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De oceanos a desertos : a receita de mulher na lírica de Vinicius de Moraes

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Academic year: 2021

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Francieli Meotti Oliveira

DE OCEANOS A DESERTOS

A RECEITA DE MULHER NA LÍRICA DE VINICIUS DE MORAES

Ijuí- RS 2019

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Francieli Meotti Oliveira

DE OCEANOS A DESERTOS

A RECEITA DE MULHER NA LÍRICA DE VINICIUS DE MORAES

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Banca Examinadora do curso de Letras Português/Inglês - Campus Ijuí, como requisito parcial para obtenção do título de licenciada em Letras Língua Portuguesa - Inglesa. Orientadora: Prof.ª Taise Neves Possani.

Ijuí – RS 2019

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Francieli Meotti Oliveira

DE OCEANOS A DESERTOS

A RECEITA DE MULHER NA LÍRICA DE VINICIUS DE MORAES

Banca Examinadora

_________________________________________________ Profª. Taíse Neves Possani

(Orientadora) CPF:

________________________________________________ Profª . Fernanda Trein

(Examinadora) CPF:

Ijuí-RS 2019

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Dedico este trabalho para todos que participaram do meu processo de formação profissional como educadora e de meu crescimento pessoal. Principalmente aos meus familiares, amigos, orientadores e à instituição de ensino Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul – Unijuí.

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AGRADECIMENTOS

Algumas pessoas merecem um abraço de muito obrigado por contribuírem para a minha formação e realização deste sonho. Primeiramente, agradeço a Deus pela oportunidade de cursar uma faculdade, pela força e persistência que me deste em meio aos obstáculos encontrados nesta caminhada. Fizeste-me um ser iluminado com saúde, esperança e fé para chegar até aqui.

Agradeço a toda minha família. Aos meus pais que desde sempre me incentivaram a dar continuidade aos estudos. Em especial ao meu avô Lino Meotti, que infelizmente não pode ver concretizado seu sonho de me ver formada, mas que durante minha caminhada de estudos e profissional, me deu força e incentivo, pois sabia que esse era meu sonho e dele também. A minha orientadora Taíse Neves Possani, pelos seus grandes ensinamentos e orientações em meu Trabalho de Conclusão de Curso.

Aos meus colegas -tanto na minha vida acadêmica, como em minha vida profissional- que estiveram presentes durante toda a minha formação, compartilhando a amizade e grandes conhecimentos. Enfim, sou uma privilegiada que aproveitou cada oportunidade aberta nessa jornada.

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“Quer? Então faça acontecer, porque a única coisa que cai do céu é a chuva."

“A poesia é tão vital para mim, que ela chega a ser o retrato de minha própria vida...”.

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RESUMO

Este trabalho retrata a representação da figura feminina nas obras de Vinicius de Moraes. Apresentar um análise sobre cinco obras poéticas e três obras musicais nas quais pretende-se analisar os retratos de mulher na lírica, sendo que a mulher, através de sua representação, tem sido foco de estudos e trabalhos na área de Letras, assim como é fonte inspiradora para o autor em questão. Estuda-se, portanto, esse poeta, partindo da concepção de amor, sendo esta, transposta no sensualismo de suas obras através das palavras que remetem ao erotismo em sua poesia. Primeiramente será apresentada a trajetória poética – literária e musical - desse escritor. Ainda no contexto de estudo sobre a representação da mulher, será apresentado um estudo sobre a lírica moderna, um estudo sobre a própria literatura e sua natureza e, nesse sentido também, um estudo sobre a poesia e seus conceitos. Para a realização deste trabalho, partiu-se de uma análise teórica que foi embasada em autores, tais como Almeida (1597-1655); Bosi (2015); Candido (2010); Castro (1990); Cunha (1997); Chevalier (2007); Ferraz (2009); Ferreira (2010); Forte (1995); Friedrich (1978); Goldstein (2004); Jobim (2006); Junqueira (2005); Malta (2019); Med (1996); Moisés (1989) e Moraes (2006, 2008 e 2012). Por meio deste trabalho, se verifica que Vinicius de Moraes nos apresenta as várias facetas das mulheres, sendo que estas facetas, muitas vezes, estão presentes em uma única mulher. O autor, através da influencia da lírica-amorosa, que é a base de composições de suas obras, consegue nos mostrar a valorização que o eu lírico nos apresenta nesse ser feminino, enaltecendo a mulher através de sua beleza, de seu pensar, de seu agir, entre tantos outros fatores que ele nos expõe.

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ABSTRACT

This work portrays the representation of the female figure in the works of Vinicius de Moraes. The article presents an analysis of five poetic works and three musical works in which is intended to analyze the portraits of women in the lyric, and the woman, through her representation, has been the focus of studies and works in the area of Letters, as well as their inspiring source for the author. This poet is therefore studied, starting from the conception of love, being this, transposed in the sensualism of his works through the words that refer to the eroticism in his poetry. First, the poetic, literary and musical trajectory of this writer will be presented. Also in the context of a study on the representation of women, a study will be presented on modern lyric, a study on literature itself and its nature and, in this sense, a study on poetry and its concepts. For the accomplishment of this work, a theoretical analysis was based on authors, such as Almeida (1597-1655); Bosi (2015); Candido (2010); Castro (1990); Cunha (1997); Chevalier (2007); Ferraz (2009); Ferreira (2010); Forte (1995); Friedrich (1978); Goldstein (2004); Jobim (2006); Junqueira (2005); Malta (2019); Med (1996); Moisés (1989) and Moraes (2006, 2008 e 2012).. Through this work, it is verified that Vinicius de Moraes presents the various facets of a woman, and these facets are often present in a single woman. The author, through the influence of the amorous lyric, which is the basis of compositions of his works, can show us the valorization that the lyrical self presents to us in this feminine being, praising the woman through her beauty, her thinking, her act, among many other factors that exposes us.

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SUMÁRIO

Introdução 10

1. Vinicius de Moraes - Sua vida expressa na arte. 1.1 Quem era Vinicius?

1.2 Sua vida através da arte 1.3 Vinicius de Moraes na música

13 13 14 18 2. Literatura e a criação poética

2.1 A lírica moderna

2.2 Poesia o que falar sobre?

22 23 25 3. Análise da poética de Vinicius de Moraes

3.1 Amor em Vinicius 3.2 Receita de Mulher 3.2.1 Alexandra, a caçadora 3.2.2 Soneto da mulher inútil 3.2.3 Balada de Santa Luzia 3.2.4 Soneto de Marta 29 29 31 34 36 38 42 4. Vinicius através das melodias

4.1 Um estudo sobre Garota de Ipanema 4.2 Pela luz dos olhos teus

4.3 Eu sei que vou te amar

46 46 50 52 Considerações finais 55 Referencial Bibliográfico 57

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INTRODUÇÃO

Ao ler, reler e analisar a poesia de Vinicius de Moraes, constatamos que ele sempre será acima de tudo, o poeta do amor e da paixão. Vinicius de Moraes (1913-1980) faz parte de um grupo de poetas brasileiros, os quais enobreceram o século XX com sua genialidade. Talvez seja por isso que Vinicius de Moraes seja considerado um poeta emblemático de sua época (Modernismo na segunda geração: 1930-1945).

Talvez seja por isso que Vinicius de Moraes é um dos grandes nomes do Modernismo que são comparados a outros autores como Baudelaire e Dylan Thomas, que encarnou o mito de Orfeu com maior desassombro e autenticidade, assim como faz Ivan Junqueira no site “Academia Brasileira de Letras”. Segundo o autor é fato que Vinicius de Moraes, através do domínio da língua, nos mostra o cultivo a uma vertente lírica, dentro desta, a qual são poucos, ou muito poucos os que dele lograram se aproximar.

Vinicius de Moraes (1913-1980) faz parte de um grupo de poetas brasileiros, os quais enobreceram o século XX com sua genialidade. Em suas obras, o escritor seduz o leitor com a exaltação que faz à beleza da mulher e ao corpo feminino. O autor expressava em versos a sua percepção de mundo, da vida e da mulher. Portanto, é através de estudos e de uma profunda análise que conseguimos abordar o espaço da figura feminina, através dos quais, podemos obter por meio do Eu-lírico e de suas palavras expressas em rimas e melodia, perceber a representação feminina contida nas poesias de Vinicius de Moraes.

