ENSINO DE ESTATÍSTICA NOS ANOS INICIAIS: PRÁTICAS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
Caroline Subirá Pereira – carolinepereira@alunos.utfpr.edu.br Universidade Tecnológica Federal do Paraná, PPGECT
Ponta Grossa – Paraná
Gislaine Vilma Vidal Kazeker de Siqueira – gislaine.kazeker@gmail.com Faculdade Educacional da Lapa, Curso de Pedagogia
Lapa – Paraná
Cristiane de Fatima Budek Dias – cristianed@alunos.utfpr.edu.br Universidade Tecnológica Federal do Paraná, PPGECT
Ponta Grossa – Paraná
Guataçara dos Santos Junior – guata@utfpr.edu.br Universidade Tecnológica Federal do Paraná, PPGECT Ponta Grossa – Paraná
Antonio Carlos Frasson – acfrasson@utfpr.edu.br Universidade Tecnológica Federal do Paraná, PPGECT Ponta Grossa – Paraná
Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar a percepção de estudantes de um curso de Pedagogia sobre a aplicação do Workshop Ensino de Estatística nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, que teve o intuito de aproximar os futuros professores sobre o currículo, o conteúdo e o trato pedagógico desse conteúdo. Os dados foram coletados por meio de um questionário com perguntas fechadas e abertas. Para a análise dos resultados, foram considerados o referencial teórico estudado e a interpretação dos pesquisadores. Os resultados apontam que a prática desenvolvida no WS teve boa aceitação e atingiu o objetivo, de familiarizar os acadêmicos com a estatística, porém, ainda há questões que necessitam ser revistas na formação inicial do professor dos anos iniciais.
Palavras-chave: Estatística; Currículo; Formação inicial.
1 INTRODUÇÃO
Professores atuantes nos anos iniciais demonstram dificuldades relevantes quanto à
Estatística e isso é visível nas pesquisas que se debruçam sobre a formação e suas relações
com conceitos probabilísticos e estatísticos (Oliveira, 2012; Santos, 2012; Bifi, 2014; Conti,
2015; Grymuza, 2015; Dias, 2016 e Dias e Santos Junior, 2016). Dificuldades que se
apresentam nas questões do currículo, do conteúdo e da abordagem pedagógica de conceitos
probabilísticos e estatísticos (DIAS, 2016). Lopes (2014) afirma que a formação dos
professores, seja ela inicial ou continuada, não tem demonstrado resultados significativos para
o domínio teórico-metodológico da Estatística pelos docentes.
Estatística e Probabilidade são componentes curriculares da Educação Básica brasileira e estão inseridas nos documentos oficiais para serem tratados já nas primeiras etapas, como nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, os professores em formação inicial precisam ter contato com o currículo, o conteúdo e a abordagem pedagógica destes conteúdos, pois dessa forma, podem ser supridas algumas das necessidades evidenciadas nas pesquisas, elencadas acima.
Analisando-se essa necessidade, a prática relatada neste artigo, buscou aproximar os futuros professores ao currículo, ao conteúdo e trato pedagógico da Probabilidade e Estatística, que eles, como professores terão que ensinar já nos primeiros anos do Ensino Fundamental. Tal prática foi desenvolvida em um curso de Pedagogia na modalidade a distância por meio de um Workshop (WS) em formato de vídeo, metodologia própria da instituição em que foi aplicado.
Neste sentido, este artigo tem como objetivo analisar a percepção de estudantes de um curso de Pedagogia sobre a aplicação do Workshop Ensino de Estatística nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
2 LICENCIATURA EM PEDAGOGIA: ASPECTOS LEGAIS E DE FORMAÇÃO
A formação inicial do professor sempre foi um assunto muito discutido por estudiosos da área educacional. Nessas discussões há certa preocupação com o curso de Pedagogia, responsável pela formação do professor que irá atuar na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com Groxko, Paiva e Ens (2008, p.7) “a importância da competência desse profissional merece destaque neste percurso, pois não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores”. Formar professores é, então primordial para que se garanta um bom ensino.
Após a promulgação da Lei 9394/96, que traz em seu parágrafo IV do artigo 87, a indicação de que ao final da década seriam admitidos apenas professores com formação superior, a demanda de oferta e procura pelo curso superior de Pedagogia cresceu. O curso por sua vez precisou se moldar às necessidades da sociedade, passando por diversas reformas curriculares. Após muitas lutas políticas, se finda então as Diretrizes Nacionais Curriculares do Curso de Pedagogia (DCNP), em 2006.
As diretrizes visam fundamentar o currículo do curso de Pedagogia, enfatizando a formação do professor com conhecimentos práticos no currículo. De acordo com as DCNP (BRASIL, 2006, p.1) o licenciado em Pedagogia estará apto para “exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos”.
