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ANA FLÁVIA DOS SANTOS EFEITOS IMEDIATOS DE TRÊS MODIFICAÇÕES DA TÉCNICA DE CORRIDA NA CINEMÁTICA DO MEMBRO INFERIOR E TRONCO E NO CONFORTO EM CORREDORES SADIOS: UM ESTUDO EXPERIMENTAL

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ANA FLÁVIA DOS SANTOS

EFEITOS IMEDIATOS DE TRÊS MODIFICAÇÕES DA

TÉCNICA DE CORRIDA NA CINEMÁTICA DO

MEMBRO INFERIOR E TRONCO E NO CONFORTO EM

CORREDORES SADIOS: UM ESTUDO EXPERIMENTAL

SÃO CARLOS

2014

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EFEITOS IMEDIATOS DE TRÊS MODIFICAÇÕES DA TÉCNICA DE CORRIDA NA CINEMÁTICA DO MEMBRO INFERIOR E TRONCO E NO CONFORTO EM CORREDORES SADIOS: UM ESTUDO EXPERIMENTAL

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Fisioterapia. Área de concentração: Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia.

DISCENTE

Ana Flávia dos Santos1

ORIENTADOR

Prof. Dr. Fábio Viadanna Serrão2

CO-ORIENTADOR:

Profª. Drª. Theresa Helissa Nakagawa3

SÃO CARLOS 2014

1. Aluna do curso de Pós-graduação em Fisioterapia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 2. Professor Associado da UFSCar, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Fisioterapia; Docente do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar; Coordenador do Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia (LAIOT).

3. Professora Substituta da UFSCar, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Fisioterapia.

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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar

S237et

Santos, Ana Flávia dos.

Efeitos imediatos de três modificações da técnica de corrida na cinemática do membro inferior e tronco e no conforto em corredores sadios : um estudo experimental / Ana Flávia dos Santos. -- São Carlos : UFSCar, 2014. 92 f.

Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São Carlos, 2014.

1. Fisioterapia. 2. Biomecânica. 3. Aterrissagem com antepé. 4. Frequência da passada. 5. Flexão do tronco. 6. Conforto humano. I. Título.

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Dedico essa dissertação aos meus pais, Cláudio e

Tiana, que me permitiram sonhar e me

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AGRADECIMENTOS

“Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós.

Deixam um pouco de si, levam um pouco de

nós.”

Antoine de Saint-Exupéry

Após dois anos de intensas atividades como mestranda, me deparei com a dificuldade em produzir uma página de agradecimentos a todos àqueles que contribuíram de forma

direta ou indireta para meu amadurecimento e concretização deste momento. Meu embaraço é consequência do risco de não enunciar a todos, e cometer qualquer injustiça.

Embora esta dissertação seja um trabalho individual, devido sua finalidade acadêmica, muitas pessoas me acompanharam nas situações difíceis e nos momentos de alegria e

realização. Assim, desejo expressar aqui os meus sinceros agradecimentos...

Agradeço à minha universidade, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), pelo acolhimento e por ter sido o palco das minhas maiores conquistas até o momento.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Fábio Viadanna Serrão, pela competência científica e oportunidade de aprendizado em seu laboratório nesses últimos cinco anos. Agradeço a

sua generosidade e paciência em transmitir seus ensinamentos, seus conselhos e sua motivação com nossas pesquisas. Muito obrigada pela amizade e confiança.

Nada melhor que ter a oportunidade de aprender com pessoas tão excepcionais e tê-las tão perto de nós. Agradeço à minha amiga e co-orientadora, Profª. Drª. Theresa Helissa Nakagawa, pela colaboração em todas as etapas deste trabalho, pela paciência e

estímulo ao senso crítico. Aprendi muito com você, Mãe Theresa, obrigada!

Aos professores membros das bancas de qualificação e examinadora, pela prontidão e aceite em participar dos processos de avaliação e pelas valiosas contribuições para o

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Ao Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia (PPG-FT) da UFSCar e seus

secretários pelo auxílio nas questões burocráticas referentes ao Mestrado.

Aos meus professores da graduação e pós-graduação, responsáveis diretos por minha formação profissional.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de estudo concedida.

À Profª. Drª. Nelci Adriana Cicuto Ferreira e às meninas do Laboratório de Análise e Desenvolvimento Infantil (LADI), por disponibilizarem espaço físico e seus

equipamentos para a realização das coletas de dados.

Aos voluntários, pela boa vontade, atenção, paciência e disponibilidade em contribuir com a realização deste projeto de pesquisa.

Agradeço a colaboração do aluno de Iniciação Científica, Pedro, durante o recrutamento de voluntários e coletas de dados. Esta primeira co-orientação, apesar das

dificuldades, afirmou meu desejo em continuar na carreira acadêmica.

Aos meus amigos e companheiros do Laboratório de Avaliação e Intervenção em Ortopedia e Traumatologia (LAIOT), Rodrigo Baldon, Ana Luisa e Mariana, e demais colegas da Pós-Graduação, em especial a Letícia Buá e Paulinha Serrão pelo

convívio diário, troca de conhecimento, aflições e experiências nesses anos de Mestrado. Sucesso a todos!

Ao Rodrigo Scattone, obrigada pela sua paciência oriental e por partilhar conosco seu arquivo cerebral pessoal. Seus futuros alunos têm muita sorte!

À minha mãe-irmã, Giovanna, muito obrigada pela amizade e pelo intenso companheirismo durante esses dois anos. Não tenho palavras para agradecer por todas

as “informações quentes”, dicas e conselhos, pelo grande auxílio nas coletas e nas questões burocráticas. Obrigada, Gi, principalmente por todos os momentos de

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À minhas amigas-irmãs, pessoas especiais que a vida acadêmica trouxe para mim. Obrigada Letícia Sexta, pela companhia em casa, pelos quitutes, pelas risadas e por sempre estar tentando a me ensinar a virtude de ser paciente. Obrigada Nize, por me fazer sentir em casa a cada visita, por confiar a mim seus desejos e suas dúvidas (e

quantas!), me enxergo muito em você! E a pessoa mais doce desse mundo, Lígia, obrigada pelo apoio e amizade sincera mesmo a distância. Tenho certeza que vocês

serão companhias para vida toda!

Agradeço as pessoas responsáveis pelo meu momento de relaxamento, que na verdade nunca foi mais agitado, às meninas do time de Handebol da Federal.

À minha turma Fisioterapia 08, pela amizade e incentivo. Como tenho saudade de todos vocês!

À minha família, minha avó, meus primos e tios que sempre estiveram para mim.

Ao meu namorado e humorista predileto, Humberto Fio, obrigada pelo incentivo, conselhos, paciência e carinho. Sua companhia me faz tão bem!

