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A República de Cuba

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Academic year: 2022

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CUBA

Almiro Petry

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(2008)

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A República de Cuba

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está localizada no Mar do Caribe (na entrada do Golfo do México) a 150 km do Estado da Flórida (EUA), formada pelo maior arquipélago das Antilhas, sendo Cuba a principal ilha (secundada pelas Isla de la Juventud e Jardines de la Reina). Ocupa uma área de 110,8 mil km

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, predominando o clima tropical onde se destaca o período das chuvas (de maio a outubro) do período menos chuvoso (de novembro a abril). O relevo da ilha é predominantemente plano, com partes montanhosas ao sudeste onde se localiza a Sierra Maestra, sendo o Pico Turquino a maior elevação (2.005 m; secundado pelo Pico Cuba – 1872 m – e o Pico Suécia - 1734 m). As características do relevo permitem que 27,6% do território sejam aráveis onde se planta cana-de-açúcar e tabaco, as principais culturas agrícolas do país. Apesar da revolução e do regime socialista, os EUA mantém, no sudoeste do território cubano, a base naval de Guantánamo (uma área de 116 km

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).

Nesta nação socialista vivem 11,4 milhões de pessoas (2008), cuja composição étnica é: 51% de mulatos (eurafricanos); 37% de brancos; 11% de negros; e 1% de chineses. A estrutura etária está assim constituída: de zero a 14 anos, são 18,5%; de 15 a 64 anos, 70,6%;

e com 65 anos e mais já somam 10,9%. Esta população cresce na ordem de 0,25% ao ano e a taxa de mortalidade infantil é de 5,9/1000 n.v., atingindo uma elevada expectativa de vida, que é de 77,2 anos em média, sendo 80,2 para as mulheres e 76,7 para os homens (uma das menores diferenças mundiais). Apenas 0,2% são analfabetos. Em 2003, estavam matriculados no sistema escolar mais de 1,8 milhão (16% da população), sendo 50,6% no ensino fundamental; 36,4% no ensino médio e 13% no ensino superior. Além disso, em 2003, havia um médico para cada grupo de 170 pessoas, a mais elevada proporção do mundo. Estes indicadores se expressam num IDH (2007) na ordem de 0,838 (6º latino-americano e 51º mundial; não é mais elevado em função da baixa renda per capita). A urbanização da ilha é significativa e 76% da população vive em cidades, sendo Havana, a capital, a mais importante

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Mestre em Sociologia Rural (UFRGS) e Doutor em Ciências Sociais (Unisinos); Professor do Curso de Ciências Sociais da Unisinos e do Departamento de Sociologia da UFRGS (almiro.petry@gmail.com).

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Versão atualizada da publicada em 2007.

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1) SADER, Emir (Coord). Enciclopédia Contemporânea da América Latina e do Caribe. São Paulo:

BoiTempo, 2006. Verbete: Cuba.

2) ALMANAQUE ABRIL: Enciclopédia de Atualidades 2008. São Paulo: Ed. Abril, 2008. Verbete: Cuba.

3) CIA: The World Factbook https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/cu.html

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS

FORMAÇÃO HUMANÍSTICA

EIXO: AMÉRICA LATINA

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com 2,2 milhões de habitantes (19% da população cubana). A ela seguem Santiago de Cuba (425 mil hab.), Camagüey (306 mil hab.) e outras menores. O desemprego urbano, apesar de ser uma economia centralizada, está em torno de 1,9% da força de trabalho. A densidade demográfica é de 101,93 hab/km

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.

A economia se apresenta com um PIB de US$ 51,1 bilhões (PPP

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), com uma renda per capita de US$ 4.500; ou US$ 45,1 bilhões (por equivalência cambial) e a renda per capita de US$ 3.950; com um crescimento de 7% (2007), tendo o setor primário uma participação de 4,6%, o secundário 26,1% e os serviços 69,3%. A força de trabalho soma 5,3 milhões de trabalhadores (78% no setor estatal e 22% no não-estatal), com a seguinte distribuição: 20%

no setor primário, 19,4% no setor industrial e 60,6% no setor serviços.

