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Tecnologia Agrícola
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Leila Luci Dinardo-Miranda Instituto Agronômico de Campinas
Nas condições brasileiras, três espécies de nematóides são
reconhecidamente importantes para a cana-de-açúcar, em função dos danos que causam à cultura: Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. P. zeae é, sem dúvida, a mais comum, embora M. incognita seja a mais daninha, aquela que geralmente causa danos mais severos ao canavial.
Em campo, os sintomas de ataque de nematóides são reboleiras de plantas menores e cloróticas, com "fome de minerais", murchas nas horas mais quentes do dia e menos produtivas, entre outras de porte e coloração aparentemente normais (Figura 1).
Esses sintomas na parte aérea são reflexos do ataque dos nematóides às raízes, de onde esses parasitos extraem nutrientes e injetam toxinas, resultando em deformações, como as galhas provocadas por Meloidogyne (Figura 2), e extensas áreas necrosadas, quando os nematóides presentes são Pratylenchus (Figura 3). Em conseqüência, as raízes se tornam pouco desenvolvidas, pobres em radicelas, deficientes e
impossibilitadas de desempenhar normalmente suas funções.
A grandeza dos danos causados por nematóides varia em função do nível populacional dos parasitos, do tipo de solo e da variedade cultivada, sendo que M. javanica e P.
zeae causam, em média, cerca de 20 a 30% de redução de produtividade, no primeiro corte de variedades suscetíveis. M.
incognita pode ocasionar perdas maiores, ao redor de 40 %. Em casos de variedades muito suscetíveis e níveis populacionais muito altos, as perdas
provocadas por nematóides podem chegar a 50 % da produtividade,
somente na cana planta. Deve-se, entretanto, somar a esse dano aqueles ocorrentes nas socas subseqüentes que, embora menores, são também significativos, podendo atingir valores entre 10 e 20t/ha por corte, o que reduz drasticamente a longevidade das soqueiras.
Dentre as medidas de controle, o uso de
variedades resistentes a nematóides é a mais desejada, por não implicar em custos ao produtor e
riscos ao ambiente, pois a variedade resistente pode ser plantada em áreas infestadas por nematóide, sem a necessidade de outras medidas de controle, como nematicida, por exemplo. No entanto, não há variedades comerciais resistentes às espécies
importantes para a cultura (M. javanica, M. incognita ou P.
zeae). É bom lembrar que uma variedade pode ser resistente a uma espécie de nematóide e suscetível à outra. Mesmo assim, uma variedade resistente a pelo menos uma espécie de nematóide seria de grande valia para os produtores, mas, atualmente, não há variedades de interesse comercial com essa característica.
Dada a ausência de variedades comerciais resistentes a uma ou a mais espécie de nematóides, o manejo de áreas infestadas, atualmente, tem se baseado principalmente no uso de nematicidas químicos aplicados no plantio e/ou nas soqueiras.
Três nematicidas são registrados para uso comercial em cana-de-açúcar:
aldicarb (Temik 150G), carbofuran (Furadan 50G ou 100G ou 350SC) e terbufós (Counter 150G). No plantio,
são aplicados no sulco, sobre os toletes, imediatamente antes da cobertura dos
sulcos. Nas soqueiras, são aplicados ao lado da linha de cana ou sobre elas.
A aplicação de nematicidas no plantio em áreas infestadas resulta em
significativos incrementos de produtividade que podem chegar a 40 ou 50t/ha, em função da variedade cultivada, do nível populacional de nematóides e do tipo de solo. Um exemplo pode ser visto em trabalho de Dinardo- Miranda et al. (2002), conduzido em Piracicaba, SP, cuja aplicação de aldicarb 150G 12kg/ha resultou em incrementos de produtividade variando de 17,3t/ha, para a variedade IAC86- 2480 até 38,1t/ha, para a IAC91-5155, sendo em média de 28,2 t/ha ou 34%.
