• Nenhum resultado encontrado

CADUCIDADE PRESCRIÇÃO INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CADUCIDADE PRESCRIÇÃO INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO"

Copied!
45
0
0

Texto

(1)

Tribunal da Relação do Porto Processo nº 693/10.0TVPRT.C1.P1

Relator: MANUEL DOMINGOS FERNANDES Sessão: 10 Março 2014

Número: RP20140310693/10.0TVPRT.C1.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO

COMPRA E VENDA MERCADORIAS

LEI APLICÁVEL AO CONTRATO

LEI DO PAÍS EM QUE O VENDEDOR TEM RESIDÊNCIA HABITUAL

PERDA DO DIREITO DE ACÇÃO NO DIREITO ESPANHOL

CADUCIDADE PRESCRIÇÃO INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO

RECLAMAÇÃO EXTRAJUDICIAL DO CREDOR

CUMPRIMENTO DEFEITUOSO

Sumário

I - Nos termos a alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º 593/2008-lei aplicável às obrigações contratuais (Roma I)-na falta de escolha, a lei aplicável ao contrato de compra e venda de mercadorias é regulado pela lei do país em que o vendedor tem a sua residência habitual, assim como a respectivo ónus probatório-artigo 18.º daquele Regulamento.

II - A idêntica solução se chega se fizermos apelo às regras de conflito

portuguesas, embora atendendo a um critério de conexão distinto, o lugar da celebração do contrato- cfr. artigo 42.º, nº 2 do Código Civil.

III - No âmbito do direito civil espanhol a perda do direito à acção por decurso do tempo em todo o tipo de acções não configura uma situação de caducidade (como sucede no direito português- cf. o n.º 2 do artigo 298.º, o artigo 917.º e n.º 4 do artigo 921.º do Código Civil), mas sim de prescrição.

(2)

IV - Todavia, nas causas de interrupção da prescrição a lei espanhola vai mais longe, prevendo também, como causa de interrupção, a simples reclamação extrajudicial do credor.

V - Neste ordenamento jurídico também em caso de cumprimento defeituoso da obrigação, o comprador pode apenas optar entre desistir do contrato e ser reembolsado do que pagou ou reduzir proporcionalmente o preço, a

determinar por juízo pericial.

VI - A reparação ou eliminação dos defeitos são definidas principalmente pela Sala Civil do Tribunal Supremo a partir de um amplo poder discricionário e com apelo ao princípio da boa-fé a considerar, por essa via, muitas vezes abusiva a resolução do contrato.

Texto Integral

Processo nº 693/10.0TVPRT.C1.P1-Apelação

Origem: Aveiro-2º Juízo de Grande Instância Cível Relator: Manuel Fernandes

1º Adjunto Des. Caimoto Jácome 2º Adjunto Des. Macedo Domingues 5ª Secção

Sumário:

I- Nos termos a alínea a) do n.º 1 do artigo 4.º do Regulamento (CE) n.º

593/2008-lei aplicável às obrigações contratuais (Roma I)-na falta de escolha, a lei aplicável ao contrato de compra e venda de mercadorias é regulado pela lei do país em que o vendedor tem a sua residência habitual, assim como a respectivo ónus probatório-artigo 18.º daquele Regulamento.

II- A idêntica solução se chega se fizermos apelo às regras de conflito

portuguesas, embora atendendo a um critério de conexão distinto, o lugar da celebração do contrato-cfr. artigo 42.º, nº 2 do Código Civil.

III- No âmbito do direito civil espanhol a perda do direito à acção por decurso do tempo em todo o tipo de acções não configura uma situação de caducidade (como sucede no direito português-cf. o n.º 2 do artigo 298.º, o artigo 917.º e n.º 4 do artigo 921.º do Código Civil), mas sim de prescrição.

IV- Todavia, nas causas de interrupção da prescrição a lei espanhola vai mais longe, prevendo também, como causa de interrupção, a simples reclamação extrajudicial do credor.

V- Neste ordenamento jurídico também em caso de cumprimento defeituoso da obrigação, o comprador pode apenas optar entre desistir do contrato e ser reembolsado do que pagou ou reduzir proporcionalmente o preço, a

(3)

determinar por juízo pericial.

VI- A reparação ou eliminação dos defeitos são definidas principalmente pela Sala Civil do Tribunal Supremo a partir de um amplo poder discricionário e com apelo ao princípio da boa-fé a considerar, por essa via, muitas vezes abusiva a resolução do contrato.

I-RELATÓRIO

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

B…, Lda., com sede na Estrada Nacional n.º …, Km 30.8, Apartado …, …, Esmoriz, pessoa colectiva n.º ………, intentou a presente ação declarativa comum ordinária contra C…, S.L., com sede em …, .º Izqda. Madrid, pessoa coletiva ………., pedindo que (1) se declare resolvido um contrato de compra e venda de uma máquina celebrado pelas partes e se condene a ré a restituir o preço pago (€125.000,00), acrescido de juros moratórios, ou, em alternativa, se reduza o preço (no mínimo, em €50.000,00) e se condene a ré a reparar a máquina (em prazo não superior a 30 dias) e a restituir à autora a diferença do preço, com juros moratórios, e (2) se condene a ré a indemnizar a autora pelos prejuízos sofridos, em montante a apurar em incidente de liquidação de sentença.

Como fundamento da acção, alegou a autora, em síntese, que comprou à ré uma grua e pagou o respectivo preço, que a ré incumpriu os deveres

contratuais atinentes à montagem da grua e à formação a dar ao pessoal da autora, que a grua não possui as características que levaram a autora a realizar o negócio, no que concerne ao ano de fabrico e ao estado de funcionamento; que a ré não reparou a grua, apesar da autora lho haver solicitado; que a autora resolveu o contrato e pediu a devolução do preço e o levantamento da grua; que a ré nem devolveu o preço nem levantou a grua;

que a autora sofreu prejuízos por não poder usar a grua e por esta continuar depositada nas suas instalações.

*

Citada, a Ré apresentou contestação, defendendo-se por impugnação e por excepção, alegando, entre o mais, que se aplica ao caso a lei espanhola, que a ré não está obrigada a indemnizar a autora, em virtude de os defeitos serem manifestos à data da realização do negócio, que o direito a pedir a

indemnização dos danos caducou, que a ré desconhecia sem culpa os defeitos da grua quando a vendeu à autora e que a autora só poderia resolver o

(4)

contrato se a ré se tivesse recusado a reparar os defeitos ou não os tivesse reparado no prazo fixado (o que não sucede no caso concreto).

*

A autora exerceu o contraditório relativamente às excepções arguidas pela ré, pugnando pela sua improcedência.

*

O tribunal proferiu despacho saneador, seleccionando os factos assentes e controvertidos.

*

Procedeu-se a julgamento, com observância do devido formalismo legal e, respondida a matéria de facto pela forma que dos autos consta que não foi objecto de reclamação, foi proferida sentença que julgando a acção

parcialmente declarou resolvido o contrato de compra e venda celebrado pelas partes em 13.01.2010 e condenou a Ré C…, S.L. a pagar à Autora a quantia de

€ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil euros), acrescida dos juros de mora vencidos desde a citação, até integral pagamento, à taxa de 5 %, ou outra que, de futuro, venha a vigorar na lei espanhola relativamente aos juros moratórios das dívidas civis.

*

Não se conformando com o assim decidido veio a Ré interpor o presente recurso, concluindo as suas alegações nos seguintes termos:

1.ª O Código de Processo Civil vigente à data da prolação da Douta Sentença (ACPC doravante) determinava, no seu artigo 664.º, que «O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e aplicação das regras de direito; mas só pode servir-se dos factos articulados pelas partes, sem prejuízo do disposto no artigo 264.º», ou seja, sendo ainda possível ao juiz servir-se dos factos notórios (art.º 514.º) e instrumentais (art.º 264.º, n.º 2); sendo que, neste enquadramento, o n.º 3 do citado art.º 264.º do ACPC apenas permitia, contudo, que a factualidade essencial não alegada fosse considerada «desde que a parte interessada manifeste vontade de deles se aproveitar e à parte contrária tenha sido facultado o exercício do

contraditório» (sublinhado nosso).

2.ª O NCPC, embora anunciando a alteração do paradigma vigente até Agosto de 2013, dispõe, em sentido não muito divergente, no seu art.º 5.º que «Ás partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as excepções invocadas» [n.º 1], sendo que serão [n.º 2] «ainda considerados pelo juiz [a)] Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa; [b)] Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se pronunciar» (sublinhado nosso).