As exportações (2007), no valor de US$ 3,231 bilhões destinam-se: 21,8% à Holanda;

21,6% ao Canadá; 18,7% à China; 5,9% à Espanha; os demais vão a outros parceiros. As importações, no valor de US$ 10,86 bilhões (déficit comercial de US$ 7,63 bilhões) provêm:

26,6% da Venezuela; 15,6% da China; 9,8% da Espanha; 6,4% da Alemanha; 5,6% do Canadá; 4,4% da Itália; 4,3% dos EUA; e, 4,2% do Brasil. O país tem que suportar o alto déficit comercial o que eleva sua dívida externa a US$ 16,8 bilhões (37% do PIB; além do resíduo de US$ 15 a 20 bilhões com a ex-URSS). A esses valores acresce a dívida pública que gira em torno de 37,2% do PIB.

A partir de 2000 a Venezuela vem suprindo grande parte do fornecimento de petróleo na base de cem mil barris diários, a preços subsidiados, que Cuba está pagando com serviços e profissionais da saúde no atendimento da população venezuelana. Segundo dados de ambas as partes, são mais de 20 mil médicos. A isso se justapõe a “Missão Milagre”, um programa de saúde que leva milhares de latino-americanos à Cuba para a realização de cirurgias (em especial as oftalmológicas). Além disso, a Venezuela mantém um programa de intercâmbio educacional em que milhares de jovens estudam nas universidades cubanas, mormente nas áreas de saúde.

Atualmente, o governo cubano investe na recomposição da matriz energética para mitigar os repetidos blackouts que vêm ocorrendo, desde 2004. Dentro desta política, a Petrobrás está avaliando a possibilidade de explorar áreas com potencial de petróleo em Cuba.

Para tanto, firmou um acordo de cooperação com a Companhia Cubana de Petróleo (Cupet), no início de 2008, durante a visita do Presidente Lula à Cuba, para a exploração e produção de petróleo no Golfo do México.

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Purchasing Power Party (PPP), o padrão de “paridade do poder de compra” adotado pelo Fundo Monetário

Internacional (FMI).

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Quando, em 1492, Cristóvão Colombo desembarcou na ilha, havia uma população local estimada em 200 mil habitantes, desde conhecedores da agricultura, da cerâmica até de simples coletores, há mais de 10 mil anos. A partir de 1510, os espanhóis ocupam e colonizam a ilha destruindo os povos e as culturas autóctones. A ilha tornou-se uma referência para outras expedições conquistadoras espanholas. Ali se constituiu uma “economia de estâncias”, submetendo a população às relações de dominação e de exploração. Os aborígenes foram dizimados pelos trabalhos forçados, maus-tratos e epidemias.

Cuba foi estratégica para o império espanhol “como praça militar e de comunicação, durante três séculos, e continuou sendo colônia espanhola até 1898”, sendo considerada o

“antemural das Índias e a chave do Novo Mundo” (Sader, 2006, p.369). Lá foram instalados estaleiros, fortalezas, armazéns etc. que “formavam a paisagem de uma colônia regida pelo interesse e lucro metropolitanos e por uma oligarquia local”. Esta estrutura social colonial (oligarcas e escravos) perdurou durante estes séculos, formando uma cultura criolla, “vassala de uma metrópole que tratou de renovar e fortalecer seu poder na segunda metade do século XVIII” (idem, p.369).

Em 1762, os ingleses tomam a ilha dos espanhóis e, um ano depois, com o tratado de Paz de Paris, trocam a ilha pela Flórida e Cuba, sob o novo comando espanhol, torna-se produtora e exportadora de açúcar e café, base econômica para a formação de uma nova estrutura social. Entre 1787 e 1841, Cuba “tornou-se uma das colônias mais modernas e ricas do mundo, primeira exportadora mundial de açúcar de cana, muito bem integrada ao capitalismo mundial e na ponta de novas tecnologias” (idem, p.370). Esta economia foi movida pela máquina à vapor e as ferrovias, o telégrafo e o telefone aí instalados foram os primeiros da América Latina.