O poeta consegue expressar de forma lírica a representação da figura feminina de tal modo que, através do Eu-lírico, podemos perceber que o autor fica embebido de amor, que se faz notar genialmente em cada verso. Vinícius de Moraes pode ser considerado uma pessoa que, apesar de todos os atributos que recebeu ao longo de sua vida, contribuiu ricamente para a literatura e a cultura brasileira em si e com isso marcou gerações.

Através de muito talento, genialidade e sua total competência e sinceridade na escrita, soube compor, além de poemas genuínos, canções que são lembradas até hoje, sendo repassadas de geração por geração, pois durante o período da Música Popular Brasileira, mais conhecida por MPB (Bossa Nova), fez mudanças que se tornaram essenciais para as futuras composições, Castro (1990).

Em sua escrita lírica, conseguiu mostrar, através de sua arte, o amor tipicamente sensual, mas que não o foi sempre assim. O “poetinha”, assim carinhosamente chamado pelo

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seu amigo Tom Jobim, fez sentir a emoção, a sedução e a exaltação da figura feminina em sua época, sendo esta refletida nas novas gerações1.

De acordo com Castro (1990), o Eu-lírico contido nas obras do autor mostra o sujeito amoroso, sendo este apresentado de maneiras variáveis. Durante a leitura de suas obras, é possível perceber que, por vezes, sua escrita se constitui de forma angustiada, onde podemos encontrar um poeta que se apega às leis morais e religiosas, que lhe sublimam a fala. Em outro momento, podemos ver que o poeta transcende a moral e a religião, indo gozar no aspecto mais puro da constituição do sujeito como indivíduo, enquanto ser humano.

Castro (1990) ainda fala outro aspecto encantador de Vinicius de Moraes, sua influência através da música, por meio de suas parcerias. Ao estudar a cultura brasileira, percebemos que a música é um importante elemento de definição da visibilidade da figura feminina. Esse aspecto é possível ver nas canções feitas pelo autor. O seu gênero musical tem a capacidade de agregar valores sociais e morais que identificam um grupo, uma sociedade em torno de um determinado assunto, portanto, falando através de temas de interesses comuns.

Nas palavras de Castro (1990), é possível perceber, neste caso, a definição de gênero musical – que se tem em uma visão geral - transcorre além da definição do próprio conceito do que é a música popular brasileira. Com isso, intensifica a oposição existente entre o popular e o erudito, reforçando-se mais ainda, a divisão das classes sociais no que repercute a questão do seu acesso à cultura, seja esta a cultura brasileira, popular, de massa, entre outras, e sua forma de se relacionar com ela.

A partir disso, destaca-se que a escolha temática para a elaboração desse trabalho de conclusão de curso partiu, em especial, pelo gosto pessoal e admiração ao poeta em estudo. Em relação à sua poesia, foi feita uma investigação da trajetória da representação da figura feminina nas obras do autor que, ao longo da história, adquiriu diversos delineamentos aos quais, chegando a ser foco na vida e obra do autor. Na sua trajetória ele não se constitui somente como poeta e como letrista, mas também atuante na arte em si, abrangendo seu campo de atuação, o que ocupou um espaço primordial na questão cultural.

Ao escolher Vinicius de Moraes, também veio ao encontro à possibilidade de ampliar o olhar sobre a cultura brasileira, na qual o autor teve importância por meio da música. Sendo assim, reconhecendo nas obras do autor, nas quais, afirmo segundo as palavras de Bosi que,

1 CASTRO, Ruy. Chega de saudade: A história e As histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das Letras,

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poesia e música não são diferentes (Bosi, 2015), é possível perceber o significado maior do amor, da paixão e da valorização incondicional da mulher.

Para isso, foi necessário realizar um estudo sobre a literatura, sendo colocada em questão a lírica moderna. Ainda nesse processo foi estudada a estrutura da poesia, a qual foi a base de análise das obras escolhidas, além de analisar a tese do amor contida em sua escrita de Vinicius de Moraes. Para este estudo foi feita a escolha de cinco obras poéticas: “Receita de mulher”; “Alexandra, a caçadora”; “Soneto da mulher inútil”; “Balada de Santa Luzia” e “Soneto de Marta”.

Através de sua análise, busca-se focar a representação da figura feminina existente nas obras, corroborando a questão da sensualidade e do erotismo. Para este estudo ainda foram escolhidas três obras musicais: “Garota de Ipanema”; “Pela luz dos olhos teus”; “Eu sei que vou te amar”, todas em parceria com Tom Jobim.

Este estudo trata-se de uma análise interpretativa, com base na teoria literária e seus métodos de análise poética em relação à música. Sua música propõe um perfil, uma identidade para a mulher brasileira, sendo que esta não se encaixa em um grupo específico.

O processo de investigação é de cunho teórico e bibliográfico, com um embasamento no qual utilizasse de autores, tais como: Almeida (1597-1655); Bosi (2015); Candido (2010); Castro (1990); Ferreira (2010); Forte (1995); Goldstein (2004); Jobim (2006); Malta (2019); Med (1996); Moisés (1989) e Moraes (2006, 2008, 2009 e 2012).

Por meio dos quais, afirma-se o porquê destas obras serem tão atuais desde sua composição e exposição, como também, apresentar um olhar “diferenciado” da representação da figura da mulher perante o público-leitor, assim como para o Eu-lírico, sendo exposto através das obras de Vinicius de Moraes, através desta análise.

Para tanto, presente trabalho organiza-se na seguinte estrutura: em primeiro momento apresenta a vida de Vinicius de Moraes sendo esta expressa através de sua arte. Em segundo momento encontrar-se-à a literatura e a criação poética, sendo que nesse tópico há uma divisão nos seguintes fragmentos: A lírica moderna e poesia o que falar sobre?. Para entender o uso da linguagem lírica usada por Vinicius de Moraes, faz-se preciso falar da representação do amor através do Eu-lírico contido nas obras do autor, sendo assim, os próximos dois momentos se faz a análise da poética de Vinicius de Moraes.

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1. VINICIUS DE MORAES - SUA VIDA EXPRESSA NA ARTE. 1.1. QUEM ERA VINICIUS?

Em 9 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro, nasce Marcus Vinicius de Melo Moraes, no bairro da Gávea. Mais conhecido como Vinicius de Moraes, filho de Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes. Durante sua jornada profissional, foi dramaturgo, poeta, jornalista, diplomata, cantor e compositor (letrista) brasileiro.

Por sua escrita essencialmente lírica, recebeu o apelido carinhoso de “poetinha” que lhe teria sido atribuído por Tom Jobim. Conhecido como um boêmio inveterado, fumante e apreciador de uísque, além de ser conhecido também como um grande conquistador, notabilizou-se pelos seus sonetos. A poesia foi um marco em sua carreira, pois foi através dela que reconhecemos Vinicius de Moraes como poeta e compositor.

Na parte “cronologia” contida na obra Novos Poemas II (p.87-91), nos apresenta que o autor veio a se casar por nove vezes. Durante sua vida e carreira. Suas esposas foram, respectivamente: Beatriz Azevedo de Melo (mais conhecida como Tati de Moraes), Regina Pederneiras, Lila Bôscoli, Maria Lúcia Proença, Nelita de Abreu, Cristina Gurjão, Gesse Gessy, Marta Rodrigues Santamaria (a Martita) e Gilda de Queirós Mattoso.

Segundo a autora Clarisse Lispector em uma entrevista contida no Livro “Novos Poema II” (p. 79-83), Falar de Vinícius é falar de vida, é analisar e estudar sua vasta obra, a qual passa pela literatura, cinema, teatro e música. Mesmo tendo trabalhado em diversos ramos da cultura, o poetinha considera a poesia como sua primeira e maior vocação, em que toda sua atividade artística deriva do fato de ser poeta.

Quando lemos os poemas de Vinicius de Moraes, podemos dizer talvez, que os mesmos, nos remetem de forma genuína, com relação a suas obras, a um estado de sentimento, relacionados à visão que temos do mundo em relação a uma sociedade existente, perante a figura da sensualidade feminina, ou seja, por meio da imagem da mulher existente em sua obra.

