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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO-UFERSA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO-PPEC MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO-UFERSA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO-PPEC MESTRADO EM ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO

JANAY CLÉSIA MENEZES MOTA

O CONHECIMENTO TRADICIONAL DAS POPULAÇÕES RURAIS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO E (TRANS) FORMAÇÃO DE PAISAGENS DAS CAATINGAS

SOB O OLHAR DA ETNOECOLOGIA DA PAISAGEM

MOSSORÓ 2018

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O CONHECIMENTO TRADICIONAL DAS POPULAÇÕES RURAIS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO E (TRANS) FORMAÇÃO DE PAISAGENS DAS CAATINGAS SOB O

OLHAR DA ETNOECOLOGIA DA PAISAGEM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ecologia e Conservação do Semiárido da Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do Grau de Mestra em Ecologia e Conservação.

Linha de Pesquisa: Ecossistemas Terrestres Orientadora: Dra. Cristina Baldauf

MOSSORÓ 2018

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O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.

M917c MOTA, JANAY CLÉSIA MENEZES.

O CONHECIMENTO TRADICIONAL DAS POPULAÇÕES RURAIS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO E (TRANS) FORMAÇÃO DE PAISAGENS DAS CAATINGAS SOB O OLHAR DA ETNOECOLOGIA DA PAISAGEM / JANAY CLÉSIA MENEZES MOTA. - 2018.

111 f.: il.

Orientadora: CRISTINA BALDAUF.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação, 2018.

1. SEMIÁRIDO. 2. FOLK. 3. SUCESSÃO FLORESTAL.

4. ECORREGIÕES. 5. NDVI. I. BALDAUF, CRISTINA, orient. II. Título.

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O CONHECIMENTO TRADICIONAL DAS POPULAÇÕES RURAIS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO E (TRANS) FORMAÇÃO DE PAISAGENS DAS CAATINGAS SOB O

OLHAR DA ETNOECOLOGIA DA PAISAGEM

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ecologia e Conservação do Semiárido da Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do Grau de Mestra em Ecologia e Conservação.

Linha de Pesquisa: Ecossistemas Terrestres

Defendida em: 28/02/2018

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________

Prof. Dra. Cristina Baldauf (UFERSA) Presidenta

_____________________________________________

Prof. Dra. Christiane Erondina Correa (UNIVASF) Membro Examinador Externo

______________ __________________

Prof. Dra. Jeane Cruz Portela (UFERSA) Membro Examinador Externo _________ _________________________

Prof. Dr. Daniel Cunha Passos (UFERSA) Membro Examinador Interno

__________________________________________

Prof. Dra. Eveline de Almeida Ferreira (UFERSA) Suplente

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Àqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos, dedico.

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Ninguém é nada sozinho, somos o nosso comportamento com o outro”

(L.F.Verissímo).

A palavra que define meu mestrado certamente chama-se GRATIDÃO! Todos que aqui se encontram são pequenas frações de epifanias que fizeram com que eu me tornasse uma pessoa melhor a cada dia, sou GRATA a cada um de deles.

A Deus, epifania MAIOR, por permitir que nos aventuremos na maviosa vida concedida.

A todos os produtores sertanejos (“Zés e Donas Marias”) que me receberam em suas casas, e por TODO o conhecimento repassado para que eu pudesse escrever a presente dissertação, sou eternamente GRATA por tudo.

A minha mãe (Fátima Menezes) por ter me incentivado a vir fazer uma pós-graduação, não medindo esforços para que seus filhos consigam o que almejam. MUITO AGRADECIDA!

Ao meu pai (José Nilson) por todas as idas e vindas a UFERSA e por campos mundo afora.

Aos meus irmãos Jailton, Clévia e Kleber por suas amizades e incentivos, sou muito grata!

À Cristina Baldauf por ter aceitado ser minha orientadora, por todos os ensinamentos, paciência e por ter contribuído para meu crescimento profissional e pessoal, MUITO AGRADECIDA!

Bem como sou grata também a “Fundação Baldauf ” de apoio à pesquisa.

As minhas amigas/irmãs: Tássia e Raquel pela amizade dedicada a mim, por todos os risos, choros e perrengues durante esses dois (longo-rápidos) anos.

Aos amigos do laboratório: Adriano, Akidália, Carla, Lidiano, Matheus, Andreza pela amizade e apoio em campo. Um agradecimento especial a Ivinna (“super-princesa”) por toda ajuda na elaboração dos mapas e por aturar minhas chatices, e a Gabriel (“choco”), que eu aprendi a gostar como um irmão, pela sua dedicação em fazer/refazer os perfis esquemáticos sobre as unidades de paisagens que estão nessa dissertação. Ao nosso cordelista João Paulo, pelo belo cordel escrito especialmente para essa dissertação, e pela bela amizade dedicada a mim, muito agradecida, mesmo!

Minha cunhada (Mascilene Avelino) por ter vindo comigo a UFERSA para eu fazer minha inscrição para a seleção do mestrado;

Aos amigos Monique (bob mãe) Andréa, Felipe (ranzinza favorito) e Glícia pelo incentivo e apoio ao longo dessa jornada, amo vocês, agradeço por tudo!

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À Joana por ter cedido um tempo livre de suas atividades para me acompanhar em campo, pela estadia e por toda atenção e cuidado, Muito Agradecida!

Ao Zezito por sua ajuda e dica preciosa sobre onde ir e onde ficar quando estive na cidade de Parnamirim/PE.

Ao amigo Fábio Pinto (“Fabin”) por todo incentivo e amizade dedicados desde os tempos de outrora.

As novas amizades conquistadas nesse mestrado (amizades papocoooo): Manoel, David, Aline, Joana, Nathaly, Eliêta. Vocês ficaram gravados na memória e no coração meu.

Ao senhor Expedito por sua atenção e ajuda quando estive em Parelhas/RN.

A senhora Judilene (mãe da minha amiga Tássia) por toda atenção, cuidado e pela ajuda em campo quando estive lá pras bandas de Patu/RN e Belém do Brejo do Cruz/PB.

A todos que fazem a Reserva Natural Serra das Almas- RNSA meus mais sinceros agradecimentos a Darbilene, Thiago, Nayara, Ronaldo, Manuel, Eliomar (guia da reserva) e ao atrapalhado e divertido Marcos.

Ao Oziel (guia do PARNA das Setes Cidades) por sua ajuda em campo e idas e vindas nas comunidades do entorno do PARNA.

Ao Senhor Eurico Lustosa (Coordenador da Estação de Agricultura Irrigada de Parnamirim- EAIP) e equipe por toda ajuda e logística quando estive em Parnamirim/PE visitando os produtores da ecorregião D.S.Meridional.

Ao Senhor “Tico” (guia local da cidade de Passa e Fica/RN e Araruna/PB) por sua ajuda em campo quando estive lá pras bandas do Planalto da Borborema, muito agradecida!

