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Ecofeminismo: a luta pela liberdade da “Mãe –Terra”

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Academic year: 2021

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ADRIELI LAÍS ANTUNES AQUINO

ECOFEMINISMO: A LUTA PELA LIBERDADE DA “MÃE –TERRA”

Santa Rosa (RS) 2019

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ADRIELI LAÍS ANTUNES AQUINO

ECOFEMINISMO: A LUTA PELA LIBERDADE DA “MÃE –TERRA”

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Estudos

Jurídicos e Sociais.

Orientador: Dr. Daniel Rubens Cenci

Santa Rosa (RS) 2019

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai Márcio José Alves Aquino, meu forte incentivador desde sempre, que me ensinou tanto, e provou com sua história que é possível perseverar e vencer na vida com honestidade e respeito.

À minha mãe Maria Eunice Antunes Aquino, meu exemplo de inteligência, quem me inspirou o gosto pelos livros e, que sempre me incentivou a ser e fazer o melhor que puder.

Ao meu irmão Márcio Gabriel Antunes Aquino, meu orgulho, que me ensina todos os dias a necessidade da calma e descontração na vida, gratidão pelas brincadeiras e risadas nesse decorrer.

Ao meu orientador Daniel Rubens Cenci, pela dedicação, disponibilidade e empenho no decorrer desse processo, em seu nome também expresso gratidão a todos os meus professores/as e reconheço a paciência e o esforço de cada um sem exceção.

A todas as pessoas que não mencionei, mas são importantes e fizeram parte da minha caminhada, deixo claro que não estão esquecidas: se me tocaram de algum modo podem ter certeza que agradeço com toda intensidade.

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E porque a vida irrompeu nesse universo, tomou-se vitalmente mortal que o amor do instante tem que ser intenso, que o respeito a todos os seres uma obrigação, a busca da justiça uma luz e a felicidade possível um direito inalienável de todos os seres. Há uma beleza nessa indissociabilidade e interconexão que nos convida a desenvolver posturas de vida que não posterguem a justiça e a ternura e a felicidade para uma eternidade imaginada; posturas de vida que revalorizem o efêmero, o momento que passa, o pôr-do-sol, a flor, a morte. Efêmera é a vida e o conhecimento, efêmera e misteriosa é a sabedoria. (GEBARA, 1997, p.66)

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise das diferentes concepções do movimento social ecofeminista, sua evolução histórica partindo do feminismo na sociedade. Tratando-se como uma teoria da libertação da dominação dos homens sobre as mulheres, que ocorre da mesma forma sobre a natureza, um paralelo acerca da importância social do lugar político das mulheres na sociedade em busca da sustentabilidade ambiental. Identifica também a relevância da participação política e social feminina no ativismo ambiental. Para a realização deste trabalho utiliza-se o método de pesquisa exploratória, a partir de análises efetuadas e investigação bibliográficas em livros, sites, internet em geral, de modo a compreender os conceitos e paradigmas que perduram em sociedade sobre o tema. Utilizando os fatos e teorias para revelar a importância do tema, enriquecendo a discussão. Finaliza concluindo que é imprescindível uma ampla consciência ecológica nos cidadãos, esse empoderamento feminino promove essa importante ação, atuando na proteção ao meio ambiente e promovendo a resiliência do mesmo.

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The present course conclusion paper analyzes the different conceptions of the ecofeminist social movement, its historical evolution starting from feminism in society. Treating itself as a theory of liberation from the domination of men over women, which occurs in the same way about nature, a parallel about the social importance of women's political place in society in search of environmental sustainability. It also identifies the relevance of women's political and social participation in environmental activism. For the accomplishment of this work the method of exploratory research is used, from the accomplished analyzes and bibliographical investigation in books, sites, internet in general, in order to understand the concepts and paradigms that last in society on the subject. Using facts and theories to reveal the importance of the topic, enriching the discussion. Concluding concluding that a broad ecological awareness in the citizens is essential, this female empowerment promotes this important action, acting to protect the environment and promoting its resilience.

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INTRODUÇÃO ... 8 1 O LUGAR DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA .. Error! Bookmark not defined. 1.1 A família ... Error! Bookmark not defined. 1.2 A mulher como sujeito político ... Error! Bookmark not defined. 1.2.1 A mulher no direito ... Error! Bookmark not defined.8 1.2.2 A mulher no espaço público ... 23 1.2.3 A mulher contemporânea ... Error! Bookmark not defined.7 2 ECOFEMINISMO ... 31 2.1 Movimentos Feministas ... 31 2.2 Ecologia e Sustentabilidade ... Error! Bookmark not defined.5 2.2.1 Agroecologia e Mulheres ... Error! Bookmark not defined.9 2.2.2 Protagonismo Feminino na Busca da Sustentabilidade ... 43 2.2.3 Ciência Sustentável Feminista ... Error! Bookmark not defined.7 CONCLUSÃO ... 52 REFERÊNCIAS ... 54

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo que aborda as diferentes concepções do movimento social ecofeminismo, sua evolução histórica partindo do feminismo na sociedade. Tratando-se como uma teoria da libertação da dominação dos homens sobre as mulheres, que ocorre da mesma forma sobre a natureza, um paralelo acerca da importância social do lugar político das mulheres na sociedade em busca da sustentabilidade ambiental.

Essa busca e emancipação feminina - ambiental é extremamente necessária face à crescente crise ambiental que estamos inseridos, que atinge todo o contingente humano e demais sistemas vivos. A participação social feminina e o ativismo ambiental da mesma é consubstanciado devido ao seu lugar social pré-determinado pela sociedade patriarcal, que contribuiu para a percepção da necessidade da preservação ambiental.

As considerações em relação da abrangência e importância do feminismo vêm se transformando e ampliando ao longo dos anos. As lutas sociais em torno da busca da sustentabilidade ambiental pelas mulheres se intensificam na contemporaneidade, tendo em vista estarem saindo de realidades opressivas e, conquistando seu lugar como sujeito político. Antes do cristianismo, as mulheres eram endeusadas e respeitadas como seres que traziam a vida, bem como, entendiam o meio ambiente como uma força feminina.

Assim, o presente estudo questiona a relação das mulheres com a sustentabilidade da natureza, tendo em vista a responsabilidade da mulher na

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economia familiar, que fora criada por meio da divisão do trabalho, do poder e da propriedade, e, a importância dos movimentos feministas na construção de uma cultura de proteção ambiental.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi feita uma abordagem histórica do que significou ser mulher ao longo do tempo, seu lugar na sociedade. Analisa-se a mulher na família, a compreensão da dicotomia público-privado, a presença (não- presença, inicialmente) na política e sua importância perante a sociedade em geral.

No segundo capítulo são investigados os movimentos feministas e o ativismo em busca da libertação dos estereótipos, lugares pré- determinados e enfim, o ecofeminismo como uma teoria e ação para a promoção da sustentabilidade e preservação do equilíbrio ambiental no nosso Planeta.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas em livros, sites, internet em geral, de modo a compreender os conceitos e paradigmas que perduram em sociedade sobre o tema. Utilizando os fatos e teorias para revelar a importância do tema, enriquecendo a discussão, com o método de pesquisa exploratório.

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1 O LUGAR DA MULHER AO LONGO DA HISTÓRIA

A história da mulher foi demarcada por lutas e reivindicações, por buscas de seus direitos e questionamentos, inicialmente objetivando os direitos das mulheres, após visando uma gama de direitos sociais importantes, como a saúde e educação.

A teoria feminista como um meio de reivindicações de direitos das mulheres é um movimento social, filósofo e político, que basicamente trata-se da luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Tendo em vista que grande parte do mundo contemporâneo ainda está imerso na lógica patriarcal de família e espaço público (em geral), é importante entender as origens desse pensamento social.

Realizadas as primeiras colocações, o presente capítulo tem por objetivo analisar o tema historicamente, ou seja, a origem dos motivos que levaram as mulheres a serem o centro da economia doméstica e verificar as contribuições históricas das mulheres em busca de direitos sociais.

