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Revista CIB- Ciência da Informação e Biblioteconomia v. 1, n.1, 2015.

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Revista CIB- Ciência da Informão e Biblioteconomia v. 1, n.1, 2015.

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Revista CIB- Ciência da Informão e Biblioteconomia v. 1, n.1, 2015.

EDITORIAL

Caros leitores,

É com satisfação que nós, alunos do terceiro em 2015 da Faculdade de Biblioteconomia da PUC Campinas estamos publicando o primeiro volume do periódico CIB – Ciência da Informação e Biblioteconomia, desenvolvido por alunos para a disciplina de Editoração Científica, composto por produções acadêmicas dos discentes da faculdade e de outros cursos, tratando essencialmente de temáticas relacionadas à Biblioteconomia e Ciência da Informação.

A revista propõe a publicação com periodicidade anual de seus volumes, concomitantes com a disciplina de Editoração. A proposta da revista é bastante aberta e os assuntos a serem contemplados são diversificados, tendo como foco a reprodução e comunicação de trabalhos acadêmicos, além da disseminação de conhecimento dos discentes.

Os trabalhos submetidos são materiais desenvolvidos nas disciplinas que fazem parte dos currículos dos cursos. A partir destes trabalhos, os colegas gentilmente adaptaram seus trabalhos para artigos e hoje, estão publicando-os em nossa revista, uma vez que tais trabalhos obtiveram conceituação acima de oito nas avaliações efetuadas pelos docentes.

A proposta do periódico, além da experiência com a Editoração por parte de nossa turma, é desenvolver na prática as etapas necessárias para a criação de um periódico e promover a experiência da publicação científica com autonomia. É ainda uma primeira experiência aos alunos a estarem publicando cientificamente de maneira autônoma.

Quanto aos assuntos tratados neste primeiro fascículo, os trabalhos falam sobre leitura no Brasil colonial, trazendo uma breve reflexão sobre o assunto e charges como fontes de informação em bibliotecas, sendo este, uma adaptação de trabalho de conclusão de curso da autora, aluna do último período de biblioteconomia desta faculdade.

Tenha uma ótima leitura, Alunos Biblio PUC-Campinas Novembro de 2015.

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Revista CIB- Ciência da Informão e Biblioteconomia v. 1, n.1, 2015.

LEITURA E LIVROS NO BRASIL COLONIAL

Luana Cristina Silva ¹

Resumo

O presente trabalho aborda um breve estudo sobre como se dava a prática da leitura, sobre o leitor no Brasil do período colonial. Traz ainda títulos e temas mais lidos, bem como os proibidos, contextualizando o período e relacionando com a significância do livro na época.

O estudo foi realizado com respaldo em três livros com a mesma abordagem temática e foco de estudo, e apresentando dados como datas e títulos. Como conclusão, o estudo apresentou a formação do leitor e da importância da literatura desde o Brasil colonial e por fim foi feito um comparativo entre o período contemporâneo o colonial.

Palavras-chave: Brasil colonial. Leitor no Brasil. Influência europeia. Formação do leitor.

INTRODUÇÃO

Sabe-se que a leitura durante o período colonial era restrito, somente a realeza e os nobres possuíam capacidade intelectual e financeira que os permitissem ler. A partir disto, destaca-se as bibliotecas particulares, e seus donos cultos e/ou eruditos que possuíam suas coleções como símbolo de nobreza e status e também para que aderissem conhecimento e intelectualidade.

TEMAS E O LEITOR

Os temas abordados eram os mais diversos, variando entre teologia, belas letras,

jurisprudência, ciências e artes, história, periódicos, panfletos políticos, dentre outros temas e assuntos. De uma forma mais detalhada podemos encontrar em ordem cronológica sobre alguns dos temas mais lidos em cada século (entre XVI e XIX) e uma relação do contexto social e o perfil dos leitores, retirados do livro O perfil do leitor colonial de Jorge de Souza Araujo. Veja abaixo no quadro.

Quadro - Relação de temas lidos, o contexto social, o perfil dos leitores em cada século segundo o livro de Jorge de Souza Araújo: Perfil do Leitor Colonial.

(1999)

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¹ Graduanda em Biblioteconomia: 2015. (4º período). Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

luanacs_mg@hotmail.com

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Século Temas Perfil do leitor

XVI De ordem religiosa (p. 23; 24;

25; 26; 27; 28)

Religiosos; (atrasado, não eruditos, decadentes de Lisboa, interessados em extrair e colonizar e escravizar ao invés de se interessar por cultura)

XVII Pedagógico jesuítas (p. 45);

Educação holandesa cristã para índios e negros (p. 47- 49);

Ainda desconhecidos de grandes obras. Grandes e famosos livros eram publicados porém o Brasil colonial os desconheciam. (p.

48). Alguns escritores publicavam em Portugal.

XVIII Predominância de obras de devoção, clássicos latinos, gramáticas e dicionários, Ciência naturais e Filosofia.

Muitos de literatura e filosofia francesa e muita pregação moralista. Começa a se impor obras de enciclopedistas franceses, relatos de viagem, obras de Direito Natural (vocação de curiosidade por notícias do mundo civilizado).

(p.62)

Começam a aderir mais cultura, porém ainda não são críticos e políticos a ponto de debater sobre sua cultura etc., os filhos começam a estudar fora. Começam a se espelhar mais em países Europeus como a França. (p. 61)

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XIX Artes e Ciências;

Relação de livros enviados:

História; Tratados; Cultura;

Edifícios ruraes (p.158);

Teatro (Dramaturgia, comédia em MG) etc.