Ao José Fernandes pela ajuda em campo quando estive no município de Santa Luzia/PB.

Ao guia e instrutor de rapel Júlio Casteleti por ter indicado o senhor “Tico” para me auxiliar nas visitas em campo na cidade de Araruna/PB.

Ao Genivaldo (guia do PARNA Parque do Catimbau) por sua ajuda e disponibilidade para ir a campo, muito agradecida!

Ao professor Leandro Furtado (Curador do herbário Dárdaro de A. Lima/UFERSA) por sua ajuda na identificação das espécies coletadas em campo, agradeço.

Ao REM, U2, Alceu Valença, Lorena Chaves, Engenheiros do Havaí, Plutão já foi planeta, The cranberries... por suas músicas me fazerem companhia em noites e dias num “embalo” de sábados, domingos, segundas..., agradeço a boa companhia!

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dessa dissertação, agradeço.

Agradecimento à CAPES pela bolsa.

Aos professores Christiane Correa, Jeane Portela e Daniel Passos pelas valiosas contribuições na defesa dessa dissertação, agradeço!

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cumulativo de observações, práticas e crenças que os seres humanos possuem em relação ao meio onde vivem. Estes atuam nas paisagens contribuindo para sua modificação por meio de técnicas adquiridas e apreendidas a partir da sistematização de seus conhecimentos acerca dos fatores bióticos e abióticos. Desta forma, o presente estudo visa compreender a percepção de comunidades rurais inseridas em áreas das caatingas quanto à formação, transformação e classificação das paisagens que as circundam. A dissertação está estruturada em 2 capítulos: o primeiro aborda sobre os critérios que os entrevistados usam para classificar as paisagens das caatingas, semelhanças e diferenças entre os sistemas de classificação tradicional e acadêmico enquanto o segundo capítulo aborda a compreensão sobre as transformações ocorridas na Caatinga nas últimas cinco décadas a partir da ótica do conhecimento popular e o uso de imagens de satélite. A seleção de informantes-chave para participação na pesquisa foi feita a partir da aplicação da técnica “bola de neve”. Com estes, foi procedido um etnomapeamento a fim de gerar um esboço cartográfico da propriedade rural e áreas adjacentes de cada colaborador; e aplicou-se a técnica de turnê guiada a fim de se obter a identificação dos espaços (unidades de paisagens) que foram indicadas por cada entrevistado quando da elaboração dos etnomapeamentos. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas em cada propriedade visitada para obtenção de informações sobre o conhecimento que cada entrevistado possui em relação a formação das paisagens que os circundam. Também foi empregada a técnica de linha do tempo e gráfico histórico, bem como foram realizadas entrevistas semiestruturadas a fim de se obter informações sobre as transformações ocorridas nas paisagens que os circundam. Para a elaboração dos mapas temáticos a partir do Sensoriamento remoto foram selecionadas imagens do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para os anos de 1985, 2004 e 2017. Foram utilizados os satélites Landsat 5 para as imagens referentes os anos de 1985 e 2004, e para o ano de 2017, utilizou-se as imagens provenientes do Landsat 8, tendo sido utilizado as bandas 3 e 4 para todos os anos. As imagens foram georreferenciadas no programa QGIS versão 2.18.13 e o Datum utilizado foi o SIRGAS 2000. A análise sobre a dinâmica da vegetação foi realizada a partir do índice de NDVI, onde obtivemos seis intervalos de refletância e cinco alvos de superfície: áreas sem vegetação, estrato herbáceo, estrato arbustivo-aberto, estrato arbustivo-arbóreo e estrato arbóreo-arbustivo. Os entrevistados reconheceram 19 unidades de paisagens para as ecorregiões amostradas, sendo estas associadas principalmente às categorias vinculadas ao relevo, fitofisionomias e origem antropogênica. A identificação e classificação das paisagens foi baseada em critérios multifatoriais e multidimensionais, como geomorfologia, estrutura vertical e horizontal da vegetação, tipos de solo, taxonomia vegetal, topônimos populares e outras características dos ecotópos. Em relação aos aspectos ético/êmico de classificação das paisagens podemos inferir que há algumas similaridades, tais como as características descritas para classificação da paisagem se relacionando com aspectos fisionômicos, relevo, tipos de solo e espécie dominante, influenciando na maneira como cada sistema de conhecimento identifica, classifica e delimita as unidades de paisagem das caatingas. O NDVI para os períodos de 1985, 2004 e 2017 mostrou uma tendência geral de substituição de áreas com classe 5 (arbustiva-arbórea) e 6 (arbórea-arbustiva) para as áreas com classe 4 (arbustiva- aberta) e classe 3 (herbácea). A comparação entre o uso de imagens e o etnoconhecimento mostrou divergências quanto congruências. Em relação às primeiras, acredita-se que estejam fundamentalmente relacionadas às diferentes escalas empregadas para a coleta de dados em cada sistema de conhecimento. Além disso, boa parte dos estudos de imagens focam prioritariamente nos padrões encontrados em detrimento dos processos envolvidos. O

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Palavras-chave: Semiárido, folk, sucessão florestal, ecorregiões, NDVI.

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set of observations, practices and beliefs that humans possess in relation to the environment in which they live. They act in the landscapes contributing to their modification through techniques acquired and apprehended from the systematization of their knowledge about the biotic and abiotic factors. In this way, the present dissertation aims to understand the perception of rural communities inserted in areas of the caatingas as to the formation, transformation and classification of the surrounding landscapes. The dissertation is structured in two chapters: the first deals with the criteria that the interviewees use to classify Caatingas’

landscapes, similarities and differences between traditional and academic classification systems while the second chapter addresses the understanding of the transformations that occurred in the Caatinga in the last five decades from the perspective of local knowledge and the use of satellite images. The selection of key informants was made through the "snowball"

