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XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira

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Academic year: 2021

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COMO APLICAR DIDÁTICAS CONSIDERANDO PROCESSOS COGNITIVOS DE APRENDER DOS UNIVERSITÁRIOS SURDOS

Maria Gorete de Medeiros Prof. Me. da UAEd da UFCG

goretedidatica01@gmail.com

Resumo

Ainda em andamento, minha pesquisa, volta-se para a sistematização de esclarecimentos sobre como o docente pode aplicar didáticas considerando necessidades de aprendizagem dos universitários surdos. Como a questão linguística e cultural dos surdos já tem sido objeto de muitos estudos, meu interesse investigativo abrange conhecimentos sobre os esquemas cognitivos que esses estudantes utilizam para melhor aprender, partindo do pressuposto de que há diferença entre o modo de aprender do universitário surdo em relação ao modo do universitário ouvinte. Sob essa perspectiva, escolhi a teoria do Ciclo de Aprendizagem Experiencial (CAE) de Kolb (1993) porque, inicialmente, foi necessário comparar o modo como os universitários surdos aprendem com o modo de aprender dos universitários surdos ouvintes. A utilização (adaptada para LIBRAS) do Teste do Inventário dos Estilos de Aprendizagem (IEA), já usado por Kolb (1984) e Cerqueira (2000) (em pesquisas com os universitários ouvintes) ofereceu maior credibilidade aos resultados adquiridos em relação à minha pesquisa com os surdos. Como resultado parcial e consistente do meu trabalho investigativo, afirmo que, mediante conclusões obtidas pela análise do Teste que foi aplicado a vinte e dois (22) universitários surdos, está comprovado que há diferença no modo de aprender dos universitários surdos, em relação ao modo como aprendem os ouvintes. Isto implica que, no ensino inclusivo ao universitário surdo, o professor precisa aplicar didáticas que também se adequem ao esquema cognitivo de aprender deste aluno. Resta um problema: Como ajustar o modo de ensinar pelo método do CAE, de maneira que atenda às necessidades cognitivas de aprendizagem dos universitários surdos? E como fazer isto, se há desencontro nas trilhas que caracterizam os percursos que cada grupo (de ouvintes versus surdos) faz no CAE? A sistematização dos saberes relacionados a essas questões está sendo produzida.

PALAVRAS CHAVE: Estilos de Aprendizagem. Universitário Surdo. Ensino Superior.

Problema da pesquisa

Enquanto professora da disciplina de Didática no Ensino Superior, somente a partir de 2008 iniciei uma maratona na busca de competências para ensinar a universitários surdos. Além de duas especializações e cursos de LIBRAS, também fiz curso de graduação em Letras/Libras na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e, durante esse curso, interagi com dois universitários surdos, intercambiando as nossas

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habilidades linguísticas. Através deles, eu soube que os surdos se sentem prejudicados não só porque seus professores não usam a LIBRAS, mas, também, porque lhes impõem didáticas que são adequadas aos ouvintes e inadequadas ao alunado surdo.

Atualmente, tem sido muito discutida a ideia de que os sujeitos têm diferentes maneiras de perceber e processar a informação. Essa diversidade corresponde ao que os pesquisadores denominam de Estilos de Aprendizagem (EAs) ou de estilos cognitivos. A teoria do Ciclo de Aprendizagem Experiencial de Kolb (CAE) tem sido evidenciada.

Lendo Pereira (2005, p. 21) me chamou a atenção, a afirmativa de que “ao professor adquirir a consciência de que cada acadêmico tem seu próprio estilo de aprendizagem torna-se capaz de promover um ensino lastreado nesses parâmetros utilizando de estratégias que promovam um aprendizado mais eficaz”.

Daí, eu refleti: se, na implementação de uma didática, cujos métodos possibilitem maior eficácia no processo de ensino e aprendizagem, o docente precisa saber como se caracteriza a diversidade de modos de aprender, em função de atender à diversidade de preferências do alunado, quando houver aluno surdo somente o aclaramento em relação ao alunado ouvinte não será suficiente. Nessa perspectiva, o docente precisa saber quais são as diferenças que os surdos revelam em relação aos esquemas cognitivos empregados numa trilha de aprendizagem, para poder aprender a ensinar a universitários surdos, numa sala de aula em que surdos e ouvintes aprendem juntos, sendo a quantidade de alunos ouvintes maior do que a dos surdos.

