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REFLETINDO A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL EDUCADOR DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Academic year: 2021

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

ENVIY, Perla Cristiane1 - SME/PG SILVEIRA, Rosangela de Fátima Martins2 - SME/PG Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Ao se refletir a formação do educador no Brasil, especificamente no município de Ponta Grossa (PR) não pode-se deixar de considerar o educador de jovens e adultos, levando-se em conta que ainda há a necessidade de serem definidas as especificidades que delineiam o perfil do educador de jovens, adultos e idosos e desta forma, subsidiar as diretrizes para a formação desse educador. Segundo a perspectiva de Arroyo (2005) a formação do educador da Educação de Jovens e Adultos encontra-se em processo de construção, uma vez que seu perfil ainda não está definido. Tal afirmação aponta que ainda é deixada à margem a posição da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no bojo das políticas públicas, sendo necessário garantir ao professor na sua formação inicial, saberes essenciais da EJA. Diante disto, este texto tem como objetivo principal, refletir a situação da formação inicial de professores da/para a Modalidade Educação de Jovens e Adultos, bem como a prática daqueles que já vem atuando frente a esta modalidade de ensino visando elencar propostas que auxiliem a identificação das peculiaridades desses docentes. Trata-se da necessidade de intensificar os processos de formação destes educadores numa perspectiva de aprendizagem contínua, a qual parte da reflexão diante dos desafio políticos e pedagógicos. Tal estudo parte das experiências vivenciadas enquanto professora da Rede Municipal de Ponta Grossa, atuando como Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos e também das análises acumuladas a partir do acompanhamento do Estágio Supervisionado na modalidade da Educação de Jovens e Adultos do Curso de Pedagogia de uma Instituição Superior deste município.

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Formação inicial e continuada. Prática

docente.

1 Professora Especialista em Gestão do Trabalho Escolar pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Professora

da Rede Municipal de Ponta Grossa. Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos no município de Ponta Grossa. Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Secal. E-mail: perlaenviy@yahoo.com.br

2 Professora Especialista em Psicopedagogia pela Ibepex. Professora da Rede Municipal de Ponta Grossa.

Coordenadora da Gestão de Pessoas na Secretaria Municipal de Ponta Grossa. Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade Secal. E-mail: rosangela@secal.edu.br

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Introdução

O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas é discutir onde pode como pode, com quem pode, quando pode; é reconhecer os limites que sua prática impõe. É perceber que o seu trabalho não é individual, é social e se dá na prática de que ele faz parte. (Paulo Freire).

O presente estudo resulta das inquietações que foram surgindo em relação à prática docente na Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade que se caracteriza pela inclusão significativa de jovens e adultos que buscam, através do retorno aos estudos, construir uma vida melhor e realizar seus sonhos.

Como Coordenadora da Educação de Jovens e Adultos da rede Municipal de Ensino de Ponta Grossa e professora de Estagio Supervisionado na EJA, buscando contribuir para uma formação continuada que fortaleça o desenvolvimento profissional e a melhoria das práticas docentes na EJA, se faz necessário refletir como tem se dado trabalho desta modalidade de ensino, bem como os seus reflexos na realização do trabalho docente.

Ao acompanhar a modalidade Educação de Jovens e Adultos, encontra-se constantemente diferentes desafios na efetivação deste trabalho resultando em grandes índices de evasão e ausência dos alunos em sala de aulas, na falta de motivação dos professores e um baixo aproveitamento dos alunos presentes na EJA entre outros. Tais desafios apontam possibilidades de um repensar das práticas escolares na perspectiva de se proporcionar uma atuação crítica no contexto em que os alunos estão inseridos e também na formação contínua do docente.

Atualmente as reformas educacionais vêm reforçando a necessidade de um novo olhar sobre a escola que atenda as novas exigências, já que esta é um lugar onde diversas pessoas transitam com as mais variadas formas de pensar e agir. Porém, não há como ignorar essas variações de modo que se busque promover aprendizagem significativa diante das diferenças culturais e sociais ali presentes.

Promover a igualdade de oportunidades na educação é “uma das condições mais importantes para superar a injustiça social e reduzir as disparidades sociais em qualquer país [...] e também é uma condição para fortalecer o crescimento econômico” (UNESCO, 2008, p. 24).

