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^0'FLORE$?
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S^í t: ^rv LIVRARIAACADÉMICA
J.GUEDES DA
SILVA 8, R. Mártires da Uberdade, 12 P0RT0-P0RTU6AL-TELEF. 25988'^
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MOVA
€âSTE®5
TRAGEDIA
,
DE
JOiO
BAPTISTA
GOMES
JÚNIOR.
Nova
E<l&ção
CORRECTA
DE
MUITOS
ERROS,E
AUGMENTADA
COM
A
BRILHANTE
SCENA
COROAÇÃO.
PC»BTO:
ISÕ*?*
NA
1MPRE^'SA DRSEBASTIÃO
JOSFFERREIRA,
ACTORES.
D. Affonso
IV
Rei de
Portugal.D.
Pedro
Príncipe.D.
Ignez
de
Castro.
D.
Sancho
Mestre
do
Príncipe.Ti^^
^^
"
í^ Conselheiros.
Pacheco
J
D. Nuno
Camarista
do
Rei^O
Embaixador de
Castella.
Elvira
,Aia
de
D.
Ignez.Dois
Meninos
Filhosde
D.
Pedro, eD.
Ignez.A
Scena
étm
Coimbra
numa
Sala
do
Palacto^em
que
resideD,
Ignez,ACTO
Paii9IEIRO#
SCENA
I.Ignez, e
Elvira.
lgne%. {\)
lOoMBRA
implacávelí Pavoroso Espectro !Nào
me
persigas mais. ..Constança
!Eu
morro
(2).Elvira.
—Que
afílicçâo ^ .Que
delirio!. .Oh
Deos
!Senhora. .
.
Ign. (3)
—
Onde
eslá. . .onde
está omeu
Esposo
?. . .Mv.
—
O
PrÍQcipe,Senhora,
inda repousa,Tudo
jazem
silencio: tu somente,Negando-te ao
socego, attribulada,Is 'este Paço, ululando, errante vagas?
Que
dor acerbao
coração te rasga?Que
sonhadas visões assim teanceam
?Ign.
—
Contra Ignez
se conspirao Ceo,
ea
Terra(4),Té
dascampas
ôs mortos selevantam
Para
me
flagellar;continuamente
Negros
fantasmas antemim
volleam. ..
Que
horror!. . .Oh
Ceos!. . .Agora mesmo,
Elvira,(1) Ignez entra na Scena delirante, e borrorisada. (2) Assenta-se desfallecida.
(3) Ainda fora de si, e atemoriíftda, (4) Levantando-B©.
—
6—
Debuxados
namente
inda divisoOs
medonhos
espectro?, que, girandoEm
tornode
mim,
me
assombraram.
Surgir vejo
Constança do
sepulchro,Que
em
fúrias abrazada amim
caminha-. . .Relâmpagos
fuzilam ,tieme
a terra. ..
Eis
que
lá dosabysmos
arrojadosímpios
Ministrosda
ferozvingança
No
peitoagudos
ferrosvem
cravar-me:
Debalde
agonisante o Esposo invoco. .:
Proferido por
mim
seu docenome
Exacerba
os furores de Constança,Que
ámorada
dos mortosme
arremessa.Oh
do crime
funestas consequências!.*. Desgraçados mortaes!Mv,.,
-E
pode
um
sonho. ..
Jgn.
—
Não
éum
sonho, Elvira, sâo remorsos;JSlv,
—
Devem
ellss acaso inda ralar-te?Não
bastouHymenêo
a suffocal-os?Ah!
Se
antesque
os seus laços te cingissem,Succumbiste
do amor
á
paixão cega.Assaz tens
expiado
este delicio,Delicto
mais
que
todos desculpável.Ign,
—
Uma
alma
como
aminha
jamais julgaTer
assaz expiado seus delictos:
Embora
do
Hymenêo
os sacros laçosAgora
o
meu
amor
licitofaçam,
Este
amor
foino crime começado.
Mirrada
de
pesares, sim, foi elle.Quem
despenhou
Constança no
sepulchro,Constança,
essa Princeza desgraçada,Que,
anâo
ser eu, talvez foáse ditosa,Talvez,
do
Esposo
amada,
mda
vivesse;Trahi sua amizade, fui-lhe ingrata,
Sua
rival,oh Geosf
assassinei-a.Oh
crin7e involuntário!Horrendo
crime !Tuas
iras sâo justa?, sim,Constança;
Arrasta-me comigo
á sepultara.Acaba
de punir-me, e de vingar-te. . .Mas
ah!Que
digo!. . .Não.
. .poupa-me
a vida,Nella a vida
do
Princip^í se intressa:Tu
não lias de querer envenenar-lh'a:
A
morle
não,não pôde
certamenteA
paixão extinguir deque
morreste;Mesmo
ládo
sepulchro inda o adoras...E
talvez compassivame
desculpes.Quem
melhor do que
tu conhecer deve,Que
aos affeclosde
Pedro, aos seusextremos
Humanas
forças resistirnão
podem
?Se
tu,sem
seramada,
tanto o amaste.Deixaria
eude
amal-o
sendoamada?
Sabe
oCeo
quanto
tempo
em
viva guerra,Contra
omeu
coração lutei debalde :Quantas
vezeschamando
em meu
soccorroA
virtude, e a razão. . . auxilio inútil!Emmudece
a razãoquando
amor
falia.Triumphar
de
paixões iguaesá
minha.
. .Os
miseros morlaesnào
podem
tanto,. .Que
profiro infeliz í Ale blasfemo!.. .Peidôa,
Summo
Deos, aomeu
delírio:A
meu
pesar, Senhor, fui criminosa;
Poreu) tua Justiça adoro, e temo.
Elv,
—
O
Ceo
é justo, Ignez, oCeo
to absolve:Tua
alma,onde
murou
sempre
a virtude,Tem
por graves delictos leves falias;Tranquilliza, Senhora; os teus sentidos.
f-8
—
.>
Ign.
Em
breve amorte
A*5
minhas
afílicções virá pôr termo.Mv,
—
Oh
Ceos!
Na
primavera de
teus annos,Engolfada
em
fataes, loucos pesares,Tu
própria buscas terminar teus dias,Sem
que ao
menos
te lembresque
depende
Da
tua ?ida a vidado
Consorte;Que uma
lagrima
sóque
tu derrames,Se
o Príncipe jamaisa
divisasse,Seria
de
sobejoa
envenenar-lheO
terno coração,que
afagar devesI...
Se
neste estado agora elle te achasse,Em
que
estado suaalma
ficaria?Por
seuamor,
te rogo,enxuga
o pranto,A$
afflicçôes desterra,em
que
sossobras. jf^w.—
Oxalá
que
podasse desterral-as!Mas
buscareiao
menos
reprimil-as,Porque
não
participe o caroEsposo
Dos
males, dos horroresque
me
cercam.Jlmbora o
Ceo
me
opprima, eme
castigue,JEntorne sobre
mim
sua? vinganças;
Porém
sobre elle só prazeresmande
:
O
seu socego,mais que o
meu,
desejo:A
fimde
lhe mostrar alegreo
gesto,A
que
esforçosme
não dou continuamente?