technique. An ethno-mapping was carried out in order to generate a cartographic sketch of the rural property and adjacent areas of each collaborator; and the technique of guided tour was applied in order to obtain the identification of the spaces (landscapes units) that were indicated by each interviewee when preparing the ethno-maps. Semi-structured interviews were conducted in each property visited to obtain information about the knowledge that each interviewee has in relation to the formation of the surrounding landscapes. In the second chapter, the technique of timeline and historical chart was carried out, as well as semi- structured interviews in order to obtain information about the transformations occurring in the surrounding landscapes. For the elaboration of thematic maps from the Remote Sensing, INPE (National Space Research Institute) images were selected for the years 1985, 2004 and 2017. The Landsat 5 satellites were used for the images referring to the years of 1985 and 2004, and for the year 2017, images from Landsat 8 were used, and bands 3 and 4 were used for each year. The images were georeferenced in the QGIS version 2.18.13 program and the Datum used was SIRGAS 2000. The vegetation dynamics analysis was performed using the NDVI index, where we obtained six reflectance intervals and five surface targets: areas without vegetation, herbaceous stratum, shrub-open stratum, shrub-arboreal stratum and arboreal-shrub stratum. The interviewees recognized 19 landscape units for the ecoregions sampled, and these were associated mainly with the categories related to relief, phytophysiognomies and anthropogenic origin. The identification and classification of the landscapes was based on multifactorial and multidimensional criteria, such as geomorphology, vertical and horizontal vegetation structure, soil types, vegetal taxonomy, popular toponyms and other characteristics of the ecotypes. Regarding the ethical / emic aspects of landscape classification we can infer that there are some similarities, such as the characteristics described for landscape classification related to physiognomic aspects, relief, soil types and dominant species, influencing how each knowledge system identifies, classifies and delimits the landscape units of the caatingas. The NDVI for the periods 1985, 2004 and 2017 showed a general tendency of vegetation replacement, being the classes 5 (shrub- arboreal) and 6 (arboreal-shrub) substituted by vegetation of class 4 (shrub-open) and class 3 (herbaceous). The comparison between the use of images and the local knowledge showed differences as congruences. In relation to the former, they are believed to be fundamentally related to the different scales used to collect data in each knowledge system. In addition, most of the image studies focus primarily on the patterns found at the expense of the processes involved. Local knowledge can contribute to a better connection between patterns and processes, since the sertanejos (at least locally) provided an excellent record of the productive

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Keywords: Semiarid, folk, forest succession, ecoregions, NDVI.

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CAPÍTULO 1: ...30

CLASSIFICAÇÃO DE PAISAGENS EM ECORREGIÕES DA CAATINGA POR MEIO DA ETNOECOLOGIA DE PAISAGEM ...30

1.1 INTRODUÇÃO ...31

1.2 MATERIAL E MÉTODOS ...32

1.2.1 Área de estudo ...32

1.2.2 Coleta de dados ...34

1.2.3 Análise dos dados ...35

1.3 RESULTADOS ...36

1. 4 DISCUSSÃO ...48

1.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...56

1.6 REFERÊNCIAS ...57

CAPÍTULO 2: ...59

CONTEXTO HISTÓRICO E (TRANS) FORMAÇÃO DE PAISAGENS NA CAATINGA ...59

2.1 INTRODUÇÃO ...60

2.2 MATERIAL E MÉTODOS ...62

2.2.1 Área de Estudo ...62

2.2.2 Coleta e análise de dados ...65

2.3 RESULTADOS ...69

2.4 DISCUSSÃO ...88

2.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...94

APÊNDICE 1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...99

APÊNDICE 2 Roteiro de Entrevistas ...102

APÊNDICE 3 Preparação de Material Botânico ...105

APÊNDICE 4 Dados sobre ponto e orbita usados para seleção das imagens que foram georreferenciada para o presente estudo. ...106

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ANEXO 02 Etnomapeamentos ...110

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et al. 2002. ...33 Figura 2 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para as ecorregiões D.S.Meridional (A) e D.S.Setentrional (B). ...37 Figura 3 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para as ecorregiões Planalto da Borborema (A) e Raso da Catarina (B). ...38 Figura 4 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para a ecorregião Campo Maior (A) e Chapada Ibiapaba-Araripe (B). ...39 Figura 5 Análise de Correspondência (CA) mostrando a ordenação das respostas dos entrevistados em relação às principais categorias empregadas para a classificação das paisagens das caatingas. ...45 Figura 6 Localização das ecorregiões e respectivos municípios amostrados (círculos em vermelho) Adaptado de Velloso et al, 2002. ...63 Figura 7 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Piracuruca/PI (Campo Maior), comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017 ...71 Figura 8 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Piracuruca/PI (Complexo Campo Maior), comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...71 Figura 9 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Buriti dos Montes/PI e Crateús/CE (C. Ibiapaba-Araripe) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...72 Figura 10 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Buritis dos Montes/PI e Crateús/CE (C. Ibiapaba-Araripe) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...72 Figura 11 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Assú, Angicos, Pedro Avelino e Lajes /RN (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...73 Figura 12 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Assú, Pedro Avelino, Lajes e Angicos/RN (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...73 Figura 13 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Santa Luzia/PB e Parelhas/RN D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...74 Figura 14 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Santa Luzia/PB e Parelhas/RN (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...74 Figura 15 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Patu/RB e Belém do Brejo do Cruz/PB (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...75

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Figura 17 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Serra Negra do Norte/RN (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...76 Figura 18 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Serra Negra do Norte/RN (D.S.Setentrional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...76 Figura 19 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Parnamirim/PE (D.S.Meridional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...77 Figura 20 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Parnamirim/PE (D.S.Meridional) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017.

...77 Figura 21 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Araruna, Cacimba de Dentro e Solânea/ PB (P. Borborema) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. .78 Figura 22 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para os municípios de Araruna, Solânea e Cacimba de Dentro/PB (P. Borborema) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...78 Figura 23 Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Buíque/PE, (R.Catarina) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017. ...79 Figura 24 Percentual das classes obtidas pelo Índice de vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) para o município de Buíque/PE (R.Catarina) comparação entre os anos de 1985, 2004 e 2017 ...79 Figura 25 Diagramação representativa do uso histórico de áreas na ecorregião Complexo de Campo Maior. ...83 Figura 26 Diagramação representativa do uso histórico de áreas na ecorregião Complexo Ibiapaba- Araripe...83 Figura 27 Diagramação representativa do uso histórico de áreas na ecorregião D.S. Setentrional. ...84 Figura 28 Diagramação representativa do uso histórico de áreas na ecorregião D. S. Meridional. ...84 Figura 29 Diagramação representativa do uso histórico de áreas da ecorregião Planalto da Borborema.

...85 Figura 30 Diagramação representativa do uso histórico de áreas da ecorregião Raso da Catarina. ...85

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Tabela 2 Classificação das Unidades de paisagens por ecorregiões, características, espécies dominantes, uso principal e número de citações. ...40 Tabela 3 Categorias e fatores de classificação para as paisagens identificadas nas ecorregiões. ...44 Tabela 4 Municípios amostrados no presente estudo. (Faltava inserir dois municípios) ...64 Tabela 5 Intervalos de NDVI e seus correspondentes para classe e alvos de superfície/uso do solo. ...66 Tabela 6 Histórico da gestão da paisagem e cobertura vegetal ecorregiões visitadas segundo os sertanejos e de acordo com o índice do NDVI. ...86

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INTRODUÇÃO GERAL

“(...) Nossa individualidade na individualidade do entorno, armazenados na memória e na alma (...)”.

(CABRAL, 2000).

