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Uma maneira diferente de estudar políticas públicas educacionais

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Academic year: 2022

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Uma maneira diferente de estudar políticas públicas educacionais

Marcelo Franco LEÃO1 Lucy Aparecida Gutiérrez de ALCÂNTARA2 Eva Pereira da COSTA3 Miguel Julio ZADORESKI JR4 Silvana Neumann MARTINS5

Resumo: Este texto, oriundo da disciplina de “Seminários sobre Políticas Públicas da Educação”, do Curso de Mestrado em Ensino da UNIVATES, Lajeado – RS, traz algumas reflexões realizadas por quatro mestrandos, professores na região Centro-oeste do país, que estudaram o assunto por meio da metodologia da aprendizagem baseada em problemas. O embasamento teórico se deu com leituras individuais e coletivas realizadas durante e após o desenvolvimento das aulas, que foram estimuladas por estratégias de ensino inovadoras. A investigação foi norteada pela seguinte questão de aprendizagem: quais os desafios enfrentados pela educação no que se refere à qualidade e à aplicabilidade das políticas públicas no Brasil? Verificou-se a preocupação com a morosidade do Estado na execução de políticas públicas voltadas para a Formação de Professores, para a Educação Escolar Indígena, para a Educação de Jovens e Adultos e para as Tecnologias na Educação.

Palavras-chave: Desafios. Metodologias Ativas. Políticas Públicas.

1 Marcelo Franco Leão. Mestre em Ensino pelo Centro Universitário UNIVATES. Especialista em Orientação Educacional pela Faculdade Dom Alberto e em Relações Raciais na Educação e na sociedade Brasileira pela UFMT. Licenciado em Química pela UNISC. Tutor na área de Química pelo IFMT– Polo de Barra do Bugres (MT). E-mail: <marcelofrancoleao@yahoo.com.

br>.

2 Lucy Aparecida Gutiérrez de Alcântara. Mestranda em Ensino pelo Centro Universitário UNIVATES. Especialista em Avaliação do Ensino e Aprendizagem pela UNOESTE. Licenciada em Matemática pela UNOESTE. Professora do IFMT – Campus Juína (MT). E-mail: <lucy.alcantara@jna.ifmt.edu.br>.

3 Eva Pereira da Costa. Mestranda em Ensino pelo Centro Universitário UNIVATES. Especialista em Língua portuguesa pela Faculdade de Ciências, Educação e Tecnologia Darwin. Graduada em Língua Portuguesa pela UEMA. Professora do IFTO – Campus Araguaína (TO). E-mail: <evinhacosta@ifto.edu.br>.

4Miguel Julio Zadoreski Jr. Mestrando em Ensino pelo Centro Universitário UNIVATES. Especialista em Psicopedagogia Institucional pela EDUCON. Licenciado em Pedagogia pela UFMT. Professor do IFMT – Campus Juína (MT). E-mail:

<miguel.junior@jna.ifmt.edu.br>.

5 Silvana Neumann Martins. Doutora e Mestre em Educação pela PUC-RS. Especialista em Ensino de Literatura e em Gestão Universitária pela UNIVATES. Professora dos PPGEnsino e PPGECE do Centro Universitário UNIVATES. E-mail:

<smartins@univates.br>.

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A different way of studying educational public policies

Marcelo Franco LEÃO Lucy Aparecida Gutiérrez de ALCÂNTARA Eva Pereira da COSTA Miguel Julio ZADORESKI JR Silvana Neumann MARTINS

Abstract: This paper arises from a discipline of “Seminars on Education Public Policy”, from the Master in Teaching UNIVATES, Lajeado (RS). This brings some reflections pointed of four current masters, teachers in the Midwest region of the country, who has studied the issue through learning methodology based on problems. The theoretical basis was the case with individual and collective readings which were taken during and after the development of classes, which were stimulated by innovativing teaching strategies. The research was guided by the following question of learning: What are the challenges faced by education in relation to the quality and applicability of public policy in Brazil? There was a concern about the slowness of the State in the implementation of public policies for teacher training, for Indigenous Education, for the Youth and Adult Education and the Technologies in Education.

Keywords: Challenges. Active Methodologies. Public Policy.