Mudança política/social e administrativa no país. O perfil sociológico do leitor não muda “abastado ou de classe média, conservador e liberal, ainda preso ao limite da devoção religiosa e ao profissionalismo [...]” (p.

149). O ministro era advertido por dar pouca importância ao livro que havia recebido (p.

151); O governador impunha que nas escolas fossem lidos livros de ordem poética para que fosse entoado na chegada do príncipe.

Fonte: Elaborado pelo autor

PRESENÇA EUROPEIA, SOBRETUDO A FRANCESA, NA CONSTRUÇÃO CULTURAL E NOS ACERVOS DAS BIBLIOTECAS

Segundo Araújo (1999), havia uma notável preferência pelo idioma francês.

Ferreira (1999), também confirma ao dizer que os leitores liam os clássicos autores, e mais uma vez a preferência era dada aos franceses ou os que pelos franceses eram comentados. Algumas das obras proibidas

eram os de alguns autores franceses como Volney, Mirabeau, Voltaire, Rosseau, La Fontaine, livro sobre a Revolução Francesa etc. Livros que só foram “permitidos” ser lidos após as transformações políticas e sociais e ideológicas. Estes mesmos foram sendo introduzidos na Educação (escolas) aos poucos e nas bibliotecas públicas e particulares.

Estas influências estavam impregnadas na formação dos médicos, tanto pela presença no idioma bibliográfico, no acervo usado (livros, métodos, regulamentos e

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programas) quanto na formação destes na França. Já nos inventários, os livros de medicina era símbolo de ostentação, e estes livros também se encontravam em francês.

Ferreira (1999) descreve esse profundo envolvimento com a França como “[...]

namoro da elite com a França...”. Até mesmo nos anúncios dos jornais, onde era notificado leilões de bibliotecas, ou de aquisições, eram feitos nesse idioma.

De volta à Araújo (1999), ele afirma que a Europa (capitaneada pela França) era terra de revolucionários, e que o mundo inteiro se escorava no modelo iluminista ou da ilustração. Isto durante o século XVII, quando também os filhos de nobres vão estudar na Europa, sendo mais comum na França.

Recorrendo ao livro de Rubens Borba de Moraes (2006), Livros e bibliotecas no Brasil colonial, encontraremos mais provas de que a França e outros países europeus se fizeram notáveis e presentes no Brasil colonial. Durante a fundação da biblioteca pública da Bahia era recebido obras, que incluía periódicos científicos além das literaturas e outros tipos de livro. Um dos periódicos recebidos eram vindos de Londres e também da França. Moraes diz em seu livro “A literatura francesa clássica é tão boa que chamou a atenção de Tollenare.”. Mais atrás, neste mesmo livro, num capítulo em que Moraes deu por nome

“A censura” ele diz “Era da França que vinham os livros ‘promotores da religião filosófica que é a mania e ajuste do século’

[...]”. E continua “[...] é notável a preeminência de livros franceses, ou traduzidos para o francês.” Ele afirma ainda que muitos filósofos da ilustração francesa era lido por ser levado em conta a mentalidade dos governantes, como Rosseau, por exemplo.

BEST SELLER´S E OBRAS FAMOSAS

Seguindo como exemplo a biblioteca do Dr. Mello e Matos, citado por Ferreira, vê- se que a presença de livros em francês é notável, tanto em suas obras para uso profissional quando no de Belas letras.

Encontra-se também teologia, Ciências e Artes, História etc.

Em sarau e eventos eram feitas leituras orais (em voz alta, ou leitura coletiva), de

poesia ou literatura.

Nos anúncios de leilões, em meados do século XIX, eram destaques autores tais como Victor Hugo, Rosseau, Dumas, Montesquieu, Benjamin Constant (nos franceses), Camilo Castelo Branco, Herculano, Garret e Camões (dos portugueses). Depois da década de 70 os em alemão e em inglês ganham destaque como Shakespeare, Goethe, Proundhon,

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Walter Scott etc. O uso de dicionário também se ampliava.

Segundo Araújo (1999), no Brasil era lido Aristóteles e Platão, mas simplesmente por

“força de interpretação doutrinária”. Uma passagem no livro diz: “O brasileiro portanto, leu, e muito, a literatura pelo gênio clássico. Fora disso, leu as obras de eficiente circularidade de sua época (...)”.

Abaixo lista de alguns livros mais lidos, segundo Araújo (1999), cujo tema é

“ficcional de ordem moralista”:

● Aventuras de Telêmaco, de Fénelon;

● Reflexões sobre a vida de dois homens, de Matias Aires;

● Mística cidade de Deus, de Madre Maria de Agreda;

● Compêndio narrativo do peregrino da América, de Nuno Marques Pereira;

● História de Gil Blas de Santilha, de Allain Le Sage;

● O Feliz independente do mundo e da fortuna, de Teodoro de Almeida.

Abaixo lista de alguns livros encontrados em inventários e outros lidos entre XVI e XIX segundo Livros e bibliotecas no Brasil Colonial:

● Retábulo da vida de Cristo;

● Instruções para confessores;

● Mistério da Paixão;

● Crônica do grão-capitão;

● Vida cristã;

● Ordenações de Sua Majestade;

● Peregrino da América;

● Contrato social, e outros.