Claro que não posso deixar de citar meus irmãos, minha maior saudade de casa. À

Thaís, que recebeu a responsabilidade de ser a irmã mais velha, obrigada pelos conselhos, exemplos e por sempre compartilhar sua inteligência conosco. Agradeço

também, ao João e ao Júnior, e a maneira divertida com que me encorajam e me auxiliam. Sem notar, vocês sempre deixam meus dias mais alegres. Tenho muito

orgulho de vocês.

Por fim, os responsáveis por tudo isso acontecer, que me trouxeram ao mundo, meu pai

Cláudio e minha mãe Tiana. Raros são aqueles que realmente criam seus filhos para o mundo, e eu e meus irmãos tivemos a sorte de tê-los assim. Agradeço aos meus pais,

em primeiro lugar pelo amor, não menos importante, o esforço e apoio sempre dedicados. A concretização deste momento é uma consequência de todo o incentivo aos estudos e da oportunidade que vocês me ofereceram. Espero poder um dia retribuir tudo

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“Mestre

não é quem sempre ensina,

mas quem de repente aprende.”

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RESUMO

No Brasil, estima-se um aumento de 30 vezes no número de corredores nos últimos 15 anos. Esse crescente número de praticantes é observado em todo o mundo. Sabe-se que o maior número de lesões nesta atividade envolve a articulação do joelho (42,1%) sendo a Dor Patelofemoral (DPF) a disfunção mais comum nessa articulação. Recentemente, têm sido hipotetizado que a modificação da técnica de corrida (tal como a aterrissagem com o antepé no solo [CAA], o aumento de 10% na frequência da passada [CFP10] e o aumento da flexão do tronco [CFT]) apresenta potencial de reduzir a demanda na articulação do joelho. Entretanto, não há estudos que avaliaram a influência dessas técnicas de corrida na cinemática articular tridimensional do membro inferior e do tronco e no conforto relatado por corredores. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar os efeitos imediatos da CAA, CFP10 e CFT na cinemática do tronco, quadril, joelho e tornozelo e na percepção de conforto durante a corrida. Foram avaliados 31 corredores sadios, com padrão de aterrissagem iniciado pelo retropé (20 homens, 11 mulheres). Para tal, a corrida habitual (CHAB) e as 3 técnicas de corrida foram coletadas utilizando o sistema de captura e análise do movimento Qualisys Motion Capture

System e, uma escala visual analógica foi utilizada para a avaliação do conforto em cada

condição. As variáveis de interesse foram obtidas no contato inicial do pé na esteira ergométrica. Para análise estatística foi utilizado o teste de análise de variância multivariada (MANOVA) com medidas repetidas (nível de significância de 5%). Durante a execução da CAA, foi observada diminuição da rotação lateral do joelho (P<0,001), da flexão (P<0,001), da adução (P=0,001), e da rotação medial do quadril (P<0,001) e, aumento da adução (P=0,016) e da flexão de joelho (P<0,001) e da flexão plantar do tornozelo (P<0,001). A CFP10 diminuiu a rotação lateral do joelho (P=0,001) e a rotação medial (P=0,008) e a flexão do quadril (P=0,001), porém aumentou a flexão do joelho (P=0,042). A CFT aumentou a adução do joelho (P=0,001), a flexão do quadril (P<0,001) e a flexão do tronco (P<0,001), mas diminuiu a flexão plantar do tornozelo (P=0,003). A CHAB foi a técnica mais confortável (P=0,033 – P=0,002). Assim, é possível concluir que as 3 modificações da técnica de corrida são capazes de minimizar os movimentos do joelho e quadril nos planos frontal e transversal relacionados ao aumento do estresse patelofemoral. Além disso, a CAA e a CFP10 resultaram em aumento da flexão do joelho, o que pode contribuir com uma melhor absorção das forças de impacto. Acredita-se que após uma adaptação gradual com as modificações da técnica de corrida, o conforto relatado possa ser aumentado.

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ABSTRACT

In Brazil, it is estimated a 30-fold increase in the number of runners in the last 15 years. This growing number of practitioners has been noticed all over the world. It is known that most of the injuries that occur during this activity involves the knee joint (42,1%) and, the Patellofemoral Pain (PFP) is the commonest. Recently, it has been hypothesized that running technique modification (such as, landing with the forefoot on the ground [FFOOT], increasing 10% of the step rate [10% SR] and increasing the trunk flexion [TFLEX]) has the potential to reduce the demand on the knee joint. However, no study evaluated the effects of these running techniques on the lower limb and trunk three-dimensional joint kinematics and on comfort reported by runners. Thus, this study aimed to evaluate the immediate effects FFOOT, 10% SR and TFLEX on the trunk, hip, knee and ankle kinematics and on the subjective assessment of comfort during running. Thirty-one healthy rearfoot strike-landing runners (20 males, 11 females) were evaluated. For such, the Qualisys Motion Capture System was used to collect data during Usual Running (USRUN) and the other three running techniques and, a visual analogue scale was used to evaluate comfort in each condition. The variables of interest were collected during initial foot contact on the treadmill. For statistical analysis, it was used the multivariate analysis of variance (MANOVA) with repeated measures (alpha level of 0.05). During the FFOOT, it was shown reduction in the knee external rotation (P < 0.001), hip flexion (P < 0.001), adduction (P = 0.001), internal rotation (P < 0.001), greater knee adduction (P = 0.016), knee flexion (P < 0.001) and plantar flexion (P < 0.001). The 10% SR demonstrated diminished knee external rotation (P = 0.001), hip internal rotation (P = 0.008) and, hip flexion (P = 0.001), however, there was greater knee flexion (P = 0,042). The TFLEX increased knee adduction (P = 0.001), hip flexion (P < 0.001), trunk flexion (P < 0.001), but decreased plantar flexion (P = 0.003). The USRUN was the most comfortable technique (P = 0.033 – 0.002). Therefore, we were to conclude that the three running technique modifications can minimized the knee and hip movements in the frontal and transverse planes that are associated with greater stress on the patellofemoral joint. In addition, the FFOOT and 10% SR techniques resulted in increased knee flexion that could improve the impact forces absorption. It is believed that a gradual transition to these running techniques may improve comfort.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Visualização da confirmação do padrão de aterrissagem em tempo real. a, Padrão de aterrissagem iniciado no retropé; b, Padrão de aterrissagem iniciado no antepé.

FIGURA 2 - Ensaio estático. a, Vista anterior; b, Vista lateral; c, Vista posterior.

FIGURA 3 - Coleta de dados.

FIGURA 4 - Escala de conforto utilizada no estudo.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Média (DP) das características demográficas da população estudada.

TABELA 2 - Coeficientes de ICC, EPM e IC 95% para as variáveis cinemáticas.

