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A comunicação digital no protagonismo jevenil da política brasileira: narrativas das manifestações de junho/julho 2013

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

DACEC – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS, CONTÁBEIS, ECONÔMICAS E DA COMUNICAÇÃO

MARIELI BOTTEGA DE MOURA

A COMUNICAÇÃO DIGITAL NO PROTAGONISMO JUVENIL DA POLÍTICA BRASILEIRA: NARRATIVAS DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO/JULHO 2013

Ijuí 2014

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MARIELI BOTTEGA DE MOURA

A COMUNICAÇÃO DIGITAL NO PROTAGONISMO JUVENIL DA POLÍTICA BRASILEIRA: NARRATIVAS DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO/JULHO 2013

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social – Relações Públicas da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Relações Públicas.

Orientador Professor MSc. André Gagliardi

Ijuí 2014

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A COMISSÃO EXAMINADORA, ABAIXO ASSINADA, APROVA A MONOGRAFIA

A COMUNICAÇÃO DIGITAL NO PROTAGONISMO JUVENIL DA POLÍTICA

BRASILEIRA: NARRATIVAS DAS MANIFESTAÇÕES DE JUNHO/JULHO 2013

ELABORADA POR

MARIELI BOTTEGA DE MOURA

Como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Comunicação Social

Data de aprovação:___/___/___

COMISSÃO EXAMINADORA

___________________________________________________ Professor Mestre André Gagliardi (orientador)

___________________________________________________ Professor Doutor Daniel Rubens Cenci (banca titular)

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Para Maria Lucia, Alípio, Judite (in memoriam), Katieli e Alessandro eternos incentivadores.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, a Deus.

Em segundo lugar à minha família, por sua capacidade de acreditar e investir em mіm. Mãe, sеυ cuidado е dedicação me deram a esperança e força suficiente para seguir. Nono, sυа presença paterna significou segurança е certeza de qυе não estou sozinha nessa caminhada. Alessandro, obrigado pelo carinho, а paciência е pоr sua capacidade de me trazer paz na correria do semestre.

Agradeço ao ex- Presidente Lula, pela criação do ProUni (Programa Universidade para Todos) que possibilitou essa trajetória universitária.

Agradeço ao professor André pela orientação e incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia. Agradeço também os professores, pelos quais possuo admirável respeito, e fazem parte desta conquista.

Obrigado aos meus colegas, parceiros e amigos que possuo e conquistei durante esta inesquecível trajetória. Sem a ajuda deles, os trabalhos não seriam tão prazerosos de realizar como foram.

Meu muito obrigado, enfim, a todos aqueles que, de uma ou outra maneira, tornaram este sonho uma realidade.

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“Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade”.

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RESUMO

Os movimentos de junho de 2013 mostraram que os jovens não estão alienados e indiferentes à vida pública. A juventude saiu ás ruas em manifestações autênticas, não tuteladas por partidos ou lideranças políticas tradicionais e organizados a partir das redes sociais. Tal protagonismo juvenil já ocorreu com maior frequência no passado brasileiro, onde o jovem foi protagonista de muitas lutas e conquistas para o país. Este trabalho tem como objetivo geral analisar as jornadas de junho de 2013 e a juventude como categoria e protagonista no âmbito da política brasileira, estabelecendo uma ligação entre o protagonismo juvenil e as redes sociais, a fim de entender o processo de articulação das manifestações de 2013 e as redes sociais como estratégia de organização. Tomando como ponto de partida a contextualização dos objetos em questão: juventude, protagonismo político juvenil e comunicação digital e, a partir disso, estabelecer um vínculo entre eles e analisar o caso das manifestações populares de 2013.

Palavras-chave: protagonismo juvenil; mídias digitais; comunicação; mobilização

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ABSTRACT

The popular manifestations of June 2013 have shown that young people are not alienated and indifferent to public life. The youth went out to the streets in authentic manifestations, not attached to traditional parties or political leaders and organized from social networks. This juvenile protagonism has already occurred more frequently in the Brazilian past, where the young man went protagonist of many struggles and achievements for the country. This work has as objective generality to analyze the claims of June 2013 and youth as category and protagonist in the context of Brazilian politics, establishing a link between youth protagonism and social networks in order to understand the process of articulation of expressions of June 2013 and the social networks as organization strategy. Taking as its starting point the contextualization of the objects in question: youth, youth political protagonism and digital communication and, from there, establish a bond between them and analyze the case of popular manifestations of 2013.

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...10

1. A JUVENTUDE ...12

1.1. A JUVENTUDE COMO CATEGORIA DE ANÁLISE ...13

1.2. PROTAGONISMO JUVENIL: O JOVEM COMO ATOR SOCIAL ...15

1.3. A ATUAÇÃO DO JOVEM NA POLÍTICA BRASILEIRA/MOVIMENTO ESTUDANTIL ...18

2. A COMUNICAÇÃO DIGITAL ...24

2.1. A INTERNET: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO ...25

2.2. AS REDES SOCIAIS...28

2.2.1. AS REDES SOCIAIS E A JUVENTUDE ...29

2.2.2. AS REDES SOCIAIS COMO ESPAÇO DE DISCUSSÃO POLÍTICA ...31

3. AS MANIFESTAÇÕES DE 2013 ...34

3.1. DESCRIÇÃO DOS FATOS...34

3.2. A ARTICULAÇÃO NAS REDES SOCIAIS ...38

3.3. ANÁLISE ...42

3.4. RESULTADOS E EXPECTATIVAS...44

4. NARRATIVAS DO PROTAGONISMO JUVENIL: ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ...49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...57

REFERÊNCIAS ...60

ANEXO 01 ...64

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os movimentos de junho/julho de 2013 mostraram que os jovens não estão conformistas, apáticos ou indiferentes à vida pública e mesmo aqueles que pensam que odeiam a política estão começando a participar, algo que já ocorreu com maior frequência no passado brasileiro, onde o jovem foi protagonista de muitas lutas e conquistas para o país. Por isso, torna-se necessário analisar este movimento e resgatar o histórico do protagonismo político/social da juventude no Brasil.

As manifestações de 2013 construíram-se com algumas particularidades. Desta vez, os jovens foram para as ruas com uma nova forma de articulação e organização, centrada nos meios digitais, mais especificamente na rede social Facebook, surgindo assim a necessidade de estudar este novo mecanismo de mobilização social.

A ideia central desta monografia é analisar o quanto as mídias digitais, principalmente as redes sociais, contribuem para a organização da juventude no que diz respeito ao protagonismo na política brasileira, tal importância comprovada no processo de articulação das manifestações que ocorreram em 2013.

A análise leva em conta o movimento estudantil como linha de cruzamento entre o papel do estudante na política e a condição do jovem, contestador ou revolucionário. O presente trabalho parte da contextualização dos objetos em questão: juventude, protagonismo político juvenil e comunicação digital, estabelecendo um vínculo entre eles.

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Neste sentido, o Capítulo I analisa a juventude como categoria e o jovem como ator social, abrangendo a atuação juvenil na política brasileira e no movimento estudantil. Em seguida, a comunicação digital é abordada no Capítulo II, e o Capítulo III refere-se ao caso das manifestações de 2013: descrição, mecanismos do processo, conquistas e expectativas.

A pesquisa foi realizada através de Pesquisa Bibliográfica e Qualitativa, utilizadas citações de autores que enfocam o tema em suas obras e leitura de materiais relacionados ao assunto. Também realizada pesquisa de cunho qualitativo com o objeto/público em questão, a fim de analisar o papel das redes sociais no protagonismo juvenil, processo de articulação das manifestações e visão dos jovens sobre as diversas mobilizações populares que já ocorreram no Brasil, estabelecendo um comparativo entre elas.

