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Academic year: 2021

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PAUTA DO PROGRAMA

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Canal /umbandat7

PÉS DESCALÇOS

AULAS DE UMBANDA Sumário Introdução ... 1 Aspecto histórico ... 3

Conduta social de respeito. Conduta moral esperada. ... 9

Fundamento energético religioso. Uso de sapatos especiais. ... 10

CONCLUSÃO ... 14

Introdução

A prática dos ritos da religião de Umbanda possui uma característica muito específica que consiste na retirada do calçado antes que a pessoa ingresse no que se chama de área de trabalho1, seja esta pessoa praticante ou não da religião, bem como na permanência dos pés descalços por parte dos umbandistas enquanto estiverem ritualizando.

Este ato tornou-se, ao longo dos anos, em uma espécie de regra e esta regra transformou-se em fundamento2. Ritualizar calçado atrai os olhares dos demais praticantes eclodindo sentimentos de desaprovação, aprovação ou curiosidade. Em nossa pesquisa encontramos importante esclarecimento no site

1Área de trabalho é o espaço, dentro do terreiro (abaçá, ilê, templo, casa, cabana, barracão), onde ocorre o ritual religioso. Há o espaço denominado “assistência”, que é o mesmo nome que se dá às pessoas que ali permanecem (a assistência), em que as pessoas aguardam seu atendimento espiritual. Temos a área de trabalho, espaço destinado à incorporação, atendimento e desenrolar ritualístico dos praticantes da religião, a tronqueira, espaço destinado ao culto a Exu e demais entidades classificadas como “de esquerda” (Exus, Pombagiras, Exus e Pombagiras Mirins – entidades e/ou Orixás). A tronqueira possui estrutura complementar junto às portas ou à porta de acesso principal do terreiro chamado de porteira. O acréscimo de espaços destinados aos cultos e suas nomenclaturas variam de acordo com a doutrina adotada por aquele terreiro. Esta é a base. Há exceções, como toda regra possui.

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www.centropaijoaodeangola.net intitulado “Pés descalços”, cuja autoria não sabemos:

“O solo, chão (sic) representa a morada dos ancestrais e quando

estamos descalços tocando com os pés no chão estamos tento um contato com estes antepassados.

Nós costumamos tirar os calçados em respeito ao solo do terreiro, pois seria como se estivéssemos trazendo sujeira da rua para dentro de nossas casas.

É também uma forma de representar a humildade e simplicidade do Rito Umbandista.

Além disso, nós atuamos como a para-raios naturais, e ao recebermos qualquer energia mais forte, automaticamente ela se dissipa no solo. É uma forma de garantir a segurança do médium para que não acumule e leve determinadas energias consigo.

Em alguns terreiros é permitido usar calçados (mas calçados que são usados APENAS dentro do terreiro).

Cabe ressaltar, que a origem desse costume, nos cultos de origem afro-brasileira, é outra; os "pés descalços" eram um símbolo da condição de escravo, de coisa; lembremos que o escravo não era considerado um cidadão, ele estava na mesma categoria do gado bovino, por exemplo.

Quando liberto a primeira medida do negro (quando fosse possível) era comprar sapatos, símbolo de sua liberdade, e de certa forma, inclusão na sociedade formal. O significado da "conquista" dos sapatos era tão profundo que, muitas vezes, eles eram colocados em lugar de destaque na casa (para que todos vissem).

Ao chegar ao terreiro, contudo, transformado magicamente em solo africano, os sapatos, símbolo para o negro de valores da sociedade branca, eram deixados do lado de fora.

Eles estavam (magicamente) em África e não mais no Brasil.

No solo africano (dos terreiros) eles retornavam (magicamente) à sua condição de guerreiros, sacerdotes, príncipes, caçadores, etc”. O texto acima descreve os diversos ângulos que o tema pode ser abordado, a saber:

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1. aspecto histórico, a condição de escravo e a liberdade representada pelo calçado adquirido;

2. conduta social de respeito, retirar o calçado em respeito ao solo do terreiro que possui conteúdo sagrado;

3. conduta moral esperada, humildade ao realizar o ato;

4. fundamento energético religioso, energia mais forte que se dissipa no solo; 5. exceção à regra em alguns terreiros, usar calçados destinados somente ao

ritual umbandista.

Tentaremos discutir estes tópicos para tentar responder a pergunta: Por que ritualizamos com os pés descalços?

Aspecto histórico

Sobre o aspecto histórico que antecede a fundação/anunciação da religião de Umbanda (relação entre a liberdade e o uso de calçados), não encontramos referências bibliográficas ou fontes confiáveis em nossa curta pesquisa para afirma-la como sendo verdadeira. Assim, não analisaremos a questão por este prisma. Partiremos para uma análise da fundação de nossa religião.

