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(1)

Guidugli RB, Hamrick PA, Rezende NF

98 J Pneumol 29(2) – mar-abr de 2003

Pericardite tuberculosa em portadores da

síndrome de imunodeficiência adquirida

*

RUGGERO BERNARDO GUIDUGLI1, PAUL ALBERT HAMRICK2, NANCY FIGUEIROADE REZENDE2

Dois pacientes portadores do vírus H IV deram entrada no serviço de emergência bastante dispnéicos, exibindo sinais clínicos e de imagens sugestivos de derrame pericárdico. Realizada inicialmente a punção do líquido, sua análise não mostrou especificidade e os doentes não apresentavam evidência de melhora clínica. Foram, então, submetidos a uma janela pericárdica subxifóidea, foi drenado todo o líquido de efusão e realizada a biópsia do tecido pericárdico, o que revelou processo granulomatoso. Logo após o início do tratamento específico, os pacientes apresentaram boa

evolução. Tais achados chamaram a atenção para a etiologia tuberculosa como causa de sufusão pericárdica em portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida. Essa associação pode ser mais importante no Brasil, onde existe alta prevalência de tuberculose. Os resultados mostraram também que a realização de uma janela pericárdica

subxifóidea permitiu boa drenagem do fluido e, junto com a ministração do esquema tríplice, possibilitou a boa evolução dos pacientes. (J P n e u m o l 2 0 0 3 ;2 9 (2 ):9 8 -1 0 0 )

Tuberculosis pericarditis in patien ts with

A IDS

Two quite dyspn eic H IV positive patien ts were adm itted to the Em ergen cy R oom ; they presen ted with aspects an d im ages suggestin g pericardial effusion . T he an alysis of an in itial liquid pun cture did n ot show an y specificity an d the patien ts did n ot register an y clin ical im provem en t. Both patien ts were subm itted to a subx iphoid pericardial win dow, all the effusion liquid was drain ed, an d a biopsy of the pericardium tissue was

com pleted revealin g a gran ulom atous process. Good evolution was the result of specific treatm en t. S uch fin din gs draw atten tion to a high possibility of pericardial suffusion in A IDS patien ts bein g tuberculosis, in

particular if on e con siders the high prevalen ce of this disease in Brazil. T he results also showed that the open in g of a subx iphoid pericardial win dow an d the specific triple schem e is a procedure that leads to good

therapeutic evolution in this k in d of patien ts.

RELATO DE CASO

* Trabalho realizado no Hosp ital Ip iranga, São Paulo, SP.

1 . Cirurgião do Serviço de Cirurgia de Tórax. Mestre em Técnica Op e-ratória e Cirurgia Exp erimental.

2 . Infectologista.

E n d e re ço p ara co rre sp o n d ê n cia – Rugge ro Be r n a rdo Guidugli,

Amiamsp e, Rua Borges Lagoa, 1 .8 5 5 – 0 4 0 3 8 -0 3 4 – São Paulo, SP.

Re ce bido p ara p ublicação e m 9 / 1 2 / 0 2 . Ap ro vado , ap ó s re vi-s ã o , e m 1 2 / 2 / 0 3 .

S iglas e abreviat uras ut ilizadas n est e t rabalho

AIDS – Síndrome de imunodeficiência adquirida HIV – H um an Im m un odef icien cy Virus BK – Bacilo de Koch

Descrit ores – Pericardite. AIDS. Tuberculose. J anela pericárdica.

Key words – Pericarditis. AIDS. Tuberculosis. Pericardial window.

pode não apontar especificidade. Isso nos obrigará à rea-lização de uma biópsia.

Essa situação ocorreu em dois de nossos pacientes. Seus relatos nos ajudarão a conduzir melhor essa associação.

R

ELATO DOS CASOS

Cas o 1

Homem, 3 1 anos, portador do vírus H IV e em trata-mento com drogas antivirais bem como trimetoprim e sulfametoxazol para pneumocistose. Deu entrada no ser-viço de emergência com intensa dispnéia.

Ap re se n ta va -se fe bril (T 3 7 , 6oC ), ta quicá rdico (P

1 2 0 bpm) e a radiografia simples de tórax mostrava au-mento da área cardíaca com infiltração intersticial

pulmo-I

NTRODUÇÃO

Na atualidade, grande número de efusões pericárdicas estão relacionadas às patologias da AIDS(1 ,2 ) e, entre nós,

a tuberculose, por sua elevada prevalência, sempre deve-rá ser lembrada como etiologia de pericardite em pacien-tes portadores do vírus H IV.

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J Pneumol 29(2) – mar-abr de 2003 99

Pericardite tuberculosa em portadores da síndrome de imunodeficiência adquirida

nar difusa, que foi interpretada como pneumocistose e tratada com trimetoprim e sulfametoxazol (Figura 1 ).

