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A relevância do critério da celeridade nos juizados especiais cíveis e criminais

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC

FACULDADE DE DIREITO

FRANCISCO ÉSQUILO MOURÃO LIMA FONTES

A RELEVÂNCIA DO CRITÉRIO DA CELERIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

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1 FRANCISCO ÉSQUILO MOURÃO LIMA FONTES

A RELEVÂNCIA DO CRITÉRIO DA CELERIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

Monografia apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em direito.

Orientador: Profa. Ms. Janaina Soares Noleto Castelo Branco

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2 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

F682r Fontes, Francisco Ésquilo Mourão Lima.

A relevância do critério da celeridade nos juizados especiais cíveis e criminais / Francisco Ésquilo Mourão Lima Fontes. – 2014.

54 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2014.

Área de Concentração: Direito Processual Civil.

Orientação: Prof. Me. Janaína Soares Noleto Castelo Branco.

1. Juizados especiais civis - Brasil. 2. Acesso à justiça. 3. Juizados especiais criminais - Brasil. 4. Celeridade (Direito). I. Castelo Branco, Janaína Soares Noleto (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

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3 FRANCISCO ÉSQUILO MOURÃO LIMA FONTES

A RELEVÂNCIA DO CRITÉRIO DA CELERIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

Monografia apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em direito.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ Professora Janaína Soares Noleto Castelo Branco (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará - UFC

___________________________________ Julianne Melo do Santos (Mestranda) Universidade Federal do Ceará - UFC

____________________________________________ Williana Ratsunne da Silva Shirasu (Mestranda)

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4 Aos meus pais, Maria Ester Mourão L Fontes e Juvenal Ferreira Fontes.

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5 "Justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada"

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6 RESUMO

Este trabalho busca demonstrar a relevância do Critério da Celeridade na tramitação dos feitos da competência dos Juizados Especiais, ressaltando a evolução histórica destes e os meios utilizados a fim de oferecer ao jurisdicionado tal rapidez. Através de um rascunho sobre a história dos juizados especiais – tanto no Brasil como no mundo, relatando algumas experiências alienígenas – tenta-se demonstrar as alternativas encontradas para lidar com as causas rotuladas como simples bem, como a intenção de que tal lida seja célere. Também com o intuito de demonstrar a relevância do critério da celeridade para os Juizados Especiais, faz-se uma análifaz-se dos critérios (celeridade, oralidade, informalidade e economia processual) e o quanto estes findam por otimizar aquele que é o título desta monografia, o qual é alvo de uma especial ênfase. Esta monografia faz um estudo sobre o critério da celeridade evidenciando-o não apenas como o mais importante do conjunto essência da própria justiça especial – mas como sendo a variável em função da qual os demais foram escolhidos e atuam. Por fim, este trabalho de conclusão de curso evidencia o caráter constitucional do critério da celeridade e da razoável duração do processo.

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7 ABSTRACT

This work aims to demonstrate the relevance of the Criterion Celerity made in dealing with the jurisdiction of the Special Courts , emphasizing the historical development of these and the means to offer the one so quickly . Through a sketch of the history of special courts - both in Brazil and in the world , reporting some alien experiences - is an attempt to demonstrate the alternatives found to deal with the causes labeled as plain as well as the intention that such deals be prompt . Also in order to demonstrate the relevance of the criterion of promptness for Special Courts , it is an analysis of the criteria ( speed , orality , informality and procedural economy ) and as such they cease to optimize one that is the title of this monograph , which is given special emphasis. This monograph is a study on the criterion of promptness showing him not only as the most important of the whole essence of the special justice itself - but as the variable according to which the others were chosen and act . Finally , this work of completion demonstrates the constitutional character of the criterion of promptness and reasonable duration of the process.

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8 SUMÁRIO

I– INTRODUÇÃO...09

II – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS 2.1. Evolução Histórica no Mundo... .... ... ... ... ... ... ... 10

2.2. Evolução Histórica no Brasil... ... ... .. ... .... .... ... ... 13

III – OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS. 3.1. Conceito de Juizados Especiais... ... ... ... .... .... ... ... 21

3.1.1. Os Juizados Especiais Cíveis... ... ... ... .... .... ... ... 23

3.1.2. Os Juizados Especiais Criminais.... ... ... ... ... ... ... ... 26

3.2. O Fórum Nacional de Juizados Especiais – FONAJE... ... .... .... .... .... ... 29

IV – OS CRITÉRIOS QUE REGEM OS JUIZADOS ESPECIAIS 4.1. Princípio ou Critério... ... ... ... ... ... ... ... 31

4.2. A Celeridade... ... ... ... ... ... ... ... 33

4.3. Oralidade... ... ... ... ... ... ... ... ... 37

4.4. Simplicidade... ... ... ... ... ... ... ... 38

4.5. Informalidade... ... ... ... ... ... ... ... 38

4.6. Economia Processual... ... ... ... ... ... ... ... ... 39

V – A CELERIDADE NA SEARA CONSTITUCIONAL 5.1. A Frustração da Demora. ... ... ... ... ... 45

5.2. O Reconhecimento do caráter desumano da demora... ... ... ... 46

5.3. A elevação da razoável duração do processo para um patamar constitucional... 47

5.4. Colisão com Princípios... ... ... ... ... ... ... ... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS... ... ... ... ... ...52

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9 INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso (monografia), intitulado A RELEVÂNCIA DO CRITÉRIO DA CELERIDADE NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS, tem por objetivo discorrer sobre os Juizados Especiais, seus Critérios, com ênfase ao Critério da Celeridade.

Atuando como Oficial de Justiça na comarca de Maracanaú, mais precisamente no Juizado Especial Cível e Criminal ali instalado, há mais dez anos, em muitos momentos – em conversas com jurisdicionados – pude ouvir suas queixas sobre o tempo de tramitação de seus processos. As reclamações geralmente eram uníssonas: se é um Juizado Especial, porque demora tanto.

Daí a indagação: será que – em Maracanaú, uma das cidades que compõem a região metropolitana de Fortaleza – o Juizado Especial tem conseguido lograr êxito em sua missão de levar uma justiça célere aos jurisdiconados? Será que de fato há uma morosidade, mesmo nos órgãos criados para combatê-la? Que mecanismos podem ou estão sendo usados para minimizar tal demora processual?

O estudo, pois, tem relevância no fato de se dispor a estudar se o critério maior da legislação dos Juizados Especiais, sua razão maior de ser, aquilo que justificou a criação de um aparelho judiciário em apartado da “Justiça Comum”, a Celeridade.

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10 II - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS

O capítulo segundo trará uma abordagem histórica dos Juizados Especiais demonstrando sua evolução tanto no Brasil quanto no mundo, sendo dada uma atenção especial ao processo legislativo das leis do Juizado de Pequenas Causas e da Lei dos Juizados Especiais.

2.1. Evolução Histórica no Mundo.

Ao homem comum não interessa participar de longas demandas judiciais, principalmente quando a causa em questão é de baixo valor. Assim, é antigo o anseio da sociedade por uma forma de se fazer justiça de forma rápida, principalmente quando o

quantum em questão é irrisório. Também antigo é o entendimento de que é preferível um

acordo amigável entre as partes à imposição de uma sentença.

Aponta-se como sendo o embrião dos Juizados de Pequenas Causas a criação, em 1934, da “Small Claims Court”, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Aquela corte tinha a

competência de julgar causas inferiores ao valor de cinquenta dólares.

