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CONSTITUINDO-SE PROFESSOR(A): PERCURSOS, HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DOCENTES EM BENTO GONÇALVES,

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Academic year: 2021

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DOCENTES EM BENTO GONÇALVES, 1930 – 1960

Claudia Luci Scussel (UCS)1 RESUMO

Este texto apresenta uma pesquisa do Mestrado em Educação, que está em andamento. A pesquisa busca identificar, através de memórias e relatos autobiográficos, a possibilidade da existência da relação entre as experiências pedagógicas vivenciadas por um grupo de professores(as) do município de Bento Gonçalves, enquanto alunos(as) da década de 1930 a 1960, e a sua prática em sala de aula enquanto professores(as). Fundamentando o estudo nos referenciais da História Cultural e com a proposta metodológica da História Oral, pretende-se analisar as narrativas de histórias de vida como constituidoras de um ser/fazer docente.

Palavras-chave: Histórias de vida - Formação docente - Práticas educativas

1 Cercando o tema de estudo

Muito se tem debatido acerca da relação existente entre a concepção de educação, de ser humano e de sociedade, implícita ou explicitamente presente nas práticas educativas do professor, levando em consideração as mudanças políticas, sociais e econômicas vigentes em determinado período histórico. Contudo, para mim, tais questionamentos ainda hoje permanecem no plano das suposições, encorajando-me a buscar respostas capazes de evidenciar a relação entre o fazer do professor e as concepções subjacentes a esse fazer.

Dentro dessa perspectiva, me questiono como as práticas educativas vivenciadas por um pequeno grupo de professores(as) do município de Bento Gonçalves, enquanto alunos(as) da década de 1930 a 1960, influenciam ou influenciaram os seus fazeres pedagógicos de sala de aula, no momento em que se tornaram professores.

Na constituição do campo empírico, foram realizadas quatro pré-entrevistas com professores, sendo três mulheres e um homem, focando o olhar nas relações (manutenção ou transformação) entre as vivências escolares enquanto alunos e as práticas enquanto professores, analisando as narrativas de histórias de vida, enquanto constituidoras de um ser/fazer docente, bem como identificando a

1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Caxias do Sul.

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importância da formação continuada como elemento de transformação (ou não) do fazer docente dos professores pesquisados. Esses docentes nasceram nos anos de 1929, 1931, 1937 e 1945, e tiveram distintas trajetórias de formação. A partir dos relatos foi possível perceber que a escolha pelo magistério esteve atrelada a diferentes causas, quais sejam: forte influência da família, do grupo de amigas, a busca por uma profissão, e como sequencia dos estudos realizados na ordem religiosa.

O entendimento de como acontecem os fazeres docentes em sala de aula, reportando-se à trajetória de formação e nela as vivências experimentadas na posição de aluno, poderá provocar reflexões capazes de abrir espaços para que novas práticas sejam instituídas em substituição às reproduzidas, interferindo tanto na formação, quanto na qualificação docente, repercutindo nas dimensões sociais, econômicas e culturais em que o mesmo está inserido.

2 Bento Gonçalves – uma história da qual faço parte

Localizada na Serra Gaúcha, a 120 km de Porto Alegre, colonizada por imigrantes italianos, Bento Gonçalves possui até os dias atuais forte influência de seus colonizadores no que tange à língua, aos costumes e à cultura. Hoje, conhecida como a “Capital Nacional do Vinho” e um dos maiores polos moveleiros do sul do país, conta com uma população de mais de 100 mil habitantes.

Reportando-me à educação no município, encontro nos estudos de Caprara e Luchese (2005) que os imigrantes italianos que aqui se instalaram, em sua grande maioria, já eram alfabetizados. Mas o mesmo não aconteceu com seus filhos. Apesar do Regulamento de 1867 determinar a criação de instituições de ensino nas colônias, a maior parte dos filhos destes imigrantes, pela falta de escolas, por muito tempo não tiveram acesso à escrita e à leitura, ampliando, dessa forma, o analfabetismo.

Em decorrência do exposto acima, foram criadas algumas escolas comunitárias étnicas, subsidiadas pelo governo italiano, que enviou professores, livros didáticos e materiais de ensino. O pagamento dos docentes cabia aos pais dos alunos. Esse modelo de escola se extinguiu na década de 1920.

Com o avanço das iniciativas dos institutos religiosos, é fundada, em Monte Belo, no ano de 1898, a primeira escola confessional – Colégio Sagrada Família. Em

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1906, em Pinto Bandeira, cria-se o Colégio São José e, em 1915, com as Irmãs Scalabrinianas, o Colégio São Carlos, que, posteriormente, também recebeu as nominações de Ginásio Feminino Nossa Senhora Medianeira, Escola Normal Nossa Senhora Medianeira, e atualmente, Colégio Scalabriniano Nossa Senhora Medianeira.

Em Bento Gonçalves, na década de 1915, a rede de ensino era composta pelo Colégio Elementar, pelas Escolas públicas estaduais, Escolas subvencionadas pelo Estado, Escolas subvencionadas pelo município, bem como pelos Colégios religiosos e particulares.

Devido ao crescimento demográfico e ao desenvolvimento econômico da cidade, houve a necessidade de se pensar a criação de novos estabelecimentos de ensino, e, também, a formação do docente. Surge, então, em 1962, a Escola Normal Estadual de 2º Ciclo Cecília Meireles, hoje chamado Instituto Estadual de Educação Cecília Meireles.

