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CRÉDITO OU BOM NOME DO DESTINATÁRIO CONTESTAÇÃO

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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 21321/15.2T8LSB.L1-8 Relator: FERREIRA DE ALMEIDA Sessão: 13 Setembro 2018

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

CRÉDITO OU BOM NOME DO DESTINATÁRIO CONTESTAÇÃO

DOLO E MERA CULPA

Sumário

A mera reprodução, em sede de contestação de acção judicial, de afirmação alegadamente lesiva do ali demandante, não sendo objecto de difusão, nem gozando de publicidade exterior, não viola, por si só, o crédito ou bom nome do destinatário a título de dolo ou de mera culpa.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa :

1. S... e R... vieram propor, contra J..., acção com processo comum, distribuída à comarca de Lisboa - Juízo Central, pedindo a condenação daquele a pagar- lhes a quantia total de € 60.000, a título de indemnização por danos morais, alegadamente decorrentes de afirmação contida em peça processual subscrita pelo R., na qualidade de advogado.

Contestou o R.. impugnando a ocorrência dos invocados danos - concluindo pela improcedência da acção.

Efectuado julgamento, foi proferida sentença, na qual se considerou a acção improcedente, absolvendo-se o R. do pedido.

Inconformados, interpuseram os AA. o presente recurso de apelação, cujas alegações terminaram com a formulação das seguintes conclusões :

- A decisão impugnada é infundada, viola toda a prova produzida em julgamento e aplica de uma forma incompreensível o direito.

- É inequívoca toda a prova produzida em julgamento no sentido de que os

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irmãos e cunhados dos recorrentes não se falam, nunca comunicaram dentro ou fora ou nas imediações dos tribunais, nunca se ofenderam ou disseram frases, quer a do art. 13º da contestação do recorrido quer de outro tipo, e entre eles nunca houve qualquer conflito, confronto ou litígio que levasse a ter de os separar, por intervenção direta do recorrido ou de qualquer outra pessoa (neste sentido o depoimento de parte do recorrente; o testemunho de C..., irmão da recorrente e cunhado do recorrente).

- De modo idêntico, não ficou provado em parte alguma que o recorrente medicasse ou mandasse medicar a sua mulher, nem isso, tão-pouco, resulta dos documentos juntos aos autos, onde não está a aposta uma única

assinatura do recorrente marido em receita prescrita a sua mulher, nem tal resulta do depoimento das testemunhas ou partes na ação.

- Muito pelo contrário, o que ficou provado é que o recorrente marido, por principio, não prescrevia meditação nem atendia como médico quem quer que fosse de sua família e, quanto à aquisição dos medicamentos, a mesma era obtida unicamente pela recorrente mulher, muitas vezes sem o conhecimento de seu marido, qual preenchia as receitas de que dispunha ou então contava com a facilidade da farmácia da terra pequena onde vivem e na qual sabem que o seu marido é médico (neste sentido, o depoimento de parte do

recorrente; o depoimento de parte da recorrente; o testemunho do Dr. A..., testemunha do recorrido).

- Também ficou provado pelo testemunho de amigos do casal e antigos colegas do recorrente que nunca o viram passar medicamentos à mulher, que nunca a viram num estado "pouco usual" e que não imaginam que isso pudesse ter acontecido (neste sentido, o testemunho do Dr. F...).

- Além disso, também ficou provado que o recorrente nunca disse ao recorrido que sua mulher tomava medicação o que, além de demonstrado em audiência, é do senso comum que se trate de um assunto que extravasa o âmbito do mandato forense (neste sentido, o depoimento de parte do recorrente).

- E não ficou provado no processo que a frase que o originou foi alguma vez produzida (prova essa que competia ao recorrido fazer) - muito pelo contrário, ficou provado que entre os recorrentes e os seus irmãos e cunhados nunca houve diálogo de qualquer tipo, tal como ficou provado que os mesmos não insinuaram o que quer que fosse, e nunca ter existido qualquer confronto que tivesse justificado a separação do ou dos recorrentes e dos seus irmãos ou cunhados pelo recorrido.