Tese e objetivos

Nesse sentido, levantei a tese de que, mesmo havendo semelhanças entre os estilos de aprendizagem dos universitários surdos e os dos ouvintes, nas situações de aprendizagem os surdos expõem processos cognitivos diferentes, exigindo adequação na condução pedagógica, a partir da que já vem sendo dispensada aos ouvintes.

Assim, minha pesquisa está sendo realizada sob o objetivo de, à luz da teoria do Inventário dos Estilos de Aprendizagem (IEA) de Kolb (1984), conhecer e analisar a diferença que existe entre universitários Surdos e ouvintes, quanto ao modo como os dois grupos utilizam seus esquemas cognitivos em situação de aprendizagem. Imbricados, estão os objetivos de descrever o perfil predominante de aprendizagem de universitários surdos, explicando como utilizam seus esquemas cognitivos e quais são as necessidades pedagógicas que lhes são inerentes. Por último, conhecimentos serão

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sistematizados na perspectiva de ofertar, ao professorado universitário, esclarecimentos sobre como pode aplicar didáticas também considerando os processos cognitivos de aprendizagem dos universitários surdos.

Procedimentos metodológicos

Na bibliografia acadêmica brasileira, não encontrei estudos sobre os EAs dos universitários surdos. Em relação ao nível de ensino superior, há o estudo de Cerqueira (2000) relacionado somente a universitários ouvintes. A obtenção de dados relacionados ao modo como os surdos melhor aprendem ficou por conta da minha pesquisa.

Em concordância com Gil (1991) esta pesquisa tem caráter descritivo e explicativo, pela utilização do método indutivo, uma vez que envolve estudo bibliográfico, aplicação do Teste do IEA de Kolb (1993) a vinte e dois (22) universitários surdos, registro e análise de dados que resultam em ordenação de saberes. O Teste do IEA contém as doze questões que foram sugeridas por Kolb (1993) e usadas por Cerqueira (2000), mas numa versão adaptada a LIBRAS e foram apresentadas em vídeo, com respostas marcadas numa ficha escrita em português.

Discussão e resultados parciais

De acordo com a teoria do CAE, Kolb (1984) define aprendizagem como um processo no qual o conhecimento é adquirido através da experiência, num processo cíclico que envolve quatro etapas que abrangem operações desde o envolver-se (Experiência Concreta - EC), observar (Observação Reflexiva - OR), formular ideias e teorias (Conceitualização Abstrata - CA) até a tomada de decisões (Experimentação Ativa - EA). Pela combinação entre estas operações são definidos os EAs: Divergente (EC-OR), Assimilador (CA-OR), Convergente (CA-EA), Acomodador (EA-EC).

Considerando a análise dos resultados da aplicação do Teste do IEA, que possibilitou a compreensão dos esquemas cognitivos de aprendizagem dos universitários surdos, em termos de resultados já alcançados, confirmo que entre universitários surdos e os ouvintes há diferença na ordem de prevalência dos esquemas cognitivos inerentes aos estilos: Divergente, Assimilador, Convergente e Acomodador.

Enquanto Cerqueira (2000) detectou que os universitários ouvintes aprendem melhor quando o processo de aprendizagem privilegia estratégias de ensino inerentes ao estilo Assimilador de aprendizagem, colocando em baixa o interesse pelo estilo

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Acomodador, eu detectei que os universitários surdos aprendem melhor quando o processo de aprendizagem privilegia estratégias de ensino inerentes ao estilo Convergente, e que colocam como última preferência o estilo Assimilador. Além disto, ao passo que os ouvintes mantêm em baixa o interesse pelas estratégias inerentes ao estilo Acomodador, este é o segundo estilo de aprendizagem preferido pelos surdos.