Na parte “cronologia” contida na obra “Novos Poemas II” (p.87-91), nos apresenta que, infelizmente na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes começou a se sentir mal em sua residência, na Gávea, vindo a falecer pouco tempo depois. O poeta passou o dia anterior com o parceiro e amigo Toquinho, com quem planejava os últimos detalhes do

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segundo volume do álbum "Arca de Noé", o qual teve seu LP lançado em 1981. Vinicius de Moraes foi sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro. 2

1.2 SUA VIDA ATRAVÉS DA ARTE

Segundo Vinicius de Moraes na obra Novos poemas II, (2012) a carreira artística do mesmo se mistura a própria vida pessoal, durante todos os altos e baixos que ele teve. Trouxe ao público trabalhos significativos, juntamente com suas parcerias, tais como os irmãos Tapajós, Antônio Carlos Jobim, Chico Buarque, Miúcha, Claudio Santoro, Edu Lobo, Carlos Lyra e Pixinguinha, entre outros. Durante sua carreira, publicou trabalhos de renome, tais como Forma e exegese, em 1935. Vinicius de Moraes nunca perdeu o contato e sua vivência literária e artística do Rio de Janeiro, que nele tem uma das suas expressões mais típicas. Começou a escrever críticas cinematográficas para o Jornal A Manhã em 1941, juntamente colaborando no Suplemento Literário. Em 1946 publica Poemas, sonetos e baladas, onde foram feitos 372 exemplares, com ilustrações de Carlos Leão.3

No ano de 1949, Vinicius de Moraes publica Pátria minha, em uma tiragem de cinquenta exemplares. Em 1950, a sua arte se depara com a afirmação da linha musical conhecida como “bossa nova”. O autor passa a dedicar-se a composição de letras para canções populares, sendo que as letras musicais possuem sua marca registrada do lirismo no manejo de cada verso. Em 1953, passa a escrever crônicas diárias para o jornal A Vanguarda. Segue, após, para Paris, como segundo-secretário da embaixada brasileira.

Foto 1: Vinicius com Lila e a primeira filha do casal, Georgina em 1954

Fonte: Novos Poemas II. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

2 BOSI. História Concisa da Literatura Brasileira. 2015, p. 411-523. 3 MORAES. Novos poemas II. 2012, p. 87-91;

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Foto 2: Vinicius Com Luciana, sua segunda filha com Lila em 1959.

Fonte: Novos Poemas II. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Em 1955 passa a trabalhar para o produtor Sasha Gordine, no roteiro do filme Orfeu

Negro. No mesmo ano, empenha-se na produção do referido filme e foi nesse mesmo período

que conhece Antônio Carlos Jobim, e o convida para fazer a música de Orfeu da Conceição, musical que estreitou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. No ano de 1957, publica o

Livro de sonetos. Em 1959, publica Novos Poemas II, e nessa mesma época, a obra Orfeu Negro ganha a Palme d’Or do Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Ainda segundo Moraes na obra Novos poemas II, no ano seguinte, em 1960, é lançada a segunda edição – revisada e aumentada - de Antologia Poética e ainda a edição popular da peça Orfeu da Conceição. Neste mesmo ano é lançado Recette de femme et autres poèmes, tradução de Jean-Georges Rueff, pelas edições Seghers. Em 1961, publica Para viver um

grande amor, livro de crônicas e poemas e ainda grava como cantor, disco com a atriz e

cantora Odete Lara. Já em 1962 começa a compor com Baden Powell, também em parceria de Carlos Lyra as canções do musical Pobre Menina Rica. Em 1964 passa a colaborar com crônicas semanais para a revista Fatos e Fotos, assinando paralelamente, crônicas sobre música popular para o Diário Carioca.4

No ano de 1966, foram feitos documentários sobre o poeta nas televisões americanas, alemãs, italianas e francesas, os dois últimos realizados pelos diretores Gianni Amico e Pierre Kast. Ainda neste ano publica Para uma menina com uma flor e ainda fez parte do júri do Festival de Cannes. Em 1967 publica a segunda edição - aumentada - do livro Sonetos, ainda

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este ano tem a estreia do filme Garota de Ipanema. No ano de 1970, dá início à parceria com Toquinho. No ano de 1978, o poeta excursiona pela Europa com Toquinho e casa-se com Gilda de Queirós Matosso que lhe acompanhou em sua fase mais triste e cruel, vindo a falecer na manhã de 9 de julho, em sua casa, na Gávea. Com isso, chegamos ao fim da vida de Marcus Vinicius de Melo Moraes, mas não de seu legado. 5

Não se pode falar do autor sem lembrar-se de sua fundamental passagem pela literatura e pela música. As obras do poeta foram divididas em duas fases. Segundo Bosi (2015), a primeira fase é classificada como místico-religiosa e a segunda como um encontro ao mundo material e cotidiano. A primeira fase compreende os livros: O caminho para a

distância (1933); Forma e exegese (1935); Ariana, a mulher (1936); Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943), sendo este um livro de transição. Na obra O caminho para a distância,

é manifestada a preocupação do poeta na questão religiosa e mostra sua angústia diante do mundo. Nesta obra percebe-se que o amor é tido como um elemento negativo, sendo ligado ao mundo terreno.

Já quando falamos sobre a obra Forma e exegese, é possível notar que os versos ganham liberdade e tornam-se mais extensos. O poeta acaba se voltando para o cotidiano, mas não abandona o desejo de transcendência. A mulher torna-se a figura central de sua poesia, envolta por um forte misticismo. Segundo Moisés (1989), o poeta acaba por harmonizar sensualismo e erotismo com os apelos espirituais, com isso pode-se ver a figura da mulher de uma forma divina, como costumamos dizer, o autor coloca nas suas produções, a mulher em um pedestal tendo assim a ostentação do divino.

Partindo da obra Cinco elegias, o poeta incorpora elementos do cotidiano, mas mantém ainda o tom religioso. Nessa fase, aproxima-se um pouco mais das conquistas dos modernistas de “22”. Já a partir de Poemas, sonetos e Baladas (1946), podemos perceber a influência de sua segunda fase. Partindo desta obra, o poeta supera a angústia e a melancolia, integrando-se à realidade. A poesia de Vinicius de Moraes toca fundo na alma daqueles dispostos a absorver seus momentos angustiantes e melancólicos, mas também o sensualismo e o erotismo, sendo cada fase expressa com palavras simples e lindamente sendo expostos os sentimentos mais profundos do autor.6

Vinicius de Moraes expressa-se através de sua arte, de sua poesia, e a registra em grandes obras literárias, mas isso não bastava para ele, por isso, adentra ao universo musical, sem deixar de lado o lirismo, que desde o início de sua carreira, estavam presentes em suas

5 MORAES. Novos poemas II. 2012, p. 87-91; e MORAES. Poemas esparsos.2008, p. 225-229 6 BOSI. História Concisa da Literatura Brasileira. 2015, p. 411-523.

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obras. Quando aprofunda em sua escrita com base no amor, O eu-lírico se encontra ligado ao espírito, já a mulher, em sua forma física, simbolicamente representava o pecado. Nas obras poéticas do autor é possível perceber a composição do esotérico, do metafísico e do universo que se transfigura em sua forma imaterial. Isso são reflexos de sua educação católica e uma parte referente à influência de autores como Rimbaud, Claudel, Baudelaire e Augusto Schmidt. Por esses aspectos, Vinicius de Moraes ganhou o título de “inquilino do sublime”, sendo este dito por seu amigo Otto Lara Resende. 7

A escolha por palavras singelas, que ao mesmo tempo, tem significados profundos, tem por objetivo “comunicar-se mais e melhor”, e é por esta razão que Vinicius de Moraes optou pela música popular brasileira onde suas obras canções/poesias conseguem expressar o cotidiano. Por este motivo que Bosi (2015), após analisar suas composições (tanto literária como as canções), acaba por fazer uma referência a uma “urgência biográfica, onde ocorreu um deslocamento do eixo do poeta lírico por excelência para a intimidade dos afetos e para a vivência erótica” (Bosi, 2015). Com isso, é perceptível que o poetinha tem em suas obras o amor, mas este se converte em dor, tristeza, sofrimento e morte, quase sempre vinculados à mulher amada.