Abaixo lista de algumas obras, e alguns autores, lidos e/ou proibidas segundo Livros e bibliotecas no Brasil Colonial:

-Filósofos da Ilustração francesa:

● Montesquieu;

● Rousseau;

● Voltaire;

● Condorcet;

● Condillac;

● Diderot;

● Mably;

● Raynal, e outros.

-Obras proibidas ou que necessitavam de licença para serem lidas:

Réflexions sur la métaphysique du calcul infinitésimal;

● Viagens de Gulliver;

● Riquezas das Nações;

Fables;

Voyage du jeune Anacharsis en Grèce, e outros.

CONCLUSÃO

Concluímos que a leitura não era tão comum no princípio, se não aqueles usados para catequização. Com o passar do tempo a leitura foi se tornando mais presente no país, os temas foram se diversificando e o

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francês, inglês estiveram presentes até ser substituído definitivamente pelo português.

O acesso à leitura era extremamente limitada e restrita, porém se torna democrática e acessível a partir do século XIX (mais precisamente no final), quando bibliotecas passaram a ser públicas. Os autores das três obras abordadas, para serem aqui utilizadas, afirmam a forte influência europeia na construção do país (cultura, idioma, bibliografia etc.), o que nos prova que o país possui vestígios que foi deixado pela Europa (mais especificamente pela França).

No Brasil contemporâneo temos uma grande contradição. O acesso à leitura é mais democrática que no período colonial, porém parcialmente. Existe um número significativo de analfabetismo no país, e talvez maior ainda de pessoas que saibam ler porém não “exercitam”. Temos também o caso de jovens leitores que são apaixonados por literatura e uma prova disso é a famosa “Bienal do Livro” em que milhares de leitores conhecem pessoalmente ídolos literários e ganham autógrafos.

Com relação à ostentação ou possuir livro por status, é algo que tem permanecido.

Com o advento das tecnologias o acesso se torna mais amplo e rápido, porém, existem fiéis leitores dos livros de suporte físico ao invés de digitais e e-books.

Importante também ressaltar sobre a

inclusão, atualmente pessoas com deficiências, como visuais, têm a oportunidade de se adentrarem no mundo da literatura (seja acadêmica, seja apenas literária) através de recursos midiáticos, em áudio, braile etc.

Quanto a leitura coletiva, ainda se é feito.

Por exemplo em saraus, ou “hora do conto” geralmente voltada ao público infantil. E temos também com relação à doação de coleções particulares para instituições públicas, coisa que se é feito ainda significantemente.

Algumas coisas se preservaram, em outros aspectos evoluímos muito. No decorrer da história da construção do nosso país foi-se tendo os livros como símbolo de grande valor, e tem-se, preservado tal reverência ao mundo dos livros. A única certeza é a de que os livros podem revolucionar a sociedade dirigindo-a a um patamar maior, ao mundo do conhecimento.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, J. de S. Perfil do leitor colonial. Salvador: Editus, 1999. 508 p.

FERREIRA, T. M. T. B. da C. Bibliotecas de médicos e advogados do Rio de Janeiro:

dever e lazer em um só lugar. In.: ABREU, M. (Org). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de letras:

Associação de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999. p. 313-333.

MORAES, R. de B. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. 2. ed. Brasília, DF:

Brinquet de Lemos, 2006. 259 p

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CHARGES COMO FONTE DE INFORMAÇÃO PARA PROFESSORES E BIBLIOTECÁRIOS: RELAÇÃO ENTRE ENSINO E BIBLIOTECA

Sirlene Aparecida Casagrande ¹

Resumo

O objetivo deste trabalho é a compreensão da linguagem das charges visando um maior entendimento de como ocorre o processo de construção de sentido, o que torna um meio facilitador de transmissão informacional, possibilitando a reflexão da importância da charge no âmbito educacional, social, cultural, sociopolítico, bem como do trabalho do professor e do bibliotecário quanto à formação crítica da criança a partir dos oito anos de idade, tomando como base charges que apresentem linguagem acessível aos discentes dessa faixa etária. O método utilizado neste trabalho foi um estudo do tipo exploratório com delineamento de pesquisa bibliográfica. Os resultados apontam que as charges colaboram no processo de construção de sentido a partir do conhecimento de mundo que o leitor apresenta;

as charges facilitam a transmissão da informação por ser uma linguagem de fácil veiculação e propiciam aprendizado através da reflexão, pois têm a capacidade de gerar diversos pontos de vista, obrigando o leitor, de qualquer idade – desde que seja adequada à sua faixa etária – , a relacionar a função do ser social em todos os campos de realização enquanto cidadão crítico.

Palavras-chave: Charges. Educação. Informação. Ensino Fundamental. Métodos e processos de ensino. Formas de instrução de ensino.

___________________

¹ Graduanda em Biblioteconomia: 2015. (8º período). Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

sirlene_casagrande@hotmail.com.

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Abstract

The objective of this work is the comprehension of the language of the charges having in mind a major understanding of how the process occurs, which makes it a facilitator means of the informational transmission, enabling the reflection of the importance of the charge in the education, social, cultural, sociopolitical field, as well as in the teacher’s and the librarian’s work in reference to the critical formation of the children starting at the age of eight years old, having as a basis charges which show accessible languages to the students of this age.

The method used in this work was a study of the exploratory type in the form of bibliographic research. The results show that the charges help in the process of construction of the understanding, starting of the knowledge of the world in which the reader presents; the charges ease the transmission of the information for being a language of easy access and offers apprenticeship through reflection, because they have the capability to generate many different points of view, making the reader of any age – since it is adequate to their age –, relate to the function of the social being in all the fields of realization while a critical citizen.