- À pergunta sobre a necessidade ou a razoabilidade da afirmação que funda o referido artigo da contestação, responderam vários advogados ouvidos, quer como testemunhas dos recorrentes quer como testemunhas do recorrido, todos com experiência profissional e maturidade intelectual, através de um

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depoimento sério e isento, no sentido de que a mesma frase, face à

especificidade de um processo de cobrança de uma dívida e tendo em conta as condições concretas em que a mesma se gerou, seria:

- em primeiro lugar, diretamente imputável ao recorrido, que a escreveu na sua peça processual, ainda que tenha

utilizado um argumento de atribuição indireta a uma conversa que

alegadamente ouvira aos cunhados (e se demonstrou nunca ter existido);

- em segundo lugar, objetivamente ofensiva, desnecessária e com um objetivo despropositado (de se limitar a lançar na pessoa da Srª Magistrada que iria julgar esse processo o descrédito sobre os aqui recorrentes), e tendo sido até qualificada como uma "vilania" (neste sentido, os depoimentos do Dr. M..., testemunha dos recorrentes, e do Dr. J..., testemunha do recorrido).

- Mais se provou que as afirmações que o recorrido entendeu utilizar na peça processual que elaborou e que subscreveu em sua defesa no processo que lhe moveram os recorrentes causou a estes, que são pessoas de idade respeitável e sérias e honradas, em termos gerais, ofensa, indignação e revolta, que ainda hoje se mantêm, e, em termos particulares: um agravamento no caso do

recorrente marido por ser um honrado médico de profissão cujo nome foi aviltado por uma acusação inverídica e infame - que ia contra os seus

princípios - de que medicava a sua mulher para se servir e aproveitar do seu património; e um agravamento no caso da recorrente mulher, por ter amizade e estima pelo seu marido, que viu acusado de uma forma vil por uma coisa que não fez, transformando-a e dando da sua pessoa a imagem de uma drogada e uma tonta ou débil mental (neste sentido, o depoimento de parte do

recorrente; o depoimento de parte da recorrente; o testemunho do Dr. A...; o testemunho do Dr. M...).

- Face ao que ficou provado, a decisão recorrida deveria ter retirado - o que não fez - as seguintes consequências: uma resposta positiva ao 1º tema da prova, no sentido da inverdade das afirmações imputadas aos cunhados dos AA., vertida pelo R. e agora recorrido no ponto 13º da contestação

apresentada noutra ação judicial; uma resposta positiva ao 2º tema da prova, no sentido da intenção ofensiva da afirmação utilizada pelo recorrido; uma resposta positiva ao tema da prova 2º-A, no sentido da desnecessidade da afirmação em causa; e uma resposta positiva aos 3º, 4º e 5º temas da prova, relativos às consequências para os recorrentes retiradas das afirmações elaboradas e subscritas pelo recorrido.

- Ao considerar como a "única explicação coerente e verosímil" uma versão pessoal e forçada que retirou de factos não provados em julgamento - como as afirmações que o recorrido levou ao art. 13º da sua contestação em ação

anterior de cobrança de dívida, alegadamente proferidas pelos cunhados, mas

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que, afinal, nunca tiveram lugar - para justificar o que deu como provado não ter acontecido, a sentença recorrida é nula, uma vez que os seus fundamentos estão em oposição com a decisão, além de que a Srª Juiz a quo deixou de

pronunciar-se sobre questões que deveria ter apreciado, tal como conheceu de questões de que não poderia tomar conhecimento, nos termos do art. 615º, nº1 c) e d), do CPC.

- Acresce que a decisão recorrida, ao justificar aquilo que era injustificável, por não encontrar prova em seu apoio na audiência de julgamento, com o objetivo de negar resposta ao ponto 1º dos temas de prova, com interesse nuclear para a boa decisão da causa, deixou de resolver todas as questões que os recorrentes submeteram à apreciação judicial, pelo que ofendeu o regime enunciado no art. 608º, nº2, do CPC; do mesmo modo que colocou

irremediavelmente em crise o princípio da plenitude da prova, referido no art.

