XI CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA
01 A 05 de Setembro de 2003
UNICAMP – CAMPINAS / SP
GT:
CIDADES: TRANSFORMAÇÕES, GOVERNANÇA PÚBLICA E PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE
Título do Trabalho:
Comparação entre o processo de segregação sócio-espacial numa cidade de porte médio e numa metrópole
Introdução
Neste texto serão analisadas algumas variáveis sócio-demográficas (Censo de 1991-IBGE), a partir da metodologia (categorias sócio-ocupacionais) do projeto Pronex/Cnpq “Metrópole, Desigualdades Socioespaciais e Governança Urbana” (Queiroz Ribeiro, 2000). As variáveis espacializadas, objetivam mostrar, ainda que de maneira preliminar, certas características da estrutura sócio-espacial de Maringá. Buscaremos verificar como a concentração de renda pode ter na ocupação do espaço urbano pela população, uma de suas principais manifestações.
Comumente o que se encontra é o reflexo das desigualdades de renda, de instrução, de ocupação profissional, no uso do solo urbano para moradia. As periferias das cidades, normalmente carentes da infra-estrutura básica, inchadas de moradores de baixa renda e, as áreas centrais, com menor número de moradores, dotadas de todos os equipamentos urbanos necessários.
Buscaremos averiguar através do georeferenciamento de dados do censo (IBGE, 1991), se ocorre no espaço urbano metropolitano de Maringá1, processos de segregação social, pois o que pode ser visto a “olho nu”, é uma realidade socioespacial dual, com periferização da pobreza em Paiçandu e Sarandi, municípios que assimilam os moradores cujas rendas são insuficientes para residir em Maringá. Como afirmava Engels (1984, pp.308-309) acerca de Manchester, mas pode ser de Maringá
A cidade é construída de forma tão peculiar que se pode morar nela durante anos, entrar e sair diariamente, sem entrar em contato com um bairro de trabalhadores, ou mesmo com um trabalhador, isto é, desde que se limite a negócios ou a passeios. Isto provém principalmente do fato de que, ou por um tácito acordo inconsciente, ou por uma intenção já consciente, os bairros dos trabalhadores estão rigorosamente separados das partes da cidade reservadas à classe média, ou, quando isto não acontece, estão dissimulados sob o manto da caridade.
1 Município oriundo de colonização planejada. Localizado na região Noroeste do Estado do Paraná, no paralelo 23º e 25', Latitude “S” e Meridiano 51º e 57', longitude “W”. É cortado pelo Trópico de Capricórnio. O território maringaense se estende por uma superfície de 490,2 Km², com altitudes variando entre 500 e 600 metros.
Já no plano inicial estava impressa a desigualdade característica de uma sociedade de classes. No caso classe aquisitiva, “que apresenta oportunidades de valorização de bens ou serviços que lhe determinam primariamente a situação de classe” (Weber, 2000, p.199). A ocupação do solo foi definida por diferentes funções, tais como, comercial, residencial, industrial, etc.
Quanto à definição inicial para a ocupação do espaço urbano maringaense, esta já abrigava um processo de segregação socioespacial bastante nítido. Isto pode ser observado na legenda do “Projeto de Maringá” datado de 1945, de Jorge Macedo Vieira (mapa 1), que previa as seguintes áreas para a cidade: 1)edifícios públicos; 2)núcleos comerciais; 3)escolas hospitais igrejas, asilos, etc.; 4)armazéns; 5)dependências da estrada de ferro; 6)zona comercial; 7)zona industrial; 8)zona residencial principal; 9)zona residencial
popular e 10)zona operária.