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1. INTRODUÇÃO

Para refletir sobre políticas públicas educacionais, é preciso ter o discernimento de que não se trata de política partidária, nem tampouco de políticos. As políticas públicas são programas de governo para a sociedade, são ações com as quais os poderes ou instituições públicas respondem às necessidades de diversos grupos sociais. Nessa perspectiva, as políticas educacionais foram pensadas para atender às demandas sociais relativas à educação em diversos aspectos, tais como: formação inicial, continuada, infraestrutura, entre outras.

Para Arelaro (2007), o Brasil ainda está permeado por problemas em seu sistema educacional, e muitos desses problemas são característicos ainda de meados do século XX, a citar, um alto número de pessoas analfabetas, péssimas condições de trabalho e de ensino e, principalmente, o déficit nas competências de leitura e escrita de milhões de brasileiros que frequentam a escola pública brasileira. Diante dessas questões na educação, o Governo brasileiro vem adotando políticas públicas para tentar corrigir essas dívidas com a população.

Embora nos últimos anos o Governo tenha efetivado algumas políticas públicas para a melhoria da educação, o rendimento escolar dos alunos em boa parte do país ainda se apresenta insuficiente. Muitas escolas ainda não conseguem sequer alfabetizar os alunos e, quando o fazem, em muitos casos, é de forma insatisfatória. Percebe-se que não basta apenas a criação de leis ou normativas para que as mudanças ocorram; são necessárias ações que envolvam todos os grupos sociais, principalmente, o dos professores, por meio de uma formação continuada que não seja instrucionista, ao contrário, que valorize os saberes docentes, o processo reflexivo e o ato de produzir conhecimento.

Sabemos que o Banco Mundial (BIRD) é um dos principais financiadores do ensino público brasileiro, o qual faz algumas exigências e determina metas em relação ao desenvolvimento da educação e, para isso, o Governo criou alguns mecanismos para a obtenção de dados sobre o rendimento escolar em todo país. Os

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instrumentos externos de avaliação, como o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), a Prova Brasil, a Provinha Brasil, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) e o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), surgiram para “medir” e divulgar os índices educacionais, bem como para dar respostas aos organismos internacionais que financiam com o Governo a educação pública brasileira. A partir desses sistemas avaliativos, são traçadas novas políticas governamentais para a melhoria do ensino e da aprendizagem em todas as regiões (FONSECA, 2009).

Contudo, para haver mudanças efetivas e melhorias no sistema educacional, é necessário que os governantes viabilizem políticas educacionais que são fundamentais para que se alcance a qualidade, tais como: formação inicial e continuada de professores, inclusão das minorias, melhorias nas infraestruturas das escolas, melhores salários, entre outras que são pertinentes para a elevação da qualidade do ensino.

O presente texto é resultado dos estudos e discussões em torno da necessidade de uma educação inovadora, ocorridos durante o desenvolvimento da disciplina de “Seminários sobre Políticas Públicas da Educação, Ciências, Tecnologia e Inovação” do Programa de Mestrado Acadêmico Stricto Sensu em Ensino, promovido pelo Centro Universitário UNIVATES, Campus de Lajeado – RS. Esses estudos revelaram a necessidade do aprofundamento teórico e reflexivo dos professores sobre a elaboração, aplicação e regulação de políticas públicas e a influência destas na qualidade da educação.

Por meio deste texto pretendemos discutir sobre políticas públicas do Brasil voltadas à educação, em um momento em que, apesar dos progressos que tivemos nas últimas décadas, ainda temos de avançar muito para termos uma educação de qualidade para todos. Assim, o objetivo do estudo foi refletir sobre os desafios enfrentados pela educação no que se refere à qualidade e à aplicabilidade de tais políticas públicas no país.

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2. REFLEXÕES SOBRE O CONTEXTO EDUCACIONAL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

A educação brasileira por muito tempo esteve atrelada às políticas educacionais, que visavam somente à formação das pessoas para o mercado de trabalho. Atualmente, além dessa profissionalização, busca-se a formação humana, cidadã. Quando temos uma escola que associa a formação profissional com a formação humana, ela faz da educação um espaço de reflexão, permitindo aos envolvidos a discussão de ideias, o deleite do pensar e a construção do conhecimento. Assim, tem-se de fato uma educação de qualidade.