A anunciação da Umbanda se deu com Zélio Fernandino de Moraes devidamente calçado, ou seja, a incorporação do Caboclo das Sete Encruzilhadas no dia 15 de novembro de 1908 aconteceu com o médium calçado e sentado junto a uma mesa espírita. Caso tenhamos alguma dúvida de que os médiuns na casa de Pai Zélio incorporavam calçados, vamos às fotos a seguir extraídas do site da TENSP (Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade):

Nesta foto vemos a Mãe Zélia de Moraes. No canto direito superior uma médium calçada com uma sapatilha branca. O piso é de madeira, um isolante térmico e elétrico por natureza.

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Nesta foto vemos uma reunião com os fundadores das Tendas de Umbanda a mando do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Reunião presidida por Zélio Fernandino de Moraes. Percebam os pés dos médiuns. Alguns estão calçados e outros não. Contudo, todos os calçados são brancos e subentendemos

serem especialmente dedicados às giras de Umbanda.

Nesta, Mãe Zilméia está na Cabana de Pai Antônio descalça. Note na direita e acima um par de pés calçados com sapatilhas. Somente a título de curiosidade, a fita vermelha está enrolada no braço

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Pai Benjamin Figueiredo da Tenda Espírita Mirim incorporado calçado e de meias, ambos (calçado e meias) brancos e com característica de ser um calçado separado para o uso ritualístico. Demais

médiuns também calçados no mesmo padrão.

Aqui, vemos Pai Matta e Silva descalço. Note que o chão da área de trabalho é de terra, característica de seu terreiro.

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Pai Ronaldo Linares incorporado calçado e na areia da praia. Note a iluminação do flash fotográfico e a oferenda ao lado.

Pai Diamantino Trindade, Pai Ronaldo Linares e Babá Dirce calçados (entrega de brajás na formação sacerdotal junto à Casa de Pai Benedito e sede da FUGABC.

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Babá Dirce incorporada em uma das Tendas do Santuário Nacional de Umbanda. Note, o chão é de terra e a sapatilha utilizada aparenta ser específica para o ritual de Umbanda, com exceção do tênis

preto do médium ao lado esquerdo da Babá Dirce.

Pai Rubens Saraceni incorporado com sapato branco também dando a entender que é específico para o ritual de Umbanda.

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Quem é este médium? Pai Rubens Saraceni, calçado e na cachoeira (ponto de força).

As fotos acima comprovam que o processo mediúnico de incorporação realizado nos rituais da religião de Umbanda pode ser executado estando o médium com os seus pés descalços ou estando o médium com os seus pés calçados. Não importa o tipo de chão em que o médium esteja. Pode ser na terra, na cachoeira, na areia da praia ou no piso do terreiro a incorporação ocorrerá estando o médium calçado ou não.

A Umbanda foi construída com esta liberdade de escolha. Vimos nas fotos dos templos que fundaram e fundamentaram a religião de Umbanda médiuns calçados e médiuns descalços. Se existe nos dias de hoje alguma tese ensinando que o processo de incorporação de espíritos não pode ocorrer com os pés calçados é porque esta teoria não está de acordo com os fatos e sim, está baseada somente em conceitos. Quando os conceitos são contrários aos fatos é preciso reconhecer a falha do método adotado. Para estudar um fato religioso é preciso primeiro observar estes fatos em seu local de execução para podermos, posteriormente, chegar a uma conclusão. Vamos criar uma analogia. Quando eu solto um objeto, este objeto sempre cairá em direção ao solo por força da gravidade. Uma tese que diz o contrário, ou seja, que os corpos não caem em direção ao solo porque todos

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os corpos tendem a encontrar o caminho de Deus, que é para cima, estaremos diante de uma grande falha de método. Os fatos possuem explicação. Nós é que, às vezes, de tanto ouvir falar neste fato acabamos por repetir conceitos sem pensar. Cabe a nós, estudantes da religião de Umbanda, buscar as explicações destes fatos através da livre observação e, claro, do estudo pormenorizado das teorias. Se as teorias se adequam aos fatos concluímos que ali pode conter uma solução favorável. Se a teoria está em desacordo com os fatos observados, será impossível sustenta-la. Utilize a teoria da descrença: “Não acredite em nada do que lhe falam. Acredite em suas experiências”.

Conduta social de respeito. Conduta moral esperada.

