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IMAGINÁRIO E EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE SARTRE

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IMAGINÁRIO E EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DE SARTRE

Francimar Arruda

Tem Pós-doutorado em Filosofia da Imagem, Université de Bourgogne, França. Doutora em Teoria do Imaginário (UFRJ), Mestre em Filosofia, (UFRJ) Autora de: Os olhares contemporâneos, A dimensão epistêmica e existencial ela ima-gem, Algumas reflexões sobre a imaginação, La rencontre avec Bachelarcl, Les diableries de l'humour, Poezie di ganclire la Heidegger, lmage et affection: esquisse tl'une interprétation spinoziste, entre outras obras.

Resumo

Este texto tem como meta elaborar um trabalho de reflexão sobre a contribuição da filosofia de Sartre às questões dos problemas educacionais contemporâne-os. Visamos, assim, reforçar a ponte já existente entre Imaginário e Educação e compreender que qualquer proposta de um projeto educacional passa, necessariamente, hoje, pela questão epistemológica do imaginário. Este olhar plural certamente irá beneficiar a todos nós, seres complexos e ávidos por um abraço que abarcasse nossa amplitude e acolhesse nosso cansaço.

Palavra-Chave: Imaginário; Educação; Filosofia

Abstroct

This text aims to produce a work of retlection on the contribution of the

phi-losophy of Sartre, the issues of contemporary educational problems. Visamos thus strengthen the existing bridge between lmaginary anel Education anel understand that any p1oposal for an eclucational project, inevitably, toelay, the epistemological question oi imagination. This look plural certainly Wi/1 benefit us ali complex beings anel eager for a hug that covereel our breac/th anel our acolhesse tireclness.

Key-Word: lmaginary; Education; Philosophy

v. l e~ ? n 53 e 54, ono 29 • 2007

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Um trabalho sobre a imagem eleve se construir como uma eidética da imagem, isto é, fixar e descrever a essência dessa estrutura psi -cológica tal como aparece à intuição reflexiva.2

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(3)

Imaginário e Educo1õo: o Confribui1õo de Sartre

ao conjunto de elementos reais da síntese consciência, que ele chama noese, e o seu correlativo que é o sentido que habita essa consciência,

o noema. Mas esse sentido noemático que pertence a cada consciência

real não é em si mesmo nada de real. O que existe é a possibilidade de

se dirigir o olhar para um objeto, mas o que encontra o olhar nessa última

direção é na verdade um objeto no sentido lógico, mas um objeto que

não poderia existir por si. Assim o noema é um nada que só tem uma existência ideal para a consciência, é um irreal. Para Sartre, então, tudo se explica pela intencionalidade, isto é, pelo ato noético. Portanto, não há

diferença de natureza qualitativa entre o objeto da percepção e o objeto

da imaginação como tal, mas sim ambos são noemas de uma consciência noética plena. A imagem, então, é um certo tipo de consciência. A imagem é consciência de alguma coisa. Resta fazer a descrição fenomenológi_ca .. da estrutura dessa imagem, isto é, como ela se dá .. Ou seja, o método" :

fenomenológico visa, através dessa descrição do imaginário,

compreen-der o imaginário nele mesmo. O intuito de Sartre é determinar o que é a

imagem como imagem, a imagem nela mesma. Temos que distinguir o

que é o objeto que aparece, no exemplo do texto de Sartre - Pedro que eu

imagino-daquilo que seria a imagem nela mesma; que não se confunde

com o Pedro que eu estou imaginando. Qual o seu conteúdo, qual a sua

essência? que será alcançada pela descrição da imagem.

A primeira característica do objeto imagem é que ele se apresenta na

sua essência como ausência, isto é, a consciência imaginária me remete

a um objeto ausente que foi anteriormente percebido. Imaginar Pedro é

dizer que Pedro é o objeto dessa consciência que ao imaginar se coloca

diante da ausência de Pedro. Portanto, este objeto-imagem não é uma

ficção nem uma ilusão, é um objeto de conteúdo material, possui um

con-teúdo. A imagem é uma realidade que não se confunde com a realidade

em carne e osso do objeto da percepção. Mas nem por isso deixa de ser .

uma realidade, só que de outra natureza. Então, a consciência imaginante

que se dirige para um objeto ausente no campo da percepção é ligado a

esse pressuposto preliminar de que se deu antes como objeto perceptivo.

A segunda característica mostra que esse objeto-imagem é um fenômeno

de quase observação, isto é, a consciência tem uma relação com o objeto-imagem de maneira imediata, direta, sem intermediários, sem sínteses de aparições. Esse objeto-imagem se apresenta como evidente, se dá numa

totalidade evidentemente colocada como presente para a imaginação.