[...] Observada pela função social, a educação de qualidade se realiza na medida em que logre preparar o indivíduo para o exercício da ética profissional e da cidadania. Supõe, ainda, educá-lo para compreender e ter acesso a todas as manifestações da cultura humana; [...] (FONSECA, 2009, p. 154).

Na contemporaneidade, pressupõe-se uma escola com a função de preparar as pessoas para o mercado profissional e para o convívio social, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida e o acesso aos bens culturais produzidos pelo homem, compreendendo-os como um resultado de um processo formativo.

Para Gadotti (2009), a educação é uma prática social e um ato político. Segundo Houaiss (2001), a palavra “educação” designa o processo para o desenvolvimento harmonioso das faculdades humanas, ensino, instrução e civilidade. A palavra “política” tem origem grega, em que “polis” significa “limite da cidade”, ou seja, política é a arte de definir os limites observados na reunião de atos entre os cidadãos (SORRENTINO et al., 2005).

Segundo Arelaro (2007, p. 907): “Por coerência com o novo momento histórico, uma visão tecnocrática da educação é estabelecida, onde o controle das ações educacionais é sempre do Poder Executivo”. O Governo procura aliar as políticas públicas aos interesses do mercado com um discurso de que o sistema vigente está a serviço de toda a sociedade. E a formação dos professores, seja ela inicial ou continuada, é uma resposta por parte do

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Governo brasileiro aos organismos internacionais que contribuem financeiramente com a educação de nosso país.

Por outro lado, ao considerar as definições de Gadotti (2009) para educação e políticas públicas, percebe-se a dimensão que a educação ocupa num país quão importante são suas ações para o bem comum. Para o autor, só por meio da educação de qualidade é que podemos ter uma sociedade justa, igualitária, em que as relações sejam de igual para igual e um lugar em que todos se sintam pertencentes a ela.

Na sociedade contemporânea, a escola não mais se constitui como detentora do conhecimento, nem tampouco os professores.

Conforme Pimenta (2012), as pessoas aprendem no convívio e nas relações estabelecidas socialmente; além disso, dispomos de novas tecnologias da informação e comunicação, disponíveis em diversas fontes e formatos, principalmente ancoradas na rede mundial de computadores. Portanto, “[...] trabalhar as informações na perspectiva de transformá-las em conhecimento é uma tarefa primordialmente da escola [...]” (PIMENTA, 2012, p. 46).

Em perspectiva simular, Inbernón (2011, p. 23) afirma que:

Embora o mundo todo seja consciente que o professor não tem o monopólio do saber e que a sociedade atual compar- tilha sua função educadora com os agentes muito potentes (televisão, entorno, família, redes, Internet, etc.), muitos continuam, além do seu trabalho concreto, participando em ONG’s, fazendo tarefas de cooperação, colaborando em associações de bairro e de professores e muitas outras atividades pedagógicas e culturais e de formação perma- nente.

Considerando as ideias da autora supracitada, percebemos que, apesar da presença de outros ambientes de aprendizagem, a escola e o professor são muito importantes no processo formativo dos sujeitos. Discorrendo sobre o tema, Pimenta (2012, p. 46) chama a atenção para o ensino reflexivo e crítico com foco em (re) significar a escola e o trabalho docente, pontuando que uma das funções do professor é “[...] realizar o trabalho de análise crítica da informação relacionada à constituição da sociedade e seus valores”.

Assim, é outorgada ao professor a missão de intervir junto aos seus

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alunos na construção de uma sociedade mais justa, inclusive, um lugar em que possibilite a emancipação social. A escola, por meio de um ensino de qualidade, pode transformar a vida das pessoas.

Nessa perspectiva, Inbernón (2011, p. 32) corrobora com Pimenta (2012) afirmando que na sociedade:

[...] ficarão muitos aspectos importantes que unicamente se poderão aprender nas escolas, entre eles ser um cidadão que respeita a si mesmo e aos outros, seja quem for, e também ao seu entorno. Respeito e tolerância que será importante desenvolver nas crianças [...].

A dimensão e a importância de ser professor na sociedade contemporânea são evidenciadas nas reflexões trazidas pelos autores, restando aos docentes buscar por formação para atuar nesse novo contexto permeado de incertezas e mudanças que afetam a todos.