Identidades flutuantes, efêmeras e plurais, que entre os blocos das religiões, culturas e poderes tentam expressar suas opiniões. Vozes de críticas, rebeldia, revolução, sedentas por liberdade e justiça. E há outras vozes, precursoras daquelas que em 2013 foram às ruas. Vozes que cantam, gritam, desde o período de ditadura e repressão em movimentos de protesto e oposição.

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1. A JUVENTUDE

Nós que somos jovens sempre estivemos à frente de nosso tempo. Trazemos esta possibilidade única de antecipar o futuro e fazê-lo a nossa imagem e semelhança. Nossa matéria é a esperança. Somos sonhadores incorrigíveis e, por isso, nos embriagamos com versos. Seguimos imersos no próximo século e o que nos acontece foi no mês que vem. Misturamos a bebida e o tempo e só o que declaramos é o nosso amor. Em verdade, nos agrada o impossível; o desafio nos encanta (ROLIM, 1998 n.p.).

O autor descreve a juventude de forma poética e sensível e, ao mesmo tempo, assevera características importantes desta categoria. Entretanto, defini-la não é tarefa fácil, há diversos pontos de vista biológicos, sociais e políticos em discussão que buscaremos entender neste capítulo.

O que é ser jovem? O que é juventude? Essas perguntas ganham espaço nas ruas, nas universidades, na mídia, nos partidos políticos... São muitas as respostas possíveis, mas o ponto de partida é a compreensão de que a juventude é uma categoria social tecida em um contexto histórico e social. Contudo, a categoria que conhecemos atualmente começa a se tornar visível no século XIX, embora “jovem” seja um termo historicamente usado.

Logo, compreender/desenvolver a juventude como categoria de análise é crucial para o entendimento de diversas características de ações e processos onde o jovem tem participação direta ou indireta, assim como no movimento estudantil, na vivência e mobilização social.

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1.1. A JUVENTUDE COMO CATEGORIA DE ANÁLISE

Nas sociedades modernas a juventude é vista como uma fase transitória entre o mundo infantil e a vida adulta, não possuindo limites precisos, contudo, para delimitá-la, são utilizados critérios que possibilitam diferentes interpretações. Dos critérios empregados para classificar os indivíduos, a maioria refere-se às particularidades biológicas dos seres. No entanto, mesmo essas categorias derivam de uma prática social historicamente construída.

A idade é o principal critério para definir categorias como: infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice, mas não as caracteriza isoladamente. Todavia, além do corte etário, a juventude é localizada a partir de um comportamento associado a esse momento.

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), o recorte etário é de 15 a 24 anos. Recentemente, pesquisas no Brasil e no mundo têm adotado uma faixa etária mais extensa, 15 a 29 anos. Este é o critério utilizado pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), e definido pelo Estatuto da Juventude.

O Estatuto da Juventude1, aprovado em 5 de Agosto de 2013, Lei Nº 12.854, prevê a garantia de direitos básicos aos jovens, como acesso à educação, à profissionalização, ao trabalho e à renda. Estabelece ainda direitos novos na legislação, como à participação social, ao território, à livre orientação sexual e à sustentabilidade.

A nova lei prevê a criação dos conselhos estaduais e municipais de juventude - espaços para que os jovens possam dar opinião e participar de decisões

1 O Estatuto da Juventude é o instrumento legal - Lei 12.852/2013 - que determina quais são os direitos dos

jovens que devem ser garantidos e promovidos pelo Estado brasileiro, independente de quem esteja à frente da gestão dos poderes públicos. “O que faz o Estatuto é detalhar, dentro das garantias já previstas pela Constituição, quais são as especificidades da juventude que precisam ser afirmadas. O desafio agora é popularizar o Estatuto para que os jovens conheçam seus direitos e vejam nele um instrumento legal de reivindicação para melhorar suas condições de vida”, explica a secretária nacional de Juventude, Severine Macedo. Disponível em: http://www.juventude.gov.br/estatuto

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políticas. Esta foi uma grande conquista para a juventude brasileira, pois, acima de tudo, o Estatuto reconhece a juventude como categoria social. Segundo o IBGE (Censo 2010), no Brasil os jovens de 15 a 29 anos representam 27% da população brasileira, num total superior a 51 milhões.

A classificação etária é um ponto importante para entender algumas características dos jovens, sendo que ela apresenta, segundo Benevides, “uma ordem de poderes associados a cada uma das faixas etárias, no qual os jovens reivindicam para si o lugar ocupado pelos velhos no universo público da vida social” (BENEVIDES, 2006, p. 19).

A partir disso surge uma luta simbólica entre as gerações, confrontos dentro dos quais estaria a razão pela qual a juventude é caracterizada como uma fase de constantes instabilidades comportamentais:

Ao entrarem no cenário público, as gerações mais jovens obrigam as gerações mais velhas a se retirarem desse mesmo cenário, ou seja, obrigam-nas a ceder as posições de poder que ocupam. Para continuarem sendo os detentores desse poder os mais velhos manipulam os limites que definem as diferentes idades com o intuito de retardar o máximo possível o ingresso do jovem na vida pública para, assim, retardar também o tempo em que poderiam ser considerados ultrapassados para o exercício de determinadas práticas (BENEVIDES, 2006, p. 19).

Ao tentar fugir desta manipulação do universo adulto dominante, o jovem se expressa das mais variadas formas: desde fases comportamentais de inquietação, desobediência e rebeldia até a criação de “tribos”, grupos de jovens ligados à cultura, música, modas específicas, estilos de vida que se identificam entre si.

Para a sociedade o desafio é definir o jovem e, para o jovem, o desafio é definir-se diante de si mesmo e dos seus pares, e o agrupamento facilita essa descoberta e a expressão juvenil; coletivamente o adolescente consegue demonstrar que ele tem algo a dizer sobre ser jovem no mundo de hoje. Estudos que remontam a década de 1940 identificavam uma unidade cultural da juventude

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no mundo todo, defendia-se a existência de uma cultura juvenil comum, entretanto segundo Castro, não se trata mais de juventude, mas de “juventudes” (CASTRO, 2010. p.16), devida grande diversidade e, ao mesmo tempo, identificação coletiva dos grupos juvenis.

Falar em juventude no singular é referir-se a uma categoria homogênea, ao passo que falar em juventudes é referir-se às multiplicidades que englobam essa categoria. Assim a juventude carrega uma enorme complexidade que vai além da idade biológica, e se deve levar em conta gênero, diferenças físicas, financeiras e sociais.

Cada recorte de juventude constrói características, símbolos, cultura, comportamentos e sentimentos próprios. E cada jovem interpreta de sua maneira o que é ser jovem, contrastando com as outras categorias etárias e com outras juventudes.

A juventude também é caracterizada como um período da vida onde o indivíduo tende a ser propenso a se expor ao risco, difícil controle, criativos, delinquentes ou revolucionários. Então, alguns estudos analisam juventude a partir de dois recortes comportamentais: delinquência juvenil e juventude revolucionária. A percepção que atribui ao jovem características revolucionárias, rebeldes e inovadoras coloca, segundo Castro, o jovem como ator social privilegiado e a juventude aparece como principal agente de transformação social.

1.2. PROTAGONISMO JUVENIL: O JOVEM COMO ATOR SOCIAL

Nós somos a pedra e a vidraça; promessa, paz e arruaça. Somente nós sabemos do beijo nas barricadas. Para nós, todas as estradas se cruzam em nosso peito onde guardamos a tatuagem rara daqueles que não possuem destino. Nós somos esta viagem em direção ao que não foi feito (ROLIM, 1998 n.p.).

