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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE PRODUTOR E AGROINDÚSTRIA CITRÍCOLA, APÓS A EXTINÇÃO DO CONTRATO PADRÃO

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Academic year: 2021

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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL ENTRE

PRODUTOR E AGROINDÚSTRIA CITRÍCOLA, APÓS A

EXTINÇÃO DO CONTRATO PADRÃO

Matheus Kfouri Marino1

Resumo

O cenário desfavorável apresentado pela citricultura nos últimos anos, queda nas cotações internacionais do suco de laranja concentrado congelado e a política cambial, impulsionaram mudanças no ambiente institucional, como a extinção de um contrato padrão entre produtor e agroindústria citrícola. Surge, como resultado, uma ampla heterogeneidade de contratos. A presente pesquisa analisa a evolução desta transação, observando as estruturas de governança de acordo com a especificidade dos ativos envolvidos. O estudo é preliminar e busca estatísticas básicas para dar suporte à formulação de hipóteses com base no referencial teórico da Economia dos Custos de Transação, por meio da análise dos dados de uma pesquisa de campo, com 76 produtores de laranja. Observou-se elevada especificidade dos ativos na relação em questão, testando empiricamente os ativos dedicados. As evidências indicam que os contratos tendem a evoluir para uma relação mais estável, de maior prazo, à medida em que se eleva a especificidade dos ativos.

Abstract

The recent problems faced by the citrus sector in Brazil in the last few years, specially the fall of international prices of frozen concentrated orange juice and the exchange rate police have driven some changes in the institutional environment. As a result, several different contracts emerge in the relationship between producers and industry, replacing the former unique contract. This preliminary study presents some basic data to discuss this contractual relations based on the framework of Transaction Cost Economics theory. There are some specificities involved in this relationship producer-industry that impact the resulting governance structure. Empirically, the article analyses the contractual length of contracts and the specificity involved. The more the specificity involved, the more the length of contracts, that is the basic hyphotesis. The article uses some data from a questionnaire prepared for a project involving “Food Security issues”, carried out by the University of São Carlos (UFSCar). There is a direct relation between contact length, average production and exclusivity to the citrus crop. The conclusion is that the relation producer-industry presents a high degree of asset specificity, and the higher the volume produced, the higher the lenght of contracts.

Palavras-Chaves: Citrus, Duração de Contratos, Estruturas de Governança

1

Mestrando em Engenharia de Produção na Universidade Federal de São Carlos e Pesquisador do PENSA (Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial) E-mail: mkmarino@usp.br

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1 – Introdução

Com o passar dos anos, produtores de laranja e agroindústria processadora criaram um relacionamento aparentemente contínuo e duradouro, resultando em um evolutivo contrato padrão para todo o setor. Reduções de margens em virtude de mudanças bruscas no ambiente institucional, tais como a sobrevalorização do real perante ao dólar e queda nas cotações internacionais do suco de laranja concentrado congelado (SLCC), proporcionaram pontos de discórdia nesta relação.

O contrato padrão surgiu da evolução das transações entre citricultores e indústria processadora e tinha as seguintes características básicas:

• Contrato único a todo o setor

• Contrato de participação, onde os preços eram somente definidos após a venda

• Preço era resultado da cotação da Bolsa de Nova Iorque, deduzida dos custos industriais • Os ajustes de preços eram anuais

• Igualdade no poder de barganha entre as partes envolvidas • Readaptações eram feitas anualmente

Em 1994, o CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, decretou a extinção do contrato padrão a pedido dos produtores rurais, que julgavam-se prejudicados em virtude da redução dos preços em Nova Iorque. Todos os riscos eram assumidos pelos citricultores, uma vez que o valor da laranja relacionava-se com as cotações da Bolsa de Nova Iorque, deduzidas dos custos industriais. A ação competitiva das empresas do setor industrial-exportador era visível, chegando ao ponto da imposição de um mesmo custo industrial a todo setor.