Para
onão
affligir. . . ah!Quantas
vezesCalco, suffoco dentro
do
meu
peitoAfflicçôes,
que no
peitome
nâo
cabem!,
.Quantas
vezes,sumindo-se a
seus olhos,Dos
meus
ao
coração recuao
pranto1IVlás ah,
que
osmeus
pesares,meus
martyrios^Quanto
mais os escondo, mais seazedam,
Nem
podem
já ter fim senão co*a vida.Motivos
d'afflicçâosomente
encontro.Do
passado alembrança
me
horrorisa,E
do
fjturo a idéame
intimida:Contra
mim
conspiradaa
intriga, a inveja,Sobranceiras as iras d'
um
Monarcha,
Tudo
me
vaicavando
a sepultura :O
coraçãom'o
diz.Elv
EUe
te illude:
Qoe
podes tu temer,quando
enlaçada .,Ao
mais
digno dos Priacipesdo
iViundo,Ao
melhor
dos mortaesque
osCeos formaram,
O
seu braço invencivel le deftnde ?Em
vezde
recear sonhados males.Olha
osimmensos
bens, a fausta sort«,Que
propicio futuro teapparelha^
O
Lusitano Sólio,que
te espera;
O
respeito, oamor
dos Portuguezes,A
gloriade
imperar sobre este povo,A
quem
teme, e venera oMundo
inteiro. . iTudo,
tudo, Senhora, teprometle
Permanentes
ventura;^:nada
temas. Jgn,—
Essasmesmas
quiméricas venturas,Esses bens illusorios,
que
me
apontai?,JustOà motivos sâo doa
meus
temores.Oxalá que D.
Pedro não
tivesseUm
Throno
por herançaque
ofíertar-me!Então
foraeu
feliz, passara a vidaNo
regaçoda
paz, e da alegria:
Não
haveria entãoquem
se oppozesseA'
perpetuauniào
das nossasalmas;
Nem
barbara policiaempecera
De
nossos ternos corações a escolha:Um
do
outrona
posse,ambos
ditosos,—
10
—
Rodeados
dos tenros, caros fjlhos,Sem
terque
desejar, oThrono
excelso,Todos
esses fantasmasda
grandezaívíem
uma
vez sequer noslembrariam;
Mas
o
fadonão
quiz.. .Eh
Ahi vem D.
Sancho.
]gn.
—
Que
motivo
oconduz
a procurar-me ?'''Venero
as suas câs, e o seu caracter;Como
elle, junto aos Reis,acham-se
poucos.SCENA
II.D.
Sancho,
Ignez,
eElvira
(1).Sane.-—
O
Ceo
n'este lugar fazque
eu
te encontre:£'
preciso, Senhora,com
franquezaMoslrar-te os
imminentes
precipícios,Que
só tua virtude evitar pode.O
Príncipe despresa osmeus
conselhos,Meus
rogosnão
attende,nem
já cede-A^s lagrimas
d'um
velhoque
aprecia,Mais
do
que
a própria vida,a
sua gloria :D'um
vellio,que incumbido
de educal-o,Sempre
anúa
verdade ante os seus olhosTem
feito appar(?cer, buscandosempre
Afastar-Ihe a lisorija dos ouvidos,JKsse cias Cortes péssimo veneno,
Que
os corações dos Príncipes corrompe.Seu
caracter violento, caprichoso,Agora
porgmor
maisintlammado,
(l) Elvira, logo que D. Sancho entra na Scena, relira-se para o fundo d'ella, e pouco depois desapparece.
—
11—
Já não
deixa dobrar-se ásminhas
vozes;
Cego
resiste aos Palernaes preceitos;E'
necessário poÍ3que a
obedecer-lheO
resolvas tumesma.
Bem
conhecesDo
inflexível Affonsoo
génio iroso.Já
Ires vezes olem
chamado
á Corte,Sem
que D. Pedro
cumpra
os seusmandados,
Nem
queira pesarbem
os seusameaços
:
Muito
do Kei
severotemo
as iras,Por
cruéis Conselheiros atiçadas:
Vendo
talvezdo
filho a rebeldia,Se
escjueçade que
é Pae.Cumpre,
Senhora,Que
atalhes as funestas consequências,Que
podem
resultarda
pertináciaEm
que
o
Principe insiste :que
o convençasA
beneficio seu, eem
tem
proveito,A
cumprir sem
demora
os seus deveres:Eu
seique na
suaalma
podes tudo,E
das virtudes tudo espero,gfw.
—
TO
teu zelo, candura, e probidadeAssaz louvo, e respeito.
Não
teenganas
Em
suppôr-me
capazde
emprender
tudo,Inda
mesmo
arriscando a própria vida,Para
chamar D.
Pedro
aos seus deveres^Não
lem
sido por faltade
lembrar-lhos,Que
elle ás ordens deum
Pae tem
resistido.(Tu,
não
menos
do que
eu, seu génio sabes)Nem
attender-me querquando
lhe imploro.Que
áCorte
vá lançar-se ás Regias Plantas.Todavia,
D.
Sancho,eu
te promelto,Que
não hão de
cessar asminhas
instanciíis:
Embora,
longe delle,Jgnez
saudosa,Ao
furor dos seusem
ulos exposta,—
.12
—
De
insidiosa politica: antesquero
Morrer,
do
que
lembrar-me que
sou causaDe
que
o Príncipe falte aos seus deveras.Sane.
—
Quem
nutreem
si tão nobres sentimentos,^Inda
sendo opprimida, é venturosa.Zombou
sempre
a virtudeda
desgraça :Debalde
aemularão,
armando
a
intriga,(Conspira contra li :
mas
é precisoSeus
desígnios frustar: sim. . .Ign
u^d'^. EisD.
Pedro.Sane,
—
Queira
oCeo
que
o
convenças!Eu
vob deixo,SCENA
líl. ^D.
Pkdro,
£ Igi»ez.Ped.
—
Quanto
sào vagarosos, cara Esposa,Os
poucos melancólicosmomentos,
Que
distante de si saudoso passo? :Só
ao teu lado. Ignez, socêgo encontro,Não
existe senãoquando
te vejo.Jgn,
—
Quanto
me
adoras sei, Príncipeamado.
Mais
ternocada
vez, mais extremoso,As
luas expressõesmeu
pranto excitam;
Porém
d'amor
agoranão
tratemos:Bradando
estão deveres mais sag^radosQue
preencher tecumpre:
antesde
tudoTenho,
Esposo,um
favorque
supplicar-te:
ISegar-mo-has tu,
Senhor?