O Conhecimento Ecológico Tradicional (TEK – do inglês traditional ecological knowledge) foi definido por Berkes et al. (1998) como um conjunto cumulativo de conhecimentos, práticas e crenças sobre a relação dos humanos com o meio onde vivem. O TEK engloba o conhecimento sobre os processos ecológicos, o conhecimento relacionado as práticas e uso do ambiente, e os valores culturais, éticos que definem as relações do homem no mundo natural (HOUDE, 2007). Ele pode ser considerado a síntese cultural e histórica da comunidade, uma vez que está ligado a três dimensões principais: a) experiências acumuladas por meio da história de vida e que serão transmitidas pelas gerações posteriores pertencentes a certa cultura; b) as experiências compartilhadas por uma geração; c) e a experiência individual de cada agente social alcançada pelas práticas da experimentação e da repetição, associadas à junção de repertórios de uma população sobre as condições ecológicas do meio onde vivem (TOLEDO;BARRERA-BASSOLS, 2009). A integração destas dimensões, bem como com outras formas de conhecimento e tecnologias pode ser interpretada como um mecanismo adaptativo (BERKES et al., 2000; RUI-BOSOMS et al. 2015) o qual permite às populações humanas enfrentarem as mudanças ambientais e socioeconômicas associadas ao uso e manejo das paisagens.

Os sistemas ecológicos operam em multiplicidade de escalas de tempo e espaço, e entender como tais sistemas interagem e se diferem entre essas escalas pode ser desafiador quando considerados os “tempos da academia”. Neste sentido, o TEK, sendo cumulativo e empírico pode fornecer informações úteis para o aumento da compreensão sobre processos ecológicos, com potenciais aplicações em gerenciamento e conservação de recursos naturais (BERKES; FOLKE, 1998; PEREIRA; DIEGUES, 2010). Uma dimensão importante do estudo do conhecimento tradicional se refere à classificação dos elementos que compõem os sistemas ecológicos e compreensão dos aspectos cognitivos subjacentes à tal classificação.

Segundo Toledo (2000, 2015), o sistema de classificação e “batismo” de tais elementos pelos humanos é fundamentado na interação entre símbolos, percepções, conceitos, memórias e linguagem, elementos centrais do chamado “sistema cognitivo tradicional”.

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A perspectiva cognitiva no âmbito do estudo do TEK traz consigo as classificações etnobiológicas e busca registrar o significado que um determinado grupo social atribui às espécies biológicas contidas nos ecossistemas. Assim, o estudo das classificações etnobiológicas se debruça sobre: reconhecer, categorizar e conferir sistematicamente organizações biológicas, ecológicas, geográficas e físicas a fim de caracterizar uma ordem taxonômica e gerar uma interpretação de como os elementos se relacionam entre si de forma complexa (TOLEDO, 2015).

No âmbito da chamada Taxonomia folk 1, há duas teorias principais que ora se distinguem e ora se aproximam quanto aos critérios usados para a classificação da estrutura biológica sobre plantas e animais. A primeira teoria, proposta por Berlin (1973) afirma que as taxonomias populares são originadas a partir da cognição universal existente nos grupos humanos que fornece a estrutura histórica da biologia sistemática. As estruturas para a montagem da classificação são como produtos rotineiros e se caracterizam por gerarem

“hábitos mentais”, levando a criação de domínios taxonomicamente organizados (BERLIN et al., 1973). Já a segunda teoria, proposta por Hunn (1982), afirma que a hierarquia taxonômica construída é baseada na utilidade dos elementos da natureza para cada grupo humano. Apesar das distinções entre si, as duas teorias se estabelecem dentro do domínio e correspondência para o saber êmico2. Ademais, ambas as teorias podem operar em escalas de organização biológica diferentes, sendo a primeira mais usada nos estudos etnobiológicos abordando classificações tradicionais de plantas e animais (SANTOS et al., 2007; ATRAN, 1998), enquanto a segunda frequentemente é empregada em estudos etnoecológicos sobre classificação de ecossistemas ou paisagens (HAYS, 1974 apud HUNN, 1992; HUNN, 1977 apud HUNN, 1992; Silva et al., (2017).

Para a etnoecologia, a abordagem do termo paisagem apresenta os seguintes significados: paisagem como perspectiva ou ponto de vista, paisagem como representação, padrões de paisagem, estruturas e a importância de escala; e paisagem como fundamento da gestão da terra (JOHNSON; DAVIDSON-HUNT, 2011). O foco da etnoecologia da paisagem3 está centrado nos aspectos ecológicos das paisagens buscando compreender como

1 Termo cunhado por Berlin (1973) que traduzido pode ser entendido como taxonomias nativas, ou taxonomia popular.

2 Os termos êmico e ético são utilizados para representar uma analogia entre os observadores de dentro (insiders) e os observadores de fora (outsiders) (CAMPOS, 2002). A abordagem ética refere-se à interpretação dos aspectos de outra cultura a partir das categorias de análise daqueles que a observam. A abordagem êmica procura compreender uma determinada cultura com base nos referenciais adotados pelos membros dessa cultura.

3 Termo cunhado por Johnson & Hunn em 2010 para designar a percepção e interações de povos tradicionais sobre padrões e classificação de sistemas ecológicos locais e sobre a significância do entendimento dos elementos que constituem o espaço biótico e abiótico em que as pessoas vivem.

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estas são percebidas, nomeadas, imaginadas, classificadas e manejadas pelas populações que vivem nelas (JOHNSON; HUNN, 2010; BABAI; MOLNÁR, 2013).

Do ponto de vista da etnoecologia da paisagem, bem como da ecologia histórica, a paisagem é modificada a partir da cultura e, portanto, a maneira como a paisagem se apresenta é resultado das relações dinâmicas dos humanos, bem como dos outros seres vivos, com o ambiente em que vivem (HOUDE, 2007). Dependendo do histórico de influência dos humanos nas paisagens, estas podem ser consideradas antropogênicas ou ainda “artefatos culturais”, visto que cultura e ambiente mantêm entre si uma relação dialética (BALEÉ, 2006). A organização dos elementos das paisagens ocorre de maneira dinâmica ao longo do tempo e espaço, gerando assim feições e condições diferenciadas ou repetidas o que permite uma classificação ou agrupamento dos elementos similares ou uma separação daqueles que são distintos entre si. Acarretará daí a formação de um mosaico articulado, que permitirá ser entendido como algo detalhado ou amplo, dependendo do interesse do observador (MAXIMIANO, 2004).

As menores unidades de paisagens reconhecidas culturalmente são denominadas de ecótopos ou ecótopos populares (“Folk Ecotope”). Neles são reconhecidos e estão incluídos os componentes bióticos, abióticos, culturais e antropogênicos. Deste modo, os ecótopos refletem uma relação de cosmologia e sistemas de conhecimento (JOHNSON; HUNN, 2010).

