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3.2.3 BALADA DE SANTA LUZIA

4. VINICIUS ATRAVÉS DAS MELODIAS

4.1 UM ESTUDO SOBRE GAROTA DE IPANEMA

Uma canção que ficou reconhecida pela melodia, ritmo e gingado bem brasileira, de uma garota linda que passeia pelo famoso calçadão de Ipanema, inesquecível devido à própria letra foi “Garota de Ipanema”. Essa canção, assim como em outras obras do autor, tais como “Chega de saudade” e “Eu sei que vou te amar”, trazem em sua estrutura escrita e posteriormente ouvida, tratamentos – melancolia, amor simbólico, adoração entre outros – onde o poeta reflete as suas formas de amar.

Segundo Castro (1990), o que contam em histórias e que estas ainda são repetidas ao estudar Vinicius de Moraes ou Tom Jobim, é que a construção da letra de “Garota de Ipanema” foi escrita em um bar chamado Veloso, onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes se encontravam, logicamente bebendo - uma cervejinha como de costume – na cidade de Ipanema, quando olharam, viram uma moça passar e ao que se sabe, em harmonia, começaram a compor a letra como se fossem falas.28

1: Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça 2:É ela, menina, que vem e que passa

1: Seu doce balanço, caminho do mar

Não se sabe ao certo quem começou a conversa, mas notaram que poderia se tornar a letra de uma música, tanto que a escreveram em uma dessas embalagens marrons utilizadas para venda de produtos. Através de sua composição letrada podemos perceber que há certo encanto, uma sedução, referente às mulheres cariocas, trazendo um clima de romance e mistério ao desvendar essa musa. A musa em questão é nada mais nada menos que Heloisa Eneida Menezes Paes Pinto, mas essa é uma das tantas lendas da Bossa Nova retratadas por Ruy Castro.29

Segundo Castro (1990), outra versão dessa lenda é que, em uma conversa ocasional antes da apresentação do show do Bom Gourmet, os três, durante o embalo de uma conversa começaram: “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça...”, e sim, a musa realmente era Heloisa, mais conhecida como Helô. É verdade que foi no inverno de 1962 que Tom Jobim e Vinicius de Moraes a viram passarem, não uma, mas inúmeras vezes em um local chamado

28 CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e As histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das

Letras, 1990.

Veloso. Ao que se sabe, ela nem sempre esteve a caminho do mar, por vezes esteve a caminho do colégio, da costureira e até mesmo do dentista.

O fato é que, é possível comprovar que essa lenda não é verdadeira de fato, pois a composição da letra “Garota de Ipanema” se deu em parceria entre Tom Jobim, João Gilberto e Vinicius de Moraes. Essa canção é um dos maiores clássicos da Bossa Nova, sendo que sua estreia foi em um show do Bon Gourmet, o último a se apresentar por ordem alfabética foi Vinicius de Moraes e Tom Jobim que dedilhou notas no piano em agosto de 1962.

A musa estava em seus plenos quinze anos, com seu 1,69m, olhos verdes e cabelos pretos longos e escorridos. A moça morava em Montenegro e como vemos através da canção, era muito admirada no local, pois entrava com certa frequência para comprar cigarros para sua mãe, e claro, saía do estabelecimento sob uma sinfonia de assobios. A letra, porém, não foi feita no bar chamado Veloso, que hoje tem o nome da própria canção, na Rua Montenegro que hoje é Vinicius de Moraes, na esquina com Prudente de Moraes que não possui ligação com os demais. Nunca foi do feitio da dupla escrever música em bares, se bem que foram investidas nelas, as melhoras horas de suas vidas. 30

A princípio a música não se chamava “Garota de Ipanema” e sim “Menina que passa”, e sua composição inicial não é como a conhecemos hoje, mas sim: “Vinha cansado de tudo/De tantos caminhos/Tão sem poesia/Tão sem passarinhos/Com medo da vida/ Com medo do amor/ Quando na tarde vazia/ Tão linda no espaço/Eu vi a menina/ Que vinha num passo/Cheia de balanço/Caminho do mar”. 31

Um fato incrível é que Helô assoviava diariamente a canção quando estava a caminho do mar, sem saber que tinha sido ela a sua musa, mas suponha-se que ela desconfiava, pois em 1962, duas pessoas que trabalhavam em Fatos & Fotos, sendo um o repórter Ronaldo Bôscoli e o fotógrafo Hélio Santos, atazanavam a moça para fotografá-la na praia. Só conseguiram a foto após falarem com o pai da garota. A canção Garota de Ipanema foi gravada mais de 240 vezes por vários cantores.

Foto 7: Manuscrito da letra da música garota de Ipanema.