Mapa 1 – Planta da Cidade 1945
Parte 1
Maringá no contexto da Região Metropolitana
A rede urbana da Região Sul se caracteriza pela conjunção de dois movimentos simultâneos: de um lado, um número cada vez maior de municípios populosos em aglomerações urbanas – espaços qualificados como áreas de concentração tanto populacional quanto de atividade econômica, constituídos por um conjunto de municípios com crescimento elevado (sempre superior ao crescimento médio do estado) e contínuo (desde os anos 70 ou 80), reforçando a concentração da população em determinadas áreas, um processo comum nos três estados do sul.
Até a década entre 70 e 80, “no Paraná, além da configuração da área metropolitana de Curitiba, já despontavam como concentradores os núcleos de Londrina e Maringá”. A RM de Maringá, inclui municípios limítrofes ao pólo central e vários outros muito afastados, tanto espacialmente quanto nos aspectos econômicos, cujas atividades são essencialmente agropecuárias (MOURA, Anpur, 2001).
A Região Metropolitana de Maringá foi criada a partir de projeto do deputado Joel Coimbra, autor da Lei nº 83/98. Objetivando a solução problemas de municípios que faziam parte da mesma comunidade sócio-econômica, mediante planejamento conjunto. É composta pelos municípios de Sarandi, Marialva, Mandaguari, Paiçandú, Ângulo, Iguaraçú, Mandaguaçú, e recentemente (2003), também foi incorporado o município de Floresta.. De acordo com a Lei, esses municípios contarão com verbas especificas para ações integradas em questões como: saúde, meio-ambiente, transporte coletivo, sistema viário, saneamento básico, segurança e a geração de novos empregos. Os oito municípios possuem uma população de 472,2 mil habitantes, conforme dados do censo demográfico de 2000, e ocupam uma área total de 2,1 mil km2. Não se trata, todavia, de lei consolidada pois continua não regulamentada, assim como a lei de criação da Região Metropolitana de Londrina.
Mapa 2
Maringá, a cidade pólo da região, de porte médio que acompanha a tendência recente de alteração no padrão de urbanização das cidades brasileiras. É fato que o crescimento populacional não é mais um fenômeno das metrópoles tradicionais e passou a ser um fenômeno também das cidades de porte médio, fenômeno que demandou inclusive a construção de uma nova classificação para a rede urbana brasileira.
A análise do período 1970/1991 demonstra que a população brasileira passou por um processo de reversão de sua polarização:
Durante os anos de 1970 a 1991 o conjunto dos municípios com população superior a 500 mil habitantes elevou sua participação populacional em 7,4%, enquanto essa elevação foi de 8,3% para o conjunto dos municípios médios, com população entre 50 mil e 500 mil habitantes (Andrade e Serra, 2000:133-4).
A tendência de reversão da polarização persiste na década seguinte. Em 2000, o grupo de cidades médias detém 35,7% da população nacional, contra 26,5% em 1970.
Os autores citados apontam os fatores que imprimiram dinamismo às cidades de porte médio:
1. as mudanças recentes nos padrões locacionais da indústria;
2. as transformações mais visíveis no movimento migratório nacional;
3. o fenômeno de periferização das metrópoles;
4. a política governamental de atração de investimentos para regiões economicamente defasadas ;
5. a peculiar expansão de nossas fronteiras agrícolas e de extração de recursos minerais.
A realidade é que, cada vez mais, cidades de porte médio são apontadas como excelentes locais para se viver e se investir. Aparecem freqüentemente como “ilhas de prosperidade”. No decorrer da década de 1990, a imprensa descobriu a existência de um Brasil de interior pujante, no qual cidades médias oferecem um pouco de tudo do que as grandes capitais dispõem. Tal caracterização não é prerrogativa apenas de Maringá, outras cidades brasileiras são assim identificadas. Por exemplo, Uberlândia, Ribeirão Preto e a vizinha Londrina.
Dinâmicas Demográfica e Econômica População
Maringá possui uma densidade demográfica igual ou maior que 60 habitantes por km2. Isso resulta de um crescimento da população entre 1991 e 2000 na ordem de 1,4% a 2,8% ao ano. Desde de 1970 até 2000 o incremento populacional em Maringá tem uma média maior que a do Estado, que se mantém entre 0,96% e 1,39% nesse período (IPARDES, 2003).
