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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A INCLUSÃO DAS DIFERENÇAS

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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A INCLUSÃO DAS DIFERENÇAS

Flávia dos Santos Cota; Sônia Cristina do Amaral Pereira

Universidade Federal do Rio de Janeiro flaviaflaf@hotmail.com

Instituto Isabel soniamaralpereira@gmail.com

Resumo: A proposta deste artigo é uma reflexão sobre a importância das interações sociais e da produção da identidade no âmbito escolar. Essa pesquisa realizou-se em uma classe regular de uma Escola da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, com 16 alunos, entre sete e nove anos de idade, das quais dois alunos incluídos têm espectro do autismo. A partir da seguinte temática:

a inclusão dos alunos público-alvo da Educação Especial, que desafia os caminhos teóricos e metodológicos utilizados e nos possibilita pensarmos a questão da alteridade e das demandas democráticas do presente. E também da necessidade de novos olhares sobre o lugar dos alunos com necessidades especiais na história do Brasil e do Mundo, destacando a Educação Especial e suas novas colaborações. Assim, as diferenças e as diversidades expressas nas subjetividades que se revelam na sala de aula inclusiva foram contempladas. E nesse processo de inclusão, de direito a escolarização e respeito à diversidade através de observações das práticas diárias buscou-se uma possibilidade de construção do espaço educativo. A multiplicidade de linguagens e o uso de diferentes recursos foram destacados, o que favoreceu a construção de significados na escola e na sociedade e ampliou a rede de relações no processo de viver e fazer a educação.

Palavras- chave: Identidade – Diferença – Práticas Pedagógicas - Educação Especial e Inclusão.

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Introdução

Este artigo traz reflexões sobre a educação inclusiva, no sentido de promover um diálogo crítico entre a multiplicidade de sujeitos, tempos, lugares e culturas. A leitura crítica da nossa contemporaneidade nos impõe um grande desafio: superar uma tradição da modernidade que pretende instituir e dar legitimidade a identidades sociais

hegemônicas.

Nos últimos tempos as discussões sobre inclusão e a definição sobre o espectro do autismo foram intensificadas. Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) o autismo é classificado como um transtorno global do

desenvolvimento, que envolve deficiências sociais e de comunicação, assim como interesses restritos e comportamentos repetitivos.

O direito à educação, acompanhado pelos movimentos mundiais em prol da educação inclusiva vem fazendo parte das políticas públicas e tornando necessárias novas formas de educar, que envolvem especialistas e a construção/reconstrução do trabalho pedagógico, assim como estabelecer parcerias com uma equipe

multidisciplinar. A Educação Especial surge segundo Mazzotta (1996) numa perspectiva patológica, sem uma preocupação social e educacional.

No final do século XIX surgiram as escolas especiais, que objetivavam uma educação à parte das pessoas com deficiências. Tal fato, nos permite constatar que as diferentes formas de tratar a deficiência refletem a estrutura econômica, política e social de cada época.

Desse modo, duas vertentes acompanharam a Educação Especial, a médico- pedagógica e a psicopedagógica. A primeira tinha a preocupação eugênica,ou seja do

“bem-nascido”, procurava-se a raça perfeita e a concepção higienizadora que para Jannuzzi (2004), justificou-se pela criação de escolas/salas em hospitais, existentes até hoje, como classes hospitalares. A segunda concepção defendia a educação para os anormais, assim considerados. Eles eram classificados através de escalas de inteligência que identificavam os diferentes níveis intelectuais das crianças ou jovens, o que mais tarde deu origem às classes especiais.

A prática da integração social teve destaque nos anos 80, reflexo de movimentos de lutas pelos direitos dos deficientes, terminologia usada na época. A Constituição Federal de 1988, a Conferência Mundial sobre a Educação para Todos (1990), a

Declaração de Salamanca (1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96 representaram marcos significativos, pois trataram da viabilização da

educação para todos, atentos às diferenças individuais.

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Na perspectiva de atender a subjetividade e de uma educação de qualidade para todos é que repensamos o papel da escola no atendimento das necessidades especiais, nesse caso, o autismo. Mannoni (1998) aborda as questões subjetivas, o existir, o ser presente além de suas falhas, além do aprender a ser, a fazer, a conviver e a estar que envolvem as instituições e os profissionais, sejam da área médica ou educacional.