Extraordinários avanços em técnicas empresariais, consumo sofisticado, pensamento sobre os problemas peculiares e trato com belas-artes conviveram com a mais selvagem e cruel exploração e aculturação maciça dos escravos, um regime de casta e um racismo oficializados, e a perda progressiva do poder político da classe dominante criolla diante de um despotismo colonial dirigido a obter boa parte da renda de Cuba (Sader, 2006, p.370).

Esta classe dominante, diferentemente das demais colônias espanholas, renunciou ao desígnio de se converter em classe nacional emancipadora. Ela buscou seus lucros e interesses imediatos; destruiu a vida de um milhão de escravos africanos; associou-se em negócios com os espanhóis; apoiou os subornou as autoridades da Espanha, conforme seus interesses etc. As mudanças no cenário mundial (movimentos abolicionistas; segunda revolução industrial;

hegemonia mercantil e financeira inglesa etc.) culminaram com a abolição da escravidão

negra em 1886. Esta mão-de-obra foi substituída por máquinas e por mais de um milhão de

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imigrantes europeus e meio milhão de caribenhos, para expandir a produção e a exportação de açúcar, em especial para os EUA.

Durante cerca de 150 anos, entre 1780 e 1930, configuram-se a composição racial do país, o essencial de sua estrutura econômica e muitos aspectos principais de sua cultura. A política constante de dominação consistiu em dispor os trabalhadores em um grau muito alto, aumentar sem cessar o montante do produto exportado e fechar o acesso à terra como meio de produção independente, em uma economia financeira liberal e relações sociais autoritárias.

Depois de 1930, o capitalismo neocolonial cubano teve de modificar sua política (Sader, 2006, p.371).

Entre 1868 e 1898, Cuba decide seu destino por terríveis lutas armadas de libertação.

A primeira revolução (1868-1878) propôs a independência e a abolição da escravatura;

constituiu uma república no leste, mas não atingiu o oeste, centro econômico do país.

Entretanto, despertou o sentimento nacionalista vinculado à luta política; a luta pela abolição da escravatura etc. Sob a liderança de José Martí (1853-1895)

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funda-se o Partido Revolucionário cubano que prepara uma nova guerra com

o objetivo de criar uma república independente e democrática, liquidar o colonialismo, impedir que os Estados Unidos se apoderassem de Cuba e iniciar uma nova época revolucionária na região, ‘a segunda independência da América Latina’ (idem, 371).

A segunda guerra pela independência começou em fevereiro de 1895, quando Martí e seus companheiros proclamam a República. Mas foi um massacre: 20% da população morreram em combate, um verdadeiro genocídio; Martí, Antonio Maceo (1845-1896) e Máximo Gomez, os principais chefes revolucionários, caíram também em combate. No entanto, a Espanha perdeu, apesar do gigantesco esforço de guerra, a causa para os EUA que decidiram invadir a ilha, em 1898. Esta invasão instalou um novo imperialismo que veio

“para impedir o triunfo revolucionário e estabelecer seu novo domínio sobre Cuba”.

Derrotada, em 1899, a Espanha abandona a ilha. Os norte-americanos governam a ilha, mas as reações, as mobilizações e as resistências à ocupação do povo cubano levaram à vitória e a independência é proclamada em 1902, instituindo-se a República de Cuba

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. Os norte- americanos mantêm a base naval de Guantánamo

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e até 1934, o direito de intervir nos assuntos internos de Cuba, para preservar seus interesses econômicos.