Vejo que a sociedade, desde tempos remotos, tem uma visão sobre a figura da mulher. Sendo que, por muito tempo, a mulher “foi considerada uma pessoa que” deveria ficar em casa, limpando, cozinhando, cuidando dos filhos e estando disposta a receber as ordens de cônjuge. Mas segundo a autora Jeffe (2009), podemos ver que Vinícius de Moraes, através de suas obras, consegue mostrar pela sensualidade/erotismo, que a mulher tem seus direitos e deveres, assim como os homens. É possível verificar através das obras de Vinicius de Moraes, que existem perfis distintos de mulher e até mesmo um empoderamento feminino, se considerarmos a época em que suas obras foram escritas.

Portanto, essa representatividade da figura feminina advindas através da voz do Eu-lírico nos versos das obras poéticas produzidas pelo autor que pode ser considerado uma pessoa valorizada para além de seu tempo pelo intermédio de suas lírica na sensualização da representatividade da figura feminina, que pode ser encontrada, por exemplo, em uma mãe, filha, amiga, mostrando que a mulher da qual ele nos fala, é também uma pessoa cheia de capacidades, forte, entre tantos outros atributos.

Partindo desses entendimentos que temos sobre Vinicius de Moraes, realizar-se-á um estudo analítico que será a base desse trabalho, onde busca-se falar de conceitos e estrutura da

7 MORAES. Novos poemas II. 2012, p. 87-91.

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lírica moderna, da poesia e do amor em Vinicius de Moraes, para que sejam analisadas posteriormente cinco obras poéticas e três obras musicais do autor. Antes da análise de cunho teórico, se faz necessário apresentar o autor dentro de sua carreira como músico.

Foto 3: Vinicius com Tom Jobim, em Brasília em 1960

Fonte: MORAES. Poemas esparsos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

1.3 VINICIUS DE MORAES NA MÚSICA

Conforme Malta (2019), a trajetória do poetinha pela música começa em 1920, mas muitos se enganam em achar que foi com os irmãos Tapajós, em 1932. No recanto de seu lar em Botafogo, na Rua Real Grandeza, número 130, conseguiu fisgar sua primeira plateia. Ao se pôr sentado diante ao piano que tinham na sala, consegue, ao dedilhar os dedos sobre as teclas, arrancar “Oooooh” de quem ali se encontrava e também do público que passava pela calçada e o viam dedilhar as notas musicais.8

Malta (2019) relata no livro Caderno II Pequenos notáveis que Vinicius de Moraes se vangloriava pelo apreço do público, pois conseguia, ainda menino, gabaritar peças eruditas, sendo estas consideradas bastante complicadas para qualquer pianista, ainda mais para um rapazinho de apenas sete (7) anos! Mas o que ninguém imaginava era que, na realidade, o poeta ‘tocava’ uma pianola, também conhecida como piano mecânico. A pianola é um

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instrumento que funciona com um rolo de papel instalado em seu interior, com isso, o instrumento conseguia tocar sozinho peças de Mozart, Bach, Beethoven e outros compositores eruditos. Este instrumento era muito popular no início do século XX.

Quando cursava o ginásio no Colégio Santo Inácio, fez parte do coral da escola entoando hinos como Ave Maria, Panis Angelicus e Queremos Deus. Começando por essa época, a revelar seu dom com as palavras, tornando-se, pouco tempo depois, um grande poeta, além de letrista. Começou então, em 1928, sua trajetória na música com os irmãos Tapajós.9

Foi com os eles que Vinicius de Moraes, em 1928, assina suas duas primeiras composições, ambas como letrista: Loura ou Morena (com Haroldo) e Canção da Noite (com Paulo), lançadas em disco no início da década de 1930. Mas foi somente em 1932 que duas gravações de músicas assinadas pelo poetinha foram gravadas pelos irmãos em um disco de 78 rotações da Columbia, tendo como parceria Haroldo Tapajós.10

Foi somente em 1953 que Vinicius de Moraes retoma sua trajetória musical. Em maio deste mesmo ano, a cantora Aracy de Almeida lança, pela gravadora Continental a música

Quando Tu Passas por Mim, um samba composto em parceria com Vinícius de Moraes e

Antônio Maria. Foi um ano depois que, na companhia de Antônio Maria, o autor conhece Tom Jobim no Clube da Chave. Vinicius de Moraes se impressionou com o piano de Tom Jobim. Foi no ano de 1954, durante a temporada parisiense que escreveu a peça Orfeu da

Conceição, sendo esta uma adaptação que realizou para o mito de Orfeu. Já no ano seguinte,

percebe o desencadeamento de uma série de transformação na música popular brasileira (MPB) e em sua própria carreira.

No início do ano de 1956, Vinicius de Moraes e Tom Jobim se reencontram. Estabeleceu-se, assim, a parceria entre eles. Era perceptível que Tom Jobim era o parceiro que o poeta tanto procurava para compor as músicas da peça Orfeu da Conceição. Em apenas duas semanas, sai a primeira fornada das músicas composta pela dupla, entre os meses de maio e junho do mesmo ano. Segundo o escritor Sérgio Augusto, na obra Songbook Orfeu

(1956), onde “Toquinho dedilhava o tema no piano, Vinicius rascunhava a letra, mais atento à

métrica que ao conteúdo, e depois a burilava longe das vistas do parceiro”.

Com o nascimento da nova dupla, Orfeu da Conceição marca o nascimento de Vinicius de Moraes, em seus plenos 42 anos de idade, como letrista. Partindo dessa fase com a peça, o poetinha entra de vez para a música popular, deixando para segundo plano sua carreira como autor de poemas. “Nenhum outro poeta brasileiro era tão querido pelas massas

9 MORAES. Poemas esparsos. 2008, p. 225. 10 MORAE. Novos poemas II. 2012, p. 87.

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e admirado pelos euditos”, segundo Ruy Castro (Coleção folha, 50 anos de Bossa Nova, fascículo 3).11

Vinicius de Moraes provoca, com essa nova fase, uma revolução na qualidade das letras musicais da MPB. Com isso, se faz uma divisão da música popular brasileira. Sem exagero, podemos falar em “Antes de Vinicius” e “Depois de Vinicius”. Quando o poetinha empresta seu coração às músicas, transforma-se em uma fronteira a músicos e poetas optam por seguir.

No diálogo feito entre Tom Jobim refletido nos versos de Vinicius de Moraes, o poeta nos apresenta nas letras das músicas a lamúria – sendo esta vista em sua primeira fase, melodias realizadas em tom menor – e na segunda fase traz a esperança – em tom maior – sinalizando a mudança de clima logo após a modulação. Em 1958, Tom Jobim e Vinicius de Moraes compõem a canção Eu sei que vou te amar, um dos maiores sucessos da parceria.

Em Agosto de 1962, participa do show Encontro, na boate Au Bom Gourmet em Copacabana, ao lado de grandes parcerias, como: Tom Jobim, João Gilberto e Os Cariocas, sempre com casa cheia nos 41 dias de apresentações. Nesse momento histórico, foram lançados alguns dos maiores sucessos do poetinha: “Garota de Ipanema”, “Só Danço Samba”, “Samba da Bênção” e “O Astronauta”.

Castro (1990) nos relata que é no ano de 1968 que surge a parceria do poetinha com Chico Buarque, pela obra que ficou marcada no seu tempo, a valsa Gente Humilde.12 Já em junho de 1970, Vinicius de Moraes começa a trabalhar com o violinista e compositor Antônio Pecci Filho, conhecido como Toquinho. Mas a parceria entre Vinicius de Moraes e Toquinho viria mesmo em agosto desse ano, durante uma temporada no Teatro Castro Alves, em Salvador. 13

Um fato importante, além da composição do samba Tarde em Itapoã, da dupla, foi a escrita e apresentação de A Tanga da Mironga do Kabuletê, que por causa da escrita em nagô na frase “songa da mironga do Kabuletê”, cujo significado para Gesse Gessy é “o pelo do cu da mãe”, sendo considerado uma baixaria da grossa vinda em um tempo de censura e truculências. Na verdade foi uma molecagem dos compositores. No ano de 1972, a parceria Vinicius/Toquinho produz a trilha sonora da telenovela Nossa Filha Gabriela, da TV Tupi. Já

11 CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e As histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das

Letras, 1990.