O quadro abaixo (tabela 1), mostra que a cada década, Maringá sempre recebeu população, numa taxa média de 57,58%. Podemos dizer que o fenômeno da expansão urbana ainda se mantém em ascensão. Sarandi e Paiçandu apresentam um dos maiores índices de crescimento demográfico do Estado, superior a 2,80% ao ano, na última década. São índices expressivos que retratam outras dinâmicas, possivelmente variáveis ligadas às
formas como Maringá e região têm respondido às transformações econômicas e sociais brasileiras e internacionais, em curso desde o final dos anos 70.
Tabela 1: Crescimento populacional de Maringá – 1970 a 2000
Censo População Do Município
Demográ-fico Urbana Taxa de crescimen-to Rural Taxa de crescimen-to Total Taxa de crescimento 1970 100.100 210,32% 21.274 37,63% 121.374 16,56% 1980 160.689 60,53% 7.550 35,49% 168.239 38,61% 1991 234.079 45,68% 6.213 8,23% 240.292 42,83% 2000 283.792 21,24% 4.673 7,52% 288.465 20,05%
Fonte: Censos 1970, 1980, 1991, 2000 - IBGE.
A população maringaense está envelhecendo: o percentual de jovens (0-14 anos) em 1991 representava 29,4% do total populacional, em 2000 26,5% e em 1996 26,9%. No reverso do mesmo fenômeno, a população idosa (60 anos e mais), aumentou o percentual entre 1991 e 2000, de 5,88% para 8,55%. Este percentual sobe ainda em 1996, atingindo 7,96% da população total. (Codem, 2001) Dos idosos maringaenses (65 anos e mais), 50% mantém relações de dependência de terceiro para sobreviver. Ressalte-se que a esperança de vida ao nascer é maior que 75 anos de vida. (IPARDES, 2003).
Tabela 2
Elaboração: CODEM
A migração para o município continuou a crescer nos anos 90. Em 1991 31.221 pessoas (4 anos ou mais de idade) não residiam em Maringá. De São Paulo vieram 19.936 migrantes e de outros municípios do Paraná, 19.936 (IBGE, Contagem da População, 1996 e Malha Municipal Digital do Brasil, 1997). A proporção de imigrantes do próprio Estado entre 1986 e 1991 também é alta. A população total (Dados da Contagem, 1996) em 1996 era de 267.942 habitantes, crescendo até 2000 cerca de 7,7%, atingindo 288.465.
Economia
A pesquisa Características da Rede Urbana (Ipea,Ibge,Unicamp,Ipardes, p.100), apresenta dados recentes referentes à região Norte-central Paranaense que tem como municípios-polo Londrina e Maringá. Com dados de 1996 (Contagem) aponta a região participando do total
do estado com 11,20% do setor secundário, 18,39% do comércio e 17,95% dos serviços. Mantém ainda crescimento do emprego em 2% no período 1986-96.
O setor industrial caracteriza-se por certa diversidade, porém pautada nos gêneros mais tradicionais. Tem as maiores participações no total do estado nos gêneros mobiliário (47,82%), confecção (45,2%), alimentos (27,71%) e têxtil (27,65%). (...) Maringá, Marialva e Sarandi detêm a maior capacidade ligada ao processamento de soja e refino de óleo do estado, com empresas de grande porte, como a Cocamar e a Ceval.