1.1 A Família

Da etimologia da palavra família, famulus significa escravo doméstico e, por conseguinte família é o conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem. Conforme aduz Engels, tal expressão foi inventada pelos romanos para intitular uma forma social, cujo chefe mantinha sob seu poder sobre a mulher, os filhos e escravos, o pátrio poder romano compreende o direito de vida e morte sobre todos eles. (ENGELS,1964, p.71)

Historicamente as mulheres possuem um lugar de inferioridade social, o direito paterno substituiu o direito materno, a transmissão da propriedade faz-se de pai a filho e não da mulher a seu clã, tal conjuntura se dá quando a agricultura caracteriza o surgimento da propriedade privada, surge a família patriarcal, consoante ao entendimento de Beauvoir. (BEAUVOIR, 1970, p.74)

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Veja-se que Aristóteles no século V a.C. elenca os aspectos físicos da mulher como negativos, alegando que ela própria é um defeito, uma imperfeição. Por exemplo os seios, podem ser distintos por serem maiores que os dos homens, carnes moles e rapidamente flácidas, sendo sinal de insuficiência, “tendo nascida fêmea por causa de uma espécie de impotência do seu pai, a mulher caracteriza-se, por sua vez, por uma impotência.” (DUBY; PERROT, 1990, p.104)

Tendo tal aspecto negativo advindo culturalmente, pela diferença entre os gêneros, a subordinação feminina era justificada amplamente pela sua ligação e semelhança com a natureza. Em primeiro lugar pelo seu caráter de criação (reprodução da espécie), tendo em vista a cultura humana submeter a natureza, a mulher é incluída no propósito da cultura.

É o pai que transmite a alma e a forma, graças ao movimento inscrito no esperma; o macho, e só ele, é o princípio exclusivo da geração, arché tês

genéseos. Visto que a mãe não é um genitor, mas fornece unicamente o

material inanimado, passivo e espesso, que é o sangue menstrual, ela não deveria poder transmitir uma forma própria [...]. Como explicar o nascimento de fêmeas? Invocando eventual enfraquecimento da dynamis masculina. (DUBY; PERROT, 1990, p.104)

Ao ser considerada pela sociedade antiga como um ser incompleto e subalterno, diminui-se a capacidade de ser mãe das mulheres, tal como indicam as autoras supracitadas, os homens seriam os detentores da ampla capacidade de reprodução e perpetuação da vida humana, ao passo que possuiriam exclusivamente o princípio criador.

Já, o entendimento de Platão difere um pouco de Aristóteles, parafraseando Nielsson, quanto as mulheres, mesmo que as considere inferiores aos homens, em seu livro da República menciona as guardiãs, traz a identidade de natureza entre homens e mulheres, sobre a alma, assevera que algumas mulheres, as guardiãs destacadas, possam participar das tarefas cívicas, em consequência possibilitando o acesso isonômico a educação. Platão afirma que a alma (estado espiritual) não tem sexo. (NIELSSON, 2016, p.26)

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No entanto, houve o domínio da ideia de inferioridade das mulheres em sociedade, que inicia no agrupamento inicial primordial a todas as pessoas, a família. Nessa família a mulher é oprimida, o homem é o senhor, o adultério faz parte do mesmo e a moral dupla nesse sentido, nos primórdios da construção familiar há tal consolidação, conforme Fustel de Coulanges (1961, p.32):

Somente o pai possuía o princípio misterioso do ser, e transmitia a centelha da vida. Dessa antiga opinião resultou que o culto doméstico passou sempre de homem para homem; a mulher, dele não participava senão por intermédio do pai ou do marido; depois que estes morriam, a mulher não tomava a mesma parte que o homem no culto e cerimônias do banquete fúnebre.

Tal passagem demonstra que na família antiga, quem era considerado o detentor da capacidade da vida era o homem apenas, a mulher era percebida como uma extensão masculina, que acompanhava e auxiliava, não tendo papel importante na família e no culto familiar, a família antiga era mais uma aliança religiosa do que natural. Ainda, traz Simone de Beauvoir: “A humanidade é masculina e o homem define a mulher não em si, mas relativamente a ele; ela não é considerada um ser autônomo.” (BEAUVOIR, 1970, p.10)

É importante destacar a importância que o período colonial possui na formação social dos espaços determinados aos gêneros, os papéis pré-estabelecidos remetem a subordinação feminina. Na sociedade patriarcal o homem, portanto, marido, pai, até os filhos homens, tinham muito mais direitos do que as mulheres, tal como denotam os autores Boris e Cesídio (2007, p. 456):

O homem tinha o dever de trabalhar para dar sustento à sua família, enquanto a mulher tinha diversas funções: de reprodutora, de dona-de-casa, de administradora das tarefas dos escravos, de educadora dos filhos do casal e de prestadora de serviços sexuais ao seu marido.

Então, a maternidade passou a ser a principal satisfação e atividade na vida das mulheres, seus serviços para a preparação das novas gerações em termos de saúde, intelectualidade e educação tornam-se indispensáveis. As amas de leite e criadas ou servas deixam de ser prioridade devido à alta taxa de mortalidade infantil e, no período colonial as mães são mais atarefadas.

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Pela mesma razão, nas famílias mais ricas, em conformidade com o entendimento de Duby e Perrot, era orientação médica alterar os corpos dos bebês recém nascidos, utilizando ligaduras que envolviam totalmente a criança. A ama ou a mãe apertava as ligaduras nos ombros e em volta do peito, no caso das meninas, que se ambicionava estreito, deixando completamente livres as ancas com o propósito de obter uma bacia larga. (DUBY; PERROT, 1990, p.354)

A maternidade era mais valorizada do que a qualidade de vida das meninas, tal como elucidado anteriormente, pois era conhecido que uma bacia larga era melhor para a gravidez no momento do parto. O intuito da modificação corporal era além de minimizar as mortes infantis, também garantir que o corpo feminino estaria pronto para uma gravidez precoce (de sucesso), tendo em vista a tenra idade dos casamentos no passado.

A mulher estava sempre em função do patriarca, nunca de si mesma, seus afazeres e vida consistiam no âmbito doméstico, e suas vontades e desejos não tinham relevância para os demais membros da família e sociedade. É uma situação embaraçosa, pois tal submissão construída é também muitas vezes esperada pelas mulheres, sobre a conexão marital, Sheila Rowbothan conclui que:

Ademais, a relação entre homem e mulher não se parece com outra relação entre opressor e oprimido. É, bem mais delicada, bem mais complexa. Afinal, com frequência os dois se amam. Trata-se de uma suave tirania. Somos submissas no próprio momento da intimidade. Essa submissão extática é, portanto, muito diversa da relação entre operário e capitalista. Os operários são capazes de conceber o próprio mundo num futuro em que o capitalista já não figure. Não podemos imaginar um mundo sem a existência de homens. (ROWBOTHAN, 1983, p.71)

É importante destacar a peculiaridade das relações humanas que justificam a submissão feminina familiar, tal como se construiu o sistema patriarcal, o amor é algo subsidiário nesse caso, sendo o controle e a ordem pré-estabelecida do lar, o escopo principal. Tal como a literatura traz, as princesas, belas e castas, não poderiam se dar ao luxo de casar por amor, os casamentos eram alianças, detentores de mais regras sociais e obrigações, do que afetos.

