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Graduanda em Direito Centro Universitário do Vale do Ipojuca - UNIFAVIP/DeVry.

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Academic year: 2021

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GT II: - POLÍTICAS PÚBLICAS, CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS

VIVÊNCIAS DA MATERNIDADE NA COLÔNIA PENAL FEMININA DE BUÍQUE/PE: ASPECTOS SOBRE A CONTRIBUIÇÃO DA LEI 11.942/2009

Maria Simone Gonzaga de Oliveira

Graduanda em Direito – Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP/DeVry. AlunaExtensionista no Projeto de Assessoria Jurídica Popular – PROJURIS. E-mail: moneoliveira22@hotmail.com

Elairton Sabino da Silva

Graduando em Direito – Centro Universitário do Vale do Ipojuca - UNIFAVIP/DeVry. Aluno Extencionista no Projeto de Assessoria Jurídica Popular- PROJURIS. Email: elairtonsabinodasilva@live.com

Lorenna Verally Rodrigues dos Santos

Graduanda em Direito – Centro Universitário do Vale do Ipojuca - UNIFAVIP/DeVry. Email: lorenna_verally@hotmail.com

Rodrigo Freitas de Santana

Mestre em Direito – Universidade Católica de Pernambuco. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho – UCAM.Graduado em Direito – Associação Caruaruense de Ensino Superior. Coordenador de Grupo de Pesquisa em Direitos Humanos no Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP/DeVry. Docente – Centro Universitário do Vale do Ipojuca – UNIFAVIP/Devry e Autarquia de Ensino Superior de Garanhuns – PE. E-mail: prof_rodrigofreitas@yahoo.com

RESUMO

Este trabalho apresenta parte dos resultados da pesquisa intitulada “Mães do Cárcere: olhares sobre o feminino na Colônia Penal Feminina de Buíque/PE”, realizada ao longo do ano de 2015. Assim, o presente artigo tem por objetivo apresentar algumas intersecções construídas sobre o sentido da maternidade no cárcere, perfazendo o quadro acerca das condições femininas com base do cotidiano investigado.

Palavras-chave:Maternidade. Cárcere. Violações. ABSTRACT

Thispaperpresentspartoftheresultsoftheresearchentitled "PrisonMothers: viewsaboutmuliebrity in women`s penal colonyof Buíque / PE" heldthroughouttheyearof 2015. Thus, thisarticleaimstopresent some intersectionsbuiltonthesenseofmotherhood in prison, makingthepictureaboutwomen'sconditionsonthebasisofth einvestigateddaily.

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1 APRESENTAÇÃO

Este artigo apresenta parte dos resultados da pesquisa desenvolvida ao longo do ano de 2015 na Colônia Penal Feminina de Buíque(CPFB), a qual teve como objetivo investigar sobre as peculiaridades e realidade envolvendo mães nesta prisão, visando discutir sobre a maternidade e o seu (não) exercício.

Ainda, no sentido de observar as necessidades e como, de fato, o Estado se posiciona na aplicação das Leis vigentes, especialmente a Lei 11.942/2009, que resguardam os direitos de mães e filhos, assegurando, no cárcere feminino, condições mínimas de assistência e subsistência. A vivência dos direitos reprodutivos, em específico quanto à maternidade no cárcere, segundo as Leis vigentes, se dá a partir do estabelecimento de paralelos com fundamento na legislação em vigor, respeitando-se o dia a dia das presas e seus bebês, considerando os avanços no que diz respeito à saúde da mãe presa e do seu filho, bem como a previsão de espaços de creche e berçário.

E, ainda, na possibilidade de extensão do tempo de permanência das crianças no cárcere até os 07 (sete) anos de idade incompletos. A partir desses princípios, analisar o cárcere feminino, especialmente, no que se refere a vivência da maternidade em unidades prisionais, é uma importante abertura à problematização do atual quadro de (não)afirmação dos direitos reprodutivos de mulheres presas. Partindo da realidade prisional feminina e da (não)aplicabilidade da Lei em vigor, é importante perceber como esse quadro atinge mães e filhos, e até que ponto o crime cometido pelas mulheres assume, no estado de gravidez, um dupla penalização, estendendo-se também ao(a) filho(a).

É durante esse tempo que é estabelecido o afeto entre eles, sentimentos como coragem, confiança nascem daí e são determinantes na formação do indivíduo e que podem ficar comprometidos caso não haja esse incentivo, principalmente tratando-se de mulheres privadas de liberdade onde não há outros membros da família. Para que ocorra realmente uma relação sadia é necessário que a instituição assegure um espaço privilegiado, dando apoio, auxílio a estas

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mães, aspectos como higiene, estímulos ao bebê e amamentação são essenciais, levando sempre em consideração o melhor interesse da criança.