Contudo, os problemas de exclusão social nos sistemas educacionais faz parte da história do Brasil, uma vez que, apesar de ocorrerem inúmeros avanços foi somente a partir da década de 1980, principalmente com a promulgação da Constituição Federal de 1988 que se

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estendeu aos jovens e adultos o direito à educação fundamental, no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A formação docente e as especificidades da EJA

A partir das discussões que implementaram a LDB 9394/96, a Educação de Jovens e Adultos – EJA, no artigo 37 desta Lei, é entendida como uma modalidade da educação básica,

destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram seus estudos no ensino fundamental e no ensino médio em idade regular.

Soares (2002, p. 66) nos explica que “o termo modalidade é diminutivo latino de modus e expressa uma medida dentro de uma forma própria de ser. Ela tem assim, um perfil próprio, uma feição especial diante de um processo considerado como medida de referencia”.

Dessa maneira, a EJA possui características próprias, que atende um público marcado por muitas desigualdades de oportunidades ou que foram de certa forma excluídos do direito de concluir seus estudos em idade regular, cabendo aos sistemas de ensino assegurar a oferta adequada, específica a este contingente.

Com o intuito de melhor atender a esta demanda, a reorganização da EJA no Município de Ponta Grossa, visando à desejada democratização, e considerando a diversidade da população demandante, a oferta desta modalidade de ensino prevê a flexibilidade no currículo, nos espaços e nos tempos escolares, permitindo percursos variados, adequados às realidades dos participantes, que se caracterizam, sobretudo, pela condição de trabalhadores com as mais diferentes histórias de vida, que comportam pluralidade de objetivos, saberes, experiências e responsabilidades.

Nesse sentido, os princípios que norteiam a proposta de reorganização na modalidade da Educação de Jovens e Adultos são:

a) o direito à educação para todos os jovens e adultos – LDB, art. 37/1996;

b) a aprendizagem de forma contínua – a qual não se inicia nem se conclui na escola; c) o princípio de que todo ser humano é capaz de aprender, independente da situação

que se encontre;

d) respeito ao tempo, ritmo e experiências, dentro da modalidade EJA, na perspectiva de atender às diferentes realidades de vida dos alunos;

e) a avaliação como ferramenta que oriente um repensar da práxis pedagógica, onde professores e alunos são sujeitos deste processo;

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f) a autonomia da comunidade escolar na construção do projeto político pedagógico para que se viabilize a EJA na escola, tendo como parâmetros os diferentes sujeitos envolvidos no processo educativo.

É importante destacar a concepção ampliada de Educação de Jovens e Adultos no sentido de não se limitar apenas à escolarização, mas também reconhecer a educação como direito humano fundamental e intransferível para a constituição de jovens e adultos autônomos, críticos e ativos frente à realidade em que vivem.

Para enfrentar os processos excludentes que marcam os sistemas de educação ao longo da história, se faz necessário a garantia de políticas públicas que respeitem e valorizem a diversidade da população como instrumentos de cidadania e redução das desigualdades existentes.

Pensando em reverter este quadro histórico, de constantes desigualdades, é que se concebe a EJA enquanto processo de formação humana plena que, embora instalada no contexto escolar, considera as formas de vida, trabalho e sobrevivência dos jovens e adultos que se colocam como principais agentes dessa modalidade de ensino, orientando-se pelos ideários da Educação Popular: formação social, política e profissional.

Portanto, é importante lembrar que o trabalho docente está mais complexo, visto que o professor deve estar preparado para atender a uma classe cada vez mais heterogênea, o que lhe exige inúmeras habilidades de ensino. A proposta deste texto é trazer elementos que auxiliem o profissional de educação – seja ele atuante com Educação de Jovens e Adultos ou no Ensino Fundamental, a refletir e desenvolver habilidades para uma melhor interação com os seus alunos.

Este processo se inicia fazendo-se uma analise da trajetória da profissão docente desde a sua formação inicial, sua postura diante das mudanças, problemas encontrados pelos professores em aceitar essa mudança e ainda os desafios da formação de um novo profissional: a formação do professor reflexivo.

É comum ouvirmos falar que a educação não pode ser concebida mais como antigamente, Num período curto, aconteceram mudanças que ocasionaram algumas transformações. Assim, os professores estão conscientes de que seu trabalho mudou; ensinar já não é apenas transmitir conhecimentos; as expectativas intensificaram-se e suas obrigações tornaram-se mais complexas (FULLAN; HARGREAVES, 2000).

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É preciso, também, que a sociedade e os governantes se convençam de que é improvável que a educação de um país possa melhorar sem a participação efetiva dos professores.

