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Processo 0630810 Data do documento 9 de março de 2006 Relator Fernando Baptista

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Procedimentos cautelares > Litigância de má fé

SUMÁRIO

I- O artº 456º do CPC não deve ser entendido como afastando a possibilidade de condenação por litigância de má fé nos procedimentos cautelares.

II- Pelo contrário, o citado artº 456º, ao prescrever que é litigante de má fé quem “tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável” (ut nº 2), deve ser entendido no sentido de que as partes podem, e devem, ser condenadas como litigantes de má fé, quer nas acções, quer, ainda, nos procedimentos cautelares e em qualquer incidente processual.

III- Para ter lugar a condenação como litigante de má-fé, exige-se que se esteja perante uma situação donde não possam surgir dúvidas sobre a actuação dolosa ou gravemente negligente da parte.

TEXTO INTEGRAL

ACORDAM NA SECÇÃO CÍVEL DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO

RELATÓRIO:

B…., S.A., propôr providência cautelar de arresto preventivo contra C….. e mulher D….. (e ainda contra E….), pedindo que se decrete o arresto dos seguintes bens dos 1.ºs requeridos:

da posição contratual decorrente do contrato promessa celebrado em 5 de Junho de 1993, com aditamento de 15 de Junho de 1996, entre o 1.º requerido marido, em que este é promitente-comprador, referente à fracção 606, a que corresponde uma fracção autónoma destinada a habitação, tipo T3, com dois lugares de estacionamento na cave (designado por n.º 43), e uma arrecadação (designada por n.º 34), designada pelas letras “CN”, do prédio sito na Rua …., números …, .., … e …, freguesia da Foz do Douro, concelho do Porto, descrita na Segunda Conservatória do registo Predial do Porto, sob o número quinhentos e cinquenta e quatro, inscrito a favor da requerente, e inscrito na matriz predial da mesma freguesia sob o artigo

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2954-CN;

de acções, eventualmente detidas pelo 1.º requerido, ao portador ou nominativas, da sociedade “F…., S. A. *

Foi proferida decisão a julgar o requerido E…. parte ilegítima no procedimento e, em consequência, a absolvê-lo da instância e a julgar o procedimento cautelar de arresto provado e procedente e, consequentemente, decretado o arresto dos supra referidos bens dos requeridos.

Deduziram os requeridos C…. e mulher D…. oposição a fls. 185 e segs., solicitando o levantamento do arresto, por ser evidente que a acção que se pretende instaurar não pode proceder (ou, em todo o caso, não há qualquer probabilidade séria de ela vir a proceder), por ser desde logo evidente a ilegitimidade dos requeridos e a incompatibilidade entre o pedido e a causa de pedir e por, por outro lado, não haver o mínimo risco de diminuição da garantia patrimonial, pelo que também, ainda que só por esse motivo, o arresto dever ser levantado.

Pediram, ainda, a condenação da requerente como litigante de má fé, em multa, no pagamento das despesas processuais dos requeridos – incluindo os honorários do seu advogado – e na indemnização de € 75.000,00 a estes pelos incómodos e danos morais sofridos.

Teve lugar a produção de prova e, por fim, foi julgada procedente a oposição à providência cautelar de arresto, sendo revogada a providência decretada.

Mais se julgou improcedente o pedido de condenação da requerente como litigante de má fé “porquanto dos autos não resultam provados factos, designadamente em termos definitivos, que permitam uma condenação da requerente como litigante de má fé” (sic).

Inconformada com o aludido despacho na parte em que decidiu não condenar a requerente como litigante de má fé, vieram os requeridos interpor recurso de agravo, apresentando alegações que rematam com as seguintes

CONCLUSÕES:

“Pensamos assim que o despacho recorrido, na parte em que decidiu não condenar a requerente como litigante de má-fé, com os fundamentos com que o fez, violou o artº 456º do Código de Processo Civil.

Com efeito, correctamente entendido, este preceito legal determina que as partes podem ser condenadas como litigantes de má-fé em qualquer incidente processual. Ao decidir não conhecer sequer esta questão, suscitada no âmbito da presente providência cautelar, com a alegação de que a prova feita nestes procedimentos, pela sua natureza, é sempre insusceptível de formular um juízo sobre a má-fé das partes, o despacho recorrido violou pois o acima citado preceito legal, estabelecendo artificialmente limites o seu alcance geral.

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recorrido), com todas as garantias processuais do contraditório, entra de tal forma em contradição frontal com as alegações da requerente, em matérias que são necessariamente do seu conhecimento, que é irrecusável a conclusão de ela falta conscientemente à verdade e litiga de má-fé.

Em consequência, deve o despacho recorrido ser parcialmente revogado, condenando-se a requerente da presente providência cautelar, como litigante de má-fé, em multa, pagamento dos honorários ao patrono dos requeridos e indemnização a estes de € 75.000 euros pelos danos morais sofridos.”.

A agravada contra-alegou, sustentando a manutenção da decisão recorrida.

Foram colhidos os vistos legais.