Não basta integrar o aluno, buscamos a plena inserção, uma escola socializadora, criadora de oportunidades com respeito à intersubjetividade. O objetivo é criar

condições facilitadoras, que levem ao autoconhecimento e à participação efetiva e ativa de todos. Desse modo, minimizam-se os fatores que dificultam o processo de

aprendizagem e de inclusão sociocultural, através de um trabalho interdisciplinar.

Sendo assim, nessa relação de direitos e demandas, a reflexão recai sobre os alunos com necessidades educacionais especiais inseridos na classe regular, em uma perspectiva multicultural, com o anseio de um currículo que produz e cria significados sociais, que possam favorecer a formação do indivíduo, o princípio da valorização da diversidade e o reconhecimento das diferenças e produções culturais que regulem as ações sociais, o que possibilita reflexões acerca da atuação do mesmo na escola e também fora dela.

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Identidade, diferença e demandas

(...) as pessoas e os grupos sociais têm o direito a ser iguais quando a diferença os inferioriza e o direito a ser diferentes quando a igualdade os descaracteriza. (SANTOS, Boaventura de Sousa, 2003, p. 122)

O debate sobre identidade aponta para os processos de criação de sentido pelos grupos e pelos indivíduos (STOER & MAGALHÃES, 2005, Apud CANDAU &

MOREIRA, 2008, p.41). Portanto, a diferença não é algo natural. Ela se estabelece na relação com o outro, o “não diferente” (SILVA, 2011, p.87), que por sua vez não é absoluto.

Entendemos hoje a diversidade como elemento central nas sociedades, que são heterogêneas, composta por diferentes grupos, que interagem e por vezes entram em conflito. As identidades são fluidas, em constante mutação e interação umas com as outras e através destas que o indivíduo sai do biológico e torna-se social e evolui.

Faz-se necessário refletir e problematizar as oposições duais e simplistas quanto às relações de contato entre alunos com necessidades especiais ou não. Muitas vezes, esses se apresentam sob a polarização: com deficiência/sem deficiência,

produtivo/improdutivo, normal/anormal, promovendo uma visão reducionista e equivocada da atuação dessas pessoas nos processos históricos.

No cenário de mudanças, meados do século XX é que a “educação dos deficientes” como era chamada, obteve destaque. De início, as perspectivas eram médicas, mais tarde tornam-se sociológica e curricular. Atualmente busca-se aceitação do outro, superando a visão tradicional e antropológica dos seres humanos ideias.

O ensino inclusivo, foco desse trabalho, toma por base a visão sociológica de deficiência e diferença, reconhecendo que os espaços escolares precisam ser

transformados para atender as necessidades individuais de todos os envolvidos. A inclusão não significa tornar todos iguais, mas respeitar as diferenças, utilizando-se de diversos métodos para responder as diferentes necessidades e níveis de desenvolvimento individuais.

O conceito de Educação Inclusiva abarca a diversidade, assim como o respeito, o reconhecimento e a aceitação. Segundo Rodrigues (2006) seria interessante se não fizéssemos à distinção entre “nós” e “eles”, pois tudo é diferença. Seria pertinente compreender as diferenças como experiências de alteridade, nos constituindo como humanos. Foram vários os movimentos existentes buscando a inserção do aluno com necessidades especiais. Muitas conquistas aconteceram como o documento da História do Movimento Político das Pessoas com Deficiência (Brasília, 2010), com foco

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principal no direito humano, com a sociedade de modo a assegurar mais liberdade, igualdade e solidariedade, o que envolve a eliminação de barreiras físicas, de atitude e de preconceito e todas que possam vir a impedir a igualdade de oportunidades, diante da singularidade de cada cidadão.

No que se refere ao ensino e aprendizagem, o destaque é atribuído à valorização da cultura do indivíduo, conferindo significado ao que lhe é proposto, promovendo uma inter-relação entre as diferentes identidades culturais com o objetivo de desenvolver uma educação crítica, para a superação da desigualdade e exclusão social, e do modelo monocultural e hegemônico de educação.

Os estudos culturais nos trazem possibilidades de pesquisa e intervenções. E para pensar na prática das escolas é necessário considerar todo o material cultural produzido do lado de fora da sala de aula, e ao mesmo tempo ressignificando as nossas práticas, dentro de uma perspectiva crítica e dialética.