Ped
Ignez,que
dizes?Tu,
que
tensna
minha alma
todo o império,Ah!
Podes
duvidarque
eu teobedeça?
Jgn.
—
Poisbem,
Senhor, attendeá
tua Esposa,Ouve
meus
rogos, e ameus
rogos cede—
13
—
Se
tu só junto amim
socêgo encontras,Também
só junto a ti Bocêgoeu
tenho;Porém
quero
destino,o
devermanda,
Que
te apartesde
mim
poralgum
tempo.
^cd.
—
Apartar-me
-de ti?Oh
Ceos!
Que
escuto!Apartar-me de
ti? Castro équem
falia?>*n.
—
He
Castro, sim, Senhor, aquellamesma,
Que
prezamais
que tudo a
tua gloria;Aquella, cujo brio
nâo
tolera,Qoe
seja o ternoamor,
que
lhe consagras,Motivo
de infringires teus deveres.Bem
o
sabes, Senhor,em
nenhum
tempo
Procurei ardilosa fascinar-te
:
Cedi
ao
teuamor, porque
teamava,
Porque
em
ti diviseiuma
alma
terna,Alma
que o
Ceo
formou
para encantar-mc,De
todas as virtudes adornada.Agora
}X)is tecumpre
conserval-a?,E
amim
não
consentirque
asabandones
:£u
de
mim
própria assazme
horrorisáraSe
visseque
as perdias poramar-me.
í^ão. Príncipe querido,
eu
te supplicoPor
estemesmo
amor
que
a
time
prende,Que
áCorte
sem demora
te dirijas,Onde
teu Pae, talvez já fatigadoDe
techamar
em
vão, te espera ancioso.Obedecer
aos Paternaes preceitosE'
leida
Natureza, é lei sagrada;Cumprii-e
deves: vai. ..
^ed Basta:
Eu
conheç©Quaes meus
deveres são, e sei cumpril-Oi;Sei
que
é devida aosPaes
a obediência;
Mas
igualmente
seique
tem
limites—
14
—
Tenho
pensadobem
no
que
obrardevo:
Justos motivos,que
não
sabes inda,Exigem
que
eu não
cumpra
asRegias
ordens.Obedecera
aum
Pai, sePae
tivera. ..
Mas
eu
não
vejo maisdo que
um
tyranno
!N'esse
que o
ser raedeu...
Ign
Senhor, suspende:
E'
teuPae;
muito
embora
cruel seja;Tu
deves respeital-o, e obedecer-lhe.Ped,
—
Se querque
lhe obedeça, eque o
respeite,Não
me
imponha
preceitosdeshumanos,
Jgn,
—
Não
promettesteha pouco á
tua EsposaConceder-Ilie o favor
que
te pedisse ?Ped.
—
Vê
poisquando
não
posso comprazer-te.Se
terei razoes justasque
me
estorvemDe
obedecera
um
Pae
!
Ign
Não
pode
havêl-as.ped.
—
Tyrannos...que
nosjulgam
seus escravos!(1Para
nos flagellar o ser nosderam
!
Jgn,
—
Tu me
fazes tremer.Ped
Sabe
em
fim tudo.Affonso, e
o
Monarcha
de CaslellaAcabam
de
firmara
nova
alliança,Em
que sem
meu
consenso contractaram,Qu'eu
daria a Beatriz amão
de
Esposo:Para
este fimá
Corte souchamado.
Aff*)nso,
não
contenteda
violênciaQue
aomeu
coração fez.^quando
forçadoDe
rojome
levou ante es altaresPara
unir-me aConstança
em
laço eterno,Pezado
laço,que rompeu a
morte;Não
conteolede
haver sido omotivo
—
15
—
De.
. .Mas
que
digo?Nao,
ah
Inâo
foi elle;Eu
em
lhe obedecer fui o culpado:Que
desenfreie agora as suas iras;
Que
rogue,que ameace;
mesmo
quando
Em
secretoHymenêo
não
estivessemLigadas para
sempre
nossas almas.Debalde
intentariasubmetter-me
A
um
jugo
que
a
vontade recusasse,Reconheço
porém
que
a pertinácia,O
despótico orgulhode
seu génio,Sem
que
attenda senãoao
seu Tractado,Quererá que
por força odesempenhe.
I^âoconvém
descobrir nosso consorcio;E
outra escusa qualquerque eu
fosse dar-Ihe,D'irrital-0 inda n-ais só serviria.
Agora
julga pois se partir devo.Se
me
devo
ir expor, talvez. . .quem
sabe!A
faltar-lheao
respeito inteiramente. . .Mas
tu choras?. . .Que
vejo!.» ,Acaso
temes?. . ,gn.
—
Nada
temo
pormim,
por ti sótemo:
Sim
quando
vejo sobranceiros males,Por
desditosoamor
originados;Quando
vejo engrossar a tempestade.Que
me
denotapróxima
mina
;
Nem
por issome
assusto: oque
me
afiflige,£' ver
um
Pae,um
Reino, e o próprio Esposo,Tudo
pormeu
respeito alvorotado.Em
situação taoárdua
, e ião penoia,Te
chego a desejar... (infeliz Castro!)Que
o
sacrosaníonó que
amim
te prende, Este laço tão doce, e desejado,Dos
bens omaior
bem
que Ignez
po?sue-A
ser possível, hojtí se rompesse,—
16
—
Obedecer
a «tn Pae, fazer ditososPor
um
feliz consorcio dois Impérios.Muito
embora
Beatriz te possuisse. ..
Mas
que
digo?Ai
de
mim
!Nos
braços doutra!..*Nos
braços d'oulra vero
amado
EsposoIAhl
líão. . .nao
posso tanto, antesa
morte.Ped.
—
£' teumeu
coração, será teu sempre.Os
laçosde
Hymenêo
são asmais
débeis Prizõesque
a time
ligam.Quando
amamos,
Desnecessários sao ritos, promessas:
Mais
forçatem
amor
que
os juramentos.Inda
que
ante os altares sacros votosOe
permanente
íe',de amar-te sempre
Não
tivesse a teu lado proferido,Seria
sempre
teu,sempre
teamara
;
Sem
que
jamais podesse forçahumana
Separar
corações,que
amor
unira.Jgn.
—
Mas
que, talvezem
breves sopeados^Aos
golpesda
politicasuccumbam.
Ped,
—
Para
lhe resistir bastao
meu
braço. 'Jgn.
—
O
teu braço, Senhor, sódeve
armar-sePara
emprezas mais
dignasdo
teunome
:
íío lance melindroso
em
que
nosvemos.
Convém,
mais
que
os furores, a brandura;
3S apesar das razoes
que
ponderaste,«íulgo
que
deves dirigir-teá
Corte;
Pois talvez, se
não
corresa
smbargal-os.Teu
Pae
avance
oscomeçados
passosPara
as núpciasda
Infantade
Castella,Na
esperançade
ser obedecido,E
a ponto chegue
que
depoisnão
possa. . .ped.