Sobre esse tema, Jorge Tosta, (2010, p.26) leciona:

Esses Juizados (JEP) tiveram por modelo a Small Calims Court de Nova Iorque e a experiência brasileira dos Conselhos de Conciliação e Arbitragem no Estado do Rio Grande do Sul e dos Juizados Informais de Conciliação (JIC) do Estado de São Paulo, ambos sem caráter jurisdicional, por não haver julgamento na hipótese de frustrada a composição e, portanto, sem rigidez na competência em razão da matéria, por buscar-se fundamentalmente, a conciliação e a transação.

Tal órgão judiciário foi criado naquele momento específico da história dos americanos por um motivo emergencial: a Grande Depressão de Vinte e Nove – a quebra da bolsa de Nova Iorque.

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11 A crise explodiu em 24 de outubro, a quinta-feira negra, quando uma grande venda de ações não encontrou compradores, fazendo os preços desabarem. Os investidores, aterrorizados, tentaram livrar-se dos papéis, originando uma avalanche de ofertas de ações, que derrubaram ainda mais velozmente os preços, arruinando a todos.

Do dia para a noite, prósperos empresários passaram a meros possuidores de papéis sem nenhum valor, levando mais de um dezena deles a cometer suicídio. A desordem econômica atingiu profundamente a sociedade norte-americana: 85 mil empresas faliram, 4 mil bancos fecharam e as demissões de trabalhadores alcançaram um total aproximado de 12 milhões, disseminando a fome.

A crise de 1929 abalou todo o mundo, com exceção da União Soviética, fechada em si mesma e onde estavam sendo aplicados os planos qüinqüenais, sob o governo de Josef Stálin. A difusão da crise contou dois elementos básicos: a redução das importações norte-americanas, afetando duramente os países que dependiam de seu mercado (o café brasileiro é um exemplo), e o repatriamento de capitais norte-americanos investidos em outros países.

Diante de um evento capaz de repercussões econômicas negativas em escala global, prejuízos astronômicos, falências, crescimento exponencial do desemprego o governo se viu diante da necessidade de traçar um plano de recuperação da economia e de uma forma emergencial de prestar assistência social a uma população paupérrima. Era o Neal Deal, do

presidente Franklin Delano Roosevelt.

Diante da primeira grande crise global do capitalismo, as Small Claims Court

surgiram com o objetivo de solucionar conflitos de uma sociedade destroçada por um revés econômico visando atender os indivíduos de baixo e médio poder aquisitivo.

Seu propósito maior é oferecer fácil acesso à justiça e celeridade. Também aqui existe incentivo para que, já na primeira audiência, as partes cheguem a uma composição amigável, a competência é firmada pelo baixo valor da causa e há a dispensa da figura do advogado.

Diversos países buscaram formas de oferecer uma resposta ao anseio acima transcrito. Alguns, inclusive, trazem traços muito semelhantes aos modernos Juizados Especiais Cíveis e Criminais que hodiernamente atuam no Brasil.

Na Itália, já na década de setenta, havia os Conciliatori. Trata-se de uma corte que

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12 conciliação na primeira audiência, da dispensa de advogado e têm sua competência fixada em razão do valor baixo da causa ou da matéria.

Sobre o tema, temos:

Na Itália, dentro da organização funcional das Cortes, funcionam as Pretorias (Preture) e os Conciliadores (Conciliatori). As primeiras são Tribunais de ordem, em que o Pretor exerce jurisdição; já os Conciliadores são magistrados que judicam em causas de menor expressão. As principais características do procedimento perante estas Cortes são: existência de um Juiz singular; menores prazos processuais; maiores poderes ao magistrado, que pode empreender diversas diligências probatórias e indicar às partes as irregularidades o pedido; e desnecessidade de advogado. A competência é determinada em função do valor a causa ou da matéria. As questões trabalhistas e previdenciárias são de competência exclusiva dos Pretores. Em relação ao valor, os Conciliadores cuidam das causas de até 50.000 (cinqüenta mil) libras, enquanto os Pretores atuam nas causas de até 750.000 (setecentos e cinqüenta mil) libras. Os Conciliadores são obrigados a promover a tentativa conciliação na primeira audiência. Vigoram os princípios da oralidade, concentração, imediatidade e gratuidade. (LAGRASTA NETO, 1985, p. 65)

A Alemanha, em termos gerais, há uma divisão da justiça comum em função do valor da causa. Em valores inferiores a quantia de DM 3.000,00 (US$ 1.300,00) a competência da causa fica com a Amtsgericht (Corte Local), que faculta a assistência de

advogado. Isso facilita o acesso à justiça naquela nação.

Naquela nação, há ainda o Stuttgater Modell (Modelo de Stuttgard), que consiste na

manutenção de um diálogo franco e objetivo entre todos os envolvidos na causa: litigantes, advogados e juízes. Isso gera sentenças rápidas e compreensíveis para as partes.

Sobre a experiência germânica:

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13 uma lei que simplificou e acelerou os procedimentos judiciais. Entre as inovações, está a necessidade de conclusão do julgamento numa única audiência. Assim, em média, 75% dos julgamentos perante tribunais que adotam tal modelo terminam em seis meses, além de permitir aos litigantes, advogados e Juiz um maior diálogo, aumentando, desse modo, as chances de uma solução amigável à lide. (LAGRASTA NETO, 1985, p. 65)

A Inglaterra faz uso de Juizados Especiais oficiais e não oficiais.

Aquele possui competência firmada em razão do baixo valor da causa, dispensa de assistência de advogado e uso da informalidade. Já os não oficiais são consensuais, o julgador é um advogado – o que lembra a figura do juiz leigo na legislação brasileira – e há gratuidade do processo, salvo uma pequena taxa inicial.

Acerca do modelo inglês:

Na Inglaterra, há um juizado de pequenas causas oficial, que faz parte das cortes inglesas, e um juizado não-oficial. O primeiro tem competência limitada em razão do valor da causa (100 libras), além de permitir a escolha entre um Juiz ou árbitro; a representação por advogado ser facultativa; incentivar a conciliação; e fornecer a possibilidade de recorrer ao auxílio de um perito durante a fase probatória do processo. O juizado não-oficial é consensual; tem possibilidade de apreciação de causas superiores a 100 libras; não há pagamento de custas, as somente de uma pequena taxa inicial; o procedimento é muito simples; o julgador, geralmente um advogado, não é remunerado; e é vedada a representação por advogado. (LAGRASTA NETO, 1985, p. 65)

Passemos a narrar evolução histórica dos Juizados Especiais no Brasil, dando ênfase à gênese dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, partindo dos primórdios da gestação da lei que os rege, a Lei 9.099/95.

2.2. Evolução Histórica no Brasil.

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14 dispunha sobre a criação e o funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas, revogado pela Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, que criou os Juizados Especiais, esvaziando a competência do antigo órgão.

A Lei 7.244/84 tinha por objetivo principal, seguindo uma tendência mundial daquela época, ampliar o acesso à justiça e oferecer ao cidadão comum uma justiça ágil e de baixo custo, capaz de dar respostas eficientes em pouco espaço de tempo sem que – para isso – houvesse a necessidade de se enfrentar um sem-número de obstáculos (contratação de advogados, custas cartoriais elevadas, burocracia).

Para que se entenda o motivo da criação dos Juizados de Pequenas Causas faz-se necessária uma retrospectiva histórica do cenário político e administrativo do país quando de sua criação e nos anos que a antecederam.

Em fins da década de 1970, o Governo Federal Brasileiro, preocupado com o mau desempenho do serviço público, que lhe rendia imenso descrédito, instituiu o chamado Programa Nacional de Desburocratização, através de um ministério próprio – o da Desburocratização.

O objetivo de tal plano, em suma, era tornar mais simples e – consequentemente – mais célere o atendimento ao cidadão que buscava os serviços públicos. E aqui se destaca uma inovação: a preocupação com o cidadão comum e sua visualização como usuário de um serviço.

