Perfil do Disclosure Ambiental:
uma investigação nos Relatórios
Anuais e Balanço Social e
Ambiental da Petrobras
Fabrícia Silva da Rosa
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, e possui gradua-ção em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999) e Mestrado em Engenharia de Produção pela Universi-dade Federal de Santa Catarina (2002). Tem experiência na área de Gestão Empresarial, atuando principalmente nos seguintes temas: Evidenciação e Contabilidade Ambiental, Teoria da Contabilidade, Avaliação de De-sempenho e MCDA-C.
Sandra Rolim Ensslin
Possui graduação em Ciência Contábeis pela Universidade Católica de Pelotas (1991), Mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (1995) e Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2002). Atualmente é professora-adjunta da Universi-dade Federal de Santa Catarina, atuando como Coordenadora e Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis, e Professora do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Tem experiência na área de Engenharia de Produção, com ênfase em Modelos Multicritérios (apoio á decisão), atuando principalmente nos seguintes temas: MCDA, Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão, Apoio à Decisão, Avaliação de Desem-penho e Capital Intelectual.
E
sta pesquisa, de caráter descritivo, tem como objetivo
traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobras.
O perfil do disclosure ambiental é analisado quanto
ao nível de sustentabilidade (ISE/Bovespa, 2005), elementos
(LINDSTAED, 2007), tipo (GUTHRIE e PETTY (2000) e
qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY e LAVERS, 1995b),
por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças
do relatório (RICHARDSON, 2008). A pesquisa revela: (i) a
partir do momento que integra o ISE, melhoram-se os níveis
de disclosure ambiental; (ii) no Balanço Social e Ambiental,
o item mais evidenciado é o que se refere às auditorias feitas
na companhia; já em relação ao Relatório Anual, o item de
mais evidência é o que se refere aos investimentos; (iii) o tipo
disclosure mais evidenciado em 2004, tanto no Relatório Anual
quanto no Balanço Social, é o Declarativo; e, em 2006, ano em
que passou a integrar o ISE, a companhia aumenta informações
Quantitativas/Monetárias no Relatório Anual e Quantitativas
no Balanço Social e Ambiental; (iv) a qualidade do disclosure
ambiental obteve como resultado a constatação de que a
classificação mais evidenciada foi a do tipo Bom.
1. Introdução
Conforme Iudícibus, Martins e Gelbcke (2007), a preocupação com a divulgação/evidenciação das informações ambientais, os
stakeholders, remete à pesquisa
na área de Ciências Contábeis, cujo objetivo é fornecer informa-ções sobre a situação econômico-financeira das empresas aos seus usuários por meio das demonstra-ções contábeis.
Por intermédio dos relatórios produzidos pela contabilidade, os stakeholders podem avaliar tendências futuras das empresas, bem como os investimentos nas áreas social e ambiental. Nesse contexto, a elaboração e a publi-cação do Relatório da Anual (RA) pelas companhias é uma forma de transparência de suas gestões, pois este é um documento essen-cial complementar das demons-trações contábeis em um deter-minado exercício, visando dar mais clareza para seus acionistas e usuários em geral (GALLON; ENSSLIN, 2007). Observa-se que as informações contidas nos re-latórios que complementam as demonstrações contábeis
confi-guram-se como
evidenciações voluntárias. Nesse sentido, a presente pesquisa es-tuda as evidenciações voluntá-rias, pois analisa relatórios anuais e relatórios de sustentabilidade da empresa Petrobras.
Segundo Piacentini (2004, p. 51), as evidenciações voluntárias são meios utilizados pelos investi-dores para analisar as estratégias e os fatores críticos de sucesso da companhia, tanto no ambien-te no qul elas estão inseridas, como sob o aspecto competitivo do cenário econômico. Assim, essas informações evidenciadas voluntariamente servem para a empresa demonstrar a seus usu-ários o que está sendo feito para a melhoria e a manutenção do bem-estar da comunidade.
Braga (2007, p. 40) descreve que os usuários da informação contábil buscam uma tradução dos benefícios e malefícios cau-sados ao meio ambiente, bem como os efeitos desses no patri-mônio das entidades por meio da expressão monetária.
Isso que sugere que a Conta-bilidade seja capaz de informar sobre a gestão ambiental das em-presas e considerar o meio am-biente no seu patrimônio, ou seja, o relacionamento da empresa com o meio ambiente, gerando efeitos econômicos e financeiros e, por-tanto, devendo ser considerados na identificação, na mensuração, na avaliação, no gerenciamento e na evidenciação do patrimônio.
Contudo, é importante lembrar que a Contabilidade não resolve problemas ambientais, mas pode
auxi-liar na mudança da gestão das in-formações sobre o relacionamento da empresa com o meio ambiente. Dessa forma, Ferreira (2000) abor-da que a Contabiliabor-dade não vai resolver os problemas ambientais, mas, em face de sua capacidade de fornecer informações, pode alertar os vários atores sociais para a gra-vidade do problema, vivenciado e ajudando, dessa forma, na procu-ra de soluções.
Nesse contexto de reconheci-mento da necessidade de trans-parências por meio da divulgação das práticas socioambientais, a Bovespa, em conjunto com várias instituições (ABRAPP, ANBID, API-MEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambien-te), lançaram, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), com o objetivo de oferecer ao mercado um indicador para as ações de empresas comprometi-das com responsabilidade social e sustentabilidade empresarial e promotoras das boas práticas de governança corporativa no Brasil.