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SUMÁRIO

CONTEXTUALIZAÇÃO ... 13

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 19

TEMA DE INTERESSE ... 23

ESTUDO ... 24

1. INTRODUÇÃO ... 25

2. MÉTODOS... 30

2.1. Sujeitos ... 30

2.2. Procedimentos ... 32

2.3. Análise dos Dados ... 37

2.4. Análise Estatística ... 40

3. RESULTADOS ... 41

3.1. Cinemática ... 41

3.2. Conforto ... 43

4. DISCUSSÃO ... 45

5. CONCLUSÃO ... 52

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 53

APÊNCICE A - FICHA DE AVALIAÇÃO ... 58

APÊNCICE B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ... 62

APÊNDICE C – MANUSCRITO SUBMETIDO AO PERIÓDICO MEDICINE SCIENCE SPORTS AND EXERCISE (VERSÃO INGLÊS) ... 65

ANEXO A - PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA EM SERES HUMANOS ... 88

(16)

CONTEXTUALIZAÇÃO

A conscientização de que a realização de um esporte está intimamente atrelada à saúde e ao bem-estar do indivíduo, promoveu um aumento significativo do número de praticantes de atividade física nas últimas décadas em todo o mundo (Noehren et al., 2012; Taunton et al., 2002; VanGent et al., 2007). Neste contexto, a

corrida de longa distância, esporte olímpico tradicional, obteve grande destaque dentro das opções de escolha da população. Além de promover efeitos benéficos para a saúde como as outras atividades físicas, é uma forma conveniente e economicamente viável de se exercitar (Hespanhol Junior et al., 2012). No Brasil, pesquisas estimam um aumento

de 30 vezes o número de corredores nos últimos 15 anos (Corpore Brasil, 2013).

Pesquisas antropológicas recentes defendem o fato que as estruturas ósseas e musculares encontradas nos humanos, tornam nossa espécie ideal para a execução da atividade (Bramble & Lieberman, 2004). Entretanto, como qualquer outro esporte, a corrida apresenta potenciais fatores de risco para lesões que acompanham o ritmo acelerado do crescimento da atividade em nível competitivo e recreacional (Cheung, Ng & Chen, 2006; Lun et al., 2004; Macera et al., 1989). Aproximadamente 56% dos

corredores recreacionais e mais de 90% dos maratonistas são alvo de alguma lesão a cada ano (VanGent et al., 2007). As lesões decorrentes da corrida se devem usualmente

pela combinação de fatores intrínsecos, como: mau-alinhamento de membros, alteração da força e/ou ativação muscular, flexibilidade muscular diminuída, histórico de lesões prévias, fatores antropométricos, experiência na atividade, gênero e idade do praticante; e fatores extrínsecos, dentre eles: treinamento inadequado (alta frequência, intensidade, volume e duração), superfície de treino irregular e desgaste dos calçados (Nielsen et al.,

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número de corredores e consequentemente da incidência de lesões relatadas durante a corrida, houve um aumento no interesse em investigar os fatores associados às lesões durante essa prática (Bennett, Reinking & Rauh, 2012).

Sabe-se que as taxas de incidência e prevalência das lesões musculoesqueléticas na corrida variam de acordo com a população estudada e a definição do termo utilizada (Lopes et al., 2012; VanGent et al., 2007). Destacam-se

como as lesões mais comuns: dor patelofemoral (DPF), tendinopatia do tendão calcâneo, a síndrome do estresse medial tibial, a fasceíte plantar, a síndrome da banda iliotibial (Ferber et al., 2010; Lopes et al., 2012; Pohl, Hamill & Davis, 2009; Pohl et al., 2008), sendo que cerca de 40% das lesões em corredores estão localizadas no joelho

e 50-60% destas correspondem à DPF (Pinshaw, Atlas & Noakes, 1984; Taunton et al.,

2002).

Além dos fatores de risco já descritos, as alterações na cinemática articular do membro inferior, tal como o valgo dinâmico do joelho excessivo têm sido relacionado às lesões, incluindo a DPF (Powers, 2010; Stefanyshyn et al., 2006). O

comportamento do valgo dinâmico do joelho, que por definição é composto pela abdução e rotação lateral do joelho associada à adução e rotação medial do quadril (Zazulak et al., 2005), passou a ser investigado em estudos cinemáticos durante a

execução de tarefas funcionais, já que seu aumento em atividades associadas com descarga de peso aumentaria o ângulo Q (ângulo do quadríceps) e a ação das forças lateralizantes que agem sobre a patela, provocando maior estresse na cartilagem patelar lateral (Huberti & Hayes, 1984; Powers, 2003; Souza et al., 2010)

(18)

aumento da adução e diminuição da rotação medial de quadril durante a ase de apoio da corrida, enquanto Souza & Powers (2009a) e Wirtz et al. (2012) encontraram aumento

da rotação medial do quadril em mulheres com DPF quando comparadas às sadias. Já Dierks et al. (2008), ao compararem corredores de ambos os gêneros, confirmaram

apenas o aumento da adução do quadril naqueles que apresentavam a DPF. Os movimentos ocorridos nos planos frontal e transversal na articulação do joelho também resultam no aumento do ângulo Q (Nakagawa et al., 2012) e do estresse da articulação

patelofemoral (Powers, 2003). Considerando a absorção e dissipação do impacto, a postura do membro inferior e do tronco no plano sagital durante a aterrissagem de atividades funcionais é fundamental (Powers, 2010). O aumento da flexão desses segmentos podem estar diretamente relacionados a melhor distribuição da força de reação do solo, favorecendo o amortecimento da aterrissagem (Blackburn & Padua, 2009; Devita & Skelly, 1992).

Recentemente, no intuito de melhorar os programas de prevenção e tratamento de lesões em corredores, tem sido hipotetizado que determinadas modificações na técnica da corrida podem promover efeitos benéficos na biomecânica do membro inferior. Dentre elas, a técnica de corrida com aterrissagem com antepé (CAA) (Bonacci et al., 2013; Cheung & Davis, 2011; Giandolini et al., 2013;

Lieberman, 2012; Lieberman et al., 2010), a técnica de corrida com aumento de 10% da

frequência da passada (CFP10) (Chumanov et al., 2012; Heiderscheit et al., 2011) e a

técnica de corrida com aumento na flexão do tronco (CFT) (Teng, Ho & Powers, 2012).

Apesar de cerca de 93% dos corredores de longa distância iniciarem o contato no solo com o retropé (Larson et al., 2011), foi observado que estes apresentam

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corrida (Lieberman et al., 2010). Por outro lado, os corredores sem calçado, os quais

desenvolvem um padrão de aterrissagem com o médiopé ou antepé apresentam menores forças de colisão contra o solo (Lieberman et al., 2010). Acredita-se que a força de

impacto transitória é transmitida rapidamente em alta magnitude às porções proximais do corpo, contribuindo para a elevada incidência de lesões no membro inferior relatadas durante a corrida (Bonacci et al., 2013; Lieberman, 2012; Lieberman et al., 2010).