Cogitou-se a hipótese de derrame pericárdico, confir-mado por exame ecocardiográfico.

Tendo sido submetido a punção pericárdica, foram re-movidos aproximadamente 1 5 0 ml de líquido amarelo-ci-trino, que revelou celularidade com 5 4 % de linfócitos, 4 0 % de neutrófilos, proteína 4 ,2 g/ l, glicose 1 8 g/ l. ADA, nega-tiva. Foi encaminhada amostra para cultura de BK. Pela piora da dispnéia e do quadro clínico, optou-se pela rea-lização de uma janela pericárdica subxifóidea e biópsia. Foi realizada sob anestesia geral e houve saída de aproxi-madamente 2 8 0 ml de líquido, tendo sido deixado dreno de mediastino.

Houve rápida melhora da dispnéia e o resultado da bióp-sia revelou pericardite tuberculosa (Figura 2 ), permitindo a introdução do esquema tríplice e resultando em melho-ra significativa e rápida do estado gemelho-ral.

A cultura de BK demorou 4 5 dias e também se revelou positiva.

O paciente foi seguido durante nove meses e não se constatou recidiva dos sintomas.

Cas o 2

Homem, 4 5 anos, admitido no serviço de emergência com tosse e intensa falta de ar. Ao exame clínico se apre-sentava bastante dispnéico, taquicárdico e febril (T 3 7 ,9oC).

A radiografia simples de tórax mostrava aumento da área cardíaca com múltiplas áreas de condensação pulmonar. A tomografia computadorizada evidenciava zonas de condensação alveolar e infiltração intersticial retículo-no-dular (Figura 3 ), que foram interpretadas como provável tuberculose, o que não foi confirmado pelo exame bacte-rioscópico.

A sorologia para vírus H IV foi positiva (teste Elisa e Western blot) e a suspeita de derrame pericárdico foi con-firmada por exame ecocardiográfico.

O paciente foi submetido a uma punção pericárdica com saída de aproximadamente 1 2 0 ml de líquido amare-lo-citrino, cuja celularidade revelou 4 0 % de neutrófilos, 6 0 % de linfócitos, glicose 2 6 g/ l, proteínas 3 ,8 g/ l, ADA

negativo e bacteriologia negativa.

Em virtude de exibir aumento progressivo da dispnéia, foi submetido a uma janela pericárdica subxifóidea sob anestesia geral, dando saída a 2 4 0 ml de líquido amarelo-citrino. No pós-operatório houve melhora franca da dis-pnéia e o exame histopatológico da peça revelou tam-bém pericardite tuberculosa.

Após os primeiros dias do esquema tríplice, observou-se rápida melhora do estado geral, bem com do quadro Figura 1 – Radiografia simples de tórax póstero-anterior, do

primei-ro paciente, mostrando aumento da área cardíaca, sugerindo efu-são pericárdica e infiltração pulmonar intersticial difusa

Figura 2 – Corte histológico corado pela hematoxilina-eosina, em maior aumento (250x) de tecido pericárdico do primeiro paciente. Áreas de necrose caseosa circundadas por células de Langhans e infiltração linfocitária.

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pulmonar. Seguido durante nove meses, não mostrou si-nais de recidiva da doença.

D

ISCUSSÃO

Antes do surgimento da AIDS as efusões pericárdicas tinham como principal causa a uremia, as malignizações e as pericardites virais(1 ).

Na atualidade, nos grandes centros urbanos, as etiolo-gias das pericardites estão relacionadas principalmente às patologias da AIDS(2 ). Nos países africanos a tuberculo-se é responsável por 1 0 0 % dos casos de pericardite em indivíduos portadores da síndrome(3 ,4 ).

No Brasil, acreditamos que as pericardites tuberculosas ocupem espaço importante entre as efusões pericárdicas do vírus H IV. Contudo, em virtude da possibilidade da as-sociação com múltiplos agentes oportunistas que também podem causar derrame pericárdico e da pouca especifici-dade nos resultados da análise do líquido, persiste certa dificuldade em consubstanciar o diagnóstico.

O derrame pericárdico pode ser o primeiro sinal de tuberculose localizada ou disseminada e, normalmente, resulta no comprometimento do saco pericárdico por lin-fonodos do mediastino contaminados p ela micobacté-ria(5 ,6 ).

O líquido pericárdico, normalmente, é um exsudato de aspecto amarelo-citrino com aumento do número de lin-fócitos e glicose baixa. Sua cultura nem sempre resulta positiva para o bacilo. Se não for convenientemente es-vaziado, resultará na formação de fibrina, septações e gra-nulomas com aderência e espessamento de folhetos, evo-luindo para pericardite crônica constritiva. Sabe-se que os corticóides trazem algum benefício, impossibilitando o reacúmulo do líquido, mas ainda não há dados referentes na literatura sobre a prevenção da pericardite constriti-va(7 ).