Cada ecótopo popular pode ser reconhecido de maneiras diferentes, pois a relação de classificação não será baseada somente em agrupamentos de espécies vegetais e animais, mas devido a “natureza” da composição do ecótopo, ele terá uma característica de um continuum.

No Brasil, estudos em etnoecologia da paisagem realizados por Mello (2013) na Floresta Ombrófila Mista, Shepard (2015) e Junqueira et. al. (2001) na Floresta Amazônica apresentaram e discutiram como as populações humanas classificam, manejam e conservam os espaços florestais, fazendo a gestão de paisagens atualmente e historicamente. Contudo, quase não existem estudos com abordagens semelhantes para os outros biomas brasileiros, fato que revela uma importante lacuna nos estudos etnoecológicos no país.

Na região nordeste brasileira localiza-se o Semiárido Tropical que representa 11% do território nacional, sendo a região semiárida mais populosa do mundo (GIONGO et al. 2011) com uma área de 982.309,4 mil km2 (SUDENE, 2017). Nessa região estão localizadas as caatingas4 que se estendem em cerca de 844.453 Km2 correspondendo a 9,92% (IBGE, 2012)

4 No primeiro capítulo da presente dissertação a denominação usual será “caatingas” no plural, conforme preconizado por Andrade-Lima (1966), devido ao conjunto de fisionomias da província apresentar diferentes

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da área terrestre do território brasileiro, e incluem os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, parte significativa da Paraíba e Pernambuco, sudeste do Piauí, oeste de Alagoas e Sergipe, região norte e central da Bahia e uma faixa estendendo-se ao norte de Minas Gerais.

As caatingas estão em uma extensa área geográfica e possuem tipos vegetacionais cujas características principais são florestas arbóreas ou arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos muitos dos quais apresentam espinhos, microfilia e características xerofíticas (PRADO, 2003). Os critérios fisionômicos-ecológicos das caatingas estão correlacionados aos índices xerotérmicos e aos tipos de solo (GIONGO et al. 2011;

MORO et al. 2016). A denominação “caatinga” é de origem Tupi-Guarani e significa “floresta branca”5, que certamente caracteriza bem o aspecto da vegetação na estação seca quando as folhas caem (ALBUQUERQUE; BANDEIRA, 1995) e permanecem apenas os troncos e galhos brancos das árvores e arbustos na paisagem ressequida.

As diversas classificações dos grupos vegetacionais das caatingas se apoiam em critérios fisionômicos-florísticos e fitogeográficos. Em Rizzini (1963) a classificação das caatingas foi baseada em subprovíncias do Nordeste dividas por setores: o sertão, com uma vegetação arbustiva espinhosa e suculenta e o setor agreste, com floresta xerófila decídua. Já Veloso (1964) dividiu as caatingas em dois grupos e sub-regiões principais: “Formação Caatinga”, com vegetação predominantemente decídua espinhosa e “Formação florestal”, apresentando vegetação arbórea decídua, espinhosa, com árvores perenifólias espalhadas. Em Andrade-Lima (1981) a classificação da formação vegetacional das caatingas é uma concepção florística da província, sem, contudo, perder a relação com a fisionomia e a ecologia da vegetação. A separação de unidades de vegetação e tipos de comunidades das caatingas é o cerne da formação vegetacional proposto por esse autor. As unidades propostas englobam: tipo de vegetação, fisionomia e localidade, substrato e pressão antrópica, sendo apresentadas 12 comunidades-tipo, ou seja, espécies que caracterizam uma associação vegetal. Prado (2003), por sua vez, concorda com a classificação das comunidades-tipos proposta por Andrade-Lima e adiciona um décimo terceiro tipo baseado na dominância da espécie Auxemma oncocalyx.

Ainda que do ponto de vista florístico, as caatingas estejam divididas em dois grupos florísticos principais em função do tipo de solo: um localizado nas planícies cristalinas da vegetações e numerosas aparências, o que converge com as classificações e peculiaridades encontradas para cada unidade de paisagem descrita pelos participantes da minha pesquisa.

5 A categoria de classificação e nomeação para uma característica fisionômica gerou o “batismo” do nome do bioma caatinga, este advindo da classificação semiótica atrelada ao saber êmico.

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depressão sertaneja e outro nas bacias sedimentares (MORO et al. 2016), sob o aspecto fisionômico, estas se apresentam como um grande mosaico de tipos vegetacionais arbóreos- arbustivos espinhosos e tipos florestais sazonalmente secos resultantes da inter-relação entre morfologia dos solos, formação geomorfológica, geológica e clima. A partir dessa diversidade de mosaicos que compõem cada paisagem, surgiram critérios de denominação e características que ajudaram a separar cada um desses ambientes.

O Zoneamento Agroecológico do Nordeste- ZANE (1993, 2000), realizado pela EMBRAPA, reconheceu que há 25 unidades paisagísticas distintas no Nordeste brasileiro, e a grande maioria destas estão dentro do bioma caatinga. Estas, por sua vez foram classificadas em ecorregiões. De acordo com Velloso et al. (2002), ecorregião por ser definida como “uma unidade relativamente grande de terra e água delineada pelos fatores bióticos e abióticos que regulam a estrutura e função das comunidades naturais que lá se encontram” (BAILEY, 1998 apud VELLOSO et al. 2002). Desta maneira, foram sugeridas oito ecorregiões para a Caatinga: o Complexo Campo Maior, o Complexo Ibiapaba-Araripe, a Depressão Sertaneja Setentrional, o Planalto da Borborema, a Depressão Sertaneja Meridional, as Dunas do São Francisco, o Complexo da Chapada Diamantina e o Raso da Catarina. Ressalta-se que não foram incluídos na divisão das ecorregiões os enclaves de floresta úmida, pois considerou-se que há uma maior afinidade destes com os biomas florestais de Mata Atlântica e Amazônia (ANDRADE-LIMA, 1981). A proposição da divisão do bioma caatinga em ecorregiões estava atrelada a busca por maior conhecimento sobre os aspectos geofísicos e de biodiversidade do bioma, bem como da necessidade de traçar novos planos de conservação para o mesmo, a partir da identificação de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade.

A influência do ser humano dentro das áreas das caatingas está atrelada a uma dinâmica social que molda a paisagem e os recursos naturais. Em larga escala, os recursos das caatingas têm sido historicamente explorados como lenha para indústrias (cerâmica, gesso) e produção de carvão. Além disso, grande parte das caatingas foram convertidas a plantações de algodão até a década de 1980, quando a atividade entrou em declínio. Mais recentemente, outro fator de conversão de grandes áreas tem sido a expansão do agronegócio (LAPOLA et al. 2014), principalmente para a produção de frutas para exportação. Em menor escala, as caatingas vêm sendo alteradas através dos chamados distúrbios antropogênicos crônicos, tais como o uso doméstico de lenha, agricultura de coivara, criação de caprinos e coleta de produtos florestais não-madeireiros (RITO et.al 2017, SANTOS et.al. 2011 e OLIVEIRA;

SANTOS; TABARELLI, 2008).