Retirar o calçado em respeito ao solo sagrado do terreiro é o que se espera do visitante e do praticante de Umbanda. Contudo, sob o aspecto de regra e conduta social esperada, teremos o mesmo respeito se adentrarmos ao solo sagrado calçando sapatos brancos e dedicados ao ritual de Umbanda. Não há reprovação em adentrar à área de trabalho umbandista calçando um sapato ou sapatilha branca e especialmente dedicada ao ritual. Caso contrário, se o praticante adentrar na área de trabalho mediúnico durante a realização do ritual calçando tênis, sapato ou sapatilha de uso comum, será repreendido por inadequação às regras ordinárias da religião de Umbanda. O leitor não estranhou o rapaz de tênis preto na foto da Babá Dirce incorporada? Contudo, naquele momento, não foi solicitado ao médium que retirasse seu calçado. Assim, de acordo com a análise dos fatos, esta regra de conduta social possui exceções que variam a critério do dirigente espiritual daquele terreiro. Toda regra possui exceção senão, seria uma exceção à regra.

No que diz respeito à conduta moral esperada, ou seja, o médium ou o consulente retirar seu calçado para pisar no chão em sinal de humildade, verificamos ser um conceito muito bonito de se dizer. Porém, na prática, a conduta observada é outra. Retirar os sapatos é encarado muito mais como respeito às normas da casa do que uma manifestação de humildade. O quesito “estar de acordo com as regras de conduta do terreiro” é mais forte. Quando um consulente entra no terreiro descalço a primeira coisa que pensamos não é: - “Que falta de humildade”. Pensamos mais comumente: - “Está errado! Tire os sapatos”! Podemos estar completamente errados, tendo em vista que estamos baseando esta conclusão pela análise de nossas condutas e não por pesquisa abrangente junto aos terreiros. Caso esta análise esteja diferente do que ocorre no terreiro do leitor,

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pedimos encarecidamente que envie seu relato para nós (aderitojunior@yahoo.com.br).

Fundamento energético religioso. Uso de sapatos especiais.

No livro Desobsessão, psicografado pelos médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira3, temos as regras ditadas pelo espírito de André Luiz para as sessões de desobsessão espírita. Na página 85 consta o seguinte:

“COMPONENTES DA REUNIÃO

Os componentes da reunião, que nunca excederão o número de quatorze, conservem, acima de tudo, elevação de pensamentos e correção de atitudes, antes, durante e depois de cada tarefa.

Nenhuma preocupação com paramentos ou vestes

especiais” (grifo nosso).

Nestas sessões de desobsessão, os médiuns psicofônicos ou, como consta na página 125, segundo parágrafo, “...mais propriamente, médium de incorporação...”, transmitem as mensagens dos espíritos enfermos (espíritos obsessores) e os médiuns esclarecedores executam seu trabalho.

Como verificado acima, ocorre a incorporação de espíritos obsessores em caráter semelhante ao que chamamos na Umbanda de transporte mediúnico, ou seja, um médium incorpora o espírito obsessor de um consulente e outro médium, seja esclarecedor ou de incorporação, que já contém o caráter esclarecedor intrínseco, mantém diálogo com aquele espírito obsessor. Pois bem, a incorporação nas sessões espíritas de desobsessão ocorre com o médium calçado com um sapato qualquer, bem como vestindo roupas do dia-a-dia. O mentor espiritual daquela sessão também instrui e repassa suas mensagens de ordem e elevação espiritual estando o seu médium calçado com um sapato ordinário (comum) e suas roupas cotidianas. Estas informações obtivemos de um livro

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escrito pelo mais respeitado médium da doutrina espírita brasileira, André Luiz e seu médium Chico Xavier. Não é qualquer livro espírita.

No livro Iniciação à Umbanda, de Pai Ronaldo Linares, pág. 21, encontramos escrito:

“Em 1908, o jovem Zélio Fernandino de Moraes estava com 17 anos e havia concluído o curso propedêudico (equivalente ao Ensino Médio). Zélio preparava-se para ingressar na Escola Naval, quando fatos estranhos começaram a acontecer.

Às vezes, ele assumia a estranha postura de um velho, falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa e que havia vivido em outra época. Em certas ocasiões, sua forma física lembrava um felino lépido e desembaraçado que parecia conhecer todos os segredos da Natureza, os animais e as plantas”.

Podemos concluir que Zélio Fernandino de Moraes incorporava seus guias espirituais calçado, com as roupas do dia-a-dia e fora do contexto religioso. Não era um trabalho espiritual, mas a incorporação ocorria. Também não era o chão do terreiro, porque não havia terreiro de Umbanda. Foi Pai Zélio que fundou o primeiro4. O exemplo do livro serve apenas e unicamente para comprovar que o processo de incorporação não exige roupa especial e estar descalço ou calçado com sapato ritualístico. Além disto, qual o médium umbandista experiente que nunca acompanhou ou ouvir falar de médiuns incorporando em suas residências para tratar seus familiares de algum mal que lhe acometem?

