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REFLUXO GASTROESOFÁGICO O QUE FAZER POR ESTE PACIENTE?

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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL

REFLUXO GASTROESOFÁGICO

O QUE FAZER POR ESTE PACIENTE ?

ANDRÉA GRECO

SÃO PAULO

(2)

RESUMO

Este estudo é uma pesquisa teórica sobre a doença do refluxo

gastroesofágico ( RGE ), com a intenção de esclarecer do que se trata e refletir a

contribuição que o fonoaudiólogo pode oferecer ao paciente portador desta

afecção. Há necessidade de um conhecimento de anatomia, fisiologia e dos

distúrbios da deglutição para que se entenda a doença do RGE com suas

manifestações clínicas e se possa elaborar um tratamento específico. Alguns

autores concordam que o tratamento clínico do RGE deve ser postural, dietético e

medicamentoso. A pesquisa conclui que necessariamente o fonoaudiólogo deve

conhecer a doença do RGE para poder diagnosticá-la e tratá-la adequadamente,

uma vez que o RGE é subdiagnosticado e subtratado. Inicialmente, o

fonoaudiólogo deve reconhecer a doença do RGE, encaminhar o paciente para

uma avaliação clínica médica e seguir com orientações sobre a dieta e a postura.

O enfoque da terapia muda no caso do paciente desenvolver sintomas de disfagia

(3)

ABSTRACT

This study comprises a theorical research on gastroesophageal reflux

(GERD) in a tentative of clarifying and analyse the speech language pathology

contribuition. Anatomy, phisiology and deglutition disturbs knowledgement are

necessaries for the compreension of clinical manifestations of this pathology due to

elaborate a specific treatment. Some authors agree that GERD clinical treatment

should be postural, dietary and medicamentous. Ours results indicate that speech

language pathologist should be able to recognize and treat the disease correctly

once the reflux usually is subdiagnosticated and subtreated. The following step is

indicate a clinical avaliation and postural and dietary orientation. In case of

(4)

SUMÁRIO INTRODUÇÃO 5 ELEMENTOS DE ANATOMIA 6 DEGLUTIÇÃO 8 DISTÚRBIOS DA DEGLUTIÇÃO 11 REFLUXO GASTROESOFÁGICO 14

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO RGE 18

TRATAMENTO DO RGE 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS 24

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25

(5)

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa teórica tem como objetivo auxiliar e esclarecer através da

fonoaudiologia, pais, médicos e profissionais de áreas afins, quando nos

deparamos com a doença do refluxo gastroesofágico ( RGE ).

A idéia de desenvolver este trabalho vem acompanhada de uma angústia

por não ter nos campos da fonoaudiologia respostas para dúvidas de pais

ansiosos pela cura e qualidade de vida de seus filhos.

A reflexão que proponho aos meus colegas é : o que podemos fazer por

este paciente ? Ao longo desta pesquisa tentarei mostrar o que tem se destacado

nas descobertas sobre a doença do RGE e como os fonoaudiólogos podem se

alimentar deste conhecimento e aplicá-lo em sua prática clínica. Outra questão

sempre presente me levou a refletir : qual é o objetivo do fonoaudiólogo nos casos

de RGE ?

A deglutição é uma função biológica complexa e coordenada que consiste

no ato de propulsão do alimento da cavidade bucal até o estômago, sem que haja

ocorrência de aspiração de materiais para dentro das vias aéreas.

Com certa frequência, observam-se associações entre distúrbios da

deglutição e da voz e o RGE.

Para que nós fonoaudiólogos possamos fazer um diagnóstico diferenciado,

devemos entender o processo da deglutição e mais especificamente o distúrbio

(6)

de acordo com este conhecimento, terá grande serventia para alcançarmos o

nosso objetivo.

ELEMENTOS DE ANATOMIA

Apresento a seguir alguns elementos de anatomia do sistema respiratório e

digestivo do corpo humano que compreendem este estudo.

Segundo Erhart (1987), cavidade nasal, faringe, laringe, traquéia e brônquios

são vias aeríferas por onde circulam o oxigênio e o gás carbônico a fim de

intercomunicar o meio ambiente com os pulmões.

A faringe, conduto ímpar e mediano que pertence à via respiratória e ao

tubo alimentar, situada posteriormente às cavidades nasal, bucal e laríngea é

continuada pelo esôfago. A musculatura da faringe, estriada, é representada pelos

músculos constritores superior, médio e inferior e músculos elevadores da faringe,

diretos responsáveis pela mecânica da deglutição.