Aos professores é designado um grande desafio: superar uma tradição que aspira instituir e dar legitimidade a identidades sociais únicas e hegemônicas para construir uma história nacional. Tal superação implica em tornar acessível aos alunos o conhecimento sobre as diferentes sociedades e atores sociais, desconstruir discursos discriminatórios e dar aos estudantes uma compreensão de que somos constituídos como sujeitos na diversidade de experiências históricas com o “outro”, e é exatamente através dessas relações e mediações que nos constituímos.

É importante ressaltar que a identidade envolve a multiplicidade de sentidos, é entendida como a construção social, vinculada ao conjunto de relações que permeiam a vida cotidiana, onde novas bases se articulam entre o pessoal e o social na

contemporaneidade. E nessa perspectiva de inclusão e de importantes mudanças na escola e na sociedade, o documento descrito abaixo estabelece:

O princípio norteador desse enquadramento da acção consiste em afirmar que as escolas se devem ajustar a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, intelectuais,

linguísticas ou outras. Neste conceito terão de se incluir crianças com deficiência ou sobredotados, crianças de rua ou crianças que

trabalham, crianças de populações remotas ou nómadas, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos. (Declaração de Salamanca, 1994: II).

A articulação entre o individual e o social é essencial, pois a transformação da sociedade é fruto da ação do homem e do mundo natural sobre os objetos, que implicam no seu desenvolvimento. O que evidência as condições igualitárias e o direito de

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participação de todos, e através da diversidade, que podemos compreender a subjetividade.

A identidade é totalidade, no que concerne ao conjunto de elementos biológicos, psicológicos e sociais. O que percebemos na sociedade é que os papéis são atribuídos aos indivíduos e assumidos pelos mesmos na medida em que se comportam do modo como a sociedade espera e que tudo o que difere dessa expectativa é excluído.

A igualdade é expressa na história social do indivíduo e a diferença passa a ser entendida como constituinte da singularidade. As condições históricas do grupo social no qual está inserido é que caracterizará a história de vida do indivíduo. Dessa forma, a diferença é essencial para a tomada de consciência de si e ao mesmo tempo é inerente, pois o ser humano precisa utilizar o outro como referência para percebê-la, assim como vivenciar os contextos situacionais e interacionais como oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento, sem preconceitos e discriminações.

As situações presentes com a globalização da economia, da tecnologia e da comunicação aumentam as divergências entre grupos sociais de diferentes culturas, coloca em segundo plano as interações sociais fundamentais para o desenvolvimento humano, assim como os movimentos que valorizam os direitos humanos, renovam os paradigmas científicos e metodológicos.

Baseada no termo autismo, que compreende diferentes graus de

comprometimento, referencio com Nogueira (2009), as potencialidades dessas crianças com necessidades especiais, quando inseridas no contexto social adequado, superando qualquer estigma ou visão de diferença. Assim como, em qualquer outra necessidade especial que o aluno possa apresentar, destaco a escola como um espaço favorecedor do desenvolvimento infantil, pela importância das relações estabelecidas nesse lócus.

A proposta maior desse estudo está relacionada à importância e influência que os contextos situacionais e interacionais podem exercer nas diferentes pessoas e se propõe a analisar as interações sociais entre as crianças com espectro autista, no contexto de uma escola regular da cidade do Rio de Janeiro-RJ, considerando a mediação e o papel fundamental exercido pelo professor regente, professor especialista e comunidade escolar, assim como a internalização dos conceitos de diferenças e identidades múltiplas contempladas nesse universo.

Metodologia

A pesquisa caracteriza-se por qualitativa, através de um estudo de caso, fundamentado em Ludke e André (1986) com observação participante, que de acordo com Moreira (2002) possibilita uma estratégia de campo, que une a participação ativa

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com os sujeitos em ambientes naturais com entrevistas semi-estruturadas. Participaram três professoras regentes de uma escola do Município do Rio de Janeiro, situada na zona norte, que atendem alunos do 1º ano ao 6º ano do ensino fundamental e possui uma sala de recursos para o Atendimento Educacional Especializado (AEE). A observação realizou-se em uma classe com dezesseis alunos do 2º ano do ensino fundamental, sendo dois autistas. Os alunos tinham como histórico uma grande dificuldade de aprendizagem e a falta de apoio familiar, critério de seleção da turma, por parte do pesquisador.