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http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000012002000300022&script=sci_arttext&tlng=es http://www.unisinos.br/ihu/uploads/publicacoes/edicoes/1162403435.74pdf.pdf

http://www.unisinos.br/ihuonline/uploads/edicoes/1161287637.08pdf.pdf

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Cuba permaneceu ocupada pelos Estados Unidos até 1902, sendo liberada depois da aprovação de uma emenda à Constituição cubana que dava o direito, aos Estados Unidos, de invadir Cuba a qualquer momento em que os interesses econômicos dos Estados Unidos fossem ameaçados. A chamada Emenda Platt permaneceu mantendo Cuba um protetorado estado-unidense até 1933.

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José Martí tornou Guantánamo mundialmente conhecida nos versos da canção Guantanamera (a menina de

Guantánamo), extraídos do seu poema "Cultivo La Rosa Blanca". Em 2006, a banda Engenheiros do Hawaii

lançou a demo (demonstração) do seu novo CD contendo a música entitulada Guantánamo.

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As relações de Cuba com os EUA converteram-se em dependência econômica na forma de subordinação neocolonial até a revolução de 1954. Neste período a burguesia submete-se à dominação imperialista e colaborou com ela. As revoltas independistas foram uma inspiração para a revolução (1930-1935) que expulsou a tirania, rechaçou o intervencionismo e definiu um novo papel para o Estado, configurando uma segunda república. No entanto, esta república continuou sendo burguesa e a Constituição de 1940 deu forma às conquistas políticas e sociais da revolução.

Implantou-se uma ordem jurídica muito desenvolvida, um Estado mediador entre as classes e interventor na economia, um sistema político de democracia representativa e partidos pluriclassistas de real alcance nacional, liberdades de expressão e associação, mais nacionalismo, porém também idéias socialistas e outras avançadas (Sader, 2006, p. 372).

Apesar destes avanços, a cidade de Havana, mesmo sendo considerada “a Paris do Caribe”, tinha “bairros marginalizados e cem mil analfabetos”. Metade das crianças não freqüentava a escola, as doenças infectocontagiosas grassavam entre os pobres.

Conviviam e lutavam com essas realidades grandes e altíssimos movimentos da sociedade civil, projetos políticos avançados, idéia de justiça social e de mudanças a favor das maiorias do país, que se acreditava factível obter no sistema vigente (idem, p.371).

Em 1952, um golpe militar rompe a constitucionalidade e o ditador Fulgêncio Batista assume novamente o poder, pois já fora presidente e ditador de 1934 a 1944, com a proteção dos EUA e da classe dominante local. Porém, uma nova geração de revolucionários emerge sob a liderança de Fidel Castro, que em 1953

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tentam tomar o Quartel Moncada, mas foi um A base naval de Guantánamo – que ocupa cerca de 116 quilômetros quadrados na costa sudeste de Cuba – foi estabelecida por membros da Marinha americana em 6 de junho de 1898, durante a Guerra Hispano- Americana. Ela foi alugada aos Estados Unidos em 2 de julho de 1903, através de um acordo assinado pelo presidente Theodore Roosevelt, por aproximadamente cinco mil dólares anuais, que ainda são pagos ao governo cubano. O terreno só pode ser revertido ao controle cubano caso seja abandonado ou por consentimento mútuo, conforme um acordo renegociado em 1934.

A Baía de Guantanamo margeia três lados da base naval e o quarto lado, que é guardado por militares americanos, fica em frente a uma parede de cactos construída nos anos sessenta para impedir cubanos de pedirem asilo. Durante meados dos anos noventa, milhares de refugiados de Cuba e do Haiti foram temporariamente abrigados na base naval.