—
Sem
lhe dizer porque, já fiz saber-lhe,Que
taes núpcias jamais celebraria,—
Í7—
SC
ENA
IV.
D,
Peduo^
Ignez, ed.
Sancho.
^anc.
Senhor
:ah
! corrp,V^^em esperar teu Pae.
gn
,Oh
Ccos
!
^ec/
Que
dizes?^anc.
—
Dirigido aCoimbra
em
velozmarcha
Partio
da
Corte Afíbnso, aquinâo
tarda. g-n. (l)—
Agora
sim,minha
desgraça e certa.^ed. (2)--iV[eu
Pae'
oh
Ceos!. .meu
Pae!
^anc. Coelho, e Pacheco,
Seus cruéis Conselheiros,
o
acompanham
:
Toda
a
Corte, Senhor,em
sobresaltoFicou
co'esta partida inesperada:
Mendonça
que
ligeirovem
trazer-^teA
importante noticia5, assim o affirma:Murmura
oPovo
já de recusaresAs
núpciasde
Beatriz,que
applaudem
todos.^cd.
—
Murmure
muito embora,
embora
venha
Armado
de poder,ardendo
em
raiva,Da
vingança, e das fúrias escoltado,Esse a
quem
pormeu
mal devo
a existência;
Que,
se intentarcomigo
ser tyranno,Ha
deem
seu filho acharum
inimigoCapaz
dosmais tremendos
atlentados;
Que em
casos laes os crimesnao
são crimes,(1) Fatiando comsigo mesma. (2) Pensativo, e admirado.
—
18
—
Sào
forçoso dever da»almas
grandes. Esperai-onao
vou.Sane
Senhor,que
fazes ?Pec?,—
O
que
me
apraz fazer.gn
Oh
Ceos
!Nem
possoDas
tuas expressões horrorisada, Soltardo
coração tremulas vozes:Fallem
pormim
as lagrimasque
choro .!Não
me
consternes mais.Ah!
vai,não
tarde»;Vôa
a encontrar teu Pae, se vernao
queres Estalarde
afílicção a tua Esposa.Ped,
(1)—
Eu
vou
satisfazer-t(»5 sim,eu
parlo;Vou
rasgardo
segredo a cautavenda:
Saiba, sim, saiba Affonso antesque chegue
Estes sitios a entrar,que
Ignez habita,Que
a deve respeitarcomo
Princeza;Que
inquebravel prisão a Ignezme
liga (ffi).Sane.
—
Oh
Ceos!Não
faças tal,melhor
discorre;Para
lhe revelarum
tal segredoOccasião
mais opportuna
espera:A
cólera azedarnâo
vásde
Affonso;No
transporte cruel das suas iras.Bem
sabesque
e capaz. . .Ped
De
que
?De
nada
^Mais
de
mim,
do que
eu d'elle, tremer deve. . .Se
ousasse contra Ignez. . .Ah
!nem
pensal-o.Para
vingaro
seumenor
insultoSeria
pouco
todo o sanguehumano.
Jgn.—
Bem
me
dizia o coração presago. . .Meu
mal
'^^m
jemedio;
o próprio EsposoE'
quem
vai vlegpenhar-meno
sepulchro.(1) Depois ác ficar um pouco ponsalivu, diz resoluto.
—
ID—
Meus
cruéis inimigosnão
me
a^suàlatri iO
popular tumulto, uíu Rei severoKada
temo, ai demim
! a ti só temo.Ali!
Lembra-te,
Senhor,do
que
jurasleíAntes de conduzir-me
ás sacras Aras,Onde
eu
tenão
seguira, se primeiroTu
me
não
promettesses guardar sempreO
devido respeito ao teu Aíonarcha,E
a paznão
peiturbar dos seus domioio»'.Tu
não
hasde
faltar, otempo
é este,Que
eu
já previa entào:oh
caro Esposo!Lança
do
coração falaes transportes;
Não
percas tempo, vai ,cone
a próslar-loAos
pésdo
grande AlTonso;mas
submisso^Ao
beijar de teuPae
amão
augusta,Sobre cila c3e teus olhos
chova
o pranto.Pondera
que
te perdes,que
me
perde*Se
com
elle furioso practicares;Só
nospode
salvar dócil brandura:Se não
queresmalar-mc,
sê submrsr^oPcd.
—
O
temor
de afíligir-tepode
tudo. Respeitoso serei, terei brandura, ,Se
eíle brandura igual usar comigo. iS^ada temas, Princeza : adeos.,Eu
juroPelos
Ceos
ouira vez, e por ti mesnia,Que
indaque
oMundo
inteiro seme
opponhs^
Castro'
ha
de ser de Portugal Raini>a (í).Ign,
—
Não
te apartes,D. Sancho, do
seu kido:
Moderem
teus conselhos teus transportes.Sane,
—
Dai
forças, justos Ceos, ásminhaf
vozes^^Lançai
a Portugal piedosas vistas.—
20
—
SCENA
V.
Ignez
s6.Que
temor, infeliz! demim
se apossa! (1)Caro
Príncipe!.. . Esposo!,. .oh
Deos,quem
sabeStí a vêr-te tornarão inda os
meus
olhos. Vai, ó Castro, abraçar-le aos caros filhos,E
entrega-te nasmãos
da
Providencia.SCENA
I.D.
AffonsOj e
d.
Pedro.
AJ.
—
X3asta,
Príncipe, basta: prescindamosDe
justas arguições,de
escusas fúteis;Não
quizeste ir,vim
eu.Quero
esquecer-me,Perdoar
queromesmo
as tuas faltas,Uma
vezque
obediente hoje as repares.Concluam-se
estas núpcias proveitosas,Que
para teu prazer, e abem
do
Estado,Prudente
contractei. V£ráscom
gosto,Quando
Lisboa entrares ameu
lado,Com
quanto
regosijoo
Povo
todo,Teu
consorcio applaudindo, a festejal-oCom
pompa
jamais vista se prepara.(\) Sem poder despregar oa olhos do caminho que tomou D. Pedro.
—
21
—
Que
doçura não
e para osMonarchas,
Espalhar
alegria ^^ntre 03 Vassallos!Vêl-os
mandar
aoCeo
ardentes votos,Pela
conservaçãoda
Regia
Prole,Que
lhe segura a paz, a dita, a gloria!
Ver que
as suas acções oPovo
approva,E
contenteabençoa o
seuReinado,
Curvando-se de
gradoao
leve jugo,Que
fcómente osmáos
Reisfazem
pesado!IVlil graças
dou
aos Ceos, pois satisfeito^
Julgo
estarãode
mim
os Lusitanos.E
nada
mais
desejoque
deixar-Ihes,Em
meu
filho, outro eu,que sempre
osame,
E
que
por elles sejasempre
amado.