Os autores da presente pes-quisa acreditam que as empre-sas que participam do Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bovespa tendem a buscar atin-gir maiores níveis de disclosure ambiental, visto que a adesão dessas empresas ao ISE faz parte; pressupõe-se a observação aos princípios da responsabilidade social e ambiental.
Para Lins e Silva (2007), o disclo-sure representa um importante meio de comunicação sobre o desempenho de uma empresa aos seus interessados: acionistas, credores, órgãos de supervisão e controle, governo, empregados. Por esse motivo, o disclosure possui papel essencial na redu-ção da assimetria de informa-ção entre os gestores e aque-les que possuem interesses na
empresa, especialmente inves-tidores. O disclosure ambiental pode estar presente em diversos relatórios de uma organização, tais como: demonstrações contá-beis e financeiras, relatório anual, relatórios específicos – sustenta-bilidade e balanço social, bem como nas notas explicativas.
Considerando que as em-presas estão inseridas em um contexto no qual se torna ne-cessário intensificar o disclosu-re ambiental para melhorar a sua comunicação com as partes interessadas, faz-se essa inves-tigação com o intuito de traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobras. Observe-se que tal investigação fez um estudo de caso em uma única empresa e esse corte se justifica pela im-portância econômica e social da Petrobras para o Brasil, em con-trapartida a sua relevância eco-nômica e social; a atividade da empresa é considerada de alto impacto pela Lei n.º 10.165/00 do Brasil. Adicionalmente, leva-se em consideração que algu-mas pesquisas que analisaram os impactos gerados por esse setor demonstram a necessi-dade de disclosure ambiental para a tomada de decisões dos stakeholders.
Diante disso, emerge a pergun-ta de pesquisa que orienpergun-ta este trabalho: Qual é o perfil do disclo-sure ambiental da Petrobras?
Com vistas a responder à pergunta de pesquisa propos-ta pelos autores do trabalho, o objetivo geral da investigação pode ser definido como se se-gue: traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobras que inte-gra o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).
Nessa pesquisa, buscou-se tra-çar o perfil do disclosure ambien-tal, no período de 2004 a 2006,
quanto aos aspectos: (i) frequ-ência das sentenças evidenciadas no relatório; (ii) nível de Susten-tabilidade (ISE/BOVESPA, 2005), elementos do disclosure (LINDS-TAED, 2007), tipo do disclosure (GUTHRIE e PETTY, 2000) e quali-dade do disclosure (GRAY, KOUHY e LAVERS, 1995b), por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças do relatório (RI-CHARDSON, 2008).
A pesquisa justifica-se por ve-rificar o conteúdo do Relatório Anual e do Balanço Social de uma companhia aberta que, segundo critérios definidos pelo ISE, é considerada com boas práticas ambientais, e que visa oferecer ao mercado acionário informa-ções quanto ao seu comprome-timento com a responsabilidade social-ambiental.
Este trabalho está estruturado em cinco seções. Após esta seção de caráter introdutório, a Seção 2 apresenta considerações a respei-to de seus dois eixos constitutivos (disclosure ambiental e ISE); a Se-ção 3 apresenta a metodologia da pesquisa; a Seção 4 apresenta os
resultados do estudo por meio da técnica de análise de conteúdo; a Seção 5, por sua vez, apresenta as conclusões finais sobre os re-sultados alcançados, bem como as recomendações para futuras pesquisas e, finalmente, são apre-sentadas as referências.
2. Fundamentação Teórica
Esta pesquisa visa analisar o perfil do disclosure ambiental de empresas que integram o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Assim, esses são os dois eixos de conhecimento a serem apresen-tados como aporte teórico.
2.1. Disclosure ambiental
Lindstaed e Ott (2007) apon-tam que “o agravamento dos problemas ecológicos, as legis-lações ambientais e a conscien-tização da sociedade em relação às responsabilidades das em-presas na preservação do meio ambiente ampliam as exigên-cias relativas à transparência e à transformação de seus papéis na
“
Os autores da presente pesquisa
acreditam que as empresas
que participam do Índice de
Sustentabilidade Empresarial da
Bovespa tendem a buscar atingir
maiores níveis de disclosure
ambiental, visto que a adesão dessas
empresas ao ISE faz parte;
pressupõe-se a obpressupõe-servação aos princípios da
responsabilidade social e ambiental.
”
sociedade atual, em consonân-cia com essa responsabilidade”. Segundo Kosztrzepa (2004), “a evidenciação das informações ambientais das empresas pode ser feita de diversas formas, das quais, sem dúvida, irão se bene-ficiar as empresas e os usuários das informações contábeis, ao tomarem decisões mais confi-áveis e seguras sobre as orga-nizações”. Contudo, Campos e Leme (2007 apud ASPEN INS-TITUTE, 1998) “alertam que os analistas, gestores e investido-res só estarão atentos à ques-tão social e ambiental se ela for apresentada de forma conec-tada com indicadores de cres-cimento, mercado, margens e, principalmente, revelando qual é a contribuição direta desta questão para a sustentação dos resultados da companhia”.