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Estudos desenvolvidos para avaliar mudanças na cobertura vegetal em floretas secas (AIDE et al. 2012; LEVY; REDO; BOILLA-MOHENO, 2012; MMA-IBAMA, 2010) relatam que está ocorrendo um processo de recuperação florestal nas caatingas apesar das dinâmicas de alterações demográficas e sócio-econômicas. O processo de migração pode ser um fator que está estimulando a recuperação florestal, acarretando a formação de espaços

“novos” que fornecem serviços ecossistêmicos (AIDE et al. 2012). Entretanto, há outros trabalhos (BEUCHLE et al. 2015; VIEIRA et al. 2013; CASTELLETTI et al. 2003) cujos resultados contrastam com os anteriormente citados, uma vez que registram grandes reduções de cobertura vegetal advindo do aumento da população, do desmatamento e da expansão das fronteiras agrícolas. As diferenças nas conclusões dos estudos baseados em imagens e geoprocessamento sobre a dinâmica da vegetação da caatinga geralmente são atribuídas às diferentes metodologias empregadas, bem como à falta de checagem em campo dos resultados obtidos. Neste sentido, o etnoconhecimento pode fornecer informações sobre o histórico das paisagens de cada ecorregião, permitindo o refinamento dos resultados e confirmação das tendências obtidas em maior escala.

Entender como se processa a classificação êmica das paisagens das Caatingas, bem como sistematizar as percepções das comunidades rurais sertanejas sobre a sua dinâmica temporal contribui para aumentar a compreensão de como tais paisagens foram moldadas pelas relações entre os seres humanos e atividades produtivas, tema que ainda é motivo de muita discussão na academia. Assim, o objetivo geral desse estudo é caracterizar a percepção de comunidades rurais inseridas nas caatingas quanto à formação, transformação e classificação das paisagens que as circundam, a fim de ampliar o conhecimento ecológico necessário para o manejo, conservação e restauração destas paisagens. Os objetivos específicos são:

 Descrever as percepções êmicas de feições naturais (fatores bióticos e abióticos) e fitofisionomias das paisagens das caatingas;

 Sistematizar o conhecimento ecológico tradicional (TEK) sobre a formação e transformações das paisagens das caatingas;

 Comparar as unidades de paisagens definidas pelo TEK com a classificação científica das Caatingas;

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 Apresentar uma síntese sobre o uso histórico e ocupação do solo das caatingas a partir do TEK e do uso de imagens de satélite a fim de ampliar o conhecimento sobre a dinâmica da vegetação das caatingas.

A dissertação está estruturada em dois capítulos, com abordagens distintas, mas complementares: o primeiro se refere a um estudo de etnoecologia de paisagens que buscou compreender de que forma os produtores rurais sertanejos classificam as paisagens encontradas nas caatingas e o segundo apresenta uma caracterização histórica da dinâmica das paisagens das caatingas a partir do conhecimento local e do uso de imagens de satélite.

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CAPÍTULO 1:

CLASSIFICAÇÃO DE PAISAGENS EM ECORREGIÕES DA CAATINGA POR MEIO DA ETNOECOLOGIA DE PAISAGEM

RESUMO

Populações humanas influenciam características bióticas e abióticas levando a uma heterogeneidade de paisagens, sendo a identificação e definição de tais paisagens, do ponto de vista êmico, baseada nas percepções individuais ou coletivas de cada grupo social. Este estudo foi realizado em seis ecorregiões da caatinga e teve por objetivo compreender a percepção de comunidades rurais inseridas em áreas das caatingas quanto à formação e classificação das paisagens que as circundam. Em cada ecorregião foram selecionadas, por meio da técnica

“bola de neve”, pessoas que possuíam um histórico de vida ligado à terra. Com as pessoas selecionadas foram realizadas 67 entrevistas semiestruturadas, onde investigamos aspectos voltados para classificação e formação dos espaços onde elas vivem e entorno. Os entrevistados reconheceram 19 unidades de paisagens para as ecorregiões amostradas, sendo estas associadas principalmente às categorias vinculadas ao relevo, fitofisionomias e origem antropogênica. A identificação e classificação das paisagens foi baseada em critérios multifatoriais e multidimensionais, como geomorfologia, estrutura vertical e horizontal da vegetação, tipos de solo, taxonomia vegetal, topônimos populares e outras características dos ecotópos. Em relação aos aspectos ético/êmico de classificação das paisagens encontramos similaridades entre os dois sistemas tais como os principais critérios de classificações para as paisagens serem relacionadas à tipos fisionômicos, relevo e tipo de substrato, os quais são empregados na maneira como cada sistema de conhecimento identifica, classifica e delimita as unidades de paisagem das caatingas. Por outro lado, a principal diferença encontrada residiu no número maior de unidades de paisagem reconhecidas na perspectiva êmica, o que está atrelado ao fato dos agricultores terem considerado em sua classificação todas as paisagens antropogênicas.

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1.1 INTRODUÇÃO

A paisagem pode ser caracterizada como uma instância física multidimensional que possui características tanto espaciais quanto temporais advindas e modificadas pela atividade humana (BALÉE; ERICKSON, 2006). Assim, é mister atrelar a história das paisagens ao longo do tempo com a interação entre sociedades humanas e natureza, levando em conta os efeitos da reciprocidade causada pelo homem na paisagem e desta no comportamento humano e na cultura (BALÉE, 2006, 2008). Pode-se afirmar que as ações das diversas sociedades modelam a natureza ao longo do tempo.

Dentro da perspectiva etnoecológica os usos e ações de manejo influenciarão de maneira significativa os ecossistemas. Sendo assim, a construção do conceito de paisagens sob a visão da etnoecologia será fundamentada em como os seres humanos interpretam elementos locais e percebem padrões (JONHSON; HUNN, 2009, 2010). A Etnoecologia da paisagem é o estudo das múltiplas relações entre populações humanas e paisagens. Esta busca identificar a história das modificações nos ambientes e a memória sobre a terra (JOHNSON;

HUNN, 2010). Dentro da visão da etnoecologia da paisagem a classificação para unidades heterogêneas manejadas e percebidas, advindas das ações humanas sobre os espaços onde vivem, reflete um significado particular e distinto. A partir de tais percepções são geradas as

“categorias naturais” ou ecótopos (HUNN; MEILLEUR, 2009), que correspondem a associações de espécies de plantas e/ou animais com determinadas manchas ou “patchs” para integrar informações etnobiológicas com dados etnogeográficos.