Foram realizadas observações no contexto escolar, registradas através de fotografias e vídeos. Esse registro possibilitou a evidência dos detalhes das situações observadas, assim como o repensar das relações construídas, oportunizando a análise de comportamentos até então despercebidos. De acordo com Fischman (2004), as imagens modificam a maneira de ensinar e aprender, assim como transformam o conhecimento.

No primeiro momento, a pesquisa foi submetida e aprovada pela Comissão de Ética da UFSCar, através do Parecer 382/2011, além da autorização da Secretaria Municipal de Educação e Coordenadoria Regional de Educação, entrou-se em contato com os pais das crianças da turma para obter a permissão no referido estudo com o termo de consentimento livre esclarecido, do mesmo modo com os gestores da Unidade Escolar e professores envolvidos. Após a concessão das famílias, da escola e das

professoras, iniciou-se a etapa das observações. As filmagens foram realizadas em 20 minutos, sendo transcritos e analisados 10 minutos de cada situação.

Resultados e Discussão

Ao observar a criança autista geralmente há pouco investimento nas brincadeiras e interações devido à falta de retorno das mesmas no processo interativo. O destaque do trabalho era observar a riqueza de detalhes e indícios de outros comportamentos,

possibilitando interações diferenciadas do padrão, buscando a construção de significados às vivências dos indivíduos com tais necessidades e a sua inserção na cultura.

A proposta curricular do Município do Rio é a Multieducação, que contempla faces da cidade e os diferentes contextos culturais. O objetivo é educar através das relações democráticas, através de ações autônomas e solidárias, com autonomia

pedagógica, administrativa e financeira. Sendo assim, as professoras do segundo ano, da classe regular e da sala de recursos, utilizavam a pedagogia de projetos, para contemplar interesses e objetivos da turma. O atendimento educacional especializado realizado pela segunda professora era sucedido na própria sala de aula, o que favoreceu ainda mais os diálogos com a turma e profissionais. Apresentavam um planejamento flexível, com

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estímulos e intervenções diferenciadas, tentavam todo o tempo envolver o grupo a esses alunos, sempre com a proposta de participação e interação de todos. Quando necessário, reformulavam o planejamento, adaptavam recursos de ensino e criavam estratégias para atendê-los de modo que os saberes e as interações estivessem sempre valorizadas e a construção do conhecimento fosse potencializada.

Segundo Silva (2010), aproveitar a atenção e a iniciativa de crianças com autismo pode constituir-se como alternativa para favorecer a interação social e os comportamentos de iniciativa das mesmas e das outras crianças do grupo. Constatou-se pelas observações, que as ocorrências nos primeiros momentos, eram sempre iniciadas pelas professoras, seja no oferecimento de um objeto ou na solicitação de algum comportamento relacionado à dinâmica estabelecida naquele contexto.

Ao definir o conceito de inclusão na entrevista realizada, pode-se perceber a importância da relação entre os sujeitos para o desenvolvimento, com referenciais múltiplos, no que diz respeito às diferenças e ao processo de aprendizagem das crianças autistas. A busca era constante para contextualizar ou dar um sentido às suas ações e falas, tornando-as comunicativas.

Para Cruz (2009) as dificuldades do autista são significadas pelo grupo social no qual ele está inserido. O desenvolvimento humano é um processo constante, que

envolve o sujeito social/cultural, transformam o outro e são transformados numa relação dialética. O papel do professor como mediador no processo ensino aprendizagem é fundamental, mas é preciso considerar que para efetivar a inclusão todos devem participar independente das diferenças de cada um.

Destacaram-se múltiplas tentativas de trabalhar palavras e habilidades verbais, assim como estabelecer um foco comum de atenção. Nas últimas observações já se percebia um dos alunos com o espectro tomando a iniciativa e direcionando o professor para a atividade. O que é referenciado por Menezes e Perissinoto (2008), ao enfatizar a interferência do interlocutor no desenvolvimento em autistas da atenção compartilhada.

Nessa direção, constatou-se a participação das crianças autistas nas interações estabelecidas nesse contexto escolar, tal resultado contrapõe à literatura e nos possibilita pensarmos o papel das pesquisas e contribuições na área. As crianças desse estudo não apenas demonstraram comportamentos de olhar pessoas, como passaram a solicitar atividades que gostavam, como o trabalho com música ou jogos eletrônicos,

demonstrando pertencimento ao grupo. E assim, os professores participantes aproveitavam e introduziam referências sobre o mundo.