 Pautando portanto, o problema de pesquisa no seguinte questionamento:

Quais as perspectivas e contribuições da Lei 11.942/2009 a garantir os direitos fundamentais em situação de cárcere?

O objetivo da na nossa pesquisa foi compreender quais as experiências e violações vividas pelas mães presas na Colônia penal Feminina de Buíque/PE. Como também, analisar a concepção de maternidade no cárcere e as perspectivas e contribuições da Lei 11.942/2009, a garantir os direitos de mães e filhos que vivem em estabelecimentos prisionais.Nesse aspecto destaca, Ramos (2011)o sistema carcerário não foi pensado para mulheres, tendo em vista,que o controle sobre a mulher sempre foi exercido de forma patriarcal.

A metodologia1 utilizadasegue a perspectiva indutiva,(GIL, 2009), pois

permitiu uma interpretação dinâmica da realidade da CPFB, a abordagem adotada foi a qualitativa que busca compreender e interpretar os comportamentos, a opinião e as expectativas dos sujeitos entrevistados. Sendo a pesquisa classificada como: bibliográfica, descritiva e exploratória (GIL, 2009), o instrumento da pesquisa foi a entrevista simiestruturada, com as lactantes, gestantes, mães que tiveram seus filhos na CPFB e estes já se encontram com seus familiares e com a administração prisional.

Dentro da técnica de análise de dados, iremos utilizar a análise de conteúdo (BARDIN, 2007), realizando uma interpretação a partir dos dados que serão coletados em livros, artigos e das entrevistas com os sujeitos da pesquisa.

Nossa pesquisa se justifica, pelo fato de existirem poucas publicações com o tema, cada vez mais o número de mulheres em presídios vem aumentando, algumas Leis surgem com o intuito de melhorar a organização prisional, mas na realidade estas Leis não têm eficácia. A pesquisa faz-se necessária tendo em vista, a discrepância entre a norma e a realidade, onde a estrutura jurídica diverge da sua real aplicabilidade, mostrando a realidade de mães e filhos que vivem no cárcere. Ainda em análise sobre a justificativa do tema, observa-se que é de fundamental importância o estudo em questão, pois o Brasil é um país de muitas Leis, porém muitas delas pendentes de efetividades, considerando a ausência do cumprimento

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das Leis, afeta a função social da pena. Para a sociedade o Estado está cumprindo seu papel, ao retirar das ruas a mulher que cometeu crime, entretanto, há de se dá uma resposta a sociedade no sentido de demonstrar se, de fato, essas mulheres recebem do Estado a efetivação de seus direitos. Nesse diapasão, conclui-se a pertinência do presente trabalho, diante da efetiva demonstração de cabimento de sua análise, atualmente.

2 DESENVOLVIMENTO

Neste, artigo a fundamentação teórica utilizada será complementar aos resultados da pesquisa que serão apresentados. Abaixo, nós mesclaremos os resultados com sua respectiva fundamentação teórica.

As categorias elencadas para tal serão: Filho como apoio emocional para mãe, onde discutiremos a importância da presença do filho durante o cumprimento da pena para essa mulher como também a presença da mãe influência nos primeiros meses de vida da criança. Contudo, a segunda categoria. Aspectos sobre a Lei 11.942/2009, vem a contribuir para a vivência no cárcere de mães e filhos que estão em estabelecimentos prisionais.

2.1 FILHO COMO APOIO EMOCIONAL PARA MÃE

Nesta categoria iremos analisar como o filho é importante para esta mãe, como a presença do filho acalma, e traz para essa mulher o sentido de responsabilidade, como ele representa a família desta mulher, como esse laço afetivo entre mãe e filho é importante para as mulheres.

Pois, criar uma criança no ambiente prisional não é tarefa fácil para as mães, principalmente, que praticamente todas as mães entrevistadas já são mães e têm a experiência de terem criado outros filhos fora do cárcere.

Muitas dessas mães ao serem separadas de seus filhos que já tinham antes de serem presas, estabelece com essa nova criança um vínculo emocional muito grande, pois ela passa a ser a lembrança dos filhos que estão longe, como relata muito emocionada a entrevistada nª 06 que está gestante: “Tenho mais 3 filhos, 2

meninas e 1 menino esse é outro menino, vou ficar com ele o tempo que eu puder aqui pra me fazer companhia, é muito difícil esse lugar e a pessoa sozinha, pior ainda”

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A fala da entrevistada acima, evidencia um sentimento de solidão, constante em todas as mães que foram indagadas, de como é a relação mãe e filho na prisão, todas demonstram o quanto essa companhia diária faz bem para elas, o quanto é necessário a presença do filho, mesmo no ambiente prisional.