413º do CPC, face ao qual o tribunal deveria ter tomado em consideração todas as provas produzidas ou a produzir em audiência, o que só não fez para evitar dar uma solução forçada e diferente ao caso dos autos.

- O segmento material com relevo jurídico para a decisão - a questão do direito ao bom nome, à honra e à reputação pessoal - exigia uma ponderação e um rigor interpretativo que a decisão recorrida não logrou alcançar, revelando enorme deficiência na sua construção dogmática, ao mesmo tempo que

ignorou, menosprezou e ofendeu o regime constitucional e civilístico aplicável.

- Colocou em causa o regime de tutela e garantia dos direitos de personalidade que o art. 26º, nº1, da CRP enuncia, em termos de

reconhecimento do direito ao bom nome e enquanto expressão direta do postulado básico da dignidade humana, que o art. 1º da Lei Fundamental anuncia, ao estabelecer a base, os alicerces e os valores da República, no caso violados.

- Interpretou erradamente a norma do art. 26º, nº2, da CRP, que estabelece limites ao exercício do direito de expressão e de livre divulgação do

pensamento, ao negar as garantias efetivas e necessárias contra a utilização abusiva, e contrária à dignidade humana, de informações relativas às pessoas, como as que o recorrido utilizou.

- Correspondentemente negou a força jurídica específica e a proteção judicial adequada que é conferida aos direitos de personalidade pelos arts. 18º, nº1, e 20º, nº 5, da CRP, no caso também violados.

- Ofendeu e ignorou o regime do art. 70º do CC e o modo como aí é conferida a proteção geral dos direitos de personalidade, ao deixar de considerar como antijurídica a conduta suscetível de lesar o direito ao bom nome das pessoas e dos recorrentes em particular, pouco importando que o facto afirmado ou divulgado fosse ou não verdadeiro (ac. STJ, de 16.4.1991, BMJ, nº 406º, p.

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623).

- Colocou em evidência o direito e a liberdade de expressão do recorrido, mas retirou evidência ao facto de entre esse direito e o direito dos recorrentes haver um limite inultrapassável, quer porque a expressão, mesmo de facto verdadeiro, se injustificada, pode ser passível de sanção legal, uma vez que a informação deve pautar-se por regras éticas e deontológicas rigorosas,

adequadas a uma natural convivência cívica, no caso não verificada (ac. STJ, de 27.5.1997, CJ/STJ, 1997, 2º, p. 102), quer porque se o 'direito de crítica social' for ultrapassado, como foi o caso, concorrem os pressupostos do direito a ser indemnizado (ac. STJ, de 27.5.1999, CJ/STJ, 1999, 2º, p. 122).

- Deixou de fazer a necessária ponderação que o caso exigia, para encontrar a solução concreta do conflito, ao não atribuir relevância à distinção entre a discussão/argumentação em sentido próprio, por um lado, e a mera ofensa pessoal desnecessária, inadequada ou desproporcional às exigências da defesa do recorrido, por outro lado.

- Consequentemente menosprezou o regime dos arts. 37º, nº4, da lei

fundamental, que trata da liberdade de expressão e informação e refere que a todas as pessoas é assegurado o direito a indemnização pelos prejuízos

sofridos, e 484º da lei civil, que por sua vez cuida da ofensa do crédito ou do bom nome e exige que quem afirmar ou difundir um facto capaz de prejudicar o bom nome de qualquer pessoa responde pelos danos causados.

- Por fim, não soube interpretar de forma jurídica adequada e com isso colocou a decisão recorrida seriamente em crise o regime da responsabilidade civil por facto ilícito consagrado no art. 483º do CC, já que se conclui estarem no caso concreto inequivocamente preenchidos todos os seus pressupostos: o facto, a ilicitude, a imputação do facto ao lesante, o dano e um nexo de causalidade entre o facto e o dano:

- O facto - o elemento básico da responsabilidade assenta no facto do agente, um facto dominável ou controlável pela vontade, um comportamento ou uma forma de conduta humana, traduzido no caso vertente num comportamento evidenciado por escrito, elaborado por um advogado com experiência

profissional, que usa como armas a sua capacidade de se exprimir e de se defender, e que o faz com o tempo próprio que é conferido para a elaboração de uma contestação (30 dias a contar da citação - art. 569º, nº1, do CPC), no silêncio do seu gabinete, com o espaço temporal necessário e adequado para refletir e ponderar todas as consequências dos seus atos.