Começa
desde já n'este consorcioA
firmar o seubem. Sim,
hojemesmo
Deves
partircomigo
para a Corte,A
fimde
o celebrar, logoque
chegue
A
Infantade
Castella,digno
objectoQue
escolhi paraEsposa de
meu
filho.Ped.
—
/\h!que
seja possível, pormeu
damno,
Que
omelhor
dosMonarchas
do
Universo,Igualmente não
sejao
Pae
mais t'erno!Que
um
Rei,que
desvelado buscousempre
Fazer
os seus Vassallos venturosos.Queira
fazer seu filho desgraçado!. .,
Contractares, Senhor,
sem
consultar-meUm
consorcio, ignorando se teu filhoPôde,
ou querd'Hymenèo
ás leis ciogir-se!Se
essa,que
lhe destinas para E-posa,Pode
ao seu coração ser agradável!Acaso
julgas tu desneccíòsariaA
minha
approvaçâo
para tstas núpcias!—
22
—
Na
e*(^olba d'uina Esposa,que
amar
devp..
Ah
i/Nâo
queiras, Senhor,com
tal violência,^f.
—
Emmudece,
insensato;não
prosigasIndignas expressões
que
me
envergonham.
. .
Bem
conheço
a razãoporque
assim pensas.Que
indignos sentimentos,que
fraqueza^Para
quem
deveum
dia serMonarcha!
Como,
quando
do Império
as rédeas tomes,Quando
na
mào
a
espada formidávelDa
severa Justiça sustentares,Das
paixões puniráso
torpe effeito,bando
tu p;oprio das paixões escravo ?Como
jamais serás obedecido,Hl' tu
mesmo
ao
leu Rei d/sobedeces?Com
quanta repugnância
os Portuguezes, Alurmurarido, vcráono
J/iso Sólio,K\\w. de tanlQí Heroís
tem
sido assento,Ijm
Keidado
ás paixões, aííeminado.Incapaz de
empunhar
o Sceplro augusto!ped,
—
Mas
capazde
os reger, e defende-los,.Se da-» grandes p-iixões sou suscepUvel.
A
fiiolleza detesto, l)emo
sabes:
Q
lanío cumpF'', Senhor,em
campo
armado;
Ji^Msinado por ti, brandindo a espada Sei por acções mostrar
que
sou teu fdho;NVm
para ser bo'u Rei (S-nhor, perdoa) ¥a\ julp) recessariouma
alma
dura;
JVías anies
me
persuadonâo
devera<^)
que
fosse 'ns-nsivel regerhomens.
Coiações
qu3
á ternura senão
rendooi,J;iniais sjil>em carpir alheios males;
Nem
doér-ae das lagrimasdo
afílicto. J\i\—
V-Apagada
a razào, cego delirai;—
23
—
Manam
doe seus os públicos costumei:Se
exemplificammal
os seus Estados,Os
vícios dos Vaí=sallos são seus vícios;Devem
sacrificar os seus desejos;Ser comsigo cruéis a
bem
dos Povos,Que
o
Ceo
lhes confiou ; e osque
seensaiam
Para
llies dar as Leis,devem
moaras-seCapazes
d'estes nobres sacrificios.Os
consórcios dos Príncipes sao obraDos
intere-sesdo
Estado» ellesdecidem,
Elles dispõe de nós.Deixem-se
ao vulgoCaprichosos melindres
com
que
exige.Que
os laçosd'Hymenêo
amor
presida.As
doçuras deamor
para osMonarchas
.Sào de pouca
valia : a nossa gloriaNão
se ÍJrmaem
tâo fracos alicerces.Pcd.
—
Se
aosque
devem
reinar e necessárioCeder
dos Privilegio?, dos direitosQue
aNatureza deu
aoshomens
lodos;Por
tal pieço, Senhor,não
quero oThronol
Laços
formar,que
o coraçãorepugna.
Origem
de desgraças, e de crimes. . .Assaz
o expr'imentei. . . grilhões tâo duroí,Por
tuasmãos
lançados, longotempo
Com
bem
cusio arrastei. . . Supporlar outros. . .Ah
!Nào,
Senhor,não
posío.u4f.
Temeraiio
!
Basta já
de
soffíerum
filho ingrato.8e
acs rogos, ás razõesde
um
Pae
benignoTu
não queres ceder, cede ao? preceitosDe
um
Monarcha
severo, e justiçoso.Lu
deiminha
palavra, has de cumprii-a :Os
tractados dos Reis nào são fallivt:is:—
24
—
Ped.
Mas
ah
! Pondera. . .yíf.r^To.nho
em
fim decidido,.Acaso
queres,Deixando
de cumprir
o tnen Tractado,Entre
osPovos
soprar horrenda guerra?Queres
ver Portugalnadando
em
sangue?
Contra
nós conspirada aEuropa
inteira,Abraçando
o
partidode
Castella,Vir
vingar sua injuria?Ah!...
Ped
Que
receias?Portugal vencedor,
nunca
vencido.Zombará do
poderdo
Mundo
inteiro.Tào
piisada será, tao néscia íiHespanha,
Que
contra nós se atreva amover
guerra?Não
ha
de inda lembrar-seo
seuMonarcha,
Que
te deve os Donjiniosque
possue?Que
ha
bem
pouco, cercadode
inimigos,Vendo
nasmãos
o Sceptro vacillant«,Mandou
a própria Esposa, filha tua,A
implorar-teque
fosses soccorrêl-o.Ou
antes sobre oThrono
sustental-o?E
que do
filial prantocommovido,
Não
contenteem
mandar
lhe tuas tropas,Tu
próprioá
testa d'eHasgeneroso Qui;'este ir debellar seus inimigos,li spgurar4he a
Crôa
nacabeça?
Ha
de
offenderquem
soube defendêl-o! Q«i<^m pode, apenas queira, aniquilal-o?Não;
quem
vio peirjar, »no teucomniandQ
]>ías
margens do Salado
os Portuguezes,A
afaear Portugnezesnão
se atreve;E
se a tanto chegar a sua insânia,a' matteifa dos seus anlepa-^sado^,
Chorando
o ojiprobio de ficar vi^ncido^Caro
Jhe cu^tíirá seu louco arrojo.—
25~
Oxalá
que
elleá
guerra nos convide!
Poderia teu filho enlâo mostrar-te,
Que
te sabe imitarquando
é preciso,l^ovos louros cingindo
no
teuDiadema.
jij.
—
Que
desatino!Oh
Ceos
!...Eu
me
envergonho
De
te haverdado
o
se.":de
te ouvir tremo. . .Tristes V^assallos meus,
amados
filhos,Que
Monarcha
vos deixo sobre oThrono!