O esôfago, tubo músculo-membranoso, continuação da faringe, desce pelo

pescoço e tórax, atravessa o diafragma e, na cavidade abdominal, termina na

cárdia, início do estômago. Mede cerca de vinte e cinco centímetros de

comprimento e amplia-se por ocasião da passagem do bolo alimentar.

A inervação do esôfago é feita pelo plexo esofágico, formado por fibras

simpáticas provenientes do tronco simpático e por fibras parassimpáticas do

nervo vago. Impulsos parassimpáticos parecem interferir no mecanismo de

(7)

O estômago é o segmento sacciforme, excêntrico do tubo digestivo que se

segue ao esôfago e se continua no intestino. Apresenta dois orifícios: um proximal,

de comunicação com o esôfago – cárdia – e outro distal – piloro – que o comunica

com a porção inicial do intestino delgado, denominada duodeno.

A inervação é feita por fibras simpáticas provenientes do gânglio cilíaco e

por fibras parassimpáticas integrantes do nervo vago. Impulsos simpáticos

aumentam o tônus dos esfíncteres e inibem a secreção dos sucos digestivos.

Impulsos parassimpáticos determinam o relaxamento dos esfíncteres e estimulam

(8)

DEGLUTIÇÃO

Marchesan (1998) afirma que a deglutição é uma ação motora automática,

na qual estão envolvidos músculos da respiração e do trato gastrointestinal. O

objetivo da deglutição é o transporte do bolo alimentar e também a limpeza do

trato respiratório. A deglutição é uma atividade neuromuscular complexa , que

pode ser iniciada conscientemente, durando de 3 a 8 segundos, sendo que a fase

oral dura 1 segundo. Participam da deglutição em torno de 30 músculos e 6 pares

encefálicos. Os pares encefálicos que fazem parte da deglutição são: trigêmeo –

V, facial – VII, glossofaríngeo – IX, vago – X, acessório espinhal – XI e hipoglosso

– XII.

Segundo Barbieri & Koda (1996), a deglutição é um ato fisiológico

resultante da interação dos músculos e nervos cranianos da cavidade oral, da

faringe e do esôfago proximal e é composto de três fases distintas : oral, faríngea

e esofágica. Marchesan (1998) considera a existência de uma fase anterior à oral,

que é a preparatória.

Na fase preparatória , o alimento é mordido e mastigado para que possa

(9)

Na fase oral, a ponta da língua faz um contato ligeiro com os incisivos

inferiores, elevando-se em seguida de encontro ao palato. Ocorrem, ainda, o

vedamento anterior dos lábios, a cessação da mastigação e a inibição reflexa da

respiração. O bolo alimentar coletado na superfície dorsal da língua é levado para

a orofaringe.

Na fase faríngea observa-se uma série de reflexos : fecha-se a nasofaringe

pela elevação do palato mole contra a parede posterior da faringe evitando a

passagem do alimento para a nasofaringe, fecha-se a orofaringe pela manutenção

da posição da língua retraída e elevada contra o palato duro evitando o retorno do

alimento à boca, e fecha-se a hipofaringe pela elevação e projeção da laringe para

diante, pelo fechamento da epiglote e pela aproximação das pregas vocais. Desta

forma vedam-se as vias aéreas prevenindo a aspiração pela traquéia.

Concomitante ao início da fase faríngea da deglutição, inicia-se a primeira

onda peristáltica, impelindo o bolo alimentar para baixo. O músculo cricofaríngeo,

o componente principal do esfíncter superior do esôfago (ESE), relaxa-se

permitindo assim a entrada do conteúdo alimentar no esôfago. Normalmente o

ESE mantêm-se permanentemente fechado, evitando a aspiração do ar pela

faringe e somente se abre durante a deglutição.

Na fase esofágica da deglutição o bolo alimentar alcança o estômago pela

ação das ondas peristáltica do esôfago e pelo relaxamento reflexo dos esfíncter

inferior do esôfago (EIE). O EIE permanece também constantemente fechado,

iniciando seu relaxamento imediatamente após ser desencadeado o mecanismo

(10)

peristaltismo primário e secundário em direção ao estômago. Este peristaltismo

constitui o principal mecanismo pelo qual é devolvido para o estômago qualquer

material dele refluído.