Atualmente, o município de Bento Gonçalves conta com uma estrutura de 38 escolas municipais, 25 escolas estaduais, 05 escolas particulares e 05 Instituições de Ensino Superior.

3 Suportes teóricos e caminhos metodológicos

Ao propor um estudo vinculado à História da Educação é válido situar a partir de quais conceitos falo e quais suportes teóricos sustentam minhas análises. Busco fazê-lo trazendo presente Chartier (1990), Pesavento (2008), Halbwachs (2006), e Williams (2000), discorrendo sobre os conceitos de História Cultural e História Oral, memória e cultura. Além disso, cito Dewey (1978), Freire (1980, 1996), Larrosa (2002), os quais concebem educação como vida, inacabamento e experiência.

Acredito que, ao evocar o passado, representamos o mesmo, de modo a dar sentido ao experienciado e, assim, buscar compreender fatos e acontecimentos que marcaram a trajetória humana, dentro de um contexto histórico e cultural. Nesse sentido, usarei a metodologia de História Oral. Nas palavras de Lozano (2005, p. 17), “Fazer história oral significa, portanto, produzir conhecimentos históricos, científicos, e não simplesmente fazer um relato ordenado da vida e da experiência dos ‘outros’”.

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Mas como resgatar a experiência vivida? De que forma dar vida a ideias, pensamentos, atitudes que se fizeram presentes em um determinado momento histórico? Para tal, a História Cultural serve-se da narrativa, a qual possibilita, através de memória e relatos autobiográficos, reconstruir o vivido, levando em conta que cada narrador é sujeito de sua história, e, assim, a constrói dependendo das representações que atribui a sua realidade.

Para Chartier (1990, p. 17), “[...] a história cultural, tal como entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler. [...] supõe vários caminhos”.

Corrobora Pesavento (2003, p. 16), ao ressaltar que com a História Cultural considera-se a instância cultural e a produção de sentidos sobre o mundo construída pelos homens do passado, se passa a traduzir o mundo a partir da cultura, olhando para os fios, o tecer da trama histórica – um outro modo de fazer História. “[...] A presença da História Cultural assinala, pois, uma reinvenção do passado, reinvenção esta que se constrói na nossa contemporaneidade, em que o conjunto das ciências humanas encontra seus pressupostos em discussão”.

4 Considerações finais

Presentificar pessoas, imagens, momentos vivenciados, em outro tempo histórico, nos possibilita representar uma realidade da qual fizemos parte e que influenciou fortemente na construção do meu eu histórico. Nesse processo, o conceito de memórias e de identidades, entendidas no plural, uma vez que falamos de diversidade, se entrelaçam, pois de uma depende a construção da outra. Identidades que se fundamentam e se fortificam, enquanto construção imaginária de sentido, a partir das relações que são estabelecidas com o outro, num movimento cíclico entre alteridade, diferença, pertencimento a um determinado grupo e, vida.

Compreender a história de nossa vida requer uma busca do passado, de experiências permeadas por sentidos, as quais direcionaram nossas ações, decisões e posturas frente ao vivido. O resgate dessas experiências é possível através da narrativa. A narrativa de um acontecimento vivido passa a ter vida no momento em que é presenciado pelo entrevistado, sob o olhar atento do entrevistador. E então, quem faz a História? Entrevistado, entrevistador, enfim,

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pessoas comuns, cheias de sonhos, anseios, dúvidas, desafios diários, curiosidades e desejo de compreender a História como uma construção da humanidade, no social.

Como constatações iniciais, as pré-entrevistas indicam que os professores-sujeitos da pesquisa trouxeram para suas vidas muito do que foi vivenciado enquanto alunos. A disciplina aparece com uma conotação positiva, requisito fundamental na vida desses professores(as); a afetividade como um sentimento imprescindível na relação com os alunos, e o planejamento como algo determinante para o bom andamento da aula. Também é possível perceber, nas narrativas dos docentes, que sempre houve um professor que marcou sua trajetória escolar - as marcas positivas foram perpetuadas; as negativas, repensadas; porém, ambas permanecem presentes em suas memórias.

Dependendo do momento vivido, maneiras diferentes de ser e conviver se materializam. Isso não quer dizer que são melhores ou piores com relação a outros tempos, tampouco, que nos cabe firmar julgamento frente as práticas que permearam o processo de constituição de uma sociedade, mas que a partir do resgate das mesmas, nos é possível entender e contextualizar determinados comportamentos que influenciaram em posturas e novas formas de ver e entender a realidade que nos cerca.

REFERÊNCIAS

BENTO Gonçalves. Prefeitura de Bento Gonçalves. Disponível em: <www.bentogoncalves.rs.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2010.

CAPRARA, Bernardete Schiavo; LUCHESE, Terciane Ângela. Da Colônia Dona

Isabel ao Município de Bento Gonçalves – 1875 a 1930. Bento Gonçalves:

VISOGRAF; Porto Alegre: CORAG, 2005.

CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990.

DEWEY, John. Vida e educação. Tradução e estudo preliminar por Anísio S. Teixeira. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos; [Rio de Janeiro]: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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______. Pedagogia do Oprimido. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista

Brasileira de Educação, n. 19, jan./fev./mar./abr. 2002.

LOZANO, Jorge Eduardo Aceves. Práticas e estilos de pesquisa na história oral contemporânea. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína (coord.). Usos

& Abusos da História Oral. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005. p. 15-25.

PESAVENTO, Sandra Jatany. História & História Cultural. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

WILLIAMS, Raymond. Cultura. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

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