Percebe-se que as DCNP ampliam o campo de atuação do pedagogo, que passa a atuar
como docente na educação básica, assim, o curso de Pedagogia precisa adequar seu currículo,
pois a legislação prevê um profissional especialista em educação e docente, visando suprir as
necessidades da sociedade. De acordo com Araújo (2006, p.3) “o curso de Pedagogia se
responsabiliza pela formação de um profissional que seja capaz de refletir e agir da melhor
forma, para a realização de um processo educativo de qualidade”. Para que isso seja
garantido, o curso de Pedagogia precisa se atentar para o currículo dos anos iniciais, pois é
preciso que o futuro professor tenha conhecimento sobre o que deve ser trabalhado com as
crianças e quais abordagens podem ser adequadas.
2.1 A metodologia do Workshop na modalidade EAD
Considerada pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB) como uma modalidade de ensino, a Educação a Distância vem possibilitando a democratização do ensino superior no Brasil. A modalidade se destaca por não exigir de seus participantes disponibilidade de tempo e lugar específico para o estudo. A flexibilidade de horário chama atenção dos estudantes que trabalham o dia todo e necessitam de uma formação superior para se inserir ou se recolocar no mercado de trabalho. A EAD atinge assim, os mais diversos públicos. De acordo com Shermann e Bonini (2000, p.4), a EAD “possibilita a autoaprendizagem a partir da mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados e apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados e veiculados pelos diversos meios de comunicação existentes”.
O advento da tecnologia e as legislações vigentes deram força para o crescimento desta modalidade de ensino, no entanto, fortes discussões ainda se geram em torno da EAD e a qualidade da formação deste profissional. Com vistas à qualidade da formação do professor, a Instituição de Ensino Superior (IES) participante desta pesquisa trabalha com a prática do Workshop. O workshop é uma oficina de ensino e aprendizagem, em que são demonstradas e aplicadas práticas inerentes à sala de aula e acontecem quinzenalmente nos polos de apoio presencial, sendo realizado pelo corpo docente da instituição com o auxílio do tutor presencial. A prática do workshop visa também trabalhar temas transversais, fomentando discussões e reflexões nos alunos, sobre temas essenciais para a sua formação.
2.2 Probabilidade e Estatística nos anos iniciais e a formação de professores
O currículo dos anos iniciais do Ensino Fundamental, desde a década de 1990, apresenta os conteúdos de Probabilidade e Estatística, indicando que, “para exercer a cidadania, é necessário saber calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente, etc.” (BRASIL, 1997, p. 25). Exercer a cidadania com criticidade, portanto, esbarra no conhecimento estatístico, que precisa ser construído no espaço formal da escola, já nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Para Oliveira (2012, p. 47), nos anos iniciais, “a classificação, a coleta, organização, análise e a interpretação de dados, a construção, variabilidade, diferentes escalas, diferentes tipos de gráficos e tabelas, o trabalho com correlações” são conteúdos que podem e devem ser contemplados nas intervenções pedagógicas, pois, a “familiaridade com esses conceitos desenvolverá o raciocínio estatístico e permitirá uma tomada de decisão por compreensão, diante das informações presentes no seu dia a dia” (OLIVEIRA 2012, p. 47).
Todavia, se por um lado se faz importante a construção desse conhecimento pelo aluno, por outro é crucial se pensar a formação do professor dos anos iniciais, pois, como aponta Guimarães et al (2009) a inclusão tardia de conteúdos como a Probabilidade e Estatística no currículo desta etapa educativa acabou por não oportunizar a muitos dos professores atuantes, uma sistematização de tais conhecimentos em sua escolaridade da infância e, mesmo em seu processo formativo profissional.
Sabe-se que o “compromisso social do professor se efetiva no domínio dos conteúdos e na forma como são desenvolvidos, levando os educandos à reflexão crítica, elemento essencial para a transformação da sociedade desigual e excludente em que vivemos”
(SANTOS, 2010, p. 50). Nesse sentido, se reforça a relevância assumida pela formação do professor, que precisa ter conhecimentos do conteúdo, do currículo e pedagógico (Shulman 1986), para que possa articular os conteúdos com reflexões críticas sobre a realidade.
Grando, Nacarato e Lopes (2014, p. 988) refletem que o professor “durante seu processo
de formação inicial ou continuada, precisa ter oportunidades para tornar-se letrado
estatisticamente e ser capaz de promover a aprendizagem estatística de seus estudantes”.
Ponto fundamental para que os professores tenham a possibilidade de planejar e executar ações pertinentes com os conhecimentos probabilísticos e estatísticos com seus alunos.