II. FUNDAMENTAÇÃO

II. 1. AS QUESTÕES: Tendo presente que:

- O objecto dos recursos é balizado pelas conclusões das alegações dos recorrentes, não podendo este Tribunal conhecer de matérias não incluídas, a não ser que as mesmas sejam de conhecimento oficioso (arts. 684º, nº3 e 690º, nºs 1 e 3, do C. P. Civil);

- Nos recursos se apreciam questões e não razões;

- Os recursos não visam criar decisões sobre matéria nova, sendo o seu âmbito delimitado pelo conteúdo do acto recorrido,

As questões suscitadas pelos agravantes são:

- Saber se pode haver lugar à condenação por litigância de má fé nos procedimentos cautelares, ou tal só pode ter lugar na acção principal definitiva;

- Se -- no caso de ser positiva a resposta à primeira questão-- deveria a Mmª Juiz a quo ter condenado a agravada como litigante de má fé, e em que termos.

II. 2. OS FACTOS:

Na decisão recorrida deram-se como assentes os seguintes factos “com relevância para a decisão”: A requerente é uma sociedade que se dedica, entre outras, à actividade de promoção imobiliária;

Entre os anos de 1993 e 1995, o 1.º requerido exerceu funções de administrador–delegado para a requerente, bastando a sua assinatura para obrigar a sociedade;

Tal cargo foi-lhe confiado por existir uma relação de especial confiança dos principais accionistas da sociedade em relação a ele;

O requerido, para além de promover e coordenar os projectos e as obras – contratando e coordenando projectistas, gabinetes de fiscalização, mediadores, promotores, empreiteiros e subempreiteiros, tratando

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dos licenciamentos nas câmaras municipais e noutras entidades – de empreendimentos imobiliários simultâneos da B…. em Coimbra, Setúbal, Évora e no Porto, foi também o responsável pela sua comercialização, sendo quem assinava os contratos-promessa de compra e venda em representação da requerente;

Para isso tinha de se deslocar entre aquelas cidades, tendo assinado pela B…. diversos contratos; Um destes empreendimentos foi o “G….”, à Foz Alta, no concelho do Porto, perto da Praça do Império; Este empreendimento, com blocos de habitação e comércio, totalizando cerca de 69 fracções autónomas, começou a ser comercializado pela B….. em Junho de 1993, numa altura em que não se tinham começado ainda a fazer as terraplanagens iniciais e havia ainda pessoas a habitar precariamente neste terreno; A B…., procurou obter, por intermédio das vendas, capital que ajudasse a financiar a própria construção antes da decisão sobre o arranque das obras, com base numa tabela de comercialização inicial procurando minimizar o risco do seu investimento inicial, atraindo investidores para que apostassem no projecto; O Eng.º C…. acreditava no projecto e convenceu alguns amigos e familiares (um deles o signatário da oposição) a tomar posições de promitentes-compradores de algumas fracções, logo em Junho de 1993; Era prática a venda directa pela requerente a conhecidos fora do circuito da mediadora;

A requerente, representada pelo 1.º requerido, celebrou com familiares deste contratos promessa de compra e venda de fracções do empreendimento;

Os contratos com familiares seus foram, desde logo, do conhecimento da requerente;

Era conhecido por todos os intervenientes nos contratos que as posições de promitentes-compradores poderiam ser levadas até ao fim – à escritura de compra e venda – ou cedidas entretanto a terceiros, com eventuais ganhos (ou perdas);

Ao promover aqueles negócios o Eng.º C….. ajudou a B…. a vender várias das fracções, aos preços que ela própria fixou para aquela fase inicial de arranque do projecto;

De tudo isto sempre foi a B…. perfeitamente ciente, tendo os contratos iniciais sido depositados na sua sede e tendo a requerente conhecimento de posteriores cedências da posição contratual de promitentes-compradores;

Posteriormente os contratos com os promitentes-compradores originais eram inutilizados e substituídos por novos, outorgados pelo novo comprador, que assumia a posição contratual do promitente-comprador no contrato promessa, com a mesma data e as mesmas condições do contrato-promessa original;

Tal era do conhecimento da B…., que a isso nunca se opôs;

Para a B…., com respeito a cada fracção, contava a data e o valor do primeiro contrato-promessa, independentemente dos sucessivos titulares da posição de promitente-comprador;

O preço de venda dos imóveis estava fixado em tabelas da B….;

As condições de venda das fracções eram as fixadas pelo conselho de administração da B…. e eram iguais para todos os interessados;

As relações entre os promitentes-compradores e as pessoas a quem eles cediam depois (e, por vezes, sucessivamente) essa sua posição contratual com a B…., eram tituladas por documentos próprios;

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respectivo contrato a 23 de Agosto de 1993, pelo preço de Esc. 38.000.000$00 – doc. de fls.208 a 212, cujo teor se dá por reproduzido;

Para cumprimento deste contrato, o Dr. H…. pagou à B… as duas primeiras prestações nele previstas, num total de (Esc. 5.619.000$00 + Esc. 3.853.000$00=) Esc. 9.472.000$00;

Por razões de ordem pessoal, o Dr. H…. viu-se impossibilitado de continuar a cumprir o contrato, precisando urgentemente de reaver a parte do preço que havia já desembolsado;