À frente do referido ministério encontrava-se o advogado, economista e administrador Hélio Beltrão, que era defensor ferrenho do projeto de “desburocratização” estatal e que – através de seus discursos – incentivava o povo a lhe enviar cartas onde expusessem suas frustrações com o serviço público.

As missivas a ele destinadas lhe trouxeram não apenas reclamações contra os serviços prestados pelo Poder Executivo, mas também contra o Poder Judiciário, que – a princípio – encontrava-se fora do Programa Nacional de Desburocratização.

As queixas versavam sobre vários temas, mas que se resumiriam no excesso de burocracia no Judiciário, conforme relatado pelo ministro Hélio Beltrão:

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15 forma geral, para a solução de casos judiciais. O foco recaia, desta forma, na falta de acesso à prestação jurisdicional rápida, barata e eficaz. (BELTRÃO, 1984 apud CHASIN, 2007, p. 48)

O que ocorre – na prática – é que o homem comum não tem interesse em saber se a competência para a resolução de seu problema é deste ou daquele órgão público, deste ou daquele Poder. Sua preocupação está além da Tripartição de Poderes de Montesquieu, está no Utilitarismo, no Pragmatismo.

Nesse sentido:

Embora não faça parte, no primeiro momento, da empreitada

“desburocratizante” levada a cabo pelo Poder Executivo, o Judiciário foi aos

poucos sendo envolvido no Programa Nacional de Desburocratização, como resposta às demandas trazidas pelas cartas. Embora fosse dirigido apenas à administração pública, as reclamações envolviam assuntos diversos,

relacionados a todo tipo de “burocracia” de setores públicos percebida como

abusiva ou excessiva. Em artigo acerca da estruturação do juizado, o Secretário-Executivo do Programa Nacional de Desburocratização, João Geraldo Piquet Carneiro, relatou a inutilidade de se tentar esclarecer à opinião pública que sua competência legal se esgotava no combate ao excesso de burocracia na esfera do Executivo Federal: “para o homem

comum, o fenômeno burocracia é indivisível e todas as suas agruras burocráticas, venham de onde vierem, terminam sendo atribuídas

genericamente à ‘culpa do governo’ (CHASIN, 2007, p. 48)

A partir daí, o Governo Federal passou a buscar soluções plausíveis – inclusive inspiradas em respostas dadas ao problema por outras Nações, especialmente o modelo adotado nos Estados Unidos, que em muito influenciaram os Juizados de Pequenas Causas – a fim de oferecer fácil acesso a uma justiça célere e barata.

Com a criação de tal órgão o ministro Hélio Beltrão pretendia – além dos objetivos supracitados – tornar mais racional o funcionamento do Poder Judiciário, que teria, assim, sua imagem diante da opinião pública melhorada.

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16 Tal instituição possuía uma iniciativa de sucesso no tema: os Conselhos de Conciliação e Arbitragem em 1982. Tal conselho buscava soluções extrajudiciais para os conflitos que envolviam pequenas quantias e lidavam com direitos disponíveis.

Com a participação da AJURIS, ficou com o próprio Poder Judiciário – e não com o Executivo – a competência técnica de “rascunhar” o modelo a ser positivado, além de imprimir ao projeto a autoridade de ser elaborado em parceria com experientes operadores do direito que já possuíam uma experiência de êxito no tema.

De outro lado, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) era absolutamente contrária ao projeto, conforme esclarece Ana Carolina Chassini (2007, p.56):

No período decorrido do Anteprojeto de Lei do Juizado Especial de Pequenas Causas e a publicação da Lei 7.244, de 7 novembro de 1984, que

“dispõe sobre a criação e o funcionamento do Juizado Especial de Pequenas Causas”, o tema foi debatido publicamente. O leque havia sido ampliado e

em sua defesa se posicionavam todos os que haviam se envolvido nas discussões. Já do outro lado da disputa era ocupado pelas entidades representativas da advocacia, em especial a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A OAB alegava que – se essa nova realidade jurídica vingasse – o país estaria claramente admitindo a existência de “duas justiças”: uma para os ricos e outra para os pobres. Além do mais, questionava – diante da publicação do Anteprojeto de Lei do Juizado de Pequenas Causas – a qualidade da justiça que seria oferecida, dentre outras alegações.

Tais críticas não eram cabíveis.

Afirmar que haveria a criação compulsória de dois sistemas jurisdicionais, um para os mais aquinhoados e outro para os carentes é – no mínimo – manipular um texto legal ao invés de interpretá-lo.

O anteprojeto já era claro no sentido de que o ingresso na Justiça Comum não era vedado, uma vez que apresentar a Petição Inicial no Juizado de Pequenas Causas era uma faculdade e não uma competência exclusiva.

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17 Art. 3º - Consideram-se causas de reduzido valor econômico as que versem sobre direitos patrimoniais e decorram de pedido que, à data do ajuizamento, não exceda a 20 (vinte) vezes o salário mínimo vigente no País e tenha por objeto: (...)

§ 2º - A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.

Questionar a qualidade da justiça que seria oferecida ao jurisdicionado era outra falácia. Os juízes que presidiriam os Juizados de Pequenas Causas seriam os mesmos que já compunham os quadros da Justiça. Ora, se um magistrado é tecnicamente apto para responder – por exemplo – por uma vara única ou por uma vara da fazenda pública, por que não o seria para “causas de reduzido valor econômico’?

Havia – no entanto – um motivo não muito revelado da OAB para tamanha reação negativa. A lei dispensava a obrigatoriedade de se contratar advogado para litigar nos Juizados de Pequenas Causas, conforme seu texto, onde:

Art. 9º - As partes comparecerão sempre pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado.

§ 1º - Se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial de Pequenas Causas, na forma da lei local.

§ 2º - Se a causa apresentar questões complexas, o Juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado.

§ 3º - O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais.

§ 4º - O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado.

A reserva de mercado dos advogados parecia ameaçada por uma lei federal. Isso se traduziria em queda no número de clientes, perda de receita.

Com o advento da Constituição Federal em 1988 e diante dos bons resultados da Justiça das Pequenas Causas, esta passou a ter uma previsão constitucional que lhe ampliava a competência a confiar-lhe um ingresso para atuar na seara penal, conforme a Constituição Federal:

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18 I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

Tal criação deveria vir por meio de lei.

No ano de 1989, o Deputado Federal Michel Temer apresentou o Projeto de Lei n. 1.480-A, de 1.989, que versava sobre o julgamento e a execução de infrações penais de menor potencial ofensivo.

Tal dispositivo era resultado de um anteprojeto de lei fruto dos estudos e trabalhos de dois juízes paulistas, Pedro Luiz Ricardo Gagliardi e Marco Antônio Marques da Silva, que foi apresentado à Associação Paulista de Magistrados e estudado e aperfeiçoado por um grupo de notáveis juristas daquele estado. Em seguida, foi alvo de apreciação por parte de advogados, membros do ministério público, defensores públicos e outros operadores do direito. Isso concedeu ao texto um amadurecimento precoce e uma constituição tecnicamente robusta.

Durante sua tramitação no Congresso Nacional, outros projetos legislativos que tratavam do mesmo tema também buscavam aprovação naquela augusta casa. Dentre eles, um, apresentado pelo então Deputado Nelson Jobim, que continha, no mesmo texto, aspectos cíveis e criminais que viriam a ser da competência dos Juizados Especiais.

Ao chegarem à Comissão de Constituição e Justiça, os dois projetos foram unificados em um substitutivo que aproveitou o texto apresentado pelo Deputado Michel Temer – no tocante ao aspecto criminal – e o do Deputado Nelson Jobim, no que dizia respeito aos aspectos cíveis.