Na sociedade contemporânea, a escola é mais um espaço em que as pessoas podem aprender. Pois, com o advento das tecnologias da informação e comunicação, tem-se um fluxo de informações enorme, instantaneamente, em constantes transformações e disponíveis em diversas fontes, principalmente na rede mundial de computadores. Num contexto em que há um intercâmbio de conhecimentos entre os diversos povos e de diversas partes do mundo, não se admite um professor que simplesmente dê aulas e ensine conteúdos, e, sim, que seja intermediador e articulador entre o ensino e aprendizagem, tendo em sua prática educativa a reflexão como propulsora do desejo de aprender e pela construção do conhecimento nos aprendentes (DEMO, 2010).

No contexto escolar, o professor tem muitas responsabilidades para que educação aconteça e se efetive socialmente, mas, além desse, é necessário que a escola tenha uma gestão que compartilhe dos meios anseios que os docentes. Assim, é pertinente frisarmos a gestão democrática, participativa, que promova um diálogo permanente entre os atores sociais, permitindo a participação de todos na elaboração, execução e regulação de políticas públicas criadas pelo Estado, voltadas ao interesse comum (SORRENTINO et al., 2005).

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[...] entre a teoria e a ação no campo da politica educacio- nal, pode haver um desvio de ‘rota’, ou plano de algo que na prática não se transplanta efetivamente, ou não atende aos objetivos inicialmente elaborados. São as possíveis distorções entre a intenção e a ação (e o resultado desta) (ESQUINSANI et al., 2006, p. 14).

A pesquisadora Grossi (2014, p. 15) faz o seguinte questionamento: “A educação escolar é um espaço de construção de conhecimentos. Então, por que as aprendizagens são tão poucas?”.

Tal questionamento promove muitas reflexões sobre o que se está ensinando e o que se está aprendendo nos espaços de formação dos professores, suas implicações no meio escolar quanto ao ensino e aprendizagem de nossos alunos e, principalmente, como as políticas públicas governamentais estão intervindo nesse contexto da não visibilidade da qualidade do ensino no meio social.

Outro aspecto a ser considerado é que a sociedade vive num processo contínuo de informatização e cabe ao poder público programar ações que busquem formar indivíduos mais capazes para acompanhar a modernização que se alastra em todo o mundo (CHAVES apud OLIVEIRA, 2009). Surge a necessidade de um diagnóstico dos problemas da realidade educacional, para, posteriormente, definir de que maneira a utilização das tecnologias podem atender e ajudar a buscar as soluções desses problemas.

Nesse cenário, a formação inicial e continuada do professor requer cuidado ao integrar as tecnologias, pois possibilita experimentar novas maneiras de aprender e ensinar. Dessa forma, é preciso proporcionar uma ação crítica e transformadora aos professores e aos alunos, para que possam desenvolver sua autonomia e ampliar a leitura do mundo. O professor pode ter a opção de integrar ou não a tecnologia no seu currículo, observando objetivos e competências a serem desenvolvidas, e escolher o momento oportuno para fazer. Ele precisa sempre manter a dimensão pedagógica (POCHO et al., 2011).

A utilização do computador como recurso didático não deve ser vista como a resposta para os problemas da educação, isso porque a solução desses problemas “[...] requer muito mais que

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o simples investimento em tecnologia educacional” (OLIVEIRA, 2009, p. 14).

A preparação dos professores, para essa realidade, ainda não ocorre efetivamente, uma vez que ainda existe uma resistência por parte desses profissionais, ou a falta de oferta de cursos de capacitação. Vale lembrar que as políticas públicas educacionais têm como objetivo transformar os indivíduos e a sociedade em algo melhor, e isso só será possível por meio da educação (MARTINS apud ESQUINSANI, 2006).

3. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo caracteriza-se como relato de experiência, cuja abordagem é qualitativa. Segundo Medeiros (1997), o relato de experiência é definido como a descrição dos resultados de pesquisa que não segue um rigor extremamente formal na apresentação dos resultados. Seu caráter mais informal possibilita utilizar no texto uma linguagem que dá, muitas vezes, mais vida e significado para leitura do que a utilizada num texto puramente analítico.

Essa experiência foi vivenciada em janeiro de 2014, durante as aulas da disciplina de Seminários sobre política públicas da educação, ciência, tecnologia e inovação do curso de Mestrado em Ensino, com a carga horária de 30h. Durante as aulas, a professora conduziu os trabalhos utilizando-se de metodologias ativas e inovadoras, focando a Aprendizagem Baseada em Problemas, proposta por Araújo e Sastre (2009) e Berbel (2011).