Nesse sentido contactou o Eng.º C….., que ficou sensibilizado para o seu problema e lhe deu algumas esperanças de que isso talvez fosse possível;

A questão foi posta no conselho de administração da B…., mas a sua decisão foi negativa, tendo obtido vencimento a posição (que valeria para esse caso e todos os seguintes) de que os desistentes perderiam sempre, na integra, as quantias que houvessem adiantado no cumprimento dos contratos promessa, a não ser que transmitissem a sua posição contratual a outrem;

Face às esperanças que infundira ao Dr. H….. na resolução do problema, o Eng.º C…. resolveu tomar pessoalmente a posição de promitente-comprador desta fracção, pagando para isso do seu bolso ao Dr. H….. a quantia correspondente ao que este já havia pago, o que se fez no dia 25 de Março de 1994 (doc. de fls. 213), deduzida de uma parte da importância já paga de comissão à mediadora do empreendimento – a Réplica;

De seguida, o Eng.º C….. colocou esta posição contratual à venda na I….. tendo estado sem a quantia que pagou ao Dr. H…. durante oito meses;

Em Outubro de 1994, por intermédio da I…. surgiu o casal J….. – Dr. J1…. e Dra. J2…. – como interessado na compra desta fracção;

Os J…., em negócio intermediado pela I…., tomaram a posição contratual de promitente-comprador detida pelo Eng. C….;

Para isso pagaram os Esc. 9.472.000$00 já adiantados pelo Dr. H…. à B….. (e pagos depois a este, deduzidos de parte da comissão paga à mediadora I…., pelo Eng.º C….);

Os J…. prometeram comprar o imóvel por um preço total de Esc. 42.500.000$00 sabendo que era uma retoma do contrato detido pelo Eng.º C…..;

Fez-se o contrato-promessa de que se encontra junta cópia a fls. 28 a 32 entre a B…. e os J…., ao qual foi aposta a data da assinatura do contrato promessa com o Dr. H…. (23 de Agosto de 1993), e que ostentava o mesmo preço de Esc. 38.000.000$00, com uma cláusula penal extraordinária de Esc. 4.500.000$00, cláusula essa inserida a pedido dos J…., que assim se queriam assegurar de que, em caso de incumprimento por parte da B….., eles seriam também reembolsados dos Esc. 4.500.000$00 que pagavam a mais, para além do que constava no contrato;

O casal J…., continuou a colocar dúvidas junto do pavilhão de vendas da I…. e fez-se então um novo contrato-promessa, entre os J…. e a B…., com a data e o preço real da retoma de posição de promitente-comprador, no qual os J…. assentiram em assinar – doc. de fls. 33 a 37, cujo teor se dá por reproduzido; Os J…. pagaram pela referida fracção Esc. 42.500.000$00, que desde o início foi o preço pelo qual concordaram em contratar, tendo a B…. recebido a quantia Esc. 38.000.000$00, que foi o preço pelo qual quis vender o imóvel e o Eng.º C…. reaveu o que tinha adiantado e realizou ainda mais a importância de

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Esc. 4.500.000$00 deduzida da quantia de Esc. 1.275.000$00 que a Réplica cobrou de comissão – 3% sobre o preço total de Esc. 42.500.000$00 –, sobrando Esc. 3.225.000$00 que ficaram para o Eng.º C…..; Os J…. pagaram ao Eng.º C…., como preço pela cessão da sua posição contratual de promitente-comprador desta fracção Esc. 4.472.000$00 + Esc. 5.000.000$00 + Esc. 4.500.000$00, tendo o último depois pago daí à I…. a sua comissão de Esc. 1.275.000$00;

O 1.º requerido depositou na sua conta pessoal, no Banco Espírito Santo, dependência da …., com o n.º 4154076/001.8 a quantia referida de € 22.306,24, através do cheque para tanto entregue por J2…..;

A fracção n.º 608 começou por ser objecto, logo no início da campanha de comercialização, em Junho de 1993, de um contrato promessa de compra e venda com o Sr. L…., amigo do Eng.º C…. e por este atraído para o empreendimento – pelo preço acordado de Esc. 25.500.000$00 – doc. de fls. 215 a 218, cujo teor se dá por reproduzido;

O Sr. L…. pagou um sinal inicial de Esc. 3.825.000$00;

Este apartamento era um T2 recuado que tinha adjacentes dois vãos de telhado fechados, que foram objecto, por iniciativa do Sr. L…., de um aproveitamento não previsto no projecto inicial, do qual resultou a sua completa transfiguração, com um aumento da área interior habitável;

Estas obras extraordinárias, e também melhoramentos nalguns acabamentos, foram encomendados pelo Sr. L…. à Requerente B…., e foram pagas a esta por aquele;

Com estas obras – que foram da iniciativa do Sr. L…. mas realizadas pela Requerente, acompanhadas e fiscalizadas pelos seus quadros técnicos – a fracção ficou valorizada;

Outras fracções em “G….” foram objecto de intervenções semelhantes à referida, pagando os promitentes-compradores as obras extraordinárias à requerente;