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19 Vale ressaltar uma breve polêmica advinda com a lei em comento, e que mais parece

um déjà vu do ocorrido quando da criação dos Juizados de Pequenas Causas, agora

aparentemente protegida por uma pretensa inconstitucionalidade.

Como a Lei 9.099/95 permite, em regra, a dispensa de advogado, algumas vertentes doutrinárias questionaram a constitucionalidade de tal dispositivo face ao artigo 133 da Constituição, in verbis: “O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo

inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

Tal entendimento, no entanto, não foi recepcionado pela doutrina de escol, que entende que o texto legal, ao determinar que, nas causas de até vinte salários mínimos, a parte poderá ser assistida por advogado, não traz uma obrigação, mas uma faculdade.

Além do mais, o próprio texto legal permite que limitações oriundas de leis ordinárias limitem o exercício da advocacia quando, no fim do artigo imprime os dizeres “nos limites da lei”.

De fato, em nenhum trecho o diploma legal em comento, a exemplo da legislação anterior, traz expressões proibitivas ao exercício da advocacia, apenas cria uma possibilidade de acesso direto à justiça quando das causas que tenham o valor aqui já citado e que – analisando de forma pragmática – é em muitos casos inferiores aos honorários de muitos patronos.

Uma vez criados, os Juizados Especiais precisavam de uma estrutura própria a fim de alcançarem um rendimento célere e eficiente. Assim, a fim de conceder material humano específico para tais órgãos, os estados procuraram adaptar seu aparelho judiciário à nova realidade.

Algumas unidades da federação, acertadamente, dotaram a Justiça Especial de servidores, equipamentos, instalações, etc. Outras, seja por questões financeiras, ou por falta de vontade política, simplesmente atribuíram as competências da nova lei a alguma vara já sobrecarregada.

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20 ficariam à disposição integral dos juízes titulares dos juizados. Destarte, poderiam contribuir deveras para o rápido andamento dos processos.

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21 III - OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

Neste capítulo discorreremos sobre a definição dada pela Constituição Federal de 1988 aos Juizados Especiais, analisando-a sob o enfoque histórico e sua interdependência com outros microssitemas.

3.1. CONCEITO DE JUIZADOS ESPECIAIS

Juizados Especiais Cíveis e Criminais são órgãos da justiça ordinária, criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência, tendo seus recursos julgados por turmas de juízes de primeiro grau, ou seja, um grupo de magistrados exclusivos para julgar seus recursos, o que oferece agilidade no proferir dos acórdãos.

A criação de um novo aparelho judiciário é algo de despende grande energia, envolve todo um processo legislativo, organização de concursos públicos para ingresso de novos servidores, promotores e magistrados, aquisição de equipamentos etc.

Daí podem-se questionar os motivos pelos quais o constituinte determinou, no artigo 98, inciso I, da Constituição Federal a criação de Juizados Especiais. Três são os pilares sobre os quais se assentam essa decisão.

Em primeiro lugar, pode-se citar a intenção de aliviar o peso carregado pela justiça comum e – no âmbito penal – reduzir o crescimento da população carcerária.

Era notório o entrave que as chamadas “causas de pequeno valor” geravam na justiça comum. Milhões de processos de pequena monta ou pequeno potencial ofensivo que abarrotavam as prateleiras das secretarias de vara foram transferidos para a competência da justiça especial.

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22 O judiciário comum, que teve sua competência reduzida, deixa de atuar em uma infinidade de causas pequenas, ganhando assim, mais espaço para as demais, que por si só já geram uma demanda muito superior a sua possibilidade de atendimento.

Aproximar a Justiça do cidadão comum é outro fato que levou à criação dos Juizados Especiais. Em outras palavras, essa aproximação se traduz na materialização do acesso à justiça, especialmente para os economicamente hipossuficientes. Por conta de sua gratuidade, por dispensar – sob certas circunstâncias – a assistência de advogado e por ser regida, dentre outros, pelo critério da informalidade, a justiça que os juizados oferecem é mais acessível e próxima do cidadão comum, que muitas vezes não possui recursos para custear um processo e remunerar um eficiente patrono para sua causa.

Interessante ressaltar que, em muitos casos, o valor da causa, o excesso de formalidade ou a perspectiva de um feito que se arrastaria por anos a fio desestimulavam o cidadão a ingressar em juízo.

Com o advento dos juizados, esse cenário foi revolucionado. A partir do momento em que o jurisdicionado percebeu que havia um órgão capaz de dar a guarida de que ele necessita sem os óbices retro elencados, passou a recorrer mais à justiça.

Tal objetivo não passou despercebido pela doutrina:

Essa nova forma de prestar jurisdição significa antes de tudo um avanço legislativo de origem eminentemente constitucional, que vem dar guarida aos antigos anseios de todos os cidadãos, especialmente da população menos abastarda, de uma justiça apta a proporcionar uma prestação de tutela simples, rápida, econômica e segura, capaz de levar à libertação da indesejável litigiosidade contida. Em outros termos, trata-se, em última análise, de mecanismo hábil de ampliação do acesso a ordem jurídica justa. (FIGUEIRA JÚNIOR, 2000, p. 41)

Oferecer uma justiça célere. A maior expectativa gerada com a criação dos Juizados Especiais foi a celeridade processual. Daí porque afirmamos que a celeridade é o princípio por excelência dos juizados.

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23 à necessidade da desburocratização que o Juizado Especial impõe, há que se chegar à tão desejada celeridade.

No tópico oportuno, quando for avaliada a celeridade e os demais princípios que norteiam os Juizados Especiais, será aprofundado o tema celeridade. Desde já é importante que se diga que tal estudo é feito em um capítulo próprio, e não nesta parte que tange os Juizados Especiais, por conta de sua importância para o tema deste trabalho acadêmico.

No plano da normatização legal, destaque-se que tais órgãos são regulamentados – os estaduais – pela Lei 9.099 de 26 de setembro de 1995, cujo texto original sofreu alterações com o advento da Lei 11.313, de 28 de junho de 2006 e, os federais, pela Lei 10.259, de 12 de julho de 2001, que dispõe sobre a instituição dos juizados no âmbito da Justiça Federal.

Feitas essas conceituações propedêuticas, comentemos um pouco mais detalhadamente sobre os Juizados Especiais, aqui divididos em Cíveis e Criminais para fins didáticos.

Ressalte-se que tais comentários são meramente destinados a oferecer uma visão geral sobre tais órgãos, uma vez que não se pretende aqui esgotar, em um trabalho de fim de curso, um tema tão vasto que já foi objeto de estudo de vários juristas e intitulou um sem-fim de obras da literatura jurídica pátria.

3.1.1. Os Juizados Especiais Cíveis

Encontram os Juizados Especiais Cíveis sua previsão legal estendida do artigo 3º ao artigo 59 da Lei 9.099/95. Aplicam-se subsidiariamente a eles, quando couber, os dispositivos oriundos do Código Civil e do Código de Processo Civil.

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24 O processo que tramitar nesses órgãos será orientado pelos princípios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação, que é a forma de se tentar um acordo entre as partes através da direção de um juiz ou de um conciliador.

A conciliação é um objetivo capital para os órgãos em estudo.

Pode-se entender tal instituto como sendo um instrumento que – partindo de uma previsão legal (Lei 9.099/95, art. 2º) – sob a tutela de um terceiro que representa o estado-juiz (conciliador) proporciona, de forma impessoal, às partes aconselhamentos e sugestões a fim de alcançar um acordo amigável. Ressalte-se que a figura do conciliador não tem poder algum para decidir, apenas esclarecer pontos obscuros através de conselhos e sugestões.