Todas estas considerações exigem novas aptidões em termos de formação docente. De acordo com a Resolução CNE/CP nº 1 de 15/05/2006 que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Pedagogia, a organização curricular do curso contempla o estágio curricular obrigatório com carga horária de observação participativa e intervenção pedagógica em Educação de Jovens e Adultos - EJA, Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Ensino Médio na modalidade Formação de Professores e Gestão Escolar.

Sendo assim, o Estagio Supervisionado das atividades escolares é uma necessidade imperiosa, tendo em vista atingir os resultados da ação educacional previstos na legislação em vigor e especificamente, na LDB 9394/96, onde se procura integrar as dimensões teórico-prática do currículo e articular de forma interdisciplinar os conteúdos de estudos básicos, aprofundando por meio de procedimentos de observação participativa, reflexão, e intervenção pedagógica através da investigação da realidade, de atividades práticas e de projetos.

A maioria dos docentes formou-se com base em uma perspectiva tradicional homogeneizadora da ação docente que se centra na transmissão de conhecimentos teóricos e fragmentados entre si, os quais tendem a não apresentar relevância social tanto para a escola como para o estudante. Da mesma forma, a formação inicial e continuada de professores se caracteriza por uma relação pobre com os problemas e as situações enfrentadas pelos docentes nas suas práticas de sala de aula ou na vida escolar.

Uma formação com tais características, portanto, não cria as bases para o desenvolvimento profissional contínuo dos docentes no que tange ao seu papel e função de educador e nem se articula com o aperfeiçoamento de práticas de ensino pedagogicamente mais efetivas e inclusivas.

Ensinar constitui a atividade principal na profissão do docente e por isso deve ser compreendida como uma ‘arte’ que envolve aprendizagem contínua e envolvimento pessoal no processo de construção permanente de novos conhecimentos e experiências educacionais, as quais preparam o docente para resolver novas situações ou problemas.

Durante o estágio oportuniza-se ao docente em formação, assimilar a teoria e a prática, reconhecer as peculiaridades da profissão, identificar a realidade do dia-a-dia, ao mesmo

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tempo em que se tem contato com as tarefas que o estágio lhe proporciona. Pedagogicamente o aprendizado é muito mais eficaz quando é adquirido por meio da experiência, já que conseguimos absorver com mais eficiência o que aprendemos na prática do que aprendemos lendo ou ouvindo.

Diante disso, percebemos que tais considerações a respeito de uma nova forma de se conceber o trabalho realizado na escola resultarão no desenvolvimento de profissionais aptos a realizar práticas cooperativas, numa mudança de paradigma, onde todos refletem, contribuindo coletivamente para a produção de um conhecimento transformador.

Para tanto, segundo a Resolução CNE/CP Nº 1 de 15/05/2006 do Curso de Pedagogia orienta que o Estágio Curricular Supervisionado tem por objetivos oportunizar ao futuro profissional:

a) o desenvolvimento de competências necessárias à atuação profissional na Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação Infantil, nos anos iniciais do Ensino Fundamental e na Gestão Escolar;

b) a realização de observação participativa, registro e análise de situações contextualizadas de ensino em sala de aula e de processos de gestão educacional; c) as condições para analisar, compreender e atuar na resolução de

situações-problema características do cotidiano profissional;

d) a participação efetiva no trabalho pedagógico para a promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento nos diversos níveis e modalidades de processos educativos (Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental, EJA, Ensino Médio.(formação de professores);

Sabe-se que a formação acadêmica de professores e de especialistas tem foco privilegiado no trabalho com as crianças, quase não havendo espaço para a especificidade da Educação de Jovens e Adultos, na qual é necessário que o currículo e as práticas de ensino tenham direto significado para seus participantes, os quais viveram e vivem realidades diversificadas e são portadores de cultura e de saberes, que têm que ser levados em conta e considerados.

Diante disto, é que ao analisar a EJA e suas especificidades torna-se importante compreender quem são estes sujeitos que frequentam esta modalidade de ensino e também a formação docente deste professor que atua na Educação de Jovens e Adultos.

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Segundo Bolívar (2002) aprender para um adulto com experiência de vida não é apenas integrar em esquemas de significado já dados; é informar, mudar as concepções existentes do significado da vida de cada um, adquirindo, então, novos significados ou confirmando os já existentes.

Portanto,

a Educação de Jovens e Adultos apresenta-se como questão ampla e complexa que não será resolvida apenas em nível de decisões governamentais, mas exige o engajamento de todas as pessoas que acreditam no potencial humanizador e transformador da educação, oportunizando a inserção crítica e participativa dos seus usuários nos destinos da sociedade. (SCHAFRANSKI; TEBCHERANI; OLIVEIRA, 2006, p. 43).