12 MORAE. Novos poemas II. 2012, p. 87. 13 Idem 11 e 12.

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nas turnês realizadas pelo país, a dupla ainda costuma fazer parceria com cantoras de renome, tais como: Mariz Creuza, Marília Medalha, Maria Bethânia, Clara Nunes e Joyce Nunes.14

Após dois anos, em 1974, a dupla compõe e grava a trilha sonora da telenovela O Bem

Amado, da Rede Globo. O mesmo disco traz a primeira gravação do Samba para Vinicius,

homenagem de Toquinho, sendo co-assinada por Chico Buarque. Em 1977, no dia 5 de outubro, apresenta-se com Tom Jobim, Toquinho e Miúcha em temporada histórica no Canecão. Neste mesmo ano é lançada a música Na Luz dos Olhos Teus, parceria entre Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Miúcha. Esta fez a abertura na novela Mulher Apaixonadas de 2003, na voz de Miúcha e Tom Jobim, exibida pela Rede Globo de televisão. Na última noite do festival no Canecão - 8 de abril de 1978, foram totalizadas 90 apresentações. O show teve a direção de Aloysio de Oliveira e virou o famoso LP gravado pela Som Livre: Tom,

Vinicius, Toquinho, Miúcha – Gravado ao vivo no Canecão.

No ano em que o artista completaria 70 anos (1983), foi lançada póstuma a canção

Aquarela com Toquinho, Guido Morra e Maurizio Fabrizio, seu último sucesso. Sai em 1999,

pela gravadora BMG o CD duplo Vivendo Vinicius ao vivo, contendo a gravação do show realizado em homenagem aos 85 anos de nascimento do poeta. Nesta ocasião, no teatro João Caetano, reuniram-se os parceiros Baden Powell, Carlos Lyra, Toquinho e a cantora Miúcha, para a produção do mesmo.

É por essa razão que Vinicius de Moraes passou a ser considerado letrista pela sua obra Orfeu da Conceição, como já foi dito, ele influenciou tanto a música popular brasileira (MPB), através da Bossa Nova, por meio das palavras de Vinicius de Moraes, esse período é dividido em “Antes de Vinicius” e em “Depois de Vinicius”. Segundo Malta (2019), os vastos sentidos que percebemos em suas canções, não só por causa do ritmo que encanta, da melodia que seduz e das letras que vem como um baque para nosso conhecimento/intelecto, o poeta transforma nossa visão com relação às obras anteriores.15

Portanto, se parte de conhecimento obtido através de uma análise bibliográfica referente de ao estudo feito sobre Vinicius de Moraes e a representatividade da figura feminina contida nos versos de sua obras – literárias e musicais, para isso, foi feito um estudo sobre a literatura, na qual pretende-se abordar os conceitos obtidos sobre a lírica moderna, a poesia e seus eixos norteadores, além de um estudo sobre o amor em Vinicius de Moraes que nos apresenta o contexto em que ele se embasou para a composição de suas obras.

14 CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e As histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das

Letras, 1990.

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2. LITERATURA E A CRIAÇÃO POÉTICA LITERÁRIA

Segundo Moisés (2012), a palavra literatura provém do latim litera, que quer dizer o ensino das primeiras letras. Pode-se remeter ao sentido de ser a arte de escrever. Este sentido manteve-se até o século XVIII. Um fator interessante deste período segundo as palavras de Moisés, a ópera era tomada como tendo um sentido bibliográfico, equivalente ao domínio da linguagem médica ou farmacêutica. Ficam evidentes as mudanças que obtivemos desses sentidos ao longo dos anos.

Por meio dessas mudanças, a literatura passou a assumir exclusivamente a identidade estética pela qual se tornou conhecida em nossos estudos atuais. Por isso, podemos afirmar que “até o fim do século XVIII, fala-se efetivamente de poesia e raramente de literatura, quando se trata do aspecto estético das obras” (Escarpit, apud Moisés, 2012, p. 5). Considera-se, então, que “a ascendência do vocabulário “literatura” sobre o termo “poesia”, em curso nesse tempo, decorreu de haver entrado em voga o culto da imaginação.” (Kernan, apud Moisés, 2012, p. 5).

Com isso, vemos que a literatura, conforme Moisés (2012), desde sua origem, vem se subordinando à letra escrita e por consequência, posteriormente pela palavra impressa. Isso nos remete o um problema com relação ao que podemos denominar de literatura oral, o que, na verdade, nas palavras de Moisés, quando falamos em obras literárias, estas são consideradas como documentos somente na forma de escritos e/ou impressos. Com isso, dizemos que não existe obra literária oral pararela ao que se submete às obras escritas.

Então devemos considerar como obras literárias a transmissão de comunicação oral que seja feita em forma de textos literários escritos e impressos. Somente depois do surgimento destes, que se tem o processo de manifestação em voz alta. Essa ideia é um tanto confusa, mas for analisado, só temos um documento impresso se realizarmos uma manifestação/ comunicação oral. Antes de termos a documentação escrita ou impressa das obras literárias, qualquer obra no gênero não se constituía como arte literária. Por isso, segundo Moisés (2012, p. 6)

Se, portanto, não tivermos o texto diante de nós, estamos impossibilitados de praticar o ofício de leitores ou de críticos. Produzindo o texto, já é possível submetê-lo ao tratamento que merece. Do mesmo modo, se a comunicação oral se realiza após a elaboração do texto, apenas podemos examiná-la do prisma do intérprete, não do texto em si. (SIC)

Com isso, vemos como não é de hoje que filósofos, críticos e historiadores vêm procurando conceituar a literatura de um modo que seja algo relevante, em que o conceito seja

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convincente e conclusivo. Apesar de todos os esforços que até agora foram feitos, o problema em questão continua em aberto, pelo fato de que não temos como falar em definição e sim, somente em conceito. Haja visto, até hoje tentam definir a literatura, o que sabemos ser algo incabível (Friedrich, 1978). O estudo que se faz sobre e literatura pertence ao campo das ciências, e este corresponde ao enunciado das características consideradas universais e essenciais para um objeto, seja este material ou imaterial. 16

Segundo Moisés (2012, p. 9), “quanto ao conceito, diz respeito ao caráter acidental ou particular de um objeto, e decorre de impressões mais ou menos subjetivas”. Desde a antiguidade, com Aristóteles e com Platão, vem sendo discutido o problema do conceituar a literatura. A literatura se vulgarizou, em relação ao pensamento aristotélico como sendo uma imitação, ou seja, uma “mimese” da realidade.

O conceito aristotélico suscita duas observações: 1ª) refere-se apenas à poesia, uma vez que a prosa literária (conto, novela, romance e expressões híbridas) ainda não era cultivada; 2ª) não se pode afirmar que a significação do vocabulário “mimese” esteja definitivamente assentada. (MOISÉS, 2012, p. 10)

Entretanto, vemos a literatura como uma arte, na qual, a arte literária remete à ficção, à criação, com os dados profundos, singulares e pessoais que um autor se disponibiliza no ato de sua escrita. Nas palavras de Moisés (apud Fowler 1970, p. 11), “É provavelmente tarefa infrutífera tentar definir a Literatura por meio de qualquer critério, formal ou de outro tipo, em razão de não ser confiável o nosso entendimento acerca de quais textos são literários em casos fronteiriços”.

Como situado dentro do contexto que temos acerca de literatura, vemos que a poesia é um gênero de fundamental importância, tanto que, foi com base nos estudos feitos nas poesias de Vinicius de Moraes que se partiu para uma analise da representatividade da figura feminina neste trabalho. Para falar das obras deste autor, precisamos ter um entendimento acerca da lírica para a compressão da estrutura das obras. Para tanto, houve a necessidade de situar os traços presentes na poesia que são marcante na poesia de Vinicius de Moraes durante a análise das obras poéticas e musicas.17

2.1 A LÍRICA MODERNA

16 MOISÉS, Massaud. A criação literária – poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012. 17 MOISÉS, Massaud. A criação literária – poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012.