Key-words: Charges. Education. Information. Fundamental teaching. Methods and processes of teaching. Forms of instruction of teaching.

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INTRODUÇÃO

Se informação é entendida como um conhecimento registrado (LE COADIC, 2004) com a competência de gerar outro conhecimento, charge é um gênero textual contemporâneo que oferece os mais variados tipos de informações. Contem um posicionamento crítico e de confronto de opiniões a respeito da organização social, dos arranjos políticos e da disputa de poder, retratando o cotidiano em questões sociais, culturais, políticas, educacionais, esportivas.

Mas afinal, o que realmente é charge?

Charge é um texto de humor que dialoga especificamente com fatos do noticiário. É uma leitura irônica de alguma informação, reportada ou não no jornal ou site em que foi veiculada. Quando tem como personagem algum político ou personalidade, é comum o uso da caricatura para reproduzir as feições da pessoa representada. É comum o assunto presente na charge estar diretamente ligado a uma reportagem, noticiada na véspera ou ao longo dos dias anteriores. Portanto, ela difere dos demais pela ironia presente, que é o traço mais marcante da charge que tem como função criticar, impressionar e provocar humor. Ela sugere uma intenção depreciativa ou sarcástica do chargista ao produzir um humor intrinsecamente relacionado ao riso de zombaria. As charges

submetem os atores políticos ao escárnio e os mostram como seres ridículos e derrisórios. Nesse contexto, tem sido objeto de grande valor quanto à educação.

Portanto, compreender como a Biblioteconomia tem trabalhado as charges como fonte de informação, conhecer as informações que as charges podem oferecer e avaliar sua potencialidade no quesito informação e conhecimento são as principais interrogativas deste trabalho, pois toda e qualquer linguagem que possa transmitir alguma informação ou conhecimento pode interferir e influenciar a construção da vida social e pessoal. As diferentes perspectivas e visões de mundo propõem críticas à realidade econômica, social e política de acordo com o contexto que se vive. Já a crítica, no âmbito científico, traduz estas realidades que servem à compreensão da situação crítica do país quanto à moral e a ética, com a nítida presença da corrupção

que assola nosso país.

Para a área científica essa temática tem enorme relevância, pois existem pouquíssimos trabalhos que abordam esse tema, possibilitando, portanto, a produção de outros trabalhos futuramente. Foi decisiva, na escolha do tema, a escassez de estudos na área da Biblioteconomia: as charges como fonte de informação podem estimular a

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imaginação e o raciocínio da criança, importante papel em sua formação; a diversificação de objetos de leitura para a formação de sua personalidade crítica, poderá capacitar o leitor a exercer leituras mais complexas. Para isso, os bibliotecários devem conhecer seus leitores e os professores, seus alunos. Deve ser um trabalho em conjunto para chegar ao objetivo principal que é a compreensão da mensagem que a charge oferece.

O contexto socioeconômico e político das charges (como as críticas de costume, referências críticas a política e a comportamentos e valores do cotidiano e crítica social - referência a problemas sociais) encontradas nos veículos de informação atuais, apresentam a realidade da sociedade brasileira. Diariamente, a presença de várias informações com humor crítico quanto à sociedade, à economia e à política brasileiras, servem à compreensão da situação caótica do país quanto à moral e à ética, com a nítida presença da corrupção que assola nosso país, através deste veículo de informação, que garante a potencialidade das charges como fontes de informação e conhecimento.

A procura pelo desenvolvimento crítico do ser humano desde sua infância é essencial para tornarem-se cidadãos que argumentem,

que analisem, que observem, que tenham a capacidade de discernir o certo e o errado na índole do seu próximo e também na sua. Que a única intenção é deixar o cidadão com antolhos para limitá-los à compreensão da realidade.

Assim, este estudo tem como propósito uma maior compreensão da linguagem das charges visando um maior entendimento de como ocorre o processo de construção de sentido, o que torna um meio facilitador de transmissão informacional, possibilitando a reflexão da importância da charge no âmbito educacional, social, cultural, sociopolítico, bem como do trabalho do professor e do bibliotecário quanto à formação crítica da criança a partir dos oito anos de idade, tomando como base charges que apresentem linguagem acessível aos discentes dessa

faixa etária.

Adotou-se o estudo do tipo exploratório com delineamento de pesquisa bibliográfica, com a metodologia de coleta de dados por meio de bases de dados como CAPES¹, BRAPCI², SciELO3 e REDALYC4. De acordo com Gil (2010) o estudo exploratório é entendido como o aprimoramento de ideias partindo da construção de hipóteses, além de ser adequado para a realização de prospecção de informação a partir de documentos já elaborados; seu planejamento

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é bastante flexível porque interessa considerar e estudar os mais diversos aspectos relativos ao o aprimoramento de ideias partindo da construção de hipóteses, além de ser adequado para a realização de prospecção de informação a partir de

documentos já elaborados; seu planejamento é bastante flexível porque interessa considerar e estudar os mais diversos aspectos relativos ao assunto em questão, por meio de levantamento bibliográfico.

2 CHARGES

A necessidade do ser humano de se comunicar e interagir para criar novos saberes e conhecimentos para sua posteridade, permitiu que criasse estratégias.

A princípio, o ser humano percebeu a importância de se registrar fatos e acontecimentos para serem reutilizados no futuro, tanto a curto como a longo prazo, pois o ser humano pré-histórico era nômade;

sendo assim, perderia todo seu conhecimento se não fosse registrado de alguma maneira, uma vez que não havia maneira alguma de levá-las consigo, a não ser através da fala, conhecimento este transferido de geração em geração.