Silva (2009) afirma que para que haja a garantia do Direito dos Jovens e Adultos à Educação Básica o currículo dessa modalidade de Ensino deve-se pautar numa pedagogia crítica, que considera a educação como dever político, espaço e tempo propício à emancipação dos educandos e à formação da consciência crítico-reflexiva e autônoma. Neste sentido, tal garantia só será efetivada conhecendo quem são os sujeitos da EJA; o tempo histórico em que viveram e as estruturas cognitivas que possibilitaram o acesso ao conhecimento nos diferentes tempos da vida.

Dessa forma, Freire (2002, p. 58) afirma que

para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido.

Por isso, o professor além das competências cientificas necessárias ao trabalho docente, deve ter um “olhar” especial a este aluno que frequenta a EJA, pois muito mais que dominar os conhecimentos, que mediar o processo de aprendizagem é importante valorizar este aluno que retornou à escola pautando toda sua prática através do diálogo.

Outro aspecto que precisa ser levado em conta é que o público-alvo da EJA ao decidir retornar aos estudos, ainda só o faz se tiver a oportunidade de estudar próximo à sua casa já que acumula,muitas vezes,diferentes papéis tanto na família quanto no mercado de trabalho.

Segundo Brandão (2008) a EJA por ter uma tradição histórica voltada nos moldes de uma educação popular, constitui-se a partir de dois princípios básicos: o diálogo e a investigação. Tal perspectiva é fundamentada quando, reiteramos o pensamento de Freire (1987), o qual nos diz que além do “saber de experiência feito” que acumulou com sua

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trajetória de vida e dedicação pensa-se a educação como um ato político e emancipatório. “[...] Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão” (p. 52). “[...] Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (p. 68). “[...] A educação autêntica, repitamos, não se faz de Apara B ou de A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo” (p. 84).

Portanto, percebe-se acima os princípios do diálogo e da investigação, a perspectiva coletiva e emancipatória do processo de formação dos professores de jovens e adultos que servem de referência para pensar os cursos de formação inicial ou na formação continuada.

Diante disso, é importante que o professor da EJA reconheça que seus alunos são sujeitos históricos e que chegam à escola trazendo muitos saberes e, às vezes, conhecendo coisas das quais os professores desconhecem. Tais conhecimentos são resultantes das experiências do seu cotidiano, adquiridos pelas suas passagens pela escola, ou ainda, informações que recebeu e acabam repetindo-as que muitas vezes fazem parte do senso comum sem um aprofundamento científico.

Torna-se evidente que a heterogeneidade na sala da EJA deve ser encarada como um fator positivo, pois o educando expondo suas ideias traz à tona diferentes experiências, aumentando as possibilidades de compreensão do que está sendo estudado. Ao se dar voz aos alunos é possível conhecer sua cultura, pois a construção dessa prática permite cumprir o papel da escola na formação humana, bem como ser lócus da socialização dos conhecimentos. O ensinar envolve a sensibilidade do professor, principalmente o da EJA, em acolher esses educandos em suas diversidades, respeitando-as e valorizando-as, a fim de que esses alunos possam se sentir realmente como membros participantes da comunidade escolar.

O predomínio de aulas convencionais e expositivas em sala de aula, centradas em conteúdos, e não em competências, não motiva suficientemente os participantes da EJA, que necessitam, também, de tempo e espaço para receber suporte e atenção individual às suas necessidades no processo de aprendizagem, mediante atividades diversas.

Esse processo de aprendizagem requer elaboração pessoal, onde, segundo Zeichner (1993) a prática reflexiva deve permear todo este trabalho educativo já que ao se refletir na prática desenvolvida no interior da escola reconhece a importância de que seus atos são fundamentalmente políticos e que podem direcionar objetivos democráticos, emancipa tórios transformando a escola em comunidades de aprendizagem.

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Pensando em reverter este quadro, é que se faz necessário oportunizar momentos de reflexões e encontros de formações com os docentes que atuam na EJA, ressaltando a importância de se desenvolver atividades de convívio social e de vivências socializadoras, culturais, recreativas que enriqueçam o percurso formativo com competências sócio-afetivas, bem como de qualificação profissional agregando competências para o trabalho que promovam estimular a aprendizagem e a permanência dos alunos da EJA.