Desde o final do Pleistoceno as populações humanas vêm moldando as paisagens florestais em áreas de florestas secas tropicais nos neotrópicos (LEVIS et al., 2017) sendo as

“caatingas”, localizadas na região Semiárida brasileira, as áreas mais extensas de tais florestas encontradas atualmente. Dentro do espaço das caatingas, a identidade cultural regionalizada se apoia sobre paisagens e revela a figura sertaneja, marcando a identidade destes como grupo social. Os caatingueiros, na figura do sertanejo representam o espaço das caatingas, pois refletem os modos de vida e convivência com a terra e com as condições do semiárido (TABARELLI et al., 2017) . As atividades desenvolvidas, principalmente a agricultura e a criação de caprinos advêm dos processos produtivos ajustados às condições ambientais. Tais atividades são desenvolvidas a partir dos conhecimentos advindos da observação e do manejo dos recursos para sua reprodução social. A relação dessas populações humanas com o ambiente a partir das práticas da agricultura, criação animal, extração de produtos madeireiros

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e não-madeireiros resultou em paisagens com diferentes graus de domesticação (CLEMENT, 2001).

Desde modo, acredita-se que os sujeitos geradores de tal heterogeneidade ambiental detenham um grande conhecimento sobre a formação dessas paisagens, o qual pode fornecer elementos importantes para sua conservação e restauração. Sendo assim, o objetivo desse estudo é compreender como os produtores sertanejos reconhecem, classificam e utilizam diferentes unidades de paisagens, buscando ainda responder as seguintes perguntas: a) que critérios os entrevistados usam para classificar as unidades de paisagem das Caatingas? b) a complexidade do sistema de classificação tradicional é equivalente à encontrada nos trabalhos acadêmicos? c) quais semelhanças e diferenças existem nos sistemas de classificação folk e acadêmico?

1.2 MATERIAL E MÉTODOS 1.2.1 Área de estudo

O presente estudo abrangeu seis das oito ecorregiões propostas para a Caatinga e definidas por Velloso et al. (2002) (Figura 1). São estas: 1) Ecorregião Complexo de Campo Maior, 2) Ecorregião Complexo Ibiapaba-Araripe, 3) Ecorregião Depressão Sertaneja Setentrional, 4) Ecorregião Depressão Sertaneja Meridional, 5) Ecorregião Planalto da Borborema e 6) Ecorregião Raso da Catarina. A escolha pelas áreas justifica-se pelo conjunto de diferentes tipos de ambientes existentes dentro do Domínio Fitogeográfico da Caatinga (CPD), onde a formação dos terrenos geológicos contribui para a formação dos padrões de fitogeografia que resulta nas variações de fisionomia e restrições ecológicas semelhantes. A distribuição da vegetação irá ocorrer em terrenos de rochas cristalinas (Caatinga Cristalina), em áreas de terrenos sedimentares (Caatinga Sedimentar) e em locais de formação Cártica, bem como em áreas amostrais distribuídas em zonas ecotonais. A realização dos campos para coletas de dados ocorreu entre os meses de outubro e dezembro de 2016, e entre março a julho de 2017, tendo sido visitados 17 municípios distribuídos nas seis ecorregiões (Figura 1 e Tabela 1).

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Figura 1. Ecorregiões da caatinga com destaque para os municípios amostrados. Adaptado de Velloso et al. 2002.

Fonte: Laboratório de Etnoecologia e Biodiversidade/UFERSA.

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Tabela 1 Identificação das ecorregiões e respectivos municípios visitados.

Ecorregião Formação geológica

Município Coordenadas geográficas

Complexo Campo Maior Bacia Sedimentar

Piracuruca (PI) 03º 55' 41'' S 41º 42' 33'' W

Complexo Ibiapaba-Araripe

Bacia Sedimentar/Cristalina

Buriti dos

Montes (PI) 05º 18' 43'' S 41º 05' 50'' W Crateús (CE)6 05º 10' 42'' S 40º 10' 42'' W

Depressão Sertaneja Setentrional

Bacia Cristalina

Lajes (RN) 05º 42' 00'' S 36º 14' 41'' W Angicos (RN) 05º 39' 56'' S 36º 36' 04'' W Pedro Avelino

(RN) 05º 31' 18'' S 36º 23' 17'' W Área Carstica Açu (RN) 05º 34 '36'' S 36 º54' 31'' W

Bacia Cristalina

Parelhas 06º 41' 16'' S 36º 39' 27'' W Serra Negra do

Norte 06º 39' 56'' S 37º 23' 50 '' W Patu (RN) 06º 06' 36'' S 37º 38' 12'' W Belém do Brejo

do Cruz (PB) 06º 11' 19'' S 37º 32' 09'' W Santa Luzia (PB) 06º 52' 20'' S 36º 55' 07'' W

Depressão Sertaneja Meridional

Bacia Cristalina

Parnamirim (PE) 08º 05' 26'' S 39º 34' 42'' W

Planalto da Borborema

Bacia Cristalina

Solânea (PB) 06º 45' 18'' S 35º 32' 24'' W Araruna (PB) 06º 33' 30'' S 35º44'30'' W

Cacimba de

Dentro (PB) 06º 38' 30'' S 35º47' 24'' W

Raso da Catarina

Bacia Sedimentar;

Zona ecotonal. Buíque (PE) 08º 37' 23'' S 37º 09' 21'' W

Fonte: Laboratório de Etnoecologia e Biodiversidade/UFERSA.

1.2.2 Coleta de dados

A seleção dos participantes da pesquisa em campo foi feita pela técnica “bola de neve”

(BERNARD, 2006). Após a seleção dos informantes, foi feita a apresentação da pessoa responsável pelo desenvolvimento da pesquisa, bem como foram apresentados a justificativa, objetivos e as técnicas a serem usadas para a realização desta. Todos os participantes/informantes dispostos a participar da pesquisa receberam uma cópia do Termo de Consentimento Prévio (Apêndice 01) com todas as informações acerca da pesquisa, levando-se principalmente em conta todos os aspectos éticos referentes à pesquisa etnoecológica. A saber, a presente pesquisa foi autorizada pela Plataforma Brasil (Anexo 01)

6 O município de Crateús, apesar de estar com localização na eocrregião D. S. Setentrional (conforme figura 1), localiza-se na porção NE da Ecorregião Complexo Ibiapaba-Araripe, segundo Velloso et al, 2002.

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sob número de registro CAAE: 63088416.0.0000.5294 e está amparada legalmente pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.

Estando o informante de acordo em participar da pesquisa, foram procedidas as metodologias expostas a seguir. Inicialmente, foram aplicadas entrevistas individuais semiestruturadas (ALBUQUERQUE; LUCENA; NELSON, 2010), a fim de se obter informações sobre as percepções e conhecimento do entrevistado em relação à formação, e classificação das paisagens da Caatinga. Os entrevistados foram ainda questionados sobre os aspectos bióticos e abióticos de cada paisagem. (Apêndice 02). Uma vez sendo consentido, foram feitos registros fotográficos das áreas de paisagens indicadas e dos entrevistados, bem como foram feitas gravações das conversas concedidas.