Enquanto presas, essas mulheres não têm domínio sobre suas próprias vidas, o Estado que disciplina como elas e os filhos devem viver, estabelecendo regras principalmente no que diz respeito a criação das crianças que estão diretamente sobre a tutela do Estado conjuntamente com sua genitora.

A impossibilidade de exercer a maternidade no cárcere é uma grande violação de direitos dessa mulher, e que são percebidos e expressos por elas, a diferença de se criar um filho em casa e no presídio, como quase todas já exerceram a maternidade antes de serem privadas de liberdade.

Há um choque entre os direitos das crianças em viver em liberdade e os das mães de viverem com seus filhos. Fica evidente na fala das mães o apoio proporcionado pela presença dos filhos. “Em casa eu sei que é melhor pra ele, mas

aqui ele é minha companhia, tenho que me conformar, é melhor pra o filho da gente lá fora mesmo, é mesmo que me matar pensar nele indo embora, vai ser muito triste, mas mãe vai tomar conta dele direito”(Entrevistada nº04).

A mãe entrevistada é detentora de um sentimento conflitante que há em seu interior, ao mesmo tempo que tem consciência que o filho terá mais oportunidades fora do estabelecimento prisional, é uma dor muito grande imaginar o dia que ele vai deixar de ser sua única companhia. A ansiedade que o aprisionamento causa nas internas é imenso, inferioridade e impotência são sentimentos constantes na vida dessas mães. E estar junto de seus filho, pode trazer mais leveza, pois estará dedicando boa parte do seu tempo na prisão ao seu filho (KUOWSKI, 1990, p. 34).

O convívio entre mãe e filho no ambiente prisional, estabelece na mulher uma sensação de motivação, de estímulo para o cumprimento da pena, isso faz repensar que mesmo com prejuízos em criar uma criança no cárcere, também há seus benefícios.

Na CPFB, 60% das mulheres são da cidade de Caruaru, muito distante de Buíque, isso dificulta em grande escala a presença de outros membros da família na visita aos domingos. A pena deve atingir apenas a pessoa da detenta, e não a

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criança, não pode ser transferida a terceiros, mas infelizmente não é o que acontece, pois o filho sofre junto com a mãe, naquele lugar sub-humano.

Essa criança muitas vezes é a única referência de família que essa mulher têm, pois a visitação não ocorre com frequência por muitas, como resta evidenciado na fala da entrevistada nº 02. “Recebo visita de seis em seis mês, as condição tá

muito difícil lá fora também, minha mãe não tem dinheiro pra tá aqui toda semana, aí fica faltando muita coisa pra ele”.

A fala da mãe chama atenção, pois apesar de indicar que faltam itens para sobrevivência da criança, pois o Estado não proporciona nenhum item destinado as crianças, apenas determina que os filhos permaneçam com suas mães, porém não há nenhum tipo de cuidado com a subsistência dessa criança, a mãe prefere ele ao seu lado, é como se o vínculo falasse mais alto.

Nos primeiros anos de vida da criança, a participação da mãe é de total importância, a mãe se torna referência, é com ela que a criança desenvolve os primeiros sentimentos, sejam eles de amor à segurança, o vínculo criado entre mãe e filho, contribuirá para o desenvolvimento físico e emocional da criança.

A Lei estabelece que a criança deve permanecer coma mãe até o período de amamentação, mas o que seria esse tempo de amamentação, haja vista, que os organismos e necessidades são diferentes, como evidencia e destaca a entrevistada nº 09: “Ele tem onze meses e ainda mama, ainda bem porque minha

mãe não pode vir me visitar, porque eu tenho um irmão cadeirante que ela toma conta, quem já vem aqui e traz as coisas pra ele é meu sogro, como ele tá grandinho tenho que inteirar com mingau, mas ele ainda pede o peito”.

Mas uma vez a fala da mãe evidencia como a Lei é frágil e omissa com relação a essa criança que vive em estabelecimento prisional, o ponto mais grave é justamente o Estado não oferecer alimentação para estas crianças, como sobreviver sem alimentação.

Denota-se que são mulheres que cometeram delitos e estão em um lugar pagando uma pena por terem ido contra as Leis, a maternidade aflora nessas mulheres o instinto maternal. Mesmo estando presas essas mulheres se colocam como a melhor pessoa para tomar conta dos filhos.“A mãe dele sou eu, ele já tá

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dormir, ele só dorme com a fraldinha no rosto, lá fora o povo não sabe dessas coisas” (Entrevista nº 09).