Joel Dias Figueira Júnior (2011, p. 83), ao diferenciar transação e conciliação define esta como sendo “a composição amigável sem que, necessariamente, se verifique alguma concessão por qualquer das partes a respeito do pretenso direito alegado ou extinção da obrigação civil ou comercial”.

Essa autocomposição das partes propugna pela solução dos conflitos sem que haja uma imposição do Estado-juiz acerca do litígio, mas sim uma harmonização entre os interesses do promovente e do promovido capaz de gerar um acordo que – por ter sido desenhado espontaneamente pelas partes – será espontaneamente cumprido, evitando os percalços de uma execução.

Se uma questão judicial é resolvida já na fase conciliatória, através de um acordo construído pelas próprias partes com o auxílio do conciliador ou do juiz, será possível que se fulmine a contenda já em seu nascedouro.

Isso gera uma grande economia processual e celeridade, pois o processo não chega a ter um trâmite muito extenso. Outro argumento favorável à conciliação é que – se o acordo é desenhado pelas partes, ou com sua participação direta – as chances de que ele seja descumprido são substancialmente reduzidas.

Sobre juízes leigos e conciliadores, é importante que se atente para o texto legal, que é claro, já em seu artigo sétimo, in verbis:

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25 O processo nos Juizados Especiais têm início com a apresentação do pedido, seja ele oral ou escrito, à sua respectiva secretaria, que, no primeiro caso, será reduzido a escrito.

No ato dessa apresentação, os serventuários agendam uma primeira audiência, que será obrigatoriamente de conciliação, haja vista ser essa uma das mais relevantes características dos órgãos judiciais em estudo no plano cível. A referida audiência será marcada para – no máximo, haja vista determinação legal – quinze dias a contar do registro do pedido.

No dia marcado para a conciliação, caso a parte requerida, de forma injustificada, não compareça, o juiz, baseado em sua convicção, poderá ter como verdadeiros os fatos descritos na petição inicial e julgar procedente o pedido. É a chamada revelia, que tem sua essência esculpida no artigo 20 da Lei 9.099/95. Interessante que se ressalte que a ausência injustificada do requerido à audiência de instrução e julgamento também pode gerar revelia.

A lei prevê também a possibilidade da ausência do autor da ação. O artigo 51 da Lei dos Juizados Especiais elenca os casos de extinção do feito e, já em seu inciso primeiro, decreta que haverá extinção quando “o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do processo”. Subentendeu o legislador que um requerente que, de forma injustificada, falta a uma audiência, não tem mais interesse na sua continuidade.

Não havendo acordo, as partes podem, desde que de forma consensual, optar por um juiz arbitral, que procederá à audiência de instrução e julgamento, salvo quando isso prejudicar alguma das partes. Ao fim do prazo de cinco dias, o árbitro apresentará laudo ao juiz togado que o homologará.

Se não houver sido feita a opção por um juiz arbitral, será imediatamente processada a audiência de instrução e julgamento, desde que esse sequência imediata não inviabilize o direito ao contraditório e à defesa de qualquer das partes. Neste caso, será agendada para – no máximo – em quinze dias.

A audiência de instrução e julgamento comporta oitiva das partes, colheita de provas e o exarar da sentença, contra a qual caberá recurso para o próprio Juizado ou para uma Turma Recursal, formada por juízes togados e em exercício no primeiro grau de jurisdição.

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26 seja, depositar em juízo o valor da condenação, custas, taxas e despesas. Assim, podemos afirmar que o grau de recurso na Justiça Especial não é gratuito, salvo para os pobres na forma da lei, e necessita de um patrono para a causa.

3.1.2. Os Juizados Especiais Criminais

Encontram os Juizados Especiais Criminais sua previsão legal estendida do artigo 60 ao 92 da Lei 9.099/95. Aplicam-se subsidiariamente a eles, quando couber, os dispositivos oriundos do Código Penal e do Código de Processo Penal.

Na esfera penal, as competências dos órgãos em estudo, no tocante à competência material, ficam restritas às infrações penais de menor potencial ofensivo, entendidas como tais os as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com multa.

Interessante ressaltar que o texto original da Lei dos Juizados Especiais fixava o limite máximo de pena em um ano, mas, com o advento da lei 11.313/2006, que alterou o artigo 61 da lei 9.099/95, houve uma extensão para as de dois anos, fruto dos bons resultados obtidos até os então dezenove anos de vigor da pré-falada lei.

Interessante é a relação da “Lei dos juizados” com a “Lei Maria da Penha”.

Com o advento da Lei 11.340, de 7 de agosto de 2006, promulgada com o objetivo manifesto, em seu artigo 1º, in verbisde: “coibir e prevenir a violência doméstica e familiar

contra a mulher”, houve a exclusão do alcance dos Juizados Especiais Criminais nos casos de violência doméstica, vez que a chamada Lei Maria da Penha deu nova redação ao art. 129, do Código Penal , no tocante à pena cominada para a conduta amoldada ao seu §9º, elevando a pena máxima para as lesões por violência doméstica para três anos, superando os dois anos de pena que são o limite para que se possa conceituar um crime como sendo de pequeno potencial ofensivo.

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27 É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Na proteção jurídica desses direitos, a mesma Lei definiu nos arts. 95 a 108, vários crimes próprios, nos quais somente o idoso pode ser vítima. Determinando no art. 94:

Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei nº 9.099/95, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.

Literalmente, o art. 94 utilizou a expressão "no que couber" apenas para as disposições do Código Penal e do Processo Penal. Logo, o procedimento previsto na Lei nº 9.099/95 tem aplicação integral nos crimes previstos no Estatuto do Idoso, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos.

Com essa redação, o legislador ofereceu aos idosos um trâmite mais rápido para os delitos contra eles praticados. Com a possibilidade de se julgar nos Juizados Especiais os delitos com pena que não ultrapasse quatro anos, aumentando, pois a competência da Justiça Especial, houve uma extensão para que a lei em comento (Lei 9.099/95) alcançasse uma maior gama de tipos penais a fim de melhor proteger os idosos.

Dentro dessa justiça, a competência de foro, no tocante à competência territorial, leva em conta o lugar em que foi praticada a infração, de acordo com o artigo 63 da Lei 9.099/95: “A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal”.

Como não há uma opção explícita no texto legal quanto à teoria adotada, no que se refere ao local da infração, pode-se fazer uso da teoria da ubiquidade, segundo a qual se considera lugar da infração tanto onde ocorreu a ação ou omissão como onde se produziu ou deveria se produzir o resultado, conforme o disposto no art. 6º do Código Penal.

(29)

28 possível, a transação penal que é o ato em que o Ministério Público propõe ao autor do fato a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa.

É relevante que se comente que os Juizados Especiais primam por penas não restritivas de liberdade.

De fato, o legislador buscou através da instituição dos Juizados Especiais Criminais desprestigiar a aplicação da pena de prisão, aliás, nasceram justamente com o intuito, dentre outros, de desafogar os presídios abarrotados, evitando-se a aplicação da pena privativa de liberdade aos infratores que praticaram delitos chamados de “menor potencial ofensivo”, ou seja, de menor gravidade. Buscou-se a utilização de um procedimento simples e célere e a aplicação de penas com caráter ressocializador.

Ainda por conta de seu caráter descriminalizante, a Lei dos Juizados acaba sendo aplicada subsidiariamente em determinadas situações.

O art. 291 do Código de Trânsito Brasileiro assinala a aplicação subsidiária do Código Penal e do Código de Processo Penal, bem como da lei dos Juizados Especiais, ressaltando, entretanto, que aplicar-se-á sempre que o CTB não dispuser de modo diverso.