(5)

3.ª Neste conspecto, o Supremo Tribunal de Justiça, em acórdão datado de 19/12/2006, esclareceu que «Aquando das respostas há que lograr que as mesmas sejam claras, coerentes, congruentes, minuciosas e pormenorizadas, para definir com rigor o sentido do perguntado no quesito. Mas, para alcançar esse objectivo, a resposta pode surgir como simples ("está provado" ou "não está provado") que é a meramente afirmativa ou negativa mas pode, ainda, ser restritiva ("está provado apenas que...") ou, até, explicativa ("está provado, com o esclarecimento que..."). Estas ultimas têm que obedecer a dois

princípios rigorosos: conterem-se nos factos articulados; a explicação não cair, por exuberância, na criação de um novo facto».

Neste conspecto, mister é notar que

4.º O quesito 1.º tem a sua origem no art.º 3.º da petição inicial, onde a Apelada alegou que «No início de Janeiro de 2010, a ré tinha em exposição para venda, nas instalações comerciais da mesma sitas em Espanha, uma máquina grua da marca “…”, modelo “…”, com o número de série ………..»

(sublinhado nosso);

5.ª Na resposta restritiva ao aludido quesito 1.º (Provado apenas que “No início de Janeiro de 2010, a ré tinha, para venda, uma máquina grua da marca

…, modelo …, como o número de série ……….), que redundou na factualidade dada como provada no ponto 8. da Sentença, transmutou-se a factualidade alegada (inclusivamente através da alteração da natureza do verbo ter, que passou de verbo auxiliar a transitivo directo), dando-se como provada

factualidade distinta da alegada, manifestamente excessiva, não tendo, quanto a ela, em momento algum, sido cumprido o contraditório agora imposto pelos art.º 3.º, n.º 3 e 5.º, n.º 2, do NCPC – pelo que, nesta parte, a Douta Sentença é nula, devendo ter-se por não escrita, ao abrigo do disposto no art.º 615.º, n.º 1, al. d), segunda parte, do NCPC [anterior art.º 668.º, n.º 1, al. d)].

6.ª A factualidade constante do quesito 5.º (A autora só adquiriu a sobredita máquina porque ficou convencida da veracidade de toda a informação que lhe foi assegurada pela Ré?) constitui a condensação das alegações desenvolvidas pela Apelada nos art.ºs 7.º e 8.º da sua petição inicial onde, omitindo a

factualidade que viria a ser demonstrada na resposta aos quesitos 27. e 28., aduz «A autora como tinha intenções em comprar uma máquina da dita marca, modelo, ano de fabrico e com a qualidade assegurada, como era o caso da que se encontrava em exposição, demonstrou interesse em adquirir à ré tal

máquina» e que «Após ter obtido resposta por parte da ré às questões

relativas, especialmente, às horas de trabalho, características, ano de fabrico, estado de funcionamento e qualidade da mencionada máquina, decidiu então concretizar a compra».

7.ª Em sede de resposta restritiva ao aludido quesito 5.º, a Mma. Juíza a quo, e

(6)

omitindo (por completo) o significado do facto quesitado (onde, claro está, é essencial o segmento só adquiriu), dá como provado que «A ré adquiriu a máquina porque, entre o mais, ficou convencida da veracidade das

informações dadas pela ré» - factualidade distinta da alegada, manifestamente excessiva, não tendo, quanto a ela, em momento algum, sido cumprido o

contraditório agora imposto pelos art.º 3.º, n.º 3 e 5.º, n.º 2, do NCPC – pelo que, também nesta parte, a Douta Sentença é nula, devendo ter-se por não escrita, ao abrigo do disposto no art.º 615.º, n.º 1, al. d), segunda parte, do NCPC [anterior art.º 668.º, n.º 1, al. d)].

8.ª No quesito 16.º da base instrutória – na senda da versão dos factos trazida a juízo pela Apelante – questionava-se o seguinte: «Facto que deu azo a que a autora perdesse na manutenção do respectivo contrato?», factualidade que proveio dos factos alegados pela Apelada nos artigos 23.º a 26.º da sua petição inicial, nos termos da qual «a 25 de Março de 2010, (…) foi pela autora

verificado que a máquina não é do ano de fabrico (…) de 1999», «Mas antes, do ano de 1998, conforme resulta da chapa de características técnicas

colocada no chassis da mencionada máquina pelo fabricante da mesma»,

«Facto que, para além do mais, deixou a autora sobremaneira indignada» «E que deu azo a que a autora perdesse o interesse na manutenção do respectivo contrato».

9.ª A Mma. Juíza a quo dá como resposta a este quesito 16.ª a seguinte: «O facto referido em 15 contribuiu para que a autora perdesse o interesse na manutenção do contrato», resposta esta que, à semelhança das anteriores, constitui factualidade diferente da alegada (a qual se subverte) e, para além de estar em contradição com a motivação apresentada (quando se refere «Pelo contrário, não resulta de forma inequívoca da prova produzida que a

circunstância de a grua ter sido fabricada em 1998 e não em 1999 fosse

decisiva para a decisão de contratar, em termos tais que, se a autora soubesse que era de 1998, não a compraria ou exigiria uma redução do preço»),

constitui nulidade nos termos do disposto nos art.º 3.º, n.º 3 e 5.º, n.º 2, 615.º, n.º 1, al. d), segunda parte, todos do NCPC [anterior art.º 668.º, n.º 1, al. d)].

10.ª No que diz respeito ao ponto 21. (Atento o real estado de funcionamento da máquina, a autora não teria efectuado o negócio e, muito menos, pelo referido valor), a Mma. Juíza a quo altera, de forma injustificada e ilegal, a factualidade que havia sido dada como provada em sede de resposta aos quesitos [resposta ao quesito 18.º da bi: Provado que “Atento o real estado de funcionamento da máquina, a autora não teria efectuado o negócio e, muito menos, pelo referido valor, dado o custo da sua reparação (a substituição da transmissão, caso não seja reparável, custa € 14.500,00 e a reparação dos restantes problemas de funcionamento da máquina custa € 2.298,85, sem

(7)

considerar a mão de obra e despesas de deslocação/transporte)], omissão que, por acontecer após o momento de reclamação, constitui nulidade nos termos nos termos do disposto no art.º 615.º, n.º 1, al. b) e d), do NCPC [anterior art.º 668.º, n.º 1, al. b) e d)].

11.ª No quesito 18.º da base instrutória – na senda da versão dos factos trazida a juízo pela Apelante – questionava-se o seguinte: «Atento o real ano de fabrico da máquina, o seu real estado de funcionamento, nunca a autora teria efectuado o negócio e, muito menos, pelo referido valor, dado que o

preço de mercado de uma máquina com as características, do ano de fabrico e no estado em que se encontrava a máquina que veio a ser adquirida pela

autora ascendia a € 75.000,00?»; matéria de facto que proveio dos factos alegados pela Apelada nos artigos 36.º e 37.º da sua petição inicial, no âmbito dos quais a Recorrida aduzia que nunca teria comprado a máquina em apreço nos presentes autos, pois «pagou em excesso cerca de € 50.000,00».

12.ª À parte do já arguido na conclusão 10.ª, mister é notar que, ao responder restritivamente ao aludido quesito, olvidando que o essencial da alegação da Apelada era a de que a máquina valeria, quando muito, € 75.000,00

(factualidade que foi terminantemente afastada pela prova produzida), a Mma.

Juíza a quo não cumpriu o princípio do contraditório agora imposto pelos art.º 3.º, n.º 3 e 5.º, n.º 2, do NCPC, sendo nula, também nesta parte, a Douta

Sentença, devendo ter-se por não escrita, ao abrigo do disposto no art.º 615.º, n.º 1, al. d), segunda parte, do NCPC [anterior art.º 668.º, n.º 1, al. d)].

(Da impugnação da matéria de facto)

13.ª Tendo presente o argumento já apresentado nas conclusões 4.ª e 5.ª, entende a Apelante que, perante o teor da documentação junta à contestação sob os n.ºs 2, 3 e 4 (de onde resultam todos os momentos do processo

negocial, iniciado meses antes de Janeiro de 2010), considerando os

depoimentos das testemunhas D…, E… e F… (de onde resulta claramente que a máquina nunca este em exposição nas instalações da Apelante, muito menos em Janeiro de 2010) e, ainda, a factualidade dada como provada nos pontos 24. a 31. da decisão sobre a matéria de facto, deve ser dada como não provada a factualidade constante dos quesitos 1.º a 3.º da base e instrutória e,

consequentemente, dada como não provados os pontos 8.º a 10.º da decisão sobre a matéria de facto.

14.ª Em sentido convergente, não olvidando a nulidade já arguida nas conclusões 6.ª e 7.ª, cumpre, não obstante, firmar que do teor da

documentação junta à contestação sob os n.ºs 2, 3 e 4; do conteúdo dos depoimentos das testemunhas D…, E… e F…; assim como da factualidade dada como provada nos pontos 24. a 31. da decisão sobre a matéria de facto (da qual resulta que a decisão de contratar teve por base o “aval” da

(8)

testemunha D…), deve ser dada como não provada a factualidade constante do quesito 5.º da base e instrutória e, consequentemente, dada como não provado o ponto 11.º da decisão sobre a matéria de facto.