O Município concluiu, em março de 2002, o Censo Econômico realizado pela Associação Comercial e Industrial de Maringá. Foram reunidos dados de 13032 empresas assim distribuídas: 47,2% no setor de serviços, 42,6% no setor de comércio e 10,2% no setor industrial. Com relação ao porte, 92,2% são micro empresas, 6,6% são pequenas, 1,1% médias e apenas 0,1% se enquadra como grande empresa . O censo econômico não traçou um perfil da força de trabalho apenas forneceu dados relativos a que tipo de setor os trabalhadores estão vinculados: as micro e pequenas empresas geram 61,4% da mão-de-obra, as média empresas 18,0% e as grandes empresas 20,6%. Os grandes empregadores são uma usina de açúcar e álcool, com 10.500 funcionários, em seguida temos as empresas que se dedicam ao ramo do vestuário.
O consumo per capita é um dos principais indicadores do nível de vida da população. O jornal o Estado de São Paulo, em sua edição de 15/02/1998, (p. B-3), classifica Maringá como o 4º. maior consumo per capita do Brasil. Considera-se aqui, apenas os bens de maior dificuldade de alcance pelo brasileiro, o automóvel e o telefone, para retratar o nível de consumo de Maringá. A frota de veículos é de 125.000 unidades, média de 2,5 habitantes por veículo unidades (IBGE, 2000), e a quantidade de terminais telefônicos instalados é de 124.340, sendo 91.340 fixos e 33.000 móveis (Codem, Maringá, 2001).
Em Maringá há acima de 50.000 empregos formais. No Paraná, além de Maringá somente Londrina e Curitiba apresentam esse índice de formalidade de empregos, pois metade dos municípios tem, no máximo, 704 empregos formais. Entre 20,2% e 40,5% dos trabalhadores auferem acima de 3 salários mínimos. Curiosamente em Iguaraçu, mais que 60,7% dos empregados formais recebem acima dos 3 SM. São 23,4% os chefes de domicílio maringaenses que recebem até 01 salário mínimo. Esta média sobe para 33,5% para o Brasil. Em contrapartida, os chefes de domicílio com renda acima de 15 SM, em Maringá, são 5,96% do total (Ipardes, 2003).
Com um incremento na atividade industrial, que alcançou 51% do PIB de Maringá (IPEA,1998), tornando-se o setor preponderante do valor adicionado fiscal no município (IPARDES, 2003), a demanda da mão-de-obra para essa atividade também aumentou. Entretanto, as rendas dos trabalhadores são auferidas nas atividades não especializadas (de baixa tecnologia) do terciário (tabela 3). Não houve, todavia com o aumento da população, um processo de degradação do espaço urbano maringaense, comum nas grandes metrópoles, o que deixa entrever amplo controle do poder público sobre o seu uso e ocupação.
Parte 2
A configuração socioespacial maringaense
Buscaremos apresentar as configurações espaciais urbanas de Maringá e, em seguida, cotejando os dados anteriormente expostos, buscar as relações entre os dois elementos. Nossos pressupostos supõem que o espaço resulta sempre dos processos econômicos, políticos e sociais, ou seja, que “espaço é a expressão da sociedade”(Castells, 2000, p.434).
A metodologia utilizada (Queiroz Ribeiro, 2000) busca reconstruir a hierarquização do espaço social no território, utilizando-se principalmente da variável ocupação, tal qual definida pelo IBGE, para a análise do espaço socialmente construído. Estabeleceu-se uma hierarquização das ocupações, representativa da estrutura social, sintetizada em 25 categorias sócio-ocupacionais (Quadro 2), agrupadas nos oito grandes grupos, como se apresenta a seguir.