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A degradada condição da mulher, convertida em servidora, em escrava e em simples instrumento de reprodução, é vigorosamente manifestada entre os gregos e entre os romanos dos tempos clássicos. Parafraseando Engels, tem sido gradualmente emendada e dissimulada, de formas mais suaves, porém nunca suprimida, como efeito primário do poder exclusivo dos homens, a família patriarcal. (ENGELS, 1964, p.77)

Ao digitar no site de pesquisas google, “submissão da mulher”, aparecem dezenas de resultados alegando que tal conduta é divina e necessária para a harmonia da família, a religião possui um papel decisivamente forte para manter o lugar que fora dado historicamente as mulheres. Constata-se no seguinte trecho, Efésios 5:22-23: “As mulheres casadas sejam submissas aos maridos como ao Senhor. Pois o marido é cabeça da mulher como Cristo é a cabeça da Igreja, seu corpo, de que é o salvador.” (BÍBLIA SAGRADA, 1982)

Portanto, é uma ideia incutida durante tanto tempo nas pessoas que se formou a moral nuclear da família patriarcal. As meninas tendo uma criação totalmente diferente dos meninos, onde aprendem a cozinhar, bordar, tarefas domésticas em geral e de cuidados com os filhos, a depender do tipo de formação religiosa que cada família possui, as meninas crescem longe das famílias, em conventos e aguardando seus casamentos arranjados.

[...] a família tem permanecido sempre uma instituição pré-contratual, ainda situada no “estado natural”, ou perdida por trás da espessura do “véu da ignorância” (...) Por exemplo, embora a santidade da integridade física de alguém e a prevenção de dano físico arbitrário tenha sido um fruto valioso do pensamento político liberal desde Hobbes e Locke, o reconhecimento da integridade do corpo da mulher, e sanções legais efetivas contra o rapto, a violência e sexo forçado na vida doméstica ainda estão longe de ser universalmente aceitos nas democracias ocidentais. (BENHABIB; CORNELL, 1987, p.17)

Ainda que o direito evolua, o espaço privado da família é um “local de difícil acesso”, em particular no caso da Igreja, que pregava regras de amor, por exemplo na idade média, sobre não matar, não roubar, amar ao próximo como a si mesmo. Tais regras devem ser aplicadas na comunidade e, não há uma preocupação quanto

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ao privado, como as questões são resolvidas dentro da casa dos cidadãos/fiéis de acordo com o chefe de família.

1.2 A Mulher como Sujeito Político

Com efeito, ser um sujeito político significa poder interferir na história, promovendo a orientação da sociedade da qual é incluído, participando nas decisões essenciais dos membros desta sociedade. Bem como atuar de maneira ativa para que as questões negativas que estão no seu meio sejam resolvidas.

Essa premissa já exclui as mulheres da política, pois tendo sido educadas para a família, não para o mundo social e do trabalho, há um afastamento imposto as mulheres sobre as decisões da vida social. Tal como aduz Verucci, trazendo o nível que a mulher se encontrava socialmente, análoga as crianças, doentes e incapazes.

Pela herança das leis ibéricas, a mulher pertencia ao imbecilitus sexus, junto com as crianças, os doentes e os incapazes; podia, porém herdar e administrar a propriedade, embora, politicamente, essa ação somente pudesse ser exercida em favor dos interesses da família. (VERUCCI, 1987, p. 20)

Os afazeres, ou o trabalho doméstico, que incluem a criação dos filhos, preparação das refeições para a família, limpeza e saúde, integram um grande volume de produção socialmente imprescindível. Para Rowbothan (1983, p.120) “Contudo, numa sociedade baseada na produção de mercadorias, não é em geral considerado ‘verdadeiro trabalho’, uma vez que não é comercializado. ”

Tendo em vista a desvalorização social do trabalho das mulheres na família, sua importância é diminuta perante a sociedade, consequentemente a sua participação política é singela. Nota-se que na Roma Antiga, a mulher era qualificada ao casar: “a mãe no sistema jurídico romano: ela nunca é instituída nem determinada pelo direito. Em compensação, o título de ‘mãe de família’, correlativo de paterfamilias, depende estritamente do casamento.” (DUBY; PERROT, 1990, p.166)

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Entende-se que a mulher possui seu lugar na família, sendo legitimada apenas quando a compõe, a mulher casada então no passado é a que seria honrada (e cidadã), porém sem ter nenhum direito de participação social. Já, a partir do iluminismo é constante a ideia de justiça e cidadania, de tal modo que as mulheres também queiram participar deste movimento e firmar seus direitos como cidadãs.

[...] as mulheres articulam suas vozes, em ocasiões de maneira isolada, outras coletivas, para deixar-se ouvir publicamente suas reivindicações: “E nós também somos cidadãs”, reivindica mademoiselle Jodin (apud MUÑOZ, 2008) em seu Projeto Legislativo para as Mulheres, dirigido à Assembleia Nacional em 1790, no qual demonstra a emergência de um novo sujeito social que reivindica sua aparição plena no espaço público, com os atributos próprios da cidadania: os direitos políticos. (NIELSSON, 2016, p.109)

Os direitos políticos das mulheres emergem em uma esfera de pretensão por melhores condições de vida, a busca se dá pelo direito à educação, ao trabalho, direitos matrimoniais, bem como ao voto. Essa busca pela participação política foi viável “pela convergência destes dois fatores: participação na produção, libertação da escravidão da reprodução, que se explica a evolução da condição da mulher”. (BEAUVOIR, 1970, p. 157)

Como a mulher passa a ter um domínio maior da sua sexualidade, por meio do controle de reprodução que possibilita sua saída do ambiente intrafamiliar, a mesma se depara com um ambiente hostil, onde os papéis pré-determinados não se moldam a ela facilmente. Difícil ocupar seu espaço como cidadã.

Na virada do século XIX é que ganham forças as manifestações pelo volto feminino, o movimento que surgiu forte nos EUA, denominado de sufragistas, foi o responsável por disseminar e consolidar a participação feminina no voto. Consoante o entendimento de Ângela Davis, as lutas das trabalhadoras poderão assegurar à mulher uma posição igual e salários iguais no mundo do trabalho, possibilitando muitas oportunidades tais como escolas, faculdades e carreiras profissionais, que ela terá em suas mãos um poder moral de modificação social. (DAVIS, 1981, p.143)

Importante frisar o aspecto de libertação maior das mulheres a partir do seu controle sobre a sua sexualidade, no aspecto da gravidez, que propiciou a mudança

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de cenários e, assim fomentou a busca por espaço político pelas mulheres. Além da possibilidade de instrução acadêmica como forma de emancipação feminina, há também o trabalho, que se consolidou, afirma Rowbothan:

[...] a organização das mulheres em sindicatos é o primeiro passo necessário, mas as mulheres precisam também obter o controle sobre a política sindical e criar novas formas de organização que unam o lar ao trabalho. Simplesmente por terem expectativas diversas das dos homens, simplesmente por estarem afastadas de determinadas áreas do capitalismo, acham-se bem equipadas para buscar uma outra forma de organização social. (ROWBOTHAN, 1983, p.169)

A respeito do trabalho, as mulheres precisaram se organizar em sindicatos para possuírem a força necessária de emancipação política, é fato que as suas pautas seriam diversas dos homens (já incluídos desde “sempre” nos processos decisórios sociais). Tendo em vista a visão de mundo completamente diferente, portanto, a mulher consegue visualizar situações sociais precárias que precisam ser alteradas, devido a percepção que possuem justamente por saírem da zona de conforto e adentrarem no espaço público que antes lhe era negado.

No campo da participação política no Brasil, em 1996 havia uma lei em vigor que assegurava a obrigatoriedade de uma cota mínima de 20% nos cargos legislativos para as mulheres. Consoante ao entendimento de Barbieri (2000, p.07), fora um grande avanço, pois possibilitou a entrada das mulheres nos partidos políticos (que antes não as aceitavam), bem como houve a Lei de Cotas (Lei 9.504, de 30.09.1997 (LGL\1997\91)) que, em seu art. 80 determinou a reserva de no mínimo 25% e no máximo 75% das vagas de cada partido ou coligação, para candidatos de cada sexo.

É vital que a dicotomia estabelecida entre o público e o privado pela família patriarcal seja cada vez mais superada, para que as mulheres possam alcançar o apogeu das suas cidadanias, a equidade de participação política e social.