15.ª No que diz respeito ao quesito 8.ª, 9.ª e 15.ª (ponto 18. da fundamentação de facto da Sentença), tendo em apreço os depoimentos de G…, D… e E… (as testemunhas da A., afirmando recordar-se do momento em que o ano de fabrico da máquina foi conhecido, não conseguem sequer precisar os contornos do alegado momento, não se recordando, sequer, do nome do técnico ou da empresa na sequência de cuja intervenção se teria verificado o questionado no quesito 15.º da base instrutória), para além do teor do

documento junto com a petição inicial sob o n.º 10, não tendo a Apelada (como lhe era possível) identificar quem fez a invocada descoberta, quando é

inequívoco que a placa técnica sempre acompanhou a máquina (pelo própria prova documental da Apelada), deve ser dada como não provada a

materialidade ínsita no ponto 18. da decisão sobre a matéria de facto, devendo o quesito original (15.º) merecido a resposta de não provado.

16.ª No que diz respeito ao quesito 16.ª, dando-se por reproduzida (por relevante) a argumentação aduzida na conclusão 15.ª, cumpre acrescentar que atento o teor dos documentos juntos com a contestação sob os n.ºs 2 e 3 (de onde resulta que a Apelada nunca se interessou por máquinas de 2000 em diante, sendo o negócio feito após vistoria), bem como do teor do depoimento das testemunhas D…, E… e F…, o quesito 16.º deveria ter merecido resposta negativa, pelo que não deveria ter sido julgado provada a factualidade

constate do ponto 19. da decisão sobre a matéria de facto.

17.ª Reafirmando a argumentação apresentada nas conclusões 10.ª a 12.ª (que, em sede de impugnação da decisão de facto, permanecem relevantes), cumpre aludir que da análise de toda prova documental apresentada pela Apelante em sede de contestação, tendo em atenção, em especial, o

depoimento das testemunhas F…, H… e I…, tendo, para além disso, em atenção a materialidade dada como provada nos pontos 36. e seguintes da decisão da matéria de facto, deveria a Mma. Juíza a quo ter respondido negativamente ao quesito 18. da base instrutória. 18.ª Quanto à matéria questionada no quesito 52.º da base instrutória, não se compreende, sendo, aliás, surpresa para a Apelante, a razão pela qual o quesito foi julgado não provado, quando, para além de tal matéria ser pacífica, resultar da prova

documental (doc. 10 da petição inicial) que a placa a que o quesito se refere se encontra cravada ou chumbada na máquina, nenhuma testemunha

(nomeadamente D…) tendo negado a sua presença, que, aliás, foi confirmada pelas testemunhas G… e E… – motivo pelo qual deveria ter sido dada como provada.

(9)

19.ª No que diz respeito ao quesito 54.º, entende a Apelante que da prova produzida resultou claro que no domínio do comércio de máquinas e

equipamentos industriais, o que releva é o ano da entrada dos equipamentos no circuito comercial, pois tal decorre dos depoimentos das testemunhas D…

(referiu que o desgaste da máquina é o factor relevante), E… (fez a

comparação entre máquina e carros, referindo-se ao ano do livrete – onde se encontra a data da primeira matrícula e não o fabrico), F… (abordou a alta da garantia como ano relevante comercialmente) e, finalmente, H… (afirmou como relevante o ano em que a máquina é colocada em funcionamento).

(Recurso sobre a matéria de Direito)

20.ª À luz do que determina o Regulamento (CE) n.º 593/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho de 2008 – sobre a lei aplicável às obrigações contratuais (Roma I), aplica-se, ao caso vertente, a lei espanhola.

21.ª A lei espanhola não reconhece ao comprador qualquer direito ao

saneamento em caso de defeitos manifestos (art.º 1484.º, segunda parte, do Código Civil espanhol), pelo que, não tendo a Apelada demonstrado existirem, no caso sub judice, defeitos ocultos, nunca lhe assistiria qualquer direito (incumbindo-lhe o respectivo ónus de prova ao abrigo do disposto no art.º 217.º da Ley 1/2000, de 7 de enero, de Enjuiciamiento Civil, ou seja, incumbia à Apelada a prova de que existiam defeitos e de que tais defeitos eram ocultos, factualidade que, porém, não logrou demonstrar em face do vertido nos pontos 15. e 34. da decisão sobre a matéria de facto).

22.ª À luz do que determina o art.º 1490.º do Código Civil espanhol (CCE), os direitos alegados pela Apelada, ainda que existissem (o que por mera cautela de patrocínio se equaciona), ter-se-iam extinguido por caducidade, inexistindo à data da propositura da presente acção.

23.ª A Mma. Juíz a quo considerou, de forma errada, que o prazo de seis

meses previsto no art.º 1490.º do CCE era de prescrição, quando, na verdade, à luz da interpretação unânime da doutrina e jurisprudência espanholas, «Não há dúvida de que o invocado artigo 1490 estabelece o prazo de seis meses para exercer, entre outras, acções por vícios ocultos, prazo que tem carácter de "disposição especial", como previsto no artigo 1969 EDL Código Civil 1889/1, com o aviso também que, de acordo com pacífica opinião doutrinal e reiterada jurisprudência deste Tribunal, tal prazo é de caducidade e não de prescrição. O "dies a quo" para o início da contagem do prazo ocorre "a partir da entrega da coisa vendida." A simplicidade da regra não se presta a

interpretações complicadas para além da literalidade do mesmo no que diz respeito à extinção prazo e cômputo» (decisão do Tribunal Supremo espanhol datada de 14/10/2003, com a referência Sala 1ª, S 14-10-2003, nº 965/2003, rec. 3948/1997, Pte: Almagro Nosete, José; entre outra jurisprudência citada

(10)

no corpo das alegações de recurso, págs. 101 e ss.).

24.ª Ainda de acordo com a melhor doutrina e jurisprudência espanholas, mister é notar que "o prazo referido é um prazo civil, que não pode ser confundido com um prazo processual, não há lugar para duvidar que, nos termos do artigo 5 º do Código Civil EDL 1889/1 e ao tratar-se de um prazo fixado por meses, esse período deve computar-se ininterruptamente, sem se excluir os dias não úteis" (TribunalSupremo aresto datado de 08/07/2010, referência Sala 1ª, S 8-7-2010, nº 478/2010, rec.1348/2006; Pte: O'Callaghan Muñoz, Xavier), ou seja, conforme esclarece FRANCISCORIVERO

HERNÁNDEZ os prazos de caducidade «não são susceptível de interrupção: é odado mais significativo da caducidade (em face da prescrição). Porém: caberá admitiralguma excepção? Haverá algum exemplo na jurisprudência, e não só para os casos decaducidade convencional. A minha posição é contrária à interrupção» [VAZ SERRA, PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, aduzem «o prazo de caducidade para intentar a acção judicial só éimpedido se o

reconhecimento tiver o mesmo efeito da sentença» – tese sufragada por Vaz Serra (BMJ107, 332) e PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA (Código Civil Anotado, Vol. I, pág. 296); abraça a mesma teoria ANA FILIPA MORAIS ANTUNES (Prescrição e Caducidade, anotação aos artigos 296.º a 333.º do Código Civil (“O tempo e a sua repercussão nas relações jurídicas” pág. 178):

«O reconhecimento só será impedido se tiver o mesmo efeito que teria a prática do acto sujeito a caducidade (…)»].

Ademais,

25.ª O Direito Civil português estabelece, no art.º 914.º do CCP, que “Sendo possível a eliminação dos defeitos ou a nova realização da prestação, ao comprador ou ao dono da obra só cabe a escolha entre resolver o contrato e reduzir o preço, caso a contraparte tenha recusado qualquer das prestações de cumprimento ou depois de decorrido um prazo suplementar fixado, nos termos do art.º 808.º, para a sua fixação” (27), razão pela qual o Autor tem “o poder-dever de seguir primeiro e preferencialmente a via da reparação ou substituição da coisa sempre que possível e preferencialmente a via da

reparação ou substituição da coisa sempre que possível e proporcionada, em nome da conservação do negócio jurídico, tão importante numa economia de contratação em cadeia, e só subsidiariamente o caminho da redução do preço ou resolução do contrato” (28).