Mostra-se, com isso, a diferença entre consciência perceptiva e consci -ência imaginante. É a mesma COJ:ISCiência que produz diversos atos, mas

::.

11

(4)

· Froncimar Arruda

12

que não são iguais. Os objetos produzidos pela percepção são sínteses de aparições e os objetos-imagens não são sínteses, são presenças na sua total idade imediata, são evidências. A terceira característica se ref~re ao problema do nada, já anteriormente analisado. A consciência imaginante coloca o objeto como nada. E é justamente porque esse nada tem um significado tão forte que a atuação advinda dele resulta em tr ansforma-ção. O poder do nada é um poder de colocar significados que levam a desencadear a ação. O texto de Sartre diz assim:

A imagem de Pedro, a ausência desse Pedro que eu vi lá na esquina, que eu tenho agora uma imagem, é urna maneira de não me tocar,

de não me ver em carne e osso. É uma maneira que ele tem ele não

estar a essa distância aí, de não estar nessa posição sentado aqui.

Essa imagem de Pedro é urna imagem que me leva a essa intuição imediata da ausência de Pedro, ele não está aqui presente. Mas não

está aqui presente em carne e osso, ele não está aqui presente face a face, mas está presente na imagem, no sentimento, em tudo àquilo que, de uma certa maneira, essa imagem vai estar interligada. Então esse nada, que é inexistência ou ausência, suspensão da crença na

existência, significa na verdade que essa ausência tem um poder, e

que essa inexistência tem um significado. Então é o trabalho, uma ordem do significado desse nada, que reveste o nada ele senticlo.3

Por último, a quarta característica é a espontaneidade. A

consci-ência imaginante é uma espontaneidade que produz e conserva o objeto

em imagem. A noção de espontaneidade significa para o existenciali s-mo aquilo que é produção livre. Ser espontâneo é ser livre, quer dizer, é não estar com nenhum condicionamento. Essa dimensão está então diretamente ligada ao problema da liberdade, que como sabemos, não é urna questão de vontade, mas espontaneidade de agir ou não agir. Essa característica da espontaneidade permite entender que a imaginação não se prende a necessidade de espécie alguma, portanto, escapa a ordem de qualquer determinismo. A imaginação, portanto, é liberdade, o homem é livre porque imagina. A consciência imaginante é ato livre, criador e não está ligada à vontade porque está vinculada ao desejo.

Essa vinculação vai propiciar a comparação que Sartre faz da vida imaginária com uma vida próxima da consciência mágica, que nós en

-contramos em todas as épocas. O ato da imaginação é comparável ao ato

mágico. Todo ato mágico é um ato destinado a, de uma certa maneira,

(5)

Imaginário e Educação: o Contribuição de Sartre

produzir um encantarnenlo; ele é corno que um encanto destinado a fazer aparecer um objeto do desejo. O que o ato mágico propõe, dese -ja, na realidade, é produzir o encantamento, expressando alravés desse

encantamento.

Então, se o ato de imaginação é comparável a um ato mágico,

am-bos se assemelham em virtude de produzir o encanto, destinados a fazer aparecerem objetos que sejam desejc-íveis. Por isso, é possível se estabe

-lecer quase que de uma maneira imediata a questão da imaginação e o

desejo. Esse encanto ciue é destinado a produzir um objeto como sendo

desejado, visa, como todo desejo,

à

posse do objeto. O que se deseja com esse ato imaginário é colocar esse objeto visando apossar-se dele. Visando, em outras palavras, que essa posse me possua, permitindo a saciação do desejo.4

Essa estrutura do desejo presente na vida imaginária, caracteriza-a· como extremamente ativa e com urn poder de mobilização muito forte.

Não se trata de um poder de se fazer representar. A imagem não é só

representação (pode ser também); mas ela é um poder maior, porque

mágico, e que se expressa pelo simbólico. É no tratamento desse poder

simbólico, ou seja, a forma de expressão que a imagem tem de mobilizar,

13

que vai interessar, numa dimensão mais ampla, o aprofundamento da

questão do imaginário. Essa é a tese básica de Sartre. Ele não elimina que

exista essa intenção de representação mas não a desenvolve; o que vai

realmente o interessar é a dinâmica da vida imaginária, no seu poder de atuação. E para a visão sartriana, ela é a condição essencial para que o

homem seja um homem. O homem sem imaginação criadora perde sua

humanidade, perde sua essência, sua possibilidade de ser.