A juventude é historicamente protagonista nas lutas populares, mas o maior papel do movimento estudantil e juventude é a construção de sujeitos políticos conscientes do papel estratégico que possuem. Com isso a juventude pode ser um

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fator determinante nos processos de transformação social, visto na educação e no espaço universitário a base para a construção de protagonistas. Contudo, para falar sobre protagonismo é preciso conhecer seu significado:

A palavra protagonista deriva do termo francês protagoniste, que, por sua vez, deriva do grego prõtagõnistes, e que significa aquele que combate na primeira fila; que ocupa o primeiro lugar; personagem principal (MACHADO, 1990, p.447).

Quando juvenil, refere-se à atuação de adolescentes e jovens, através de uma participação construtiva. Envolvendo-se com as questões da própria adolescência/juventude, assim como, com as questões sociais do mundo e da comunidade onde estão inseridos. O jovem começa, em face do protagonismo, ao ser aceito como solução, e não como problema.

No protagonismo juvenil a participação do jovem é uma iniciativa legítima e não simbólica, onde são criadas oportunidades para que o indivíduo possa procurar, ele próprio, a construção de sua identidade.

Os protagonistas são um elenco de atores sociais no espaço público transformado em cenário (de luta, reivindicações). Isso supõe que, como personagens principais, os jovens protagonistas têm algum tipo de ação neste cenário político de exclusão/inclusão da juventude, tornando-se ator social. O ator social é aquele indivíduo que estabelece relações de negociação com os outros e, ao mesmo tempo, realiza atividades que beneficiam a si próprio e aos outros, caracterizado por uma identidade social.

Contudo, a identidade social não é um processo mecânico, o que leva os indivíduos a se organizarem como jovens é a identificação com outros jovens, que, segundo Castro, pode-se dar por diferentes fatores:

1) posição social de subalternidade, ou seja, condição de dependência, inferior e subordinada ao status de adulto expressa no “não-acesso’ a

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espaços de decisão, postos de trabalho e renda; 2) experiências vividas cotidianamente: na família, na escola, no trabalho; 3) outras identidades: artísticas, manifestação populares, esportivas; 4) demandas por acesso a direitos (CASTRO, 2010, p. 24).

Por mais que os jovens tenham essa relação, o maior desafio é a articulação das entidades e organizações da juventude, para garantir o debate e a luta por conquistas setoriais, sociais, raciais e políticas, adotando pautas unificadas. E são quatro os elementos que se sobressaem nos processos organizativos dos jovens:

1) O reconhecimento de questões sociais que atingem especificamente a juventude e que geram demandas e lutas especificas; 2) a discussão sobre o papel da juventude, numa perspectiva geracional, na luta pela transformação social; 3) a disputa pela legitimidade e reconhecimento político dos jovens no interior das organizações políticas; 4) a discussão sobre valores, na perspectiva de ruptura com as antigas formas de dominação, daí a presença do debate de gênero em muitas organizações de juventude (CASTRO, 2010, p.28).

A participação jovem nos espaços decisivos muitas vezes é deslegitimada a partir da definição de juventude como fase de transição, o que transfere aos jovens uma imagem de pessoas sem vivências, sem experiência e que precisam ser controlados. As organizações de juventude, por sua vez, contribuem para a visibilidade e legitimidade de muitas juventudes.

A universidade é no Brasil a maior escola de formação de atores sociais, é nela que se moldam as consciências e mentalidades preocupadas com os problemas que atingem o país. O estudante universitário morre com a formatura, mas o ator social permanece.

O movimento estudantil é, portanto, o maior espaço de participação política e social juvenil, é nele que ocorreram os maiores exemplos da atuação protagonista do jovem no Brasil.

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1.3. A ATUAÇÃO DO JOVEM NA POLÍTICA BRASILEIRA/MOVIMENTO

ESTUDANTIL

Nossos braços derrubaram muros, nossas camas guardaram fuzis, nossas guitarras tocaram hinos e horizontes. Trazemos o som e a fúria em nossas almas alargadas e cantamos quando a sorte é escassa (ROLIM, 1998 n.p.).

Em 2013 não foi a primeira vez que os jovens brasileiros tomaram as ruas das cidades brasileiras para lutar pelo que acreditam, entretanto, o Brasil não presenciava uma manifestação neste porte desde os Caras-pintadas2, movimento estudantil ocorrido em 1992 que tinha como objetivo lutar pelo Impeachment3 do

então presidente Fernando Collor de Melo.

O movimento estudantil tem crescente importância dentro da história brasileira, contribuindo para grandes conquistas no país. De início ele foi apenas espasmódico, atuando em momentos específicos e em pontos esparsos do território e, aos poucos, procurou ser mais presente e constante, a partir da tomada de consciência do próprio movimento: significado, possibilidades e limitações.

A categoria estudante brasileiro caracterizou-se como problemática, mas identificada a partir de uma percepção social e política autêntica, que abraçou as

2 Ficou conhecido no Brasil inteiro, durante o início da década de 90, o movimento dos "caras-pintadas", que consistiu em

multidões de jovens, adolescentes em sua maioria, que saíram às ruas de todo o país com os rostos pintados em protesto devido aos acontecimentos dramáticos que vinham abalando o governo do então presidente Fernando Collor de Mello. Para entender o fenômeno dos caras-pintadas é importante analisar o contexto no qual ele está inserido. O Brasil realizara recentemente eleições diretas para presidente em 1989, garantia que havia sido tomada ao cidadão brasileiro pelo regime militar, sendo que o último pleito direto, isto é, com a participação do povo, ocorrera em 1960. A eleição de 1989 assumiu um significado importante na história do país. Dela resultou eleito Fernando Collor de Mello. Pouco depois, porém, o governo no qual muitos brasileiros colocaram suas esperanças começou a mostrar falhas estruturais. O Plano Collor de contenção da inflação fora um desastre completo, causando pânico no povo, além de denúncias de corrupção que iam surgindo por todos os lados. O apoio político e popular ao governo ia encolhendo a olhos vistos em 1992, até que então, o presidente resolve reagir e conclamar a população a sair às ruas e manifestar seu apoio ao governo e, em última instância, ao país, fazendo isso de modo extensivo, utilizando uma "camiseta ou qualquer peça de roupa nas cores do nosso país", disse o Presidente durante o discurso. Em um repúdio às palavras de Collor, parcialmente irônico, parcialmente politizado os caras-pintadas saem às ruas, mas vestindo e pintando-se de preto. Em: http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/caras-pintadas/

3 Impeachment ou impugnação de mandato é um termo que denomina o processo de cassação de mandato do

chefe do poder executivo pelo congresso nacional, pelas assembleias estaduais ou pelas câmaras municipais. A

regulamentação vem da Lei nº 1.079 de 10 de Abril de 1950. Disponível em:

http://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/128811/lei-do-impeachment-lei-1079-50

O processo de impeachment foi aprovado pela Câmara Federal em 29 de setembro de 1992, e afastou da Presidência da República Fernando Collor de Mello. Sabendo que seria afastado, Collor acabou renunciando no dia 29 de dezembro, mas o Senado prosseguiu o julgamento, afastando-o do cargo e privando-o dos direitos

políticos por oito anos. A decisão foi confirmada pelo STF em 1993. Em:

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lutas do povo, do qual fazia parte, sabendo que seus destinos seriam convergentes. Segundo relata Artur Poerner em seu livro, o estudante no Brasil, era movido por algo a mais do que o simples espírito anarquista que caracteriza o jovem moderno na Europa ou nos Estados Unidos, motivação essa que:

Consta de uma profunda decepção quanto à maneira como o Brasil foi conduzido no passado, de uma violenta revolta contra o modo pelo qual ele é dirigido no presente e de uma entusiástica disposição de governá-lo de outra forma no futuro (POENER, 1979, p. 32).