1.2.1 A Mulher no Direito

O direito é intrínseco a evolução da sociedade e sua moral e costumes, a ética jurídica é subsidiária da noção de equidade e justiça que os indivíduos do

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local possuem. Além disso tem a finalidade de regulamentação social e organização, de modo que a vida se torne de certo modo, justa. Levando isso em conta, obviamente as mulheres não dispuseram dos direitos que possuem de modo fácil, bem como a subordinação feminina ainda se encontra na mente de muitos cidadãos.

Durante a era pré-Cristã houve a preponderância ou mesmo a superioridade da mulher tanto no contexto familiar como no da sociedade, o reconhecimento exclusivo da ascendência materna que Johann Jakob Bachofen traz sobre a ginecocracia, sistema em que o direito materno fora superior ao paterno. O autor fora muito mencionado e pouco lido, suas teses, no final do século XIX e durante o século XX, foram apreendidas como princípios na literatura de comunistas, socialistas, anarquistas, feministas, humanistas, dentre outros, ainda, traz Barbosa (2018, p.89):

O amor maternal representava o ponto de luz da vida, e assim, essa linha genealógica acaba por render às mulheres um domínio absoluto num estágio chamado ginecocracia – Bachofen fala em heterismo. Regia, portanto, o “ius naturale”. Bachofen diz: “em minha apresentação destacarei especialmente os passos da elevação da espécie humana de estados absolutamente animalescos à cultura do matrimônio, e nisso procurarei tornar clara a transformação gradual de ‘ius naturale’ a um positivo ‘ius civile’” (1861, p. 10). A lei natural pressupõe o homem inserido numa ordem caótica, original. Ao patamar de existência primitiva, a mulher, com sua vocação religiosa, contrapunha a humanidade, o que comprovam ritos à Demeter, deusa da terra, da agricultura, e com isso propunha um modo de vida que vai se estabelecendo mais elevado, tranquilo, inclusive monogâmico.

A análise que Bachofen faz acerca da mulher como um ser merecedor de direitos iguais e até de uma certa superioridade sobre os homens, é composta pela ideia central de civilidade que as mulheres possuem com o advento das famílias e o cuidado materno como algo imprescindível a sociedade. Ainda, na noção da saída do ius naturale destaca que no princípio o óbvio era mais valorizado, sendo a mulher certa de sua filiação, os direitos como o de sucessão e representação, por exemplo, seriam inerentes às mulheres, sem sombra de dúvidas.

A partir do momento em que as cidades se organizam diferentemente, como já mencionado no texto, houve a sobreposição dos interesses femininos pelos

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masculinos, com intensa discrepância entre os mesmos. A mulher passa de um ser endeusado pela maternidade, para um ser estereotipado (negativamente) por ela.

Nota-se o aspecto da subordinação feminina na Lei de Manu, antecedente legal que serviu de base para as demais, alega que a mulher, durante a infância, depende do pai; durante a juventude, do marido; por morte do marido, depende dos filhos; se não tem filhos, dos parentes próximos do marido, pelo motivo de que uma mulher nunca deve se governar à sua vontade.

Esse direito de justiça, que o chefe de família exercia na casa, era completo e sem apelação. Podia condenar à morte, como fazia o magistrado na cidade; nenhuma autoridade tinha direito de modificar sua sentença. “O marido, é juiz da mulher; [...] Se ela cometeu alguma falta, ele a castiga; se bebeu vinho, ele a condena; se teve relações com outro homem, ele a mata.” O direito era o mesmo a respeito dos filhos. (COULANGES, 1961, p.80)

A noção de lei nas famílias antigas era literalmente a igreja e o juiz na rua e, dentro de casa a autoridade imperativa o marido, de tal modo que suas ordens eram acatadas sem a interferência de ninguém. Essa conduta social foi o que legitimou a famosa frase: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher” e, perpetuou durante muito tempo também a violência e opressão contra as mulheres.

Além de não possuir nenhum direito e amplos deveres, as noivas ainda não possuíam nem o direito de escolha, pois quem escolhia o marido geralmente eram as famílias, por contratos de conveniência, alianças e benefícios econômicos, então o amor estava distante de ser o objetivo do casamento. Alegam Duby e Perrot (1990, p. 206):

O casamento assenta num acordo formal, engye, entre o noivo e o pai da noiva, acordo a que está associada a entrega de um dote por parte deste último. A jovem mulher parece não ter direito a dizer uma palavra de consentimento neste acordo celebrado entre sogro e genro. É a transferência propriamente dita da noiva que constitui a realização do casamento, na qual se efectiva a união, gamos, do casal. (Duby; Perrot, 1990, p. 206)

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Ainda, imprescindível evocar o tratamento desleal que o direito deferiu as mulheres negras. Tinham ainda menos oportunidades e direitos que as mulheres brancas, sendo comparadas a objetos e animais, vendidas e traficadas, tendo seus filhos arrancados de si logo que nasceram para trabalharem numa rotina inumana.

As mulheres escravas possuíam excessiva diferença na qualidade de vida, e ainda menos direitos que as brancas “livres” na época da escravidão, nas palavras de Ângela Davis, as mulheres escravas eram totalmente expostas a todas as formas de coerção sexual, ao passo que as punições mais violentas impostas aos homens consistiam em açoitamentos e mutilações, as mulheres eram açoitadas, mutiladas e também estupradas. (DAVIS, 1981, p.26)

Em suma, é delegado ao homem a tarefa de autoridade social e jurídica na família, restando à mulher pouco espaço de atuação no processo decisório, e, muito no trabalho doméstico e criação dos filhos. Além da grande carga de trabalho intrafamiliar, a mulher, tal qual a cultura ditava, detinha uma insignificante participação política social, em contrapartida, as escravas ainda arcavam com o peso extra da total falta de liberdade sobre seus corpos e mentes.

As mães estavam privadas do exercício de tutela sobre os seus filhos menores. Tinham desde sempre sido dela afastadas pela Lei das Doze Tábuas, que conferia este encargo ao parente masculino mais próximo daquele que, por sua morte, deixava crianças impúberes fora do seu poder. Os impúberes e as mulheres, qualquer que fosse a sua idade, passavam assim do poder do morto para o do seu agnado mais próximo: um irmão, um tio, um primo. (DUBY; PERROT, 1990, p.181)

Nem a guarda dos filhos era direito da mulher, concebida como um ser inferior, a Lei das Doze Tábuas não creditava capacidade materna para a gestão familiar na ausência do patriarca. Após iniciados os movimentos feministas em torno dos direitos políticos há um avanço na visibilidade dos direitos das mulheres, porém as mudanças significativas ocorrem somente após a Segunda Guerra Mundial.

Embora se tenha notícias de lutas e vitórias de movimentos e reivindicações de mulheres desde 1961, com muitas histórias heroicas de permeio, somente depois da Segunda Guerra Mundial é que se aceleraram as alterações significativas no que se refere aos direitos e interesses da mulher. (VERUCCI, 1987, p.28)

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A partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, os Estados que a ratificaram pactuaram por zelar inúmeros direitos considerados inerentes ao ser humano. Tal declaração faz referência à igualdade de direitos e não distinção de homens e mulheres, contudo não tratou especificamente das violações aos direitos humanos das mulheres.