p. 9 o 18

Diz ele:

se eu desejo ver um amigo que não está aqui no momento presente,

eu o faço vir, comparecer, irrealrnente. E neste caso, nada, é dado ao desejo do real. Quer dizer, eu desejo realmente que o meu amigo esteja aqui presente, mas ele não está. Então eu realizo esse

desejo como um nada, que é presença imaginária, porque o faço

vir em imagem, eu o faço comparecer, eu o irrealizo na presença da imagem, corno efetivamente dado a esse meu objetivo. Eu desejo que Pedro esteja aqui, ele não está, e eu o faço vir, esse objeto, em

imaginação, para realizar o desejo. Se não houvesse urna motivação

desejante, não tinha necessidade ele fazer vir à imaginação esse

objeto. Em última análise, projeta-se o objeto irreal. Essa qualidade

(6)

Froncimor Arruda

14

essencial da consciência imaginante que é dar-se um objeto que na sua essência pode até ser inexistente. O que eu digo; que é isto que consiste a estrutura essencial imaginante: é constituir-se, dando

um objetivo ausente ou inexistente, corno uma realidade presente,

mas que não é essa realidade ele carne e osso, não é urna realidade

da percepção, não é uma realidade da sensação. Mas ela é urna realidade para a vicia imaginária que através dessa sua imaginação realiza o seu clesejo.5

Essa irrealidade do objeto imaginário não é apenas material ou

corporal, mas também é uma irrealidade no sentido de estar desprovida de todas as determinações de espaço e tempo, em outras palavras, o ima

-ginário se constitui numa unidade espaço-temporal que é fora do tempo

e

do espaço real. A vida da imaginação, então, como que eclode nessas

características da realidade e vai se constituir na vida humana, com seu

poder próprio. A atitude imaginante tem duas camadas: uma, que Sartre chama primária, em que os elementos reais na consciência imaginária,

correspondem ao objeto irreal; e uma segunda, que ele chama ele

se-cundária ou de reação à imagem e que se dá em seguida

à

formação da

imagem. Que tipo de reação pode-se ter diante de uma imagem que vem

espontaneamente, como ato livre? Tem-se, em última instância, diante

desse objeto irreal, sentimentos. Amor, ódio, admiração, repulsa, são

sentimentos que expressam a vida concreta, mas que se dão face a um

objeto irreal, produzidos pela imaginação. A reação, portanto, diante do objetivo irreal, afeta a vida afetiva concreta do homem. Não se poderia

falar da vida da consciência imaginante desvinculada do desejo, nem

consequentemente, das reações afetivas provocadas pelo objeto irreal

produzido por esse desejo. Então, esses sentimentos, diz Sartre, na me

-dida em que eles são vividos por nós, nós sabemos que eles existem, tão

somente porque nós os vivemos.

Existe um certo saber de tais sentimentos que foram desencad

e-ados como uma forma de reação a essas imagens. Reações químicas,

bioquímicas, viscerais, corporais, etc. vividos por nós e essa situação

vai autorizar, afirmar que é através desse objeto irreal que chegamos, a

bem da verdade, às condições da existência concreta, aqui e agora. Há,

portanto, uma vida da imaginação que tem um impacto decisivo sobre

a totalidade da existência do homem. Logo, a vida imaginária i1ão está

descosida dessa existência total, mas, muito pelo contrário, é ela que

propicia a possibilidade mesma desse existir.

(7)

Imaginário e Educação: o Contribuição de Sartre

As repercussões reais vividas e observadas no homem marcariam a vinculação da vida imaginária ao sentimento e a ação. É a interferência que ocorre na existência concreta, no comportamento individual e social,

que nos permite ligar interinamente vida imaginante, vida afetiva e vida

ativa; ou seja: "[ ... ]o objeto irreal existe como irreal, e o sentimento e a ação se comportam face a ele como

hce

ao real."6 A vida da consciência

possui uma tríplice dimensão, é uma vida intencional interligada entre o pólo intelectivo, afetivo e prático; e o comportamento concreto, existencial

é

que marca essa interligação desencadeada pela ação. O importante é salientar que os sentimentos que nós temos diante do objeto irreal são reais, por isso eles provocam ações. A repulsa, alegria, náusea, são sempre reais. Não são portanto, esses sentimentos em si mesmo irreais como o objeto irreal, eles são reais (vividos), na ordem concreta de nossa vida, na existência. O que ocorre é que eles vão aparecer na realidade como · uma decorrência possível de um objeto, esse sim irreal. Mas o compo

r-tamento e os sentimentos da ação não são decorrentes apenas do objeto

irreal, podem ser decorrentes do objeto da percepção, da intelecção, da alucinação, etc ... . Daí a possibilidade de interligação entre as diversas

dimensões da consciência.