Tu
desejas a guerra ? Esse ílagello,Que
envergonha, e devasta ahumanidade;
O
capricho dos Reisque importa
aosPovos
"?Ouve
as liçõesde
um
Pae, postoque
irosoSó
devêí^a tractardo
lou castigo.Eu
n:*o posso deixarquando
te escuto,De
reprender-te, ó filho, ede
ensinar-te :Talvez por ti
mandado
á
sepultura,Bem
depressano
Throno
me
succedas;Is^ão te esqueças entào dos
meus
dictames:
Poupa
osangue
dos miseros Vassallos,Do
mais
inòmo
d'elles pre'zaa
vidaOulro
tantoque
a tua;teme
a guerra,Que
ao
próprio vencedorsempre
é funesta :No
meio do triumpho
os bons Reischoram.
N'essamesma
tão célebre batalha,Que
julgasme
cingiode
louro eterno,Quando
juncavam
do Salado
asmargens
Os
montões
de cadáveressem
contoDe
infleis derrotados inimigos;Por
perder trinta só dosmeus
soldados.Muito
cara julguei esta vicloria,E.
derilrode
mim
próprio recolhido,Mais
pranto derramei,do
que
elleâ sangue.Os
Reisdevem
ser Paes de seus Vassallos;—
26
—
Elle exige estas nwpcias,
que
te ordino;
Sias vo'<!es escuto, e
nao
as tuas.Já
le disseque
deiminha
palavra,E
torno a dizerque
has de cumpril-a,AíTon-o é leu
Monarcba: mando,
e basta.Hoje
mesmo
comigo
para a CorteVA
que
deves partir, vai preparar-te.Ped,
—
Teus
passos seguirei,porem
debalde. . .Celebrtir o consorcio
que
prelendes. . . 'Quizera obedecer-te,
mas
nâo
posso. . .Sern qufi le diga mais, assaz te digo.
SCENA
II.D. Affonso
ió.E' possível,
oh
Ceos,que
assimmen
filhoTemerário
resista aosmeus
preceitos!... Qiie cegueira !Que
arrojo! E' necessárioDe->arreigar-]he
dalma
por violênciaA
funesta paixãoque
o traz de rojo:Mas
de que modo?.
.Cumpre
meditai o. . .Seja
em
fimcomo
for,dcGcmpenhado
IVlcuTiaclado
ha de ser' o ingrato filho,Em
vízde
imiPae
benigno,um
Rei
severoHa
de encontrarem
mim.
Oh
lá,D. Nuno(l).
SCENA
III.D.
Affonso
e
D. Nono.
Nnn,
—Que
me
ordenas,Senhor?
—
27
—
if.'
Os
ConsellicirosVai
chamar.
. .mas
espera, alúvem
Pache"o,SCENA
IV.
D.
Affonso,
Pacheco
eD.
Nuno.
ff. (1)
—
Quem
tal dissera,amigo
!Eu
meenverj^onho
Somente
de
o pensai : o iroso aspectoDe
um
Monarcha,
deum
Pae, razões,ameaços
Nada
bastante foi : ousa o p^beídeA'5 núpcias recurar-se^ aos
meus
preceitos;
Mas
lia de obedecôr-ine, aosCeos
o juro.Os
meios estudemos,que
efficaztrsA
suacontumácia
vencer possam :Se
necessário fòr, inexorável,Higoroáo serei.
^ach
Dover
funestoJE', Senhor,
na
verdade, ode
um
^'^a^saílo,Que
fiel .ao seu liei,bem
que
sensível.Na
precisão se ve de supplicai-llie,Que
sufíoque a })iedadej e qu(i castigue. . .Mas
o intressedo
líslado, e mais cjue tudoO
decorodo
Throno
assim o exigem.De
incorrupta Jciddade claras provasEu
protesto darsempre ao
fiei, e á Patrii,Longe
de desculpar, poíC|ue é Itu filho.Do
príncipe a j-aixâo, funestaorigem
Da
suacontumácia;
com
franquezaDirei
meus
sentinienios,sem
que
possaTolhei
-me
as expressões otemor
justo(1) D. Affjnso se diriju a Pacheco, C'D, Nuno g« afiigia para
—
28
—
De
perder»
favor,de
ser odiadoDe um
Príncipeque
adoro, eque
respeito.Se
queresque
teu fillso te obedeça,Corta
a indigna prisãoque maniatado
O
coração lhe traz, eque
o estorvaDe
entrarem
seus deveres: pune, extingueEsse objecto fallaz
que
aalma
lhe encanta:De
contrario, Senhor, serão baldados Outros meios quaesquerque
projectares.Af.
—
Seja punida, sim, seja punidaMulher
que
tantos males origina;Que
impera mais do
que
eu, eque
se atreveA
usurpar-medo
filhoa
obediência.Seu
crime. . .Mas
que
digol., .Por
venturaNão
émeu
filho mais culpado qu'ella!Serei
eu
parcialpunindo
Castro,Sem
que
seja igualmente castigadoQuem
deve
maisdo
que
eila serpunido?
Pach.
—
O
Príncipe e' teu filho, tanto bastaPara
ser absolvido, e desculpado:
A
condição d'ígnez émui
diversa.Af.
—
Não
puno
condições,puno
delidos.Antes de
tudo interrogal-a devo.D. Nuno,
chama
Ignez (l). Ouvil-a quero,Sondar
seu coração ; depois veremosSe
édigna de
castigo.Pach
Ah
!Se
attendereiSuas
vozes,Senhor,
suas escusas,Por
seu astuto prantosubornado
,
Dííixarás por piedoso
de
ser justo.Quem
foi capaz de fascinar o FilhojPode
oPae
fascinar.Arte
impostora—
29
—
A
peitos feminisamor
suggere:
Quando
as abraza criminosachammaj
Negam
as expressõeso que
aalma
senle,E
CO
auxilio das lagrimasconvencem.
Attende, attende só
ao
berado
Estado,Ao
exemplo que
devesao
teuPovo,
Que,
murmurando
já, talvez se azedeSe
virque
eranova
guerra o precipitaDo
Principe a paixão escandalosa.Não
soffrerá Castella a grave afírontaDe
ser,do
seuTractado
em
menoscabo,
Por
teu filiio Beatriz repudiada:
B
o consorcioD.
Pedro
não
celebra,Sem
que
atéda lembrança Ignfz
lhe afastes.Atalha
eraquanto
podes tantos males:Muitas
vezes punir e' ser piedoso,ff.
—
Tu
me
fazes entrar nosmeus
deveres.Para
me
resolver a castigal-aBasta o
bem
do
meu
Povo que
me
lembras.No
coraçãode
um
Rei
dignodo
Throno,
Se
os interessesdo Estado
a voz levantam.Compaixão,
amizade, natureza.Tudo,
tudo,emmudece.
Exterminada,
Em
remota
clusiira Ignez reclusa,Da
presençado
Principe se afaste:Não
tornea
vermeu
filho essaque
o
cega,Em
quanto,
da
razão accêso o facho,As
tochas deHymenêo
ardernão
faça;
E
se istonão
bastar,mão
lançaremosDe
outro mais cíTicaz, duro remédio.^ach.
