REGIMES DE
TRABALHO
DOS
SERVIDORES
1. SERVIDOR PÚBLICO
Servidor público segundo Di Pietro (2003) é o termo utilizado, em sentido amplo, para designar "as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da
Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos”.
Assim, são considerados servidores públicos: os servidores estatutários, ocupantes de cargos públicos providos por concurso público e que são regidos por um estatuto, definidor de direitos e obrigações; os empregados ou funcionários públicos, ocupantes de emprego público também provido por concurso público, contratados sob o regime da CLT. São também chamados de funcionários públicos; e, os servidores temporários, que exercem função pública despida de vinculação a cargo ou emprego público, contratados por tempo determinado para atender à necessidade temporária de excepcional interesse público, prescindindo de concurso público.
Até a publicação da Constituição Federal de 1988, a Administração Pública adotava a CLT para regular as relações trabalhistas, com os então chamados empregados públicos. Os trabalhadores do Serviço Público, até a promulgação da Constituição Federal de 1.988 não possuíam qualquer tipo legal de relação coletiva de trabalho com a Administração Pública. Nem poderiam: sem direito à sindicalização e sem direito à greve, não podiam unir-se em Sindicatos, e, deste modo, agir de maneira conjunta,
articulada, enquanto interlocutores sociais. (BEIRO, 2004)
Conforme afirma Beiro (2004) a Constituição Federal de 1988 estabeleceu para a Administração Pública o Regime Jurídico Único, estabelecendo sua adoção pela administração direta, pelas autarquias e fundações, extinguindo a possibilidade do ingresso em outro regime jurídico, que não fosse o estatutário, universalizando esse modelo de regime.
Com a Constituição de 1.988 e a consagração daqueles direitos antes negados, os trabalhadores do Serviço Público passam a ser encarados não mais como meros sujeitos, mas como atores coletivos, capazes de relacionarem-se efetivamente entre si e com terceiros, notadamente a Administração Pública. (BEIRO, 2004)
O artigo 39 da Constituição estabeleceu ainda que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime jurídico único e planos de carreira para os servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas.
No entanto, a Emenda Constitucional nº 19/98 suprimiu a obrigatoriedade de um regime jurídico único para todos os servidores públicos, podendo, então, a União, Estados e Municípios estabelecer regimes jurídicos diferentes como regimes não-contratuais, ou da CLT ou ainda de natureza administrativa especial.
Di Pietro (2000) a esse respeito comenta que
Com a exclusão da norma constitucional do regime jurídico único, ficará cada esfera de governo com liberdade para adotar regimes jurídicos diversificados, seja o estatutário, seja o contratual, ressalvadas aquelas carreiras institucionalizadas em que a própria Constituição impõe, implicitamente, o regime estatutário (...)
2. O REGIME ESTATUTÁRIO
O regime estatutário possui determinadas peculiaridades. Neste regime o servidor é nomeado através de um ato unilateral, ingressando numa situação jurídica já delineada, sem poder modificá-la, pois são regidos por um estatuto que é uma lei. O acordo
estabelecido entre empregado e empregador (ente público) serve apenas para formar o vínculo entre ambos e para que o servidor possa tomar posse no cargo para o qual foi nomeado. Mas a ele não serão dadas condições de discutir
as respectivas condições de trabalho e vantagens previamente estatuídas.
O regime estatutário foi introduzido no País em 1939, no Governo de Getúlio Vargas e trouxe várias garantias para os servidores como a admissão apenas por concurso público; fixação do número de cargos e dos vencimentos em lei; e estabilidade funcional. A esses servidores aplicam-se alguns dos dispositivos da Constituição Federal, como por exemplo, garantia de salário nunca inferior ao mínimo, décimo terceiro salário,
repouso semanal remunerado, entre outros.
O servidor estatuário tem estabilidade, mas não tem direito ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.
No entanto, como afirma Beiro (2004), com relação a outros direitos comuns ao regime celetista, o servidor estatutário acaba perdendo. O Direito de Negociação no Setor Público, por exemplo, é exercido de maneira muito tímida, pois sofre muitas restrições.
