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Centro de Informação Europeia Jacques Delors, Discurso de Olli Rehn Comissário Europeu responsável pelo Alargamento Lisboa, 25 de Maio de 2006

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Centro de Informação Europeia Jacques Delors, Discurso de Olli Rehn

Comissário Europeu responsável pelo Alargamento Lisboa, 25 de Maio de 2006

Criar um novo consenso sobre o Alargamento:

Como conciliar os interesses estratégicos e a capacidade de funcionamento da UE?

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com enorme prazer que me encontro pela primeira vez aqui em Lisboa na minha qualidade de Membro da Comissão Europeia responsável pelo Alargamento. Portugal é uma das principais histórias de sucesso do alargamento da UE e este lugar é um símbolo do novo Portugal europeu, pois foi aqui que se realizou o primeiro Conselho Europeu sob Presidência portuguesa.

Celebramos este mês o segundo aniversário do mais recente alargamento da União, com a adesão de dez novos Estados-Membros. Atendendo aos dois últimos anos, temos todos os motivos para estar satisfeitos e orgulhosos. Uma vez mais, a adesão de novos países à União revelou-se um êxito.

Antes de 1 de Maio de 2004, não faltavam cenários apocalípticos. No entanto, essas profecias não se realizaram, nenhuma das catástrofes se concretizou: as instituições da União não estão paralisadas, o nosso orçamento não entrou em ruptura, não se assistiu a uma invasão de imigrantes oriundos da Europa Central sequiosos de trabalho.

As economias dos “velhos” Estados-Membros não foram destruídas por práticas desleais dos recém-chegados e as economias dos novos Estados-Membros também não ruíram sob a pressão da concorrência.

Pelo contrário, tal como o comprovam diversos estudos recentes, o alargamento para Leste produziu efeitos económicos positivos, tanto nos novos como nos “antigos”

Estados-Membros, e o processo de convergência continua. Os países que estão mais afastados dos recém-chegados beneficiaram menos, mas as empresas portuguesas,

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sobretudo as dos sectores financeiro e da construção, estão bastante activas e fazem bons negócios nos novos Estados-Membros.

E, sobretudo, quem é que pode ignorar a espectacular transformação democrática e económica que se verificou nos últimos 15 anos na Europa Central? Quem pode contestar o facto de a adesão à UE ter sido a principal força motriz desse processo de transformação, tal como o havia sido nas décadas de 80 e 90 em Portugal?

Como explicar então que, paradoxalmente, o apoio ao alargamento tenha diminuído junto da opinião pública? E por que motivo é que os decisores políticos de alguns países se mostram hoje em dia mais cépticos quanto a futuros alargamentos?

Se, por um lado, não podemos ignorar o cansaço do alargamento, tão-pouco devemos baixar os braços.

Por outras palavras, temos de resistir às tentações do populismo e realçar o valor acrescentado concreto que um processo de adesão à UE gradual e cuidadosamente gerido representa para a Europa, na medida em que contribui para alargar a zona de paz, liberdade e democracia.

Tenho a certeza que nenhum líder político digno desse nome e do nosso respeito gostaria de ser alvo de um comentário escarninho como o de Winston Churchill em relação ao seu sucessor: "Ele é o seu líder - é por isso que tem de os seguir."

Em vez disso, temos de tentar entender e encontrar soluções para as causas do mal-estar social que reina actualmente na Europa. Ao blues do alargamento poderíamos igualmente chamar blues do desemprego, da globalização ou do Estado- Providência. Temos de fazer face aos verdadeiros problemas dos nossos cidadãos – tais como o desemprego e a insegurança social – com políticas adequadas e resolutas que contribuam para o crescimento económico e a criação de postos de trabalho e, simultaneamente, temos também de enfrentar e dissipar os mitos e as percepções erradas sobre o alargamento.