A capacitação crescente do educador se faz, assim, por duas vias; a via externa, representada por cursos de capacitação, aperfeiçoamento, seminários, leitura de periódicos especializados etc, e a via interior, que é a autocrítica que cada professor deve fazer, indagando sobre seu papel na sociedade e se, de fato, o está cumprindo.

Nesta visão é que a sala de aula e a escola devem ser espaços para o aprendizado e o exercício do diálogo – seja entre campos de saber, seja entre sujeitos partícipes do processo de ensino aprendizagem. É dessa qualidade de coexistência colaborativa que se constrói o espaço democrático e a própria cidadania; o diálogo exige tempo-espaço para falar e para ouvir; para oferecer e para receber a compreensão.

Para que tais diálogos se efetivem, o professor precisa pesquisar, planejar, preparar-se e buscar as informações que julgar pertinentes ao desenvolvimento de sua aula, instrumentalizando conhecimentos socialmente produzidos aos quais os alunos não tiveram acesso; sendo contemplados de maneira clara e precisa pelo professor trabalhado interdisciplinarmente num processo dialógico que oportunize a melhor compreensão pelos educandos.

A partir das condições existentes a escola deve ser um veículo de transmissão e assimilação do conhecimento cientifico, de forma a garantir o saber necessário a todos os alunos, instrumentalizando-os para a participação social na sociedade no combate da seletividade e desigualdade e assim propiciar uma educação democrática para as camadas populares.

Na Educação de Jovens e Jovens e Adultos, esta dimensão é ainda mais importante, pois oferecer aos alunos da EJA a oportunidade de aprender, desenvolver e exercer seu papel social, que é seu direito de cidadania, é imprescindível diante da exigência da profissionalização no contexto atual.

Para isto, torna-se evidente que o professor assuma uma postura reflexiva, que de acordo com Freire é alguém que analisa rigorosamente a sua prática através de um pensar

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epistemológico que não dispensa a emotividade, uma vez que nenhuma formação docente verdadeira pode fazer-se alheada, de um lado, do exercício da criatividade que implica a promoção da curiosidade ingênua à curiosidade epistemológica, e do outro, sem o reconhecimento do valor das emoções, da sensibilidade, da afetividade, da intuição ou adivinhação (FREIRE, 1996).

Considerações finais

Ao analisar como vem acontecendo a educação de jovens e adultos no que diz respeito às especificidades da EJA, percebe-se a amplitude desta, já que envolve vários aspectos entre eles: currículo, reflexão teórico-prática, tempos-espaços, diversidade de sujeitos, material didático e formação de educadores. Este texto ressalta tais especificidades na formação desse educador, o qual deve estar atento às suas particularidades, pois, se o perfil do educando da EJA não for bem conhecido, dificilmente estará se formando um educador apto para o trabalho com esses jovens e adultos (ARROYO, 2006).

Torna-se evidente, a necessária preparação específica para se trabalhar com Educação de Jovens e Adultos, contudo vale ressaltar que esta não deve ser a última condição. É preciso, também, efetivar atividades daquilo que chamam de educação continuada ou “permanente”, sem esquecer que estas não substituem a formação específica, mas oportuniza o entendimento da realidade e a possibilidade de enxergá-la com outros olhos: através da prática.

Estes aspectos fazem surgir uma nova maneira de pensar, a qual evidencia sinais de uma nova forma de fazer na EJA, que de acordo com Haddad (2007, p. 15):

Avançar numa nova concepção de EJA significa reconhecer o direito a uma escolarização para todas as pessoas, independente de sua idade. Significa reconhecer que não se pode privar parte da população dos conteúdos e bens simbólicos acumulados historicamente e que são transmitidos pelos processos escolares. Significa reconhecer que a garantia do direito humano à educação passa pela elevação da escolaridade média de toda a população e pela eliminação do analfabetismo.

Portanto, a interação com o mundo é importante, já defendia Freire, porém o grande desafio e problema da prática da Educação de Adultos ainda é o processo de infantilização do adulto, por meio de práticas e de textos e/ou atividades que desconsideram os saberes já acumulados sendo muitas vezes próprias para crianças.

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Contudo, este texto, não encerra as possibilidades dessa discussão e análise de pesquisa, mas permite desenvolver novas reflexões a respeito das especificidades necessárias para a formação do educador de jovens e adultos. Faz-se urgente, que o educador da EJA convença-se de sua função social, principalmente quanto ao compromisso histórico que assume diante desta função.

REFERÊNCIAS

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BOLÍVAR, A. (Org.). Profissão professor: o itinerário profissional e a construção da escola. Bauru: EDUSC, 2002

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