Assim, por força da própria lei que criou o Código de Trânsito Brasileiro, a festejada lei 9.099/95, sob a ótica de política criminal descriminalizadora, será utilizada subsidiariamente para auxiliar aquele diploma na solução dos crimes ocorridos na direção de veículos automotores.

As ações criminais nos órgãos em estudo têm seu início não no inquérito policial, mas em um simples boletim de ocorrência circunstanciado, o chamado TCO – Termo Circunstanciado de Ocorrência. Isso se dá por ser este mais simples, menor e de mais rápida produção do que aquele, o que o torna mais próximo dos moldes e ideais dos Juizados Especiais Criminais.

O autor do fato que se comprometer a comparecer ao Juizado Especial a que for encaminhado não terá sua prisão em flagrante decretada e nem será exigida dele a fiança.

Em audiência preliminar, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade de composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.

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29 competente, que, em muitos casos, é o próprio Juizado Especial Cível e Criminal que recebeu o T.C.O. que originou a ação.

Não sendo aceita a composição civil, o ofendido poderá exercer o direito de representação. Ato contínuo à representação, ou em caso de ação penal pública incondicionada, salvo os casos de arquivamento, o membro do Ministério Público que estiver atuando no processo poderá propor a aplicação de pena restritiva de direitos ou multa, excetuando-se os casos previstos na lei.

Em havendo oferecimento de denúncia, cópia desta será entregue ao acusado, que será também cientificado do dia, hora e lugar da audiência de instrução e julgamento. Tal entrega pode ser feita no ato da audiência ou – caso esteja o referido ausente – por meio de oficial de justiça.

A audiência de instrução e julgamento comporta ainda uma nova tentativa de composição de danos e de transação penal. Aqui se evidencia novamente a essência da Lei 9.099/95 que, em sua face penal, busca evitar penas privativas de liberdade e substituí-las por outras de caráter mais social e descriminalizante.

Se, em plena audiência de instrução e julgamento, ocorre um acordo civil, a ação – se for penal privada ou pública condicionada à representação – tem por extinta sua punibilidade, seguindo para ulterior arquivamento. Assim, temos uma das formas de encerrar-se o processo penal nos órgãos em estudo.

Note que, se ação for pública incondicionada, não há essa possibilidade de acordo. O processo segue até sentença final.

3.2. O FÓRUM NACIONAL DE JUIZADOS ESPECIAIS – FONAJE

Além da Lei 9.099/95 e da Lei 10.259/01 as ações específicas dos Juizados Especiais também se orientam por outras legislações de forma subsidiária, no que couber, como o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal e os chamados Enunciados do FONAJE – Fórum Nacional de Juizados Especiais.

(31)

30 No entanto, há procedimentos que acabam por ficarem sem um disciplinamento específico. Assim, cada estado termina por adotar um critério, gerando uma precária padronização, o que vai de encontro a entendimentos do Supremo Tribunal Federal que preconiza uma justiça única em todo o território nacional.

O Fórum Nacional de Juizados Especiais – FONAJE foi instalado no ano de 1.997, sob a denominação de Fórum Permanente de Coordenadores de Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Brasil, e sua idealização surgiu precisamente dessa necessidade de se aprimorar a prestação dos serviços judiciários nos Juizados Especiais, com base na troca de informações e, sempre que possível, na padronização dos procedimentos adotados em todo o território nacional.

O Fórum funciona da seguinte maneira: anualmente, em um previamente determinado estado da federação, ocorre uma reunião entre os coordenadores dos Juizados Especiais com a finalidade de, à luz dos princípios norteadores da Lei 9.099/95, trocar experiências, sugestões, avaliar resultados de procedimentos adotados em fóruns pretéritos e traçar estratégias para o futuro. Ao final do encontro, é redigido um documento contendo as sugestões, os enunciados daquele ano. Assim, cada coordenador retorna para sua unidade sede e implanta a nova orientação.

(32)

31 IV - OS CRITÉRIOS QUE REGEM OS JUIZADOS ESPECIAIS

Neste capítulo, buscaremos discorrer sobre os Critérios que regem os Juizados Especiais. Inicialmente será feita uma distinção sobre os termos Princípios e Critérios, as divergências doutrinárias sobre a escolha legislativa por este em detrimento daquele. Neste tópico será exposta a idéia de que os Critérios em estudo não apenas atuam para corroborar com a Celeridade Processual como foram em função dela escolhidos.

4.1. Princípio ou Critério

O legislador, ao desenhar as bases sobre as quais se assentariam os juizados especiais optou por utilizar o vocábulo critério em detrimento do substantivo princípio.

A doutrina parece não ter um entendimento pacífico sobre essa escolha.

Jorge Tosta, (2010, p.6) leciona:

Ainda que a lei tenha se referido a critérios , a maioria dos doutrinadores os tratam como verdadeiros princípios que regem o processo do juizado especial.

Porém, não é esse o melhor entendimento, pois, como adverte Maria do Carmo Honório, ‘os critérios que presidem o precesso no sistema do Juizado Especial são desdobramentos dos princípios já consagrados no processo civil tradicional.

Já segundo Maria Helena Diniz (1988, p.547), celeridade processual diz respeito ao Princípio da Celeridade Processual, que é o “princípio pelo qual o processo deve organizar-se de forma a chegar rapidamente ao seu termo”

O vocábulo princípio é de difícil definição por ser um termo polissêmico.

De Plácido e Silva (2010, p. 606).esclarece que Princípio é:

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32

jurídico normas genéricas como, por exemplo, “todos são iguais perante a

lei”, enquanto preceito ou regra é a norma específica, como, por exemplo, “o

idoso direito à assistência de sua família.

Por princípio podemos entender o início de algo ou a idéia primária de uma ciência ou – ainda – podemos vislumbrar sua acepção axiológica.

Esta última é a que interessa neste trabalho acadêmico. É o conjunto de valores morais, éticos ou religiosos que uma pessoa carrega consigo. Segundo os ensinamentos de José de Albuquerque Rocha (2009, p.29), “os princípios são os valores do povo”, sendo aqui exposto o termo “valores” no sentido axiológico da palavra.

O mesmo mestre elenca diversas funções desempenhadas pelo termo princípio a fim de melhor defini-lo.

Dentre as várias funções desempenhadas pelos Princípios e descritas pelo nobre autor, a mais relevante é sua função fundamentadora, pela qual fundamenta – através do preceito moral que carrega – a norma.

Já os critérios tem seu sentido mais próximo do das regras, pois buscam muito mais orientar um procedimento através da previsão de uma conduta valendo-se de forte viés utilitarista e pragmático. Neles não existe a priori uma carga valorativa axiológica, mas sim a

orientação de como se praticar um ato processual priorizando uma atitude em detrimento de outra tida como menos prática.

Além disso, se um critério em uma situação real ferir um princípio, este se sobrepõe àquele. Por exemplo, se em nome da celeridade houver grave lesão ao Princípio do Contraditório, é a celeridade que deverá ser afastada e não o contraditório. Isso se dá porque o Princípio do Contraditório carrega em seu bojo – em última análise – a face da própria Justiça, pois não se pode julgar e condenar sem que se ouça a outra parte.

Para Fredie Didier Júnior (2011, p.56), ipsi literis:

O processo é um procedimento estruturado em contraditório.

Aplica-se o princípio do contraditório, derivado que é do devido processo legal, nos âmbitos jurisdicional, adminsitrativo e negocial (não obstante a literalidade do texto constitucional). (...)

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33 Em suma, sem que se procure reduzir a importância dos critérios norteadores dos processos da competência dos juizados especiais, há que se admitir que são eles muito mais próximos das regras do que propriamente dos princípios devido a questões claramente conceituais, pois estes veiculam valores morais e aqueles apresentam um matiz utilitarista.