Em cana soca, os incrementos de produtividade obtidos em função do tratamento nematicida são menores, mas também economicamente
vantajosos em muitas situações. Um dos exemplos está nos dados do ensaio de Dinardo-Miranda e Garcia (2002), no qual a aplicação de carbofuran 100G 22,7kg/ha ou aldicarb 150G 10kg/ha, em soqueira da variedade RB835113, infestada por P. zeae, contribuiu para incrementos de produtividade, em relação à testemunha, da ordem de
Manejo de nematóides em cana-de-açúcar
A grandeza dos danos causados por nematóides varia em função do nível populacional dos parasitos, do tipo de solo e da
variedade cultivada
Torta de filtro no sulco de plantio e plantio de
Crotalaria em áreas de reforma auxiliam o manejo de áreas com problemas de nematóides
Figura 2 Figura 2
Figura 1 Figura 1
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11,6 a 16,7 t/ha. Deve-se salientar, no entanto, que a decisão sobre o tratamento químico em soqueira deve considerar, além da infestação na área (nível populacional de nematóides), o potencial produtivo da cultura e o tempo de espera para a aplicação dos nematicidas depois da corte do canavial. Áreas nas quais se espera baixa produtividade, em função de falhas na brotação da soca, mato, etc, não devem ser tratadas, mesmo se as populações de nematóides forem elevadas, pois os incrementos de produtividade obtidos podem ser inferiores (em função da baixa produtividade) aos custos de aplicação dos nematicidas.
Estudos conduzidos pelo IAC revelaram que, em canaviais colhidos em época seca (julho a setembro), os maiores incrementos de produtividade foram obtidos nas aplicações feitas aos 40 ou 60 dias depois do corte, enquanto em canaviais colhidos na época chuvosa (novembro), os maiores incrementos foram observados quando se aplicaram os nematicidas logo após o corte (5 dias depois do corte). Tal fato está associado à presença de raízes vivas. Como grande parte das
raízes da cana-de- açúcar,
principalmente as superficiais, responsáveis pela maior parte da absorção, morre na época seca do ano, como mostra pesquisa
desenvolvida por Vasconcelos (2002), do IAC, a aplicação de nematicidas entre 40 e 60 dias depois do corte, em
canaviais colhidos entre julho e setembro, seria mais adequada porque coincidiria com o período de emissão de
novas de raízes, principalmente superficiais, propiciando maior absorção dos nematicidas. Além disso, uma maior quantidade dos produtos estaria disponível para a planta no solo, na primavera/verão, período em que as populações dos nematóides se elevam, favorecidas pelas temperaturas mais
altas, chuvas e raízes abundantes.
Ao contrário, em canaviais colhidos na época úmida, as raízes estariam, por ocasião da colheita, em pleno
desenvolvimento e as populações de nematóides, se elevando, justificando a aplicação de nematicidas logo após o corte.
Como medidas auxiliares no manejo de áreas com problemas de nematóides pode-se citar a torta de filtro no sulco de plantio e o
entre as medidas de controle, o uso de variedades resistentes a nematóides é
indicado, por não implicar em custos ao produtor e riscos ao ambiente
Figura 3 Figura 3
Figura 4 Figura 4
plantio de Crotalaria em áreas de reforma. Embora essas medidas não interfiram, de uma maneira geral, nas populações de nematóides na área, pelo menos nas doses (torta de filtro) e período de cultivo (Crotalaria),
empregados em nossas condições, elas contribuem para um melhor
desenvolvimento da cultura, sendo portanto bastante indicadas para áreas com infestações médias ou altas de nematóides.
Para que medidas de controle ou manejo possam ser adequadamente utilizadas é imprescindível conduzir um levantamento nematológico, com a finalidade de identificar quais as áreas com problemas de nematóides. O levantamento inclui a coleta de amostras de raízes e de solo e envio para análise em laboratório.
A coleta de amostras deve ser feita sempre em época chuvosa, sendo cada amostra composta por raízes e solo da rizosfera de pelo menos 10 touceiras de cana por talhão homogêneo de até 10 ha. Considera-se talhão homogêneo aquele cultivado com a mesma
variedade, mesma data de plantio, recebendo os mesmos tratos culturais, etc. É recomendável que talhões maiores que 10 ha sejam subdivididos, a fim de que cada amostra represente área não superior a 10 ha. O
levantamento pode ser efetuado tanto em cana planta como em soqueiras. Em áreas a serem reformadas, pode ser feito de dezembro a março, antes do último corte, adotando-se o mesmo critério citado anteriormente. Quando as soqueiras já foram destruídas e as áreas se encontram preparadas para o plantio da cana, o levantamento pode ser efetuado utilizando-se raízes e solo da rizosfera de uma variedade
suscetível, como a 'SP80-1842', por exemplo, plantada ao acaso, em aproximadamente 10 covas por talhão homogêneo. O plantio desta variedade, conhecida como isca (isca em campo), deve ser feito o mais breve possível (entre setembro e dezembro), de modo que a planta possa vegetar e se desenvolver por um período superior a 60 dias. Antes do plantio da cultura definitiva na área, as "iscas" devem ser arrancadas para compor a amostra a ser analisada.