Desta forma, desde a antiguidade até os dias atuais, os registros do conhecimento foram gravados em diversos suportes, como artefatos, argilas, peles de animais, cascas de árvores, madeiras, pedras, papiros, pergaminhos, palimpsestos, óstracos, pano, tábua, até inventarem o papel e os mais diferentes suportes como disquete, CD,

DVD, VHS, pen-drive, posters, transparência, blu-ray, HD, microfilme, online, microficha, fita magnética, discos em vinis.

Com o advento da escrita, a imagem não foi totalmente eliminada, mas parece ter sido relegada a um plano inferior de importância no processo de comunicação. Porém com a palavra impressa no surgimento da prensa de Gutemberg, no século XV - que possibilitou a produção em massa, a primeira explosão da informação -, a informação foi representada de forma mais fidedigna (GASQUE e RAMOS, 2012).

A partir da Revolução Industrial, a informação registrada passou a ser garantida com maior eficiência e eficácia. Porém, a terceira explosão da informação, que surgiu com as tecnologias da computação, no século XX, causa um disparate na organização das informações, dificultando seu acesso, como no início da civilização, que, de uma maneira filosófica, permite imaginar um círculo quanto ao domínio da

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informação registrada.

Charge vem da palavra francesa, que pode ser livremente traduzida como “carga”,

“tensão”, “exagero” ou “ataque”. Com efeito, uma charge é exatamente isso: um desenho de caráter crítico exagerado, que se refere a uma situação específica no âmbito social, cultural ou político. Justamente por isso, a charge é um importante elemento histórico e está atrelada a determinada época ou acontecimento.

Tratando-se de imaginação, para Mattos (2010) apresenta-se o imaginário como uma das formas representativas na linguagem, na cultura, e de forma afetiva na inteligência emocional, no psicológico, no cognitivo do ser humano. Interpretar uma imagem evoca reconhecer significações relacionadas a um amplo cenário de espaço e tempo, extrapolando o aqui e o agora; implica separar o que é pessoal do que é coletivo, as interações do autor e as interpretações dos diferentes leitores daquela imagem. A imagem é um meio de informação, o que justifica uma dependência entre a produção do sentido dado à imagem e a linguagem textual criada pelo leitor. Charge também é um texto polifônico, pois apresenta várias vozes em sua constituição e mantém relações intertextuais com outros.

E quando se associa ironia à caricatura surge

a charge. Atualmente, este tipo de gênero textual tem surpreendido a leitura diversificada, que, em outras ocasiões já foram consideradas leitura de massa.

Existem muitas obras sobre charges, sendo que suas imagens desperta cada vez mais a atenção dos leitores.

Assim, definindo-se caricatura como imagem e arte expressa, Feijó (2010) alerta que toda obra ilustrada é composta por três sistemas narrativos entrelaçados: o texto verbal (feito de palavras), o texto visual (a sequência de ilustrações, sejam desenhos, colagens, fotografias, pinturas) e o projeto gráfico (tipo de capa, tipo de papel, formato do livro, diagramação do texto, tipologia escolhida, disposição das ilustrações nas páginas...). E ainda que:

Um bom ilustrador pode valorizar muito o texto do escritor, assim como um mau ilustrador, ou um ilustrador inadequado para o texto, pode prejudicar a recepção da obra. Felizmente, o Brasil está muito bem servido de ilustradores. De Ziraldo a Roger Mello, de Rui de Oliveira a Renato Alarcão, de Regina Yolanda a Mariana Massarani, de Graça Lima a Guto Lins, de Nelson Cruz a Odilon Moraes, mais e mais artistas de talento brilham no mundo das ilustrações para crianças e jovens.

(FEIJÓ, 2010, p. 145)

A charge contém uma proposta reflexiva do panorama político, econômico, social, cultural e histórico. Mattos (2010) afirma

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que sua principal característica é influenciar a opinião dos leitores, mas também apresenta o poder de denúncia com momentos de entretenimento, porém o leitor precisa estar entrosado com a realidade da sociedade em que vive para reconhecer a denúncia em meio ao humor.

Ela se constitui em uma realidade inquestionável no universo da comunicação, dentro do qual pretende distrair, alertar, denunciar, cobrir além de levar à reflexão, ou seja, permite-se uma leitura completa quanto às informações nela contida.

3 LEITURA

Entre gregos e romanos ler e escrever significava ter educação para a vida, pois visava o desenvolvimento intelectual, espiritual e das aptidões físicas, o que capacitaria o cidadão a integrar-se à classe dos homens livres ou à sociedade.

Martins (1984) afirma que um sentido amplo, independentemente do contexto escolar, e para além do texto escrito, permite compreender e valorizar cada passo do aprendizado, cada experiência, que permite a descoberta de características comuns e diferenças entre os indivíduos, grupos sociais, culturas, o que evidencia a postura crítica.

Se concebermos o processo de leitura como um instrumento civilizatório de reflexão e compreensão da realidade, para Silva (1993), as funções sociais da leitura estariam amarradas ao processo de conscientização ou politização dos brasileiros e aos seus movimentos de luta por uma sociedade diferente da atual. A conscientização de um ser humano significa a superação de um status quo individual ou coletivo através do exercício da crítica dos fatos, das representações tidas como verdadeiras e dos nossos comportamentos sociais.