4.2. A Celeridade

A rapidez nos julgamentos é um anseio legítimo e antigo da sociedade. Sua previsão foi consagrada na própria Constituição da República Federativa do Brasil como Direito e Garantia Fundamental, em seu artigo 5º, inciso LXXVIII, in verbis: “a todos, no âmbito

judicial e administrativo, serão assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

É do senso comum – também chamado empírico – a noção de que a justiça no Brasil é morosa, tão lenta que sua vagarosidade chega a ser em si uma grande injustiça. Essa depreciativa qualificação colabora para o descrédito do Judiciário e cria – ainda que por vias alternativas – uma sensação de impunidade.

As causas da lentidão de nossa justiça têm uma forte componente histórica, embora – logicamente – não se limitem a esta única causa. Fatores como falta de pessoal, carência de treinamento, corporativismo, normas ultrapassadas, limitações orçamentárias e estruturais, etc. também cooperam para a falta de agilidade no trâmite processual brasileiro.

Discorreremos – ainda que brevemente – sobre a componente histórica.

No ano de 1.808 a família real portuguesa – fugindo de uma invasão francesa deflagrada pela recusa da coroa lusa a participar do bloqueio continental – transferiu-se para aquela que era, então, sua colônia mais próspera, o Brasil. A nobreza – no entanto – não veio sozinha, trouxe consigo todo o aparelho burocrático governamental português, incluso aí o aparelho judiciário.

Sobre essa cena inusitada de nossa história, discorre a historiadora e biógrafa de D. Pedro I, Isabel Lustosa (2006, p. 43):

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34 portugueses de comércio. Nela partia, escoltada por navios de guerra ingleses, uma população que se compunha de doze pessoas da família real (entre os quais o príncipe regente D. João, sua mãe, a rainha d. Maria, d. Carlota Joaquina, d. Pedro, então com nove anos, e seu irmão, d. Miguel); membros do conselho de Estado, ministros, juízes da Alta Corte, oficiais do Tesouro, o alto comando das Forças Armadas, a hierarquia da Igreja, membros da aristocracia, funcionários, profissionais e homens de negócios, cortesãos, criados e um corpo da Marinha com 1600 homens. (...) Nos porões dos navios viajava toda a parafernália necessária ao funcionamento do aparelho de Estado, pratarias, tesouros e uma gráfica. (grifo nosso)

Na mesma linha:

(...) A julgar pelo que estava a bordo, a última hipótese parece ser a correta. Jóias da família real, arquivos importantes do governo português, homens essências de um estado soberano – como as altas hierarquias civil, militar e eclesiástica – a alta sociedade, membros das profissões liberais e do mundo dos negócios, toda a máquina do Estado estava sendo transplantada para continuar sua rotina no Brasil. (grifo nosso) (CÁCERES, 1993,p. 136)

Tal aparelho, devido à própria história de formação do estado luso, que já nasceu cercado de inimigos internos (nobres simpatizantes da Espanha) e externos (Mouros), é repleto de praxes, protocolos e controles que refletiam a paranóia – o clima de eterna desconfiança – dos governantes.

Uma incompetência dantesca, somente explicada pelo apadrinhamento político, onde um fidalgo – apenas por ser de família fiel aos interesses da Casa de Bragança – sem nada entender de administração pública é posto no comando de um ministério, coopera para a morosidade e ineficiência das atuações do Estado.

A falta de uma visão global capaz de otimizar recursos humanos e materiais transforma as repartições públicas lusas e suas interações em verdadeiros labirintos onde – não raras vezes – o cidadão se via em um beco sem saída. Daí o mesmo vaga entre uma e outra sem conseguir uma resposta definitiva para seu problema, que se estende ad infinitum.

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35 Toda a máquina administrativa, militar e religiosa tanto os altos como os baixos escalões – teve de ser montada, peça por peça. O Estado soberano de Portugal foi recriado no Brasil. Cada departamento, cada repartição importante foi restabelecida com as mesmas funções, o mesmo nome, os mesmo poderes e os mesmos métodos que o seu protótipo em Portugal. A burocracia generalizada e ineficiente, o apadrinhamento e o nepotismo eram os mesmos existentes no modelo português. Os ministros e os altos funcionários foram escolhidos por critérios de fidelidade aos interesses metropolitanos. As repartições e departamentos frequentemente tinham funções duplicadas, e muitas vezes não se sabia onde terminava a competência de um e departamento e começava a de outro. Os papéis transitavam sem resolução e se perdiam no caminho entre um e outro órgão. Os cargos, repartições e superintendências proliferavam e se sobrepunham. (grifo nosso)

Ao longo do período que se situou entre a chegada da família real portuguesa e a independência do Brasil, o aparelho tecnocrata burguês luso, lento, pesado, esquizofrênico e ineficiente, foi sendo instalado e adaptado em nosso país.

Filhos de brasileiros ricos começaram a ter acesso ao controle de alguns mecanismos dessa máquina governamental. Assim, aos poucos, a elite brasileira foi tomando posse dos costumes e práticas burocráticas do reino.

Quando da independência do Brasil, pouco se melhorou no quadro. D. Pedro I não incentivou mudanças na forma lusa de se executar o serviço público.

A república também não trouxe grandes avanços, pois os ocupantes do poder viam nesse cenário letárgico um aliado para a consecução de seus objetivos, pois manipulavam a máquina, conseguindo, inclusive que fosse mais ou menos rápida dependendo de seus interesses.

Vale relatar – até como exemplo do quanto os procedimentos judiciários, e, conseqüentemente, a justiça, foram engessados e renegados – a gênese do Código Civil de 1916, diploma que regeu até bem pouco tempo nossa sociedade, uma vez que só veio a ser substituído pelo novíssimo Código Civil de 2002.

Durante o período da chamada União Ibérica (1580 – 1640) os tronos da Espanha e de Portugal, devido à morte de D. Sebastião, rei luso, na batalha de Alcáçer-Quibir, foram ocupados pelo mesmo soberano.

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36 repercussões para o Brasil, uma delas foi a sistematização de toda a legislação portuguesa, que, em muitos casos, chegava a ser contraditória.

As ordenações do reino, que ficaram conhecidas como Ordenações Filipinas, em homenagem ao rei das duas coroas, para assombro de muitos, regularam a vida civil do Brasil daquele período até a publicação do Código Civil de Clóvis Beviláqua, em 1916.

Sobre essa incrível situação:

Após a independência, a lei de 20 de outubro de 1823 determinou que continuasse a vigorar no Império a legislação do Reino. Esta, cuja peça maior e estrutural eram as Ordenações Filipinas, acrescidas de leis posteriores, vigeu no Brasil até ser revogada pelo art. 1.807 do Código de 1916. Curioso que seu vigor, no Brasil, ultrapassou sua vigência em seu país de origem, pois ali o Código de 1867 a revogou. (RODRIGUES, 2007, p.11)

Poder-se-ia citar uma gama incontável de casos de lentidão do judiciário, mas para que se fique apenas com um exemplo crítico, emblemático e impressionante será citado o fato descrito por Gilson Dipp – ministro do Superior Tribunal de Justiça e corregedor do Conselho Nacional de Justiça que percorreu os tribunais estaduais do país a fim de inspecioná-los – em entrevista à revista Carta Capital (Ano 2009, Nº 565, p. 30):

CC: O que mais tem chamado a atenção nas inspeções?