A completa e permanente drenagem do líquido de efu-são seria a melhor maneira de evitar futura constrição das câmaras cardíacas(8 ).

Torna-se, então, imprescindível a remoção do líquido de derrame e a realização de exame histopatológico do pericárdio para confirmação diagnóstica.

A janela pericárdica subxifóidea constitui procedimen-to cirúrgico de baixa morbidade, permite a procedimen-total drena-gem do líquido de efusão e a remoção de fragmento de tecido comprometido. Em precárias condições do pacien-te, pode ser até executada sob anestesia local(9 -1 1 ).

Flum et al.(1 2 ), numa revisão de 2 9 casos de AIDS com

efusão pericárdica, submetidos a uma janela pericárdica

ou a uma toracotomia, concluem que a pericardite em pacientes com AIDS está relacionada a mau prognóstico. Tais procedimentos cirúrgicos não trariam benefícios aos pacientes devido às complicações pós-operatórias.

Nossos doentes apresentavam-se bastante dispnéicos e a janela pericárdica permitiu rápida melhora clínica. A execução da biópsia possibilitou o tratamento adequado, mostrando a boa evolução dos pacientes.

Acreditamos que, em nosso meio, nos portadores do vírus H IV que desenvolvam derrame pericárdico e apre-sentem inconclusivo o exame do líquido obtido por pun-ção, exista grande possibilidade de tratar-se de tuberculo-se. Nesse caso, a realização de uma janela pericárdica subxifóidea constituiria conduta adequada.

Esse procedimento possibilitaria a realização de uma biópsia, configurando o diagnóstico e a total e perma-nente drenagem do líquido de efusão, prevenindo a peri-cardite constritiva.

R

EFERÊNCIAS

1 . Chen Y, Brennessel D, Walters J , J ohnson M, Rosner F, Raza M. Im-munodeficiency virus associated p ericardial effusions – Rep ort of 4 0 cases and review of the literature. Am Heart J 1 9 9 9 ;1 3 7 :5 1 6 -2 0 .

2 . Schiller M, Gordon AS, Eisemberg M. HIV associated p ericardial effu-sions. Chest 1 9 9 2 ;1 0 2 :9 5 6 -8 .

3 . Cegielski GJ , Ramiya K, Lallinger GJ , Mtulia IA, Mbaga IM. Pericar-dial disease and human immunodeficiency virus in Dar es Salaam, Tan-zania. Lancet 1 9 9 0 ;3 3 5 :2 0 9 -1 2 .

4 . Cegielski J P, Lwakatare J , Dukes CS, Lema LE, Lallinger GJ , Kitinya J , et al. Tuberculous p ericarditis in Tanzania p atients with HIV infec-tion. Tuber Lung Dis 1 9 9 4 ;7 7 5 :4 2 9 -3 4 .

5 . Lewis W. Aids: cardiac findings from 1 1 5 autop sies. Prog Cardiovasc Dis 1 9 8 9 ;3 2 :2 0 7 -1 5 .

6 . Klatt EC, Meyer PR. Pathology of the heart in AIDS. Arch Lab Pathol Med 1 9 8 8 ;1 1 2 :1 1 4 -6 .

7 . Strang H, Kalxaza HHS, Gibson DG. Controlled clinical trial of com-p lete ocom-p en surgical drainage and of com-p rednisolone in treatment of tuber-culous p ericardial effusion in T. Lancet 1 9 8 8 ;2 :7 5 9 -6 4 .

8 . Desai HN. Tuberculous p ericarditis: a review of 1 0 0 cases. S Afr Med J 1 9 7 9 ;5 :8 7 7 -8 0 .

9 . Millis SA, J ukian S, Hollyday RH, Visteu-J ohansen J , Case LD, Huds-p eth AS, et al. SubxiHuds-p hoid Huds-p ericardial window for Huds-p ericardial effusion disease. J Cardiovasc Surg 1 9 8 9 ;3 0 :7 6 8 -7 3 .

1 0 . Lennin BH, Aaron BL. The subxip hoid p ericardial window. Surg Gy-necol Obstet 1 9 8 2 ;1 5 5 :8 0 4 -6 .

1 1 . Fontenelle LJ , Cuello L, Dooley BN. Subxip hoid p ericardial window. A simple and safe method for diagnosing and treating acute and chronic p ericardial effusions. J Thorac Cardiovasc Surg 1 9 7 1 ;6 2 :9 5 -7 .

Imagem

Figura 2 – Corte histológico corado pela hematoxilina-eosina, em maior aumento (250x) de tecido pericárdico do primeiro paciente.

Referências

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