Para tanto, a leitura é um importante instrumento para a libertação do povo brasileiro e para o processo de reconstrução da nossa sociedade, pois liberta o leitor do automatismo o que efetiva a mudança para a liberdade e transformação do ser humano e da sociedade, se for extraída dela a inclinação política que a torna vigente.

Os objetivos gerais dos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais – 1998, p. 107) do Ensino Fundamental indicam que os alunos sejam capazes de:

Posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas;

Questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los,

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utilizando para isso o pensamento lógico, a criatividade, a instituição, a capacidade de análise crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.

A leitura, como exercício de cidadania, exige um leitor privilegiado, de aguçada criticidade, que, num movimento cooperativo, mobilizando seus conhecimentos prévios (linguísticos, textuais e de mundo), seja capaz de preencher os vazios do texto, que não se limita à busca das intenções do autor, mas construa a significação global do texto percorrendo as pistas, as indicações nele colocadas. E, mais ainda, que seja capaz de ultrapassar os limites pontuais de um texto e incorporá-lo reflexivamente no seu universo de conhecimento de forma a levá-lo a melhor compreender seu mundo e seu semelhante.

Segundo Martins (1984, p. 34) “enquanto permanecermos isolados na cultura letrada, não se pode encarar a leitura senão como instrumento de poder, dominação dos que sabem ler e escrever sobre os analfabetos ou iletrados”.

Leitura é a percepção e a decodificação de símbolos, integrando diversas informações para se captar a mensagem. A leitura é aplicável a diferentes tipos de texto, sejam narrativas verbais, mapas, partituras musicais, diagramas. Para ler textos escritos,

interpretamos palavras e frases. E para ler arte sequencial, precisamos interpretar imagens e sequências de causa e efeito.

Mas, isso não ocorre nas escolas atualmente por que:

O combate ao desgosto pela leitura da palavra começa pela compreensão crítica dos mecanismos e das manobras que vem sendo acionados com o objetivo de manter o povo brasileiro na ignorância e na alienação. O “perigo da leitura” projeta a função social da leitura. Manobras políticas contra a proliferação da cultura através da leitura

“distorce e fragmenta o conteúdo das obras de modo que a gênese dos fatos reais não seja descoberta através da leitura”. Assim, aquilo que o senso comum denomina de crise da leitura, desgosto pelos livros, falta de capacidade do povo para ler [...] é um aspecto da ideologia disseminada no seio da sociedade, que produz os efeitos esperados na manutenção da organização social vigente. (Silva, 1993, p. 10).

Logo, quanto maior o número de analfabetos, quanto mais o ensino real da leitura for distorcido no âmbito escolar e da sociedade, tanto melhor para a reprodução das estruturas sociais injustas, existentes no país. A crise da leitura no Brasil não é, em essência, uma crise, mas um programa muito bem planejado por aqueles que detêm o poder.

Portanto, a leitura como exercício de cidadania requer um leitor de criticidade aguçada. Só ela permite a reflexão

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necessária que garanta o crescimento pessoal e intelectual do ser humano. E quem poderá auxiliar nessa missão? Cabe à escola o desafio da formação desse leitor. Ninguém mais do que o âmbito educacional. É na escola que se pode chegar a esse fim. Para tanto, diversas ferramentas tem sido utilizada pela escola visando o alcance desses interesses, dentre eles as charges.

4 CHARGES E EDUCAÇÃO: UMA RELAÇÃO IMPRESCINDÍVEL

Monteiro Lobato já dizia: “um grande país se constrói com homens e livros”.

As charges contam as condições vividas pelo povo brasileiro. Segundo Gasque e Ramos (2012) a linguagem imagética das charges estabelece aproximação com a realidade, o que possibilita a análise sobre os fatos ocorridos, gera novos conhecimentos e reforça conhecimentos previamente adquiridos, portanto possibilitam a reflexão, crescimento pessoal, e da sociedade em que está inserido. Logo, as charges são um importante recurso de informação para pesquisa e incentivo à leitura.

As Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996), aponta a inserção de outras linguagens e manifestações artísticas nos ensinos fundamental e médio:

 Item II do art. 3º da lei diz que a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber “é uma das bases do ensino”;

 Item II do parágrafo 1º do art. 36 registra, de forma mais explícita, que, entre as diretrizes para o currículo do ensino médio, está o conhecimento de “formas contemporâneas de linguagem”, que auxilia no domínio de todas as outras formas de linguagens existentes e auxilia o aluno na sua capacidade para entendê-las, pois demonstra que conhece e entende os códigos verbais e não-verbais.

 Os parâmetros da área de Artes para a 5ª a 8ª séries (2008) mencionam especificamente a necessidade de o aluno ser competente na leitura de histórias em quadrinhos e outras formas visuais, como publicidade, desenhos animados, fotografias a vídeos.

Os PCN de Língua Portuguesa direcionados ao Ensino Fundamental (1998), dividiram os gêneros em “adequados para o trabalho com a linguagem oral” e “adequados para o trabalho com a linguagem escrita”, incluindo charges, cartuns e tiras, assinalando-os como

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“dispositivos visuais gráficos que veiculam e discutem aspectos da realidade social, apresentando-a de forma crítica e com muito humor”. Também destacam a importância dos diversos gêneros dos quadrinhos como fontes histórica e de pesquisa sociológica.