A deglutição intra-útero é normalmente descrita como tendo início entre a 16

e 17 semana de gestação, embora haja relato de deglutições faríngeas em fetos

de 12 semanas. A deglutição pré-natal possui a importante função de manter

normal o volume do líquido amniótico.

A sucção e a deglutição , embora presentes na vida intra-uterina, não estão

totalmente desenvolvidas até depois do nascimento.

O RN normal, a termo, apresenta um modelo de sucção-deglutição imaturo,

transitório, caracterizado por quatro a cinco sucções curtas seguidas de poucas

deglutições e acompanhadas de ondas esofágicas terciárias.

Este modelo imaturo de sucção-deglutição previne a entrada de uma

quantidade de líquido que não poderia ser tolerada por um esôfago com

peristaltismo ainda inadequado.

Um aspecto importante a considerar no RN prematuro é a relação entre a

deglutição e a respiração. O prematuro não é capaz de coordenar de forma

eficiente as duas atividades, de forma que pode ocorrer dificuldade respiratória e

aspiração durante o ato da deglutição.

Desta forma, compreende-se que a prematuridade, situação na qual a

sucção é fraca e a deglutição transitoriamente incoordenada, constitui fator de

(11)

associam várias condições, como sedação materna durante o parto, lesão

cerebral por anoxia e malformações.

DISTÚRBIOS DA DEGLUTIÇÃO

Em crianças, segundo Barbieri & Koda (1996), os distúrbios da deglutição

raramente se apresentam como problemas isolados, mas com freqüência estão

associados a malformações da cavidade oral e da faringe e/ou a alterações do

aparelho neuromuscular responsável pela adequada coordenação do processo da

deglutição. Com certa frequência, observam-se ainda associações com distúrbios

faringoesofágicos e do esôfago distal como o RGE. Esta frequência é maior nas

crianças prematuras e mais ainda naquelas com problemas neurológicos.

Os distúrbios da deglutição, em geral, se manifestam sob a forma de tosse

e engasgo imediatamente após o ato da deglutição o que implica a penetração de

material alimentar na laringe ou na árvore respiratória. Em casos mais graves,

pode ocorrer cianose ou mesmo apnéia. Episódios repetidos de aspiração podem

levar ao desenvolvimento de doenças pulmonares como broncoespasmo e/ou

(12)

Regurgitação nasal associada com vômito, embora possa acontecer no

recém-nascido normal, deve constituir um sinal de alerta para o pediatra para

possível distúrbio de deglutição. Por outro lado, na ausência de vômito,

regurgitação nasal é sempre patológica, sugerindo alteração de função do palato

ou da faringe.

Desnutrição e déficit de crescimento secundários às dificuldades

alimentares e às complicações pulmonares costumam acompanhar o quadro

clínico.

Dada a ampla variedade de situações nas quais podem ocorrer distúrbios

da deglutição, para um diagnóstico preciso a anamnese deve ser detalhada e o

exame físico cuidadoso.

Deve-se realizar um interrogatório bastante minucioso em relação à história

alimentar junto à mãe ou à pessoa diretamente envolvida na alimentação da

criança. Os dados a serem colhidos incluem: a pessoa que alimenta a criança; o

local onde a mesma é alimentada e o método de administração do alimento,

assim como o tipo de utensílio utilizado. Além disso , deve-se também perguntar

sobre a posição da cabeça, do pescoço e do corpo durante a alimentação; o

volume e a consistência do alimento ofertado; o volume tolerado; a presença ou a

ausência de mastigação; o tempo consumido na alimentação; história de engasgo

e tosse associados à alimentação.

As condições de nascimento da criança e de saúde da mãe também são

(13)

no recém-nascido. Anoxia perinatal e alterações neurológicas no RN fazem

antever problemas de sucção e deglutição.

O exame físico da criança com distúrbio de deglutição inclui o exame

cuidadoso do assoalho da boca, da língua, da mandíbula, do palato e do osso

hióide. Deve-se ainda avaliar o tônus do fechamento dos lábios através da

pressão negativa exercida pela criança no dedo do examinador durante a sucção

e também o tônus do palato mole.

O pediatra deve observar diretamente a sucção–deglutição da criança

através da administração de água por mamadeira, o que pode auxiliar na

identificação e no diagnóstico diferencial dos distúrbios da deglutição.