Quadro 1 – Sistema de hierarquização social da ocupações Grupos Sócio-Ocupacionais Categorias Sócio-Ocupacionais
Ocupações Agrícolas Ocupações Agrícolas
Grupo Dirigente Empresários
Dirigentes do setor público Dirigentes do setor privado Profissionais liberais
Grupo Intelectual Profissionais de nível superior autônomos
Profissionais de nível superior empregados
Pequena Burguesia Pequeno empregador
Comerciantes por conta própria
Setores médios Empregados de supervisão
Empregados do comércio Técnicos e artistas
Empregados da educação e saúde Empregados de segurança e correios Operários do secundário Trabalhadores da indústria moderna
Trabalhadores da indústria tradicional Trabalhadores de serviços auxiliares Trabalhadores da construção civil Artesãos
Operários do terciário Trabalhadores do comércio
Trabalhadores de serviço especializado Trabalhadores de serviço não-especializado
Ambulantes Biscateiros
À estrutura econômica exposta anteriormente, corresponde uma estrutura social com maior presença dos empregados do setor secundário, numa proporção de 24,0% da população ocupada, seguida de 22,6%, correspondente aos trabalhadores do terciário. Ou seja, reunindo aos dois setores, as ocupações do subproletariado, temos a maioria dos ocupados em Maringá (57,6%), exercendo atividades não especializadas. Neste universo a proporção dos chefes de domicílio com renda até 01 salário mínimo é de 23,4%.
Todavia, a atividade individual que reúne o maior contingente dos ocupados (11,84%), relaciona-se às ocupações agrícolas, que em 1998-99, mantêm o predomínio no município com participação no valor bruto da produção do Estado maior que 0,5% (Ipardes, 2003).
Outro índice que chama a atenção se refere à elite dirigente (categorias superiores), que representa apenas 1,02% dos ocupados da RM. Quando observamos o mapa abaixo encontramos esse grupo residindo na área central e adjacências.
Quadro 2 - Estrutura social da Região Metropolitana de Maringá – 1991 Categorias sócio-ocupacionais 1991(%)
Ocupações Agrícolas 11.84%
CA10 – Agrícolas 11.84 1.53
Elite Dirigente 1.02%
CA21 – Empresários 0.84 1.86
CA22 - Dirigentes setor público 0.03 3.98
CA23 - Dirigentes setor privado 0.08 3.95
CA24 – Liberais 0.07 3.85
Pequena burguesia 6.65%
CA31 – Pequenos empregadores 4.64 0.56
CA33 - Comerc. por conta própria 2.01 0.10
CA41 - Superior autônomos 0.31 1.01
CA42 – Superior empregados 3.55 1.17
Classe Média 18.96%
CA51 - Escritório 9.31 0.17
CA52 - Supervisão 4.22 0.26
CA53 - Técnicos, artistas 1.97 0.40
CA54 - Empr. saúde e educação 2.73 0.12
CA55 - Segurança, justiça e correios 0.73 0.24
Proletariado terciário 22.61%
CA61 - Empr. do comércio 7.61 0.11
CA62 - Prest. Serv. especializados 9.47 0.11
CA63 - Não-especializados 5.53 0.13
Proletariado secundário 24.08%
CA71 - Operários indústria moderna 2.41 0.29
CA72 - Serviços auxiliares da econ. 7.51 0.23
CA73 - Oper. da indústria tradicional 4.22 0.15
CA74 - Oper. da construção civil 8.20 0.32
CA32 - Artesãos 1.74 0.10
Subproletariado 11.0%
CA81 - Empregados domésticos 8.14 0.09
CA82 Ambulantes 2.53 0.19
CA83 – Biscateiros 0.33 0.87
Elaboração: Ana Lúcia Rodrigues e equipe PUC/SP-Pronex Fonte: Censo 1991, IBGE
Num processo semelhante à maioria das cidades, principalmente as grandes metrópoles, a periferização das camadas populares tornou-se parte do processo de crescimento de Maringá. É a periferia o local da pobreza como constatamos ao verificar a estrutura social no território (mapa 3). Percebe-se outrossim, a intensidade do processo de segregação
sócio-espacial na Região Metropolitana de Maringá. O que contraria o discurso corrente que apresenta Maringá como a “Dallas brasileira” (Revista VEJA, 1999).