Com a queda da auto-regulamentação do setor, cresceu a heterogeneidade de contratos, com os quais pretendia-se dividir os riscos e as margens eqüitativamente. Entretanto, não se levou em consideração a perda do poder de barganha devido à pulverização dos produtores (mais de 27 mil), em negociação com um segmento industrial concentrado, com aproximadamente 12 empresas.

Tendo-se como referencial teórico a Economia dos Custos de Transação, analisando-se a especificidade dos ativos, a freqüência das transações e as incertezas que as cercam, objetiva-se a compreensão da evolução desta relação pós o contrato padrão, ressaltando a duração dos contratos e a divisão dos riscos.

2 – Economia dos Custos de Transação (ECT

)

Como referencial teórico, tem-se Williamson (1985) reportando a Economia dos Custos de Transação (ECT). A partir do marco inicial da Nova Economia Institucional (NEI), caracterizada pela obra de Coase (1937), Williamson consolidou a linha de estudos sobre a eficiência das organizações por meio da análise das transações, sobretudo com uma visão microanalítica. Define-se genericamente custo de transação como “os custos de funcionamento do sistema econômico” (Arrow, 1969, apud Williamson, 1985). Traduz-se este conceito como os custos relacionados indiretamente com a produção, que surgem a partir do relacionamento entre os agentes em virtude de problemas de coordenação. O custo total econômico não é apenas função da transformação tecnológica do insumo em produto, mas sim da somatória deste, com os gerados a partir do funcionamento do mercado.

Williamson (1985) subdivide o conceito de custo de transação em dois grupos: os custos gerados antes da transação, ex-ante, como a elaboração e negociação dos contratos e a procura e o conhecimento da outra parte contratante, e os custos ex-post, originados após a concretização do negócio, tais como o monitoramento das imposições contratuais, da resolução de conflitos que possam ocorrer e das readaptações que poderão ser necessárias. Como ponto de partida para a compreensão das transações, procura-se entender o comportamento dos agentes envolvidos. Dois pressupostos merecem destaque neste âmbito: a

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caracterizam-se por racionalidade limitada, isto é, os agentes econômicos procuram agir racionalmente, mas possuem limitações (Simon, 1961 apud Williamson, 1985), os contratos sempre serão incompletos, gerando a possibilidade de ações oportunísticas de ambas as partes devido às imperfeições dos termos contratuais.

Diante da possibilidade de ganhos individuais, os agentes agem oportunisticamente, maximizando o bem estar próprio. Basicamente existem duas formas de se reduzir o oportunismo: os incentivos eficientes por meio de mecanismos de remuneração, e os mecanismos de monitoramento e controle.

A diversidade com que se encontram os diversos arranjos institucionais que regem as transações explica-se pela variação dos atributos existentes. Para maior compreensão, Williamson (1985) classifica os atributos das transações como: especificidade dos ativos; freqüência; e incerteza. De acordo com a variação dos atributos, determina-se a estrutura de governança ideal, variando desde o mercado spot, até integração vertical, passando pelas formas contratuais mistas.

Williamson (1985) define especificidade de ativos como: “ é quanto aquele investimento é específico para aquela atividade é quão custosa sua realocação em virtude da perda do valor”. Distinguem-se seis tipos de especificidade dos ativos (Willianson, 1991 apud Azevedo, 1996), como:

1 - Especificidade locacional: a localização nas mediações das unidades produtivas proporciona economia no custos de transporte e armazenamento, caracterizando retornos específicos às unidades.

2 - Especificidade de ativos físicos: investimentos físicos realizados por alguma das partes envolvidas na relação que são específicos para a atividade. Deve-se observar a distinção com

sunk cost, custos irrecuperáveis, devido ao fato deste nem sempre ser específico para a

atividade.

3 – Especificidade de ativos humanos: necessidade de capital humano específico para a atividade.

4 – Especificidade de ativos dedicados: relação de dependência do investimento com o retorno em virtude da dedicação a um agente particular, ou a uma atividade específica.

5 – Especificidade de marca: importância da marca específica para a atividade (importante no mundo das franquias).