Naturalmente, com a evolução cultural da sociedade, também progride o direito, se faz necessário uma espécie de justiça que, parafraseando Joice Nielsson, deve compreender não apenas a redistribuição e o reconhecimento, mais incluir a representação, e as dimensões econômica, cultural e política, pois tal justiça precisa capacitar a identificar as injustiças de tal modo a quantificar e poder avaliar exequíveis reparações. (NIELSSON, 2016, p.234)

A dimensão da compreensão e reconhecimento das mazelas que a justiça detinha/detém para com as mulheres é imprescindível para que situações que perduram durante tanto tempo no âmago da cultura possam ser erradicadas. Os autores Georges Duby e Michelle Perrot exemplificam formidavelmente o afastamento feminino (imposto) da justiça e atos civis:

[...]permanecem afastadas das funções civis, que ainda eram chamadas funções viris: em direito privado como em direito público, cidadania e masculinidade confundiam-se quando a acção de um sujeito, excedendo a sua própria pessoa e o seu próprio patrimônio, atingia a outrem graças a capacidade que cada um possuía de agir em nome de um terceiro. (DUBY; PERROT, 1990, p.188)

A proteção jurídica da mulher engloba simples direitos, tais como de dirigir, transferir seu sobrenome ao nome do marido, vestir a roupa que quiser e que isso não justifique uma possível violência. O desenvolvimento de tal proteção se dá principalmente nos países mais desenvolvidos, a partir de 1954, consoante ao entendimento de Verucci, particularmente naqueles que participaram da guerra, pois houve a convocação das mulheres para substituir o homem na indústria. (VERUCCI, 1987, p.35)

No Brasil, o Código Civil de 1916 (Lei Nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916) anterior ao vigente, trazia em seu artigo 6: “São incapazes, relativamente a

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certos atos, ou à maneira de os exercer: II. As mulheres casadas, enquanto subsistir a sociedade conjugal.” A incapacidade mencionada na lei é residual ao direito antigo, é evidente que o machismo estrutural estava enraizado no direito. Afirma D'Ambrosio:

O Estatuto da Mulher Casada trouxe para a mulher uma situação de quase igualdade em relação ao homem, passando ela a receber, do Direito, tratamento praticamente idêntico. De acordo com a Lei 4.121, de 27.8.62, os arts. 6.º, 233, 240, 242, 246, 248, 263, 269, 273, 326, 380, 393, 1.579 e 1.611 da CC passaram a vigorar com nova redação, modificando consideravelmente a situação da mulher. (D'AMBROSIO, 2011, p.04)

Por conseguinte, a situação de subordinação pública altera-se positivamente com o advento do Estatuto da Mulher Casada, que assegura maior igualdade entre ela e seu marido. Estabelece por exemplo que: a mulher está autorizada por lei a exercer a profissão que escolher, possibilidade de dispor dos frutos de seu trabalho, que a mesma escolha o domicílio conjugal e diminui a gama dos atos que necessitam de outorga marital.

É incoerente a disparidade que juridicamente havia entre homens e mulheres, principalmente no Brasil, país que geralmente acolheu o princípio da isonomia em suas constituições. As leis discrepantes com o princípio perduraram durante um longo tempo e, passíveis de anticonstitucionalidade.

O princípio da isonomia, isto é, o princípio da igualdade, impresso nas nossas Constituições desde a de 1934, tem sido contrariado por leis ordinárias, sobretudo na área da família e do trabalho. Existem normas, puramente formais, que atribuem direitos iguais aos homens e às mulheres e que sequer chegam a ser aplicadas ou mesmo invocadas pelas partes interessadas, por incapacidade do meio social que elas vigoram. (VERUCCI,1987, p. 40)

O argumento de que todos somos iguais perante a lei fora inerte durante muito tempo no Brasil e no mundo, nos países que acolhem tal princípio jurídico. Há uma projeção de valores integrada a essa normativa que, ao não ser observada põe em cheque toda a credibilidade do sistema, produzindo as desigualdades entre os gêneros e injustiça social no espaço público.

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1.2.2 A Mulher no Espaço Público

Naturalmente, o paradigma social do lugar feminino encontrar-se em casa, não na política, contribuiu para a não existência de políticas públicas de emancipação feminina, o papel da igreja fora primordial nessa exclusão. Os autores Boris e Cesídio reiteram a presença da igreja: “[...] consequências da desobediência: por exemplo, ela não apenas levaria ao inferno, mas transtornaria toda a vida do pecador e atrairia desastres e misérias contra ele como castigo divino.” (BORIS; CESÍDIO, 2007, p.458)

A família, principal meio de vivência das mulheres era posta toda em temores sobrenaturais para manter a tradição da castidade das meninas, da instrução apenas dos meninos, bem como da santidade do casamento, tendo este último elevado valor social perante a sociedade patriarcal.

Portanto, era incutido nas mulheres pela igreja também, a ideia da subordinação aos homens, e as regras sociais que as desfavoreciam, sob medo do castigo divino. Tais proibições acarretaram profundas indignações que, conforme assevera Sueli Carneiro:

[...] a luta das mulheres para terem autonomia sobre os seus próprios corpos, pelo exercício prazeroso da sexualidade, para poderem decidir sobre quando ter ou não filhos, resultou na conquista de novos direitos para toda a humanidade: os direitos sexuais e reprodutivos. (CARNEIRO, 2003, p.117)

Nesse mesmo sentido, parafraseando Brito, os gregos originaram a ideia de cidadania como algo inerente aos homens livres, que seriam as pessoas aptas para as atividades políticas, ficando as mulheres, os servos e os escravos marginalizados aos assuntos de interesse público. (BRITO, 2001, p.291)

Já no Egito a condição da mulher foi mais favorecida, ainda eram endeusadas (deusas-mães) e possuíam prestígio se tornando esposas, detendo direitos e participação social, não apenas deveres e vida intrafamiliar. Por exemplo a

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unidade religiosa e social é constituída pelo casal, a mulher surge como aliada e complementar do homem, uma companheira. (BEAUVOIR, 1970, p. 107)

O sistema patriarcal afasta e impede as mulheres de participarem das decisões sociais alegando motivos biológicos, e que foram escolhidas para apenas cuidarem do lar, sendo desprovidas de outros talentos e vocações. Tal como alude Scott:

O anatomista Jacques-Louis Moreau ofereceu como seu o comentário de Rousseau de que a localização dos órgãos genitais, “para dentro” nas mulheres e “para fora” nos homens, determinava o alcance de sua influência: “a influência interna continuamente reposiciona as mulheres no seu sexo [...] o macho é macho somente em certos momentos, mas a fêmea é fêmea por toda a sua vida”. Os homens eram indivíduos porque eram capazes de transcender o sexo; as mulheres não poderiam deixar de ser mulheres e, assim, nunca poderiam alcançar o status de indivíduo. (Scott, 2005, p. 16)

Portanto, as diferenças biológicas demarcaram muito a discriminação feminina em sociedade, sua voz e opinião não valiam muito, bem como as das crianças e doentes mentais. O que era imperativo era que a vida na família era o lugar de direito e obrigação das mulheres, porém, tendo pouca importância para o conjunto social, digo, pouca valorização.

A hegemonia masculina nas relações da falta de equidade social entre os gêneros constitui na opressão a supressão dos direitos e ocupação de espaços para as mulheres, bem como perpetua os ideais do patriarcado. Em concordância ao entendimento de Connell et al, o status hegemônico dos jovens homens na realidade inspira que eles façam as coisas que seu grupo de pares local define como masculinas, tais como enlouquecer, gritar, dirigir bêbado, entrar em uma briga, defender seu próprio prestígio e honra o que demonstra que a lógica patriarcal é maléfica para ambos os sexos. (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013, p.252)

Com o advento feminino no mundo do trabalho, as mulheres que procuram trabalhos remunerados, encontram dificuldades de inserção, pois coincidente a Benhabib e Cornell, como no trabalho doméstico, são delegadas as mulheres, sendo

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elas discriminadas, ocupações marcadamente femininas e, não raro, sexualizadas. (BENHABIB; CORNELL, 1987, p.45)

Estando em ambas as esferas, pública e privada as mulheres subordinadas aos homens, tendo em vista que os cargos de cuidadoras, como extensão de casa, enfermeira, professora, empregada doméstica e cozinheira, recebem escassa remuneração. Além do fato de que, quando há um homem em cargos parecidos, acabam por se tornarem superiores ou supervisores, como por exemplo, era muito mais comum a presença de professoras nas escolas e diretores, cozinheiras e seus supervisores, os chefes de cozinha, enfermeiras e médicos (como sendo a maioria até hoje).