Terminadas estas obras, o Sr. L…. pôs a sua posição contratual à venda na Réplica, tendo aí sido tomada, nos inícios de 1995, pela Sra. M…., por um valor superior a Esc. 37.500.000$00;

A Sra. M….. e a B…. assinaram o contrato promessa que se encontra junta a fls. 39 a 42, com data de 31 de Julho de 1993 e com o preço declarado de Esc. 21.000.0000$00, o qual era inferior aquele que foi acordado pelas partes;

Com relação a esta fracção (n.º 608) houve uma desconformidade entre o preço acordado com M…. e o preço declarado no contrato promessa celebrado pela requerente relativo a essa fracção;

O montante da diferença entre o preço acordado e o declarado foi objecto de pagamento separado; A data aposta no referido contrato foi uma data anterior àquela em que ele foi celebrado;

Para pagamento do preço dessa fracção a promitente adquirente entregou, entre outros, um cheque datado de 30/05/1995, no valor de Esc. 8.770.000$00 e um cheque do montante de Esc. 8.925.000$00, com data de 30/07/1995, ambos à ordem de L…..;

A Sr.ª M…. sentiu-se confusa por ter de passar tantos cheques a tanta gente – ao Sr. L…., à B…. e ainda para pagamento separado à ordem de um outro senhor de que ela nunca tinha ouvido falar – para comprar uma única casa;

A requerente recebeu de forma fraccionada o preço de 25.500.000$00 por que prometeu vender esta fracção (n.º 608) e recebeu também pagamentos relativos a obras extraordinárias nela feitas;

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O 1º requerido, por várias vezes, representou o Sr. L…. em questões relacionadas com a fracção n.º 608 de “G….”;

Com data de 12 de Março de 1995, o 1.º requerido celebrou como administardor-delegado da requerente, um contrato promessa de compra e venda para a fracção 302 com N….. e O…..;

A escritura veio a ser celebrada em 06/06/1997 pelo preço de Esc. 34.150.000$00;

Dada a evolução favorável do mercado e a crescente aceitação que o empreendimento teve, quem arriscou inicialmente nele as suas economias obteve lucro tendo-se os imóveis valorizado entre o início e o fim da sua comercialização;

A requerente assumiu a posição de não devolver sinais e não retomar contratos aos desistentes;

Os promitentes-compradores que perderam, entretanto, o interesse na efectivação da compra de fracções, cederam as suas posições contratuais a terceiros, tendo, com isso, realizado ganhos;

O 1.º requerido ao serviço da B….. tinha a função de vender as fracções autónomas, não tendo autorização para comprar, de novo, posições para as revender posteriormente em nome da B…..;

A B…. celebrou inicialmente contratos promessa para que o empreendimento se auto-financiasse mas também para, com isso, gerar uma dinâmica inicial favorável que o afirmasse no mercado;

O Eng.º C…. tomou posição intermediária de promitente-comprador em “G….” quanto à fracção n.º 312 perante a situação pessoal do promitente-comprador com que foi confrontado;

Quanto à fracção n.º 302 de “G….”, o Eng. C…. não teve qualquer interferência pessoal no contrato promessa nem na posterior transferência da posição contratual de promitente-comprador;

O 1.º requerido resolveu, por sua iniciativa, desvincular-se da relação laboral que mantinha com a requerente, o que se tornou efectivo em 1995;

A B…. celebrou com o 1.º requerido a 15 de Julho de 1996 o acordo junto a fls. 49 e 50, cujo teor se dá por reproduzido;

A requerente, em 15/07/1996, celebrou os quatros aditamentos aos contratos promessa de compra e venda, juntos a fls. 67 a 76, cujo teor se dá por reproduzido, celebrados em Junho de 1993 em que foi aumentado o preço de venda das respectivas fracções, para os seguintes valores: no contrato celebrado em 25/06/1993, pelo preço de Esc. 9.500.000$00, em que figurava como contratante P…., foi o preço aumentado para Esc. 18.500.000$00, ou seja um aumento de Esc. 9.000.000$00; no contrato celebrado em 11/06/1993, pelo preço de Esc. 16.500.000$00, em que figurava como contratante E…., foi o preço aumentado para Esc. 19.600.000$00, ou seja um aumento de Esc. 4.900.000$00; no contrato celebrado em 25/06/1993, pelo preço de Esc. 17.000.000$00, em que figurava como contratante P…., foi o preço aumentado para Esc. 22.000.000$00, ou seja um aumento de Esc. 5.000.000$00; no contrato celebrado em 05/06/1993, pelo preço de Esc. 30.500.000$00, em que figurava como contratante E…., foi o preço aumentado para Esc. 31.547.000$00, ou seja um aumento de Esc. 1.047.000$00;

No dito acordo, na cláusula 2.ª, a requerente acordou com o 1.º requerido que “… por força do contrato de trabalho que os vinculava, ou quaisquer outros motivos, nada mais têm a pagar ou a receber uma da outra. § único: excepciona-se, desde já, todos os pagamentos/recebimentos que resultem do cumprimento de contratos promessa de compra e venda de fracções autónomas sitas no prédio urbano edificado na Foz Alta, à Rua …., freguesia de …, Porto, descrito na 2.ª Conservatória do registo Predial do porto sob o n.º

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554/960520 em que JM tome a posição de promitente comprador”.