Por estes motivos, temos de criar um novo consenso sobre o alargamento da UE, que deverá respeitar os interesses estratégicos da Europa e garantir a capacidade de

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funcionamento da União. Os sucessivos alargamentos da UE fizeram dela o que é hoje. O alargamento tem sido uma força poderosa para aumentar a zona de paz, democracia e prosperidade e projectar os valores, os interesses e a influência da Europa no mundo; permitiu à União responder positivamente a novas realidades, tais como a queda das ditaduras e o colapso do comunismo e demonstrou ser um excelente amortecedor de choques para a Europa. Todos os alargamentos suscitaram dúvidas, mas a União demonstrou que possui capacidade institucional, financeira e política para absorver novos membros.

Porém, e apesar da maioria dos europeus continuar a considerar que o alargamento é positivo - 55%, de acordo com os dados mais recentes do Eurobarómetro – muitos cidadãos questionam o seu ritmo e o seu alcance. Se bem que a Europa tenha de honrar os seus actuais compromissos, é preciso um debate informado e responsável sobre os futuros alargamentos e o seu significado para a União no seu conjunto.

Recentemente, diversos políticos apelaram a uma definição das “fronteiras da Europa”. O Tratado da UE indica que qualquer país europeu que respeite os valores da democracia e do Estado de Direito pode solicitar a adesão à UE. A União define-se a si mesma através dos valores comuns dos seus membros, mais do que por critérios geográficos. Mas isso não quer dizer que todos os países europeus tenham de solicitar a adesão, nem que a UE tenha de aceitar todos os pedidos. Não se trata de um processo automático, mas sim de um processo em que cada decisão-chave requer unanimidade e no qual a condicionalidade é o elemento primordial.

Temos levado muito a sério as preocupações quanto ao ritmo do alargamento.

No intuito de evitar compromissos desmesurados e de garantir a capacidade de absorção, a actual política de alargamento da União Europeia baseia-se na consolidação. Isto significa que embora sejamos prudentes em relação à assunção de novos compromissos, não deixaremos de honrar os compromissos assumidos com os países que já se lançaram no processo de adesão.

A nossa agenda de alargamento consolidada abrange o Sudeste da Europa: a UE comprometeu-se a concluir o quinto alargamento com a adesão da Bulgária e da Roménia, a realizar negociações de adesão com a Croácia e a Turquia e a manter

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uma perspectiva europeia em relação aos outros países dos Balcãs Ocidentais, o que significa que está empenhada na adesão desses países logo que cada um deles preencha todos os requisitos. O alargamento de 2004 consagrou a reunificação pacífica da Europa Ocidental e Oriental; agora, há que canalizar a nossa energia para a unificação pacífica do Sudeste da Europa.

Poderemos integrar estes países na União Europeia? Na minha opinião, a capacidade de absorção é determinada por dois factores principais: a transformação dos candidatos em países aptos a tornar-se Estados-Membros e o desenvolvimento das políticas e instituições da União. A Comissão aprecia e avalia rigorosamente a capacidade de os potenciais membros se integrarem harmoniosamente na UE com base num conjunto de condições bem definidas.

Essa condicionalidade rigorosa é aplicada a todos os países candidatos e potenciais candidatos. A evolução do processo depende dos progressos realizados pelo próprio país em termos de reformas políticas e económicas. A Bulgária e a Roménia terão de ultrapassar as insuficiências ainda existentes antes da adesão. O respeito pelos critérios de adesão constitui o elemento determinante do avanço nas negociações com a Croácia e a Turquia. Antes de iniciar o processo de adesão propriamente dito, os países dos Balcãs Ocidentais terão de preencher as condições definidas no âmbito do processo de estabilização e de associação, incluindo a plena cooperação com o Tribunal Penal Internacional para a antiga Jugoslávia.

A capacidade de absorção da UE significa a capacidade da União Europeia para integrar novos membros e continuar a funcionar de forma eficaz. Trata-se de um conceito funcional e não geográfico. O Conselho Europeu de Copenhaga de 1993 declarou: "A capacidade da União para absorver novas adesões, mantendo simultaneamente a dinâmica da integração europeia, constitui também um importante factor de interesse geral tanto para a União como para os países candidatos". Aquando do alargamento de 2004, a Comissão debruçou-se sobre a questão da capacidade de absorção no seu documento Agenda 2000 (elaborado em 1997), que propunha reformas das instituições, das políticas e do orçamento da UE.