O método utilizou-se da análise fatorial por correspondência binária, que identificou as camadas populares dispersas pelas bordas periféricas do perímetro urbano, enquanto as camadas superiores aparecem mais concentradas no espaço, notadamente nas áreas centrais, onde a qualidade de vida ainda é muito grande. O processo de degradação comumente encontrado nas áreas centrais das metrópoles ainda não ocorre em Maringá.
Mapa 3
Elaboração: Ana Lúcia Rodrigues e Equipe Pronex/PUC-SP
Desde o início do processo de colonização, o padrão contínuo de crescimento do município de Maringá tem ocorrido em direção da periferia, ultrapassando seus próprios limites e alcançando as franjas periféricas das cidades limítrofes, Sarandi, Pauçandu.
Conclusões parciais
Essa análise preliminar da cidade de Maringá, já deixa entrever indícios de uma estrutura social fragmentada, que tende à segregação, concretizada numa dualização do espaço. Uma espacialidade pujante, porém detentora de todos os traços da segregação sócio-espacial presentes nos grandes centros urbanos. Segregação distinta da que ocorre na metrópole paulistana, somente no que se refere à crescente presença das camadas médias nas áreas periféricas, semelhante em muitos outros aspectos.
As cidades de porte médio aparecem na literatura especializada com o potencial para reverter a anomalia da malha urbana. Na visão de muitos, serviriam de “diques” para conter o fluxo migratório constante para as metrópoles e para promover a desconcentração econômica. Pólos que têm absorvido atividades e populações no espectro de fenômenos que constitui o processo de urbanização nas duas últimas décadas. Em recente estudo sobre a Rede Urbana do Brasil (MOTTA & AJARA, 2001, p. 6) destacam-se algumas características, que ajudam a entender o crescimento de Maringá e região, como por exemplo, a interiorização do fenômeno urbano, que gerou o crescimento das cidades médias e a formação e consolidação de aglomerações urbanas de caráter metropolitano e não-metropolitano.
A discussão sobre a construção do espaço urbano de Maringá, que terá continuação através das novas análises fatoriais e construção de mapas temáticos variados, nos levou a concluir minimamente, entretanto, que a dinâmica de ocupação não se esgota no nível municipal. Ela inclui necessariamente os municípios do entorno da cidade, pois é impossível pensar, por exemplo, em políticas públicas para o município-sede, seja de saúde, educação, social, urbana ou qualquer outra, sem avaliar a região metropolitana inteira e as especificidades de cada município, incluindo-se ainda, nossa vizinha, a região metropolitana de Londrina.
Especialmente Sarandi e Paiçandu, devem ser pensados constantemente (constituindo-se em objeto de análises específicas), como os espaços que, ao abrigar os “excluídos” da paisagem maringaense, possibilitaram a orquestração de uma urbanização relativamente privilegiada, gestora da cidade que conseguiu se manter cidade canção, ao menos para aqueles cujo encantamento ainda não foi quebrado.
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ANEXO 1
Ocupações Agrícolas
Formada por todas as ocupações agrícolas, sendo que, em relação às categorias criador
bovino, proprietário agropecuário e avicultor, apenas as pessoas com renda inferior à 20
salários mínimos mantém-se nesta categoria.
Grupo Dirigente Elite Dirigente Grandes Empresários
Formada pelos empregadores com alto escore (renda+educação), com exceção das ocupações tradicionalmente definidas como de profissionais liberais, e mais os outros empregadores (baixo escore) com renda acima de 20 salários mínimos.
Dirigentes do Setor Público
Formada pelas ocupações do alto escalão do setor público (ministros, magistrados,
procuradores, diretores) e administradores de empresas com alto escore e renda acima de
20 salários mínimos.
Formada pelas ocupações tradicionalmente definidas como de profissionais liberais (médicos, engenheiros, arquitetos, dentistas, advogados), agregando empregadores e conta própria.
Pequena Burguesia Pequenos Comerciantes
Formada pelos comerciantes empregadores, com renda abaixo de 20 salários mínimos.