Em relação a fala acima, percebemos que um elemento de grande importância é a questão do convívio, pois as mães sempre retomam a necessidade de estarem próximas aos seus filhos, mas que esse laço é rompido de maneira bruta e desproporcional.

Em suma, os dados coletados nesta categoria evidenciaram que infelizmente acontece é que mesmo a criança recebendo amor materno, o local onde se vive com as mães não é adequado, ficando as crianças expostas a condições indignas, o aprisionamento acaba estendendo-se as crianças que de certa forma submetem-se a privações.

2.2 ASPECTOS SOBRE A LEI 11.942/2009

O universo da mulher grávida em situação de cárcere merece cada vez mais atenção, pois as peculiaridades do ser mulher, mãe e de ter em sua companhia um/a filho/a no estabelecimento prisional requer tratamento diferenciado de um preso masculino. Pensando nisso foi criada a Lei 11.942 de 2009, na verdade uma alteração aos artigos 14, 83 e 89 da Lei de Execuções Penais (LEP).

No que tange a como esta norma é aplicada na CPFB, ou seja, de como o Estado e a administração prisional colocam em prática a referida Lei, vê-se que mães e os/as filhos/as que vivem no estabelecimento Prisional não têm seus direitos estabelecidos e/ou cumpridos.

Traçando um paralelo entre o que determina a mencionada legislação vigente e a rotina na CPFB, percebe-se que a Lei não é aplicada: em seu art. 14, §3º, que dispõe sobre o acompanhamento médico à mulher e a criança, vemos a partir da fala da Chefia Executiva que, com relação à saúde da mulher e do filho, existem na Unidade Prisional, um médico ginecologista e uma enfermeira, que atendem três vezes por semana, apenas.

Também constatamos que existe um projeto chamado “Módulo de Saúde”, que visa transformar o prédio anexo, onde hoje funciona o semiaberto, em uma área totalmente voltada para saúde da mulher. Porém, durante as entrevistas, as mães explicam que qualquer problema de saúde que as crianças sofrem são encaminhadas aos postos de saúde do município de Buíque: “Ele (criança) caiu e

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elas (agentes) levaram na hora para o postinho”. Percebe-se que o atendimento à

mãe e a criança é feito de maneira pontual, e por meio de encaminhamento à Rede Municipal e Estadual de Saúde, ou seja, pelo SUS.

A Lei também determina a criação de berçários para amamentação e creche para as crianças menores de 7 (sete) anos. Contudo, na CPFB, não existe berçário nem creche, desrespeitando o dispositivo legal, haja vista, que o local é uma cadeia masculina improvisada sem a menor estrutura para abrigar mulheres, muito menos mães e crianças.

O chamado “berçário”, é, na verdade, quatro celas pequenas onde dormem mães, bebês e gestantes que vêm dos demais pavilhões entre o sexto e o sétimo mês de gestação. O local é totalmente inadequado para que mães e filhos/as desenvolvam qualquer atividade. O ambiente físico é contrário ao que dispõe a Legislação e não oferece a criança oportunidade de locomoção: “Meu filho não

pode correr, vive ou na cama ou no braço” (Entrevistada 09).

A CPFB, não possui creche, tampouco pessoal qualificado para dar assistência às crianças. O que se constata, em relação a este item da Lei é de que a normativa é omissa quanto à assistência. A nosso ver, a execução das penas não observa as peculiaridades e as verdadeiras necessidades de mães e filhos.

Com relação a amamentação, a Constituição Federal em seu art. 5º, L, a Lei de Execuções Penais e o Estatuto da Criança e do Adolescente, estabelecem o direito da criança de ser amamentada pela mãe, mesmo estando em unidade prisional. A Lei 11.942 de 2009, determina, ainda, que os presídios devem estar dotados de local apropriado para que a mãe possa amamentar seu filho até os seis meses de vida, como também de creches para abrigar crianças menores de sete anos. No entanto, a respeito de garantias à mãe que, por motivos de saúde não pode amamentar seu/sua filho/a, ou no caso de que ele/a já se encontre com mais de seis meses, precisando de outro tipo de alimentação, não faz menção a Lei sobre essa garantia.

Com relação a falta de alimentação para as crianças, vejamos: “Tive um

problema nos meus peitos, fiz de tudo pra dar de mamar, mas cresceu uns caroços no meu peito e ficou muito duro, ela ia mamar e saia sangue, como não tinha como comprar leite Nãn era R$ 35, 00 a lata, aí mandei ela pra casa com dois meses”(Entrevistada 10).

