Registro: 2014.0000386636 ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0006061-04.2010.8.26.0590, da Comarca de São Vicente, em que é apelante FABIO DA SILVA PINHO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 3ª Câmara Criminal Extraordinária do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores SOUZA NERY (Presidente) e OTÁVIO HENRIQUE.
São Paulo, 26 de junho de 2014.
Zorzi Rocha RELATOR Assinatura Eletrônica
Voto nº 4.382
Apelante: FABIO DA SILVA PINHO Apelado : MINISTÉRIO PÚBLICO Processo: 278/10
Juiz : LUÍS GUILHERME VAZ DE LIMA CARDINALE
Origem: 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO VICENTE
Apelação. Crime de furto qualificado. Materialidade e autoria demonstradas. Absolvição por insuficiência de provas. Impossibilidade. Afastamento da qualificadora de chave falsa. Impossibilidade. Objeto apreendido e periciado. Constatação de sua utilização como forma de ingresso no veículo. Reconhecimento do crime na forma tentada. Impossibilidade. Consumação demonstrada. Réu obteve a posse mansa e pacífica do bem subtraído.
Substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos. Impossibilidade. Réu reincidente.
Mantença da sanção penal. Não provimento ao recurso.
Adotado o relatório já existente (fls.102/104), acrescenta-se que se trata agora de apelação do Réu da sentença de fls.102/107 na qual foi condenado às penas de 02 (dois) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial semiaberto, e 11 (onze) dias- multa, calculados no mínimo legal, pela acusação do crime de furto qualificado (artigo 155, § 4º, inciso III, do Código Penal), pretendendo: 1. a absolvição por insuficiência de provas; 2. subsidiariamente o afastamento da qualificadora; 3. o reconhecimento do furto na
forma tentada; 4. substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos (fls.112/119).
O recurso foi regularmente processado, com resposta do Ministério Público pelo seu não provimento (fls.121/124).
A Procuradoria Geral de Justiça manifestou-se pelo não provimento do recurso (fls.129/133).
É o relatório.
Inconsistente o recurso.
A materialidade do crime ficou comprovada pelo: 1. boletim de ocorrência (fls.09/11); 2. auto de exibição e apreensão (fls.28); 3. auto de entrega (fls.29); 4. auto de avaliação (fls.30); 5. laudo de exame em peça (fls.42/43); 6. laudo de exame em veículo (fls.49/52).
A autoria é inconteste.
O Réu ficou em silêncio na fase administrativa (fls.07) e deixou de comparecer ao chamado do Juízo, sendo declarada sua revelia (fls.77).
A vítima prestou declarações apenas na fase administrativa (fls.06), mas sua
versão está em consonância com as demais provas produzidas, especialmente com a versão dos policias ao informaram que o Réu confessou informalmente o crime no momento de sua abordagem, sendo prontamente reconhecido como autor do crime (Ricardo fls.03; Rivaldo fls.05).
Em Juízo, ao contrário do que sugeriu a Defesa em suas razões, esses policiais apresentaram narrativas harmônicas, confirmando a mesma dinâmica do crime narrada pela vítima na fase administrativa (Ricardo fls.79/80; Rivaldo - fls.82/83). Note-se que eventuais pormenores existentes nas suas declarações não invalidam a evidente descrição sobre os fatos.
A Defesa não produziu nenhuma prova apta a desqualificar a palavra dos policiais, ou mesmo as declarações da vítima as quais, mesmo não ratificadas em Juízo, merecem credibilidade porque em harmonia com as demais provas do processo.
Inócuo o pedido de desclassificação do crime para furto simples.
Ora, o Réu foi preso em flagrante em poder do veículo da vítima, o qual estava com uma chave falsa na ignição. Tanto o veículo, quanto a
chave falsa, foram apreendidos e periciados, concluindo a prova técnica que: 1. quanto ao objeto apreendido na ignição do veículo, tratava-se de uma faca da marca Tramontina com a lâmina desbastada de modo a formar uma chave falsa (fls.42/43); 2. quanto ao veículo, “não apresentada quaisquer vestígios de violências em suas vias de acessos e na chave de ignição da partida, tudo indicando uso de chave verdadeira, chave falsa ou instrumento similar (micha) para ingressar ao interior do habitáculo de passageiros e pô-lo em movimento”
(fls.49/52). Os argumentos recursais trazidos pela Defesa para afastar a qualificadora são insuficientes, sendo desnecessário, especialmente no caso dos autos (em que o Réu foi abordado ainda na posse do veículo furtado o qual estava com uma chave falsa na ignição), cogitar de demonstrar qual o mecanismo da fechadura do veículo, ou, ainda, comprovar a habilidade do Réu na utilização da gazua. Sem falar na esdrúxula alegação de que, de um dia para o outro, a vítima poderia ter alterado o estado da “res furtiva” (fls.114).
São robustas as provas da autoria e da utilização de chave falsa.
Também não há que se falar em
tentativa. O Réu executou o crime de forma completa e eficaz, perfazendo todo o percurso do “iter criminis” porque subtraiu efetivamente o patrimônio da vítima que perdeu por completo o domínio de seu bem. A posse do bem subtraído foi mansa e pacífica, pois não houve perseguição imediata, mas apenas diligências policiais após a notícia da subtração do veículo. O fato de o Réu ter sido encontrado e preso ainda conduzindo o veículo decorreu muito mais da ação eficaz da polícia do que de falha no modo de execução do crime.
A sentença analisou a prova que é robusta e clara com eficiência, sendo a condenação medida de extremo rigor.
A sanção penal foi branda e não comporta alterações. As circunstâncias do artigo 59 não eram desfavoráveis ao Réu, e sua pena-base foi fixada em patamar mínimo.
A reincidência (comprovada pela certidão de fls.08/08vº do último apenso) agravou a pena em apenas 1/6 (um sexto), patamar que fica mantido ante a ausência de recurso do Ministério Público.
Inexistentes outras causas modificadoras, a pena tornou-se definitiva.
Inviável a substituição da pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos porque o Réu, reincidente, não preenche os requisitos objetivos e subjetivos previstos nos incisos do artigo 44 do Código Penal, especialmente o contido no seu inciso II.
O regime prisional inicial fixado também foi benevolente, especialmente em razão da reincidência (artigo 33, § 3°, do Código Penal), mantido também ante a falta de recurso do Ministério Público.
Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.
ZORZI ROCHA RELATOR