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Oclusão dentária e a formação da embocadura do flautista

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Academic year: 2021

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Oclusão dentária e a formação da embocadura do flautista

Fernanda Pairol

Departamento de Música da ECA-USP e-mail: fernanda.pairol@usp.br

Resumo: Este artigo reúne as informações sobre as relações entre a oclusão dentária e a formação da embocadura do flautista, encontradas na literatura pedagógica e médica (ortodôntica e fonoaudiológica), e comunica os resultados parciais de um projeto que pretende elucidar as implicações pedagógicas trazidas pelas classes de oclusão dentária neste processo.

Palavras-chave: flauta transversal, embocadura, oclusão.

Abstract: This article gathers information about the relations between occlusion and embouchure formation, that were found in the literatures pedagogical and medical (orthodontical, and phonological), and communicates the partial results of a project that aims elucidate the pedagogical implications bringed about occlusion in this process.

Keywords: flute, embouchure, occlusion.

1 Introdução

O termo Embocadura1 é utilizado para designar o posicionamento e as movimentações exercidas pela musculatura facial e pela mandíbula necessárias a produção do som nos diversos tipos de instrumento musical de sopro, que agem em conjunto com o sistema respiratório.

A habilidade de coordenar as partes requeridas do sistema estomatognático e respiratório na produção dos sons dos instrumentos musicais é adquirida inicialmente através de exercícios de sonoridade que visam primeiramente à produção das freqüências em separado nos registros grave, médio e agudo2, conhecido como exercícios de notas longas e em um segundo momento a produção das freqüências em escalas ou saltos (harmônicos ou sons reais), conhecidos por exercícios de flexibilidade. Formar a embocadura é apreender uma habilidade diferente das outras exercidas pelo sistema estomatognático como a mastigação, deglutição e a fala.

Embocar o instrumento musical e produzir as diversas freqüências e suas nuances de volume e timbre elege objetivos diferenciados das outras funções do sistema estomatognático em conjunto com o sistema respiratório. Apesar desta função ser

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Fr.embouchure; Al. Ansatz; Em português: Aplicar a boca em um instrumento, para dele tirar sons; embocar o instrumento.

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A escolha da ordem das freqüências varia de acordo com o instrumento e metodologia

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diferenciada, o equilíbrio do sistema estomatognático também é necessário para a aquisição desta habilidade de maneira salutar e profícua, assim como grandes desequilíbrios podem trazer dificuldades.

2 Literatura pedagógica

No caso da flauta transversal, para que a produção do som aconteça, de acordo com Theobald Boehm3 (1871, p.21), a corrente de ar deve ser soprada contra a borda do orifício do bocal, e um ângulo que varia com a freqüência da nota que se quer produzir. Explica ainda que (p.29) “as notas da segunda oitava são produzidas, pelo assoprar além das notas da primeira oitava, pelo estreitamento da abertura dos lábios, e pela mudança do ângulo e aumentando a velocidade da corrente de ar”.

O bocal da flauta transversal é posicionado no queixo do flautista e em contato com o lábio inferior. A mudança no ângulo da corrente de ar necessária a produção das diversas notas de acordo com Quantz4 (1752, p. 52 § 9) é obtida também pela movimentação da mandíbula, em suas próprias palavras afirmou “quando você toca, seu queixo e lábios devem mover-se constantemente para trás e para frente, de acordo com a mudança das notas ascendente e descendentemente”.

Marcel Moyse5 (1923, p.3-4), outro importante flautista e professor, afirmou em seu método de sonoridade que para se obter a homogeneidade dos sons nos três registros, sua qualidade, volume e afinação dependem da posição dos lábios no bocal da flauta e da força e rapidez da coluna de ar. Ainda de acordo com o autor, o instrumentista deveria afrouxar, retrair ou protuir a mandíbula de acordo com as notas a serem produzidas, e que possuir o correto eixo da flauta em relação aos lábios, proporcionaria enorme vantagem e liberdade para efetuar o vibrato e o colorido timbrístico.

Quantz (1752, p.52), afirmou ser necessária uma disposição natural de dentes e lábios para a aquisição de uma boa embocadura. Tromlitz6 (1791, p.50) relacionou o bom desempenho em um exercício de sonoridade a formação dos lábios e

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Boehm, Theobald. The Flute and Flute-Playing in Acoustical, Technical, and Artistic aspects. Dover Publications, Inc. New York.1964.