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Ao falar em poesia, nos remetemos a um termo muito usado nos trabalhos poéticos, a questão do Eu-lírico. Podemos perceber após as leituras dos poemas de Vinicius de Moraes, que o mesmo tem o estilo lírico presente em sua estrutura. Conforme Friedrich (1978), o estilo lírico teve seu surgimento na França, na segunda metade do século XIX, 18 vemos sua dominância presente em obras poéticas até hoje.

Este movimento literário teve como base Baudelaire, depois, foi pressentido pelo alemão Novalis e pelo americano Poe. Foi no século XIX que os limites em que se encontravam a poesia, puderam se tornar ousados. Quando falamos da lírica do século XX, percebemos que os autores (poetas) que trabalham com essa fundamentação são dotados de grande conhecimento e criatividade. Segundo Friedrich (1978, p. 141)

Unidade de estilo não significa monotonia. É um elemento comum de atitude linguística, da maneira de ver, da temática, das parábolas internas que abrange as diferenças entre os vários autores. [...] A originalidade não fica prejudicada. A originalidade é uma questão de qualidade, e não é decidida pelo estilo. [...] Este, porém – neste caso a unidade estilística moderna –, facilita a cognição. O reconhecimento desta unidade de estilo é até mesmo a única via de acesso àquelas poesias que se apartam intencionalmente da compreensão normal.

Com isso, vemos a necessidade de penetrar na individualidade artística de cada poeta. É por isso que deve ser valorizada a influência literária de cada poeta, pois sem dúvida, é durante o processo de escrita, que o escritor se estabelece pela afinidade ao tema trabalhado e conforme suas próprias disposições artísticas. Por esse meio, observamos a necessidade estilística e estrutural de cada época. Neste caso vemos a lírica em Vinicius de Moraes. Desde os trabalhos de Poe e de Baudelaire, os líricos desenvolvem uma reflexão acerca do eu lírico, na poética-teórica que vem avançando de forma paralela às suas respectivas obras. Nas palavras de Friedrich (1978, p. 147)

Deriva, muito mais, da convicção moderna que o ato poético é uma aventura do espírito operante e, ao mesmo tempo, observador de si mesmo, e que este, com a reflexão sobre seu ato, até reforça a alta tensão poética. A opinião de que semelhante reflexão conduza a um estado não-poético, vale tão pouco como a antiga frase que dizia: “Artista, cria e não fales!”. (Friedrich, 1978, p. 147)

Quando adentramos o século XX, os grandes líricos desta época propuseram uma poética que por sua vez, se considerava como um sistema da própria poesia, do autor e em âmbito geral. Isso só corroborou para a concepção que já tinha sido posta em evidência desde

18 FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século XX. São

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o início dos séculos. Vemos assim, a lírica como um fenômeno sublime da arte poética19. Segundo Friedrich (1978, p. 147)

O isolamento moderno do poeta reflete-se no pensamento de que do ápice solitário da lírica não há caminho algum que conduza às encostas planas da literatura. Estas poéticas insistem na distância infinita entre a lírica e o resto dos escritos narrativos e dramáticos, baseados nas relações objetivas e na lógica. É a distância entre o escrever monológico e o escrever comunicativo. (SIC)

Por isso, entendemos que a interpretação de uma poesia moderna demanda tempo. Devemos nos atentar na análise, no estudo sobre sua técnica, o que esta está a nos expressar, a questão de seu conteúdo, motivos e temas. A poesia moderna evita se estabelecer por meio de versos descritivos ou narrativos, em uma existência objetiva, pois esse processo acabaria por ameaçar o domínio do estilo.

Por isso, Reverdy (Apud Friedrich, 1978, p. 151) nos diz que “o poeta tem valor precisamente porque não deixa reconhecer nenhum motivo para sua descontinuidade nem para seu procedimento de unir o inconciliável”. São através dessas palavras, que percebemos o uso estratégico utilizado nos versos de Vinicius de Moraes durante sua escrita. Para tanto, estudaremos a seguir as estruturas poéticas contidas nas obras do autor.

2.2 POESIA O QUE FALAR SOBRE?

O autor Vinicius de Moraes trabalha através da poesia a representação da figura feminina. Para que se faça entender melhor suas obras, parte-se de uma análise sobre a poesia. Segundo Friedrich (1978), a palavra poesia vem do grego poiesis, que pelo latim chamamos de poesis, esse, por conseguinte, vem de poiein. Nesse sentido, temos o seu significado expresso ao que se deriva do ato de criar, no sentido de imaginar. Podemos dizer que a poesia é um texto que se caracteriza por meio de seus versos. Portanto, dizemos que a poesia faz parte do gênero literário que chamamos de “lírico”. Pode ser considerada como uma das sete artes da linguagem, sendo utilizada para fins estéticos, de beleza ou críticos. Isso quer dizer que a poesia pode ser definida de duas formas: A arte em si, que a ensina, e a obra feita, sendo a própria arte. Segundo Moisés (2012, p. 67)

A própria literatura acabaria tendo como centro a poesia. E, portanto, todos os cultores da arte acabariam poetas ou seriam poetas, o que significaria eliminar a poesia como expressão estética autônoma, ou reduzir a ela todas as manifestações artísticas.

19 FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna: da metade do século XIX a meados do século XX. São

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Em um sentido figurado, podemos dizer que a poesia pode se tratar de tudo o que comove, sensibiliza, o que desperta sentimentos em quem lê e também em quem produz. Pode ser considerada ainda, qualquer forma de arte que inspire e encante, que seja, sublime e bela. A poesia se difere da prosa, esta por sua vez, define a questão da ficção, da imaginação, o que nos remete ao subjetivismo. Então podemos ter que a prosa “é a expressão do “não eu”, do objeto”, de acordo com Moisés (2012, p. 77). Perante isso, consideramos a prosa uma linguagem direta e livre.

Importa assinalar que Aristóteles já tinha nítida consciência das características identificadoras que tornavam a poesia diversa da prosa e da historiografia. Para o filósofo grego, “não é ofício de poeta narrar o que realmente acontece; é, sim o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível, verossímil e necessariamente”. [...] Por isso, a poesia é assim filosófica e mais elevada do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta, o particular. (Aristóteles, apud Moisés, 2012, p. 66)

Assim, temos a poesia como uma escrita que é dividida em versos. O conjunto de versos nós chamamos de estrofes. Em origem, a poesia foi criada para ser cantada, por isso, se tem uma grande preocupação com a estética, a métrica e a rima. É, portanto, considerada um texto onde o autor pode expressar diretamente seus sentimentos e opiniões pessoais sobre vários temas. Segundo Moisés (2012), a voz que transmite a mensagem, sendo que essa voz é criada pelo autor, chama-se de “Eu lírico”. 20

A poesia é composta por elementos formais que a definem, como por exemplo, o ritmo, o verso e a estrofe, que parte da sonoridade. Esses elementos definem a métrica de uma poesia, que consiste na utilização de recursos literários específicos, os quais distinguem o estilo de um poeta. Mas os autores ainda podem utilizar os versos livres, sendo que não utilizam nenhuma métrica. 21

Ao realizarmos a leitura de um poema, podemos perceber que sua estrutura é basicamente sonora. A sonoridade pode ser considerada uma realidade liminar que abrange os níveis ou camadas da realidade total. A sonoridade dos poemas nos remete a uma melodia própria, onde temos a ordenação de sons para um processo analítico. É pela sonoridade que encontramos o ritmo, a rima, o verso, a estrofe e a métrica como elementos para este processo de construção da mesma.

20 MOISÉS, Massaud. A criação literária- poesia e prosa. São Paulo: Cultrix, 2012. 21 GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons e ritmos. 13ª ed. São Paulo: Ática, 2004, p. 13-66

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Um dos recursos para obtermos um efeito especial de sonoridade é a rima, que pode ser definida como a igualdade ou semelhança de sons na terminação das palavras. A rima só apareceu na literatura latina primordialmente, em decorrência da decadência de métrica quantitativa, que tem como base a alternância e combinação das sílabas longas e breves.

Foi no Modernismo (início do século XX, que durou até meados de 1950, quando surgem novas tendências em poesia) que o autor Vinicius de Moraes atuou. Ao analisarmos a rima nesse período, vemos que os poetas adquirem mais liberdade na escrita, fazendo o uso de versos livres. Trazem, portanto, ritmos mais pessoais. Conserva-se, assim, a liberdade na questão da combinação. Vemos, então, que a poesia moderna se estabiliza mais no ritmo do que na rima, onde vemos que esta se encontra submissa daquele.