Interessante abordar o surgimento das profissionais do sexo, tão discriminadas atualmente, entre as mulheres livres e guerreiras (as que decidiam não casar), haviam as prostitutas na Grécia, que inicialmente praticavam uma atividade de cunho mítico, quase religioso, tal como explana Simone de Beauvoir:

Os povos primitivos conheciam a prostituição hospitaleira, cessão da mulher aos hóspedes de passagem, que tinha sem dúvida razões místicas, e a prostituição sagrada destinada a libertar as misteriosas forças da fecundação em benefício da coletividade. Esses costumes existiam na Antiguidade clássica. [...] A prostituição religiosa perpetuou-se até hoje entre as almeias do Egito e as bailadeiras das índias que constituem castas respeitadas de músicas e dançarinas. Mas, o mais das vezes, no Egito, na índia, na Ásia Ocidental houve passagem da prostituição sagrada para a prostituição legal, encontrando a classe sacerdotal nesse comércio um meio de se enriquecer. (BEAUVOIR, 1970, p. 110)

O que começou dotado de misticismo e crenças objetivando a coletividade, concluiu com a exploração sacerdotal da “prostituição santa” gerando submissão feminina para as menos abastadas e que precisavam se sujeitar a um administrador sacerdote. Contudo, mesmo assim as prostitutas situavam-se à margem da sociedade e desprendidas dos homens, de tal sorte que sem depender deles, eram tidas como semelhantes e quase com igualdade.

À medida que as mulheres vão ocupando seus espaços na comunidade, surgem outras questões urgentes de modificação, tal como o modelo

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escolar que acolheu as meninas. Sobre diferenças e desigualdades, há quem tem acesso à escola e, quem não tem estudo acaba por ser discriminado socialmente, assim como a escola ressaltou as diferenças e isolou meninos e meninas.

É impossível esquecer que uma das primeiras e mais sólidas aprendizagens de uma menina, na escola, consiste em saber que, sempre que a professora disser que “os alunos que acabarem a tarefa podem ir para o recreio”, ela deve se sentir incluída. Mas ela está sendo, efetivamente incluída ou escondida nessa fala? Provavelmente é impossível avaliar todas as implicações dessa aprendizagem; mas é razoável afirmar que ela é, quase sempre, muito duradoura. [...] um/a orador/a, ao se dirigir para uma sala repleta de mulheres, empregue o masculino plural no momento em que vislumbrar um homem na plateia (pois essa é a norma, já que aprendemos e internalizamos regras gramaticais que indicam ou exigem o masculino). (LOURO, 2004, p.66)

Se faz mister a compreensão de que a escola é uma instituição que fora criada inicialmente apenas para a formação acadêmica dos homens, foi inclusive, muito difícil as faculdades aceitarem as mulheres no passado. As instituições escolares eram normalmente regidas pela Igreja, de tal modo que os ensinamentos eram muito diversos entre os gêneros, as meninas aprendiam a cozinhar, bordar, cantar, terem trejeitos delicados, seu senso crítico não era estimulado, tampouco a competitividade. Já, no caso da educação dos meninos, os mesmos aprendiam raciocínio lógico, crítico, ciências exatas e humanas, a competitividade e o empreendedorismo eram fortemente incentivados.

O ensino impregnado de machismo, juntamente com o histórico social e cultural possibilitou a consolidação de uma moral rígida que traz o preconceito às mulheres quando as mesmas saem dos seus papéis pré-determinados e adentram no “mundo masculino”. Um forte paradigma é a liberdade sexual que fora alcançada com a invenção e democratização do uso dos métodos anticoncepcionais, as mulheres têm a liberdade de ter a sua vida sexual “desamarrada” da reprodução, porém, as que se portam tal como os homens em busca de sexo casual são taxadas de promíscuas e desonradas.

Que o homem seja um falo e não um cérebro, o indivíduo que participa da virilidade conserva seus privilégios; a mulher não é o mal, ela é até boa, mas subordinada. É ainda o ideal da "verdadeira mulher" que Lawrence nos

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propõe, isto é, da mulher que aceita, sem reticência, definir-se como o Outro. (BEAUVOIR, 1970, p.267)

Conforme afirma a autora supracitada, aos homens é aceito e incentivado uma vida sexual ativa desde a juventude, sendo sua virilidade ovacionada pela sociedade, já, as jovens que agem da mesma forma são consideradas inapropriadas para um relacionamento sério, ou um casamento. O ideal de mulher é a mulher subordinada ao homem.

As mulheres, especialmente nas últimas décadas, têm afirmado a sua cidadania, de muitas formas para constituírem-se como sujeitos. Esta situação não é exclusivamente brasileira, mas mundial, a presença feminina nos processos de mudanças e projetos na área sócio-política ocorre em diversos países.

1.2.3 A Mulher Contemporânea

A mulher contemporânea ainda luta pela igualdade de direitos em sociedade, necessita de apoio e união, participar de movimentos sociais, sair de suas casas e fugir do padrão patriarcal. Pois, parafraseando Ângela Davis, se as mulheres estão empregadas, podem se unir entre elas e com os homens, sim, para desafiar os capitalistas no local de produção. Como trabalhadoras militantes ativas, as mulheres podem nutrir e gerar o poder de combater aquele que é o sustentáculo e beneficiário do sexismo: o sistema capitalista monopolista. (DAVIS, 1981, p.227)

Uma vez que, “a superação do patriarcado acarretaria uma transformação cultural completa. O patriarcado não é uma parte isolada de determinada sociedade humana, mas uma presença difusa no seio dela” (BENHABIB; CORNELL, 1987, p.125). Então a necessidade de buscar e manter os direitos adquiridos pelas lutas dos movimentos feministas é imprescindível.

A diferença mais palpável da mulher para com o sexo oposto é a física, até porque as meninas em algum estágio do seu desenvolvimento se mostram mais espertas e desenvolvidas que os meninos. Então, seria a necessidade de proteção que fora o que justificou a opressão feminina durante tanto tempo, o que não é mais

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justificável, a sociedade avançou e não precisa mais caçar a comida, ou se proteger com a força dos animais ou outros seres humanos.

No século XX nasce o feminismo, também chamado de primeira onda do movimento, tal como é visualizado hoje em dia, como um movimento de mulheres (preponderância) que reivindicam os mesmos direitos que os homens possuem em sociedade: estudar, votar e trabalhar, principalmente. A sua segunda onda engloba o entendimento e explicação dos motivos que levaram a mulher a ser tão oprimida e seus direitos tão questionados.

Parafraseando Nielsson, a marca do segundo momento do feminismo consiste em inaugurar uma perspectiva nova de agir feminista, onde o escopo seja uma teoria explicativa da organização social e filosófica do mundo como se construiu antropologicamente. (NIELSSON, 2016, p.145)

A principal questão é o entendimento patriarcal consolidado de as tarefas domésticas serem de responsabilidade exclusiva da mulher, onde o seu parceiro quando realiza algo “faz um favor, ou ajuda”, sendo a criação dos filhos e ordem na casa um trabalho inerente as mulheres, tal ideia perdura atualmente. Sobre o trabalho doméstico e essa exclusividade, a feminista Ângela Davis afirma:

Se fosse possível acabar com a ideia de que as tarefas domésticas são um trabalho da mulher e, ao mesmo tempo, redistribuí-las igualmente entre homens e mulheres, esta seria uma solução satisfatória? Liberadas de sua associação exclusiva com o sexo feminino, as tarefas domésticas deixariam de ser opressivas? Embora a maioria das mulheres comemore com alegria o advento do “dono de casa”, desvincular o trabalho doméstico do sexo não alteraria verdadeiramente a natureza opressiva do trabalho em si. Em última análise, nem as mulheres nem os homens deveriam perder horas preciosas de vida em um trabalho que não é nem estimulante, nem criativo, nem produtivo. (DAVIS,1981, p.214)

A postura de Davis, considerada radical por muitos, exalta a inutilidade e perca de tempo para com as tarefas domésticas, que são muito dispendiosas, não estimulantes e, tampouco criativas. A necessidade de estimular o pensamento crítico aos ideais de feminilidade e objetivo de vida para mulheres e homens (qualificados pela sociedade patriarcal) é intensa.