Nesse sentido, Monteiro (2008) afirma que, “ao longo das últimas décadas, a comuni-cação de caráter ambiental tem despertado o interesse não só dos stakeholders, que, cada vez mais, exigem
informa-ção dessa natureza para a tomada de decisão, mas tam-bém dos investido-res na área de Con-tabilidade Social e Ambiental, em particular na linha de investigação de Environmental Dis-closure”. Segundo Lins e Silva (2007, p.3), “em Contabilida-de, o termo
dis-closure é aplicado como sinônimo de evidenciação, aber-tura, divulgação de informações quan-titativas e qualita-tivas: informações
fornecidas como um anexo às demonstrações financeiras em notas explicativas ou em meios suplementares. Qualquer infor-mação material deve ser eviden-ciada, incluindo informações de natureza quantitativa e qualita-tiva que sejam úteis aos usuários das demonstrações financeiras.”
A evidenciação ambiental expõe como os direitos e as obrigações da empresa estão sendo adminis-trados para realçar o atendimento dos direitos da sociedade (CASTE-LO, 2008; RAHAMA, LAWRENCE e ROPER, 2004; HASSELDINE, 2005; CORMIER, GORDON e MAGMAN, 2004; VILLIERS e STADEN, 2006).
O convívio entre empresa e meio ambiente é próprio de cada contexto pelo qual a evidenciação ambiental irá variar de empresa para empresa (FREEDMAN e PAT-TEN, 2004; FREEDMAN e STABLIA-NO, 2008).
Assim, a evidenciação ambien-tal vista na ótica construtivista é considerada como um processo educativo (GRAY, MURRAY e PO-WER, 2006), sendo um processo
no qual empre-sa e socieda-de perma-necem em const ant e c o m u n i -cação e aprendiza-gem sobre suas cau-sas, efeitos, formas de controle e comprome-timento de ambos em uma visão s o c i o p o l í -tica (DEE-GAN, 1997; C O R M I E R , GORDON e M A G N A N 2004; HASSELDINE e SALAMA, 2005,TILT, 2001).
Os autores da presente pes-quisa consideram, portanto, que a evidenciação ambiental é cons-tituída do conjunto de meios uti-lizados pela empresa para divul-gar suas ações e reações e para demonstrar o que e como está procedendo com relação ao meio ambiente e à sociedade. Seu mo-delo de gestão individual é volta-do para atender às demandas da sociedade, de seus funcionários e de seus acionistas, em curto, médio e longo prazos, e apresen-tado em diversos meios de comu-nicação de forma voluntária ou compulsória. É, portanto, uma atividade complexa, envolvendo interesses conflitantes não bem conhecidos pelas partes envolvi-das, recomendando-se que sua gestão seja assentada no reco-nhecimento do diálogo e apren-dizagem dos atores envolvidos.
Benincá e Schulthais (2007), ao analisarem Relatórios da Petro-bras, no triênio de 2003 a 2005, revelam que o disclosure ambien-tal acontece mais intensamente nos relatórios ambientais espe-cíficos e relatórios anuais, sendo pouco expressivo no relatório de Análise Financeira e Demonstra-ções Contábeis.
Lindstaedt e Ott (2007) desta-cam a necessidade de aprofunda-mento de discussões das questões sobre disclosure ambiental pelos profissionais e pesquisadores de Contabilidade, pois estudo com-parativo sobre questões norma-tivas do assunto revela que, no Brasil, itens como custos e receitas ambientais na Demonstração do Resultado do Exercício divergem das recomendações internacio-nais do ISAR/UNCTAD. Dessa for-ma, verificam-se que pesquisas sobre a classificação disclosure ambiental têm sido desenvolvidas em dois parâmetros: normativos
e desenvolvimento sustentável, apon-tando divergência na forma de análise do disclosure, con-forme Quadro 1. Na pesquisa de Benincá e Schulthais (2007), foram iden-tificados os tipos e elementos de
disclo-sure, sendo que os
elementos não seguiram padrão normativo e, sim, uma adaptação de estudos teóricos sobre sustenta-bilidade. Nesse sentido, a presen-te pesquisa visa prosseguir com a investigação verificando o nível de sustentabilidade quanto à classifi-cação definida pelo ISE/Bovespa, 2005; verifica também os elemen-tos do disclosure ambiental sugeri-dos por Lindstaed (2007), o tipo do
disclosure ambiental descrito por
Guthrie e Petty (2000) e a classifi-cação de qualidade do disclosure utilizada por Gray, Kouhy, e Lavers, (1995b), conforme apresentado no item 3.3. dessa pesquisa.
2.2. Índice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE)
De acordo com Campos e Lemme (2007), “os gestores tra-dicionais de ativos financeiros buscam alternativas para a inclu-são dos aspectos sociais e am-bientais na seleção de carteiras de investimentos, incorporando os conceitos de Triple Bottom Line (TBL) e Investimento Socialmente Responsável (ISR)”.
Investimentos Socialmente Res-ponsáveis (ISR) consideram que empresas sustentáveis geram valor para o acionista em longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais (BOVESPA, 2008).
Os investimentos socialmen-te responsáveis, portanto, são um processo de investimento que combina a análise de questões
de empresas com reconhecido comprometimento com a respon-sabilidade social e a sustentabili-dade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.
De acordo com a Bovespa (www.bovespa.com.br), entre os tópicos da missão do ISE está: ser composto por empresas que se destacam em responsabilida-de social e com sustentabilida-de em longo prazo e estimular práticas por parte das demais empresas. Entre as vantagens para a empresa, conforme a Bo-vespa, estão: ser reconhecida pelo mercado como empresa que atua com responsabilidade social corporativa; ser reconhe-cida como empresa com sus-tentabilidade em longo prazo; e ser reconhecida como empre-sa preocupada com o impacto ambiental das suas atividades (GALLON, ENSSLIN, 2007).