1

5

A vida imaginária é extremamente importante, relevante, mas para Sartre, ela não é mais rica do que a vida concreta, da percepção, por exem

-plo. Ou seja, não se pode, de maneira alguma, querer colocar o objeto do

imaginário no lugar do objeto existente concreto. Sartre retoma o caráter de fascinação, de encantamento mágico do imaginário para mostrar que

este significado tem um aprofundamento maior. Por exemplo:

[ ... ] a leitura é urn gênero de fascinação. Quando eu leio urn ro-mance policial, eu creio nisso que leio. Mas isso não signiíica que eu cesse de considerar as aventuras de urn romance policial corno imaginário. E eu rne deixo fascinar por ele. É esse gênero de fasci-nação, sem posição de existência, que.eu chamo de crença.7

Essa fascinação é envolvente e faz com que se viva a crença desse objeto irreal, na realidade da vida, aprisionado à leitura, estimulando uma série de comportamentos em relação àquela leitura. É esse gênero de fascinação que mobiliza toda a vida do homem naquele momento, mostrando a importância do objeto imaginário. Ele prende a vida na sua

(8)

· Francimar Arruda

16

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(9)

lmoginório e Educo1õo: o Contribuição de Sartre

cle ação. Ou seja, essa relação dinâmica que o imaginário exerce, de

maneira mágica, que leva a ter um sentimento; sentimento esse que

de-sencadeia urna ação. Essa ação é que vai interessar a uma investigação

sobre a vinculação entre imaginário e educação. Ação que pode ser de

diversos modos, em diversas direções mas estas modalidades de ação

(reativa, veloz, combativa, liberal, etc.) terão que ser revistas a partir do

imaginário, corno possibilidade de as desencadear. E que efetivamente

só se pode íalar em ação pressupondo que essas ações foram elaboradas

a partir de imaginários, para que possamos rearticular, verdadeiramente,

com conhecimento de causa.

Somos nós que imaginamos que um mundo melhor possa ocorrer,

ou que u111 mundo pior possa vir a acontecer. Somos nós

queima-ginamos que o reino da liberdade, ela igualdadt> e da fraterniclacle,

virá pela nossa ação acontecer, vir-a-ser.Y

Qual seria, então, a vinculação entre imaginário, melhor dizendo,

,, "'~ .·.

entre vida imaginária e o papel da educação? Se o imaginário é o futuro

17

da ação e se o ato de educar é uma ação de transformação, essas duas

pre-missas poderão ser vinculadas de muitas formas; resta-nos construí-las.

Bibliografia

BURGOS,

J

.

Pour une poetique de L'imaginaire. Paris: Seuil, 1982.

BENOIST,

J.

M. La tyranic du logos. Paris: Minuit, 1975.

DESPOTOPOULOS, C. Études sur la liberté. Paris: Marcel Rivieres et

Cie, 1974.

FOURASTIÉ, J. A grande esperança do século XX. São Paulo: Per

spec-tiva, 1971.

JUNG, C. Present et l'avenir. Paris: BucheUChastel, 1977.

LE DOEUFF, M. L'imaginaire philosofique. Paris: Payot, 1974.

MORIN, E. Le Paradigme perdu: la nature humaine. Paris, Seuil, 1975.

SARTRE,

J

.

P. L'imaginaire. Paris: Gallimard, 1986.

(10)

... I!,

Francimar Arruda

18

_ _ _ . L'être et /e néant. Paris: Gallirnard, 1953

___ . A imaginação. São Paulo: Abril Cultural, 1978

Notas

1

O trabalho não se propõe a desenvolver essas críticas, pois tem como

intenção elaborar a própria teoria sartriana, para num momento

pos-terior situá-la numa dimensão educacional.

2

Sartre,

J

.

P. A Imaginação. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 99.

3 Sarte,

J.

P. L'lmaginaire. Paris: Gallimard, 1940. p. 349 4

Trata-se do deslocamento do para-si (consciência) em direção ao em-si (o outro). Esse deslocamento se verifica sobretudo em função do desejo

do para-si (porque é nada), de se tornar pleno do em-si. Possuí-lo para ser possuído pela plenitude. Esse é o desejo primordial e obsessivo do

homem: ser.

5 SARTRE,

J

.

P. L'lmaginaire, loc. cit., p. 242. 6

SARTRE,

J

.

P. L'lmaginaire, loc. cit., p 307.

7

SARTRE,

J.

P. L'lmaginaire, loc. cit., p 277.

8

Fatalismo no sentido grego, como no exemplo das tragédias gregas.

Édipo mesmo, ao tentar fugir do seu destino fatal, recaiu nele.

9 SARTRE,

J.

P. L'lmaginaire, loc. cit., p 347.

Enviado paro publicação: 02. 03. 2007 Aceito paro publicação: 05. 05. 2007

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