O exemplo espírita descrito é apenas a comprovação de que o ritual religioso energeticamente “pesado”, ou seja, de desobsessão, pode ocorrer sem o uso de roupa especial ou sapato ritualístico. O ritual de esclarecimento por meio de espíritos elevados também não exige roupas especiais no meio espírita.

Então, por que repetimos constantemente que devemos ritualizar com os pés no chão ou com sapatos especialmente destinados ao ritual umbandista? Como podemos afirmar isto se os fatos descritos e tantos outros que verificamos em nosso cotidiano indicam que nem o trabalho mediúnico e nem o processo de

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incorporação exigem estarmos com os pés em contato direto com o chão ou devemos calçar sapatos especiais?

Talvez, a explicação seja outra.

Os fatos narrados nos livros, a conduta dos médiuns espíritas, as fotos coladas a este trabalho, os fatos que encontramos no dia-a-dia precisam ser analisados.

Realmente, existem as incorporações domésticas com excelentes resultados. Existem rituais energicamente pesados em centros espíritas. Existem incorporações sem a necessidade de roupas ritualísticas e calçados especiais. Tudo isto existe e são fatos incontestáveis. Incorporação não exige roupa específica. Trabalho mediúnico não exige calçado especial. Porém, devemos nos atentar ao fato de que a religião de Umbanda se tornou especializada e competente não só no esclarecimento mediúnico e na cura espiritual e material dos enfermos encarnados e desencarnados, mas também e principalmente na defesa e no combate5 energético por meio de estruturas de terreiro destinadas a estes objetivos. Seremos mais claros.

O umbandista não ritualiza descalço ou calçado de sapatos especiais somente para cumprir as regras da casa, para cumprir uma tradição ou para demonstrar humildade. O umbandista aprendeu, por suas próprias experiências, que as estruturas de sustentação não são meras construções simbólicas e sim, elementos essenciais para a condução sustentável de sua ritualística. Para atender às exigências de seu cotidiano energético, o umbandista manipula seus pontos individuais de captação e emissão de energia6 em conjunto com os pontos de sustentação de energia do local em que está sendo executado o ritual naquele momento. Normalmente é no terreiro que este ritual ocorre, mas há exceções como, por exemplo, os pontos de força da natureza.

Dentre estas estruturas de emissão e captação de energia temos o polo mais denso denominado casa de exu ou tronqueira e o polo mais sutil chamado de conga ou simplesmente de altar. Temos a porteira, estrutura auxiliar e coligada à tronqueira, temos as estruturas de energização e captação de fluídos junto à assistência (balaio de pipoca de Obaluayê, imagens, cristais, símbolos), temos plantas e outros que estão ligados ao conga ou são independentes. Todas estas bases possuem o objetivo concreto de auxiliar o trabalho dos médiuns e dos guias

5 Utilizamos o termo combate em substituição ao termo ataque. Sabemos que um combate exige defesa e

ataque. Contudo, o termo ataque nos remete à má interpretação de investir energeticamente contra alguém sem que tenhamos motivos justos para tal intento.

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espirituais a tratar e encaminhar da melhor forma e com maior eficiência as enfermidades espirituais trazidas pela comunidade que procura os trabalhos de Umbanda e também oferecer caminho viável ao sustento e progresso mediúnico da vida do médium participante da corrente.

Percebam que a área de trabalho não é sempre utilizada com os médiuns descalços ou calçados com sapatos especiais. Não. Quando nos reunimos em grupos de estudo, quando oferecemos cursos, quando lavamos esta área, quando adentramos na área de trabalho fora do horário de ritual mediúnico não utilizamos roupas de santo e sequer calçado especial. Há terreiros que são exceções. Nós só utilizamos o conceito de pés descalços (sem sapatos ou com sapatos especiais) quando há ritual. Quando o ritual se inicia o conceito de pé descalço surge sem que tenhamos noção disto. É automático e não tem cunho psicológico. Andamos livremente e sem vergonha com nosso tênis dentro da área de trabalho quando temos curso ou quando lavamos, mas, começando o ritual o calçado passa a incomodar instantaneamente. Pelo menos esta é a experiência que constatamos no terreiro. Por que isto ocorre?