3. Metodologia
e Procedimentos
Metodológicos
Esta seção se divide em três subseções, a saber: Subseção 3.1. Enquadramento Metodológico; Subseção 3.2. População e amos-tra; e, Subseção 3.3. Procedimen-tos metodológicos para coleta e tratamento dos dados. A seguir, encontra-se o desenvolvimento de cada subseção.
ambientais, sociais, econômicas e de governança coorporativa com o intuito de maximizar retorno ao acionista.
Diversos ISR veem surgindo em nível internacional, tais como: FTSE4Good; Dow Jones Sustaina-bility World Index; Ethibel Sustai-nability Index; Domini400 Social Index; KLD Select Social Index; Calvert Index; ASPI Index; Jantzi Social Index; JSE Index; Citizens Index.
As empresas que participam de ISR são selecionadas segundo cri-térios que consideram a questão socioambiental e os fundamentos de ética e governança corporativa como itens de fundamental im-portância para a gestão empre-sarial. Nesse sentido, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) surge com o objetivo de oferecer ao mercado um indicador para as ações de empresas comprometi-das com responsabilidade social e com sustentabilidade empresarial e promotoras das boas práticas de governança corporativa no Brasil. A Bovespa lançou, em 1º de dezembro de 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Esse índice tem como pila-res o relacionamento da emppila-resa com empregados e fornecedores; o relacionamento com a comuni-dade; a governança corporativa; e o impacto ambiental de suas ativi-dades (BOVESPA, 2008). O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações
Quadro 1: Pesquisas sobre a classificação do disclosure ambiental
Parâmetro Órgão Autores
Normativo < Intergovernanmetal Working Group of Experts on International Standarts of Accounting Adm. Reporting (ISAR/UNCTAD), Public Sector Committee (PSC), International Federation of Accountants (IFAC), Directriz Contabilistica (DI – Portugal), entre outros
Luiz e Santana (2004); Costa (2006); Lindstaed (2007); Rodrigues (2005); Nossa (2002); Rover, Alves e Borba (2007); Kosztrzepa (2004). Desenvolvimento
sustentável Global Reporting Iniciative, IBASE, ISE/BOVESPA, Instituto Ethos, entre outros Benincá e Simone Schulthais (2007); Lins e Silva (2007); Gallon e Ensslin (2007)
relevante para economia nacio-nal e que seja considerada de alto impacto ambiental pela Lei n.º 10.165/2000. Esse proce-dimento está em consonância com o pensamento de Griffin e Mahon (1997), os quais consi-deram importante escolher em-presas de um único setor para identificar relações entre Res-ponsabilidade Social (na qual está incluída a questão ambien-tal) e desempenho financeiro. O olhar direcionado a múltiplos setores pode confundir os re-sultados do relacionamento.
Vale salientar que o critério de seleção utilizado no ISE é best of
class, sendo escolhidas empresas
detentoras de melhores práticas, entre as 150 mais líquidas da Bo-vespa. A escolha é baseada na aná-lise de um questionário dividido em 6 dimensões (Geral, Natureza do Produto, Governança Corporativa, Econômico-financeira, Ambiental e Social). Para Campos e Lemme (2007), “existem dois caminhos principais para se chegar à compo-sição das carteiras de Investimen-to Socialmente Responsável (ISR):
screening (também chamado de screening negativo ou exclusionary screening) e best of class (também
chamado de screening positivo ou
qualitative screening)”.
cas, etc.) e extrair os momentos mais importantes”.
A análise de conteúdo desta pesquisa é feita por meio de leitura e interpretação das mensagens dos textos e prosseguem-se de forma quantitativa, a partir da codificação e quantificação (contagem da fre-quência) de cada nível de sustenta-bilidade, elemento, tipo e qualida-de qualida-de eviqualida-denciação observada.
3.2. Sujeito da pesquisa
O período analisado com-preende o triênio 2004 a 2006, ou seja, um ano antes (2004), o ano do lançamento do ISE no mercado acionário (2005), e um ano depois (2006) da presença do ISE. O ano de 2007 não foi analisado por não terem sido os Relatórios Anuais disponi-bilizados pela companhia no momento da elaboração desta pesquisa (março de 2008). A Petrobras passa a compor o ISE em 2006. Portanto, nesta pes-quisa será verificada a evolução do triênio, buscando-se identifi-car qual o disclosure ambiental da companhia até o ano de sua integração e um ano depois. Quanto à amostra, é pesquisa-da a empresa Petrobras, que foi selecionada de forma intencio-nal, visando analisar empresa
3.1. Enquadramento metodológico
A presente pesquisa é classifi-cada como descritiva quanto aos objetivos, uma vez que descreve algumas características da compa-nhia Petrobras, que integra o Índice de Sustentabilidade Empresa (ISE), a saber: (i) frequência de eviden-ciação; (ii) nível de Sustentabilida-de (ISE/BOVESPA, 2005); (iii) Sustentabilida- des-crição dos elementos (LINDSTAED, 2007); (iv) tipo (GUTHRIE e PETTY, 2000); e (iv) qualidade do
disclo-sure ambiental (GRAY, KOUHY e
LAVERS, 1995b). A fonte de coleta de dados é de natureza secundá-ria (RICHARDSON, 2008), uma vez que os dados foram coletados no Relatório Anual e no Balanço So-cial da companhia selecionada.