Assim, a partir do século XXI, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) sugeridos pelo Ministério da Educação (Brasil, PCN, 1998), e as listas do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), começa a ter um comportamento diferenciado quanto às leituras diferenciadas, tal como defende Vergueiro (2008). Para o autor a necessidade de uma alfabetização também nas linguagens diferenciadas tem um olhar interdisciplinar, ajudando o leitor a refletir sobre o assunto e a encontrar seus próprios caminhos.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s, 1998, p. 94), possibilitar acesso a diversos gêneros literários é fundamental, pois:

Gênero literário refere-se às “famílias” de textos que compartilham algumas características comuns, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado. Possibilitar o acesso a diversos gêneros literários [...] constitui-se elemento importante na aprendizagem. Dessa forma, eles

devem compor os acervos das unidades de informação, por expressarem as realidades por meio de imagens e escrita, permitindo aos leitores/usuários contato com idéias, conhecimentos e fatos que refletem a sociedade em determinado período, de maneira mais lúdica e visual.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (Brasil, 1998) apontam, como um dos objetivos do Ensino Fundamental para a Língua Portuguesa, por exemplo, que os alunos sejam capazes de utilizar as diferentes linguagens, tais como a verbal, matemática, gráfica, plástica e a corporal, bem como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação. Para isso, PCN’s defendem que a escola deve ser a entidade capaz de viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzí-los e a interpretá-los. Nesse sentido, a multimodalidade existente nas leituras diferenciadas pode facilitar e estimular os estudantes à prática da leitura, uma vez que o contato com esse gênero textual, leve e agradável, possibilita uma intimidade com o ato de ler.

Por mesclar elementos verbais, escritos e visuais, o MEC aprova estes diferentes gêneros textuais como um estímulo à leitura, uma das premissas do programa. E

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quadrinhos, cartuns, tiras e charges também é leitura. “Leitura não é só livro. Leitura é tudo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra” já dizia Paulo Freire, inclusive um meio de comunicação de massa, como no caso das charges. Por isso, uma leitura sempre é o caminho para outras mais, numa espiral sem começo ou fim, sobretudo a partir da educação infantil.

Carvalho e Oliveira (2003) afirmam que:

A criança faz duas leituras do gibi, uma das figuras - onde imagina os diálogos, sem se importar com o que está escrito. À medida que a criança começa a entender a leitura ela começa a ler e entender os quadrinhos, porém jamais deixando de imaginar e adivinhar.

Paralelamente a essa leitura imaginativa e necessária ao conhecimento, Barros, 1991, adverte que a criança, já a partir dos oito anos de idade, começa a entender moralmente que uma ação pode ser julgada pelas intenções que a determinaram, e não por suas consequências, como ocorria antes.

Soifer 1992, autora bem mais prematura, que as crianças a partir dos seis anos de idade já sofrem o desenvolvimento do ego, as demandas de ideais estéticos e morais, o instinto de investigação e forma-se a auto- estima. Cória-Sabini (1998) apresenta que no período dos sete aos doze anos o decréscimo do egocentrismo permite que a

criança já assimile o ponto de vista de outra pessoa, o que justifica a verdadeira comunicação e absorção da cultura grupal [bem como a possibilidade da percepção moral do outro ser humano]. Mas tem-se que:

É a partir dos 08 anos de idade que inicia a menarca e as transformações no corpo, que abrem vantagem à necessidade de sublimar grande parte dos impulsos genitais por falta de sua possibilidade de realização, o que garante novas perspectivas para a atividade criadora, para a idealização e aprendizagem.

Mas é na evolução maturativa, a partir dos nove anos de idade que a criança consegue aceitar sua culpa e a dos outros, enfatizando os conceitos elementares de justiça, honestidade e verdade;

demonstra interesse pela realidade, é racional e tem automotivação, demonstrando considerável habilidade na crítica social, tem grande preocupação com a ética, justiça, ou seja, repudia o engano e o roubo nos outros. (SOIFER, 1992, p.

111, 117)

Porém, Jersild (1969) salienta que, para promover uma aprendizagem eficaz, é essencial dimensionar a matéria segundo o nível de maturidade mental da criança e apresentar essa matéria de tal modo que a criança possa testar e aprender o seu significado à luz da sua própria experiência.

Portanto, é nesta fase que a formação crítica está aguçada, de acordo com a autora Soifer 1992 em relação à aprendizagem. Sem

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mencionar no fato que o professor nesta fase, serve como modelo para o comportamento dos discentes.

Desta forma, é possível a compreensão das informações críticas das charges para crianças nesta fase como as da Mafalda, um contexto filosófico, metafísico e crítico.

Assim, a influência das charges na alfabetização crítica é essencial, pois auxilia a criança na compreensão da realidade

política brasileira. Porém, cabe ao docente discernir qual charge pode ser apresentada para cada criança, de acordo com sua idade, em virtude do conhecimento de mundo que ela apresenta. Assim, vale apresentar o conteúdo informacional de um tira da Mafalda, partindo do pressuposto que o professor já tenha realizado uma prévia com os alunos em sala e que os alunos já reconheceram o contexto do assunto:

Figura 1 – Tira da Mafalda como exemplo de uma crítica educacional, cultural e social.

Outro caso é a charge de Chico Caruso, que faz em seu livro ‘Era uma vez FHC’, abordagem bem-humorada do Brasil de 1994 a 2002:

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Figura 2 – Charge Caruso como exemplo de crítica à política.

Assim, as charges podem contribuir muito para o desenvolvimento da formação de leitores competentes, pois se trata de um recurso de informação e incentivo à leitura.