Práticas em grupos favorecem a coletividade, possibilitam que ações colaborativas se ampliem e se desenvolvam de forma cooperativa, oportunizam a troca de ideias, o redimensionamento dos saberes já existente e o desenvolvimento de novos, o envolvimento com a proposta e o comprometimento com os envolvidos (GOMEZ, 2004). Em outras palavras, promovem a cooperação, bem como conseguem transformar a sala de aula de forma muito positiva por viabilizarem inovação, criatividade, motivação e dinamismo no processo de ensino e aprendizagem.

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O embasamento teórico se deu por meio das leituras prévias, disponibilizadas no Ambiente Virtual da disciplina, além das leituras individuais e coletivas realizadas durante e após o desenvolvimento das aulas. As leituras sugeridas pela professora foram cuidadosamente selecionadas, observando a procedência e a qualidade dos textos.

No primeiro momento da aula, na introdução da disciplina, foi entregue um texto intitulado “Está na hora de mudar de livro”, da professora-pesquisadora Esther Grossi, para fazermos leitura individual e, depois, discutir sobre a problemática apresentada pela autora dentro do espaço escolar. Na sequência, foi realizada uma reflexão sobre o capítulo “Gestão e políticas educacionais:

do que estamos falando mesmo? Aportes teórico-conceituais para delimitação de termos”, do livro de referência.

Em outro momento, foi-nos solicitado que nos reuníssemos em grupos, escolhidos pela professora, para discussão de artigos sobre a temática, os quais deveriam ser apresentados na forma de seminário. A única recomendação realizada quanto à apresentação dos artigos foi: surpreendam-me! Os artigos estudados foram extraídos das Revistas Científicas: Educação e Pesquisa (USP), Educação e Sociedade (UNICAMP), Cadernos CEDES (UNICAMP), Tempo Social (USP) e São Paulo em perspectiva (Fundação SEADE).

Outra estratégia inovadora utilizada para favorecer o aprendizado sobre o assunto foi a metodologia da aprendizagem baseada em problemas – PBL (Problem Based Learning). Foram sete os momentos vivenciados: inicialmente, foi analisado o relato de caso de uma professora intitulado “Políticas Públicas da Educação – utopia?”. Após leitura atenta desse caso, foram destacados os termos desconhecidos ou que necessitassem de maiores esclarecimentos. Estabeleceu-se o debate buscando identificar problemas e, por meio de tópicos elencados pelos mestrandos, elaborou-se a questão de aprendizagem que nortearia a próxima etapa. Essa chuva de ideias foi apontada no quadro pela professora que mediou o resumo das explicações e a formulação da seguinte questão de aprendizagem: quais os desafios enfrentados

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pela Educação no que se refere à qualidade e à aplicabilidade das políticas públicas no Brasil? Foi então proposta a elaboração de duas produções em diferentes momentos: uma síntese individual e outra coletiva. Esses estudos individuais serviram para aprofundar e embasar o conhecimento do assunto.

A professora sugeriu que nossa síntese individual buscasse relacionar as políticas públicas com nossos projetos de pesquisa de dissertação. Na rediscussão com o grupo tutorial, foram apresentados os avanços do conhecimento obtido pelos integrantes do grupo. Surgiram olhares diferentes sobre os desafios da educação e a necessidade de políticas públicas que se efetivem: Formação de professores, educação escolar indígena, educação de jovens e adultos e tecnologia na educação. Já a produção da síntese coletiva buscou contemplar os avanços individuais, transformando-as em um texto único, cujo conceito ficou mais elaborado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Durante a apresentação do seminário, os grupos fizeram uso de diversificadas metodologias e recursos, tais como: desenho, recorte e composição de figura, música, reflexão e debate, teatro, simulações de telejornal e programas de entrevistas. As estratégias dinâmicas e interativas auxiliaram na compreensão das temáticas desenvolvidas em cada artigo. As reflexões proporcionaram momentos de grande aprendizagem. A Figura 1 ilustra a dinâmica utilizada por um grupo.

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Figura 1. A Educação Ambiental como Política Pública.