Considerando tal achado, foi proposto que a CAA possa reduzir o risco de desenvolvimento de fraturas por estresse da tíbia (Giandolini et al., 2013; Milner et al.,

2006) e de DPF (Bonacci et al., 2013; Cheung & Davis, 2011). De fato, foi observada

redução da carga de impacto vertical (quantificada pelo pico, taxa média e taxa instantânea de impacto vertical), além da melhora da dor e função, após um curto programa de treinamento de CAA. Entretanto, no estudo citado foram avaliadas apenas 3 corredoras diagnosticadas com DPF (Cheung & Davis, 2011), sendo necessários estudos com maior tamanho da amostra para confirmar esses resultados. Além disso, ainda não foram investigadas as possíveis alterações cinemáticas do tronco e dos planos frontal e transversal do joelho e quadril durante a execução dessa técnica.

Outra técnica que passou a ser investigada recentemente foi o aumento na frequência da passada (número de passos por minuto), determinado pela diminuição no comprimento dos passos e manutenção da velocidade constante (Chumanov et al., 2012;

Heiderscheit et al., 2011; Hobara et al., 2012). O interesse por esta técnica de corrida

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joelho, diminui o pico de adução do quadril, o pico de flexão do joelho e o momento interno extensor do joelho durante a fase de apoio em corredores sadios (Heiderscheit et al., 2011). Também foi demonstrado aumento da ativação muscular do tornozelo, joelho

e quadril durante a fase de balanço tardia (Chumanov et al., 2012). Acredita-se que o

aumento da ativação muscular precedente ao contato do pé ao solo, altere a postura do membro inferior durante a aterrissagem e consequentemente a cinemática e a cinética articular. Na literatura consultada, não foram encontrados estudos que avaliaram o comportamento cinemático do tronco no plano sagital e da articulação do joelho nos três planos de movimento durante a CFP10 corredores sadios.

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Como descrito acima, a modificação da técnica de corrida pode auxiliar na prevenção de lesões na corrida. Uma vez que a alteração cinemática das articulações proximais (quadril e tronco) e distais (tornozelo) ao joelho pode contribuir com o melhor alinhamento do membro inferior durante a aterrissagem reduzindo os riscos de lesões durante a atividade. Assim, é possível que a modificação de um componente proximal ao joelho, por exemplo pela CFT, possa provocar alterações cinemáticas do quadril, joelho e tornozelo; assim como a modificação do componente distal ao joelho, como por exemplo, durante a CAA, que altera a cinemática do tornozelo, possa influenciar a cinemática das articulações proximais. Dessa forma, para melhor delinear os programas de tratamento e prevenção de lesão é necessário obter primeiramente, informações cinemáticas durante as três técnicas distintas de corrida em corredores sadios.

Apesar da grande importância em se analisar as variáveis biomecânicas durante as diferentes técnicas de corrida, é clinicamente importante avaliar o efeito dessas técnicas sobre a percepção do conforto relatado pelo corredor, ou seja, se as técnicas são confortáveis ao serem executadas. Tal efeito ainda não é conhecido e pode influenciar diretamente na aderência ao treinamento dos atletas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(26)

TEMA DE INTERESSE

(27)

ESTUDO

Efeitos imediatos de três modificações da técnica de corrida na

cinemática e conforto

(28)

1.

INTRODUÇÃO

O número de praticantes de corrida cresceu significantemente nas últimas décadas, decorrente principalmente do entusiasmo na busca de uma vida saudável e da melhora da qualidade de vida (Noehren et al., 2012; Taunton et al., 2002; VanGent et al., 2007). É estimado que cerca de 38 milhões de norte-americanos corram

regularmente (National Sporting Goods Association-NSGA, 2011). Entretanto, este esporte apresenta potencial risco de lesões que acompanha o ritmo acelerado do crescimento da atividade em nível competitivo e recreacional (Cheung, Ng & Chen, 2006; Lun et al., 2004; Macera et al., 1989). A incidência de lesões

musculoesqueléticas oscila entre 19,4% a 92,4% (VanGent et al., 2007), porém tais

estimativas estão sujeitas a variações de acordo com a população alvo e a definição do termo utilizada. Estudos recentes relatam grandes taxas de incidência e prevalência de tendinopatia do tendão calcâneo, síndrome do estresse medial tibial, fasceíte plantar (Lopes et al., 2012), sendo a articulação do joelho o local de maior acometimento

(Hespanhol Junior et al., 2012; Taunton et al., 2002; VanGent et al., 2007), e a Dor

Patelofemoral (DPF) a disfunção mais comum nessa articulação (prevalência de 7,4% a 15,6%) (Lopes et al., 2012).

Associado ao crescimento do número de corredores houve um aumento no interesse em investigar os fatores associados às lesões durante essa prática (Bennett, Reinking & Rauh, 2012; Hespanhol Junior et al., 2012). Além dos fatores de risco

(29)

corredores com DPF apresentam maior rotação medial do quadril durante a corrida quando comparados com corredores sadios. Esse aumento resulta na diminuição na área de contato patelofemoral (Salsich & Perman, 2007) e aumento do estresse nessa articulação. As alterações cinemáticas nos planos frontal e sagital também podem aumentar o estresse patelofemoral. Por exemplo, o aumento da abdução do joelho e adução do quadril resulta no aumento do ângulo do quadríceps dinâmico (Ângulo Q dinâmico) (Powers, 2003) e, consequentemente, maior estresse patelofemoral lateral (Huberti & Hayes, 1984; Noehren, Hamill & Davis, 2013; Powers, 2003; Souza et al.,

2010). Por fim, o aumento da flexão do joelho (Derrick, 2004; Lieberman et al., 2010) e

do quadril e tronco (Blackburn & Padua, 2009; Zhang, Bates & Dufek, 2000) está diretamente relacionado à dissipação da força de impacto vertical durante a aterrissagem.

Recentemente, tem sido hipotetizado que determinadas modificações da técnica de corrida podem promover efeitos benéficos na biomecânica do membro inferior, como a corrida com aterrissagem iniciada com antepé (Bonacci et al., 2013;

Cheung & Davis, 2011; Giandolini et al., 2013; Lieberman, 2012; Lieberman et al.,

2010), a corrida com aumento de 10% da frequência da passada (Chumanov et al.,

2012; Heiderscheit et al., 2011) e a corrida com aumento na flexão do tronco (Teng, Ho

& Powers, 2012).