Para a coleta de dados, utili-zou-se da técnica de Análise de Conteúdo do Relatório Anual e o Balanço Social e Ambiental no pe-ríodo de 2004 a 2006. Segundo Carney (1972), Análise de Conte-údo “é uma técnica de pesquisa para objetivamente e sistemati-camente identificar característi-cas específicaracterísti-cas das mensagens com o objetivo de fazer inferên-cias”. Para Richardson (2008), “é utilizada para compreender melhor um discurso, aprofundar suas características (gramaticais, fonológicas, cognitivas,
ideológi-“
Os autores da presente pesquisa consideram,
portanto, que a evidenciação ambiental é
constituída do conjunto de meios utilizados pela
empresa para divulgar suas ações e reações e para
demonstrar o que e como está procedendo com
3.3. Procedimentos
metodológicos para coleta e
tratamento dos dados
Conforme já sinalizado na in-trodução desse artigo, a fonte de coleta dos dados é constituída dos Relatórios Anuais e Balanços Sociais e Ambientais, de 2004 a 2006, da Petrobras. A coleta dos dados deu-se por meio da técni-ca de análise de conteúdo para identificar e classificar sentenças que revelem disclosure ambien-tal, em termos das característi-cas descritas no enquadramento metodológico e no Quadro 2. O tratamento dos dados deu-se a partir da contagem das informa-ções obtidas na análise de conte-údo dos Relatórios Anuais e nos Balanços Sociais da Petrobras, no período de 2004 e 2006, pro-porcionando análise quantitativa dos dados.
4. Apresentação e Análise
dos Resultados
Na sequência, são apresentadas as análises feitas quanto a: (i) fre-quência, (ii) nível de sustentabilidade; (iii) elementos; (iv) tipo; (v) qualidade do disclosure ambiental da Petrobras; e (vi) análise do balanço social.
4.1. Análise do disclosure
ambiental quanto à frequência
das evidenciações
Este estudo está baseado na aná-lise de frequências que evidenciam informações ambientais, conforme os quatro critérios apresentados no Quadro 1, na sessão de metodologia de pesquisa. Em uma análise preli-minar, buscou-se verificar a quanti-dade de sentenças que evidenciam informações ambientais para verifi-car o local de evidenciação, ou seja, Relatório Anual e Balanço Social e Ambiental, bem como se verifica a quantidade de sentenças evidencia-das, conforme Tabela 1.
A análise da frequência das evi-denciações permite verificar dois aspectos: (i) o disclosure ambiental aumentou no ano em que a com-panhia passou a integrar o ISE; (ii) as informações concentram-se cada vez mais no Balanço Social da companhia, passando de 75% em 2004 para 86% em 2006, confor-me Tabela 1.
Quadro 2: Descrição do disclosure ambiental
Nível de Sustentabilidade (BOVESPA/2005): Relacionamento com Empregados eFornecedores (REF); Relacionamento com a Comunidade (RC); Governança Coorporativa (GC); Impacto Ambiental (IA).
Elementos de Disclosure (LINDSTAED 2007): (1) escopo do relatório; (2) política ambiental da empresa; (3) extensão da aderência às normas estabelecidas em nível mundial; (4) questões-ambientais-chave; (5) descrição dos sistemas de gerenciamento ambiental e padrões internacionais; (6) dados de desempenho segmentado: uso de energia, água, material; emissão de poluentes, destinação de resíduos, etc.; (7) dados específicos do setor, incluindo indicadores de desempenho ambiental; (8) dados financeiros de custos ambientais; (9) dados financeiros de passivos/provisões ambientais; (10) investimentos ambientais (de capital), de recuperação do meio ambiente, em educação ambiental e projetos ambientais; (11) quantidade de processos ambientais administrativos ou judiciais; (12) estimativas de recursos econômicos e benefícios decorrentes dos esforços com o meio ambiente; (13) verificação dos auditores contábeis/relatório de auditoria ambiental independente.
Tipo de Disclosure (GUTHRIE e PETTY 2000): (D) declarativa: quando a informação
qualitativa é descrita e expressa em termos exclusivamente descritivos; (q) quantitativa não monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa em números de natureza não financeira; (m) quantitativa monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa em números de natureza financeira; (q/m) quantitativa monetária e não monetária: quando a informação quantitativa é descrita e expressa tanto em números de natureza financeira quanto de natureza não financeira.
Qualidade do Disclosure (GRAY 1995b - tradução nossa, 2002): (N)Neutra: declaração
de política ou pretensão dentro do mínimo estatutário sem detalhes do que ou como; declaração de fatos cujo crédito/descrédito para a companhia não é óbvio; (B)Boa: declaração além do mínimo que inclui, por exemplo, detalhes específicos em que têm um reflexo respeitável ou neutro na companhia; quaisquer declarações que reflitam crédito para a companhia; análise/discussão/declaração otimista; (R)Ruim: qualquer declaração que reflita ou possa refletir descrédito para a companhia. Inclui, por exemplo, funcionários demitidos (...) e qualquer aumento em acidentes.
Fonte: Dados da pesquisa
4.2. Análise do disclosure
aAmbiental quanto ao nível de
sustentabilidade
A análise sobre o nível de sus-tentabilidade utilizou os critérios de avaliação definidos pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial e le-vou em consideração informações referentes ao relacionamento da companhia com o meio ambiente.