A iniciativa do Eng.º C…. de cessar relação laboral que mantinha com a requerente foi mal aceite pela requerente, e deu azo a que tenham começado “investigações” internas à gestão do Eng.º C….;

A fracção n.º 606 havia sido objecto de uma promessa de compra do irmão do Eng.º C…. e destinava-se a ser comprada pelo 1.º requerido, como a B…. sabia;

O 1.º requerido assumiu posição de promitente-comprador da facção n.º 606, tornando-a de seu irmão, com aprovação da requerente, e pagou à requerente em 15/07/1996 uma prestação (com o que recebeu as chaves), ficando o pagamento da parte restante do preço para a escritura;

O 1.º requerido só tem no empreendimento G…. a posição, que era de seu irmão e que assumiu em 15/07/1996, relativamente à fracção autónoma n.º 606, onde reside actualmente com a sua família;

No dia 4 de Junho de 1997 a promitente adquirente do contrato, P…., mãe do 1.º requerido, declarou à requerente ter cedido a sua posição contratual, no contrato promessa para a sociedade “F…., S.A.”, sociedade de que o 1.º requerido era accionista e de que era administrador-delegado;

A requerente, 10 de Julho de 1997, convocou o 1.º requerido, por carta registada envida à sociedade “F…., S.A.”, para a celebração da escritura pública da fracção “N” loja 11 para o dia 31 de Julho de 1996 pelas 11: 15 horas no 3.º Cartório Notarial do Porto;

Porém, o 1.º requerido não compareceu nem tão pouco a referida sociedade “F….” se fez representar nesse dia;

A requerente enviou nova carta registada a convocá-lo para o dia 15 de Setembro de 1996 no 1.º Cartório Notarial da Feira, mas mais uma vez o 1.º requerido não compareceu, nem qualquer outro representante da “F…”, na data marcada;

Face à situação, a requerente veio a vender a outrem essa fracção “N”, em 25 de Julho de 2000, pelo preço de Esc. 9.200.000$00;

Até à presente data ainda não foi celebrada a escritura pública de compra e venda relativa à fracção T3 a que se atribuiu o número 606, destinada a habitação com dois lugares de garagem na cave onde o 1.º requerido instalou a sua residência e onde ainda hoje vive com a requerida;

Os requeridos vêm-se sentindo inquietos, revoltados, angustiados, vexados, sofrendo a requerida de insónias.

III. O DIREITO:

Apreciemos, então, as questões suscitadas pelos agravantes - tendo presente que não vem impugnada a matéria de facto, pois não é questionada a bondade da relação dos factos dada como assente no despacho a quo.

Como tal, têm-se tais factos como pacíficos, já que também se não alveja razão para a modificabilidade da decisão da matéria de facto ao abrigo do disposto no artº 712º do CPC (cfr. artº 713º, nº6, do CPC).

Primeira questão: Se pode haver lugar à condenação por litigância de má fé nos procedimentos cautelares, ou se tal apenas ocorrer na acção definitiva:

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Entendeu-se no despacho recorrido que não poderia haver lugar a tal condenação por litigância de má fé. Argumentou-se desta forma:

“Quanto à questão da litigância da má fé cumpre dizer que é na acção que a causa é discutida e apreciada na sua plenitude e aí efectivamente assegurado o contraditório entre as partes, sendo nela que se fixam definitivamente os factos que apenas são sumariamente provados no procedimento cautelar o qual envolve apenas uma prova sumária e que, por isso, é insusceptível de fundamentar um juízo de condenação como litigante de má fé.

Face a isso, tal questão deve ser suscitada e apreciada na acção.

Fornecendo as providências cautelares uma composição provisória, oportunamente e no local próprio (acção principal), será apreciada a questão da litigância da má fé para cuja decisão os autos não fornecem ainda elementos cabais e seguros.”.

Discordamos deste segmento da decisão recorrida.

O procedimento cautelar é -- como se sabe - instaurado com preliminar a uma acção ou na pendência desta, como seu incidente, destinado a prevenir ou a afastar o perigo resultante da demora a que está sujeito o processo principal. Através de uma indagação rápida e sumária, o juiz assegura-se da plausibilidade da existência do direito do requerente e emite uma decisão de carácter provisório, destinada a produzir efeitos até ao momento em que se forme a decisão definitiva.

É o que resulta das normas dos arts. 381º ss do CPC ( especialmente até ao artº 389).

Ora, é essencialmente apegando-se à referida indagação “rápida e sumária” dos factos que ocorre nas providências cautelares que foi prolatado o despacho recorrido.

Parece, porém, que aí se lavra em alguma confusão.

Efectivamente, se é certo que no que tange ao requisito da titularidade do direito do requerente da providência cautelar a lei se contenta com a emissão de um juízo de probabilidade ou verosimilhança -embora sem esquecer que a lei fala, no entanto, numa probabilidade séria (ut artº 387º, nº1 CPC) --, isso, porém, em nada afecta a necessidade de também nesses procedimentos - tal como, v.g., nos incidentes --, na sua litigância, as partes agirem com a probidade processual que se exige para as acções, isto é, designadamente, não fazendo do processo cautelar “um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão” (artaº 456º, nº2, al. d) CPC).