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Constata-se, que em relação à subsistência da criança, há uma lacuna clara na Lei 11.942 de 2009 em relação a bebês que não mamam e aqueles maiores de seis meses que não precisam somente do leite materno. Na CPFB só se disponibiliza cerca de 120 fraldas por mês para aquelas crianças que lá convivem com suas mães, além de alguns remédios. A fala a seguir deixa evidente o quanto o Estado é omisso: “Falta muita coisa, são só 120 fraldas no mês e a gente tem que

render, quem tem visita é bom, mas eu que não tenho visita tenho que me virar, aí no domingo as meninas faz cotinha e me dão dinheiro pra mandar os agentes comprar fralda e leite pra ela, já misturei massa com água” (Entrevistada 02).

Contudo, ao analisarmos esta categoria, juntamente com as falas dos sujeitos da pesquisa, ficou evidenciado que a Lei 11.942 de 2009 não é cumprida. Como relatado pela Chefia Executiva, por diversas vezes, a CPFB foi construída para ser uma cadeia pública masculina, fato este que impede, desde sua arquitetura, o exercício de direitos reprodutivos de mulheres.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatamos, em relação a problemática eleita, que a forma como vivem mães que cumprem pena privativa de liberdade na companhia de seus filhos na Colônia Penal Feminina de Buíque/PE é extremamente discrepante e contrária ao que diz respeito às Leis que versam sobre o assunto, especialmente a Lei nº 11.942/2009.

As condições em que vivem mães e filhos, contempla uma realidade comovente na qual fica clara a negação da condição de ser mulher. Um elemento base percebido é que o sistema carcerário, ao negar as peculiaridades existentes no mundo de mulheres mães, comete violações e injustiças que as punem duplamente. Ainda, constata-se que há um grande esforço por parte da administração prisional da Colônia estudada para adaptar o local para o universo feminino, tendo em vista que o prédio foi construído para ser uma cadeia pública masculina.

A legislação determina que os presídios femininos devem ser dotados de berçário para amamentação. Ademais, na CPBF, não existe esse tipo de espaço, mas um local improvisado.

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A pesquisa mostra também que, apesar da legislação assegurar que crianças têm o direito de permanecer com sua mãe no estabelecimento prisional, o local não é adequado para uma convivência sadia e saudável. O fato é que o local não está preparado para receber mães, tampouco, seus filhos, as condições ofertadas são extremamente precárias. Quanto ao período de permanência das crianças nos estabelecimentos prisionais, a legislação trata apenas do período mínimo, que é o da amamentação, já o período máximo de convivência é um ponto de omissão do legislador, ficando o critério da separação com a diretoria dos estabelecimentos prisionais.

Especificamente, na CPFB, o prazo máximo é o de seis meses de idade, devido à falta de estrutura em acomodar essa criança. Ainda em relação as omissões da legislação quanto às peculiaridades da mulher no cárcere, está o da subsistência dessa criança. O Estado não oferta nenhum tipo de ajuda, ficando a mãe com o dever de arcar com a subsistência da criança. Portanto, a mãe que por qualquer motivo não possa alimentar seu filho com leite materno, terá que arcar com a alimentação do seu filho.

Vê-se que a estrutura física e a omissão legislativa são fatores que levam a uma gama de violações a mães e seus filhos. É inquestionável que a convivência entre mães e filhos é de fundamental importância, principalmente no início da vida da criança, devendo se dar em condições dignas de sobrevivência. Contatou-se que, mesmo em condições precárias no cárcere, as mães entrevistadas querem seus filhos por perto, acreditam que eles estão melhor em suas companhias.

Desta forma, conclui-se que mesmo havendo leis que asseguram muitos direitos às mães em cumprimento de pena privativa de liberdade que convivem com seus filhos no cárcere, elas ainda estão pendentes de eficácia. Como também, os legisladores precisam enxergar as necessidades femininas, afirmando seus direitos.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 2007. BRASIL. Lei 7210/1984. Lei de Execução Penal. Brasília: Senado, 1984.

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______. Lei 11.942, de 28 de maio de 2009 - dá nova redação aos arts. 14, 83 e 89 da Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 – Lei de Execução Penal. Brasília: Senado, 2009

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo:

Atlas, 2009.

KUROWSKY, Cristina Maria. Análise crítica quanto a aspectos de implantação e

funcionamento de uma creche em penitenciária feminina. Porto Alegre, 1990.

RAMOS, Luciana de Souza. Direitos Sexuais e Reprodutivos no Cárcere em Dois

Atos: Maternidade e Visita Íntima. Instituto de Direito Público Brasiliense (IDP). Brasília, DF, 2011.

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