Fonte: acervo dos autores (2014).

Nessa atividade conduzida pelo grupo e que apresentou reflexões sobre a temática educação ambiental como política pública, a estratégia motivadora utilizada foi formar grupos e, posteriormente, e foi solicitado que os integrantes daquele grupo desenhassem um membro específico do corpo humano. Após montagem do corpo no quadro, as observações foram de que qualquer política pública precisa ser pública, coletiva, dialogada, conversada, discutida e socializada com os integrantes dos grupos sociais. A necessidade do diálogo entre as partes foi frisada fazendo a comparação com o desenho único formado, ou seja, se houvesse o diálogo entre as partes, tudo ficaria proporcional e harmônico, o que evitaria que grupos sociais (membros) ficassem desconexos.

O processo dialético contribui para traçar objetivos comuns, pois requer participação e envolvimento de todos.

Outra característica apontada é que as mãos do Estado são as responsáveis por executar e colocar em ação as regras e normas

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assumidas por ele. Contudo, mesmo que ambas sejam importantes, as mãos são diferentes. A direita tem maior poder de decisão. Ela representa os órgãos de financiamento, bancos e as equipes de planejamento. Já a mão esquerda executa as atividades práticas, braçais; em outras palavras, executa as ações e desempenha as políticas. Essa mão representa os trabalhadores, os educadores, enfim, os profissionais envolvidos.

Na cabeça do corpo, está o Estado, representado pelos governantes. Uma política de estado é aquela que vem ao encontro das necessidades, dos anseios, da satisfação do bem comum, porém, na prática, muitas vezes, passa a assumir interesses dos governantes, que privilegiam a si mesmos ou a determinados grupos de seu agrado, tornando-se, então, uma política de governo, e não de estado. A palavra “limite” foi inicialmente colada sobre os olhos do corpo e, de fato, muitas vezes, quem está representando o Estado não tem uma visão do todo, ou seja, a limitação tem de ser considerada no momento da elaboração de políticas públicas;

por isso, há a necessidade do diálogo, do envolvimento de todos os membros, inclusive na deliberação.

Como pode ser observado, por meio deste relato da apresentação de um grupo, os mestrandos tiveram autonomia para desenvolverem suas atividades. O seminário proporcionou aos participantes diversas aprendizagens sobre políticas públicas e essa forma desafiadora, colaborativa e criativa de aprender fazendo é característica de metodologias ativas (ARAÚJO; SASTRE, 2009).

Pela metodologia da aprendizagem baseada em problemas, foi possível explorar os conhecimentos prévios dos mestrandos acerca do assunto e o potencial investigativo que contribuiu para aprofundar os conhecimentos já existentes, além de construir novos saberes. Nessa fase, os mestrandos trabalharam individualmente, produziram sínteses por meio da reflexão e da pesquisa. Na etapa final, em pequenos grupos, as informações trazidas foram discutidas e integradas em uma síntese coletiva, resultando neste trabalho.

Alguns trechos das sínteses individuais que responderam à questão de aprendizagem proposta foram trazidas para este artigo.

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Um dos grandes desafios da educação em nosso país é ofertar educação de qualidade a todos os brasileiros e que a escola, junto aos professores, desperte em seus alunos o desejo e o encantamento pelo conhecimento. Mas, para que isso aconteça, é fundamental que a formação do professor seja uma ação que concilie aprendizagens com bases teóricas e práticas de ensino, bem como resulte em aprendizagens significativas para o professor-aluno, de forma que isso se converta em um ensino em sala de aula rico em experiências e aprendizagens significativas para os alunos (MESTRANDO 1).

Um dos grandes desafios da educação no Brasil de hoje é garantir as conquistas referentes à Educação Escolar Indígena, alcançadas nas últimas décadas. Durante muito tempo, o índio foi percebido como um sujeito descontextualizado, um “ser primitivo”, não civilizado.

Apesar da garantia na legislação, o que se percebe na prática é que a Educação Escolar Indígena não acontece como deveria. A educação escolar bilíngue e intercultural não se efetiva, sendo poucas as Escolas Indígenas que alcançaram sucesso, pois existe uma necessidade em formar professores capacitados a trabalhar nesta perspectiva. As escolas indígenas deveriam ter professores de suas próprias comunidades, capazes de compreender seus aspectos culturais, integrando-os aos saberes escolares, saberes estes tão importantes para o grupo e desvalorizados por quem não é pertencente a este (MESTRANDO 2).