26.ª Tal significa que a opção (do comprador) entre a resolução do contrato, a reparação da coisa e a sua substituição não é arbitrária, “deve ser conforme ao (27) Idem, pág. 439. (28) CALVÃO DA SILVA, Compra e venda de coisas defeituosas, Almedina, 2001, págs. 155 e 156, princípio da boa fé, e não cair no puro arbítrio do comprador, sem olhar aos legítimos interesses do

(11)

vendedor”, ou seja, “a reparação ou substituição da coisa que como dever incumbe ao vendedor (artigo 914.º do Código Civil), pode, no caso concreto, por exigências dos ditames da boa fé, funcionar como (contra-) direito de o alienante rectificar a inexactidão do seu cumprimento, se a reparação

oferecida ou a substituição oferecida der satisfação adequada e tempestiva ao interesse do adquirente, com a recusa deste a contrariar a boa fé na medida em que sacrificava injustificadamente os interesses daquele” (29).

27.ª Na verdade e no essencial, a solução vertida no direito civil português não é distinta da do Direito Civil espanhol (tanto mais que radicam nas mesmas acções edilícias do direito romano clássico), pois, conforme tem decidido o Tribunal Supremo de Espanha, o recurso às medidas de tutela do comprador é submetido «a um juízo de razoabilidade, especialmente em sede contrato de empreitada de imóveis, com base na exigência de um exercício dos direitos da boa-fé (art. 7.1 CC) sem injustiça (Art. 7.2 CC».

28.ª Nessa medida, o art.º 7.º do Código Civil Espanhol exige que «Os direitos devem ser exercidos em conformidade com as exigências da boa fé» [1.], determinado que «A lei não protege abuso de direito ou exercício anti-social.

Qualquer ato ou omissão que pela intenção de seu autor, pelo seu objecto ou pelas circunstâncias em que se realize, exceda manifestamente os limites normais do exercício de um direito, com danos a terceiros, resultará em

compensação adequada e na adopção de medidas judiciais ou administrativas para evitar a persistência de abuso»; perante o que Tribunal Supremo

espanhol «[c]om o propósito de conservar o contrato e dar ao vendedor a oportunidade de corrigir o seu incumprimento inicial, a jurisprudência dá preeminência ao cumprimento de forma específica» [veja-se, neste sentido, a jurisprudência citada pelo A. acima aludido, mormente a Sentença do Tribunal Supremo (STS) de 24.04.2000 (RJ 2000\2983), a STS de 10.6.1983 (RJ 1983

\3454) e a STS (29) Idem , pág. 80. 20.12.2004 (RJ 2004\8131)]. Tal

entendimento chega mesmo ao ponto de admitir que, nos casos em que a reparação se revele demasiado onerosa do ponto de vista do devedor, se opte apenas pela indemnização do dano [neste sentido vide STS 2.7.1998 (1998

\5123)].

29.ª Nesse contexto, logrando-se provado nos autos que a reparação é possível, que a Apelante não se recusou a realizar a sobredita reparação, impõe-se concluir que, à luz do disposto nos art.ºs 7.º e 1484.º a 1486.º do CCE, o direito civil espanhol proíbe que, no vertente caso, a Apelada possa lançar mão do direito de resolução previsto na última das normas citadas, por tal se revelar, à luz do princípio da boa fé, um manifesto abuso de direito.

Em face do que A Sentença recorrida violou os art.ºs 264.º, n.º 2 e n.º 3, 664.º e 668.º do Código de Processo Civil vigente até 31.08.2013, os art.ºs 3.º, 5.º e

(12)

615.º do Novo Código de Processo Civil, art.º 217.º da Ley 1/2000, de 7 de enero, de Enjuiciamiento Civil, 5.º, 7.º, 1484.º, 1485.º, 1490.º do Código Civil Espanhol.

*

Devidamente notificada, a Autora apresentou as respectivas contra-alegações nas quais conclui pelo não provimento da apelação.

*

Após os vistos legais cumpre decidir.

*

II- FUNDAMENTOS

O objecto do recurso é delimitado pelas conclusões da alegação do recorrente, não podendo este Tribunal conhecer de matérias nelas não incluídas, a não ser que as mesmas sejam de conhecimento oficioso- cfr. cfr. arts. 635º, nº 3, e 639º, nsº 1 e 2, do C.P.Civil.

**

No seguimento desta orientação são as seguintes as questões a decidir:

a)- saber se a sentença padece das nulidades estatuídas nas alíneas b) e d) do artigo 668.º, nº 1 do CPCivil;

b)- saber se o tribunal recorrido cometeu erro na apreciação da prova e assim na decisão da matéria de facto;

c)-decidir de direito em conformidade com a matéria factual que se venha a fixar:

- nomeadamente se os defeitos eram ou não desconhecidos da recorrida,

- se verifica ou não o prazo de caducidade/prescrição do exercício do direito,

- e finalmente se a recorrida devia ter optado por pedir a eliminação/

reparação dos defeitos em vez da resolução do contrato.

**

A)- FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

É a seguinte a matéria de facto que o tribunal de 1ª instância deu como provada.

1. A autora exerce a actividade de transportes rodoviários de mercadorias.

2. A ré, por sua vez, exerce o comércio de maquinaria aeroportuária, ferroviária e portuária.

3. O preço acordado e pago pela autora à ré foi de €125.000,00, por via de

(13)

transferência bancária para a conta que a ré identificou com o IBAN

………., no dia 12 de Janeiro de 2010.

4. Em 13 de Janeiro de 2010, a autora e a ré subscreveram um contrato, denominado "Contrato de compra e venda de ….", pelo qual a segunda declarou vender à primeira, a qual reciprocamente aceitou adquirir, pelo

preço de €125.000,00, a máquina …, da marca …, modelo …, s/n ….., junto por cópia aos autos, cujo teor se dá aqui por reproduzido.

5. Do mencionado contrato resulta, para além do mais, que a ré se obrigava a proceder à entrega da aludida máquina e respectiva montagem no prazo de 8 dias a contar da data do pagamento integral do preço, nas instalações da autora sedeadas na EN …, km 30,8, da freguesia …, concelho de Ovar.

6. A entrega e montagem da máquina por parte da ré ocorreu na última semana do mês de Janeiro de 2010.

7. Foi acordado que a ré procederia, aquando da entrega e montagem da máquina nas sobreditas instalações da autora, a ensaios de funcionamento e daria formação na utilização da máquina aos operários e técnicos da autora.

8. No início de Janeiro de 2010, a ré tinha, para venda, uma máquina grua da marca "…", modelo "….", com o número de série ……….

9. A ré anunciava a aludida máquina como sendo do ano de fabrico de 1999.

10. E que se encontrava 100% operativa.

11. (Quesito 5) A autora adquiriu a dita máquina porque, entre o mais, ficou convencida da veracidade das informações dadas pela ré.

12. A emissão da factura da aludida máquina concretizou-se a 08 de Janeiro de 2010.

13. A formação referida em 7. seria dada por técnicos com conhecimentos específicos de gruas ….

14. Os técnicos que a ré disponibilizou aquando da montagem não eram técnicos da J….

15. Em 29 de Janeiro de 2010, foram constatados pela autora problemas no funcionamento da transmissão, dos hidráulicos, das luzes de sinalização e funções, bem como a inexistência do manual da máquina, com os esquemas eléctricos, pneumático e mecânico.

16. A 29 de Janeiro e, seguidamente, a 02 de Fevereiro de 2010,

respectivamente, via e-mail e carta registada, foram pela autora denunciados à ré tais problemas e a falta do referido manual.

17. Problemas que vieram no decurso de Fevereiro e Março de 2010 a ser reconhecidos pela ré.

18. A 25 de Março de 2010, na sequência de exame rigoroso à aludida máquina para efeitos de orçamentação do custo de reparação dos referidos problemas, a autora verificou que a máquina é do ano de fabrico de 1998,

(14)

conforme resulta da chapa de características técnicas colocada no chassis da mesma.

19. O facto referido em 15 contribuiu para que a autora perdesse o interesse na manutenção do contrato.

20. Em 30 de Março de 2010, por carta registada com aviso de recepção, que a ré recebeu, a autora comunicou àquela a intenção de resolver, no imediato, o respectivo contrato de compra e venda e solicitou-lhe a devolução do preço que havia liquidado em Janeiro de 2010 e, bem assim, o levantamento pela ré da máquina das suas instalações, nos termos que constam do documento n.º 11 junto com a petição inicial (cf. fls. 33).

21. Atento o real estado de funcionamento da máquina, a autora não teria efectuado o negócio e, muito menos, pelo referido valor.

22. A autora ficou privada da utilização de uma máquina com as

características que lhe foram asseguradas pela ré, de que necessita para o exercício da sua actividade.

23. Tendo que proceder ao parqueamento da máquina em causa.

24. A autora, por intermédio da sociedade espanhola K…, S.A., contactou a ré, por e-mail de 19 de Novembro de 2009, conforme documento n.º 2 da

contestação, cujo teor se dá aqui por reproduzido.