6 – Especificidade temporal: O valor da transação está relacionado com o tempo específico em que ela se realiza, sendo importante, por exemplo, no caso de produtos perecíveis.

Com o emprego dos ativos específicos à transação, gera-se uma quase-renda (Klein et al., 1978). Esta caracteriza-se pela diferença entre o retorno advindo do emprego destes na transação específica, comparando com outro emprego alternativo. A quase-renda depende da continuidade da relação, sendo que cada uma das partes terá incentivos para apropriar-se de qualquer ganho incremental derivado desta relação conjunta, gerando a possibilidade de comportamento oportunístico, ou hold up (quebra contratual).

Como resultado, tem-se o estabelecimento de uma relação de dependência entre as partes à medida em que se eleva a especificidade dos ativos. Quanto mais específica for a transação, maior será a demanda por coordenação.

Aumentando-se a freqüência das transações, possibilita-se a utilização de estruturas mais complexas, e a criação da reputação, reduzindo-se assim os custos de transação. Na definição da estrutura de controle, o atributo freqüência é de suma importância, proporcionando a inibição do comportamento oportunístico, caso seja possível a observação, em virtude da potencialidade de interrupção futura do negócio.

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O terceiro atributo a ser considerado refere-se às incertezas do ambiente. Estas provocam distúrbios inesperados nas transações, exigindo estruturas de monitoramento complexas, o que poder onerar o custo da transação. Com elevado grau incerteza, mantida a especificidade dos ativos, a transação tende a internalizar-se.

Portanto especificidade dos ativos, incertezas e freqüência dimensionam as transações, sendo importantes parâmetros na definição de arranjos institucionais eficientes, objetivando a minimização dos custos de transação.

Como visto anteriormente, as transações podem se dar em diversos arranjos, desde a simples aquisição no mercado spot, até a integração vertical. Num continuum entre as duas estruturas acima, surgem as formas híbridas de contratos, que tanto podem se aproximar da hierarquia, caso das franquias, como do mercado spot, caso do mercado futuro.

Para a determinação das estruturas de governança mais eficientes, opta-se por aquela que proporciona menores custos transacionáveis, que por sua vez são determinados pelos atributos das transações. A figura 1 ilustra a relação entre os custos das estruturas de governança e a especificidade dos ativos, demonstrando, como comentado anteriormente, que quanto maior a especificidade dos ativos, maior a tendência de hierarquia.

Figura 1: Relação entre Custos de Governança e Especificidade dos Ativos

Observa-se que o mercado, m (k), possui menor custo quando o nível de especificidade é baixo, de 0 a k1. Já para uma especificidade média, as formas híbridas, x (k), apresentam-se mais eficientes, de k1 a k2, e em transações altamente específicas, k maior que k2, a hierarquia, h (k), revela-se mais vantajosa.

3 – Análise da Relação Produtor/Agroindústria no Sistema Agroindustrial

Citrícola, Enfocando-se a Economia dos Custos de Transação

Na década de noventa, o Sistema Agroindustrial (SAG) da laranja ajustou-se aos novos padrões concorrenciais, adequando-se à competitividade internacional. Relações conflituosas emergem, especialmente entre os produtores e a indústria processadora, gerando inúmeros arranjos transacionais. Na figura 2, ilustra-se o sub-sistema simplificado do suco de laranja

m (k) x (k) h (k) k1 k 2

k

Custos

0

Especificidade

dos ativos

W illiamson (1985)

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concentrado congelado, destacando-se a transação em estudo:

Figura 2: Sub-sistema simplificado do suco de laranja concentrado congelado e transação a ser analisada no estudo.

Na transação a ser explorada, destacam-se quatro tipos de investimentos específicos, são eles: Especificidade Locacional: A matéria-prima laranja possui elevada relação peso/valor, com isso o transporte a longa distância torna-se inviável, exigindo proximidade entre a unidade produtiva e a produção agrícola.