Efectivamente, antes de mais deve salientar-se que a lei não restringiu a condenação por litigância de má fé apenas às acções (principais), afastando, designadamente, os incidentes cautelares.

Pelo contrário: se o quisesse fazer não se referiria a quem fizesse “do processo ou dos meios processuais um usos manifestamente reprovável”.

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despacho a quo.

Mas ao mesmo resultado se chegaria se a lei apenas falasse em “processo”.

Na verdade, “processo” significa, ou uma sequência de fenómenos que se dirige a certo resultado -processo em sentido latíssimo --, ou a sequência de actos destinados à justa composição de um litígio mediante a intervenção de um órgão imparcial de autoridade, o tribunal - processo em sentido especial e técnico (cfr. Castro Mendes, Direito Processual Civil, 1980, 1º-34).

Assim, portanto, é mais que apodíctico que no aludido artº 456º do CPC se incluem os procedimentos cautelares.

É claro que o processo cautelar (in casu, de arresto) é uma pretensão de todo distinta do pedido formulado da acção. Apesar do seu destino subordinado ao da acção, tem, sem dúvida, fundamentação própria e específica (designadamente, o perigo de perda da garantia patrimonial).

Assim, portanto, nada obsta a que o requerente num processo cautelar litigue com (mesmo por vezes descarada) má fé. E se o faz, terá de nesse mesmo procedimento ser penalizado com as inerentes consequências, previstas no citado artº 456º CPC.

Veja-se que muitas vezes - como ocorreu, aliás, no caso presente - as providências são tomadas sem prévia audição da parte contrária. E pode muito bem acontecer que o requerente, disso avisado, movido por motivação, quiçá, meramente persecutória, sabendo não lhe assistir qualquer razão e bem conhecendo a natural demora do trânsito em julgado da decisão definitiva a proferir na acção principal, venha (pelas mais variadas motivações ou razões) requerer uma providência apenas com o fito de complicar a vida ao requerido, assim “fazendo do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal”. E, então, porquê aguardar-se o desfecho da demanda principal, quando está mais que assente a actuação do requerente com má fé no procedimento cautelar?

É claro, assim, que não faz sentido deixar-se a avaliação da existência da má fé apenas para o julgamento da acção.

Como bem refere a agravante, se também na acção se pedir a condenação por litigância de má fé, “a má fé da autora é uma questão completamente distinta da má fé da requerente do arresto. Aquela acresce a esta, sem contudo se confundir com ela”.

Da mesma forma que a legítima pretensão da parte deve ser prontamente reconhecida, assim também deve ser prontamente sancionada a litigância de má fé, quer se verifique na acção, quer no processo cautelar que previamente foi instaurado, a funcionar em cada um dos diferentes procedimentos.

Já a respeito da condenação por litigância de má fé, não só nas acções, mas também nos incidentes, escrevia o saudoso Prof. Alberto dos Reis, CPC Anotado, vol. II, 3ª ed., a pág,. 270:” O vencedor na causa principal pode ficar vencido num incidente; e se o for, nada obsta a que seja condenado como litigante de má fé quando houver tomado atitudes reprováveis ou tido conduta dolosa”.

O que vale, obviamente, para os procedimentos cautelares: também aí, havendo conduta integrante do conceito de má fé, do requerente ou requerido, deve haver (pronta e firme) condenação a tal título.

Conclui-se, assim, quer mal andou a Mmª Juiz a quo ao estabelecer os aludidos limites ao artº 456º do CPC, afastando a possibilidade de condenação por litigância de má fé nos procedimentos cautelares. Ao invés, tal condenação pode, e deve, existir não só nas acções, mas também, designadamente, nos aludidos

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procedimentos. As partes podem e devem ser condenadas como litigantes de má fé em qualquer incidente processual. É o que resulta do artº 456º, nº2 CPC ao prescrever que é litigante de má fé que “tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável”.

Não parece, assim, legítimo, que se use o carácter sumário da prova produzida para decretar o arresto para efeitos de afastar a eventual condenação da requerente como litigante de má fé.

Deveria, porém, a Mmª Juiz a quo ter condenado a agravada como litigante de má fé? Se sim, em que termos.

Como é bom de ver, esta questão estava dependente da antecedente. Assim, só a ela se passa por se ter respondido afirmativamente àquela outra.

Vejamos.

No artº 266º-A do CPCivil consagra-se o chamado "dever de boa-fé ou de probidade processual".

A mais grave violação desses deveres constitui justamente a litigância de mà fé, cujos contornos se acham definidos no artº 456º daquela lei adjectiva civil.

Nos termos do disposto no nº 2 do artº 456º do CPCivil, diz- se litigante de fé quem, com dolo ou negligência grave:

a) tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar; b) tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa; c) tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;

d) tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão de impedir a descoberta da verdade".

A má fé é sancionada com condenação em multa e indemnização à parte contrária, se esta o requerer – nº 1 do citado preceito.