A estrutura de apoio ao fluido vital circulante (chamado por nós de axé) de maior extensão por metro quadrado físico que um terreiro possui se chama área de trabalho. A área de trabalho só surge em um único momento, na preparação de sua área, seja pelos mentores espirituais, seja pelos médiuns responsáveis ou seja por ato misto (mentores espirituais mais médiuns). Seja no ponto de força da natureza ou no terreiro, a área de trabalho somente surge quando a produzimos. É um fato7. Assim, quando alguém diz que utilizamos o conceito de pés descalços para descarregar e captar energias do solo não está se referindo ao solo do planeta. Vejam, verificamos nas fotos terreiros com piso de madeira, que é um isolante térmico e elétrico por natureza. Se um sapato isolasse o pé do médium energeticamente a madeira também o faria com certeza absoluta. Temos piso de concreto e acima um piso frio. Não há energia que chegue à terra propriamente dita dessa forma. Com sapato ou não, não chegaria. Se assim fosse, não precisaríamos literalmente enterrar o fio terra de nossa rede elétrica doméstica no solo. Simplesmente repousaríamos a barra de ferro no piso frio do quintal. Não é isto o que acontece na prática.

Quando ritualizamos o solo (por meio do guia, médium ou de forma mista), transformamos a área de trabalho em estrutura de circulação de energia daquele terreiro ou daquele ponto de força. Por meio da ritualização, este solo adquire

7 Estamos abertos a constatações contrárias. Havendo fundamento convincente teremos a humildade de reconhecer algum possível erro e ajustar nossas teorias.

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propriedades especiais e espirituais que se ligam a todas as demais estruturas (principais ou secundárias) do local. Percebam vocês que, não raras as vezes, sabemos sem estarmos incorporados que a gira será pesada ou que algum dos consulentes dará muito trabalho. Não é por conta da comunicação espiritual de nossos mentores somente, mas também e principalmente por meio da ligação da área de trabalho com a captação energética das estruturas contidas na assistência e na porteira. Estas, se comunicam constantemente formando complexo sistema de fluxo de energia. São como chackras estruturais de um organismo chamado terreiro. Captam e emitem fluído vital (axé).

Para captar este fluxo necessitamos de algo simples, descalçar os pés ou utilizar sapatos que contenham a mesma programação energética dessas estruturas. Damos o nome destes elementos de roupa de santo, que se constitui em roupas especialmente utilizadas para o trabalho espiritual. Podemos usar o calçado de santo ou os pés ligados à “corrente” de fluxos de energia circulante e criada artificialmente por meio do ritual. Aqui, o pé descalço é sua pele que, naturalmente, já está ligada à sua mediunidade sensitiva. Isto é óbvio. Podemos criar este ritual pelo cruzamento do chão, pela reza evocatória8 ou por meio do ritual executado por Dona Zélia na primeira foto deste texto de apoio ao estudo, que consiste em riscar, acender uma vela, derramar um líquido (curiador) e bater cabeça junto a diversos símbolos distribuídos e criados por meio de um giz especial, sagrado e dotado de poderes sobrenaturais, a pemba.

CONCLUSÃO

Esperamos, por meio deste pequeno ensaio, fomentar a discussão sobre o tema e fazer os umbandistas pensarem de forma diferente sobre seu ritual e sua religião. Muitas vezes, se faz necessário ter alguém que cutuque nosso cérebro ou que nos desafie a explicar nossas convicções enraizadas.

Portanto, concluímos:

1. Que o conceito dos pés descalços atinge o umbandista sem precisar de regras neste sentido, tendo em vista que o fluxo estrutural de energias de um terreiro o faz tomar esta atitude;

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2. Que o médium preparado entende, por meio de sua percepção extrafísica, que o axé circulante do terreiro flui constantemente entre as estruturas de captação e emissão desta energia vital;

3. Que a roupa de santo possui a capacidade de se integrar a este fluxo de axé e colocar o médium em contato com todos os pontos, bem como com os demais integrantes da chamada corrente mediúnica;

4. Que o pé descalço não serve para descarregar energia no solo terrestre, mas para gerar fluidez energética;

5. Que o conceito de pés descalços não só descarrega energia, mas também capta e distribui;

6. Que o médium é capaz, de acordo com esta conclusão, de tomar ciência do que, energeticamente, está sendo captado em outros pontos do terreiro integrante deste sistema fechado;

7. Que o conceito de pés descalços não é misticismo e sim, construção humana-espiritual.

Caso algum irmão não concorde com as conclusões aqui dispostas, encorajamos (sem desafios e de coração aberto) a conduzir as práticas ritualísticas de Umbanda sem a utilização de roupas de santo ou o conceito de pés descalços para verificar pessoalmente o que aqui se sustenta.

Adérito Simões

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