Durante a coleta em campo, as amostras devem ser mantidas na sombra, de preferência em caixas de isopor. A remessa ao laboratório deve ser feita o mais rapidamente possível, porém, se for necessário aguardar alguns dias (4 a 5) para o envio das amostras ao laboratório, elas podem ser mantidas em sala fresca, longe da luz direta do sol.
É importante que o laboratório identifique as espécies de nematóides e os níveis populacionais ocorrentes nas áreas. Embora alguns laboratórios identifiquem e quantifiquem os nematóides presentes nas amostras, pouquíssimos interpretam os dados observados. A interpretação dos dados consiste em definir se as populações encontradas na área são baixas ou altas, o que implica em estabelecer se há ou não necessidade de adotar medidas de controle na área
amostrada. Um dos poucos laboratórios que oferecem este serviço é DMLab, em Ribeirão Preto (fone 16 - 3919 1018).
L
LIITTEERRAATTUURRAA CCIITTAADDAA
DINARDO-MIRANDA, L.L. & V.
GARCIA. Efeito da época de aplicação de nematicidas em soqueira de cana-de-açúcar.
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30-33, 2002
DINARDO-MIRANDA, L.L. et al.
Danos causados por nematóides a variedades de cana-de-açúcar em cana planta. Nematologia Brasileira, 27(1): 69-74, 2003.
VASCONCELOS, A.C.
Desenvolvimento do sistema radicular e da parte aérea de socas de cana-de-açúcar sob dois sistemas de colheita: crua mecanizada e queimada manual.
Jaboticabal, 2002. 141p. Tese de doutoramento. FCAV/UNESP.
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Neriberto Simões, da Redação
A Usina Açucareira Guaíra, tem estimativa de colher 2,650 milhões de toneladas de cana nesta safra 2005/06. Deste total, 80% serão colhidas cruas, por meio de máquinas.
Para desenvolver esta operação é necessário o uso de logística, equipamentos e pessoal treinado para o bom andamento da safra.
Aparentemente, quem acompanha a rotina diária da colheita mecanizada nas 24 horas do dia, do alvorecer ao pôr-do-sol e noite a dentro, não nota qualquer alteração no funcionamento do trabalho.
Mas nesta safra, a vedete na colheita mecanizada na Usina Guaíra é a "faca de corte de base serrilhada",
aplicada às colhedoras.
O equipamento, desenvolvido pela Usina Guaíra em parceria, com a CMF - Comafer, de São Joaquim da Barra, SP, foi idealizado com o objetivo de aperfeiçoar o corte de base na colheita mecanizada.
Paulo Reis Junior, gerente agrícola da Guaíra, diz que os primeiros resultados são animadores com este novo modelo de faca, comparado aos modelos convencionais: índice de 40% menor em relação as facas convencionais, de bases estilhaçadas com até 36 horas de trabalho, estabilidade na qualidade do corte proporcionando maior área de operação, mantendo a qualidade. Resultou ainda em otimização das facas, que tiveram a vida útil aumentada em relação às
convencionais. Também apresentaram diminuição significativa da vibração na colhedora, por conta do atrito das facas com a base.
Paulo afirma que apesar do custo inicial mais elevado, os resultados na qualidade da cana que chega na indústria, somados ao menor abalo e 'arranquio' de soqueiras, justificam plenamente sua utilização.
No mais, excetuando-se as paradas para eventuais manutenção, limpeza, lubrificação, abastecimento e troca de turnos de operadores, a colheita no turno da noite segue com ritmo sincronizado e constante, que em nada difere do processo do dia.