- A ilicitude - no caso concreto, consiste na violação do direito de outrem, ou seja, na infração de um direito subjetivo, situado na área dos direitos de personalidade, como tal garantidos em diferentes planos do tecido jurídico- normativo: nos arts. 26º da CRP e 70º do CC, entre outros; no caso concreto a

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ilicitude traduz-se na ofensa aos direitos de personalidade, pois decisiva é a ofensa em si mesmo, não sendo necessária a culpa nem a intenção de

prejudicar o ofendido.

- Também releva o facto de a expressão utilizada possuir potencialidade

ofensiva merecedora da tutela do direito, uma vez que ultrapassa largamente a liberdade de expressão ou o direito de crítica social, que devem ser

exercidos de modo cívico, atentando de modo objetivo contra o bom nome, reputação e integridade moral dos destinatários - daí que a ilicitude não careça neste caso de prova, já que se traduz num juízo de valor emitido pela lei sobre o facto.

- E mesmo que, por hipótese, o caso convocasse um conflito entre o direito ao bom nome e o direito à liberdade de expressão, na ponderação em concreto da solução a dar a esse conflito, não se poderia deixar também de atribuir

relevância à distinção entre a mera discussão, no sentido de crítica, por um lado, e a mera ofensa pessoal desnecessária, inadequada ou desproporcional às exigências da argumentação e à natureza específica do litígio que então opunha os recorrentes ao recorrido, por outro lado.

- Acresce que a ilicitude no caso concreto, ou seja, o comportamento

antijurídico evidenciado pelo recorrido, reveste ainda a forma de abuso do direito, na medida em que traduz o exercício de um direito em termos

reprovados pela lei e, por isso, considerado ilegítimo, à luz do que estabelece o 334º do CC.

- A culpa - não implica apenas que o agente tenha agido objetivamente mal: é preciso que a violação ilícita ou o exercício abusivo do direito tenham sido praticados com dolo ou culpa, o que significa atuar em termos de a conduta do agente merecer a reprovação ou a censura do direito; no caso dos autos o lesante, pelos seus conhecimentos e capacidade e em face das circunstâncias concretas da situação, que traduzia uma resposta a uma simples ação de cobrança de dívida, podia e devia ter agido de modo diferente, sem utilizar expressões como a que fez constar do seu articulado, que sabia servirem apenas para atingir o bom nome dos visados, além de que se provou em julgamento nunca terem existido.

- O dano - aponta para o prejuízo não patrimonial sofrido pelos recorrentes, que corresponde a factos suficiente- mente graves para merecerem a tutela do direito que, aliás, encontra expressa previsão nos arts. 37º, nº 4, da CRP e 484º do CC, quanto ao dever de indemnizar, o qual deve seguir o regime de fixação por equidade a que aludem os arts. 496º, nº1 e 2, e 494º do CC,

devendo ser tidos em conta, entre os critérios aí fixados, a idade avançada dos recorrentes, o seu percurso profissional e condição social e as condições

concretas em que surgiu a afirmação ofensiva, que para si traduziu uma

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mágoa maior, como pura retaliação a um pedido de empréstimo que generosamente fizeram a quem de si precisou em certa altura da vida.

- O nexo de causalidade - aqui traduzido na relação de causa-efeito, ou na relação de causalidade adequada entre o facto descrito e imputável ao recorrido, praticado de forma ilícita e culposa e gerador dos danos mencionados e dados como provados no caso concreto dos autos.

- Tudo considerado, torna-se exigente a revogação da decisão impugnada e a sua substituição por decisão de condenação do recorrido no pedido, nos precisos termos em que o mesmo foi formulado pelos recorrentes.