Tabela 1: Frequência do disclosure ambiental
Ano do Relatório Relatório Anual Balanço Social e Ambiental Total de sentenças
2004 83 239 322
2005 52 255 307
2006 58 359 417
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 2: Nível de Sustentabilidade
Ano do Relatório
Relatório Anual Balanço Social e Ambiental REF RC gC IA REF RC gC IA
2004 5 8 6 64 3 6 0 230
2005 1 2 1 48 7 12 9 227
2006 1 1 0 56 4 18 2 335
Nesse sentido, percebe-se a maioria das informações relacio-nadas ao IA. Porém, percebe-se a preocupação da companhia em en-volver empregados, fornecedores, comunidade, investidores e gover-no nas questões relacionadas ao meio ambiente, já que os indicado-res REF e RC repindicado-resentam 10% das sentenças evidenciadas em todo o período analisado (2004 a 2006).
Em relação aos itens relaciona-dos à Governança Corporativa, es-tiveram presentes, no ano de 2004, no Relatório Anual e, no ano 2005, no Balanço Social e Ambiental, sen-do que, no ano em que a compa-nhia passou a fazer parte do ISE, esse item foi evidenciado apenas 2 vezes no Balanço Social. As eviden-ciações nesses itens referiram-se à abordagem sobre a transparência das ações ambientais da compa-nhia aos seus stakeholders,
confor-me Tabela 2.
4.3. Análise do disclosure
ambiental quanto aos Elementos
Os resultados relacionados aos elementos de disclosure ambien-tal revelam que o Balanço Social e Ambiental de 2006 é o instrumen-to mais utilizado para evidenciar aspectos do relacionamento da companhia com o meio ambien-tal, sendo superado pelo Balanço Social e Ambiental de 2005, quan-to ao item 2 (política ambiental da empresa), pelo Relatório Anual de 2004, quanto ao item 4 (ques-tões ambientais-chave), e quanto ao item 7 (dados do setor espe-cífico), que foi evidenciado ape-nas no Balanço Social de 2005. Revela também que os balanços sociais apresentam maior diversi-ficação de informações do que os relatórios anuais. Assim, informa-ções que revelam dados do setor específico (item 7), dados finan-ceiros de custos ambientais (item 8), dados financeiros de
passivos-provisões (item 9), dados sobre a quantidade de processos ambientais administrati-vos e judiciais (item 11) e dados sobre a verificação de auditores
(item 13) são encontradas apenas nos balanços sociais, conforme Gráfico 1.
Os itens de evidenciação mais expressivos são 13 e 10, conforme Gráfico 1, sendo que o item 13 re-fere-se à verificação de auditores contábeis. Nesse sentido, a com-panhia revela um grande número de informações, pois apresenta matriz de indicadores no Balanço Social e Ambiental na qual são lis-tados os itens audilis-tados e revisa-dos por auditores. Essa matriz é uma consolidação dos modelos de relatórios e indicadores social e ambiental (GRI, DJSI, IBS, ETH, IND ETH, CBD). Em 2004, foram listados 45 itens que compõem o balanço social, sendo que foram revisados pelos auditores 38 itens, e 7 itens configuram-se como in-formações não auditadas ou revi-sadas. No ano em que a compa-nhia passa a fazer parte do ISE (2006), ela passa a evidenciar 90 informações listadas na matriz de indicadores, sendo 82 revisadas pelos auditores, 4 não auditadas e 8 auditadas e revisadas.
4.4. Análise do disclosure
ambiental quanto ao Tipo
Nessa análise, as informa-ções são classificadas sob a
óti-Gráfico 1: Elementos do Disclosure
Fonte: Dados da pesquisa
120 100 80 60 40 20 0 Frequência 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Elementos BS 2004 BS 2005 BS 2006 RA 2004 RA 2005 RA 2006
ca de quatro critérios: Declara-tiva, QuantitaDeclara-tiva, Monetária ou Qualitativa Monetária, confor-me Tabela 3.
A análise do tipo de eviden-ciação revela que no Balanço Anual de 2004 as informações eram mais do tipo Declarativa (66%) e Quantitativa (22%); já no ano de 2006, a companhia passa a fornecer um maior número de informações do tipo quantita-tivo-monetária, demonstrando uma maior transparência das atividades relacionadas ao meio ambiente e seu reflexo financeiro para a companhia, de tal manei-ra que as Informações Declamanei-rati- Declarati-vas passam a representar 62%, Quantitativas 7% e Quantitativas Monetárias 26%, sendo que as informações do tipo Monetária têm pouca expressão nesse re-latório nos três anos analisados. Percebe-se, porém, que, apesar do Relatório Social e Ambiental, informações monetárias surgem
2004, para 6% no ano que a com-panhia passa a integrar o ISE (ano de 2006). Todavia, pode-se destacar que, por meio da análise de conte-údo, foi possível perceber que, na maioria das vezes, é evidenciada uma informação do Tipo Ruim. Nas sequências posteriores ao anúncio, são informadas medidas mitigado-ras ou preditivas do tipo Bom.
4.6. Considerações adicionais
sobre o Balanço Social
Por fim, a análise de conteúdo permitiu intensificar a investigação sobre Balanço Social e Ambiental. Tal investigação deve-se ao fato da relevância dada a este relatório pela Companhia cujo objetivo é fornecer as informações sobre
dis-closure ambiental.