Especificidade Temporal: Para que se obtenha a máxima qualidade e menor custo dos produtos finais, a laranja deve ser colhida no ponto ótimo de maturação. Este período de tempo é restrito e exige constante acompanhamento técnico, concentrando-se em uma mesma época na maioria das variedades cultivadas no Brasil.

Especificidade Física: Tanto na produção agrícola como na indústria, existe a necessidade de se fazer investimentos específicos em infra-estrutura física. Por ser uma cultura perene, a laranjeira leva em média três anos para começar a produzir, sendo este um investimento físico específico, dispendioso e irreversível. Na extração de suco, utilizam-se equipamentos que também são específicos aos citrus, portanto a realocação a outras culturas seria inviável. Especificidade Dedicada: O pequeno número de fábrica processadoras de laranja faz com que os produtores destinem grande parcela de sua produção a uma única empresa, criando-se assim uma dependência. O inverso também é verdadeiro, no entanto, dificilmente uma empresa depara-se com produtores que tenham volume produtivo suficiente para abalar seu funcionamento em caso de ruptura. A exceção consiste nos pools de produtores, que tentam captar esta vantagem a seu favor, equilibrando as condições de negociação. O cultivo exclusivo de laranja também proporciona maior dependência, e sendo assim, contratos de maior prazo tendem a ser mais utilizados.

Sendo esta uma relação que envolve inúmeras especificidades, o mercado spot é insuficiente para atender todos os requisitos desejados. Já a integração vertical supriria as deficiências, entretanto, com um custo superior, obrigando os agentes a saírem do seu foco principal, seja a produção agrícola, ou o processamento. As diversas formas híbridas de transação surgem com o intuito de se reduzir os custos de transação envolvidos, representadas, na sua grande maioria, pelos contratos de logo prazo. Existe uma grande diversificação entre estes, de acordo com os investimentos específicos envolvidos.

Apesar do questionamento acima, encontra-se uma elevada integração vertical do segmento industrial como uma estratégia do setor, assim como um pequeno volume no mercado spot. A produção agrícola, por parte do segmento industrial, explica-se pelo ganho do poder de barganha na transação em estudo, e pelo acesso à informação da atividade. A comercialização de laranja para o mercado interno, consumo in natura, é caracterizada pelo mercado spot, resultando em respingos que são absorvidos pela indústria processadora. Observa-se um possível ganho de eficiência por meio do emprego de contratos mais complexos, proporcionando a focalização do negócio de cada segmento.

Insumos

Produção

Agrícola

Industrialização

Engarrafamento

e Distribuição

Consumo

Final

Análise da

Transação

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Com contratos de longo prazo permite-se um planejamento prévio de produção e divisão de riscos da atividade. Por serem estruturas de governança mais complexas, os contratos com maior duração coordenam os agentes, permitindo um planejamento estratégico de longo prazo. Aumentando-se a freqüência da transação, recontratação, cria-se reputação entre ambas as partes, o que pode ser um redutor de custos de transação.

Passam a ser fatores importantes as quantidades negociadas, a qualidade da matéria-prima apresentada, o local da produção, a freqüência e a reputação dos parceiros na definição dos contratos.

Para se minimizar incertezas, utilizam-se contratos que dividam os riscos, garantindo assim o suprimento de matéria-prima, proporcionando ganhos de eficiência para todo o sistema.

4 – Aplicação Empírica

Por meio de uma aplicação empírica, este texto procura ligar os pontos teóricos anteriormente discutidos, enfatizando a relação entre a especificidade dedicada e a duração dos contratos. Como hipótese, associa-se o aumento da duração dos contratos à necessidade de estruturas de governança mais complexas em virtude da elevação da especificidade dedicada. Internacionalmente, Joskow (1987) procurou relacionar duração dos contratos com especificidade dos ativos no mercado norte americano de carvão. Zylbersztajn e Lazzarini (1997) avaliaram continuidade dos contratos na indústria de sementes brasileira.