A multa vai de 2 a 100 Uc´s (artº 102º, al. b), do C. C.J.).

Por outro lado, a indemnização pode consistir no reembolso das despesas a que a má fé deu causa, aqui se incluindo os honorários do mandatário.

O dever de litigar de boa-fé, isto é, com respeito pela verdade, mostra-se como um corolário do princípio do dever de probidade e de cooperação, fixados nos art.s 266º e 266º-A do C.P.C.º para além dos deveres que lhe são inerentes, imposto sempre às respectivas partes.

Se a parte, com propósito malicioso, ou seja, com má-fé material, pretender convencer o tribunal de um facto ou de uma pretensão que sabe ser ilegítima, distorcendo a realidade por si conhecida, ou se, voluntariamente, fizer do processo um uso reprovável ou deduzir oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar - má-fé instrumental -, deve ser condenada como litigante de má-fé.

Mas tem-se entendido que tal sanção apenas pode e deve ser aplicada aos casos em que se demonstre, pela conduta da parte, que ela quis, conscientemente, litigar de modo desconforme ao respeito devido não

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só ao tribunal, cujo fim último é a busca em descobrir a verdade e cumprir a justiça, como também ao seu antagonista no processo.

E esta actuação da parte, conforme se vinha entendendo na doutrina e Jurisprudência (Manuel de Andrade, Noções Elementares de Processo Civil, pág. 343 e Alberto dos Reis, Código Proc. Civil Anotado, II, pág. 259 e Ac. Rel. de Lisboa de 09.01.97, Col. Jur., Ano XXII, Tomo I, pág. 88), exige que haja dolo ou negligência grave do actuante.

Verifica-se a negligência grave naquelas situações resultantes da falta de precauções exigidas pela mais elementar prudência ou das aconselhadas pela previsão mais elementar que devem ser observadas nos usos correntes da vida (Maia Gonçalves, CPenal Português, 4ªed., p. 48).

Na redacção dada ao artº 456º do CPCivil, antes da última revisão (DL nºs. 329-A/95 de 12/12 e 180/96 de 25/09), existia uma "intenção maliciosa (má fé em sentido psicológico) e não apenas com leviandade ou imprudência (má fé em sentido ético).

Não bastava a imprudência, o erro, a falta de justa causa. Era necessário o querer e o saber que se está a actuar contra a verdade ou com propósitos ilegais. No dolo substancial deduz-se pretensão ou oposição cuja improcedência não poderia ser desconhecia - dolo directo - ou altera-se a verdade dos factos, ou omite-se um elemento essencial - dolo indirecto; no dolo instrumental faz-se, dos meios e poderes processuais, um uso manifestamente reprovável - Menezes Cordeiro; “Da Boa Fé no Direito Civil", I, Almeedina, 1984, pág. 380.

No Ac. do S.T.J., de 24/04/91, in A.J., 18º/28, afirma-se: “Os factos a que se refere o art. 456º nº 2 do CPCivil, e cuja alteração consciente constitui litigância de má fé, são os factos que as partes alegam nos articulados para fundamentar o pedido e a oposição (...)".

O regime instituído após a última reforma do direito processual civil traduz uma substancial ampliação do dever de boa fé processual, alargando-se o tipo de comportamentos que podem integrar má fé processual, quer substancial, quer instrumental, tanto na vertente subjectiva como na objectiva. A condenação por litigância de má fé pode fundar-se, além de numa situação de dolo, em erro grosseiro ou culpa grave. No entanto, não pode deixar de se acentuar que esta concepção explícita agora de litigância de má-fé não se pode confundir com erro grosseiro, com lide meramente temerária ou ousada, com pretensão de dedução ou oposição cujo decaimento sobreveio por mera fragilidade da sua prova e de não ter logrado convencer da realidade por si trazida a julgamento, na eventual dificuldade de apurar os factos e de os interpretar, ou com discordância na interpretação e aplicação da lei aos factos, na diversidade de versões sobre certos e determinados factos ou até na defesa convicta e séria de uma posição, sem contudo a lograr convencer.

Mesmo que se esteja entre uma lide dolosa e uma lide temerária, mas não sendo seguros os elementos para se concluir pela existência de dolo, a condenação como litigante de má-fé não se deve operar, entendimento que pressupõe prudência e cuidado do julgador, exigindo-se para existir condenação como litigante de má-fé que se esteja perante uma situação donde não possam surgir dúvidas sobre a actuação dolosa ou gravemente negligente da parte (cfr. Ac. STJ de 20.06.90, citado por Abílio Neto, anotações ao artº 456º).

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Ora, perante a análise dos factos apurados, não vemos que estejam preenchidos os aludidos requisitos para que possa operar a condenação da requerida como litigante de má fé.

Efectivamente, não se almeja que dessa matéria resulte que a requerente do arresto tenha alterado a verdade dos factos, deduzindo pretensão cuja falta de fundamento não podia ignorar, fazendo mesmo um uso reprovável do processo.