25. Antes do descrito em 4., a ré comprou à sociedade L…, com sede na cidade de Valência, uma máquina usada da marca …, modelo …, produzida pela

empresa italiana J…, S.p.A., tendo-a revendido à autora, no estado em que se encontrava.

26. No seguimento, a ré enviou, no dia 19 de Novembro de 2009, e-mail com o teor constante do documento n.º 3 da contestação, cujo teor se dá aqui por reproduzido.

27. A autora manifestou interesse na aquisição da máquina ….

28. Entretanto, prosseguiram as negociações entre as partes, tendo sido

acordado que a autora visitaria as instalações da L…, em Valência, com vista a ver a máquina em causa e a verificar o estado em que esta se encontrava.

29. No âmbito das negociações ocorridas entre as partes, a autora enviou um mecânico, D…, em Dezembro de 2009, às instalações da L…, para examinar a máquina em causa.

30. Após a verificação, a autora deu indicação à ré que tinha interesse na aquisição da máquina pelo valor de €125.000,00.

31. Em 8 de Janeiro de 2010, a ré, no seguimento do acordado com a autora, emitiu e enviou a esta a factura n.º ./10, datada do mesmo dia, no valor de

€125.000,00, referente à máquina Grua …, da marca …, modelo …., do ano de fabrico 1999, série n.º ………...

32. Na sequência do acordado, a ré diligenciou pelo transporte da máquina

(15)

desde Valência até …-Ovar.

33. A Ré diligenciou para que a entrega da máquina fosse acompanhada por uma equipa especializada em máquinas gruas do tipo da …, habilitada para proceder à respectiva instalação e dar formação no manuseamento e

utilização da mesma.

34. A máquina …, após transporte desde Valência, foi entregue nas instalações da autora, sitas em …-Ovar, no dia 28 de Janeiro de 2010.

35. Após ser entregue em …-Ovar, a equipa especializada que a acompanhou procedeu à montagem da máquina … e ligou-a, na presença de funcionários da autora.

36. Após ter recebido mensagem da autora, a ré respondeu-lhe, por e-mail datado de 01 de fevereiro de 2010, dizendo: «Tomo nota da sua reclamação e informo-o que enviaremos um técnico para ver a máquina, por outro lado: - Os técnicos que montaram a máquina conhecem suficientemente … e não sei porque dizem que não conhecem a máquina; Eles na quinta-feira dia 28 de»

Janeiro [por lapso no e-mail refere-se Fevereiro) «esperaram até às 5 da tarde (4 ou 5 horas) que viessem alguém utilizar a maquina. Os hidráulicos repará- los-emos para que estejam operacionais e se há que mudar tubagens fá-lo- emos. Se há alguma luz que tenhamos que pedir por favor indiquem-nos qual é e o que faremos. Quanto à transmissão falhar não sabemos a que se refere mas foi examinada a máquina pelo seu técnico em Valência e o serviço técnico que corresponde é a empresa M… em Portugal. Em conformidade indico-lhe as pessoas responsáveis pelos nossos serviços técnicos para coordenar a visita (…)".

37. Em 2 de Fevereiro de 2010, a autora enviou e-mail à ré com o seguinte conteúdo: «Vamos esperar o envio do manual completo da máquina, porque com ele poderemos resolver os pequenos problemas. Relativamente à

transmissão e aos hidráulicos, ficamos a aguardar a vinda de um técnico da J…

para os resolver. Gostava também que o Sr. F… acompanhasse a vinda do técnico a Portugal, para ver com os seus próprios olhos, os problemas da máquina».

38. No dia 11 de Fevereiro de 2010, a ré solicitou à autora o envio «de mais dados das avarias (foto ou referência), é importante o "pedido de intervenção"

que lhes enviamos».

39. A autora não enviou à ré os dados solicitados no e-mail referido.

40. No dia 22 de Fevereiro de 2010, os serviços de assistência técnica da ré remeteram um e-mail à autora, no qual foi solicitado «o seguinte: «Por favor envie-nos detalhes das avarias para poder enviar ao técnico adequado para a reparação:- Que se passa com a transmissão? Sai algum código de avaria?- Quais os hidráulicos não funcionam? - Quais as luzes que não funcionam? –

(16)

Segundo percebi, o manual já foi enviado. Compreendam, por favor, que sem informação concisa não poderemos dar uma resposta eficiente. Aguardamos suas notícias».

41. Em resposta, a autora limitou-se a referir, por e-mail de 23 de Fevereiro de 2010, dirigido à ré, o seguinte: «Há muito tempo que nos manifestamos,

quanto aos problemas da máquina e certamente V. Ex.as sabem muito bem o que nos venderam. Não sabemos explicar melhor o que se passa, nem tão- pouco sabemos reparar o que não funciona ou que funciona mal. O manual que nos enviaram é de uma máquina mais recente e não da Grua … - Mod …...

Como até à data não se dispuseram a resolver as avarias, vamos pedir a intervenção do representante da J… em Portugal, para as solucionar.

Oportunamente, apresentaremos a conta a V. Ex.as».

42. No dia 25 de Fevereiro de 2010, a ré enviou e-mail à autora, dizendo o seguinte: «Vamos enviar um técnico para analisar as avarias comentadas.

Também levarão um manual da série 200 em lugar da 365, é o que

receberam? Podem enviar fotografia do hidráulico e luzes avariadas? Ser-nos- ia de muita ajuda».

43. No mesmo dia 25 de Fevereiro de 2010, os serviços de assistência técnica a ré remeteram novo e-mail à autora com o seguinte teor: «Iremos enviar-lhes mecânico, a partir de Madrid. Os meus colegas vão informá-lo do dia exacto para a assistência. O técnico vai levar o manual da máquina para lhe entregar, pois entendemos que houve um erro no envio anterior. Seria muito útil se nos indicassem: Quais hidráulicos que não funcionam? Quais as luzes que não funcionam? Se soubermos que luzes ou hidráulicos estão avariados, podemos levar resposta para resolver a avaria. Se não soubermos o que está avariado, vamos perder tempo na reparação, pois não poderemos reparar nesse mesmo dia».

44. A autora não prestou a informação solicitada pela ré.

45. No dia 1 de Março de 2010, a ré fez deslocar às instalações da autora um técnico seu, no sentido de analisar a máquina, tendo constatado que, com vista a confirmar a existência de problema na transmissão, seria necessário proceder à abertura e desmontagem da transmissão.

46. No dia 8 de Março de 2010, a ré remeteu e-mail à autora no qual fez constar o seguinte: «Pela presente mensagem venho confirmar-lhe Vamos a enviar os nossos técnicos para recolher a transmissão; Sr. D… vai pedir entretanto orçamento de intervenção à M…. Logo que saibamos quando enviamos os técnicos e o orçamento de reparação colocar-nos-emos em contacto convosco».

47. (Quesito 48) No dia 22 de Março de 2010, a ré fez deslocar um técnico às instalações da autora, para recolher a transmissão da máquina.

(17)

48. A Autora não permitiu que a transmissão fosse desmontada, impedindo que o técnico acedesse à máquina, o que foi atestado por este técnico no relatório de visita, onde consta: «Não podemos fazer nada. Não nos deixam aproximar-nos da máquina».

49. Por essa razão, no dia 22 de Março de 2010, a ré remeteu um e-mail à autora, no qual afirmou o seguinte «Escrevo-lhe em inglês é melhor: 1. Vocês têm escrito na nossa oferta que lhes entregaremos a unidade a trabalhar;

Vocês não deixam o nosso técnico entrar nas vossas instalações; Nós

queremos resolver isto e vocês não nos deixam trabalhar. Nós não queremos resolver através de advogados daqui a dois anos. Nós queremos resolver isto agora. O custo de hoje é mais de 1.000 euros pela viagem e do nosso melhor técnico. Por favor deem-nos uma garantia escrita de que o nosso técnico pode entrar nas vossas instalações. Por favor digam-nos das vossas intenções para resolver os problemas. Em inglês por favor».

50. No dia 7 de Abril de 2010, a ré enviou um fax à autora, no qual referiu o seguinte: «juntamos documentos que certificam que 1) A máquina (…) foi examinada pelo vosso técnico que aprovou tecnicamente a máquina. Vocês examinaram-na antes. 2) Ano de fabrico é 1999 e podemos certificá-lo pois o chassis é de Novembro/Dezembro de 1998 saindo a máquina para as nossas instalações em 1999; 3) Juntamos certificado de trabalho da visita dos nossos técnicos às vossas instalações sem encargo económico e não lhes foi permitido entrar depois de 1200 km de deslocação. 4) Desde este momento podemos confirmar que não vamos recolher a máquina das vossas instalações pois não é o acordo firmado convosco. Propomos corrigir as mudanças de velocidades (só segunda e terceira) sem encargo. 5) A falha da 2a e 3a velocidades está oculta não podemos vê-la sem abrir a transmissão. Apenas temos boa vontade e não desejaríamos em caso algum ter que recorrer aos tribunais podendo resolver em poucas semanas com os nossos técnicos. O documento enviado para o seu correio electrónico é interno, nosso, para controlo de custos e, em caso algum, se pretende cobrá-lo a V. Ex.as, esperamos poder resolver o assunto com a vossa aprovação e pedimos desculpas pelo mal-entendido do correio

electrónico».