4

Quantz, Johann Joachim. On playing the Flute. Faber and Faber .Great Britain, 2001.Original alemão de 1752.

5

Marcel, Moyse. De La Sonorité.Alphonse Leduc,1923. 6

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ao posicionamento dos dentes. Boehm (1871, p.135) afirmou que uma boa embocadura depende em grande parte de uma formação normal de lábios e dentes. Taffanel e Gaubert7 (1923, p.7) enumeraram entre as qualidades necessárias a formação da embocadura a regularidade dos dentes, queixo em posição não proeminente, e queixo levemente côncavo. Os autores orientaram que para executar os saltos, deveria ser evitado o movimento do queixo, e movimentar somente os lábios que resultariam em um movimento de vai e vem do bocal produzido pela relaxar e tencionar dos lábios.

Roger S. Stevens8 (1967, p.16) afirmou que extremos casos de ma oclusão seriam suficientes para desencorajar possíveis alunos; Sobremordida (Overbite) moderada não seria um detrimento severo; qualquer grau de Prognatismo (Underbite) seria razão suficiente para a indicação de outro instrumento musical; o desalinhamento dos dentes poderia ser prejudicial em casos extremos; necessidade de possuir todos os incisivos, ou possuir prótese, porém se necessária uma prótese de muitos dentes, o individuo deveria ser desencorajado; e que o estudante que está passando por tratamento ortodôntico é momentaneamente prejudicado pela presença das ferragens, mas que acaba se acostumando; nos casos de extremo desalinhamento o estudante não deve ser encorajado a tocar o instrumento, ao menos que a Ortodontia possa oferecer alguma solução para o caso; e que seria impossível o aprendizado nos casos incorrigíveis de fissura palatina. Roger Stevens apresenta uma seqüência de imagens de embocaduras. Este autor é um dos mais objetivos em relação ao tema, porém não aprofunda o assunto, nem expõe técnicas “alternativas” para aqueles que poderiam apresentar algum tipo de dificuldade decorrente de problemas dentários.

Roger Mather9 (1981, p.5-7), explica que a boca não é de maneira inata adequada a flauta, mas sim para comer e falar, e que existem tantas diferenças (de bocas) que o estudante precisa encontrar qual o melhor posicionamento da flauta de acordo com a sua formação labial, e saber qual o tipo de sonoridade que pretende produzir.

7

Taffanel, Paul.Gaubert, Philippe. Méthode Complete de Flûte. Paris:Alphonse Leduc,1923.

8

Stevens, Roger S. Artistic Flute . Technique and Study. California.Highland Music Company,1967.

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Portanto, encontramos na literatura pedagógica, afirmações generalizadas das relações da oclusão dentária e a formação da embocadura do flautista.

3 Literatura médica ( ortodôntica e fonoaudiológica)

Na literatura especializada, encontramos uma dissertação acerca do assunto e vários artigos:

 CHENEY, Edward A. Adaptation to Embouchure as a function of dentofacial complex.

 ENGELMAN, Joseph A. Measurement of perioral pressures during playing of musical wind instruments.

GRAMMATOPOULOS, Ektor. A study of the effects of playing a wind instrument on the occlusion.

 GREEN,Howard M. Green, Shari E. The interrelationship of wind instrument technic, orthodontic treatment, and orofacial myology.

 LAMP, Charles J. Epley, Francis W.Relation of tooth evenness to performance on the brass and woodwind musical instruments.

 LOVIUS, B. B. J; Huggins, D.G. Orthodontic and the wind instrumentalist.

 NETO, J.S.; Almeida, C. Bradasch, E. R.; Corteletti, L.C.B.J.; Silvério, K. C.; Pontes, M. M. A.; Marques, J. M. Ocorrência de sinais e sintomas de disfunção temporomadibular em músicos.

 PANG, Allen. Relation of musical wind instruments to malocclusion.

 PORTER M. M. The Embouchure and Dental Hazards of Wind Instrumentalists.

Dental problems in wind instrument playing. Dental aspects of orquestral wind instrument

playing with special reference to the “Embouchure.”

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 SCHADE, C. C. Practical Evaluation of Orofacial Myofunctional Exercises: Implications for Wind Instrument Learning.

 STRAYER, Edward Ray. Musical Instruments as an Aid in the treatment of Muscle Defects and Perversions.

 YEO, DKL, TP Pham, J. Baker, SAT Porter. Specific orofacial problems experienced by musicians.