GD: As audiências públicas, que são um desaguadouro das manifestações não só das entidades ligadas ao Judiciário, mas de cidadãos que nunca tiveram voz. Já passei sete horas ininterruptas em audiências públicas, onde as pessoas vão reclamar e falam ao presidente e ao corregedor do Tribunal de Justiça coisas que eles nunca ouviram nem de juízes, quanto mais de simples cidadãos. Na última audiência pública no Ceará, em agosto, para a surpresa nossa, quem apareceu para apresentar uma reclamação foi a Maria da Penha, da Lei Maria da Penha. Ela pediu agilidade no processo dela, porque a Justiça local ainda não concluiu o caso. O processo que gerou a Lei (grifo nosso) (FORTES, 2009, p.30)

Em outras palavras, a confecção de uma lei de âmbito nacional, que precisa percorrer todos os trâmites constitucionais do processo legislativo e enfrentar todos os lobbys adversos,

que tem efeito erga omnes e o condão de mudar a conduta de uma sociedade inteira foi mais

ágil do que o simples julgar de uma causa no Judiciário Cearense.

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37 consigam oferecer uma justiça célere sem que isso implique danos à segurança jurídica das relações.

Não seria exagero afirmar, após estudar a lei que rege os Juizados Especiais, que a sua causa maior de ser é combater a morosidade secular com sua “celeridade eletrônica”.

Esse desiderato – uma justiça célere – é de uma relevância tão absoluta que podemos perceber que os demais critérios (oralidade, simplicidade, informalidade e economia processual), que estão esculpidos no artigo 2º da Lei 9.099/95, parecem ter sido escolhidos pelo legislador com o exclusivo fim de corroborar com a consecução do princípio da celeridade. Senão vejamos.

4.3. Oralidade

Parece lógico que a oralidade é mais célere que o registro escrito. É mais rápido dissertar oralmente sobre um instituto jurídico do que ter que escrever um artigo sobre o mesmo. Insofismavelmente claro que a primeira opção é mais veloz. É o critério da oralidade a serviço da celeridade.

De acordo com a oralidade o processo judicial há que se formar verbalmente, sendo complementado com o uso da forma escrita apenas excepcionalmente, como no que tange ao preparo propriamente dito da ação, à prova documental, dentre outros, tem amparo no §3º do artigo 13 da Lei dos Juizados Especiais, in verbis:

Art. 13. Os atos processuais serão válidos sempre que preencham as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios indicados no art. 2º desta Lei.

(...)

§3º. Apenas os atos considerados essenciais serão registrados resumidamente, em notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente, que será inutilizada após o trânsito em julgado da decisão.

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38 Os demais critérios norteadores dos Juizados Especiais são de fácil entendimento. Faz-se mister, contudo, explanar o básico sobre eles, usando-se de uma didática simples e direta, a fim de demonstrar o que foi sustentado em linhas pretéritas, ou seja, que todos os princípios adotados no Juizado Especial convergem para o da celeridade.

4.4. Simplicidade

Retomando o exemplo acima, temos que escrever um artigo sobre um determinado instituto jurídico é algo mais simples que escrever um livro sobre o mesmo tema. É mais simples e, conseqüentemente, mais rápido. É a simplicidade a serviço da celeridade.

O critério da simplicidade, que nada mais é o do que a busca pela simplicidade dos procedimentos, tem, por lógica, a conseqüência de catalisar o andamento do feito, haja vista que o que é simples, normalmente, é mais rápido de se fazer do que o que é complexo.

Muito esclarecedora é a posição de J. E. Carreira Alvim (2011, p. 19) sobre o critério em comento:

O critério da simplicidade significa que o processo não deve oferecer oportunidade para incidentes (obstáculos) processuais, contendo-se toda a matéria de defesa na contestação, inclusive eventual pedido contraposto do réu, em seu favor, exceto as argüições de suspeição ou impedimento do juiz (exceções processuais), que se processam na forma do Código de Processo Civil.

4.5. Informalidade

Verifica-se que uma conversa informal flui de forma mais leve e rápida, ao contrário de uma palestra, com uma autoridade, por exemplo, onde uma série de formalidades, menções, adjetivos e pronomes são postos antes do assunto principal. É a informalidade a serviço da celeridade.

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39 4.6. Economia Processual

Sobre o critério da Economia Processual:

O princípio da economia processual também chamado principio econômico

– segundo o qual, o processo deve ser tanto quanto possível barato significa que o processo, além de gratuito, deve conter apenas os atos processuais indispensáveis ao atingimento da sua finalidade. Em favor desse princípio, autua outro, segundo o qual nenhum ato processual deve ser corrigido, repetido, ou anulado, se da sua inobservância nenhum prejuízo tiver resultado para a parte contrária (princípio da sanação ou sanabilidade). (ALVIM, 2011, p. 19)

A grosso modo, o que é mais econômico, organizar uma festa para dez ou para cem convidados? É matematicamente lógico que uma festa para dez seria mais econômica, e também mais rápida e fácil de se organizar do que um evento para cem convivas. É a economia processual trabalhando para a celeridade.

O critério da economia processual, que pode ser entendido como o racionalizar do serviço judiciário com o intuito de que ele consiga o máximo de eficiência dentro do menor lapso de tempo possível coaduna-se com a celeridade, que já vem em seu próprio conceito.

Interessante fato lembrado por Tourinho Neto (2011, p.51) é o constar, já na Constituição do Império, precisamente a de 1824, o interesse na reconciliação, quando, em seu artigo 161, dizia que “Sem se fazer constar que se tem intentado o meio da reconciliação não se começará processo algum”.

O antigo desejo de conciliar, a antiga máxima de que um acordo ruim é melhor do que uma boa decisão judicial, fica bem claro na Lei 9.099/95, que institui a audiência de conciliação como indispensável nos trâmites de sua alçada.

A relação entre conciliação e o princípio da economia processual é simples: se – já na audiência de conciliação for possível extinguir o feito – não haverá audiência de instrução, logo, não se despenderão outros atos processuais, daí a economia.

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40 Invocando o princípio em estudo, o serventuário exara uma certidão com um texto simples “Invocando o princípio da economia processual, desentranho a carta outrora juntada para ser cumprida como mandado pelo oficial de justiça”.

Aqui houve grande economia de tempo, de serviço e de material de expediente. O servidor agindo assim pode ter evitado o adiamento de uma audiência, otimizando o tempo. No mesmo ato, ao aproveitar a carta, não precisou confeccionar um mandado e, por fim, poupou material de expediente, que certamente seria usado em tal confecção.

Os princípios têm suas marcas registradas ao longo de todo o diploma legal específico dos Juizados Especiais, e colaboram com a celeridade pelo fato de – ao tornarem mais simples, informais e econômicos os atos processuais – reduzirem o tempo com eles gasto.

Exemplos disso, dentre outros tantos que poderiam ser elencados no texto da Lei 9.099/95, são encontramos ao longo dos artigos 18 e 19 da supramencionada lei, ipsi literis:

Art. 18. A citação far-se-á:

I – por correspondência com aviso de recebimento em mão própria;

II – trantando-se de pessoa jurídica ou firma individual, mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado;

III – sendo necessário, por oficial de justiça, independentemente de mandado ou carta precatória.

§1º. A citação conterá cópia do pedido inicial, dia e hora para comparecimento e advertência de que, não comparecendo este, considerar-se-ão verdadeiras as alegações iniciais e será proferido julgamento de plano. (..)

Art. 19. As intimações serão feitas na forma prevista para citação, ou por qualquer outro meio idôneo de comunicação.

§1º. Dos atos praticados na audiência, considerar-se-ão desde logo cientes as partes.

Percebe-se, já no início da redação do artigo 18, que a justiça especial, assim como a justiça comum, tem a citação pelo correio como regra. No entanto, a possibilidade de se realizar a citação de pessoa jurídica ou firma individual mediante entrega ao encarregado da recepção, que será obrigatoriamente identificado é um dispositivo que simplifica e informaliza – ao mesmo tempo em que acelera – o ato processual da citação.

Referências

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