Durante o ciclo da corrida, no momento do contato do pé com o solo, uma força de reação do solo equivalente a 2-3 vezes o peso corporal é rapidamente gerada, induzindo uma onda de choque que se propaga por todo sistema locomotor (Cavanagh & Lafortune, 1980). Assim, considera-se o contato inicial o momento mais lesivo da corrida (Lieberman et al., 2010). Apesar de mais de 93% dos corredores de longa

(30)

2011) este padrão resulta em um pico de impacto cerca de 7 vezes maior quando comparado ao padrão de aterrissagem com antepé na corrida sem calçado (Lieberman et al., 2010). Uma vez que a corrida com aterrissagem com retropé tem sido associada ao

maior risco de desenvolver lesões no membro inferior, como fraturas por estresse da tíbia (Giandolini et al., 2013; Milner et al., 2006) e DPF (Bonacci et al., 2013; Cheung

and Davis, 2011), alguns estudos tem investigado os efeitos da corrida com aterrissagem iniciada com antepé sobre a biomecânica do membro inferior. Estes estudos identificaram atenuação da força de impacto vertical (Cheung & Davis, 2011; Giandolini et al., 2013; Lieberman et al., 2010), maior absorção do impacto durante o

contato inicial (Lieberman et al., 2010; Shih, Lin & Shiang, 2013), além da melhora dos

sintomas de dor e função associados à DPF (Cheung & Davis, 2011).

Com relação à frequência da passada durante a corrida, foi verificado que o aumento em 10% promove redução de aproximadamente 34% da absorção de energia na articulação do joelho, bem como diminui o pico de flexão e o momento interno extensor do joelho durante a fase de apoio (Heiderscheit et al., 2011). A articulação do

quadril também foi sensível às alterações, sendo observada diminuição do pico de adução (Heiderscheit et al., 2011). Além disso, Chumanov et al. (2012) também

observaram maior ativação da musculatura glútea precedente ao contato do pé com o solo, o que favorece o melhor alinhamento dinâmico do membro inferior.

(31)

aumento da flexão do tronco em 6,9° durante a corrida reduz em 9% o estresse na articulação patelofemoral, embora não ocorra alteração no ângulo de flexão do joelho.

Embora tais estudos tenham fornecido importantes informações sobre a influência da modificação da técnica de corrida na biomecânica do membro inferior, a maioria deles focou a cinética articular. Além disso, de acordo com a literatura consultada, nenhum estudo avaliou os efeitos das modificações da técnica de corrida na cinemática articular do tronco, quadril, joelho e tornozelo nos 3 planos de movimento.

Tendo em vista a influência dos movimentos do quadril e joelho nos planos frontal e transversal no estresse patelofemoral e a influência dos movimentos dessas articulações no plano sagital na dissipação do impacto vertical, torna-se importante avaliar os efeitos das modificações da técnica de corrida na cinemática tridimensional dessas articulações. Informações detalhadas da cinemática proximal, local e distal nas diferentes técnicas de corrida analisadas podem auxiliar na escolha da melhor técnica de corrida a ser utilizada em programas de prevenção e reabilitação de lesões dos membros inferiores. Ademais, é de grande importância clínica avaliar a influência das modificações da técnica de corrida no conforto relatado pelos corredores. Tal efeito ainda não é conhecido, entretanto pode influenciar diretamente na aderência dos corredores às diferentes técnicas de corrida.

(32)
(33)

2.

MÉTODOS

2.1.

Sujeitos

Baseado nos dados de adução do quadril do estudo de Heiderscheit et al.

(2011) (diferença média: 1,7; diferença do desvio padrão: 3,1 e tamanho do efeito: 0,54)

foi realizado o cálculo amostral (usando α = 0,05, β = 0,20). Os resultados indicaram

que 29 indivíduos seriam necessários para que o estudo tivesse poder adequado para análise das variáveis de interesse. Participaram do estudo 31 corredores recreacionais sendo 20 homens e 11 mulheres (TABELA 1), recrutados através da divulgação do estudo no campus da Universidade, clubes, grupos de corrida e parques da cidade de São Carlos.

Para inclusão no estudo, os voluntários deveriam apresentar padrão de aterrissagem iniciado pelo retropé durante a corrida habitual, experiência prévia com corrida em esteira ergométrica, volume de treino superior a 20 km/semana há no mínimo 3 meses prévios ao estudo. Foram excluídos todos aqueles que apresentavam histórico de lesões musculoesqueléticas nos últimos 3 meses, intervenções cirúrgicas no membro inferior (Heiderscheit et al., 2011) ou utilizavam-se de órteses que poderiam

interferir no padrão da corrida durante a avaliação (Giandolini et al., 2013). Após a

(34)

TABELA 1 –Média (DP) das características demográficas da população estudada.

Idade

(anos) Massa (kg) Altura (m) Volume de treino (km/semana) Experiência (anos)

(35)

2.2.

Procedimentos

O protocolo de avaliação foi composto de duas sessões, com um intervalo máximo de três dias: sessão de inclusão e familiarização (sessão 1), e sessão de coleta de dados (sessão 2). A sessão 1 foi iniciada com aquecimento em esteira ergométrica (modelo LX 160 GIII, Movement, Brasil) por 5 minutos a 1,38 m/s (Dierks et al., 2008;

Giandolini et al., 2013). Todos os voluntários utilizaram um calçado neutro, do mesmo

fabricante e modelo (Asics Gel-Equation 5, Asics, Japão), fornecido pelo avaliador. Em

sequência, foram orientados a iniciarem a corrida na velocidade confortável, determinada pelo próprio voluntário e ajustada pelo avaliador. A corrida nessa velocidade constituiu a corrida habitual (CHAB) e foi mantida por 2 minutos (Noehren, Scholz & Davis, 2011), em que se realizou o cálculo da frequência da passada a partir da contagem do número de contatos sucessivos do membro direito na esteira durante 30 segundos e a multiplicação por 4 (Heiderscheit et al., 2011). A confirmação do PAR foi

realizada por meio da análise, em tempo real, das distribuições plantares através de palmilhas compostas por sensores capacitivos de pressão (Pedar-System, Novel GMBH, Alemanha) na frequência de 100 Hz (FIGURA 1).

Após a execução da CHAB, foi dado um intervalo de 2 minutos de descanso em que o voluntário permanecia caminhando (1,38 m/s). Em seguida, os voluntários foram familiarizados, em ordem aleatória, com as três modificações da técnica de corrida: 1) corrida com aterrissagem iniciada com antepé (CAA) - instruções verbais foram fornecidas ao voluntário, visando o contato inicial na esteira com o antepé, sendo a confirmação do padrão de aterrissagem realizada pela visualização, em tempo real, da distribuição da pressão plantar fornecida pelo equipamento Pedar-System (Cheung &

(36)

controlada por um metrônomo digital e confirmada visualmente pelo avaliador (Chumanov et al., 2012; Heiderscheit et al., 2011) e, 3) corrida com aumento na flexão

do tronco (CFT) – estímulo verbal foi dado ao voluntário para que fosse executada a corrida com aumento da flexão do tronco, a condição foi confirmada visualmente (Teng, Ho & Powers, 2012). A velocidade estabelecida durante a CHAB não foi alterada na execução das 3 modificações da técnica de corrida. Cada técnica foi executada corretamente por um tempo mínimo de 1 minuto (Giandolini et al., 2013; Heiderscheit et al., 2011). Foram fornecidos intervalos de 2 minutos de descanso entre as técnicas

(Giandolini et al., 2013), período o qual o voluntário permanecia caminhando a uma

velocidade de 1,38 m/s.