51. A máquina … foi comercializada pelo fabricante (J…), pela primeira vez e no estado de nova, no ano de 1999.

*

III. O DIREITO

Apreciemos então as questões pela ordem cronológica posta pelo apelante e decorrente da lei.

a)- nulidades da sentença

(18)

Refere a este respeito a recorrente que a sentença é nula por violação do artigo 668.º, nº 1 als. b) e d) do ACPCvil-actual artigo 615.º nº 1 als. b) e d) do NCPCivil.

E assaca tal nulidade consubstanciada no facto de as respostas dadas pelo tribunal recorrido aos quesitos 1º, 5º, 16º e 18º da base instrutória não se conterem dentro da matéria factual que aí se encontrava vertida.

As causas de nulidade da sentença ou de qualquer decisão são as que vêm taxativamente enumeradas no nº 1 do artigo 668.º do ACPCivil, normativo que corresponde com pequenas alterações, que para o caso não relevam, ao actual 615.º do NCPCivil.

Nos termos daquele pretérito preceito, é nula a sentença quando: a) não

contenha a assinatura do juiz; b) não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão; c) os fundamentos estejam em oposição com a decisão; d) o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento; e) condene em quantidade superior ou em objecto diverso do pedido.

Os vícios determinantes da nulidade da sentença correspondem a casos de irregularidades que afectam formalmente a sentença e provocam dúvidas sobre a sua autenticidade, como é a falta de assinatura do juiz, ou

ininteligibilidade do discurso decisório por ausência total de explicação da razão por que decide de determinada maneira (falta de fundamentação), quer porque essa explicação conduz, logicamente, a resultado oposto do adoptado (contradição entre os fundamentos e a decisão), ou uso ilegítimo do poder jurisdicional em virtude de pretender conhecer questões de que não podia conhecer (excesso de pronúncia) ou não tratar de questões de que deveria conhecer (omissão de pronúncia). São, sempre, vícios que encerram um

desvalor que excede o erro de julgamento e que, por isso, inutilizam o julgado na parte afectada.[1]

Isto dito, parece-nos, que existe por parte da recorrente alguma confusão sobre as nulidades que assaca à sentença recorrida.

Na verdade, os fundamentos que invoca na concretização das nulidades da decisão não se enquadram em nenhum dos supra referidos, pois que, todos estes têm como referência e são aferidos em função da própria decisão.

Ora, como é bom de ver os fundamentos em que a recorrente sustenta as nulidades invocadas dizem respeito à decisão da matéria de facto, isto é, não são vícios que digam respeito à sentença.

Analisando.

Em relação à resposta dada ao quesito 18º a recorrente, para além de dizer que a sentença é nula por violação da al. d) do artigo 668.º do ACPCivil,

(19)

assaca-lhe também a nulidade estatuída na al. b) do mesmo preceito.

A sentença é nula, refere a alínea em causa, quando:

a (…)

b) “Não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão”.

Como é entendimento pacífico da doutrina, só a falta absoluta de

fundamentação, entendida como a total ausência de fundamentos de facto e de direito, gera a nulidade prevista na al. b) do nº 1 do citado artº 668º. A

fundamentação deficiente, medíocre ou errada afecta o valor doutrinal da sentença, sujeita-a a ao risco de ser revogada ou alterada em recurso, mas não produz nulidade.[2]

Ora, para que haja falta de fundamentação, como causa de nulidade da sentença, torna-se necessário que o juiz não concretize os factos que considera provados e os não coloque na base da decisão[3], coisa que,

manifestamente, no caso em apreço não acontece, pois que, a Srª Juiz, como o evidência a sentença recorrida, aí descriminou os factos que resultaram

provados e de acordo com a decisão da matéria de facto que

antecedentemente havia sido proferida, como também especificou os fundamentos de direito que estiveram na base da decisão.

Portanto, ao contrário do que afirma o recorrente, a sentença recorrida não enferma da nulidade que lhe vem assacada e constante da alínea b) do nº 1 do artigo 668.º do C.P.Civil-actual 615.º, nº 1 al. b) do NCPCivil.

A recorrente refere ainda que a sentença prolatada padece da nulidade

estatuída na alínea d) do nº 1 do artigo 668.º do AC.P.Civil-actual 615.º nº 1 al.

d) do NCPCivil.

A sentença é nula refere a alínea em causa:

“d) Quando o juiz deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de questões de que não podia tomar conhecimento”.

Este vício prende-se com norma do artigo 660.º, nº 2 do C.P.Civil-actual 608.º, nº 2 do NCPCivil-que consigna a “ordem de julgamento”.

Resulta do regime previsto neste preceito, que o juiz na sentença:

“deve resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua

apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão esteja prejudicada pela solução dada a outras. Não pode ocupar-se senão das questões suscitadas pelas

partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso de outras.”

Como salienta Alberto dos Reis[4] “Resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação não significa considerar todos os

argumentos que, segundo as várias vias, à partida plausíveis, de solução do pleito (art. 511º/1), as partes tenham deduzido ou o próprio juiz possa

(20)

inicialmente ter admitido: por um lado, através da prova, foi feita a triagem entre as soluções que deixaram de poder ser consideradas e aquelas a que a discussão jurídica ficou reduzida; por outro lado, o juiz não está sujeito às alegações das partes quanto à indagação, interpretação e aplicação das normas jurídicas (art. 664º) e, uma vez motivadamente tomada determinada orientação, as restantes que as partes hajam defendido, nomeadamente nas suas alegações de direito, não têm de ser separadamente analisadas”.

Tendo, por base estes ensinamentos, a sentença não padece, pois de nulidade porque não analisou um certo segmento jurídico que a parte apresentou, desde que fundadamente tenha analisado as questões colocadas e aplicado o direito.

A fundamentação da sentença aponta apenas para a justificação da decisão final em face do direito substantivo aplicável.[5]

Ora, no caso concreto, não é este o vício que a recorrente diz a sentença padecer.

Como noutro passo já se referiu, os fundamentos que a recorrente alega neste segmento prendem-se com a decisão sobre a matéria de facto sendo, pois, no âmbito da impugnação desta matéria que se analisarão também tais

fundamentos.

*

Não padecendo a sentença das invocadas nulidades entremos agora na segunda questão que vem posta no recurso.

b)- saber se o tribunal recorrido cometeu erro na apreciação da prova e assim na decisão da matéria de facto.

A recorrente impugna, no presente recurso, a decisão sobre matéria de facto, proferida pelo tribunal recorrido, no que tange aos quesitos 1º a 3º, 5º, 15, 16º, 18º, 52º e 54º da base instrutória.

Vejamos, então, se lhe assiste razão.

O controlo de facto, em sede de recurso, tendo por base a gravação e/ou transcrição dos depoimentos prestados em audiência, não pode aniquilar (até pela própria natureza das coisas) a livre apreciação da prova do julgador, construída dialecticamente na base da imediação e da oralidade.

Efectivamente, a garantia do duplo grau de jurisdição da matéria de facto não subverte o princípio da livre apreciação da prova (consagrado no art. 655.º, nº 1, do CPC: “o juiz aprecia livremente as provas, decidindo segundo a sua

prudente convicção acerca de cada facto”-actual 607.º nº 5) que está deferido ao tribunal da 1ª instância, sendo que, na formação da convicção do julgador não intervêm apenas elementos racionalmente demonstráveis, já que podem

(21)

entrar também elementos que em caso algum podem ser importados para a gravação vídeo ou áudio, pois que a valoração de um depoimento é algo absolutamente imperceptível na gravação/transcrição.[6]

Ora, contrariamente ao que sucede no sistema da prova legal, em que a conclusão probatória é prefixada legalmente, no sistema da livre apreciação da prova, o julgador detém a liberdade de formar a sua convicção sobre os factos, objecto do julgamento, com base apenas no juízo que fundamenta no mérito objectivamente concreto do caso, na sua individualidade histórica, adquirido representativamente no processo.

“O que é necessário e imprescindível é que, no seu livre exercício de

convicção, o tribunal indique os fundamentos suficientes para que, através das regras da ciência, da lógica e da experiência, se possa controlar a

razoabilidade daquela sobre o julgamento do facto como provado ou não provado”.[7]

De facto, a lei determina expressamente a exigência de objectivação, através da imposição da fundamentação da matéria de facto, devendo o tribunal analisar criticamente as provas e especificar os fundamentos que foram

decisivos para a convicção do julgador (art. 653º, nº 2, do CPC-actual 607.º nº 4).