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Necessário adentrar e agir na educação dos indivíduos, em concordância à Guacira L. Louro, implementar disposições transgressivas e questionadoras, que provavelmente irão confrontar com diversas fontes de reação ou resistência, mas também encontrar aliados, ao estudar e aplicar os estudos das intelectuais feministas na escolarização das crianças. (LOURO, 2004, p.125)

A mulher contemporânea possui os direitos básicos que suas antepassadas conseguiram, porém ainda tem mais, a sua representatividade social ainda não fora traduzida como pessoa livre, os paradigmas ainda a prendem. Conforme a opinião de Simone:

Como as representações coletivas e, entre outros, os tipos sociais definem-se geralmente por pares de termos opostos, a ambivalência parecerá uma propriedade intrínseca do Eterno Feminino. A mãe santa tem como correlativo a madrasta cruel; a moça angélica, a virgem perversa: por isso ora se dirá que a Mãe é igual à Vida, ora que é igual à Morte, que toda virgem é puro espírito ou carne voltada ao diabo. (BEAUVOIR, 1970, p.300)

Socialmente há muitas noções equivocadas sobre o que é ser mulher, a maior delas pode-se afirmar ser a feminilidade, as pré-disposições que se esperam das mulheres, suas atitudes e comportamentos baseados em estereótipos ultrapassados e enrijecidos de preconceito e machismo. A ambivalência que se atribuem as mulheres é um exemplo cruel de como a sociedade necessita de mudanças.

Tais estereótipos e preconceitos parecem surgir de um profundo e inexplicável ressentimento do homem contra a mulher, em países árabes e africanos há o mais simbólico exemplo, a clitoridectomia e a infibulação. Nas palavras de Verucci, meninas são submetidas a operação grosseira de retirada do clitóris, com o único sentido castrador, para tão somente, privar a mulher do prazer, para o qual possui disposição muito mais intensa que o homem. (VERUCCI, 1987, p.10)

Tal como explana Simone: “se considera uma mulher em sua presença imanente, nada absolutamente se pode dizer, ela está aquém de qualquer

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qualificação.” (BEAUVOIR, 1970, p.300). As pessoas não devem ser rotuladas pelo estado em que nasceram, ou gênero, é isso que as mulheres na atualidade ainda desejam conquistar, a liberdade de serem o que quiserem, sem as pressões sobre como ser e dever ser.

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2 ECOFEMINISMO

A luta dos movimentos feministas pela liberdade das mulheres dos estereótipos e paradigmas sociais que as mesmas se encontram presas desde que nascem, é fundamental para a concretização dos seres do sexo feminino como um ser humano, portador de voz ativa política e direitos.

A importância da preservação ambiental é um fator social cada vez mais pungente em aspecto mundial, sendo necessária toda e qualquer atitude que minimize o impacto dos danos ambientais que a humanidade produziu e produz ao longo da história.

Realizadas as primeiras colocações, o presente capítulo tem por objetivo compreender e analisar a relevância do ecofeminismo para as mulheres e o meio ambiente, ou seja, a vida da Terra.

2.1 Movimentos Feministas

Os movimentos feministas são plurais e diversos, não centralizados, caracterizam-se principalmente pela auto-organização das mulheres em suas múltiplas frentes, violência contra a mulher, direitos ao próprio corpo...bem como incluem temas de outros movimentos, como anti homofobia, preservação ecológica, direitos da criança e adolescente, dentre outros.

No surgimento dos movimentos feministas, as mulheres puderam expressar suas próprias vivências e se fortaleceram compartilhando experiências e conhecimento, nas palavras de Alves e Pitanguy, sua organização se manifesta nos grupos militantes por meio de atividades que promovem debates, manifestações culturais e artísticas, igualmente no espaço doméstico, alterando o modo operacional da família tradicional patriarcal. (ALVES; PITANGUY, 1985, p.08)

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Com o advento da modernidade, após a Revolução Francesa, iniciam as lutas sociais em busca de cidadania, porém, o cidadão era o homem, a mulher ficara fora do contrato social, relegada ao espaço doméstico, nesse cenário surge o feminismo, como um movimento autônomo.

A emergência do feminismo no Brasil acontece na década de 70, momento em que o país experimentava a situação do início da ditadura militar, incorporando a crise econômica com alta inflação, falta de infraestrutura nas cidades, e fraca representação em partidos políticos e organizações de esquerda. Tal cenário fomentou a organização das mulheres em prol dos seus direitos e de uma sociedade mais justa.

Os movimentos feministas evoluem e adquirem também o caráter institucional, por meio da criação de novos mecanismos de organização e gestão de políticas públicas e redes feministas. Bem como entende Piscitelli, intenta-se uma agenda internacional das mulheres, além da representação e promoção nacional das causas, sendo que tal busca é um importante marco para a atuação do feminismo numa perspectiva transnacional. (PISCITELLI, 2012, p. 16)

Os movimentos feministas são caracterizados em “ondas” ou fases. Há três dessas ondas, que demonstram o modo de desenvolvimento das pautas e interesses adotados pelas feministas. A denominada primeira onda do feminismo, ocorre quando as mulheres iniciam as lutas por mais igualdade social, primando o direito à participação na vida política, ao estudo e melhores condições de trabalho.

O direito ao voto é um dos primeiros e mais marcantes conquistados, pois assinala o início da atuação das mulheres na política, participando diretamente das decisões, um marco na busca pela igualdade entre os gêneros. Nas palavras de Bonacchi e Groppi, a busca da igualdade refere-se participação política, mas também engloba a divisão dos bens, atuação econômica e no trabalho, como critério de justiça. (BONACCHI; GROPPI, 1994, p.69)

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Já na segunda onda do movimento, as reinvindicações evoluíram para o campo da liberdade sexual, maternidade e direitos reprodutivos. Os valores patriarcais enraizados na sociedade e que diminuíam a qualidade de vida feminina passaram a ser questionados, entende Nielsson:

Isso repercutiria na necessidade de uma reforma moral da sociedade e seus valores, como a temperança, a educação, o assistencialismo, a reforma carcerária, a escravidão e os direitos das mulheres. Estes últimos não se incluíram como um objetivo prioritário, mas surgiram como uma consequência direta, à medida que o impulso reformador religioso contribuía para promover o trabalho das mulheres e o aumento de suas habilidades para se manifestarem na cena política. (NIELSSON, 2016, p.119)

Do mesmo modo que as mulheres viviam na realidade doméstica e estavam lutando para sair desse cenário como uma obrigação e única possibilidade, as pautas dos movimentos eram amplas até no início, como educação, escravidão e reformas sociais. Até a Igreja, que por muito tempo auxiliou a perpetuar tais lugares pré-estabelecidos promoveu a saída do âmbito exclusivamente doméstico pelas mulheres ao incentivar que as mesmas atuem na mesma e assim, possuir contato maior e mais direito com a sociedade.

Tendo como principal discussão as opressões e suas diferentes formas e contextos a que as mulheres eras submetidas, pela mesma razão foi na segunda onda que se iniciou a ideia da coletividade e união entre as mulheres para modificar as situações a nível local, nacional e internacional.

A Declaração dos Direitos da Mulher, à primeira análise é confundida totalmente com a Declaração dos Direitos do Homem, apenas com outra denominação. Mas possui grande importância, pois retrata-se historicamente com o andrôcentrismo dos direitos. Os autores Bonacchi e Groppi observam que os direitos almejados pelas feministas reivindicam validade para a sua posição jurídica, tendo em vista que desde a Revolução Francesa a predominância no rol dos direitos é só dos homens. (BONACCHI; GROPPI, 1994, p.52)

Já, sobre a terceira onda dos movimentos, a mesma pode ser conceituada basicamente pela busca pelo direito de total liberdade de escolhas às mulheres. Tais

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escolhas tratam-se das roupas, modo de agir, orientação sexual e sobre os métodos contraceptivos e a possibilidade de aborto.