FIGURA 1 - Visualização da confirmação do padrão de aterrissagem em tempo real. a, Padrão de aterrissagem iniciado no retropé; b, Padrão de aterrissagem iniciado no antepé.

a

(37)

A coleta de dados cinemáticos e a avaliação subjetiva do conforto foram realizadas durante a sessão 2, nos mesmos moldes da sessão 1. Para a análise cinemática utilizou-se o sistema de captura e análise do movimento Qualisys Motion Capture System (Qualisys Medical AB, Suécia), composto por seis câmeras (Qualisys Oqus 300)

com uma frequência de amostragem de 240 Hz. A avaliação foi realizada no membro

inferior dominante (26 direitos e 5 esquerdos), determinado através da pergunta: “Qual

perna você utiliza para chutar uma bola de futebol o mais longe possível?” (Ford, Myer & Hewett, 2003). A sessão era iniciada pela fixação de 20 marcadores anatômicos passivos refletivos, posicionados no esterno, processo espinhoso da sétima vértebra cervical, quinta vértebra lombar/sacro, bilateralmente sobre os acrômios, trocânteres maiores do fêmur, ponto mais alto das cristas ilíacas, espinhas ilíacas ântero-superiores e póstero-superiores, epicôndilos lateral e medial do fêmur, maléolos lateral e medial, cabeças do 1° e 5° metatarsos, ponta do pé. Também foram utilizados cinco marcadores de rastreamento (clusters) posicionados na face póstero-lateral da perna e coxa, coluna

lombar, tórax e calcâneo. Após um ensaio estático (FIGURA 2), os marcadores anatômicos foram retirados e, para a coleta de dados durante a corrida (FIGURA 3)

utilizou-se apenas os marcadores de rastreamento.

A ordem de execução das técnicas seguiu a ordem aleatória estabelecida durante a familiarização, sendo a CHAB a primeira a ser executada em ambas as sessões devido a possibilidade de ocorrer um efeito de memória após as instruções fornecidas pelo avaliador para a execução das três técnicas de corrida (Giandolini et al.,

(38)

FIGURA 3 - Coleta de dados.

FIGURA 2 - Ensaio estático. a, Vista anterior; b, Vista lateral; c, Vista posterior.

(39)

A avaliação subjetiva do conforto foi realizada imediatamente após a execução de cada técnica de corrida, inclusive após a CHAB, utilizando-se uma Escala Visual Analógica (EVA) graduada em 10 cm, nas quais correspondiam as classificações

“desconfortável” para o valor mínimo (zero) e “muito confortável” para o valor máximo

(dez) (Mündermann, Stefanyshyn & Nigg, 2001) (FIGURA 4).

DESCONFORTÁVEL

CONFORTO

MUITO CONFORTÁVEL

(40)

2.3.

Análise dos Dados

Todas as variáveis cinemáticas foram analisadas no instante do contato inicial (Cheung & Davis, 2011; Heiderscheit et al., 2011), identificado pela posição

vertical mínima do marcador fixado no calcâneo (Fellin et al., 2010) para corrida com

PAR e, posição vertical mínima do marcador fixado na ponta do pé (Heiderscheit et al.,

2005; Kellis, Zafeiridis & Amiridis, 2011) para corrida com padrão de aterrissagem iniciado com antepé. A média da sequência dos 10 primeiros passos consecutivos das variáveis cinemáticas do membro em análise foi utilizada para a análise estatística (Hobara et al., 2012; Noehren, Scholz & Davis, 2011).

A cinemática articular foi calculada utilizando o sistema de coordenada articular recomendada pela Sociedade Internacional de Biomecânica (Wu et al., 2002)

relativa a posição anatômica estática utilizando o software Visual 3D (C-Motion Inc., EUA) (FIGURA 5). O software também foi utilizado para filtragem dos dados

cinemáticos (filtro de quarta-ordem, zero-lag, passa-baixa Butterworth a 12 Hz). Por

fim, as posições articulares no contato inicial foram determinadas utilizando-se o

software Matlab (versão 2008; The MathWorks Inc., Natick, EUA). As variáveis

(41)

Previamente ao período de coleta de dados, foi avaliada a confiabilidade teste-reteste das medidas cinemáticas em 9 indivíduos em duas ocasiões distintas separadas por um intervalo de 3-7 dias. O cálculo do coeficiente de correlação intraclasse [ICC (3,1)] foi realizado no software SPSS (versão 17.0; SPSS Inc, EUA). O

erro padrão da medida (EPM) foi calculado para cada variável utilizando o software Excel 2010 (Microsoft, Redmond, WA). Os coeficientes de ICC, EPM e o Intervalo de

confiança 95% (IC 95%) para cada variável cinemática estão representados na

TABELA 2.

FIGURA 5 - Visualização de uma passada durante a corrida. Imagem obtida após processamento do sinal cinemático no software Visual 3D. a, Vista anterior; b. Vista lateral.

a

(42)

TABELA 2 -Coeficientes de ICC, EPM e IC 95% para as variáveis cinemáticas.

Variáveis ICC EPM IC 95%

Tornozelo

Flexão plantar 0,73 2,30º -0,16; 0,94

Joelho

Flexão 0,88 3,42º 0,44; 0,97 Abdução 0,91 1,44º 0,60; 0,98 Rotação lateral 0,80 2,42º 0,12; 0,95

Quadril

Flexão 0,74 2,82º -0,14; 0,94 Adução 0,79 1,46º 0,05; 0,95 Rotação medial 0,81 1,73º 0,16; 0,95

Tronco

(43)

2.4.

Análise Estatística

Toda análise estatística foi realizada utilizando o software estatístico SPSS.

Os dados descritivos (média, desvio-padrão) foram obtidos para cada variável e então, analisados em relação a sua distribuição estatística e esfericidade utilizando os testes Shapiro-Wilk e Mauchly’s respectivamente. Os dados cinemáticos foram comparados

entre a CHAB e as 3 diferentes técnicas de corrida (CAA, CFP10 e CFT) utilizando uma análise de variância multivariada (MANOVA) com medidas repetidas. Na presença de efeitos multivariados significativos, os efeitos univariados foram examinados. Para a análise do conforto, foi utilizado o teste de análise de variância unifatorial (One-Way

ANOVA) com medidas repetidas e Testes t com ajuste de Bonferroni foram aplicados

(44)

3.