A década de 1960 representa um marco no que se refere ao desejo de transformar radicalmente o mundo e a vida. Nestes anos, projetos de mudança e sonhos de liberdade foram intensamente vivenciados pela juventude que, ansiando um futuro de paz, amor e igualdade social, acabou provocando uma revolução nos hábitos, costumes e na política, não tanto pela tentativa de derrubar o poder vigente, mas, sobretudo, na busca de uma relação diferente entre política e sociedade.

Nessa época a rebeldia juvenil eclodiu quase simultaneamente nas mais diferentes regiões do planeta. O autor associa este fato aos avanços tecnológicos, o advento da televisão e da comunicação via satélite, que possibilitaram o rápido acesso a informações oriundas de qualquer parte do planeta, submetendo-as ao imediato exame e critica de quem quer que fosse. Com isso os jovens passaram a ter fácil acesso a uma grande quantidade de informação sobre o mundo onde viviam. Assim argumenta:

Pela primeira vez na história, os jovens puderam avaliar o estilo de vida dos seus pais e avós e constatar a falência dos seus modelos. Puderam comparar e criar seus próprios valores e padrões comportamentais sem precisar da orientação dos mais velhos. Desta maneira, o abismo entre gerações se alargou profundamente, deixando cada uma delas isolada em suas experiências particulares. A década de 1960 se destacou por ter sido o período em que o impetus juvenil ganhou notoriedade. Em quase todo o mundo, eclodiram manifestações de protesto, lideradas em sua maior parte por jovens, contra as guerras, os regimes ditatoriais, as desigualdades

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sociais, o autoritarismo nas escolas e universidades, a discriminação racial e sexual, o armamento nuclear, etc. (BENEVIDES, 2006, p. 19).

Entretanto, o comportamento desses jovens estava condicionado a um contexto social bastante especifico e, dessa maneira, os sistemas de autoridade foram contestados em todas as suas formas, desde o autoritarismo das instâncias políticas até aquele exercido nas relações de gênero ou experiências cotidianas. Dessa forma os jovens acabaram por evidenciar novas demandas. Essa geração visava antes de tudo, virar pelo avesso as hierarquias impostas, romper valores, padrões estabelecidos, não só político, mas comportamental. Na época da ditadura militar a juventude brasileira emergiu:

O movimento estudantil, na primeira fase do regime, saiu às ruas enfrentando o autoritarismo de Estado abertamente, sobretudo no ano de 1968. Na segunda fase, quando todos os canais de participação política haviam sido fechados, o movimento estudantil recuou, optando por uma espécie de resistência pacífica, limitada aos espaços internos das instituições de ensino. Todavia, alguns estudantes aderiram a formas de lutas distintas. (...) Para adaptar-se às mudanças conjunturais impostas pelo regime militar os estudantes brasileiros criaram modelos alternativos de organização e enfrentamento (BENEVIDES, 2006, p. 44).

A organização juvenil foi, na verdade, imposta pelo sistema, não havendo outra alternativa de mudança, se não pela mobilização popular. Assim, os estudantes saíram às ruas com a intenção de transformar radicalmente o país, moldando suas estruturas de enfrentamento ao sistema, que foram desde protestos ou confrontos até recuos estratégicos:

Almejaram transformar o mundo em que viviam tanto do ponto de vista político quanto do ponto de vista comportamental, não como meros coadjuvantes dos acontecimentos, mas como atores principais da trama, diretamente responsáveis pelo desfecho do enredo. No Brasil, a vontade de transformar o mundo que tomou conta da juventude também concretizou

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tempos pré-figurativos, refletindo-se com maior intensidade no meio estudantil (BENEVIDES, 2006, p. 73).

Benevides afirma que o estudante brasileiro sempre esteve na vanguarda dos principais acontecimentos políticos e sociais do país, o que se deve ao fato de sempre ter havido nos meios estudantis uma profunda insatisfação no que se refere a condução política e social do Brasil. Participaram da campanha abolicionista, que iniciou no campo literário com as poesias de Tobias Barreto e Castro Alves, e logo passou para a ação com a organização de associações libertadoras de escravos. A campanha republicana acorreu concomitantemente à campanha abolicionista.

Na Segunda República foi criada a União Nacional dos Estudantes (UNE), em 13/08/1937, a partir daí as pautas da juventude passaram a ser mais abrangentes:

Quando as manifestações estudantis se voltaram para a discussão das grandes questões nacionais, tais como o analfabetismo, a implantação de siderúrgicas, o nacionalismo, a crítica ao imperialismo, entre outras, adquirindo, assim uma acentuada conotação política que extrapolava as questões diretamente relacionadas aos interesses estudantis (BENEVIDES, 2006, p. 76).

Com a segunda guerra mundial, os estudantes brasileiros voltaram-se para o combate ao nazi-fascismo e contra o Estado Novo4 de Getúlio Vargas. Com o fim do Estado novo, a esquerda conquistou hegemonia dentro do Movimento Estudantil e da UNE, houve também o fortalecimento de partidos com tendência socialista ou comunistas e a bandeira do ME passou a ser a transformação da sociedade brasileira.

4O regime do Estado Novo, instaurado pela Constituição de 1937 em pleno clima de contestação da liberal-democracia na

Europa, trouxe para a vida política e administrativa brasileira as marcas da centralização e da supressão dos direitos políti cos. Foram fechados o Congresso Nacional, as assembleias legislativas e as câmaras municipais. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/PoliticaAdministracao

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Na década de 80 aconteceu uma grande mobilização popular, movimento das “Diretas Já!”5, reconhecida como uma das maiores manifestações populares ocorridas no país e marcadas por grandes comícios, onde pessoas perseguidas pela ditadura militar, artistas, intelectuais e estudantes militavam pela aprovação do projeto de lei que instituísse o voto direto na escolha do presidente.

Depois de 24 anos de eleições indiretas, Fernando Collor de Melo é eleito presidente, entretanto, em maio de 1992, diversos documentos que indicavam corrupção no Governo Collor e suas medidas econômicas estavam cada vez mais impopulares, previam mudança de moeda, criação impostos e redução de incentivos, aumento de tarifas públicas e o confisco de poupanças. O presidente pediu para os estudantes saírem às ruas para manifestar seu apoio ao governo, utilizando peças de roupas nas cores do país. Foi então que surgiram os caras-pintadas, milhares de jovens saíram às ruas de todo o país com os rostos pintados, como forma de protesto contra os acontecimentos que abalaram o governo e repudio às palavras de Collor.

O movimento assumiu um tom de humor, ironia e anarquia. Mesmo assim, os caras-pintadas tornaram-se ícones de um novo modo que a população descobriu de se fazer a democracia, protestando contra os seus dirigentes incompetentes ou corruptos.

Os discursos dos mais velhos não refletiam as possibilidades de mudanças que se podiam formular, então a juventude procurou criar seus próprios valores e modelos, com um foco de abrangência muito maior que o da geração de seus pais, além da noção de desigualdade e injustiça, incorporaram-se os conceitos de diferença, alteridade, pluralismo e identidade, que despertou um sentimento ambíguo na sociedade: por um lado admiração e por outro, medo. Mas, não houve negação do engajamento dos estudantes brasileiros como atores de um campo de forças alavancadas por eles mesmos.