Nesta perspectiva, se a decisão do julgador, devidamente fundamentada, for uma das soluções plausíveis, segundo as regras da experiência, ela será inatacável, visto ser proferida em obediência à lei que impõe o julgamento segundo a livre convicção.

Daí que, conforme orientação jurisprudencial prevalecente o controle da Relação sobre a convicção alcançada pelo tribunal da 1ª instância deve restringir-se aos casos de flagrante desconformidade entre os elementos de prova e a decisão, sendo certo que a prova testemunhal é, notoriamente, mais falível do que qualquer outra, e na avaliação da respectiva credibilidade tem que reconhecer-se que o tribunal a quo, pelas razões já enunciadas, está em melhor posição.

Na verdade, só perante tal situação [de flagrante desconformidade entre os elementos de prova e a decisão] é que haverá erro de julgamento; situação essa que não ocorre quando estamos na presença de elementos de prova

contraditórios, pois nesse caso deve prevalecer a resposta dada pelo tribunal a quo, por estarmos então no domínio e âmbito da convicção e da liberdade de julgamento, que não compete a este tribunal [ad quem] sindicar (artº 655.º-1 do CPC), e pelas razões já supra expandidas.

Em conclusão: mais do que uma simples divergência em relação ao decidido, é necessário que se demonstre, através dos concretos meios de prova que foram produzidos, que existiu um erro na apreciação do seu valor probatório,

(22)

conclusão difícil quando os meios de prova porventura não se revelem inequívocos no sentido pretendido pelo apelante ou quando também eles sejam contrariados por meios de prova de igual ou de superior valor ou credibilidade.

É que o tribunal de 2ª jurisdição não vai à procura de uma nova convicção (que lhe está de todo em todo vedada exactamente pela falta desses elementos intraduzíveis na gravação da prova), mas à procura de saber se a convicção expressa pelo Tribunal “a quo” tem suporte razoável naquilo que a gravação da prova (com os demais elementos existentes nos autos) pode exibir perante si.

Sendo, portanto, um problema de aferição da razoabilidade da convicção probatória do julgador recorrido, aquele que essencialmente se coloca em sede de sindicabilidade ou fiscalização do julgamento fáctico operado pela 1ª instância, forçoso se torna concluir que, na reapreciação da matéria de facto, à Relação apenas cabe, pois, um papel residual, limitado ao controle e

eventual censura dos casos mais flagrantes, como sejam aqueles em que o teor de algum ou alguns dos depoimentos prestados no tribunal a quo lhe foram indevidamente indiferentes, ou, de outro modo, eram de todo inidóneos ou ineficientes para suportar a decisão a que se chegou.[8]

Casos excepcionais de manifesto erro na apreciação da prova, de flagrante desconformidade entre os elementos probatórios disponíveis e a decisão do tribunal recorrido sobre matéria de facto serão, por exemplo, os de o

depoimento de uma testemunha ter um sentido em absoluto dissonante ou inconciliável com o que lhe foi conferido no julgamento, de não terem sido consideradas- v.g. por distracção-determinadas declarações ou outros

elementos de prova que, sendo relevantes, se apresentavam livres de qualquer inquinação, e pouco mais.

A admissibilidade da respectiva alteração por parte do Tribunal da Relação, mesmo quando exista prova gravada, funcionará assim, apenas, nos casos para os quais não exista qualquer sustentabilidade face à compatibilidade da resposta com a respectiva fundamentação.

Tendo presentes estes princípios orientadores, analisemos então, se assiste razão à apelante, neste segmento recursório da impugnação da matéria de facto, nos termos por ela pretendidos.

Quesitos 1º, 2º e 3º

Estes quesitos tinham a seguinte redacção:

1º- “No início de Janeiro de 2010, a ré tinha em exposição para venda, nas instalações comerciais da mesma sitas em Espanha, uma máquina grua da marca “…”, modelo “…”, com o número de série ………..?”

2º- “A ré anunciava a aludida máquina como sendo do ano de fabrico

(23)

de 1999?”

3º-“E que se encontrava 100% operativa?”

A estes quesitos o tribunal recorrido respondeu da seguinte forma:

1º-“Provado apenas que no início de Janeiro de 2010, a ré tinha, para venda, uma máquina grua da marca "…", modelo "…", com o número de série ………..”.

2º- “Provado”

3º- “Provado”.

A recorrente entende que tais quesitos deveriam ter tido resposta negativa.

Antes demais, cumpre analisar se a resposta restritiva dado ao quesito 1º pelo tribunal recorrido é totalmente distinta da que aí estava vertida, como defende a recorrente.

Não adiante jogar com as palavras emprestando-lhe um sentido que elas não têm para se ajustarem a uma realidade querida.

Evidentemente que a resposta restritiva, dada pelo tribunal recorrido, se contém dentro da matéria factual que o quesito em causa encerrava.

O que o tribunal recorrido fez foi expurgar, do âmbito da resposta, a

factualidade que em seu entender não havia resultado provada, ou seja, que a Ré, naquela data, não “tinha em exposição nas suas instalações

comerciais sitas em Espanha à maquina em causa.

Todavia, considerou provado que, naquela data, a Ré tinha a máquina em causa para venda.

Onde está o facto diferente nessa resposta que a pergunta já não contivesse?

O facto de não se provar que a Ré tivesse a máquina em exposição daí não se extrai que não a tivesse para venda.

Portanto, a resposta dada pelo tribunal recorrido, ao citado quesito, contém-se dentro da matéria factual que ele encerrava.

Contudo, diz a Ré que a resposta ao citado quesito deveria ser não provado.

É verdade que, como resultou da prova produzida, a máquina não estava em Janeiro de 2010 nas instalações da Ré apelante, antes se encontrava nas instalações da L… em Valência.

Está também assente nos autos [facto descrito em 4º correspondente à alínea D) dos factos assentes] que, em 13 de Janeiro de 2010, a Ré apelante celebrou o contrato de compra e venda com a recorrida referente a essa máquina.

Assim, sendo, não vemos como não dar como provado a matéria constante do quesito 1º nos termos em que o fez o tribunal recorrido?

É que se, assim, não for, então, naquela data, a Ré apelante terá vendido uma coisa que não lhe pertencia!

É certo que resultou provado que, antes daquela data, Ré adquiriu a máquina à L… (facto descrito em 25º).

(24)

Mas porventura está provado qual o exacto momento em que tal venda ocorreu?

Então como não dar como provado que, no início de Janeiro, a Ré tinha essa máquina para venda se ela a adquiriu antes de 13/01/2010 à L…?

Resulta, pois, do exposto que a resposta dada ao quesito 1º pelo tribunal recorrido terá de manter-se, já que a fundamentação aduzida a esse

respeito pela Srª juiz reflecte a prova que foi produzida e a recorrente outra não convocou que impusesse a sua alteração.

No que tange ao quesito 2º também a resposta dada pelo tribunal recorrido tem de manter-se.

De facto, não obstante no documento nº 3 junto da contestação se referir que a máquina é do ano de 1999, o certo é que nos documentos nºs 2 e 9 juntos com a petição inicial e da autoria da Ré se refere expressamente que o ano de fabrico é o de 1999.

Aliás, isso mesmo é confirmado pela testemunha F… (director de maquinaria da Ré) no seu depoimento quando, a instâncias do ilustre mandatário da apelante sobre o a referência no email ao ano de 1999 refere “Porque recebemos esta máquina da fábrica em 1999”.

E, em relação a isso, não vale a pena argumentar com o referido pela testemunha E… a respeito da política da empresa (Autora) comprar

equipamentos novos, já que, nesse âmbito, esse depoimento é irrelevante e deslocado relativamente à questão discutida nos autos.

Como assim, a alusão ano de 1999 nos documentos juntos com a contestação tem que se entender como sendo o ano de fabrico, sendo que, a Ré apelante não apresenta qualquer outra prova que contrarie o que consta dos

documentos da sua autoria juntos com a petição com os nºs 2 e 9, sendo de referir que isso mesmo resulta da resposta dada ao quesito 28º (facto descrito em 30º).

E o mesmo se diga em relação ao quesito 3º uma vez que, como consta das estipulações 1ª e 7ª do contrato de compra e venda (facto descrito em 4º e documento nº 3 junto com a petição inicial), a máquina foi alienada como estando 100% operativa, sendo que, em relação a esta matéria a Ré apelante também não convoca qualquer elemento probatório para que este tribunal altere a resposta dada pelo tribunal recorrido.

*

Quesito 5º

O citado quesito tinha a seguinte redacção:

“A autora só adquiriu a sobredita máquina porque ficou convencida da veracidade de toda a informação que lhe foi assegurada pela ora ré?”