Não foram apresentadas contra-alegações.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

2. Em 1ª instância, foi dada como provada a seguinte matéria factual : 1- Em 7/4/2014, o A. S... propôs contra o R. J... acção declarativa de condenação, pedindo a condenação do R. no pagamento da quantia de € 20.500, acrescida de juros, invocando como causa de pedir o empréstimo de tal quantia ao R. com interpelação do mesmo para a respectiva devolução em 13/12/2012.

2- A acção judicial indicada em 1) foi distribuída com o nº proc. …/… e correu termos no 6° Juízo Cível da comarca de Lisboa (actual Juiz 24 do Juízo Local Cível de Lisboa).

3- Na indicada acção judicial, o R., actuando na qualidade de advogado em causa própria, apresentou contestação, na qual, além do mais, verteu os seguintes dizeres:

"1° O Réu era, efectivamente, amigo do Autor, existindo uma relação de conhecimento e de muita amizade de quase cinquenta anos.

2° Todos os restantes factos constantes do articulado do Autor não

correspondem, de forma alguma, à realidade dos factos tal como ocorreram, ou encontram-se tendencialmente deturpados, o que lhes retira toda a

possibilidade de relevarem em termos de consequências jurídicas, razão pela qual os impugna.

3° Sucedeu que em finais do ano de 2008, o Autor procurou o Réu, tendo-lhe pedido para ter uma reunião no seu escritório.

4° Nessa reunião, o Autor referiu ao Réu que a sua mulher, Srª R..., tinha extenso contencioso com a sua família (mãe e irmãos).

5º Mais referiu que ambos se encontravam descontentes com o trabalho do advogado que tinham contratado para tratar desse contencioso.

6º Tendo solicitado que o Réu passasse a tratar dos assuntos forenses da referida sua mulher, o que este acedeu.

7º No seguimento desse pedido, o Réu contactou o mencionado causídico, Sr.

Dr. M..., com domicílio profissional na Chamusca e em Abrantes, tendo com

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ele combinado a transmissão dos substabelecimentos dos mandatos para as acções que estavam a correr e entrega física dos dossiers que tinha em mãos.

8º Cumpre dizer que os dossiers e os assuntos a eles correspondentes eram para cima de uma dezena e reflectiam um enorme e difícil contencioso contra a família da mulher do Autor (contencioso cível e criminal), contra uma

magistrada judicial deste mesmo Tribunal Cível de Lisboa (contencioso criminal), que tinha julgado improcedente uma acção intentada pela mulher do Réu contra a sua família (mãe e irmãos), contra a conservadora do registo predial, Sr. Drª M..., que tinha efectuado um registo que não foi do agrado do Autor, e contra o mandatário, Sr. Dr. N..., da família da sua mulher, etc.

9º O Réu iniciou então a gestão de todo esse longo contencioso, tendo passado a ter com o Autor reuniões semanais que duravam, invariavelmente, manhãs inteiras ou tardes inteira, conforme o encontro fosse de manhã ou de tarde.

10º Participou o Réu em dezenas de diligências judiciais em defesa dos interesses da mulher do Autor, sempre a pedido dos dois e no seu interesse, posto que o Autor punha muito empenho em resolver esses diferendos.

11º Minutou e entregou dezenas de peças processuais.

12º Preparou e entregou novas acções.

13º Chegou ao ponto de quase ter de defender o Autor em situações que este se encontrava em tribunal com os cunhados e estes o insultavam e acusavam de medicar a sua mulher com medicamentos que só podem ser fornecidos mediante receitas médicas especiais, mantendo-a num estado pouco usual.

Como descrito no art. 7º do D.L. 209/94, de 6 de Agosto: São medicamentos sujeitos a receita médica especial os que preencham uma das seguintes condições:

a) Contenham, em dose não dispensada de receita, uma substância

classificada como estupefaciente ou psicotrópico, nos termos do Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de Janeiro;

b) Possam, em caso de utilização anormal, dar origem a riscos importantes de abuso medicamentoso, criar toxicodependência ou ser utilizados para fins ilegais;

c) Contenham uma substância que, pela sua novidade ou propriedades, se considere, por precaução, incluída nas situações previstas na alínea anterior.