5 No movimento Diretas Já, que aconteceu entre 1983 e 1984, a população foi às ruas para pedir eleições presidenciais diretas;

a última, ainda em 61, havia elegido Jânio Quadros. Com inflação, taxa de desemprego e dívida externa nas alturas, o período era de enfraquecimento do Regime Militar. João Figueiredo seria o último militar no poder no Brasil. A reação do governo Figueiredo foi chamar os protestos de “subversivos”. Mesmo assim, o Diretas Já continuou se fortalecendo. O principal evento reuniu 1,5 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade. A passeata começou na Praça da Sé e foi até o Anhangabaú, onde a manifestação contou com a presença de importantes nomes da política nacional, como Tancredo Neves, Luiz Inácio Lula da Silva. O poder civil é restaurado em 1985 e a nova Constituição Federal passa a valer em 1988. A emenda que aprovaria a eleição direta não foi aprovada em 1985, mas Tancredo Neves, que apoiava o movimento, foi venceu as eleições indiretas daquele ano. A primeira eleição direta para presidente, em 1989, elegeu Fernando Collor. Mais informações: http://educacao.globo.com/artigo/diretas-ja-movimento-pedia-o-voto-direto.html

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Passados os períodos de maior mobilização nos anos 60, 70, 80 e 90 onde movimentos de jovens, sobretudo estudantes, irromperam com força na cena política, desempenhando um papel importante no combate e resistência ao regime militar e na construção de uma sociedade melhor, um novo movimento surgiu em 2013, dessa vez com uma nova forma de organização: as mídias digitais, sobre as quais veremos no próximo capítulo.

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2. A COMUNICAÇÃO DIGITAL

Ao longo dos anos a Internet foi adquirindo espaço, credibilidade e um número cada vez maior de usuários. A construção de novas ferramentas de utilização e aperfeiçoamento da rede cresce em ritmo frenético. E a sociedade passa por um momento de transição que, para Levacov (1998, p. 13), se constitui como parte de uma evolução do analógico ao digital: "O computador representa não apenas revolução, mas também evolução: após a transição do cursivo para o impresso, assiste-se agora à passagem do impresso para o digital".

Então, a mídia digital ganha espaço e, pode-se entender como tal, todo conteúdo produzido e distribuído em formato digital e também como forma de promoção que usa a internet para entregar mensagens. Para Lévy (1996), a mídia digital permite a interação em tempo real e a realização do espaço virtual no qual vivem as formas culturais e linguísticas, estimulando desta forma, a circulação do saber e a formação de uma inteligência coletiva. O ciberespaço configura-se não como um meio, mas como um meta-meio de comunicação, pois integra todos os meios.

Mais do que amplificar as possibilidades de emissão e recepção, iniciou uma troca de informações global, causando um grande impacto nas diversas áreas do conhecimento, nas relações sociais, e, de forma profunda, nas relações empresariais.

Segundo Castells, vivemos uma nova tendência histórica, onde as redes constituem a nova morfologia social e os processos comunicacionais desenvolvidos através da rede dão forma à estrutura social:

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(...) a Internet não é simplesmente uma tecnologia; é o meio de comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades... A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui, na realidade, a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos (STASIAK apud CASTELLS, 2004. p. 287).

Neste contexto de sociedade em rede também se encontra a agilidade do processo de comunicação, que vem transformando o modo de pensar a própria metodologia e, principalmente, no que diz respeito às estratégias de organização e interação diante das possibilidades disponibilizadas pelos suportes digitais e da necessidade da empresa/grupo utilizar este espaço para contemplar o público que ali está.

2.1. A INTERNET: SURGIMENTO E EVOLUÇÃO

A Internet (...) não é apenas uma tecnologia: é o instrumento tecnológico e a forma organizativa que distribui o poder da informação, a geração de conhecimentos e a capacidade de ligar-se em rede em qualquer âmbito da atividade humana (CASTELLS, 2004, p.311).

A Internet começou a ser utilizada na década de 60 nos Estados Unidos, durante a Guerra Fria, para fins militares. A Agência de Pesquisa e Projetos Avançados - Arpa – cria a Internet em 1969, que na época era chamada de Arpanet. De acordo com Pollyana Ferrari (2003, p.15) a rede era uma precaução contra possíveis ataques ao país. Depois, com os avanços tecnológicos e as pesquisas na

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área, a ferramenta cresceu e sua finalidade ultrapassou as estratégias de defesa, sendo que pesquisadores de universidades do país passaram a utilizá-la para fins acadêmicos.

Posteriormente, a Internet foi se desenvolvendo e surgiram programas que possibilitam a transferência de arquivos, execução de comandos e correio eletrônico; o browser6 foi aperfeiçoado; surgiu o World Wide Web (www)7; as interfaces das páginas ficaram mais fáceis de serem visualizadas, empresas de telefonia começam a criar celulares com acesso à Internet, etc.

Em 1997 a Internet se consolida na sociedade e chega a marca de 80 milhões de usuários no mundo inteiro (PINHO, 2000, p. 34). Passou a ser conhecida como a maior invenção tecnológica depois da televisão, revolucionando o mundo das comunicações de tal forma como nenhuma outra invenção foi capaz de fazer.

A Internet é o tecido das nossas vidas. Se as tecnologias de informação são o equivalente histórico do que foi a eletricidade na era industrial, na nossa era poderíamos comparar a Internet com a rede elétrica e o motor elétrico, dada a sua capacidade para distribuir o poder da informação por todos os âmbitos da atividade humana. E mais, tal como as novas tecnologias de geração e distribuição de energia permitiram que as fábricas e as grandes empresas se estabelecessem como as bases organizacionais da sociedade industrial, a Internet constitui atualmente a base tecnológica da forma organizacional que caracteriza a Era da Informação: a rede (CASTELLS, 2004 p. 15).

A rede tornou-se efetiva na medida em que foi proporcionando a troca de informação e interatividade entre os usuários. O primeiro registro de troca de informações entre pessoas conectadas a rede foi em 1976, conforme Pinho (2000,

6 Browser é um programa desenvolvido para permitir a navegação pela web, capaz de processar diversas

linguagens, como HTML, ASP, PHP. Em inglês, o verbo browse pode significar procurar ou olhar casualmente para alguma coisa. Assim, o browser é um navegador, que permite que o utilizador encontre o que procura na internet. O browser é responsável pela comunicação com os servidores, é ele que processa os dados recebidos pelos servidores da Internet e processa as respostas. Antigamente, os primeiros browsers tinham apenas texto, mas com o tempo foram aperfeiçoados, foram criados mecanismos para interagir com o usuário, com interfaces rápidas, coloridas e de fácil acesso. http://www.significados.com.br/browser/

7 WWW é a sigla para World Wide Web, que significa rede de alcance mundial, em português. O www é um

sistema em hipermídia, que é a reunião de várias mídias interligadas por sistemas eletrônicos de comunicação e executadas na Internet, onde é possível acessar qualquer site para consulta na Internet. A tradução literal de world wide web é "teia em todo o mundo" ou "teia do tamanho do mundo", e indica a potencialidade da internet, capaz de conectar o mundo, como se fosse uma teia. http://www.significados.com.br/www/

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p. 45), as trocas eram feitas a partir de grupos de notícias inicialmente em sete categorias; computador, miscelânea, notícias, recreação, ciência, social e conversa.