As preferências máximas dos universitários surdos e dos ouvintes partem da dimensão do CAE que valoriza a conceitualização abstrata sendo que, para os ouvintes a ênfase está na OR, enquanto para os surdos a ênfase está na EA. Assim, os surdos privilegiam estratégias inerentes ao estilo Convergente, enquanto os ouvintes escolhem o Assimilador. A seguir, ambos os grupos encaminham suas preferências para a dimensão que valoriza a experiência concreta, continuando os surdos a se beneficiarem pela EA e os ouvintes pela OR. Assim, enquanto os surdos escolhem estratégias inerentes ao estilo Acomodador, os ouvintes escolhem as do estilo Divergente.

Na terceira etapa do CAE, acontece algo curioso: enquanto os surdos seguem o percurso na dimensão da EC, escolhendo as estratégias do estilo Divergente, os ouvintes voltam para a dimensão da CA, escolhendo estratégias inerentes ao estilo Convergente (onde iniciou a trilha de preferência de aprendizagem dos surdos no CAE). Os surdos completam a ordem de preferência na etapa onde os ouvintes demonstraram preferência máxima: a do estilo Assimilador. Desta forma, utilizando os nomes dos EAs do CAE de Kolb, posso afirmar que a trilha de preferência dos surdos equivale a Convergente→Acomodador→Divergente→Assimilador, enquanto a dos ouvintes corresponde a Assimilador→Divergente→Convergente→Acomodador.

Mediante a consistência deste resultado, estão sendo evoluídas explicações que podem esclarecer o caráter da diferença da utilização de esquemas cognitivos utilizados pelos universitários surdos, em relação aos ouvintes, bem como os aclaramentos sobre as necessidades pedagógicas dos surdos no processo de ensino e de aprendizagem. Também estão sendo evoluídos esclarecimentos sobre como o docente universitário pode aplicar didáticas atendendo às necessidades inerentes aos processos cognitivos de aprendizagem dos surdos.

Jacobsohn (2003, p. 32) afirma que “quanto mais forte for determinada preferência, mais importante será atendê-la, para obter-se maior eficácia no processo de ensino e aprendizagem”. Cerqueira (2000) valida a ideia esclarecendo que

quando os professores conhecem e respeitam os estilos de aprendizagem peculiares de seus alunos, proporcionando instrução em consonância com os mesmos, verifica-se um aumento de aproveitamento acadêmico e um

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decréscimo de problemas de ordem disciplinar, bem como melhores atitudes em relação à escola (CERQUEIRA, 2000, p. 37).

Daí porque este trabalho de pesquisa precisa consolidar sua contribuição para o ensino e a aprendizagem inclusiva aos universitários surdos. Pode fazer isto esclarecendo aos professores como é possível estabelecer mudanças na condução pedagógica, na perspectiva de inserir didáticas que também atendam às necessidades dos esquemas cognitivos de aprendizagem preferencialmente utilizados pelos universitários surdos.

Considerações finais

Para um professor de curso superior praticar um ensino inclusivo aos universitários surdos, não é suficiente dispor de um intérprete durante as aulas e de conhecer os esquemas cognitivos dos ouvintes. Também precisa saber como se processam os esquemas cognitivos dos surdos. Assim, estará mais preparado para atender à diversidade de preferências cognitivas do seu alunado, aplicando didáticas que coadunem métodos que sejam adequados aos esquemas cognitivos de aprendizagem, tanto dos universitários surdos quanto dos ouvintes.

Referências

KOLB, D. A. Self-Scoring Inventary and interpretation booklet. Revised Edition. Boston:McBer, 1993.

Kolb, D. A. Experiential learning: Experience as the source of learning and development (Vol. 1). Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1984.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. p. 207.

CERQUEIRA, Teresa Cristina Siqueira. Estilos de aprendizagem em universitários. Tese de Doutorado em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP- Brasil, 2000.

JACOBSOHN, Liliana Vasconcellos. O potencial de utilização do e-learning no desenvolvimento de competências do administrador: considerando o estilo de aprendizagem do aluno de graduação. Tese de Doutorado em Administração de Empresas – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, FEA/USP, São Paulo: USP, 2003.

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