14º Chegou mesmo a existir uma situação em que só não houve confronto físico porquanto o Réu e o mandatário da outra parte impediram que tal ocorresse.

15º O Réu teve ainda de gerir o contencioso entre o Autor, a sua mulher e o anterior mandatário, Sr. Dr. M..., a quem aqueles ficaram a dever uma larga maquia a título de honorários e despesas.

16º Para além disso, o Réu foi, ainda, mandatário do Autor em várias acções

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relativas a fornecedores de serviços e a um vizinho do Autor (...)".

4- A A. tem acompanhamento psiquiátrico desde 1961.

5- Desde 1979 a A. toma, entre outros, os seguintes medicamentos: morfex, trazodona e rohypnol.

6- Trazodona ou cloridrato de trazodona é um composto de medicamento pertecente ao grupo farmacoterapeutico: 2.9.3 Sistema nervoso central.

psicofármacos. antidrepessores, indicado para o tratamento da depressão.

Não existem evidências de que o cloridrato de trazodona possua qualquer propriedade aditiva.

7- Rohypnol é composto pela substância activa flunitrazepam constante da lista das benzodiazepinas que são uma classe de fármacos psicotrópicos potenciadores o efeito do neurotransmissor ácidogama-aminobutírico (GABA) no recetor GABAA, o que resulta em propriedades sedativas, hipnóticas

(indutoras de sono), ansiolíticas (diminuição da ansiedade), anticonvulsantes e de relaxamento muscular. No entanto, doses elevadas de muitas

benzodiazepinas de curta duração podem também causar amnésia retrógrada e dissociação. Estas propriedades levam a que as benzodiazepinas sejam usadas no tratamento de ansiedade, insónias, agitação, ataques epilépticos, espasmos musculares, privação de álcool e como pré-medicação para

intervenções médicas ou dentárias. As benzodiazepinas são classificadas como de curta, média ou longa duração. As benzodiazepinas de curta e média

duração são preferenciais no tratamento de insónias, enquanto as de longa duração são recomendadas no tratamento de ansiedade. As benzodiazepinas causam dependência física e síndrome de privação.

8- Em 7/4/2017, o vogal do Conselho Directivo da Administração Central do Sistema de Saúde IP, apôs a sua assinatura electrónica na informação de fls.

247 da qual constam, entre outros, os seguintes dizeres: “(...) existem duas receitas médicas especiais passadas pelo Senhor Dr. S... (…) à Senhora Dª R...

(...) e com o número de utente 370753774, em todo o período de vigência do Centro de Conferência de Faturas do Serviço Nacional de Saúde.

Esclarece-se, adicionalmente, que o Centro de Conferência de Facturas iniciou a sua actividade em 1 de Março de 2010, conferindo todo o receituário médico do mês anterior (fevereiro 2010) (...)."

9- Com data de 20/3/2017, o Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos emitiu declaração, da qual constam os seguintes dizeres: “Para os devidos efeitos e a pedido do Dr. S..., portador da cédula profissional nº 8076, se declara que não há registo de que tenha solicitado a esta Ordem dos Médicos receitas sujeitas a prescrição médica, nomeadamente, estupefacientes ou substâncias psicotrópicas".

10- Em data não concretamente apurada, foi preenchida receita médica

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especial para as tabelas I, lI-B, II-C e IV (art. 86° do DR 61/94 de 12/10) do art.

15º do DL 15/93 de 22/1, constando do campo destinado ao utente o nome

"R...", utente nº 370753774 e do campo destinado à identificação do médico o nome "S...", contendo tal receita vinheta do Dr. S... com o nº de cédula 08076.

11- A receita médica indicada em 10) foi utilizada para a venda à A. de 4 embalagens de comprimidos Rohypnol 1 mg x 10, em 10/3/2010.