Esses grupos eram o princípio dos fóruns de discussão que existem hoje. Com o passar dos anos, programas e espaços para troca instantânea de mensagem foram desenvolvidos, bem como salas de bate-papo. Na década de 90 os portais começaram a oferecer aos seus usuários uma forma mais ampla de expressarem suas ideias: as páginas pessoais.

Os portais começaram a oferecer, a partir de 1999, em larga escala, espaço e ferramentas para que o usuário confeccionasse sua própria página, seja para expor fotos da família, hospedar um trabalho escolar ou mesmo colocar seu currículo na rede. Sites como GeoCities, verdadeiro hospedeiro de páginas pessoais, oferecem espaço para que o usuário coloque sua URL nas diversas categorias oferecidas pelo site. Os portais também foram atrás desse filão de usuários, oferecendo algo mais: além da possibilidade de hospedar, muitos ainda ensinam como criar páginas HTML com fotos ilustrativas e um passo-a-passo intuitivo (FERRARI, 2003, p. 33).

A partir deste momento, o indivíduo começa a deixar de ser apenas um consumidor de conteúdo na Internet e passa a produzi-lo. Segundo Briggs, a web passa para uma nova fase e, conforme as características e disponibilidades, a internet passa ser dividida em dois modelos: Web 1.0 e Web 2.0.

[...] os editores da Web estão criando plataformas ao invés de conteúdo. Os usuários estão criando conteúdo [...] No modelo 1.0, um editor (seja um site de notícias ou um site pessoal no GeoCities) colocava o conteúdo num site da Web para que muitos outros lessem, mas a comunicação terminava aí. O modelo 2.0 não apenas permite que “muitos outros” comentem e colaborem com o conteúdo publicado, como também permite que os usuários coloquem, eles mesmos, material original (BRIGGS, 2007, p. 28).

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Para unir a interatividade proposta pelo bate-papo e as mensagens instantâneas e a produção de conteúdo informal gerada pela web 2.0 nasceram as redes sociais. Nelas o sentido da publicação é a participação.

2.2. AS REDES SOCIAIS

Redes sociais complexas sempre existiram, mas os desenvolvimentos tecnológicos recentes permitiram sua emergência como uma forma dominante de organização social. Exatamente como uma rede de computadores conecta máquinas, uma rede social conecta pessoas, instituições e suporta redes sociais (WELLMAN, 2002, apud RECUERO, 2009, p.93).

Nesse trecho a autora reforça a ideia de que as redes sociais não são exclusividade da internet, os seres humanos relacionam-se e participam de grupos desde os primórdios. No século XXI o processo apenas foi digitalizado, sofisticando a forma de se relacionar. Os sites de redes sociais são os espaços utilizados para a expressão das redes sociais na internet.

Raquel Recuero analisa as redes sociais na internet reconhecendo-as como agrupamentos constituídos por interações sociais apoiadas em tecnologias digitais de comunicação. Sendo uma rede social “sempre um conjunto de atores (pessoas, instituições ou grupos; os nós da rede) e suas relações (interações ou laços sociais)” (RECUERO, 2009). Reforçando que a interação é necessária para que ocorra uma rede social e consolide as características emergentes das redes sociais na internet, como a adaptação e auto- organização.

No mesmo sentido, Spadaro retoma de forma simplificada o conceito de redes sociais e sua constituição:

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Uma rede social é constituída por um grupo de pessoas ligadas, em geral, por interesses comuns, abertas a compartilhar os pensamentos, conhecimentos, mas também trechos de suas vidas. (...) A rede é um local: é um ambiente comunicativo, formativo e informativo, não um “meio” “a ser usado” como um martelo ou uma antena. A internet não é um simples instrumento de comunicação que se pode usar ou não, mas um ambiente cultural que determina um estilo de pensamento e cria novos territórios e novas formas de educação, contribuindo para definir também um modo novo de estimular as inteligências e de construir o conhecimento e as relações (SPADARO, 2013, p. 11).

Spadaro reforça o caráter cultural do meio digital, no sentido que indivíduos transformam os meios com os quais se comunicam e, a partir deles e seus conteúdos, modificam a si próprio e sua cultura.

O jovem é o público mais presente nas redes sociais, na medida em que as relações com as redes oferecem novas oportunidades para a interação social, elas tomam o lugar das liberdades que tenham sido confiscadas.

2.2.1. AS REDES SOCIAIS E A JUVENTUDE

Para entender a relação da juventude com as redes sociais e as discussões que este espaço abriga é interessante analisar alguns dados que revelam a presença constante dos jovens neste meio, sendo as redes sociais o meio de comunicação e interação mais utilizado pela juventude. Elas surgem como ponto de encontro juvenil, mais frequente que bares, esquinas e boates.

Segundo estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), realizado em setembro de 2013, 79% dos jovens que possuem acesso à internet mantém contas em redes sociais. O levantamento revelou uma tendência de crescimento no uso do telefone celular como principal forma de acesso às redes sociais: o aparelho é usado por mais da metade desse público (53%).

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Uma pesquisa do Conecta (Ibope Inteligência) revela que os jovens brasileiros conectados à internet possuem, em média, conta em sete redes sociais. O estudo constata que acessar redes sociais é um hábito para 90% das pessoas que tem acesso à internet nessa faixa de idade. A maioria possui perfil no Facebook (96%), YouTube (79%), Skype (69%), Google+ (67%), e Twitter (64%). O aplicativo do Facebook está presente em 88% dos celulares dos jovens e em 61% dos tablets. E 89% usa o Facebook como ferramenta nas manifestações públicas.

Segundo o estudo realizado em 2008, pela Fundação MacArthur, nos EUA o meio digital é espaço de luta pela autonomia e identidade, e a convivência online permite que o jovem adquira habilidades sociais e técnicas necessárias à sua participação na sociedade contemporânea. A socióloga Mizuko Ito, que liderou o estudo, analisa o comportamento do jovem na internet e divide as práticas do jovem neste espaço entre conduzidas pela amizade ou interesses:

A participação centrada na amizade é o que corresponde para maioria dos jovens quando estão online: passar tempo com amigos, se divertir, paquerar e se comparar através de sites sociais como Facebook. A participação baseada em interesses refere-se às práticas mais ou tecnófilas ou mais criativas, onde os jovens se conectam online com outras pessoas em torno de interesses e paixões compartilhados tais como os jogos ou a produção criativa (ITO, 2008, n.p.).

Além da divisão das práticas juvenis no meio, baseada na amizade ou centrada em interesses, o estudo também identifica três tipos de participação e aprendizagem.

Hanging out (passar um bom tempo juntos), usando ferramentas como mensagens instantâneas, o Facebook ou o MySpace para encontrar e conversar com amigos; Messing out (surfar) buscar informações, mexer com meios experimentais ou navegar ao acaso; Geeking out (nerdice), ou mergulhar profundamente em uma área de interesse ou de conhecimento especializado (Haether Horst, antropóloga da Universidade da Califórnia, participou da pesquisa, 2008).

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Essa tipologia, desenvolvida pela antropóloga da Universidade da Califórnia Haether Horst, identifica as maneiras diferentes com que o jovem participa de uma cultura midiática e a partir do que ele é influenciado e motivado. O estudo ainda reforça a internet como tecnologia alternativa para o jovem sair do âmbito casa/escola, pois permite uma liberdade e autonomia que os jovens não encontram nas salas de aula.