RESULTADOS

3.1.

Cinemática

Durante a execução da CHAB na sessão 1 foram obtidos os valores de velocidade confortável (2,67 ± 0,39 m/s) e a frequência da passada (167,35 ± 7,08 passadas/minuto). Para a execução da CFP10 houve um incremento de 10% sobre a quantidade de passadas obtidas na sessão 1 (183,58 ± 7,55 passadas/minuto). Os dados cinemáticos do membro inferior e tronco estão apresentados na TABELA 3 para cada condição de corrida avaliada.

Com relação às variáveis cinemáticas, o teste MANOVA revelou diferença

significativa para a técnica de corrida para os voluntários avaliados (Wilks’ λ=0,018;

F=8,077, P=0,027).

(45)
(46)

3.2.

Conforto

(47)

TABELA 3 - Média (DP) dos ângulos articulares (em graus) durante o contato inicial e do conforto para as 4 condições de corrida. Diferença média (Intervalo de Confiança 95% [IC 95%]) das técnicas de corrida em relação a CHAB.

Condições de corrida

CHAB CAA CHAB-CAA CFP10 CHAB-CFP10 CFT CHAB-CFT

Variáveis Média (DP) Média (DP) Diferença média

(IC 95%) Média (DP) Diferença média (IC 95%) Média (DP) Diferença média (IC 95%) Tornozelo

Flexão plantar (+) 8,27 (6,43) 16,82 (4,93)** -8,55 (-10,96; -6,14) 9,63 (6,06) -1,36 (-3,34; 0,62) 6,40 (6,11)* 1,86 (0,69; 3,03)

Joelho

Flexão (+) 25,73 (9,03) 34,39 (6,38)** -8,65 (-11,94; -5,37) 28,10 (7,29)* 2,37 (-4,65; -0,90) 25,85 (9,26) -0,12 (-1,55; 1,30) Abdução (+) -2,95 (5,25) -4,15 (4,62)* 1,19 (0,23; 2,15) -2,80 (4,81) -0,15 (-0,79; 0,48) -3,68 (5,06)* 0,72 (0,32; 1,12) Rotação lateral (-) -13,86 (6,13) -8,45 (5,09)** -5,40 (6,97; -3,84) -11,73 (5,72)* -2,12 (-3,34; -0,90) -14,12 (6,33) 0,26 (-0,50; 1,03)

Quadril

Flexão (+) 30,82 (8,63) 18,14 (10,13)** 12,67 (10,46; 14,88) 27,43 (9,00)* 3,38 (1,51; 5,26) 34,98 (10,00)** -4,16 (5,37; -2,94) Adução (-) -8,80 (3,56) -6,84 (3,31)* -1,96 (-3,02; -0,89) -8,52 (3,22) 0,28 (-0,93; 0,37) -8,41 (2,84) -0,39 (-1,10; 0,31) Rotação medial (+) 12,80 (3,85) 8,39 (4,91)** 4,41 (2,99; 5,83) 11,44 (3,82)* 1,35 (0,37; 2,33) 12,61 (3,98) 0,19 (-0,62; 0,99)

Tronco

Flexão (+) 7,96 (5,41) 8,10 (5,24) -0,13 (-1,01; 0,73) 8,12 (5,10) -0,16 (-0,74; 0,42) 14,14 (5,57)** -6,17 (-7,43; -4,91)

Conforto 7,85 (2,22) 6,26 (2,14)* 1,59 (0,09; 3,09) 6,75 (2,12)* 1,10 (0,12; 2,08) 6,29 (2,12)* 1,56 (0,47; 2,64) *Diferença significativa comparada a CHAB (P<0,05)

**Diferença significativa comparada a CHAB (P<0,001)

(48)

4.

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi avaliar as alterações imediatas na cinemática do membro inferior e tronco durante o instante do contato inicial após a aplicação de 3 modificações da técnica de corrida no intuito de contribuir para a identificação da(s) condição(ões) de corrida que poderia(m) auxiliar com os programas de prevenção e reabilitação de lesões em corredores. Além disso, também foi realizada a avaliação subjetiva do conforto relatado pelos voluntários após a execução de cada uma das técnicas. De acordo com a hipótese inicial, nenhuma modificação da técnica de corrida agravou os ângulos de abdução e rotação lateral do joelho e de adução e rotação medial do quadril durante o contato inicial, movimentos estes que quando excessivos causam aumento no estresse patelofemoral. Em relação ao plano sagital, observou-se aumento na flexão do joelho na CAA e na CFP10, enquanto maior flexão do quadril e tronco foi observada na CFT. Assim, provavelmente, o joelho é a articulação responsável pela absorção do impacto vertical na CAA e na CFP10, enquanto na CFT essa absorção é feita principalmente pelas articulações proximais.

A maioria das pesquisas realizadas abrangendo a modificação da técnica de corrida envolveu análise cinética, especialmente associada à atenuação da magnitude da taxa de impacto vertical transitória durante o contato inicial (Bonacci et al., 2013;

Cheung & Davis, 2011; Giandolini et al.,2013; Hobara et al., 2012; Lieberman et al.,

2010), à diferença de geração e absorção de energia nas articulações do membro inferior (Heiderscheit et al., 2011) e à redução do estresse na articulação patelofemoral

(Giandolini et al.,2013; Teng, Ho & Powers, 2012). Entretanto, até o momento, nenhum

(49)

além da inexistência de resultados referentes ao conforto relatado pelo corredor para tais modificações da técnica de corrida.

Considerando os achados do presente estudo, a CAA apresentou mais alterações na cinemática articular do membro inferior. Foi observado aumento significativo na adução do joelho e, redução na rotação lateral do joelho e na adução e rotação medial do quadril, tais alterações resultam em diminuição no Ângulo Q e, consequentemente no estresse patelofemoral (Huberti & Hayes, 1984; Noehren, Hamill & Davis, 2013; Souza et al., 2010). De acordo com esta hipótese, Cheung & Davis

(2011) verificaram melhora da dor e função após um curto programa de treinamento de corrida com padrão de aterrissagem no antepé em 3 corredoras diagnosticadas com DPF crônica.

Entretanto, acreditamos que essa técnica tenha sido mais sensível a tais alterações em decorrência do momento escolhido para análise. Sabe-se que nos primeiros 30% da fase de apoio, a articulação subtalar sofre pronação para a acomodação e dissipação de energia (Tiberio, 1987). A hiperpronação subtalar está diretamente relacionada à redução na adução do joelho durante a corrida (McClay & Manal, 1998) e o aumento na rotação medial do quadril em atividades com o pé fixo no chão (Souza et al., 2009). Sabe-se que corredores com padrão de aterrissagem no antepé

apresentam maior inversão do pé durante o contato inicial (Stackhouse, Davis & Hamill, 2003; Williams, Mcclay & Manal, 2000), enquanto corredores com padrão de aterrissagem iniciadas no retropé se caracterizam por maior pico de eversão durante o apoio (Kleindienst et al., 2007), o que explica os resultados obtidos do aumento na

(50)

rotação lateral dessa articulação observada no estudo pode ser decorrente do aumento acentuado no ângulo de flexão do joelho durante a CAA.