Pequenos Empregadores Urbanos
Formada pelos empregadores com baixo escore, excluídos os comerciantes, com renda abaixo de 20 salários mínimos.
Comerciantes por Conta Própria
Formada pela ocupação comerciante conta própria.
Grupo Intelectual
Profissionais de Nível Superior
Profissionais Autônomos de Nível Superior
Formada por profissionais de nível superior, excluídas as ocupações tradicionalmente definidas como de profissionais liberais, por conta própria.
Empregados de Nível Superior
Formada por profissionais de nível superior, empregados.
Setores Médios
Trabalhadores Não-Manuais de Nível Médio Trabalhadores Não-Manuais em Atividades de Rotina
Formada pelas ocupações que executam atividades de rotina, tais como secretárias,
auxiliares administrativos, auxiliares de escritório, recepcionistas.
Formada pelas ocupações que executam atividades de supervisão, tais como assistentes de
administração, encarregados de administração, corretores de imóvel, administradores do comércio.
Trabalhadores Não-Manuais em Atividades Técnicas e Artísticas
Formada pelas ocupações que executam atividades técnicas e artísticas, tais como
desenhistas, técnicos em contabilidade, caixas, técnicos em energia elétrica, programadores de computação, músicos, fotógrafos.
Trabalhadores Não-Manuais nas Áreas de Saúde e Educação
Formada pelas ocupações diretamente ligadas às áreas de saúde e educação, tais como
professores e enfermeiras não diplomadas.
Trabalhadores Não-Manuais nas Áreas de Segurança Pública, Justiça e Correios
Formada pelas ocupações diretamente ligadas às áreas de segurança pública (polícia e forças armadas), justiça e correios, tais como investigadores de polícia, oficiais do corpo de
bombeiros, praças das forças armadas, carteiros.
Proletariado do terciário
Trabalhadores do Comércio e Serviços Trabalhadores do Comércio
Formada pelas ocupações diretamente ligadas às atividades do comércio, tais como
vendedores, operadores de caixa, pracistas e representantes comerciais.
Prestadores de Serviço
Formada pelos trabalhadores que prestam algum tipo de serviço, tais como cozinheiros,
mecânicos, cabeleireiros, vigias, porteiros, trocadores, embarcadores, excluídos os
profissionais autônomos especializados (mecânicos, sapateiros, motoristas, eletricista,...) com renda acima de 10 salários mínimos,.
Proletariado do secundário
Trabalhadores Manuais da Indústria e Serviços Trabalhadores Manuais da Indústria Moderna
Formada pelos trabalhadores manuais das indústrias do setor moderno: metalúrgica, mecânica, material elétrico, material de transportes, papel, borracha, química, produção de petróleo, farmacêutico, perfume e sabão, editoração gráfica, fumo.
Trabalhadores Manuais da Indústria Tradicional
Formada pelos trabalhadores manuais das indústrias do setor tradicional: o restante dos ramos, exceto a construção civil.
Profissionais Autônomos
Formada pelos trabalhadores manuais autônomos especializados, com renda acima de 10 salários mínimos, tais como pintores, pedreiros, costureiros, carpinteiros, marceneiros,
sapateiros, cabeleireiros, motoristas, mecânicos.
Trabalhadores Manuais da Construção Civil
Formada pelas ocupações diretamente ligadas à construção civil, tais como mestres,
ladrilheiros, pedreiros, pintores, serventes de pedreiro.
Sub-proletariado
Trabalhadores da Sobrevivência Empregados Domésticos
Formada pela ocupação empregado doméstico, pelas ocupações enfermeiro não diplomado,
motorista e jardineiro cujo ramo de atividade seja doméstico e pela ocupação lavadeira cuja
posição seja conta própria.
Ambulantes
Formada pelos feirantes, doceiros, quitandeiros, carroceiros, outras ocupações ambulantes.
Biscateiros