Ao adaptarem-se ao nível intelectual das crianças, as leituras diferenciadas rompem as barreiras que existem contra a prática de leitura sendo um instrumento pedagógico eficiente no sentido de despertar o gosto pela leitura, em virtude da abordagem de assuntos diversificados.

Para tanto, uma abordagem da atividade exercida por cada elemento da tríade

professor-aluno-bibliotecário, torna-se necessariamente importante.

4.1 O PROFESSOR, O ALUNO, O BIBLIOTECÁRIO: A ANÁLISE

A princípio o professor tem de conhecer a obra que está sendo adaptada, tem de cumprir seu papel de leitor. Ninguém conhece sua turma melhor do que o docente.

Seu julgamento é indispensável.

O bibliotecário, por sua vez, também deve estar ao par das obras que o professor necessita e quais são as que mais chamam a atenção do aluno quando esse vai à

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biblioteca. Isso define a importância da charge no campo da Biblioteconomia e sua importância para a sociedade. É interessante para o professor, para o bibliotecário e para a sociedade, transformar alunos em crianças críticas, questionadoras, formadoras de opinião, que saibam escolher entre o certo e o errado, que tenham consciência crítica, pois mostra o excelente trabalho que se pode realizar na escola.

O diálogo, ensino e biblioteca a partir de experiências acumuladas e ações realizadas, assumem status de discursos único e verdadeiro contra a classe dominante (CASTRO, 2003). Escola e biblioteca ocupam papel de destaque no processo de desalienação popular, através da oferta de amplos e diversificados materiais de leitura, como no caso das charges. A ideia de que ensino e biblioteca não se excluem, complementam-se, vai ao encontro de ações pedagógicas nas escolas, cujo papel é despertar o interesse das crianças pelos livros, tempos destinados à leitura na biblioteca, pelas leituras livres e espontâneas, que serve de complemento e afirmação ao trabalho docente. A biblioteca, neste contexto atende os alunos no processo de aprendizagem e auxilia a formação dos professores.

Importante salientar que, se for esperar que o governo faça algo, no âmbito governamental não há qualquer ação efetiva para o fortalecimento do diálogo entre ensino e biblioteca.

É necessário então, que as bibliotecas:

Se transformem em um centro dinâmico no processo de ensino aprendizagem e não em um simples apêndice necessário. Processo de transformação que converge para a formação acadêmica do bibliotecário, onde as bibliotecas são tratadas como receptáculos de informação cujos procedimentos para tratá-las constituem no cerne do processo de ensino e aprendizagem. O bibliotecário de simples processador de informação passa a ser mediador entre o universo da informação produzida em diferentes tempos e espaços, a sociedade global e a do seu entorno.

(CASTRO, 2003, p. 70)

Ou seja, mudança na concepção do papel da biblioteca e da escola e no modo de intervenção do bibliotecário no processo de ensino e aprendizagem e do professor integrar seu plano pedagógico à biblioteca.

A liberdade intelectual e o acesso à informação são indispensáveis à aquisição de uma cidadania responsável e participativa. Se professores e bibliotecários conceberem a escola e biblioteca como partes importantes no processo de construção de uma sociedade justa e igualitária, forças contrárias terão maior

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dificuldade em romper os elos estabelecidos.

As descontinuidades históricas deste diálogo foram rompidas, certamente porque estes profissionais, apesar de exercerem suas atividades em um mesmo contexto, atuavam de maneira isolada: um preocupado apenas em transmitir conteúdos escolares e o outro em executar atividades técnicas, na esperança de que aquele, ao recorrer à biblioteca, reconhecesse o seu esmero com o livro, é o que afirma Castro (2003).

As charges, através de suas características humorísticas, satíricas e inteligentes, promovem uma visão mais crítica dos problemas vigentes na sociedade na qual os alunos estão inseridos. Desperta, ainda, o interesse dos alunos e a sua capacidade de interpretação, através dos elementos ditos e não ditos, ampliando a socialização do conhecimento e o sucesso do processo de ensino e aprendizagem.

5 CONCLUSÃO

Este trabalho científico não tem a pretensão de ser conclusivo. É apenas o início de uma investigação para uma contribuição à educação em seu âmbito crítico. É necessário ainda, o aprofundamento da prática por parte do professor e do bibliotecário para um resultado plausível.

O objetivo do trabalho foi alcançado. As charges colaboram no processo de construção de sentido, porque instigam o leitor a ter um conhecimento de mundo e se serve de recursos imagéticos, sarcástico e denunciador que ampliam seu significado.

Tornam-se um meio facilitador de transmissão informacional por ter uma linguagem imagética de fácil veiculação, pois é atraente e bem aceita por toda a sociedade e por todas as idades. No âmbito educacional, social, cultural, sociopolítico, as charges pressupõem reflexão e propiciam aprendizado vivo, real, duradouro, interdisciplinar, pois é uma leitura diferente das impostas em sala de aula pelos livros didáticos, e, diferentemente destes, têm a capacidade de gerar diversos pontos de vistas, o que obriga o leitor a relacionar a função de ser social em todos os campos de realização enquanto sujeito, mesmo que esse leitor seja um cidadão de oito anos de idade.

Tal propósito será realmente consolidado se houver uma revolução na educação por parte dos professores e bibliotecários quanto à didática e interesse aos novos recursos pedagógicos, como as charges. E isso tem de partir do bibliotecário e do professor, pois o governo pouco se importa com a evolução do ser humano, pelo contrário, quanto mais

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