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3.2.3 BALADA DE SANTA LUZIA

3.2.4 SONETO DE MARTA

Segundo Vinicius de Moraes em seu livro Poemas esparsos (2008, p. 183), o poema “O Soneto de Marta”, apareceu pela primeira vez no livro O breve momento – da editora Lithos, na Edição de Arte, 1977. O volume traz quinze sonetos que são acompanhados por quinze serigrafias de Carlos Leão. A tiragem continha 550 exemplares numerados, assinados pelo poeta e pelo ilustrador.

Como falado anteriormente é um soneto, portanto composto de dois quartetos e dois tercetos. Este soneto é dedicado a uma de suas esposas Marta Rodrigues Santamaría. Este poema é dedicado a Marta, a argentina como era considerada. Marta aproximou-se do autor como tiete e lhe proporcionou um casamento cheio de doçura e leveza.

Nesse momento de sua escrita, Marta lhe traz a paz e o amor que são essenciais a sua escrita que transborda serenidade e impossibilidades. No poema, podemos perceber um amor que deixa de ser encontro e passa a ser desilusão. Por amarem-se, o amor agora se torna voracidade.

Marta é carinhosamente chamada de ‘Martita’ pelo poeta, simbolizando um esforço supremo e desesperado do autor para se manter conectado ao mundo. É perceptível que Vinicius de Mores não deseja mais a paixão e sim ser salvo. Marta por assim dizer, representa a doçura e a leveza que o autor tanto necessita. Vejamos o poema a seguir:

Teu rosto, amada minha, é tão perfeito Tem uma luz tão cálida e divina Que é lindo vê-lo quando se ilumina Como se um círio ardesse no teu peito E é tão leve teu corpo de menina Assim de amplos quadris e busto estreito

Que dir-se-ia uma jovem dançarina De pele branca e fina, e olhar direto Deverias chamar-te Claridade

Pelo modo espontâneo, franco e aberto Com que encheste de cor meu mundo escuro E sem olhar nem vida nem idade

Me deste de colher em tempo certo Os frutos verdes deste amor maduro.

(Fonte: MORAES. Poemas esparsos. 2008, p. 15.)

Podemos observar que este poema do autor representa - o que na época em que foi escrito, em 05/06/1975 na cidade de Ribeirão Preto – a idealização de uma mulher perfeita ao

autor. O autor, através do eu-lírico, nos mostra que a beleza de Marta, é considerada divina, sendo possível perceber no verso “Teu rosto, amada minha, é tão perfeito / Tem uma luz tão cálida e divina / Que é lindo vê-lo quando se ilumina / Como se um círio ardesse no teu peito”.

Traz ainda que a mulher nos mostra sua leveza para a vida do próprio eu-lírico como se fosse uma menina, tratando o corpo dela como de uma dançarina que é representada pela pele branca e fina, mas que mesmo mostrando toda essa ternura, apresenta um olhar direto, essa descrição se encontra no verso “E é tão leve teu corpo de menina / Assim de amplos quadris e busto estreito / Que dir-se-ia uma jovem dançarina / De pele branca e fina, e olhar direto”.

O eu-lírico metaforicamente faz menção s cores no verso “Deverias chamar-te Claridade / Pelo modo espontâneo, franco e aberto / Com que encheste de cor meu mundo escuro”, onde se pode perceber que a claridade metaforicamente remete ao sol que ilumina os dias, e isso só acontece pelo modo do seu ser se presentar ao eu-lírico como o mesmo diz de forma espontânea, franca e aberta. Por isso, a figura feminina enche o mundo do eu-lírico com cores, um mundo que para ele, é escuro.

Vemos então o amor do eu-lírico em êxtase. A escrita transborda esse amor do Eu- lírico que diz ser maduro e que gera frutos, que mesmo verdes, evolui para chegar à medida no tempo certo. É perceptível a sensualidade sendo representada como algo que vem a nossa percepção com o intuito de mostrar que ocorre uma ascensão do ser, que a provê. Essa observação é notada no último verso do poema “E sem olhar nem vida nem idade / Me deste de colher em tempo certo / Os frutos verdes deste amor maduro”.

Vinicius de Moraes é e sempre foi um encantador em suas palavras, apresentando-nos uma figura feminina na qual queremos nos projetar, diferentemente do que cotidianamente vemos a figura da mulher. Essa diferença é perceptível, pois em nós mesmos, está

encapsulada a figura da mulher como um ser que deve ser e se ver útil e agradável a assegurar e satisfazer o desejo masculino, por muitas vezes, deixando assim suas próprias vontades e desejos de lado.

Apesar dessa visualização e compreensão sobre esta figura feminina, vemos que a mulher usa do próprio desejo e sentimentos ser incorporados na visão de seu corpo. Portanto, a mulher usa do que tem a seu ver de mais sedutor e atraente com o intuito de atingir os pensamentos e desejos mais profundos do homem. Isso ocorre através da prática da sedução e do encanto que ela mesma conduz com seu corpo.

Como bem sabemos, no olhar de hoje, não é somente o corpo que seduz um homem, mas a percepção da figura feminina dotada de conhecimentos, projetada como a batalhadora, a sonhadora, a determinada, entre tantos outros atributos. Mas é claro que o corpo encanta e seduz, mas essa visão fica distorcida quando são outros os métodos de sedução. Por vezes, quando percebemos, verificamos que isso chega a assustar o homem, que muitas vezes se vê incapaz diante da figura feminina.

Atribuindo essa sedução às canções, um meio de sedução que ainda é usado pelas mulheres é a dança. A mulher revela através de sua melodia corporal, sendo expressa através de uma exibição lúdica, a sedução. Segundo o dicionário Aurélio, a sensualidade é a qualidade do sensual, intenso prazer sexual, lubricidade, luxúria. (2010, p. 693). Essa classificação está ligada diretamente ao erotismo, sendo que este termo é definido como um conjunto de expressões culturais e artísticas humanas que se refletem e referem ao sexo.

Conforme Cunha (1997), a palavra erotismo provém do latim ‘eroticus’ e este provém do grego ‘erotikós’, que através da etimologia estudada da palavra, por meio da língua portuguesa, vemos que está diretamente ligado ao conceito de amor em Eros, conforme já dizia Jafee (2009). Segundo Chevalier (2007, p. 376) “Literalmente mais próximo do Eros grego, Dionísio, o Areopagita, cita os Hinos eróticos de São Heróteo e interpreta o desejo

amoroso como significando um poder geral de unificação e de conexão, que se traduz no

sentido intelectual de união, para os místicos [...]”.

Nisso, temos a atribuição do amor erótico, originado, por meio de muitas genealogias, sendo a mais aceita, a que o considera filho de Afrodite e de Hermes27. Com isso, vemos que

o amor está contido nas canções, e não poderia ser de forma diferente nas de Vinicius de Moraes. Assim como em seus poemas, temos o eu-lírico expresso nas canções que o autor produziu, muitas destas criações, em parceria com grandes músicos. Três de suas canções

27 CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos,

mais populares, entre tantas outras, belas por assim dizer, contêm alguns dos mais importantes tratamentos que o poeta deu às formas de amar.

As canções “Chega de saudade”, “Eu sei que vou te amar” e “Garota de Ipanema” trazem ao ouvinte e ao leitor uma mostra do amor melancólico, que se transforma em um amor simbiótico, nos remetendo à questão da adoração e, por que não dizer, um amor de passagem, efêmero, sendo que ainda induz ao amor sensual. Por isso, foi selecionada a música “Garota de Ipanema” para começar a realização ad análise a seguir.

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