Em particular, foram as consideradas “feministas radicais” que abriram a discussão acerca da liberdade sexual como uma análise da subordinação feminina. Em concordância ao entendimento de Nielsson, a opressão no casamento e também a opressão sexual através da prostituição, bem como a pornografia e a falta de liberdade para abortar, demonstram o modo como as relações íntimas e públicas são permeadas de dominação. (NIELSSON, 2016, p. 169)

Os movimentos feministas também possuem diversos departamentos que o compõem e ampliam seu ativismo. Há grupos que levam em consideração as mulheres negras, LGBT’S, as de baixa renda e pouco acesso aos recursos básicos de saúde e infra-estrutura, as prostitutas, as indígenas, bem como idosas e crianças.

Bem como a reivindicação feminina de portar armas pela defesa da pátria, é um direito que fora conquistado pelos movimentos feministas. A participação política na defesa da soberania estatal, tal como traz Bonacchi, em contextos revolucionários é amplamente difundido o princípio que liga a cidadania política ao valor militar e a honra. (BONACCHI et al, 1994, p.87)

Ainda, cabe ressaltar o ativismo feminista na libertação de padrões de beleza impostos pela cultura capitalista, o combate aos diferentes tipos de assédio e o fim da violência contra a mulher em todas as suas apresentações: moral, psicológica, física e obstétrica. Tais metas dos movimentos feministas contemporâneos, permanecem até os dias de hoje e, houve o avanço do ativismo feminista dos movimentos para além da individualidade das mulheres, para a sociedade em geral, com o advento das preocupações com o meio ambiente.

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2.2 Ecologia e Sustentabilidade

A ecologia pode ser conceituada como a ciência que estuda as relações entre os organismos vivos e o ambiente em que eles estão inseridos, levando em conta todos os sistemas complexos e interligados que influenciam a vida na Terra.

O principal objetivo da ecologia é manter o meio ambiente ecologicamente equilibrado, de modo a atenuar as intempéries das ações humanas sobre a natureza, numa tentativa de manutenção pacífica entre os habitats naturais e modificados.

O equilíbrio ecológico não significa uma imutabilidade das condições naturais, bem como traz Machado, a proporção e a sanidade entre os muitos componentes que fazem parte da ecologia (populações, biosfera, ecossistema) são objetivos a serem alcançado através do Poder Público e pela coletividade. (MACHADO, 2013, p. 154)

Atualmente, a questão da crise ambiental está muito presente na humanidade e natureza, pode-se afirmar que a civilização está totalmente ameaça. Os recursos naturais que são imprescindíveis a vida humana são finitos e estão escassos, bem como se tornando impróprios devido à poluição.

Como resultado da poluição desenfreada, surgem conflitos pelos recursos naturais que geram a qualidade de vida, fomentando a crise econômica e da saúde em geral. Sobre a presente crise ecológica, que se intensifica, a opinião dos autores Viola et al: “A crise ecológica global resulta da anarquia na exploração e gestão dos bens comuns da humanidade por parte de atores políticos e econômicos orientados por uma racionalidade individualista e instrumental.” (VIOLA et al, 1995, p.26)

No Brasil, a Lei Nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, é o dispositivo que regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente, a principal lei de proteção à natureza em âmbito interno. Contém no texto, no artigo 3º, inciso III, alíneas “a”, “b”, “c”, “d” e “e”, a conceituação de poluição:

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Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;

II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente;

III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; (BRASIL, 2019)

Portanto, são várias as formas de poluição ao meio ambiente, compreendem várias práticas cotidianas que influenciam no aumento da mesma, tal como o agravamento da poluição atmosférica pelo altíssimo uso dos veículos automotores no nosso país.

A alta produção e consumo de objetos não recicláveis e que poluem o mar por exemplo, bem como as demais formas de poluição, que podem ser aquáticas, terrestres, sonoras e atmosféricas, dentre outras.

Há uma vasta gama de leis que protegem o meio ambiente da poluição, um exemplo são as licenças necessárias para veículos automotores estarem operando, do IBAMA a LCVM-Licença para Uso da Configuração de Veículos ou Motor. Muito embora, hajam tais fiscalizações, a qualidade da atmosfera nos centros urbanos está crítica e demasiado prejudicial à saúde das pessoas, contendo alto grau de poluentes.

Outro recurso imprescindível a vida das pessoas é a água, que no Brasil contém muita contaminação devido ao alto uso de agrotóxicos na atividade agrícola. Em Santa Rosa, Rio Grande do Sul, cidade do noroeste do estado, tal como traz a pesquisa do portal “Por Trás do Alimento”, foram percebidos 13 agrotóxicos na água que abastece a cidade entre 2014 e 2017. Sendo dentre esses 13, 4 ligados ao surgimento de doenças crônicas. (Por trás do Alimento, 2018)

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Figura 1:Por trás do Alimento. Detecção e concentração de agrotóxicos de 2014 a 2017 de acordo com dados de Controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (SISAGUA), do Ministério da Saúde, 2018.

A questão dos danos ambientais, tanto para o ser humano como também ao ambiente, está tomando proporções significativas e cada vez mais há a preocupação de como prevenir as diversas formas de poluição que degradam o meio ambiente ou atingem a sociedade de maneira direta ou indireta.

O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da “sociedade de risco”. Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma perspectiva integradora. E também demanda aumentar o poder das iniciativas baseadas na premissa de que um maior acesso à informação e transparência na administração dos problemas ambientais urbanos pode implicar a reorganização do poder e da autoridade. (JACOBI, 2003, p. 192)

O instaurado colapso ambiental devido ao desenvolvimento industrial sem a preocupação com a sustentabilidade e proteção ao meio ambiente, resulta em vários dilemas sociais. Tais como a falta de acesso à água potável, poluição atmosférica elevada como já comentado, gerando doenças crônicas nas pessoas, e os resíduos gerados pela indústria acabam contaminando os oceanos e matando a flora e fauna.

Devido à alta poluição se intensificam fenômenos naturais como o efeito estuda, sendo as mudanças climáticas um resultado. A mudança climática é um dos

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maiores desafios a nível mundial atualmente, a temperatura global está 1,2ºC acima dos níveis pré-industriais, o que pode acarretar extrema pobreza e vulnerabilidade à milhões de pessoas.

Para manter os níveis de poluição atmosférica amenos e diminuir os efeitos e o aumento do efeito estufa, houve o Acordo de Paris, finalizado em 12 de dezembro de 2015. O tratado internacional é uma espécie de substituto do Protocolo de Quioto, tem como principal objetivo manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2ºC, e, fora idealizado para fortalecer os países em relação as mudanças climáticas.

Contundo ao invés de instituir metas específicas de redução na emissão de gases poluentes (GEE), o mesmo permite que cada país produza as suas metas, por meio das contribuições nacionais determinadas.

A ONU instituiu dezessete objetivos para o desenvolvimento sustentável do milênio, dentre eles, a erradicação da pobreza, a igualdade de direitos, água potável e saneamento, a proteção da vida em todos os locais. Esta Agenda é para 2030, como um plano de ação para as pessoas e o futuro do planeta.

O fortalecimento da paz mundial é um objetivo também, de modo que as relações internacionais atuem em prol da sustentabilidade ambiental. Se reconhece que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável. Na Agenda 2030 da ONU, há 17 objetivos para o desenvolvimento sustentável do milênio.

Dentre os quais garantir a segurança alimentar e, suprir as carências imediatas das populações mais carentes de recursos e conhecimentos, para a concretização dos objetivos há ações por meio de projetos sociais em parceria com ONGs e governos. Que propõem-se efetivar os direitos humanos e também alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. Tais objetivos equilibram

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