A necessidade de uma abordagem mais eficiente de conhecimentos probabilísticos e estatísticos com professores dos anos iniciais é revelada em muitas pesquisas no cenário brasileiro e internacional. Pesquisas mais recentes como as de Amarante (2011); Oliveira (2012); Santos, (2012); Bifi (2014); Bianchini (2014); Grymuza, (2015); Dias e Santos Junior (2016); Dias (2016), apontam as dificuldades dos professores em conceitos específicos relacionados à Probabilidade e Estatística e sugerem ações no sentido de oportunizar aos professores este conhecimento.
Entende-se que as mudanças indispensáveis para a escola necessitam da mediação do professor (OLIVEIRA; LOPES, 2013), portanto, é imprescindível que sejam realizadas ações no sentido de oportunizar aos professores em formação inicial o contato com conhecimentos relacionados à Probabilidade e Estatística. Como a educação a distância demonstra um crescimento exponencial e ocupa espaço significativo na formação de futuros professores dos nos iniciais, um olhar para a formação em estatística desses estudantes se faz primordial para que, ao menos, se amenize as deficiências formativas encontradas com os professores já atuantes.
3 METODOLOGIA
Este estudo é de natureza qualitativa e os dados são analisados interpretativamente, de acordo com o referencial teórico estudado e a interpretação dos pesquisadores. Para a concretização desta pesquisa foi aplicado um Workshop com o tema Educação Estatística nos anos iniciais do Ensino Fundamental, para alunos de um curso de Pedagogia na modalidade a distância de uma instituição de Ensino Superior da rede privada.
O WS foi aplicado no início do mês de junho de 2017 e foi organizado de forma que, em um primeiro momento, apresentou-se a temática aos estudantes, conceituando-se a Estatística e apresentando-se sua estreita relação com o cotidiano, no levantamento de dados e na tomada de decisões; os alunos foram chamados a refletir sobre uma representação gráfica tendenciosa.
No segundo momento, foram apresentados os conteúdos de Probabilidade e Estatística vinculados ao currículo dos anos iniciais e apresentada uma prática realizada por uma professora do 1º ano de uma escola do estado de São Paulo; nesse momento, os estudantes foram convidados a replicar essa prática com a ajuda dos tutores presenciais. Para finalizar, indicou-se a construção de um jogo com materiais alternativos; após a construção do jogo, os alunos deveriam jogar e explorar os conceitos, marcando as pontuações em uma tabela.
A recolha dos dados centrou-se em um dos polos de uma cidade da região metropolitana de Curitiba/PR, o qual possui matriculados 200 alunos entre o 1º e o 16º período
1. Para tanto, foi elaborado um questionário com seis perguntas fechadas e uma aberta relacionada à prática realizada no WS. O questionário foi enviado por correio eletrônico a todos os alunos matriculados no polo, porém, apenas 20 retornaram.
Para a análise dos dados, foram elaboradas categorias, na tentativa de expor os dados relacionados a afirmações dos futuros professores antes da participação no WS e posterior a essa participação. Assim, foram construídas 2 categorias: conhecimentos prévios e conhecimentos posteriores.
1 A instituição segue o regime de períodos trimestrais, ou seja, a cada ano são cursados pelos alunos quatro
períodos.
3.1 Análise dos resultados
O questionário teve como objetivo averiguar a aceitação do WS e perceber a segurança dos alunos na abordagem de conceitos estatísticos e probabilísticos em futuras intervenções pedagógicas com alunos dos anos iniciais. A pergunta inicial direcionou-se para o perfil dos alunos respondentes, no que diz respeito ao período em que estavam matriculados no momento da aplicação do WS e da resposta ao questionário. A Figura 1 apresenta os dados obtidos nesta pergunta.
Figura 1: Gráfico do perfil dos respondentes em relação ao período do curso Fonte: dados da pesquisa, 2017.
Nota-se que a maioria dos respondentes cursa do 1º ao 4º período e que são poucas as participações de respondentes de períodos mais avançados do curso. Especular o período do curso, neste estudo, se mostrou necessário, para que o conhecimento dos discentes fosse analisado antes e após a participação na disciplina de Fundamentos e Metodologias do Ensino de Matemática, entendendo-se que, alunos a partir do 9º período do curso já tiveram contato com a disciplina e, portanto, com os conhecimentos curriculares da disciplina para os anos iniciais. Entende-se, ou ao menos se espera, que a disciplina de Fundamentos e Metodologias do Ensino de Matemática proporcione aos acadêmicos noções sobre metodologias do ensino de matemática, o que inclui o campo da Estatística. E, vale destacar que, o material instrucional adotado pelo curso, para essa disciplina, apresenta tópicos específicos sobre a temática.
Conhecimentos prévios: nesta categoria estão agrupadas as afirmações que dizem respeito aos conhecimentos prévios dos respondentes sobre a formação na Educação Básica e sobre o trabalho com conceitos probabilísticos e estatísticos.
0 2 4 6 8 10
Númerode respondentes
Afirmações dos respondentes
Discordo plenamente Discordo
Indiferente Concordo
Concordo Plenamente