Após a finalização das entrevistas, os participantes foram convidados a elaborarem um mapa participativo ou etnomapeamento das áreas de sua propriedade e áreas adjacentes (anexo 02), o qual foi validado em campo através da técnica de turnê-guiada. Esta técnica também serviu para a coleta de amostras de material botânico (Apêndice 03) para posterior identificação de confecção de exsicatas que serão depositadas no Herbário Dárdaro de Andrade Lima da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) em Mossoró/RN.

As amostras botânicas coletas são referentes a indicação das espécies mais dominantes que foram citadas por cada entrevistado.

1.2.3 Análise dos dados

As análises dos dados foram feitas a partir do uso de estatística descritiva e multivariada. Para os resultados obtidos sobre classificação e nomeação (Etnotaxonomia e Sistemática Semântica) de cada Unidade de Paisagem citada, consideramos as classificações propostas por Johnson e Hunn (2010), Ellen (2010), Shepard (2001), Babai e Mólnar (2013) e Hunn e Meilleur (2010). Para a comparação dos saberes/classificações dos entrevistados com o conhecimento acadêmico, tomamos como base os trabalhos desenvolvidos sobre as caatingas realizados por Andrade-Lima (1981), Prado (2003), Velloso et al. (2002), Araújo (1999) e Araújo et al. (2011). Para averiguar a relação entre os fatores/critérios de classificação para as paisagens e as respostas dos entrevistados, foi executada uma análise de correspondência (AC) por meio do pacote “ca” na linguagem R (NENADIC; GREENACRE, 2007). Para os perfis esquemáticos, representativos de cada unidade de paisagem citada que correspondeu àquelas para cada ecorregião, foi utilizado o Adobe Illustrator, e a organização

(36)

das imagens foram realizadas no Adobe Photoshop. Eles representam a junção das unidades de cada ecorregião e remetem ao etnoconhecimento.

1.3 RESULTADOS

Foram realizadas 67 entrevistas nas seis ecorregiões, tendo sido entrevistados 53 homens e 14 mulheres. A grande maioria dos entrevistados (62,69 %) trabalha ou trabalhou nas atividades agrícolas (roça). A idade dos entrevistados variou de 36 a 86 anos, com média de 60 (dp± 36,77) anos, enquanto seu tempo de moradia na região variou de 8 a 86 anos, com média de 47 (dp± 55,15) anos.

1.3.1 Conhecimento e classificação das paisagens

Os entrevistados reconheceram e identificaram 19 unidades de paisagem. As figuras 2, 3 e 4 representam o perfil esquemático elaborado para cada unidade de paisagem em suas respectivas ecorregiões e a Tabela 2 sumariza as características dessas unidades para as seis ecorregiões amostradas. Destas, apenas a unidade Capoeira foi comum a seis ecorregiões. Já a unidade Baixio/Várzea foi a que obteve maior número de citações. As unidades de paisagens identificadas apresentaram distinções e peculiaridades marcantes em relação as tipologias vegetacionais (fitofisionomias e espécies vegetais dominantes) e aos tipos de relevo. Outros aspectos importantes empregados na classificação êmica das paisagens foram os tipos de solo (aspectos físicos e qualidade), regiões geográficas, presença de água e o uso potencial da paisagem neste último caso, sobretudo para as paisagens antropogênicas (capoeira, manga, quintal). Secundariamente, também foi verificado, em alguns casos, o emprego da dicotomia plantas nativas x cultivadas, que em termos êmicos, se expressou nas categorias “filhas da terra” (nativas) x “plantas tradicionais” (cultivadas).

(37)

Figura 2 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para as ecorregiões D.S.Meridional (A) e D.S.Setentrional (B).

A

B

(38)

Figura 3 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para as ecorregiões Planalto da Borborema (A) e Raso da Catarina (B).

A

B

(39)

Figura 4 Perfil esquemático a partir do etnoconhecimento para as Unidades de Paisagens identificadas para a ecorregião Campo Maior (A) e Chapada Ibiapaba-Araripe (B).

B

A

(40)

Tabela 2 Classificação das Unidades de paisagens por ecorregiões, características, espécies dominantes, uso principal e número de citações.

Unidade de

Paisagem

Unidade de Paisagem

Tipos de

variações Características

Espécies Dominantes

Uso Principal Ecorregiões

Citações Nome popular

Nome Científico

1 Baixio/Várzea Roça

Área de solo argiloso, comumente localizado nos "pés" de serra ou serrote, ficando em terreno mais baixo. Onde predomina os vegetais do tipo "legumes"; a área é tida como "terra boa" e "terra forte".

Há próximo as áreas de baixios, a formação de “revenças”.

Milho, feijão e Capim

Phaseolus vulgaris L.; Zea

mays;

Pennisetum purpureum

Forragem e alimentação

humana

D.S.Setentrional;

D.S.Meridional;

Raso da Catarina;

Planalto da Borborema e

Complexo Ibiapaba-

Araripe. 43

2 Caatinga

Área de solo pedregoso/arenoso

"chapada de pedra", com terra vermelha/terra tombada. As plantas estão distribuídas de forma espaçada.

Faveleira;

Angico

Cnidosculus quercifolius

Pohl;

Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan

ver.

Forragem, uso para lenha

D.S.Meridional;

Complexo Ibiapaba-

Araripe. 13

Aberta/Fechada

Área de solo arenoso/pedregoso, de

"terra seca" o relevo é de chapada.

As plantas de tamanho grandes, médias, pequenas e rasteiras se distribuem de forma espaçadas (maioria) e de forma unida.

Pereiro;

Catingueira

Aspidosperma pyrifolium Mart. & Zucc.;

Poincinella bracteosa (Tull.) L.P.

Queiroz

Forragem e alimentação

humana

D.S.Setentrional;

Raso da Catarina; D. S.

Meridional 19 Ouricuri;

Canzenzo

Syagrus coronata (Mart.) Becc.;

Pityrocarpa moniliformis

(Benth.) Luckow &

R.W.Jobson

Mato Maior/Mato

menor

Área de "terra bruta" com solo arenoso/pedregoso. As plantas são de porte grande (mato maior) sendo consideradas "mato grosso", e médio e se distribuem de forma espaçada e juntas.

Catingueira;

Amorosa

Poincinella bracteosa (Tull.) L.P.

Queiroz;

Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke

Forragem e uso para lenha

e cercas.

D.S.Setentrional;

Planalto da

Borborema 1

Branca

Área de solo arenoso, de relevo plano. As plantas são nativas e se distribuem de forma espaçada. Os tamanhos delas são grandes e

médios. Facheiro

Pilosocereus pachycladus F.

Ritter Forragem Raso da Catarina 2

Referências

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