 184

Esse raciocínio leva à justaposição do Pai idealizado como desejo de morte do Pai, trabalhada por Freud (1914/1923) no texto Introdução ao narcisismo (FREUD, 1914/2003) como ego ideal. Examinando os destinos do narcisismo, abandonado devido à evolução da libido na fase genital, Freud nota que uma parte dessa libido não é investida diretamente nos objetos, mas se encontra como substituto da perfeição narcísica. A idealização do Pai é condição para que a libido seja investida para além do próprio eu, eu Ideal.

O narcisismo aparece deslocado sobre este novo ego ideal, como o ideal adornado de todas as perfeições... (o sujeito) não quer renunciar à perfeição de sua infância, e, como não pode mantê-la frente aos ensinamentos recebidos durante seu desenvolvimento e frente ao despertar de seu próprio julgamento, procura conquistá-la de novo diante da forma de seu ego ideal. Aquilo que projeta ante si mesmo como seu ideal é a substituição do narcisismo perdido de sua infância, na qual ele mesmo era seu próprio ideal (FREUD, 1914/2003, p. 91)

O ideal do ego, na exterioridade do sujeito, dá-se a partir da figura do Pai, sobre quem foi projetado o essencial do narcisismo perdido na infância. A idealização paterna, como também a renúncia ao narcisismo do Pai, devido a uma limitação, faz surgir o Pai a partir do Pai idealizado. O declínio do complexo de Édipo é o luto do Pai, deixando como seqüela uma identificação com o Pai.

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É esse o momento em que a ameaça de castração se revela na construção que o Pai real é dissociado da representação do Pai idealizado, possibilitando a identificação secundária com ele. A aceitação da delimitação de seu desejo e da inacessibilidade da mãe – aceitação que não “cai do céu”, mas pelo interesse narcísico como co-produtor das pulsões sexuais e de auto-conservação – fazem com que a criança efetue um triplo movimento: abandona o esquema da onipotência como único, reconhece a diferença entre o ideal e o real e identifica este último como suporte da onipotência. Dessa maneira, o ideal de eu situa-se no Pai, e o amor por ele determina a identificação secundária, mediante a qual este Pai vai ser assassinado.

No texto Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico, Freud (1911/2003) demonstra que a satisfação da pulsão, no campo da cultura, é conseqüência da categoria do Pai e da sublimação que ele implica: a castração do sujeito é a sua entrada na cultura.

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Como Freud compreende essa construção. Esse sentimento efetua-se na escolha anaclítica do objeto. O investimento libidinal segue os caminhos das necessidades narcísicas e liga-se aos objetos que asseguram essas necessidades (FREUD, 1914/2003). A mãe, que satisfaz a fome da criança, torna-se seu primeiro objeto de amor; em seguida, essa escolha é substituída pelo Pai, símbolo de proteção. No entanto, no nível do recalcado, o próprio Pai constitui um perigo para a criança, devido ao relacionamento anterior dela com a mãe. Nesse ponto, o sonho que Freud escolhe para demonstrar o funcionamento do inconsciente é paradigmático, no que se refere ao desejo de morte do Pai, que seria a condição para a identificação do infans com o Pai como um ser finito, com a conseqüente entrada do princípio da realidade.

Logo, o apelo à questão do Pai entra em cena. O eu não pode renunciar ao Pai morto nem reagir a ele com agressão. Deve amá-lo como autoridade inatacável (escolha de objeto anaclítica) e, nessa posição de impasse, degrada o Pai; em fantasia, identifica-se com o Pai degradado e a agressividade é recalcada.

O conflito entre o amor ao Pai e o ódio a ele é encenado internamente, mas invertido. A agressividade ao Pai retorna sob a forma de um imperativo superegóico, implicando o sujeito em um paradoxo entre o amor (ideal) e o ódio (recalque) em relação ao Pai, interpretado sob a forma de um mal-estar.

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que, da cultura, a partir do recalque, ele possa se satisfazer. O Pai torna-se a condição do inconsciente, a partir do recalque, que coloca em jogo a castração do filho.

A partir daí que surge a ambivalência. É por isso que a convergência do amor e do ódio a uma mesma pessoa está nos rastros da vida afetiva, ligando e desligando os seres humanos da vida social. Estando na origem de todas as transformações da paixão em relação ao Pai, o retorno do recalcado jamais cessa e condiciona essa relação, não havendo uma deslibidinação do mundo. O sacrifício do filho realiza-se pela identificação ao Pai, realizada por amor a ele. A criança começa a nomear seus afetos, e é essa a própria condição para que haja a realidade psíquica (Realität).

É o que vemos nos casos das fobias infantis com animais. O pequeno Hans tem medo de sair nas ruas por temer ser mordido pelo cavalo. O cavalo que morde é um substituto do pai que castra, e aí a angústia da fobia é angústia diante do objeto, da castração, nos diz Freud. O pai de Hans é carente porque ele não consegue separar suficientemente Hans da mãe, portanto ele não funciona bem como agente da castração, mas funciona, suficientemente, para desencadear a angústia e o recalque que causará a fobia.

A fobia é o sintoma que supre a falha paterna e que reforça a função do pai como agente da castração. O caso de Hans não tem nada de excepcional pois o pai na realidade está sempre em déficit em relação ao agente da castração.

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Hans, “a primeira pessoa que serviu a Hans como um cavalo devia ter sido seu pai. Quando a repressão (recalque) começou e trouxe consigo uma repulsão de sentimentos, os cavalos que tinham sido associados com tanto prazer, foram necessariamente transformados em objetos de medo” (Freud, 1975/13:115). Este deslocamento do sintoma de Hans para os cavalos passa a ser sua principal queixa, e simultaneamente o medo dos cavalos vai-se “transmutando gradativamente em uma compulsão para olhá-los: ele (Hans) dizia: Tenho que olhar para os cavalos e aí fico com medo”.

Nesse ponto, também a clínica da neurose obsessiva é reveladora no que concerne ao sentimento de ambivalência. A exemplo disto teríamos a sintomatologia do Homem dos ratos (FREUD, ANO/2003) que gira em torno do medo de alguma coisa acontecer ao Pai, já morto, e à sua amada. No que se refere ao Pai, Freud nota uma relação de ambivalência quando o homem dos ratos era indagado sobre a masturbação: o amor ao Pai era substituído por um ódio que revelava o castigo do Pai face aos desejos sexuais do filho.

Estes efeitos da ambivalência são retratados no texto Sobre a Tendência de depreciação do objeto de amor de Freud sobre a psicologia do amor que há um relato da divisão das pulsões sexuais do homem em duas correntes subjetivam como ambivalentes. A mulher estaria para o homem como a amada, e, por outro lado a prostituta seria escolhida pelo homem para a corrente de ódio.

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Desse modo, esclarece-se o caminho freudiano da identificação ao Pai, caminho que parte do complexo de Édipo e da castração para a diferença sexual. As capacidades de ligação e de simbolização deixam abertas as possibilidades de integração via Pai. As diretrizes para desenvolver as idéias da presente tese neste momento emanam para a relação do Pai ambivalente.

BIBLIOGRAFIA GERAL

ABRAHAM, Karl. Teoria Psicanalítica da Libido – Sobre o caráter e o desenvolvimento da Libido. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1970.

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Amorrortu, 2003. (Obras completas vol.19).

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