Efectivamente, pese embora a pretensão dos agravantes e os argumentos aqui e agora usados, feito um juízo global, no processado e no alegado, a actuação da agravada não deve ser configurada como se estando, pelo menos, perante uma actuação com negligência grave, isto é, perante uma actuação que seja merecedora de ser sancionada por integrante de má fé processual.

A condenação por litigância de má fé apenas deve operar, como vimos, quando os autos forneçam elementos seguros de conduta dolosa ou gravemente negligente, o que pressupõe a prudência do julgador. É que, sabe-se que a verdade judicial é uma verdade relativa, não só porque resultante de um juízo em si mesmo passível de erro, mas também porque assente em provas, como a testemunhal, cuja falibilidade constitui um conhecido dado psicológico (cfr. Ac. STJ, de 11.12.03, Proc. nº 03B3893, in www.dgsi.pt.

Outro aspecto, no entanto, não se deve olvidar.

É que - sem embargo do supra explanado, onde se concluiu não se almejar matéria de facto bastante para, com segurança, ter lugar a condenação da agravada como litigante de má fé --, sempre se deve anotar que nunca poderia haver lugar à condenação por má fé sem prévia audiência da requerente/agravada,

Efectivamente, uma coisa é a oposição à providência cautelar (ut artº388º CPC), outra - bem diferente - é a possibilidade de pronúncia sobre o pedido de condenação por litigância de má fé.

Ora, se é certo que à oposição à providência procurou a requerente/agravada responder nos termos de fls. 263, o certo é, também, que - como se teve o cuidado de expressamente consignar no despacho de fls. 279--, tal requerimento apenas e só foi considerado “como pronunciamento sobre os documentos e tão somente como tal” (cit. despacho de fls. 279) - sublinhado nosso.

Ou seja, a haver lugar à condenação por litigância de má fé, nunca a mesma poderia ocorrer no despacho recorrido sem que antes fosse dada à parte possibilidade de se pronunciar, querendo, sobre o pedido da sua condenação a tal título.

Aliás, mesmo que não tivesse sido pedida a condenação por litigância de má fé, caso o Mmo Juiz se apercebesse da existência de conduta reveladora dessa litigância (arts. 266º-A e 456º CPC), deveria, antes de se pronunciar sobre tal condenação, ouvir a outra parte (ora agravada) para que não fosse surpreendida com uma eventual condenação como litigante de má fé, em conformidade como o entendimento do Tribunal Constitucional (cfr., designadamente, os Acórdãos nºs 357/98, de 12.05.98, in DR, II Série, de 16.07.98 e nº 289/2002, de 3.7.98, in DR II Série, de 13.11.02).

Só assim se asseguraria o contraditório.

Efectivamente, nos termos do nº 3 do artigo 3º do Código de Processo Civil: "O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do contraditório, não lhe sendo licito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso,

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sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem". Com este preceito legal o legislador prescreveu "... a proibição da prolação de decisões surpresa ... “, como decorre do preâmbulo do Decreto-lei nº 329-A/95, de 12 de Dezembro.

Ora, parece óbvio que a condenação de uma das partes como litigante de má-fé, embora seja de conhecimento oficioso, é uma questão de direito importante para a parte. Tanto assim é que nos termos do nº 3 do artigo 456º do Código de Processo Civil "Independentemente do valor da causa e da sucumbência, é sempre admitido o recurso, em um grau, da decisão que condene por litigância de má-fé."

No entanto, como dissemos supra, embora possa haver lugar à condenação por litigância de má fé no procedimento cautelar, não vemos que os factos apurados permitam tal condenação, escusando-se, assim, ordenar outras diligências, designadamente ouvir a requerente da providência (ora agravada) -- até porque o seu entendimento sobre tal questão está já bem explicitado nas suas doutas alegações, com as quais, no essencial (com os complementos e considerações supra explanados), estamos de acordo.

Sobre esta matéria, ver, ainda com interesse, o Ac. do STJ, de 27.02.2003, in Cadernos de Direito Privado, nº3, pág. 55.

Improcede, assim, a questão suscitada -- mantendo-se, com tal - embora com outra fundamentação--, a decisão a quo que julgou improcedente o pedido de condenação da requerente como litigante de má fé.

CONCLUINDO:

O artº 456º do CPC não deve ser entendido como afastando a possibilidade de condenação por litigância de má fé nos procedimentos cautelares.

Pelo contrário, o citado artº 456º, ao prescrever que é litigante de má fé quem “tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável” (ut nº 2), deve ser entendido no sentido de que as partes podem, e devem, ser condenadas como litigantes de má fé, quer nas acções, quer, ainda, nos procedimentos cautelares e em qualquer incidente processual.

Para ter lugar a condenação como litigante de má-fé, exige-se que se esteja perante uma situação donde não possam surgir dúvidas sobre a actuação dolosa ou gravemente negligente da parte.

IV. DECISÃO:

Termos em que acordam os Juízes da Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto em (embora com diferente fundamentação) negar provimento ao agravo, mantendo a decisão recorrida.

Custas a cargo da agravante.

Porto, 09 de Março de 2006 Fernando Baptista Oliveira

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José Manuel Carvalho Ferraz

Nuno Ângelo Rainho Ataíde das Neves

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