Para a Petrobras, o Balanço Social é a prestação de contas da companhia à sociedade sobre sua atuação social e ambiental no Bra-sil e nos países onde desenvolve atividade. A companhia é signa-tária desde 2003 do Pacto Global (PG) da Organização das Nações Unidas (ONU). Dessa forma, o rela-tório está estruturado conforme os 10 Princípios PG. Desses 10 princí-pios, 4 referem-se ao relaciona-mento da companhia com o meio ambiente e, nos demais, a compa-nhia também fornece informações sobre gestão ambiental, porém de forma secundária.
Os relatórios analisados (2004 a 2005) demonstram diversificação de elementos evidenciados, con-forme demonstrando no item 4.3.; demonstram também que a com-panhia preocupa-se com padrões internacionais quanto aos seus sis-temas de gestão ambiental. com maior frequência no ano
de 2004. No ano de 2005, as in-formações do tipo quantitativa aparecem com maior frequên-cia, demonstrando que o Tipo de
Disclosure diverge nos relatórios,
conforme Tabela 3.
4.5. Análise do disclosure
ambiental quanto à qualidade
A qualidade é analisada em três critérios: Bom, Ruim e Neutro. Por-tanto, a análise mostrou que, em todos os anos pesquisados, os dois relatórios priorizam informações classificadas como “Bom”, revelan-do que a companhia busca eviden-ciar detalhes específicos, tendo um reflexo respeitável para ela, confor-me Tabela 4.
As informações do tipo Neutro são aquelas que não revelam deta-lhes sobre créditos ou descréditos à companhia, mas vêm reduzindo e migrando para informações do tipo Ruim e Bom no Relatório Social e Ambiental, passando de 9%, em
Tabela 3: Tipo de Disclosure
Ano do Relatório
Relatório Anual Balanço Social e Ambiental
D Q M Q/M D Q M Q/M
2004 55 18 4 6 184 9 32 14
2005 29 18 2 3 209 36 3 7
2006 36 3 4 15 294 50 14 1
Fonte: Dados da pesquisa
Tabela 4: Qualidade do Disclosure
Ano do Relatório
Relatório Anual Balanço Social e Ambiental
N B R N B R
2004 22 57 4 22 202 15
2005 12 36 4 10 238 7
2006 7 48 3 20 322 17
No ano de 2004, todas as uni-dades no Brasil e no exterior foram certificadas pela ISO 14001, OH-SAS 18001/BS 8800; em 2005, a companhia possuiu a maioria das unidades certificadas e começou a fazer parte do Comitê Espelho Bra-sileiro, que discute a criação da ISO 26.000. Em 2006, a companhia ini-ciou o processo de articulação para aderir ao World Business Council
for Sustainble (WBCSD); confirmou
sua presença nas discussões sobre a ISO 26.000; e obteve Certificação ISO 14001 em todas as unidades internacionais e 84% das unidades nacionais. Também é certificada pela OHSAS 18001.
Em 2006, o Balanço Social e Ambiental foi avaliado pelos diri-gentes do Pacto Global como uma comunicação notável e um exem-plo a ser seguido por outras empre-sas. A companhia também destaca que o ano de 2006 demonstra o fortalecimento do relatório como ferramenta de gestão. A compa-nhia passa a integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial.
Conforme Petrobras (2006), com foco na objetividade e no diá-logo com as diversas partes interes-sadas, o Balanço Social e Ambiental da Petrobras consolida ao longo dos anos sua matriz de indicado-res, que integra diversos modelos
e orientações para a resposta e a divulgação de temas referentes à responsabilidade social e ambien-tal. Nesse sentido, constata-se que vários itens que compõem o relató-rio são revisados e auditados; em 2004, foram 48 itens auditados; em 2005, 88; e, em 2006, 97.
Porém, quanto ao desempe-nho na utilização de recursos, como água, energia e emissão de efluentes e resíduos sólidos, no ano de 2004, o Balanço So-cial e Ambiental apresenta limi-tações quanto ao comparativo de consumo de recursos ou ge-ração de impactos com níveis internacionais e com o histórico da própria companhia. Porém, a companhia apresenta os investi-mentos na área, o engajamento com iniciativas globais (como, por exemplo, Pacto Global e Créditos de Carbono), es-tratégias, programas, sistemas de gestão e políticas da companhia em relação a esses itens. Como apresen-tado no item 4 (indi-cadores ambientais) do Balanço Social, em 2004 a companhia não possui metas anuais para diminuir resíduos e consumo geral na produção/operação e
aumentar a eficácia na utiliza-ção de recursos naturais.
Já nos anos de 2005 e 2006, é demonstrado no item 4 (indicado-res ambientais) do Balanço Social que a companhia cumpre de 76% a 100% das metas para minimizar resíduos e consumo e melhorar efi-ciência. Porém, no corpo dos Rela-tórios, para os aspectos de consu-mo de recursos naturais e geração de impacto, os parâmetros inter-nacionais de comparação ainda encontram-se ausentes, constando em grande maioria dos dados, o histórico da própria companhia.