—
Não
bastará talvez; por maisque
sejaRecatado, e
remoto
qualquer sitio,Que
parao
seu desterro escolher possas,—
30
—
Eu
calo o m.iisque
sinlo, e só lelembra
Que
a quererescom
elhi ser piedoso,Poupa
tido-llieum
uiaior, justo castigo,De
Porlugal aomeãos
a desterres,Occasiao, Senhoi', tons
opp^rtuna
De
envial-a ao Monarc!)a cie CastellaiQue
zelosoda
filhano
decoro.Guardará
providenteem
se^rurançaA
rivalque
se atreve a di^putar-lheO
coraçãodo
Príncipe. Eble arbítrioSegue
poisj se te apraz,bem
que
índa o jHlgoPara
tâo grandemal
remédio
fraco.ylf.
—
Seguirei teu consell)'^; pore'm antes
Já de
brandura usando, já deameaços,
Quero
tentar o coraçãode
Castro5
Ver
se a possomover
aque
eilamesma
As
cliammas que accendeu apagar
busque..,
Mas
ella para aqui já seencaminha.
SCENA
V.
D.
AfÍONsO,
IgNEZ,PiCHECOy
ED.
NuKO
(I)'.Jgn.
—
.Eu desfalKco. . .Oh
Ceos. . . Excelso AffcdscPerniitte qu<í a teas pes ígnez prostrada. * . {9,)
j4f.
—
Levanta-te, urdiiosa.Nào
édigna
i^e beijar aMão
llegia urna vassala,Que
a perpetrar se atrc\e altos delictos. ígri.—
Eu
perpeliar delictos!Quaes
sào eíles ?(1) Tacheco afasta-so- para o <i\\r\<\'o da Scena, logo que í§;uí
—
3J—
Fiel
sempre
aomeu
Rai, vassalla iiumilde,Icrnoro
em
que
offendesse aMagestade.
á[|\(l)
—
Além
de criminosa, ioda impoàtora!.A
fallaz artificioem
vão recorres.De
sobejo scientedo
teu crime,Tua
simulação maisme
enfurece :Ousarás
tu negarque
amas
meu
filho ?^gn,
—
Nào,
Senhor, a negal-onão
me
atrevo*.Nem,
por maisque
eu quizesse. poderiaDeixar de
confessaro
que
osmeus
olhos,O
ruborde
meu
rosto aísaz te explicam:
Sim,
se e delicto,amar,
e' seramada,
Meu
coraç?vO, Senhor, é criminoso. . .Mas
eu não
sou culpada./f.
Que
proferes ?Se
confessas tumesma
o teu delicto, Dizesnão
ser culpada?g7i •
Sou
ingénua.Em
chamar-me
impostora te enganaste:
Tenho-te
dito assaz. . . emais
dissera,Se
licitoone fosse.1f.
Acaba,
dize:
Que
cegueira fatal,que
louco arrojo, Vãs, altivas idéas te inspiraram?Como
intentaste ousada ter impérioNo
coraçãod'um
Principe .'Não
viasA
distancia ennpinada, ioaccessivel,Que
do
teu berço vjí aoThrono
excelso?g'?i.
—
Quando
amaaie
paixão nospredomina,
Oíiíuscada a razão, a
ninguém
lembram
As
distincçôes fataesdo
berço, e sangue.São
iguaes anteamor
os mortaes todo»:
—
32
—
De
virtude sójncnte seenamora
Uma
alma
virtuosa : só virtudesConvidaram
Igneza
amar
teu filho.j4f.
—
E
atreves-te a failar indaem
virtude?'Nâo
profanes palavra tâo sagrada;Antes
dízeque
estólida esperança,Avidez
de
reinar, te fez culpada.Talvez
da
minha
jácançada
vidaContando
os longosimportunos
dias.Te
tardavao
momento
suspirado,Em
que,baixando
Affonso á sepultara,Vazio
oThrono,
aos teus desejos franco.Te
cingisseo
Diadema
a indigna fronte.Ign.
—
Que
injustiça !. . .Minha
alma não
conheces,Não
conhecesde
amor
o
desinteresse:Quem
ama,
s6 deseja seramado.
E
a parde
um
coraçãocomo
ode Pedro
Os
diademas
que
sào?Que
vale oMundo?
Quem
de
seu terno peito o império obteve,Mas
impérionão
quer:nem
sedeslumbram
As
almas
grandes c'o esplendordo Throno.
Quando
oamor
succumbi do
Sólio estavaMais
longeque
o
meu
berço aminha
idéajPor
issonão
medi
como
deveraA
declive distanciaque
os separa :Mao
hojea
vejo assaz, e rnais deploroA
condiçãodo
Principe,que
aminha;
Quizera que
tivesse antes iiascifJoVassallo o
meu
amante,
que
eu Prínceza:
Longe
de
o cubicar, detestoo
Throno:
!N'elle diviso só barreira odiosa,Que
entre peitos sensíveis sorte adversaAlçou
paraque nunca
unir-se possam. . .—
«3
—
\f.
—
Podes
inda evitarmaior
desgraça;
Quem
logoque
o
conheceo
crime atalha^A
innocencia recobra. Extingue,ó
Castro,As
criminosaschammas
que
sopraste;
Quanto
são detestáveisnão
ignoras,E
bem
vêsque
nutril-asmais nào
podes*Antes
poisque
do
Príncipe te afastes,(A
tão graves delictos leve pena.Que
um
benigno
Monarcha
te destina)Teu
completo
perdãomerecer
busca.Tu
mesma
de
seus erroso
dissuade,E
o convence
a cingir-se aos dignos laçosDo
plausível consorcioque
lheordeno
:
Concorre
para o publico socego,Em
vez de o perturbar :aâo
exacerbesPertinaz
eu
teucrime
as rainhas iras.Teme
o castigo atrozde que
és credora,Se
ao coraçãodo
Príncipe asque
urdistePrisões abomináveis
não
desatas.rn.
—
Muito
exigesde
mim!...
Ah!
Se ev
podesseAs
algemas romper
que
nosvinculam,
Só
por te obedecer (cre-me) o fizera:Mas
como n'um
momento
arrancar possoDo
peitode
teu filho sentimentos,Que
amor,
esympathia originaram
?Para
sempre
deixar a ternaamante,
E
súbito ir lançar-sçem
braçosde
outra!* ..
Se
elle tivesseuma
alma
tâo volúvel,'Por
amaí-o
increpada eunão
seria?Que
proferi?.. Deliro. . .Oh
Ceos. . • Perdoa. .•Perdòa-me,
Senhor, talvez otempo.
..
Extinguir poderá. . .
Não
seique
digo.'/.