Ao mencionado quesito o tribunal recorrido respondeu da seguinte forma:

(25)

“A autora adquiriu a dita máquina porque, entre o mais, ficou convencida da veracidade das informações dadas pela ré”.

Também em relação a esta quesito a Ré apelante refere que a sua resposta restritiva subverteu a alegação apresentada pela apelada e sobre a qual não teve oportunidade se pronunciar.

Não cremos que, também aqui, assista qualquer razão à Ré apelante.

E antes de avançarmos antolha-se dizer que, segundo a lição da Ré recorrente, o tribunal estaria, quase sempre impedido, de responder de forma restritiva aos quesitos.

Isto dito, a resposta dada pelo tribunal recorrido sobre tal quesito o que

espelha é que, não se logrou provar que a Autora tivesse adquirido a máquina em questão apenas porque estava convencida da veracidade das informações dadas pela Ré recorrente.

Acontece que, face à fundamentação vertida pela Sr. juiz na decisão da matéria de facto sobre tal quesito a resposta tinha que, inevitavelmente, ser restritiva, pois que, como aí se verteu, além daquela, outras, como a baixa do preço, a circunstância da Ré ser representante da marca …, o facto de o Sr.

D… ter dado o seu aval à compra depois de ter examinado a grua em Espanha, terão contribuído para a sua decisão.

Porém, ao contrário do que refere a recorrente, a resposta não extravasa o quesitado, ela contém-se na matéria factual que dele constava.

A recorrente parece esquecer que a resposta restritiva, advém muitas vezes, precisamente da contraprova que se faz e, perante ela, o tribunal tem que adequar a respectiva resposta. Ora, se o tribunal ficou convencido que houve outras causas que levaram a apelada a adquirir a máquina, para além daquela que constava do respectivo quesito, a resposta dada tinha que espelhar tal realidade, ou seja, que para além da razão que ele já abarcava, havia outras.

Por outro lado, também aqui a recorrente entende que a resposta a tal quesito deveria ter sido negativa.

Paro o efeito convocou o depoimento das testemunha D…, E… e F….

Do depoimento da testemunha D… não se retira que tivesse sido apenas com base no seu “aval” que a apelada se decidiu pela compra da máquina, o que ele diz é que foi um “bocado chave nisto”, ou seja, na compra.

Mas como retirar desta resposta que a apelada apenas levou em consideração a opinião da referida testemunha?

Do depoimento da testemunha E… a este respeito nada se retira, aliás, a Ré apelante e quanto a este depoimento incidiu, sobretudo, sobre a questão do ano de fabrico.

Da mesma forma que também do depoimento da testemunha F… nada

relevante se pode extrair. Com efeito, o que esta testemunha refere é que o Sr.

(26)

D… observou a máquina em Valência e que, provavelmente, a pôs em funcionamento que supõe que foi posta em andamento.

Todavia, também refere que enviaram documentação técnica e fotografias da máquina e que, após é que o Sr. D… fez uma visita à maquina no porto de Valência.

Portanto, estes depoimentos não infirmam a resposta dada pelo tribunal recorrido, razão pela qual a resposta por ele dada se tem de manter, já que, a apelante não indica qualquer outro elemento probatório para que não se considere que, as informações prestadas pela apelante sobre a máquina, não tenham sido levadas em linha de conta para a concretização da sua compra.

*

Quesito 15º

Este quesito tinha a seguinte redacção:

“A 25 de Março de 2010, na sequência de exame rigoroso à aludida máquina para efeitos de orçamentação do custo de reparação dos referidos problemas, a autora verificou que a máquina é do ano de fabrico de 1998, conforme resulta da chapa de características técnicas colocada no chassis da mesma?”

A este quesito o tribunal respondeu da seguinte forma:

“A 25 de Março de 2010, na sequência de exame rigoroso à aludida máquina para efeitos de orçamentação do custo de reparação dos referidos problemas, a autora verificou que a máquina é do ano de fabrico de 1998, conforme resulta da chapa de características técnicas colocada no chassis da mesma”.

Entende a recorrente que o tribunal recorrido deveria ter dado resposta negativa ao mencionado quesito.

Para o efeito, convoca o depoimento das testemunhas G…, D… e E….

Acontece que, o depoimento dessas testemunhas não infirmam essa resposta, antes encontram neles o arrimo necessário para que o tribunal desse tal facto como provado, sendo que, não é pelo facto de as características técnicas constarem da chapa colocada no chassis da máquina, como se vê da cópia da fotografia junta como documento nº 10 da petição, que a resposta tinha necessariamente de ser diferente.

A fundamentação vertida pela Mmª juiz na decisão da matéria de facto é perfeitamente plausível. Na verdade, muitas vezes as pessoas, em negócios desta natureza e com os montantes envolvidos, confiam quer na palavra dada quer no que consta por escrito, razão pela qual, não se vê como não admitir que perante a informação prestada pela Ré recorrente e constante do

documento nº 2 (cópia da factura) a apelada nela não tivesse confiado e, como tal, nunca tivesse reparado na placa aposta no chassis da máquina.

(27)

Acresce que, a Ré, para além da prova testemunhal, outros elementos probatórios não refere para que este tribunal, contrariando a bem

fundamentada decisão a esse respeito dada pela Mmª juiz, altere a resposta ao quesito em questão e no sentido por ela pretendido.

*

Quesito 16

Este quesito tinha a seguinte redacção:

“Facto que deu azo a que a autora perdesse o interesse na manutenção do respectivo contrato?”

A este facto o tribunal respondeu da seguinte forma:

“O facto referido em 15 contribuiu para que a autora perdesse o interesse na manutenção do contrato”.

Também aqui alega a recorrente que, não tendo sido considerado não provado este quesito, a Mmª juiz introduziu na decisão um facto que não foi alegado pelas partes e que, no essencial, contraria a tese apresentada pela Autora em sede de petição inicial.

Valem a este respeito mutatis muntandis as considerações feitas a propósito do quesito 5º, pelo que, a resposta dada se contém dentro dos limites da

factualidade que do referido quesito constava.

Por outro lado, também em relação a este quesito a recorrente entende que a sua resposta deveria ter sido negativa.

Como decorre da fundamentação vertida na decisão da matéria de facto, a Srª juiz entendeu que, a não correspondência do ano de fabrico, tinha sido apenas um dos motivos na perda de interesse, por banda da Autora apelada, na

manutenção do contrato, o que, está aliás, em consonância com o teor da carta junta como documento nº 11 com a petição inicial e que a Autora enviou a resolver o contrato.

Por outro lado e ao contrário do que afirma a recorrente, o depoimento das testemunhas E… e D… não infirmam a resposta dada ao citado quesito pelo tribunal a quo. Com efeito, ouvido os respectivos depoimentos o que deles se retira é que o ano de fabrico da máquina era relevante:- E…- “O ano foi

fundamental. O ano foi fundamental. Se nos tivessem dito que a máquina era p. ex. de 97 ou 98 o negócio não teria sido concretizado, porque nós tínhamos lá propostas de outras máquinas de 98, portanto não nos interessava comprar esta máquina por este preço.. se o ano não fosse de 99..” – D…-“Não... Porque o Sr.. N…, tinha-me frisado que queria urna máquina para cima de

2000...porque...porque há normas comunitárias que...sensores e ‘tan tan tan”.

Resulta, pois destes depoimentos que a Autora recorrida pretendia adquirir uma grua não anterior a 2000, aceitando, no limite, que fosse de 1999, por razões que se prendem com o cumprimento de normas comunitárias, e que a

Referências

Documentos relacionados

Consulte a filial mais próxima para maiores informações Dimensões em milímetros..

Analisaram-se 15 diferentes ovários em cada estágio, com exceção do estágio IV (desovado), no qual foram observadas apenas quatro fêmeas.. As medidas foram tomadas sempre no

Não tem informações sobre a sua modificação química e, pelo exposto acima, no presente trabalho tem-se estudado a modificação química deste amido variando a concentração

A Psicologia, por sua vez, seguiu sua trajetória também modificando sua visão de homem e fugindo do paradigma da ciência clássica. Ampliou sua atuação para além da

־ Uma relação de herança surge quando um objecto também é uma instância de uma outra classe mais geral (exemplo: “automóvel é um veículo”). ־ É sempre possível

O objetivo do curso é promover conhecimentos sobre as técnicas de gerenciamento de projetos, melhorando assim a qualidade do planejamento e controle de obras, visando proporcionar

Existirá uma classificação para equipas masculinas, equipas femininas e equipas mistas (as equipas mistas terão obrigatoriamente que apresentar 50% de elementos de cada

Neste trabalho, pretende-se considerar os seguintes aspectos como componentes do ambiente organizacional interno: (a) Estrutura: se o ambiente de trabalho é adequado nos