Nas últimas décadas, a baía esteve encoberta por uma nuvem de marasmo, mas agora se tornou o epicentro de uma polêmica entre EUA, União Européia, ONU e defensores de direitos humanos. Os EUA utilizam a base de Guantánamo desde janeiro de 2002 para deter prisioneiros da operação militar que derrubou o regime Taleban no Afeganistão, e suspeitos de integrar a rede terrorista Al Qaeda. O governo americano não dá a eles direitos estabelecidos pela Convenção de Genebra, sob o argumento de que não são "prisioneiros de guerra"

e, sim, "combatentes inimigos" - uma definição que não existe no mundo jurídico mas que, na prática, colocou os presos num limbo fora das leis internacionais. Guantánamo foi o destino de 158 prisioneiros da Al-Qaeda e do Taleban presos pelas tropas americanas no Afeganistão.

Atualmente, há em Guantánamo cerca de 660 prisioneiros, de 43 países - a maioria é do Afeganistão. Segundo a ONG Centro para os Direitos Constitucionais, há presos com idades de 13 a 15 anos e também com mais de 80 anos.

http://www.unificado.com.br/calendario/07/guan.htm

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26 de julho de 1953. Data que inspira a fundação do Movimento Revolucionário 26 de julho (MR-26 de julho),

uma organização de luta armada e clandestina.

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fracasso e dezenas de jovens foram assassinados. Fidel Castro e mais vinte sobreviventes foram condenados à prisão, e anistiados, dois anos depois, quando fundam o MR-26 de julho.

Ao movimento estudantil somaram-se trabalhadores urbanos e rurais que desencadearam os protestos populares entre 1955 e 1956. O MR-26 de julho organizou-se em todo o país e no México preparava-se a expedição Granma que chegou à Cuba em dezembro de 1956. Inicia- se a fase das guerrilhas, com a sede na Sierra Maestra, cuja história marca três episódios: o assalto ao palácio presidencial pelos guerrilheiros; a insurreição dos marinheiros e do povo em Cienfuegos; e, a greve geral de abril de 1958. A reação oficial foi imediata, no entanto,

O Exército Rebelde conseguiu se consolidar, dominar a montanha, vencer combates, construir sua base de população rural, formar colunas, invadir outras zonas do leste, até se transformar na esperança do povo e dos lutadores do país. Fidel tornou-se o líder da insurreição. Em maio, a tirania lançou sua maior ofensiva contra a Sierra Maestra, mas durante o verão de 1958 os rebeldes derrotaram-no, em uma sucessão de grandes combates (idem, p.373).

As vitórias espalharam-se pela ilha e culminaram com a grande ofensiva final que derrubou a ditadura em 1º de janeiro de 1959 e “nos primeiros dias daquele ano, o poder revolucionário se estabeleceu em todo o país”.

Em um lapso histórico brevíssimo, esse poder e o povo desenfreado puseram abaixo toda a ordem de dominação interna e de sujeição neocolonial que havia regido o país e afastaram a idéia de que aquela ordem pudesse voltar. Em três anos, mil leis transformaram as instituições e as relações fundamentais, colocando-as a serviço da população, entre elas a agrária, o sistema político, o sistema repressivo, a produção e as empresas, a moradia, o sistema bancário, o comércio, a educação, a saúde, a previd6encia social, os meios de comunicação, os municípios e muitas outras esferas (idem, p. 373).

O imperialismo não aceitou uma Cuba independente e seu aparato agressor quis estrangular a economia da ilha desde 1960. Em dezembro de 1961, Fidel Castro anuncia a adesão de Cuba ao modelo político-econômico marxista-leninista. Em 1962, os EUA decretam, unilateralmente, o bloqueio econômico, político e diplomático de Cuba e promovem sua expulsão da Organização dos Estados Americanos (OEA), bloqueio e expulsão mantidos até a atualidade. No mesmo ano, os soviéticos enviam mísseis, com ogivas atômicas, e os EUA impõem um bloqueio naval, situação que quase conduziu a uma guerra nuclear, fato conhecido como a “crise dos mísseis”. A URSS recuou e retirou o armamento bélico e, para compensar as perdas econômicas, em 1972, Cuba é admitida ao mercado comum do bloco comunista – Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecom)

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– com tratamento preferencial: Cuba exportaria açúcar e importaria petróleo a preços subsidiados.