Em busca do terceiro lugar
Segundo levantamento do Programa de Acompanhamento Mensal de Performance Agrícola - Pampa, do qual participam 115 usinas, até o mês de agosto a Açucareira Guaíra estava em quarto lugar no item produtividade agrícola. Na safra passada a usina fechou em terceiro lugar no ranking final.
De acordo com o diretor, este rendimento é alcançado graças a um pacote de práticas aplicada na empresa. Uma delas é a incorporação de matéria orgânica ao solo.
Pelo levantamento do departamento técnico da usina, a colheita de cana crua resulta em torno de 15 toneladas a 18 toneladas de palha por hectare.
De acordo com Paulo Reis Junior, gerente agrícola da Guaíra, até o ultimo dia 6 de setembro a produtividade média estava em 110,5 toneladas de cana por hectare e com estimativa de terminar a safra em 107 tc/h.
Paulo lista alguns itens na
operacionalização da colheita mecanizada começando pelo planejamento, logística, sistematização das lavouras, qualificação de operadores, sendo que o controle da velocidade da máquina na colheita é fator fundamental no sucesso da operação. No caso da Guaíra é determinado em 3 quilômetros por hora. (NS)
A colheita nossa de cada noite
Faca de corte de base serrilhada aplicada às
colhedoras é vedete na colheita mecanizada
É chegada a época da colheita de cana e, além das manutenções e revisões preventivas nas máquinas colhedoras, os técnicos destacam a importância de providências que precisam ser tomadas durante a colheita. As máquinas necessitam ser lubrificadas e vistoriadas
diariamente para manter seu desempenho e evitar riscos de quebra.
Jurandir Furtado, do departamento de Pós- Vendas da Case IH, de Piracicaba, SP, fabricantes das máquinas colhedoras de cana A7000/A-7700, alerta para algumas medidas essenciais. "As usinas ou propriedades devem manter um plano de inspeções diárias que deve ocorrer também a cada troca de operadores conforme turnos estabelecidos pela empresa".
L
UBRIFICAÇÃOA lubrificação é fundamental para perfeito funcionamento dos componentes. Não basta ter um plano de lubrificação dos pontos a serem
lubrificados. É necessário que durante essa operação, o operador da máquina certifique-se de que realmente ocorreu a renovação da graxa
anteriormente depositada. Ele deve também verificar se o componente não apresenta desgastes.
Em caso afirmativo, deverá ser substituído. Pinos, buchas e articulações requerem lubrificações diárias. Rolos e extratores devem ser lubrificados a cada 48 horas, dia sim, dia não. Demais pontos precisam receber lubrificação a cada 150 horas.
L
IMPEZAAs máquinas necessitam ser lavadas
diariamente, mas dependendo da área e variedade em colheita, a limpeza precisa ser mais freqüente.
"Também vale lembrar da importância das limpezas recomendadas nos intervalos entre um
carregamento e outro, evitando o acumulo de impurezas vegetais e minerais entranhadas entre os componentes", alerta Furtado. A produtividade da máquina é ligada a esses cuidados, pois a limpeza melhora as condições para inspeção visual e conservação da máquina.
V
AZAMENTOSOs pontos mais susceptíveis a falhas são aqueles que trabalham em contato com material em
colheita ocorrendo desgastes de vedações por abrasão, tipo vedadores de eixos de motores, mangueiras hidráulicas sem proteções em contato com estrutura da máquina. "Isso é facilmente detectado e controlado quando se faz as limpezas recomendadas nos intervalos de colheitas", diz.
T
ROCA DE FACASAlém da lubrificação, limpeza e verificação de vazamentos, as facas são pontos que merecem atenção.
No caso de facas do corte de base, o desgaste varia de acordo com a abrasividade do solo e profundidade de corte determinada pelo usuário.
Em outras facas, picadoras e de corte de ponta, o desgaste está diretamente relacionado ao porte da lavoura e impurezas no processo.
"Nossa recomendação é que os operadores façam verificações constantes, durante o processo de colheita através da qualidade do tolete colhido, ou ainda, fazendo as trocas de lados e opções de giros oferecido na peça e seus
respectivos ajustes de sincronismo", finaliza Furtado. (NS)