Sabemos que a formação da embocadura é um processo de aprendizagem complexo que envolve o desenvolvimento e aprimoramento de habilidades diversas. Não é nosso objetivo sobrevalorizar as relações entre as classes de oclusão dentária e a motricidade orofacial, tão pouco apresentá-las como o único ou principal fator a ser estudado e compreendido neste processo. Concordamos com o pensamento de Marcel Moyse: que a beleza do som está intimamente ligada à generosidade do coração10. Não obstante, consideramos importante o aprofundamento deste tema para o esclarecimento sobre o uso do sistema estomatognático com uma função específica, exercida por pessoas de diversas idades; por um número crescente de jovens em fase de dentição mista, beneficiados através de projetos sociais que ensinam música em nosso país; assim como por muitos músicos amadores e profissionais, principalmente professores de flauta e outros instrumentos de sopro, que poderão apreender sobre o sistema estomatognático e a sua relação com a formação da embocadura, e assim reconhecer e compreender as implicações pedagógicas deste processo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TAFFANEL, Paul.GAUBERT, Philippe. Méthode Complete de Flûte. Paris:Alphonse Leduc,1923.

CHENEY,Edward A. Adaptation to Embouchure as a function of dentofacial complex. American Journal of Orthodontics. Jun, 1949.V.35(6);440-456.

ENGELMAN,Joseph A. Measurement of perioral pressures during playing of musical wind instruments Am. Journal Orthodontics. Nov.1965. V.51Nº11; 856-863.

GRAMMATOPOULOS, Ektor. A study of the effects of playing a wind instrument on the occlusion. Dissertação de Mestrado. Departament of Orthodontics.University of Birminguam. Dec,2009.

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GREEN,Howard M. Green, Shari E. The interrelationship of wind instrument technic, orthodontic treatment, and orofacial myology. International Journal of Orofacial Myology Nov1999. V.25:18-29.

LAMP, Charles J. Epley, Francis W.Relation of tooth evenness to performance on the brass and woodwind musical instrumentsThe Journal of the American Dental Association July, 1935.

LOVIUS, B. B. J; Huggins, D. G.Orthodontic and the wind instrumentalist.School of Dental Surgery, Liverpool University.Journal of Dentistry.Dec.1973.V.2:65-68.

MATHER, Roger.The Art of Playing the Flute. Vol.II Embouchure. Iowa; Romney Press, 1981.

MOYSE, Marcel. De La Sonorité. Paris:Alphonse Leduc,1923.

NETO, J.S.;Almeida,C.;Bradasch, E. R.; Corteletti, L.C.B.J.; Silvério, K. C.; Pontes,M. M. A.; Marques, J. M. Ocorrência de sinais e sintomas de disfunção temporomadibular em músicos. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo. 2009. Vol.14, nº3. (p. 362-366). ISSN 1516-8034.

PANG, Allen.Relation of musical wind instruments to malocclusion.Journal of the American Dental Association 1976.V. 92:565-570.

PORTER M. M. The Embouchure and Dental Hazards of Wind Instrumentalists.Proc.roy.Soc. Med. Nov.1973.V.66:1075-1078M. M. Porter.

Dental problems in wind instrument playing. British Dental Journal. 1967-1968.V.123-124.

Dental aspects of orquestral wind instrument playing with special reference to the “Embouchure.” British Dental Journal .Aug.1952.Vº 5; 66-73.

QUANTZ,Johann Joachim. On playing the Flute. Faber and Faber .Great Britain, 2001.Original alemão de 1752.

RINDISBACHER, Therese; Hirschi ,Urs; Ingervall, Bengt; Geering, Alfred.Little influence on tooth position from playing a wind instrument .The Angle Orthodontist 1989.V.60, Nº3:223-228.

SCHADE, C. C. Practical Evaluation of Orofacial Myofunctional Exercises: Implications for Wind Instrument Learning. Music Performance Research.Royal College of Music. Manchester.Vol. 1, nº1. (p.47-65). ISSN 7155-9219

STEVENS,Roger S. Artistic Flute,Technique and Study. California.Highland Music Company,1967.

STRAYER,Edward Ray. Musical Instruments as an Aid in the treatment of Muscle Defects and Perversions.Eleventh Biennial meeting of the Edward H. Angle Society of Orthodontia in the New York City, May 2 to 6, 1938.

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