30 CASTRO, Ruy. Chega de saudade – A história e As histórias da Bossa Nova. São Paulo: Companhia das

Letras, 1990.

Fonte: Nota de rodapé 32

Ao analisarmos esta letra musical, percebemos que primeiramente a melodia desta canção nos faz sentir como se tivéssemos numa praia. Na realidade nos faz pensar como se estivéssemos sentindo o balançar de ondas em nossa própria pele. Ao escutá-la no decorrer que se segue, temos um toque sutil de nosso samba, podendo assim ter a sensação de sermos embalados. Conforme Med (1996), a estrutura melódica é usada na fórmula de compasso binário (2/4), ou podendo ser classificado em compasso simples.33

Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça É ela, menina, que vem e que passa

Seu doce balanço, caminho do mar Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema O seu balançado é mais que um poema É a coisa mais linda que eu já vi passar Ah, por que estou tão sozinho? Ah, por que tudo é tão triste? Ah, a beleza que existe A beleza que não é só minha Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse que quando ela passa

32JOBIM, Antonio Carlos. Acervo digital: Imagens de partituras. Acesso em: http://www.jobim.org

O mundo inteirinho se enche de graça E fica mais lindo por causa do amor

(Fonte: CD: Coletânea de músicas, de Tom Jobim. 2006)

Segundo Med (1996), podemos observar um sistema de três pentagramas, sendo que na primeira parte, usa-se melodia e cifra – sendo estas classificadas em Sol, MI, Dó e com alternâncias em melodia maior Lá; já a segunda e terceira parte apresenta uma redução analítica, usando os elementos gráficos – usa-se Mi e Ré, com alternâncias em melodia maior Fá. Segundo Forte (1995. p 43). Sua estrutura formal se define pela fórmula ternária (AABA). Isso é possível perceber em sua partitura.

Ao realizar uma análise da letra da canção, vemos que a mulher a quem se endereça a mesma, é misteriosa e carismática, possui um gingado. Através do verso “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça / É ela, menina, que vem e que passa / Seu doce balanço, caminho do mar” temos a sensação do gingado da cintura de uma mulher, e esse gingado é que faz com que deixe esse torpor. Por ser menina, metaforicamente falando, ainda é como um broto de rosa, que ao se abrir mostra seus segredos.

É perceptível que a letra da música fala não somente sobre a mulher, mas sobre o Rio de Janeiro, sobre a praia e as garotas cariocas que lá encontramos. Isso nos remete que não é só a mulher, mas sim, a garota de Ipanema. Além disso, no verso que analisamos, “Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema / O seu balançado é mais que um poema / É a coisa mais linda que eu já vi passar” o eu-lírico aborda, metaforicamente falando, que o balanço do corpo dessa figura feminina é mais que um poema, com isso encanta durante sua travessia.

Essa música se tornou tema da novela Aquele Beijo que foi apresentada na emissora

Globo de televisão, tendo seu primeiro episódio exibido em 17 de Outubro de 2011, como

tema de abertura. A música descreve não só Helô, mas também, todas as mulheres que possuem um corpo dourado, um balanço e que é considerada linda perante ‘Eus-líricos’. Pode-se notar também o sofrer que sentem os mesmos – pela própria dor do amor – que ambos demostraram e isso se reflete quase como uma declaração a figura feminina.

A expressão amorosa de Vinicius de Moraes aqui é colocada em uma contemplação e fruição do amor fugaz, onde vemos a mulher que passa e que, de certa forma, neste caso, se torna inatingível. Contudo, sua inacessibilidade pode ser vista que não causa dor, mas sim, um vago sentimento nostálgico e de certa forma prazeroso. Isso fica evidenciado no verso “Ah, por que tudo é tão triste? / Ah, a beleza que existe / A beleza que não é só minha / Que também passa sozinha”, por meio de uma tristeza, o eu-lírico nos remete à questão da dor de amar.

Percebemos que essa dor é tangível, quando o eu-lírico diz estar triste, ao que pode-se perceber, sua tristeza é pela beleza que não pode ser só dele, mas que está exposta ao mundo. No verso seguinte “Ah, se ela soubesse que quando ela passa / O mundo inteirinho se enche de graça / E fica mais lindo por causa do amor”, o eu-lírico apresenta novamente a beleza que encanta, mas que não sabe o tamanho de seu poder. Ainda é possível também perceber, que a questão do sofrer pelo amor expressa pelo eu-lírico, é atribuída à figura feminina.

Podemos ainda notar que com base na escrita de Vinicius de Moraes, que esta está voltada muito mais para as proximidades do século XX, do que quando seu amor era de adoração ou amor dolente. Já no estudo da música seguinte, percebemos de certa forma, um amor incondicional a quem a música e a representatividade dessa figura feminina que se faz marcada na vida do eu-lírico.

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