Assim, para o adequado tratamento das crianças com esta moléstia,

torna-se estorna-sencial, em primeiro lugar, diagnosticar precocemente torna-se o distúrbio é

funcional ou devido à patologia orgânica e, neste caso, se passível de correção

cirúrgica.

Nos distúrbios de origem funcional, que constituem a maioria dos casos, o

tratamento consiste em medidas terapêuticas conservadoras e em programas de

estimulação.

A avaliação do mecanismo de deglutição pode ser realizada através dos

seguintes exames: o estudo radiológico que compreende a radiografia

contrastada e a videofluoroscopia ou cinerradiografia, que proporcionam

informações não só sobre a anatomia como também sobre a função oral faríngea

e esofágica. Manometria que é particularmente útil no diagnóstico diferencial entre

(14)

de eventuais alterações estruturais, não sendo possível nenhuma informação em

relação à função. E a ultra-sonografia que tem sido usada como uma nova

modalidade diagnóstica para a avaliação dos distúrbios da deglutição.

REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Prado (1998) define o RGE fisiológico como a passagem retrógrada do

conteúdo gástrico para o esôfago. O RGE torna-se-á patológico quando: aumentar

a freqüência do refluxo, diminuir a depuração esofágica do conteúdo gástrico

refluído, o material refluído for mais nocivo e for menor a resistência da mucosa

esofágica. Quando o RGE patológico ocasionar manifestações clínicas definidas

constituirá a doença do RGE.

Segundo Brito & Mathias (1991), o RGE é patológico apenas quando se

torna exagerado ou quando provoca alguma lesão, disso se conclui que a

demonstração isolada de RGE pode não ter significado patológico, sendo

(15)

Oliva et al. (1990) sugerem que o RGE é definido como uma entidade

clínica resultante do trânsito intermitente de conteúdo gástrico em direção ao

esôfago, consequente ao relaxamento da junção esofagogástrica. Tal relaxamento

ocorre, provavelmente, por incapacidade funcional do EIE.

Sataloff et al. (1997) discutem a possibilidade do RGE ser consequência de

uma disfunção do esfíncter esofágico. A função do esfíncter é impedir a

movimentação anormal do bolo alimentar para cima, e do ar para baixo. A pressão

do EIE deve ser maior que a do estômago; se for contrária, o refluxo ocorre. A

tonicidade deste esfíncter é determinada pela ação da musculatura intrínseca, mas

quando necessário, o decréscimo desta tonicidade é determinado pela ação de

medicamentos ou orientações e dieta alimentar.

Patologias gástricas, desordens da mobilidade do esfíncter e outras

condições também favorecem o refluxo.

A barreira anti-refluxo, citada por Barbieri & Koda (1996), é um eficiente

sistema de prevenção do RGE pois o refluxo ocorre só ocasionalmente e é então

fisiológico. A barreira anti-refluxo é representada por fatores anatômicos e

funcionais. Dentre os fatores anatômicos citam-se : ângulo de Hiss, pilar direito do

diafragma, membrana freno-esofágica e disposição em roseta das pregas da

mucosa do fundo do estômago.

O fator funcional principal é representado pelo EIE que em razão de sua

contração tônica atua como barreira funcional, antepondo-se ao RGE. Um outro

mecanismo que procura manter um funcionamento competente do EIE é a

(16)

quando ocorre alguma elevação da pressão intragástrica (que facilitaria o

aparecimento do RGE), também há aumento paralelo da pressão do EIE

(mecanismo reflexo vagovagal), numa atitude de resguardo contra o refluxo.

A musculatura circular esfincteriana, a principal estrutura responsável pela

existência de um tônus basal, sofre influências neurais e hormonais e responde de

forma variável ao estímulo fisiológico, a drogas e outros fatores.

A pressão basal sofre influências neurais, quer em termos de excitação

quer de inibição, através do nervo vago.

O esôfago possui vários mecanismos através dos quais procura se defender

do material refluído quando isso ocorre mantendo, dessa forma, a sua integridade.

Entre esses mecanismos, citam-se: mecanismos de clareamento esofágico e de

(17)

Na criança pequena, o mecanismo anti-refluxo é relativamente deficitário,

pois o EIE que no adulto tem uma extensão média de três a quatro centímetros,

nas crianças abaixo de três meses de idade tem um centímetro.