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Em 1949, em oposição ao Plano Marshall, a URSS criou um programa de recuperação econômica mais

limitado do que o Marshall, para competir com esses esforços de integração do Ocidente, um mecanismo de

coordenação econômica com todos os seus satélites, que chamou de Conselho de Assistência Econômica Mútua

(Comecom). Até a morte de Stálin, o Comecom circunscreveu-se a fazer acordos financeiros e econômicos entre

os países da Europa Oriental. Mais tarde sua ação ampliou-se com a entrada de países não europeus. Seus

membros eram: URSS, República Democrática Alemã, Bulgária, Hungria, Polônia, Checoslováquia na Europa;

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Nesta fase, Cuba obteve significativos progressos econômicos e sociais, sobretudo na área da saúde, da medicina, da educação e do esporte. Nesta onda de êxitos, o modelo socialista de Cuba passa a ser uma referência obrigatória para os partidos de esquerda de diversos países, em especial da América Latina.

Com a dissolução da URSS, em 1991, Cuba enfrenta uma crise econômica e passa a estimular investimentos estrangeiros. Entretanto, a crise provoca um êxodo maciço de cubanos rumo à Miami (Flórida, EUA), com o apoio do governo norte-americano. Em 1996, o mundo empresarial é surpreendido pela Lei Helms-Burton, do governo Bill Clinton, penalizando empresas que negociam com Cuba ou investem no país

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. A lei desencadeia uma reação contrária, liderada pela União Européia e pelo México.

Em 1998, o papa João Paulo II

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faz uma visita histórica ao país. Em 2002, provocado pelo baixo preço do açúcar no mercado internacional, o governo fecha 71 usinas, quase a metade das do país, o que afeta o principal produto da economia cubana. Em 2003, o regime cubano reage aos opositores com prisões e condenações, inclusive com a pena de morte

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. Esta atitude mereceu uma repulsa mundial e a UE adotou sanções econômicas e diplomáticas Mongólia e Cuba, adesões posteriores. A Iugoslávia e a Albânia não participavam, mesmo sendo socialistas, diretamente do Ccomecom. A República Popular da China, a Coréia do Norte e o Vietnã eram observadores. Em 1991 quando a URSS desapareceu, imediatamente os integrantes daquele organismo fugiram sem hesitar para o mercado e a concorrência (A República Democrática Alemã já havia aderido à unificação da Alemanha; a Checoslováquia dividiu-se em República Checa e República Eslovaca; a Iugoslávia subdividiu-se em várias repúblicas, após sangrentas guerras fratricidas, etc.) e o Comecon deixou de existir. Com a desintegração do Comecom, as parcerias econômicas forjadas por Fidel se desfizeram. Simultaneamente, os Estados Unidos acentuaram os mecanismos de bloqueio, com novas emendas que puniam empresas estrangeiras que negociassem com Cuba. Entre outros mecanismos, elas eram excluídas automaticamente da lista de fornecedores do governo norte-americano. Esses dispositivos foram contestados e derrubados na Organização Mundial do Comércio.

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“A Lei Helms-Burton e suas propostas de modificação são medidas que não só violam a soberania de Cuba e o direito dos países ao livre comércio, como ratificam os métodos e mecanismos que já estão incorporados ao arsenal dos procedimentos gerais do governo e do Congresso dos Estados Unidos, para serem utilizados contra outras nações, com o objetivo de fazer prevalecer seus interesses mesquinhos no atual processo mundial de redefinição das relações econômicas, políticas e militares.