Quanto maior a especificidade dos ativos, maiores serão as oportunidades de ações oportunísticas entre os agentes, que desejarão se apropriar da quase-renda gerada. Neste contexto, espera-se que quanto maior o volume de laranja produzido, assim como quanto maior a dedicação à cultura dos citrus, mais específico se torna a atividade, exigindo contratos mais complexos. A sinalização se dará pelo aumento na duração desta relação.

Neste caso, contratos de pequena duração surgem devido à menor especificidade dos ativos, requerendo estruturas de governança mais simples, como contratos de curto prazo, não estando diretamente associados a ruptura contratual, ou hold up.

Contratos de longo prazo, maior duração, evitam custos de recontratação, principalmente os ex

ante, como a procura e levantamento de informações do contratante e o desenho do novo

contrato. Os custos ex post também podem ser reduzidos devido ao maior comprometimento entre ambas as partes. Contratos de longa duração podem ser flexíveis, proporcionando reajustes de preços ao longo do tempo, sem que ocorra recontratação.

4.1 – Caracterização da Amostra

O estudo utiliza-se dos resultados de um questionário elaborado no DEP-UFSCar, para o Projeto de Segurança Alimentar do Segmento Rural do Complexo Agroindustrial Citrícola2.

Os dados foram obtidos em uma pesquisa de campo realizada em vários municípios da antiga DIRA de Ribeirão Preto, maior produtora paulista de citrus. Foram entrevistados 76 produtores de laranja, sendo: 5 minis, 35 pequenos, 32 médios e 4 grandes.

O contato com os produtores foi feito por intermédio da Casa da Agricultura, dos revendedores locais e nas propriedades agrícolas. A tabulação do questionário apresenta-se no anexo 1. A tabela 1 apresenta as características gerais da amostra, como o desvio padrão e a média. Tabela 1: Média e Desvio Padrão de Algumas Variáveis da Amostra

Variáveis Média Desvio Padrão

Duração dos Contratos (anos) 1,45 1,13

Produção (Cx. 40,8 Kg) 44.318,67 64.610,00

Na variável duração dos contratos, foram considerados tanto os formais quanto os informais.

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4.2 – Resultados

Trabalhando-se com os dados da pesquisa, obteve-se uma relação entre duração dos contratos, produção média e dedicação aos citrus, como apresentado na tabela 2:

Tabela 2: Duração dos Contratos, Produção Média e Dedicação Exclusiva ao Citrus Duração do Contrato

(Anos)

Produção Média (Cx. 40.8 Kg)

Dedicação Exclusiva ao Citrus Nº de Representantes na Amostra

9 20.000 100% 1

3 60.000 70% 10

2 52.333 67% 6

1 41.205 40% 59

Fonte: Projeto de Segurança Alimentar do Segmento Rural do Complexo Agroindustrial Citrícola

A relação encontrada apresenta evidências de que quanto maior o volume produzido, maior a necessidade de estruturas de governança mais complexas, representadas por contratos de maior duração. A produção média do contrato de nove anos não evidenciou a relação, pois a amostra foi insuficiente para conclusão devido à presença de apenas um representante na amostra.

Produtores com alto volume de produção, isto é, elevada especificidade dedicada, não podem depender do mercado spot em virtude da pequena capacidade de absorção deste, além da facilidade de se negociar com a indústria, em condições melhores de barganha.

Quanto à exclusividade no cultivo da laranja, os produtores não desejam assumir todo o risco operando sem contratos, confirmando a hipótese de que quanto maior a dependência da cultura, maior é a especificidade dedicada, e consequentemente mais necessário se faz a utilização de contratos de longo prazo.

Sem a utilização de estruturas complexas, transações como esta, elevada especificidade dos ativos, proporcionam oportunidades de comportamento oportunístico para apropriação da quase-renda, maximizando o bem estar próprio.