Estudos iniciais demonstraram ainda pressão diminuída no nível do EIE

durante as primeiras semanas de vida, alcançando valores de adulto por volta de

dois meses após o nascimento. De acordo com os autores, a pressão reduzida

observada nessas crianças se deve provavelmente ou a uma menor resposta ao

estímulo neuro-hormonal no nível do EIE ou a uma menor massa muscular

funcionante.

Esses aspectos ontogenéticos do mecanismo anti-refluxo constituem as

razões pelas quais o RGE é um fenômeno quase habitual em RN e lactentes

(18)

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO RGE

Todos os autores citados são unânimes ao referir que a principal

manifestação clínica do RGE é o vômito. Segundo Barbieri & Koda (1996), o

vômito, nas suas diversas formas é o sintoma principal, encontrado em até noventa

por cento dos casos. Pode ser uma simples regurgitação ou um vômito líquido,

incolor ou esbranquiçado, ou ainda um vômito alimentar.

Outra característica dos vômitos no RGE é a sua melhora com a posição

ereta e piora nos decúbitos.

Quando o material refluído alcança as vias respiratórias, pode provocar

quadro de faringite, laringite, traqueíte, bronquite de repetição, pneumonia

recorrente ou ainda crises de apnéia.

As manifestações respiratórias nesses pacientes ocorrem mais comumente

quando o paciente assume o decúbito dorsal, especialmente durante o sono,

quando são despertados por crises de tosse e dificuldade respiratória.

Brito & Mathias (1991) relatam que o portador do RGE se queixa de dor,

queimação retroesternal, gosto azedo na boca e regurgitação de conteúdo

gástrico ao abaixar-se após as refeições. Por outro lado, lactentes apresentam

regurgitação relacionada com o decúbito. Tais crianças apresentam crescimento

deficiente e costumam ter obstipação intestinal.

Os sintomas respiratórios provocados pelo refluxo são consequentes à

(19)

apnéia, bronquites ou broncopneumonias de repetição e síndrome da morte súbita

na criança.

Os sintomas digestivos, além do vômito ou regurgitação, são a dor

retroesternal, a disfagia ou odinofagia quando houver intenso espasmo ou

estenose do esôfago.

Brasil et al. (1998) consideram sugestivas de RGE as seguintes queixas :

ardor, sensação de “queimação na garganta”, globus laríngeo, pigarro, tosse seca,

laringoespasmo, halitose, rouquidão, azia, pirose retroesternal e regurgitação.

Para Contencin, citado por Brasil et al. (1998), o RGE é responsável pelas

laringites recorrentes na população pediátrica.

Oliva et al. (1990) afirmam que o início dos sintomas ocorre geralmente

durante o primeiro trimestre de vida. Raramente é observado em pré-escolares e

escolares.

Para Prado (1998), o RGE e as doenças do aparelho respiratório podem

guardar entre si diversas correlações: serem apenas eventos simultâneos (embora

independentes) ou um deles ser o distúrbio básico, ou então apenas exercerem

mútuo reforço. Este agravamento recíproco também é observado entre o RGE e a

esofagite péptica: esta determina hipotonia do EEI, diminuição do peristaltismo

esofágico e comprometimento dos mecanismos de depuração, desta maneira

favorecendo o RGE, estabelecendo-se então um verdadeiro círculo vicioso.

Grande parte dos sintomas apresentados pelas crianças decorrem da esofagite

péptica. Suas complicações como: erosão, ulceração, hemorragia, estenose e

(20)

Apresentam predisposição ao RGE as crianças portadoras de: hérnia hiatal,

retardo do desenvolvimento neuropsicomotor (como a trisomia do 21) e atresia do

esôfago (previamente submetidas a cirurgia). Provavelmente o RGE decorre das

alterações da motilidade do esôfago, apresentadas por essas últimas crianças,

de origem congênita.

Koufman (1995) afirma que o RGE é a causa primária e/ou agravante de dois

terços dos pacientes com alterações vocais e/ou laríngeas. Esta afirmação é

controversa e não muito aceita pelos otorrinolaringologistas. Mesmo aqueles que

possuem grande incidência de RGE ainda o subdiagnosticam e subtratam. Os

principais sintomas destas alterações vocais são a rouquidão intermitente, o

pigarro, a tosse e a disfagia.

Os pacientes pediátricos com RGE podem desenvolver disfonia,

(21)

TRATAMENTO DO RGE

Segundo Barbieri & Koda (1996), o objetivo do tratamento é procurar

reduzir o refluxo para, desta forma, proteger o esôfago e os pulmões do contato

com os conteúdos gástrico e duodenal e diminuir os riscos de complicações como

esofagite e pneumonia de aspiração.