—
Basta:emmudece
já,mulher
soberba.*De
sobejocm
tuaalma
tenho entrado,—
34
—
Ousas
alardear, antemim
próprio.Do
mais
nefando crime!Ah
Ique
castigosBastarão a punir teus altentadosI
Tudo
quanto ha de
horrível...
SCENA
VI.
D.
Affonso,
Ignez,Coelho,
ePacheco.
Çoel
De
CastellaEmbaixador
chegou,que
audiência pede.j^f,
—
Entrar pôde.SCENA
VII.
D.
Affonso,
Ignez,e Pacheco.
Af. Retira, atrevida;
De
meus
olhos te afasta; Tai,que
em
breveTe
serãominhas
ordens intimadas.Jgn.
—
Humilde,
e respeitosa heide
cumpril-as.Mas
só te rogo que, antesde
punir-me,Te
dignessem
paixão sondarmeu
crime;
Pois se pezares
bem
os delictos.Espero
que
me
julgues desculpável (1).SCENA
VIII.
D.
Affonso,
ePacheco.
Pac^.
—
Que
insolente altivez ostentar ousa!i ^ a^i I I»...
.11.
*(1) Retira-se Igaez, e D. Affonso fica pensativo, cm quaj?
—
35
—
Eu
telamento
6 Rei,quando
te vejoNa
dura
precisãode
repelliresDa
tuaalma
os impulsos compassivos,Constrangido a punir asperamente,
Para
evitar terríveis consequências.SCENA
IX.
.
Affonso,
Coelhoj Pacheco,
bo
Embaixador*
mh.
—
A
filhado
meu
Rei,que
te saúda,Já
dosDomínios
teus piza as fronteiras;Mas
o
boato geralde
que
teu filho,Por
violenta paixão allucinado,De
Beatriz ao consorcio se recusa.Aos
ouvidoschegou do
mej
Monarcha,
Que
me
ó\ lena le diga, e te assegure,Que
secom
tal repulsa,em
seu desdouro,O
Tractado solemne
for violado,(O
que
elle espera)dignamente
Saberá
sustentara
toda a forçaO
decoroda
filha edo
seuThrono.
^f,
—
Dize da
minha
parteao
teuMonarcha,
Que
para dissipar seus vãos receios,Bastaria lembrar-se
que
os Reis Lusos, Fidelíssimos sempre, seus TractadosSabem
desempenhar
não porque
temam,
Quaesquer que
sejam, estrangeiras forças;Mas
por dever, por gloria, e por costume.E
para lhe mostrarcomo
procedo,Hoje
mesmo
desterro demeus
Reinos,E
á suaguarda
entrego Ignez de Castro,Que
ella julga ci^torvarda
Infanta as núpcias.Podes
certificar-lhe,que
consorte—
36
—
Ha
de
meu
filho serda
filha eua.Emb,
—
Nem
erade
esperarque
um
Kei
tão sábio Procedesse jamais d'outra maneira.Prompto
vou
expedirao
meu
Monarcha
A
plausível resposta,que
lhe envias.SCENA
X.
D,
Affonso,
Coelho,
ePacheco.
'j^f,
—
Sem
demora,
Pacíieco,apromptar
faze,Para
Ignez conduzir, segura esculta:
Vai, Coelho, dizer-lhe
que
se apreste: Partirá hojeIgnez
para Castella,E
meu
filhocomigo
para a Corte.Coei.
—
Oxalá que
assim seja!Mas
duvido.Em
castigar avaroem
demazia,Além
de
ser, Senhor, simples desterroAos
delictosde Ignez pena
mui
leve;
Receio que de
horríveis atten ladosSeja
origem
fatal este projectoPôra
talvezmelhor
lançarmão
logoDos
efficazes, últimos remédios. E>\iconheço
o
caracterde
teu filho:
Mal
souberque
roubar-lhe Ignez intentas,Dos
filiaes deveres esquecido.Com
braçoarmado,
tbmo que
se atrevaContra
seu próprio Pae.jíf.
Nem
tal profiras:
Não
façasa
meu
filho essa injustiça:
De
tão feio attentado bastaa
idéaPara
me
horrorisar.Ide
ligeirosFazer
que
asminhas
ordens se executem*—
37
—
5eu
tremendo
castigo serviriaDe
memorando
exemplo
aoMundo
inteiro.ACXO
TER€£IRO(
SCENA
I.Ignez
só.M,
isERANDA
!. .Que
trance 1. .Oh
desventurai...3h
sentença cruel !. . Venceste, óFado.
Vpraziveis lugares, testemunhas
-)o
mais
ardenteamor,
ah, parasempre
\.
malfadada
Ignezde
vós se aparta. ..
iuanto
fora melhor,quanto
mais doce
Deixara
vida,que
deixar oamante
!. ..
iueJ. . Eu... deixar
o amante?..
Oh
caroEsposo!é.Jh
Ceo3
! podeis mandal-o,ou
permittil.o?5ereis
lambem
cruéiscomo
oshumanos?
Ilondemnareis os
mesmos,
que
sopraites,Sentimentos
d*amor, da Natuieza?
Para
um
castigo tal quaes sãomeus
crimes^56
me
queres punir,Deoi
de
vingança,^s raios tens nas mãos, Recende os raios,
VI
eu
terno coração reduzeao
nada;
Vias d'outro coração,
a que
o ligaste, 5eparal-o jamais. . .Ah
!nem
tumesmo,
^em
tu,que
podei tudo, tanto podes. ..
iue
proferes, blasfema!Aos
Ceos
te atreves?^h
virtude! Oii razão!Desamparaes-me?.
~88
—
Onde,
ígnea, oftde está tua constância?Aos
teus deveres torna, entraem
timeama.
Órgão
do
SerSupremo,
um
Rei
te ordena,Que
do
Esposo te apartes;não
resistas;E'
força obedecer; enfrêa n'alma,Suffoca as afflicçôes, cala os
queixumes*
Co'
as desgraças os crimesnão
mistures:
Mas
deixal-o!. . .Ai
de
mim.
. , Deixal-o!. .Agora
Agora
éque eu conheço
as fúrias todas.Toda
a forçad'amor
: elletriumpha
Da
razão,da
virtude, e doaCeos
mesmo.
-SCENA
11.Ignez,
e
Elvira,
Jg/y..—-Senhora...
(Ai
triste!., o prantome
suffoca!Se
é certoque
Ímpias ordens tecondemnam
A
deixar Portugal,a
triste Elvira,Que
protestou viver, morrer comtigo,Sempre
junto ao teu lado, a qualquer parteA
que
te arrojea
sorte,ha de
seguir-te:Confio
que
esta graçame
concedas.J-gn.
—
Ah!
Não
venhas juntar aosmeus
pezaresO
quadroda amizade
consternada:
Para
esmagar-me
o coração sensivelBem
bastaamor, a Natureza
basta.Não
posso resistir a tantos males,'
Aos
golpes