As redes sociais aparecem para ampliar o espaço do adolescente e mediar novas conexões entre eles ou manter laços existentes. O imediatismo do mundo digital reduziu barreiras, o que por um lado pode ser prejudicial, devida falta de privacidade, por outro lado pode estimular a aprendizagem autônoma ou grupal, longe da pressão social dos adultos. As mídias sociais e de entretenimento são, portanto, utilizadas como locais de aprendizagem e discussão.

2.2.2. AS REDES SOCIAIS COMO ESPAÇO DE DISCUSSÃO POLÍTICA

Diante da mudança do perfil da juventude que passou a lutar por autonomia e identidade nas mídias digitais (como visto no item anterior), tornando-as vitrines da vida particular e coletiva, os grupos de estudo também se digitalizaram. Tal migração foi baseada no fácil acesso, interatividade e independência da presença física/espacial dos membros, assim, ferramentas comunicacionais interativas e colaborativas, incentivam a participação social (política) dos indivíduos que, mesmo longe espacialmente, podem reunir-se para debate.

Há estudos que apontam a internet como um novo espaço público, ao ponto que diminui os abismos que separam os cidadãos e constrói uma consciência política e deliberativa a partir da prática do debate público. O indivíduo pode participar desse processo político, através da leitura de informações, produção e compartilhamento dos conteúdos, construindo o próprio debate político.

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A utilização das redes sociais como forma de articulação política é um fenômeno social deste século e esta maneira de se organizar evidenciada nas manifestações de 2013, apesar de surgir como novidade nacional, não foi pioneira nesta forma de mobilização. Várias reivindicações ao redor do mundo que iniciaram com um pequeno número de internautas resultaram em protesto.

Os protestos acompanharam a evolução digital e as demonstrações de insatisfação que antigamente eram expressas por pichações, protestos e marchas, diminuíram consideravelmente e deram espaço para as manifestações nas redes sociais. O imediatismo dos meios digitais favorece a expressão e compartilhamento dos descontentamentos diários, seja no status do Facebook, através do Twitter ou foto no Instagram. As redes sociais transformaram o ciberespaço em um local de manifestações vinculando ideias, reivindicações e críticas.

Em um debate sobre o tema, no grupo “Debates Políticos e Filosóficos”, na rede social Facebook (grifo do autor) foram levantados alguns pontos sobre a utilização das redes sociais como espaço de debate:

1- Discussões políticas ficam sempre no ambiente de defesa dos pontos de vistas (Mariana Lemos, 2014): dado o caráter imediatista das redes sociais,

os debates são muitas vezes superficiais, pois a plataforma não favorece longas discussões;

2- O debate nas redes dá a sensação de menor responsabilidade diante daquilo que é escrito/postado (Alessandro Rossini, 2014): muitos usuários escrevem

o que não diriam face a face baseado na proteção que o computador transmite.

3- Internet permite a construção de um espaço de autonomia (Cibele Ribeiro,

2014): na medida em que vai além do controle dos governos e corporações e destrói o monopólio das mídias tradicionais.

4- A internet proporciona uma liberdade de expressão jamais vista em nenhum outro meio de comunicação (Alessandro Rossini, 2014); A internet fornece

aos manifestantes a capacidade de produção de mensagens de forma independente, com o potencial de atingir milhões de pessoas.

5- As mídias digitais permitem a interação com a notícia (Camila Pakulski, 2014);

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é apenas receptor de informações, já na internet os dados são rapidamente difundidos, compartilhados e comentados.

Apesar de a internet ser um espaço com as características necessárias para um embate democrático e acesso a todo o material produzido pelo homem, ainda considera-se a fase de transição e complemento do debate físico, sendo esse necessário, na medida em que a reflexão nas redes sociais se detém a posições fechadas e “achismos” de ambos os lados. Todavia, vale ressaltar a importância das redes sociais como instrumento de mobilização, tal poder evidenciado no processo de organização das manifestações de 2013, caso que estudaremos no capítulo seguinte.

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3. AS MANIFESTAÇÕES DE 2013

As manifestações que eclodiram em vários países do mundo, demoraram a acontecer no Brasil e chegaram com o outono de 2013, por meio de uma espécie de democracia direta, popular e juvenil. A população foi às ruas em passeata, sem líderes ou organizações que comandavam os atos, todos eram protagonistas. Uma novidade para um país onde as manifestações sempre foram convocadas por forças tradicionais de representação política, como sindicatos e partidos políticos.

Ninguém diria que brasileiros tomariam as ruas do país, iniciando pela exigência de redução do preço das passagens de ônibus. Mas, os protestos que iniciaram nas redes sociais, repercutiram no mundo inteiro e surpreenderam governos, organizações e sociedade em geral.

3.1. DESCRIÇÃO DOS FATOS

As primeiras manifestações estiveram atreladas ao protesto pelo aumento do preço das passagens do transporte público e à reivindicação de tarifa zero, cuja maior representação é o Movimento Passe Livre (MPL), contudo, rapidamente as mobilizações se ampliaram e ganharam proporções inesperadas. O MPL foi criado em 2005, durante o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, quando vários coletivos

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constituíram o movimento, cujo foco era a luta pelo passe livre estudantil em diversas regiões do país.

Durante o III Encontro Nacional do MPL, realizado em Guararema, São Paulo, “inscreveram-se os princípios que se reproduziram nitidamente ao longo das manifestações de junho de 2013: horizontalidade, autonomia e independência” (RICCI, 2014, p.18), o movimento já rejeitava a possibilidade de apropriação ou controle político.

Verifica-se antecedência nas ações do Movimento Passe Livre em relação a 2013, mas, foi em 2 de junho de 2013 com o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo e Rio de Janeiro que representaram o estopim das maiores manifestações dos últimos anos no Brasil.

No dia 3, o MPL lidera manifestações na periferia paulistana. Três dias depois, no centro da capital paulistana, surge o primeiro protesto do Anonymous, ostentando máscaras de Guy Fawkes que se tornaria um fetiche político nos próximos dias. O MPL organiza o primeiro ato no centro de São Paulo que reúne duas mil pessoas. (...) No dia 7, o MPL dobra o número de manifestantes. O governador Geraldo Alkmin reage afirmando que a situação é inaceitável e exigindo ação enérgica da polícia.

No dia 10, manifestantes se concentram no centro do Rio de Janeiro. A PM detém 31 pessoas. Em São Paulo, as manifestações já indicavam uma escala de violência e conflito entre manifestantes e PM.(...) No dia 13, a manifestação paulistana já reunia vinte mil pessoas. (...) No domingo, dia 16, as manifestações já se espraiam pelo país. O tema central são os gastos públicos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014. No dia seguinte, começa a explosão das manifestações de rua (RICCI, 2014, p. 20).

Como a descrição do autor salienta, a onda de protestos cresceu e se espalhou rapidamente por todas as regiões do país, cada vez com maior público participante e a violência que marcou os protestos, num primeiro momento pacificas, provinha tanto da polícia quanto de grupos de manifestantes.

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A página oficial da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo na internet foi invadida e hackeada8 na noite do dia 12 de junho pelo grupo

Anonymous9, exigindo a redução das tarifas do transporte público. O texto dizia “Exigimos a redução da tarifa! Os supostos representantes devem ouvir a vontade do povo. Basta de políticos inócuos. Estamos acordados! Seus dias de fartura estão contados!”.

A partir do dia 17 de junho, a lógica das pautas, lideranças e organização dos protestos tornou-se menos nítida. A partir de então os atos foram marcados por cartazes pedindo paz. Não se tratava de um movimento somente de esquerda e muito menos dos setores tradicionais de representação. Houve repúdio a bandeiras e identificações partidárias nas manifestações, militantes partidários que compareceram às ruas foram espancados e expulsos como oportunistas – sofreram repressão violenta por parte da massa.