O aumento da frequência da passada em 10% resultou em redução na rotação lateral do joelho e na redução na rotação medial do quadril, movimentos que contribuem na redução do Ângulo Q dinâmico (Powers, 2003). A redução da rotação medial do quadril, também verificada por Heiderscheit et al. (2011), pode ser explicada

pelo aumento da ativação da musculatura glútea na fase de balanço tardio (80-100% do ciclo da corrida) durante a CFP10 (Chumanov et al., 2012). Considerando a ação do

glúteo máximo e das fibras posteriores do glúteo médio na rotação lateral do quadril (Neumann, 2002), sugere-se que o aumento da ativação dessa musculatura no balanço tardio contribua no controle da rotação medial do quadril durante o apoio. Assim, a associação de reduzida rotação lateral do joelho e de rotação medial do quadril possibilita um alinhamento do membro inferior que minimizaria o estresse patelofemoral lateral.

A postura do membro inferior no plano sagital durante a aterrissagem de atividades funcionais é fundamental considerando a absorção e dissipação do impacto vertical (Powers, 2010). O ângulo de flexão do joelho tem sido tradicionalmente utilizado para caracterizar as aterrissagens como macias ou rígidas, sendo as aterrissagens macias caracterizadas por maior flexão do joelho acompanhada de menor pico da força vertical de reação do solo (Devita & Skelly, 1992; Nigg, 1985). Lieberman et al. (2010) destacaram que corredores com padrão de aterrissagem no

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presente estudo revelam um aumento da flexão do joelho durante a CAA (Lieberman, 2012; Shih, Lin & Shiang, 2013; Williams, Mcclay & Manal, 2000), o que proporciona um maior efeito de amortecimento por essa articulação.

Outro aspecto importante é o aumento na flexão plantar ocorrido na CAA. Estudos prévios (Butler, Crowell & Davis, 2003; Dufek & Bates, 1990; Schot & Dufek, 1993; Self & Paine, 2001) reportaram que a aterrissagem sobre o antepé (maior flexão plantar) reduziu a força vertical de reação do solo quando comparada à aterrissagem com o pé plano. Durante o padrão de aterrissagem no antepé, a força de reação do solo gera um momento externo dorsiflexor, que é resistido por um momento interno flexor plantar produzido pelos músculos flexores plantares (Shimokochi et al., 2009). Assim, é

possível que a maior flexão plantar e, consequentemente, maior ativação dos músculos flexores plantares também contribua para a absorção do impacto na CAA. Nota-se que na corrida com padrão de aterrissagem no antepé há maior exigência da musculatura do tríceps sural e do pé (Williams, Mcclay & Manal, 2000), portanto, quando a transição da CHAB para a CAA não é feita de forma adequada, paralelamente a um programa de fortalecimento dessa musculatura, a adesão da técnica pode ser acompanhada de dor e lesões na panturrilha e/ou tendinopatia do tendão do calcâneo (Lieberman, 2012).

Assim como a CAA, a CPT10 também produziu aumento na flexão do joelho e diminuição na flexão do quadril. Heiderscheit et al. (2011) e Hobara et al.

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distribuição da pressão plantar, revelou que apenas quatro corredores adotaram a aterrissagem com antepé na execução desta técnica. Assim, uma possível explicação é a alteração no comprimento do passo, já que, comparado à CHAB, na CPT10 os corredores aumentaram a frequência de passos enquanto a velocidade foi mantida constante. Para diminuir o comprimento do passo os corredores aumentaram a flexão do joelho e diminuíram a flexão do quadril. Heiderscheit et al. (2011) demonstraram que o

aumento da frequência passada em 10% resultou em diminuição no comprimento do passo e aumento da flexão do joelho no contato inicial. Assim como durante a CAA, é possível que o aumento da flexão do joelho no contato inicial da CPT10 contribua para a diminuição das forças de impacto que atuam no membro inferior durante o apoio.

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massa corporal e o centro de pressão anteriormente resultando em diminuição do momento extensor do joelho e, consequentemente, do estresse patelofemoral (Teng, Ho & Powers, 2012). Entretanto, poderia ocorrer uma alta demanda na musculatura extensora do tronco, decorrente do aumento do momento extensor do quadril. Portanto, o fortalecimento da musculatura do quadril e da região lombar poderia ser relevante quando se deseja aderir à CFT.

Considerando a população estudada, formada por corredores recreacionais, um dos requisitos básicos para aceitação das modificações da técnica propostas está relacionado ao conforto, nunca antes avaliado nestas condições. Como esperado, a CHAB foi percebida como a mais confortável. Não houve diferença na percepção do conforto entre as três técnicas, sugerindo que não houve interferência do conforto nas alterações cinemáticas. Além disso, esse resultado sugere que o potencial para aderência às 3 técnicas de corrida parece ser similar.

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Acredita-se que para implementar a modificação da técnica de corrida ao treinamento do corredor, visando à prevenção ou reabilitação de lesões no membro inferior, esta transição deve ser realizada de forma gradual, com acompanhamento supervisionado associado à realização de exercícios educativos para a correta execução da técnica. Além disso, sugere-se que concomitantemente à modificação da técnica de corrida seja implementado um programa de fortalecimento muscular considerando a técnica de corrida e o segmento em maior sobrecarga. Por exemplo, durante a adaptação dos corredores com a CAA e a CFT, a inclusão de exercícios de fortalecimento para os músculos da panturrilha e para os estabilizadores da coluna lombar, respectivamente, pode contribuir para o menor risco de lesão e maiores chances de sucesso na transição da técnica. A longo prazo, adotando-se essas condutas, a modificação da técnica de corrida pode se tornar mais confortável para o corredor.

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5.

CONCLUSÃO

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6.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TABELA 1 – Média (DP) das características demográficas da população estudada.  Idade  (anos)  Massa (kg)  Altura (m)  Volume de treino (km/semana)  Experiência (anos)  27,67 (5,43)  72,05 (13,61)  1,73 (0,09)  35,70 (18,25)  4,13 (4,02)
FIGURA  1  -  Visualização  da  confirmação  do  padrão  de  aterrissagem  em  tempo  real
FIGURA 2 - Ensaio estático. a, Vista anterior; b, Vista lateral; c, Vista posterior.
FIGURA 5 - Visualização de uma passada durante a corrida. Imagem obtida  após  processamento  do  sinal  cinemático  no  software  Visual  3D
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