As iniciativas das outras crianças com os autistas foram frequentes, independente das mediações das professoras, além de muitos comportamentos de

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carinho. Saltini (2008) ressalta que o cognitivo está associado aos estímulos do afeto, pois além de mediar o aprendizado, torna possível o desenvolvimento das relações interpessoais.

No que se refere ao funcionamento humano a deficiência não pode ser

contemplada como determinante do futuro, do desenvolvimento e da aprendizagem do sujeito, pois depende das condições concretas oferecidas pelo grupo social e das significações constituídas pelas formas de interagir e agir. E a escola aparece nesse cenário, como espaço de ser criança e lugar social da criança, com autismo ou não.

Os resultados reforçam a ideia da formação do professor, assim como a criação de estratégias para atender não apenas o aluno público-alvo da Educação Especial, mas toda a comunidade escolar. A diferença deve ser percebida como um direito, assim como um processo de caracterização do desenvolvimento humano. Concerne ao professor perceber o aluno com seus desejos e histórias, a fim de facilitar o ensino e aprendizagem.

Em face da variabilidade nas manifestações dos sintomas nas diferentes fases da vida das pessoas com espectro do autismo, acentuo a abrangência dos fatores que envolvem as ações humanas. Saliento também o contexto que as interações ocorrem, além da participação do outro, o nível de desenvolvimento global, as características do espectro, o tempo de escolarização e as particularidades do desenvolvimento.

Os dados dessa pesquisa reforçam a importância dos profissionais envolvidos, assim como das condições oferecidas pelo grupo , que podem ser adequadas ou empobrecidas. Ao mesmo tempo, nos desafia para a educação dos sujeitos com necessidades especiais, na construção de processos educativos, que contemplem um novo olhar acerca desses sujeitos, rompendo com concepções marcadas por rótulos e pela impossibilidade.

Considerações finais

Ressalto a importância das relações sociais nos contextos escolares, constatando a participação das crianças autistas e considerando a mediação das professoras. O olhar sobre as singularidades da criança, o contexto interativo e a fundamental importância desse educador, indicam uma direção, uma possibilidade de construção de um espaço democrático e de desenvolvimento para o autista e demais.

Não podemos perder de vista as reais potencialidades das crianças. E não existe uma fórmula única no trato com alunos. Para que o aprendizado seja eficaz e

significativo é necessário tempo, persistência, olhar para as singularidades, estudo e dedicação. Olhar esse que percebe a criança, além do transtorno e das diferenças.

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No ambiente escolar considerado, percebeu-se nas falas das professoras, nas práticas pedagógicas e desenvolvimento das crianças, a busca por materiais didáticos, mas também a valorização do diálogo nessas práticas cotidianas, que tornaram a escola uma instituição efetivamente de todos, em que a diversidade foi compreendida como oportunidade e não como déficit. Assim revelou um atendimento, que potencializou o processo de aprendizagem de cada indivíduo, onde as diferenças não constituem incompletudes ou falhas, mas formam o contexto da complexidade humana.

Inclusão é processo, que possibilita colocar as crianças com necessidades

especiais em contato com seus pares, o que facilita o desenvolvimento de todo o grupo e que é possível e preciso conviver com a diversidade, na construção de uma prática efetiva na escola.Uma escola que concebe diante das singularidades do ser humano, um professor, que busque adaptações curriculares, motivando o processo ensino

aprendizagem de todo e qualquer ser humano, respeitando a sua identidade com justiça e condições para exercer a sua cidadania. Atentos ao universalismo e ao relativismo cultural, nos posicionando de modo crítico, considerando o sujeito como pleno construído hibridamente nas relações.

Com relação à aplicabilidade dos resultados da pesquisa, evidencia-se a

necessidade da fundamentação teórica por parte dos docentes, assim como a formação e o comprometimento dos demais profissionais da Instituição para atender toda a

comunidade escolar, numa dimensão inclusiva. Nesse sentido, sobressai a necessidade de mais estudos, que possam auxiliar pais, profissionais, amigos e sociedade no que se refere ao atendimento da diversidade no espaço escolar plural, tomado pela

multiplicidade das dimensões cognitivas, afetivas, éticas e estéticas constitutivas do processo educativo, marcados pelas forças de expressões e representações do mundo, de si e do outro.

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