As novas reivindicações dos manifestantes também chamavam a atenção, uma mistura de motivações e pautas, das quais se destacam: combate à corrupção, necessidade de reforma política, melhoria nos serviços de saúde e segurança pública, contra PEC 3710 (Proposta de emenda Constitucional que retirava os poderes de investigação criminal do Ministério Público) e a Cura-Gay11 (Projeto apoiado pelo deputado Marco Feliciano, definia que a opção homossexual seria entendida como condição patológica e tratada com orientação sexual), contra os altos gastos com a Copa do Mundo, por transporte urbano de qualidade, contra homofobia e discriminação da homossexualidade, contra meios de comunicação.

8 O termo é importado da língua inglesa, e tem sido traduzido por decifrador (embora esta palavra tenha outro

sentido bem distinto). Os verbos "hackear" e "raquear" costumam ser usados para descrever modificações e manipulações não autorizadas em sistemas de computação e sites. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker

9 Palavra de origem inglesa, que em português significa anônimo, é uma legião que se originou em 2003.

Representa o conceito de muitos usuários de comunidades online existindo simultaneamente. Na sua forma inicial, o conceito tem sido adotado por uma comunidade online descentralizada, atuando de forma anônima, de maneira coordenada, geralmente em torno de um objetivo livremente combinado entre si e voltado principalmente a favor dos direitos do povo perante seus governantes. A partir de 2008, o coletivo Anonymous ficou cada vez mais associado ao hacktivismo, colaborativo e internacional, realizando protestos e outras ações, muitas vezes com o objetivo de promover a liberdade na Internet e a liberdade de expressão. http://www.anonymousbrasil.com/

10Proposição na íntegra disponível em:

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=D6B560B51E4233F1351BE0259565 35CE.proposicoesWeb1?codteor=969478&filename=PEC+37/2011

11 Projeto de Decreto Legislativo que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da

orientação sexual. PDC 234/11 - Projeto da 'Cura Gay'. Disponível em:

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Cartazes e faixas exibiam as pautas e representavam o desejo dos protagonistas das mobilizações, continham frases como:

“O gigante acordou.” “Vem pra rua.” “Saímos do Facebook.” “Queremos hospitais padrão FIFA.”

“Desculpe o transtorno, estamos mudando o país.” “Juventude que ousa lutar: constrói o poder popular.”

“Nenhum partido me representa.” “Sem violência.”

“Verás que o filho teu não foge à luta.” “Feliciano não me representa.”

“Reforma Política já!” “Somos filhos da revolução.” “Acredite, não é só por R$ 0,20.”

Entre 17 e 21 de junho de 2013, as manifestações tornaram-se diárias nas diferentes regiões do Brasil. Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), somente no dia 20 de junho houve protestos em pelo menos 438 cidades de todos os estados brasileiros e 388 cidades aderiram ao protesto dia 21 de junho. No que se refere a público, dia 20 de junho foi o ápice, com mais de 1,5 milhões de pessoas protestando nas ruas do Brasil.

Perfil dos manifestantes foi objeto de estudo do Departamento de Inteligência e Pesquisa de Mercado da Abril, cuja pesquisa apontou que 46% dos manifestantes têm entre 15 e 39 anos, sendo 21% de 15 a 29 anos. Quanto ao grau de escolaridade 84% possuíam ensino superior completo ou em andamento, as classes sociais A e B somaram, juntas, 84%. 46% nunca haviam participado de uma manifestação.

Os principais motivos que levaram os manifestantes às ruas são (considerando apenas a primeira resposta do entrevistado), segundo Ibope: transporte público 38%, política 30%, saúde 12%, PEC37 6%, gastos com a copa

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5% e educação 5%. Quando somadas as três razões indicadas pelos manifestantes para estarem nos protestos os resultados são: transporte público 53,7%, ambiente político 65,0%, gastos com a copa do mundo/das confederações 30,9%, saúde 36,7%, contra a PEC 37 11,9%.

Quanto à mobilização, 77% dos manifestantes organizaram-se através do Facebook e 75% dos que participaram de algum protesto utilizaram essa rede social para convidar os amigos. Dessa forma, os dados comprovam o processo de articulação das manifestações por meio das redes sociais.

3.2. A ARTICULAÇÃO NAS REDES SOCIAIS

As ocupações são chamadas por diversos grupos para pontos comuns ou pontos diversificados e se espalham de forma viral pelas redes. Ao se encontrarem nos pontos indicados, a comunicação continua pelo celular já que não há carros de som. A informação para os que não estão no encontro continua de forma descentralizada: as pessoas filmam, fotografam, comentam e enviam para as redes sociais. E para as redes de televisão que, percebendo a riqueza deste material, passaram a estimular que seus telespectadores lhes enviassem os registros. Ou seja, as manifestações estão também mandando um recado sobre o poder das novas tecnologias para o acesso, a criação, modificação e distribuição do conhecimento. Neste aspecto, é preciso atentar para o principal ator das manifestações: os jovens (SINGER, 2013, n.p.).

Apesar das Manifestações de 2013 serem pioneiras no Brasil no que se refere a organização através de redes sociais, protestos ao redor do mundo que utilizaram as mídias digitais como logica de estruturação não são novidades. Na Primavera Árabe, por exemplo, jovens assistiam e compartilhavam vídeos e informações pela internet e foram às ruas em sinal de protesto contra repressão, pobreza e ausência de direitos humanos.

O Occupy Wall Street foi outro movimento conectado às redes sociais. Aconteceu nos EUA e rebelou-se contra corrupção e desigualdade. Além desses,

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vários outros movimentos juvenis amparados por mídias digitais ocorreram no Egito, Turquia, Tunísia, Ucrânia e outros países no mundo.

Nas Manifestações de 2013 a lógica das redes sociais não esteve somente no processo convocatório, mas também na mobilização e organização dos atos. O comando das ações não se deu por meio de uma organização ou liderança, e sim de forma horizontalizada entre os usuários das redes sociais e se espalhou rapidamente nos grupos, comunidades e relações individuais.

E, justamente essa identificação entre quem convidava e quem recebia o convite, que deu a grande dimensão às manifestações, pois muitos jovens aderiram a proposta mesmo sem uma opinião sólida sobre o assunto. E a diversidade de cartazes revelava que cada um ou cada grupo tinha sua pauta e construíam uma manifestação própria que se unia a manifestação como um todo.

Segundo Rudá Ricci (2014, p. 23), o processo de organização em rede despontava uma utopia provisória de demonstração de força, imediata, ágil e sem barreiras, na medida em que a comunicação em rede é lacunar, ou seja, não se fecha, é aberta, dinâmica e se refaz na sua própria metodologia. Chauí reforça essa ideia referindo a sensação de “ato mágico”, de maneira que, com alguns cliques, aquilo que a pessoa deseja acontece. É a satisfação imediata do desejo sem mediação.

Durante as manifestações, a troca e propagação das informações eram rápidas e se espalhavam de forma incontrolável, criando inúmeros multiplicadores digitais que davam corpo as pautas e protestos sem líderes.

Mal iniciava a manhã e já havia mensagens postadas de um protesto na rede marcado para a parte da tarde. (...) Por volta das 4 da tarde, várias pessoas já se encontravam no local com cartazes, segurando máscaras nas mãos e com a bandeira brasileira às costas. Uma hora depois, a multidão se aglomerava gritando, cantando e entoando o Hino Nacional. Em poucos minutos, ruas, avenidas e estradas estavam tomadas (FERNANDES, 2013, p. 29).

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