A Agenda 2000 abriu caminho às decisões de 1999-2003, que prepararam a União para a adesão bem sucedida dos dez novos Estados-Membros em Maio de 2004.

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Recentemente, em Novembro passado, a Comissão definiu a capacidade de absorção da seguinte forma: "O ritmo do alargamento deverá ter em conta a capacidade de absorção da União Europeia. O alargamento significa partilhar um projecto baseado em princípios, políticas e instituições comuns. A União tem de salvaguardar a sua capacidade de acção e de decisão, assegurando um justo equilíbrio entre as instituições, respeitando os limites orçamentais e implementando políticas comuns eficientes e que atinjam os seus objectivos."

Na preparação das negociações de adesão com a Turquia, a Comissão procedeu a uma avaliação dos efeitos da possível adesão da Turquia sobre a União e as suas políticas. Os temas analisados tinham grande pertinência em termos de avaliação da capacidade da UE para absorver novos membros. A Comissão tem em conta essa capacidade durante as negociações, bem como aquando da apresentação de projectos de posições comuns sobre os capítulos de negociação.

Ao reexaminar o dispositivo institucional e orçamental e ao propor a elaboração de uma nova agenda política, uma espécie de "Agenda 2009" ou "Agenda 2014", estaremos indirectamente a preparar a União para os próximos alargamentos. Trata- se certamente de um grande desafio, mas não de algo impossível, dado que já o fizemos antes.

E a opinião pública?

Para poder concretizar qualquer uma das suas políticas, incluindo o alargamento, a UE tem de angariar o apoio dos seus cidadãos. Tanto os Estados-Membros como as instituições da UE têm de informar melhor a opinião pública sobre os êxitos e os desafios do alargamento, dar resposta às preocupações concretas dos cidadãos e desfazer os mitos contrapondo-lhes os factos. De acordo com a tradição europeia de democracia representativa e deliberativa, a opinião pública é tida em conta no processo de tomada de decisões através de órgãos democraticamente eleitos.

A legitimidade democrática é de facto essencial para o processo de adesão da UE: as decisões-chave no âmbito deste processo são tomadas por unanimidade pelos governos democraticamente eleitos dos Estados-Membros da União Europeia; os parlamentos nacionais têm de ratificar essas decisões e os deputados do Parlamento

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Europeu, eleitos por sufrágio directo, têm de dar o seu acordo. Desta forma, todas as decisões fundamentais são tomadas por todos os órgãos competentes democraticamente eleitos nos diferentes Estados-Membros e na União.

A fim de facilitar um novo consenso quanto ao alargamento da UE no contexto do futuro da Europa, a Comissão continuará o debate sobre o valor acrescentado concreto do alargamento e a capacidade da União para absorver novos membros.

Mais para o final do ano, antes do Conselho Europeu de Dezembro, avançaremos novos elementos sobre a estratégia de alargamento da UE. Espero que o Conselho Europeu de Junho aprove as nossas propostas e defina orientações políticas.

* * *

Para concluir, gostaria de salientar a importância de conciliar os interesses estratégicos e a capacidade de funcionamento a fim de criar um novo consenso quanto ao alargamento da UE. Dado que temos muitos anos pela frente antes da próxima adesão, devemos concentrar-nos concretamente na melhoria da capacidade de funcionamento da actual UE, e não apenas na mais abstracta capacidade de absorção da União num futuro distante.

A União Europeia terá de reforçar a sua "capacidade de absorver choques" mediante a reforma das suas políticas e instituições, a fim de poder fazer face a um mundo em mudança. No entanto, os progressos nesses domínios têm de ser acompanhados de progressos a nível do alargamento, para não fazermos dos Balcãs Ocidentais e da Turquia reféns dos nossos debates internos.

Embora o actual processo de alargamento esteja a evoluir muito lentamente, estaríamos a pôr em causa a nossa própria condicionalidade e os nossos interesses estratégicos se déssemos aos países candidatos a impressão de que os seus esforços são em vão.

Muito obrigado.

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