Falando em versos livres, vemos que o autor tem autonomia para definir seu próprio ritmo. Sendo assim, ele cria suas próprias normas na escrita. O estilo poético é também determinado como poesia modernista. Ao longo dos séculos, a poesia tem sido usada como forma de expressar os mais variados sentimentos, como o amor, amizade, tristeza, saudade, entre outros. O ritmo é um elemento predominante no poema, pois este se subordina ao ritmo. As ideias sobre este é complexa, segundo Candido (2006, p. 67)

A idéia de ritmo é muito complexa, e freqüentemente muito vaga. Podemos chamar de ritmo a cadência regular definida por um compasso e, noutro extremo, a disposição das linhas de uma paisagem. No primeiro caso, ritmo seria, restritamente, uma alternância de sons; no segundo, uma manifestação da simetria ou da unidade criada pela combinação de formas. (SIC)

Ao ser feita a leitura de um poema, não é a sonoridade que nos chama à atenção, mas, sim, o movimento ondulatório que o próprio movimento faz durante e leitura, isso denominamos de ritmo. Dentre esses fatores já apresentados, podemos analisar um que tem ligação direta ao ritmo, nesse caso estamos falando da métrica. Para se estudar o ritmo de um poema, temos a imposição da divisão dos versos em segmentos. Portanto, vemos que os segmentos rítmicos nos permitem ter a modulação ou adaptação dos versos em suas necessidades expressivas.

Quando fazemos o estudo dos versos, estudamos as sílabas poéticas ao realizar a contagem das mesmas; este estudo é feito com relação ao tempo e ao espaço, assim obtemos por sua vez, a classificação em sílabas tônicas ou átonas. O verso é considerado como “experiência de leitor ou auditor, não se compõem de fonemas nem de sílabas, nem de segmentos rítmicos, mas de palavras.” (Candido, 2006, p. 94).

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Ao estudar os poemas de Vinicius de Moraes, pode-se perceber que o mesmo trabalha com o eu-lírico usando os sonetos e as baladas. O soneto, possui quatorze versos, por isso, dizemos que ele contém forma fixa. O soneto é composto geralmente por versos de dez ou doze sílabas. Assim, temos a sua rima apresentada nos quartetos (AB) e nos tercetos (CD). Para apresentar esta formação, foram estudados os poemas Soneto de Marta e Soneto da

mulher inútil.

Além disso, foi realizado um estudo com o poema Balada de Santa Luzia, como já definido pelo seu título, balada é uma estrutura produzida com o intuito de ser cantada. Os poemas produzidos nesse formato possuem o princípio da repetição, o que facilita gravar na memória o texto ‘em estudo’ nesse caso. É possível perceber que em sua composição, a ideia ou uma frase se repete ao término de cada estrofe.

Como falado anteriormente sobre as obras orais e escritas, no contexto da literatura, falamos sobre as poesias de Vinicius de Moraes, mostrando que o autor está para literatura assim como outros grandes nomes do período modernista, tais como Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Luís de Camões. A poesia é considerada uma obra de arte, dentre tantas outras, e pode ser considerada anterior à escrita. Segundo o dicionário Aurélio (2010, p. 594), poema significa obra escrita em versos ou não, em que há poesia. Ainda é considerado uma composição poética que contém de certa forma extensão com enredo.

Segundo Candido (2006) então vemos que a poesia é a arte de criar imagens, que sugere emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados. Considera-se ainda uma composição poética de pouca extensão, sendo levado em conta o caráter do que emociona, tocando a sensibilidade do leitor. 22

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3. ANÁLISE DA POÉTICA DE VINICIUS DE MORAES 3.1 O AMOR EM VINICIUS

Falar do amor em Vinicius de Moraes é falar de sua evolução, pois o poeta não se absteve de produzir obras nas quais não se percebe um teor político, muito menos fraco quando fala de amor. Ler suas obras é como estar sempre à beira do abismo. Através da leitura feita para fins de análise, notamos que Vinicius de Moraes expressa seus sentimentos, que podem ser considerados como humilde, declarado e franco por quem lê seus poemas. Em suas construções poéticas percebemos como o autor trabalha os três tipos de amor.

Segundo Noemi Jaffe, no texto do segundo capítulo da obra Cadernos de leitura (2009), temos os três tipos de amor em que o autor se espelhou: Eros, Philia e Ágape. Para a autora, das várias teorias que já foram escritas sobre o amor, algumas são atemporais, se mantendo vivas até hoje. A forma mais conhecida e explorada para representar esse sentimento avassalador é pela visão do amor platônico, o qual é especialmente descrito em várias obras. Em suas primeiras escritas, vemos a abordagem do amor de Vinicius de Moraes expresso em Philia, na qual traz a questão do fraterno e do universal.

Segundo Jafee (2009), por Philia entende-se um amor fraternal, companheiro, no qual duas pessoas anseiam pelos mesmos objetivos e desejos. Em relação ao pensamento grego, isso significa o bem. Ainda segundo a autora, as composições nesse tipo de amor envolvem admiração e respeito. Outro ponto marcante na escrita do autor é quando o amor a Deus é exaltado, o qual denominamos Ágape. Vemos o amor em Ágape como desinteressado, incondicional, enfim, um amor pela humanidade e pela vida.

Tal amor se despoja da paixão carnal e se volta para as transcendências do sentimento. Sendo que estes foram utilizados pelo Cristianismo, que se apropriou da ideia desse amor e o colocou como única e verdadeira forma para alcançar a plenitude da vida e as bênçãos de Cristo para com os homens. O autor passa pela fase do amor em Ágape, tanto que, em sua escrita ele acaba por, de certo modo, “condenar o amor carnal”, pois segundo ele, sua escrita era voltada para a divindade contida no ser que são as mulheres.23

A sua mais marcante forma de expressar o amor, a que foi considerada como a mais impressionante e forte é pela face do Eros, pois nele, o autor traz à tona o erótico, o carnal, o amor do próprio amor. Em suas últimas escrituras, o poeta transforma a mulher em um “objeto de desejo” e sofre com o seu próprio amor. O amor em Eros é ascensional, surge da

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ideia e passa necessariamente pelo contato carnal e no fato de poder exercê-lo. Esses amores foram representados em suas obras, tanto nas poéticas, como nas musicais.24 Então, vemos esse amor sendo expresso de forma melancólica, sendo ainda, simbiótico, na adoração, passageiro, efêmero e sensual. Por meio de seus versos livres e de suas produções sobre, que por vezes eram realizadas em baladas ou sonetos, traz na oralidade o coloquialismo, as ironias e a simplicidade extrema de ser. Assim, vemos a dor do amar refletida nas palavras, a dor sentida pelo próprio autor.

Nos inúmeros poemas escritos por Vinicius de Moraes, vemos a melancolia não somente como um mero produto-resultado da separação e do anseio pelo retorno, mas sim, como parte constituinte do próprio amor, que parece sequer, não poder existir sem o foco de sua inspiração e musa: a mulher. É por isso que o autor escreve a sua poesia com tamanha intensidade, quase nunca em estado de calmaria e jamais em estado de apatia, pois a temática tratada sempre consome o leitor por inteiro em tramas que os fisgam pelo amago do ser ao explorar tal sentimento.

Segundo Jafee (2009), amar, de certa forma, é sofrer por causa do próprio amor. Mas esse sofrimento acaba por enobrecer esse sentir, já que, ao ser romântico, o poeta não ama só a mulher a quem se destinam suas obras, mas, sim, ama a si próprio, bem como o amante que sofre. Quando se escreve acerca do amor, de sua realização, implica-se, assim, o ato da realidade e da dessacralização. Isso sustenta a aura de idealização, que por muitas vezes se torna mais importante que a própria temática. Com isso, constatamos em sua escrita: partidas, adversidades e descontrole. 25

Conforme Jafee (2009), Vinicius de Moraes sofistica e rebusca sua visão do amor, mais do que nunca. Ele se torna não só um poeta da paixão, mas um teórico da paixão, que usa o verso para pensar. A poesia é, para Vinicius de Moraes, um meio de conhecimento, tomada de consciência e divulgação de uma verdade. Sua vida ilustra este ideal poético do amor. A mulher em Vinicius de Mores pode ser considerada mais sonhadora, mas não menos forte e intensa, por isso se aproxima do poeta. Vemos então, durante o estudo feito pelos poemas do autor que este amor está vivo e forte.