12- Em data não concretamente apurada, foi preenchida receita médica

especial para as tabelas I, lI-B, II-C e IV (art. 86° do DR 61/94 de 12/10) do art.

15° do DL 15/93 de 22/1, constando do campo destinado ao utente o nome

"R...", utente nº 370753774 e do campo destinado à identificação do médico o nome "S...", contendo tal receita vinheta do Dr. S..., com o nº de cédula 08076.

13- A receita médica indicada em 12) foi utilizada para a venda à A. de 4 embalagens de comprimidos Rohypnol 1 mg x 10, em 11/5/2010.

14- O A. não disse ao R. que medicava a mulher, nem qual a medicação que a A. tomava.

15- Os cunhados do A. acusaram-no de medicar a mulher com medicamentos sujeitos a receita especial, man- tendo-a num estado pouco usual.

16- Com a alegação contida no art. 13° da contestação apresentada no proc.

391/14.6YXLSB, o R. pretendeu retirar credibilidade ao pedido formulado pelo A. e naquela acção judicial.

17- O A. foi médico da Academia Militar durante mais de 30 anos, tendo duas especializações na área da medicina: estomatologia e cirurgia maxilo-facial e à data da propositura da acção …/… estava reformado.

3. Nos termos dos arts. 635º, nº4, e 639º, nº1, do C.P.Civil, o objecto do recurso acha-se delimitado pelas conclusões do recorrente.

A questão a decidir centra-se, assim, na apreciação da alegada ilicitude da actuação imputada ao R., ora apelado.

Impugnam os AA., ora apelantes, a matéria de facto fixada na decisão recorrida, relativamente aos pontos 1°, 2º, 2º-A, 3º, 4º e 5º, dos temas da prova.

Dispõe o art. 640º, nº1, do citado Código que, ao impugnar a matéria de facto, deve o recorrente especificar, sob pena de rejeição, para além dos concretos pontos de facto considerados incorrectamente julgados e concretos meios probatórios que imporiam decisão diversa da recorrida, a decisão que, no seu entender, deveria ser proferida sobre a matéria impugnada.

No caso, e sendo que o tribunal recorrido, não formulando qualquer pergunta concreta, procedeu à fixação dos temas de prova através da mera enunciação das matérias sobre que deveria incidir a prova a produzir, limitaram-se os apelantes a sustentar deverem tais temas merecer respostas positivas - sem, todavia, suficientemente precisar os termos em que tais respostas se haveriam

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de ter traduzido.

Considerando-se não haver sido dada observância ao aludido comando legal, se decide, pois, rejeitar a impugnação deduzida - mantendo-se,

consequentemente, inalterada a matéria de facto em que se fundou a sentença recorrida.

Perante a factualidade assente, entende-se não se acharem verificados os pressupostos da responsabilidade imputada ao apelado.

Desde logo, haverá que questionar a invocada ilicitude da conduta respectiva - traduzida na mera reprodução, em sede de contestação de acção judicial, de afirmação, produzida por terceiros, alegadamente lesiva do bom nome dos ali demandantes.

Com efeito, “as meras afirmações produzidas em articulados de acção judicial, confinada que se encontra ao tribunal onde pende, por norma só apreensíveis e conhecidas dos advogados e magistrados intervenientes, não são objecto de difusão, não gozam de publicidade exterior, não violam, só por si, o crédito ou bom nome do destinatário a título de dolo ou de mera culpa” (ac. STJ, de 30/4/2003, SJ200304300009172).

Sendo que, no caso, ainda que devesse ter-se por ilícita, se não vislumbra - tanto mais quanto se não mostra sequer alegada a publicidade da suposta ofensa - daquela hajam decorrido quaisquer danos, susceptíveis de justificar a reparação pretendida.

Assim sendo, e conforme decidido, forçoso se torna concluir pela total improcedência do pedido formulado na acção.

4. Pelo acima exposto, se acorda em negar provimento ao recurso, confirmando-se, em consequência, a decisão recorrida.

Custas pelos apelantes.

13.9.2018

Ferreira de Almeida – relator

Alexandrina Branquinho - 1ª adjunta

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