O tratamento de RGE pode ser clínico ou cirúrgico. O quadro clínico aliado

aos achados dos exames complementares determinarão a escolha da linha de

tratamento. Os autores concordam que o tratamento clínico é postural, dietético e

medicamentoso.

Tratamento postural : Barbieri & Koda (1996) afirmam que é de

fundamental importância pois reduz a frequência e a duração dos episódios de

refluxo. Para crianças pequenas as posições preconizadas são decúbito dorsal

elevado de quarenta e cinco a sessenta graus ou ventral elevado a trinta graus

durante vinte e quatro horas. O decúbito ventral a trinta graus possui a vantagem

de facilitar o esvaziamento gástrico. Em crianças maiores deve-se elevar a

cabeceira da cama em aproximadamente quinze centímetros. O tratamento

postural pode ser interrompido após terem sido registradas seis semanas sem

sintomas. Em Prado (1998) recomenda-se: decúbito prono ( ventral ) a trinta

graus; posição ereta, com inclinação dorsal acima de sessenta graus ( supina

(22)

por duas horas após refeição e devem colocar calços na cama para reduzir o RGE

noturno.

Tratamento dietético : Barbieri & Koda (1996) relatam que consiste em

evitar alimentos ou bebidas que são estimulantes da secreção ácido-gástrica que

diminuem a força de contração do EIE e que retardam o esvaziamento gástrico.

Desta forma aconselha-se eliminar da dieta condimentos, molhos picantes,

enlatados, alimentos gordurosos, doces, cremes, chocolates, frutas ou sucos

cítricos, bebidas gaseificadas, café, chá, álcool e fumo. As refeições devem ser

fracionadas em pequenos volumes. Recomenda-se ainda, às crianças menores

comer devagar, não tomar líquidos durante ou próximo às refeições, assim como

não dormir logo a seguir as refeições.

Prado (1998) refere que deve-se corrigir se houver: obesidade, desnutrição,

anemia ou constipação intestinal. Deve-se ,ainda, evitar o aumento da pressão

intra-gástrica, estimulantes da secreção ácida, redução da competência do EEI,

ação irritativa direta sobre a mucosa esofágica e ácidos.

Tratamento medicamentoso : Barbieri & Koda (1996) descrevem que o

objetivo deste tratamento é obter melhor desempenho do EIE como barreira

anti-refluxo e reduzir ou amenizar os efeitos dos fatores agressores. O período de

tempo preconizado para o tratamento medicamentoso é de quatro a oito semanas.

Drogas que agem sobre o EIE : cloridrato de betanecol, metoclopramida,

bromoprida, domperidona e cisaprida. As drogas que agem modificando o

conteúdo gástrico são as que reduzem a acidez gástrica,é o que refere Barbieri &

(23)

Segundo Prado (1998), a conduta cirúrgica é indicada para pacientes com

complicações graves e sem resposta à conduta clínica. Cirurgias anti-refluxo:

fundoplicatura de Nissen, prótese de Algelchik etc. Os altos índices de insucesso

e o grande número de complicações inicialmente descritas (tais como: disfagia,

dificuldade ou impedimento ao vômito, dor abdominal e dispepsia) hoje estão

minimizados pelo desenvolvimento de técnicas mais aprimoradas, incluindo as da

(24)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma história clínica cuidadosa é capaz de proporcionar dados importantes

para a suspeita diagnóstica de RGE.

As crianças que requerem condutas de emergência são minoria, a maior

parte delas, tem boa evolução e recupera-se em torno de um ou dois anos de vida.

A correlação entre o RGE e os distúrbios da deglutição é apresentada na literatura

com grande incidência na faixa etária infantil.

Na idade adulta o RGE é considerado como causa ou fator agravante de

alterações vocais e laríngeas.

Uma vez diagnosticado o RGE deverá ser tratado.

Com conhecimento sobre o RGE o fonoaudiólogo poderá atuar com

eficiência e responsabilidade, orientando o paciente principalmente na dieta e na

postura. Outro enfoque deverá ser dado à terapia no caso do paciente apresentar

sintomas referentes aos distúrbios da deglutição ou vocais .

É fundamental também a avaliação e o controle dos fatores emocionais do

(25)

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Referências

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