Paralelamente, é preocupante constatar como um pequeno grupo de legisladores tem a capacidade de impor sua monotemática com a complacência e tolerância do Congresso e do presidente. O pacote legislativo anticubano, aprovado pelo Comitê de Relações Exteriores da Câmara em sessão secreta abre um precedente com graves implicações para o próprio sistema político dos Estados Unidos, especialmente em uma conjuntura onde ganham força, naquele país, correntes racistas, chovinistas e beligerantes de ultradireita. Tais mutações constituem também o germe de um novo foco de insegurança nas relações internacionais, porque legitimam a utilização de processos conspirativos para o projeto da política norte-americana”. José Carlos Ruy é jornalista. Disponível:

http://www.vermelho.org.br/museu/principios/anteriores.asp?edicao=46&cod_not=456

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"Que Cuba se abra ao mundo com todas as suas magníficas possibilidades e que o mundo se abra a Cuba"

João Paulo II em Cuba em 1998. Recordamos as palavras de João Paulo II em Cuba, em 1998: "(...) ressurge em vários lugares uma forma de neoliberalismo capitalista que subordina a pessoa humana e condiciona o desenvolvimento dos povos às forças cegas do mercado, gravando, desde seus centros de poder, os países menos favorecidos com cargas insuportáveis. Algumas vezes, são impostas às nações, como condições para receber novas ajudas, programas econômicos insustentáveis. Desse modo, assiste-se ao enriquecimento exagerado de uns poucos às custas do empobrecimento crescente de muitos, de forma que os ricos são cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres".http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=19739

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Três cidadãos foram executados porque seqüestraram um barco para tentar fugir aos EUA.

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em repúdio às repressões. Em 2004, o governo cubano distende as pressões e, no ano seguinte, a UE reata as relações diplomáticas e comerciais. Em abril de 2005, a Comissão de Direitos Humanos da ONU aprova uma moção contra Cuba, condenando a falta de liberdades fundamentais na ilha.

Apesar das dificuldades internas e externas, a economia cubana cresceu 8% em 2005, 9,5% em 2006 e, 7% em 2007. Para o último ano estavam sendo aguardados em torno de US$

4,8 bilhões de investimentos estrangeiros nas áreas de turismo e do comércio. O intercâmbio econômico entre a Venezuela e Cuba é intensificado pela adesão à ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) e uma série de acordos de cooperação assinados pelos dois países.

Sem Fidel Castro e sob a presidência provisória de Raúl Castro, o crescimento econômico de 2006 foi considerado o mais alto da história revolucionária e expressa uma tendência de consolidação gradual da economia cubana. No entanto, o ministro da economia Rodriguez considera que estes resultados são insuficientes “para conseguir a satisfação das necessidades do povo e assegurar o desenvolvimento”, como conseqüências irrecuperáveis da queda do regime soviético. Em 2007, Raúl Castro anuncia alterações econômicas para elevar a produtividade com vistas à atração de investimentos estrangeiros. Começa-se a especular de que o regime cubano passaria a adotar o regime chinês que se apresenta como um regime político e dois modelos econômicos.

Em fevereiro de 2008, Raul Castro, mediante a renúncia de Fidel Castro, é eleito Presidente da República, Presidente do Conselho de Ministros, Presidente do Conselho de Estado e Secretário Geral do Partido Comunista de Cuba (PCC), o único legal, sob a vigência da Constituição de 2002. Este poder central tem como coadjuvantes o legislativo e o judiciário. O poder legislativo é unicameral, constituído pela Assembléia Nacional do Poder Popular, composta por 614 deputados. Estes são eleitos por voto popular para um mandato de cinco anos (a próxima eleição será em janeiro de 2013). O poder judiciário tem a expressão máxima no Tribunal Supremo Popular e seu presidente, o vice e os juizes são eleitos pela Assembléia Nacional do Poder Popular. O Supremo supervisiona um sistema de tribunais regionais.

Visitar: 1 http://www2.mre.gov.br/dcc/cuba.htm 2 http://www.ibge.gov.br/paisesat/

3 http://www.cimm.ucr.ac.cr/universalizacion/indice.html

4 https://www.cia.gov/cia/publications/factbook/geos/cu.html

Referências

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