Seguem mais colocações:

Outro desafio é combater o preconceito existente quanto aos povos indígenas, garantindo o estudo das tradições in- dígenas e sua valorização nos currículos escolares das es- colas de todo o país. O que percebemos é que nos materiais didáticos ainda está muito presente a visão etnocêntrica do índio “selvagem”, não civilizado. Neste ponto cabe à formação de professores este papel, seja esta feita inicial- mente nos cursos de graduação, ou nos cursos de formação continuada (MESTRANDO 2).

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Um primeiro desafio percebido na Educação de Jovens e Adultos refere-se à formação inicial e continuada dos edu- cadores. Entendo que as Políticas Públicas voltadas para a EJA deveriam garantir não somente o acesso e permanên- cia desta parcela da sociedade, mas também o êxito escolar e a possibilidade de continuidade de formação dos jovens e adultos do país. É preciso vencer o caráter compensatório e político partidário dado a tais políticas, mas para isso será necessário o fortalecimento do diálogo entre os atores na elaboração, execução e regulação das políticas para que estas atendam o bem comum (MESTRANDO 3).

Com o advento das tecnologias, novos desafios se apre- sentam para a Educação, em todos os níveis. Tecnologias essas que, utilizadas de forma adequada, de modo con- textualizado, enriquecem os processos de ensino e apren- dizagem. A utilização dos recursos digitais no ambiente escolar desafia o professor a desenvolver saberes docentes, baseados numa reflexão crítica. É necessário que se invis- ta na formação dos professores, para que as tecnologias se tornem de fato uma ferramenta a mais, dentre os recursos que facilitam os processos de ensino aprendizagem (MES- TRANDO 4).

Os avanços nos estudos individuais foram embasados em artigos da Constituição Federal (BRASIL, 1988) e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (BRASIL, 1996), além de diretrizes educacionais do país e de autores que pesquisam sobre as políticas públicas contempladas na discussão.

Percebe-se, através das falas, que os objetivos proporcionados pela atividade foram alcançados, uma vez que ocorreu envolvimento, pesquisa, argumentação e ressignificação dos saberes de políticas públicas educacionais. Essa troca de conhecimentos proporcionada pela segunda seção tutorial reforça o pensamento de Gomez (2004) ao dizer que a educação cooperativa oportuniza a troca de ideias, o redimensionamento dos saberes já existentes e o desenvolvimento de novos, o envolvimento com a proposta e o comprometimento com os envolvidos.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As metodologias ativas de aprendizagem buscam desen- volver o ensino de qualidade por meio de uma práxis em que o aluno desenvolva suas potencialidades a partir da problemati- zação de questões que fazem parte de sua realidade (BERBEL, 2011). As aprendizagens surgem das discussões e análises feitas pelos estudantes quando desafiados a terem um posicionamento crítico-reflexivo diante de problemas que os rodeiam.

A aprendizagem construída tendo como ponto de partida um problema elaborado pelos próprios aprendentes possibilita a compreensão do todo na construção do conhecimento, afastando- -se, portanto, do modelo tradicional de educação, no qual o aluno geralmente recebe conhecimentos prontos, acabados e sem a pos- sibilidade de discuti-los.

Assim, metodologias ativas e inovadoras, a exemplo da Aprendizagem Baseada em Problemas (PBL), proporcionam aprendizados significativos. O desafio de aprender a partir de um problema elaborado de forma coletiva já é um fator de motivação e, em se tratando de educação de qualidade, nada mais justo de que o processo envolva os atores que fazem a educação acontecer.

Foi uma maneira diferente de estudar políticas públicas educacionais. A atividade, da maneira com que foi conduzida, foi estimulante, envolvente e dinâmica, ou seja, verdadeiramente ativa, isto mostra que é possível tornar agradável o estudo de qualquer temática, independentemente de sua complexidade. Portanto, a grande contribuição dessas metodologias para nossa formação é que percebemos que aprendemos mais fazendo abordagens sobre a realidade em que estamos inseridos e problematizando-as. Além disso, aprendemos muito a partir de conhecimentos que julgávamos estarem prontos e acabados.

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REFERÊNCIAS

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