(...) para ser o resultado da negociação coletiva exigível juridicamente, deve ser transformado em ato administrativo válido, exarado pela autoridade competente
(geralmente o Chefe do Executivo, ou diretamente, por Decretos, Portarias e outros atos, ou indiretamente, através do envio de Projeto de Lei à Casa Legislativa, como por exemplo no caso da concessão de reajuste salarial).
(BEIRO, 2004)
3. REGIME CELETISTA
O regime celetista é regido pelo Direito do Trabalho e disciplinado pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.
O regime celetista está submetido, no entanto, às normas constitucionais de ingresso mediante concurso público e aos parâmetros de controle fiscal e financeiro da União e dos entes federados, através da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Estão submetidos a este regime os empregados públicos os empregados públicos, ocupantes de emprego público também provido por concurso público, contratados sob o regime da Consolidação das Leis do Trabalho.
O servidor público celetista então está subordinado às regras do sistema de administração pública e ao sistema trabalhista aplicado aos empregados comuns.
O regime celetista observa uma relação contratual que sempre pressupõe uma liberdade de negociação de preços e condições de fornecimento de utilidades.
As características desse regime se antagonizam com as do regime estatutário.
Primeiramente, o regime se caracteriza pelo princípio da unicidade normativa, porque o conjunto integral das normas reguladoras se encontra em um único diploma legal – a CLT. Significa que, tantas quantas sejam as pessoas federativas que adotem esse regime, todas elas deverão guiar-se pelas regras desse único diploma. Neste caso, o Estado figura como simples empregador, na mesma posição, por conseguinte, dos empregados de modo geral.
Ainda segundo Carvalho Filho (2000) outra característica do regime celetista diz respeito à natureza da relação jurídica entre o Estado e o servidor trabalhista.
Diversamente do que ocorre no regime estatutário, essa relação jurídica é de natureza contratual. Significa dizer que o Estado e seu servidor trabalhista celebram efetivamente contrato de trabalho nos mesmos moldes adotados para a disciplina das relações gerais entre capital e trabalho.
4. REGIME ESTATUTÁRIO X REGIME CELETISTA
As opiniões sobre qual o melhor regime para o servidor público divergem e as discussões em torno disso parecem não vão terminar tão cedo.
Há aqueles que consideram que os servidores que exercem funções típicas de Estado, deveriam se submeter ao regime estatutário, e não celetista.
A esse respeito Dallari (1992) comenta que
(...) na verdade, o regime celetista é totalmente inadequado à administração pública, até mesmo porque foi talhado para disciplinar o relacionamento entre empregados e empregadores, no setor privado da economia, visando à defesa do trabalhador. Já o regime estatutário é o que se ajusta perfeitamente ao regime jurídico administrativo, que tem como norte, sempre, a defesa do interesse público.
Outros como Moreira Neto (1998) entendem que realmente o vínculo estatutário é o mais adequado, pois atende preferencialmente os interesses públicos, em função dos quais é instituído o vínculo estatutário. “(...) o regime estatutário [...] é próprio dos entes públicos em suas relações com seus servidores
(...)”.
Já o regime celetista disciplinaria o relacionamento entre trabalhadores e patrões, no setor privado, visando à defesa do empregado, e não no setor público.
Assim, visando o atendimento do interesse público o regime jurídico do vínculo entre o Estado (órgãos e entidades de Direito Público) e o servidor deve ser o estatutário.
Diante das transformações pelas quais passa o mundo do trabalho e as relações entre empregados e empregadores, no caso do Estado o ideal seria chegar a um consenso onde se resguardasse o interesse público e ao mesmo tempo o empregado fosse beneficiado e tivesse seus direitos garantidos.
Obviamente, no âmbito público, o regime estatutário é o que melhor atende às exigências e necessidades do empregador. Já no âmbito particular, o regime celetista oferece uma ampla gama de direitos ao trabalhador.
Portanto, o desafio é encontrar o caminho como fizeram muitos países que criaram mecanismos de flexibilização das condições de trabalho dos servidores públicos, encontram um meio-termo que beneficiou a todos. O mais importante é que o Estado consiga valorizar seus empregados e ao mesmo tempo conseguir a máxima eficiência e qualidade nos serviços prestados à população.