5. Considerações Finais
O estudo aqui relatado inseriu-se na área de gestão sustentável
das organizações, no contexto do
“
Vale salientar que o critério de seleção utilizado
no ISE é best of class, sendo escolhidas empresas
detentoras de melhores práticas, entre as 150 mais
líquidas da Bovespa. A escolha é baseada na análise
de um questionário dividido em 6 dimensões (Geral,
Natureza do Produto, Governança Corporativa,
reconhecimento da necessidade de transparência das práticas so-cioambientais, tendo focalizado o
disclosure ambiental. A revisão da
literatura no contexto da presta-ção de informações aos investido-res quanto às práticas ambientais e quanto ao fórum no qual essas informações são demandadas fez com que fosse investigado o se-guinte objetivo: buscou traçar o perfil do disclosure ambiental da Petrobras, que participa do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE). O perfil foi identificado a par-tir das evidenciações ambientais quanto a: (i) frequência das sen-tenças evidenciadas no relatório; (ii) nível de sustentabilidade (ISE/ BOVESPA, 2005), elementos do
dis-closure (LINDSTAED, 2007), tipo do disclosure (GUTHRIE e PETTY, 2000)
e qualidade do disclosure (GRAY, KOUHY e LAVERS, 1995b), por meio da técnica de análise de conteúdo das sentenças do Relatório Anual e do Balanço Social e Ambiental, no período de 2004 a 2006, conforme Richardson, 2008. A identificação ocorreu em dois momentos – antes e depois da inserção da companhia no ISE – cujo intuito foi verificar se o perfil do disclosure ambiental da Petrobras se alterou a partir da in-serção no ISE.
Primeiramente, verifica-se que o Balanço Social vem cada vez mais sendo a referência para avaliar a evidenciação ambiental da companhia.
Os resultados obtidos quanto à frequência das sentenças evidencia-das revelaram aumento na evidên-cia, o que confirma a premissa dos autores de que empresas que parti-cipam do ISE podem intensificar os níveis de disclosure ambiental.
Sobre os elementos de
disclo-sure ambiental, verificou-se que o
elemento mais evidenciado no Ba-lanço Social e Ambiental é aquele que se refere às auditorias feitas na companhia; já em relação ao
Relatório Anual, o item que mais se evidencia é o que se refere aos investimentos.
Quanto ao tipo de disclosure, constatou-se que, em 2004, tanto no Relatório Anual quanto no Ba-lanço Social, as informações são Declarativas e, em 2006, ano que passa a integrar o ISE, a companhia aumenta informações Quantitati-vas/Monetárias no Relatório Anual, e Quantitativas no Balanço Social e Ambiental. Acredita-se que essa mudança no perfil do tipo de
dis-closure está relacionada à
preocu-pação da companhia em informar às partes interessadas os investi-mentos que foram alocados para a manutenção e/ou o aumento das práticas socioambientais.
A última característica inves-tigada por essa pesquisa buscou analisar a qualidade do
disclosu-re ambiental e obteve como disclosu-
re-sultado a constatação de que a classificação mais evidenciada foi a do tipo Bom, o que demonstra a preocupação em relatar princi-palmente ações positivas frente às questões referentes ao rela-cionamento da companhia com o meio ambiente. Porém, no ano de 2006, a companhia diminuiu informações do tipo Neutro e aumentou informações do tipo Ruim, demonstrando a preocupa-ção da companhia em revelar as medidas mitigadoras ou prediti-vas de ações comprometedoras na ótica ambiental.
Adicionalmen-te, os autores procederam à leitura dos resul-tados gerados, a p r e s e n t a d o s em termos da interpretação à luz do arcabou-ço metodológi-co selecionado (em função de ter sido o mais
utilizado na literatura investiga-da) nesse artigo. A leitura apon-ta a existência de necessidade de reflexão no aspecto da qua-lidade do disclosure ambiental por admitir apenas três estágios de classificação: Neutro, Bom e Ruim. Nessa visão, a divulgação de investimentos ambientais vul-tosos de uma determinada or-ganização, por exemplo, estarão classificados como Bom; e inten-ções de melhoria de processo ou de projetos de educação que não despendam de tanto recursos ou que não representam o mesmo benefício ambiental recebem a mesma classificação. Aconteceu de maneira semelhante para as-pectos ruins, que, por exemplo, classificaram com o mesmo peso uma divulgação sobre desastre ambiental, que acarreta
contin-gência de milhões de reais, com uma notícia de um possível pro-cesso administrativo que pode não ocorrer e, caso ocorra, os prejuízos financeiros e ambientais serão infinitamente menores.
A relevância da pesquisa pode ser argumentada em termos das (i) contribuições teóricas – propi-ciar conhecimento quanto à in-vestigação do perfil de disclosure ambiental a partir do framework metodológico selecionado; e (ii) gerenciais – oferecer informações reais as partes interessadas quan-to à postura da Petrobras voltada à questão socioambiental e aos fundamentos de ética e gover-nança corporativa.
Conclui-se que existem outros fatores que explicam a maior pre-ocupação da companhia quanto ao disclosure ambiental, além de
seu ingresso no ISE. Entretanto, os autores reconhecem que em-presas que participam do ISE, como a Petrobras, consideram tal prática de fundamental impor-tância para sua gestão sustentá-vel empresarial.
Embora os autores reconheçam que seus objetivos tenham sido atingidos, reforçam a necessidade de se continuar pesquisando sobre o assunto. Para tanto, recomen-dam-se: (i) verificar quais fatores que explicam e que influenciam as divergências de informações sobre o tipo de disclosure ambiental en-tre o Relatório Anual e o Balanço Social e Ambiental; (ii) promover análise de evolução do Balanço Social apresentado no modelo IBA-SE; e (iii) analisar os fatores que influenciam o disclosure e que são influenciados pelo disclosure.
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