Portanto será realizado, a partir de agora, um estudo poético literário nas obras de Vinicius de Moraes e, por conseguinte, apresentando uma análise sobre poemas, conforme sua estrutura, tendo como base os estudos sobre poesia e seus eixos complementares, para, em

24 FERRAZ. Eucanaã. Caderno de leituras. In: JAFFE, Noemi. O amor na poesia de Vinicius de Moraes, et al.

São Paulo: Schwarcz LTDA, 2009.

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seguida, ser realizada a análise das obras musicais do autor. Essa análise tem como base o estudo sobre a lírica moderna, a estruturação do poema e o amor em Vinicius de Moraes.

3.2 RECEITA DE MULHER

Através da poesia de Vinicius de Moraes, podemos fazer uma análise da representatividade do papel da mulher perante a sociedade. Vale ressaltar que, a partir do movimento Feminista, que surgiu na segunda metade da década de 1960, no período entre 1968 e 1977, com o propósito de reivindicar os direitos de igualdade entre homens e mulheres, percebe-se então, que a mulher descrita pelo autor transmite essa igualdade, sendo que, em suas palavras, o poetinha coloca a mulher como uma pessoa que não deve ser vista como algo pequeno, frágil, submissa e condicionada a exercer um papel.

Através do lirismo e da sensualidade que foram empregados em suas obras, podemos perceber que a mulher não se faz só de beleza, mas que é uma pessoa forte, guerreira, dedicada, entre tantos outros atributos que anteriormente eram atribuídos somente aos homens. Sendo já mencionados os diversos aspectos acerca da figura feminina, como por exemplo, a idealização e o sensualismo, é possível que sejam esses identificados no trecho a seguir:

[...]

As mais feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso

Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture Em tudo isso (ou então

Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como [na República Chinesa) [...]

(Fonte: MORAES. Novos Poemas II. 2012, p. 25.)

Nesses versos é possível perceber uma imagem metafórica da mulher, a qual ganha atributos, qualidades da flor. No verso “Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso”, vemos que a mulher é vista pelo eu-lírico como algo delicado, complexo, belo, tal como a flor. Além disso, que possua leveza, gingado, sensualidade vindas da dança, como marca o verso “Qualquer coisa de dança”. O eu-lírico marca ainda, um perfil de mulher que seja elegante e empoderada, capaz de transitar no âmbito social. A cor azul usada no verso “Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Chinesa” pode ser visto como algo voltado à natureza e a renovação, vigor e vitalidade.

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No poema “Receita de Mulher”, ele apresenta a mulher com certa sensualidade, pois nas palavras do mesmo “As mais feias que me perdoem. Mas beleza é fundamental”, é perceptível que não se trata somente de uma beleza física, mas também da beleza espiritual, sentimental que cada uma tem e que a diferencia das demais. Por isso, segundo o eu-lírico, nesse mesmo poema ele ressalta que “É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso [...]”, mostrando que não é só o físico que encanta, mas também o intelecto e o emocional, os quais deixam as mulheres lindas.

Ao ler as obras de Vinicius de Mores, é visível que o eu-lírico idealiza a figura feminina, sendo que a sensualidade está interligada a outros fatores como a emoção e a imaginação que o autor utilizou para a produção de suas obras. O eu-lírico nos apresenta uma mulher diferente a cada poema, sendo que elas se interligam de alguma forma, dando esse sentido de sensualidade, mas que ao mesmo tempo, vistas separadas. Podemos perceber o erotismo em cada uma.

Foto 4: Manuscrito do poema Receita de Mulher.

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Ao ser analisado o poema “Receita de Mulher”, vemos também a necessidade de que a mulher – segundo o eu-lírico– seja uma pessoa de intelecto, de buscas, que encante pelo olhar, assim como veremos novamente em outra obra do autor, “Balada de Santa Luzia”, onde o mesmo direciona o olhar como sendo algo sedutor, mas que de nada adianta essa sedução corpórea se as palavras não têm esse poder de encantar também. Portanto, não se faz só de beleza a mulher, mas sim do que ela possa oferecer de conhecimento também. Vemos isso sendo demonstrado nos versos seguintes:

[...]

Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro

[de paixão Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros. Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar

[os olhos Ao abri-los ela não mais estará presente

Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; [parta, não vá E que possua uma certa capacidade de emudecer

[subitamente e nos fazer beber [...]

(Fonte: MORAES. Novos poemas II. 2012, p. 27.)

Como podemos ver nos versos e estrofes acima, o eu-lírico nos apresenta uma mulher como vemos nos dias de hoje, uma pessoa com atitudes mentais e ações. Isso ficou evidente nos versos “Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta/ Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.” Nesse versos, o eu-lírico se refere a muito mais do que à altura da mulher propriamente, mas à sua altivez, capacidade de se colocar acima, enaltecendo suas capacidades mentais e intelectuais. Nesse, ao propor uma receita de mulher, o poeta apresenta uma figura feminina que corresponde ao estilo de mulher ideal criada pelos escritores e, como não podia deixar de ser, pelo nosso poetinha também.

Assim, o poema tematiza sobre algo que também percebemos hoje, que o papel que a mulher desempenha nesta sociedade que consideramos moderna, é de uma pessoa que luta pelos seus direitos, pelos seus ideais e, principalmente, da mulher que luta para sua realização profissional. A muito custo, foram sendo percebidas as mudanças com relação à posição da mulher, essas que vem sendo demasiado lentas no progresso do mundo.

Isso não quer dizer que a mulher deixou de exercer os seus papéis sociais tradicionais historicamente construídos, pois foram criadas desde os primórdios para serem excelentes donas de casa, o que é possível perceber no nosso “novo” cotidiano, onde a mulher, além de

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dona de casa, tem capacidades para ir além, sem que com isso afete sua rotina com seus amigos, esposo, filho (s), até mesmo em sua carreira profissional.

Outro foco de visão que o autor nos coloca é o eixo sedutor, marcado pelo olhar e pelo sorriso, além, claro, do corpo feminino. Com os vários “atributos” apreciados nas mulheres, elas são capazes de emudecer. Vemos isso sendo marcado no verso “Os olhos, que sejam de preferência grandes / E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e / Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro / de paixão”, e trazendo o mesmo sentido de sedutor, no verso “Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar / os olhos / Ao abri-los ela não mais estará presente / Com seu sorriso e suas tramas”, nesse ponto podemos perceber ainda o mistério que as ações das mulheres causam nos homens, e que são capazes de confundi-los.

Neste poema “Receita de mulher”, percebemos que as mulheres encantam pelo conjunto de atributos que possuem, portanto, não podemos classificar uma mulher por ser uma pessoa “x”, por ocupar um cargo “x”, e sim, pelo conjunto de sua obra, isso tudo ainda é visto em outros poemas do autor, assim como, por exemplo, em “Alexandra, a caçadora” ou em “Balada de Santa Luzia”, poemas estes, que serão vistos, assim como analisados no decorrer deste trabalho.

3.2.1 ALEXANDRA, A CAÇADORA

O poema “Alexandra, A caçadora” festeja o aniversário de Alexandra Archer. É uma homenagem feita à filha de Madeleine e Renato Archer, amigos do poeta. Sua primeira publicação foi em Poesia completa e prosa (Nova Aguiar, 1998). No Arquivo-Museu de Literatura Brasileira (AMLB), há três versões do mesmo. Sendo que dessas versões, duas são datilografadas, com muitas emendas, e uma sendo manuscrita26.

Esta última, sendo considerada, sem dúvida, a conclusiva, pois incorpora as mudanças das versões anteriores e não possui nenhuma emenda, vem escrita em um cartão sem pauta – formato almaço – com uma capa manuscrita que traz o título do poema, contendo ainda um desenho de duas flores cruzadas e uma menor. A obra vem com a seguinte inscrição:

poema que foi dedicado no seu primeiro ano de vida por seu muito exclusivo poeta

Referências

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