5 – Conclusões

Após a queda da auto-regulamentação do setor, extinção do contrato padrão, emergiu uma ampla gama de contratos adequados a cada transação, de acordo com seus atributos. Encontram-se diversos tipos de relação, podendo variar no prazo (curto ou longo), na moeda (US$ ou R$), na participação dos resultados (preços pré estabelecidos ou participações no desempenho das vendas) e modo de comercialização (pools ou individuais).

O estudo permitiu concluir que a relação entre o produtor e agroindústria caracteriza-se pela elevada especificidade dos ativos. Por meio da análise empírica, ficou evidenciada a existência da especificidade dedicada na transação em questão, variando-se caso a caso, de acordo com a intensidade da especificidade dos ativos envolvidos.

Tratando-se de ativos altamente específicos, os contratos tendem a evoluir para uma relação de parceria, aumentando a sua complexibilidade. Com isso, diluem-se os riscos imediatos, passando a vigorar a visão de longo prazo. Estas formas híbridas contratuais são mais eficientes devido à minimização dos custos de transação. O mercado spot é insuficiente para atender a todos os requisitos, e a integração vertical gera custos elevados.

Como pesquisas complementares, pretende-se analisar os contratos do setor em outras ocasiões futuras, verificando-se assim, a evolução dos indícios encontrados no presente trabalho.

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ZYLBERSZTAJN, D. Estruturas de Governança e Coordenação do Agribusiness: uma

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Anexo 1: Tabulação dos dados do questionário do Projeto de Segurança Alimentar do Segmento Rural do Complexo Agroindustrial Citrícola.

Código Produção Contrato Dedicação Exclusiva (Cx. 40,8 Kg) (Anos) ao Citrus 1 11.000 1 SIM 2 30.000 1 SIM 3 - 1 SIM 4 23.000 1 NÃO 5 50.000 1 SIM 6 1.800 1 SIM 7 23.000 1 NÃO 8 5.400 1 NÃO 9 30.000 1 SIM 10 17.500 1 NÃO 11 400.000 1 NÃO 12 100.000 1 NÃO 13 150.000 1 NÃO 14 80.000 1 SIM 15 8.000 3 SIM 16 25.000 1 NÃO 17 2.400 3 NÃO 18 84.000 3 NÃO 19 5.000 1 SIM 20 7.000 1 SIM 21 24.000 1 SIM 22 20.000 1 NÃO 23 10.000 1 SIM 24 3.000 1 SIM 25 19.600 1 NÃO 26 110.000 1 SIM 27 15.000 1 SIM 28 12.000 1 NÃO 29 22.000 1 NÃO 30 20.000 9 SIM 31 80.000 1 SIM 32 70.000 3 SIM 33 150.000 3 SIM 34 4.000 2 SIM 35 60.000 2 SIM 36 20.000 2 SIM 37 11.000 1 NÃO 38 25.000 1 NÃO 39 81.600 3 SIM 40 30.000 3 SIM 41 8.000 3 SIM

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Código Produção Contrato Dedicação Exclusiva (Cx. 40,8 Kg) (Anos) ao Citrus 42 40.000 2 SIM 43 70.000 2 NÃO 44 100.000 1 NÃO 45 35.000 1 SIM 46 43.000 1 SIM 47 58.000 1 SIM 48 7.400 1 NÃO 49 330.000 1 NÃO 50 50.000 1 NÃO 51 1.000 1 NÃO 52 10.000 1 SIM 54 30.000 1 SIM 55 3.000 1 NÃO 56 2.200 1 NÃO 57 47.000 1 NÃO 58 3.000 1 SIM 59 24.000 1 NÃO 60 35.000 1 NÃO 61 46.000 3 SIM 62 20.000 1 NÃO 63 4.000 1 SIM 64 11.000 1 NÃO 65 10.000 1 NÃO 66 120.000 2 NÃO 67 12.000 1 NÃO 68 8.000 1 NÃO 69 120.000 3 NÃO 70 30.000 1 SIM 71 500 1 NÃO 72 30.000 1 NÃO 73 65.000 1 NÃO 74 50.000 1 NÃO 75 54.000 1 NÃO 76 6.500 1 NÃO

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