Introdução
à
Aquacultura
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Maria Teresa Dinis
Rui Miranda Rocha
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A
aquacultura
, como indústria, registou um desenvolvimento assinalável nos últimos
30 anos, ultrapassando em ritmo de crescimento todos os outros setores da
produção animal. Este crescimento só foi possível através da integração de
conheci-mento assente em desenvolviconheci-mentos científicos e tecnológicos.
Esta obra é uma ferramenta indispensável para estudantes e empreendedores, que
se estejam a iniciar na aquacultura ou que queiram atualizar os seus
conhecimen-tos, bem como para investigadores na área da aquacultura e áreas afins, que
procurem informação técnica fora da sua especialidade, preenchendo, assim, uma
lacuna no espaço editorial nacional.
Escrita de forma clara e assertiva e construída sobre a realidade da aquacultura
portuguesa
, é também relevante para muitas outras partes do mundo, em
particu-lar para a comunidade de países de língua portuguesa. Entre os temas abordados,
destacam-se:
• Conceito e história da aquacultura
• Aquacultura, ambiente e sociedade
• A água como meio de cultivo
• Infraestruturas de produção em aquacultura
• Sistemas de produção em aquacultura
• Gestão e maneio de reprodutores
• Cultivos auxiliares
Maria Teresa Dinis
Professora Emérita e Catedrática Aposentada da Universidade do Algarve, onde foi
Vice-Rei-tora para a Investigação e Inovação. Investigadora do Centro de Ciências do Mar (CCMAR).
Doutorada pela Universidade da Bretanha Ocidental em Brest (França). A sua atividade
profissional tem sido desenvolvida na área da aquacultura, quer a nível nacional, quer
inter-nacional, nas vertentes de investigação e estratégia. Em 2020, foi agraciada pelo Ministério
da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com a Medalha de Mérito Científico pela sua
contri-buição na área da aquacultura em Portugal.
Rui Miranda Rocha
Diretor de Operações e de Inovação e Desenvolvimento na empresa Riasearch. Professor
Auxiliar Convidado da Universidade de Aveiro e membro do Centro de Estudos do Ambiente e
do Mar (CESAM). Doutorado em Biologia e Biociências Aplicadas pela Universidade de Aveiro.
É autor de várias publicações científicas e tem participado em diversos projetos na área da
aquacultura, designadamente em projetos de cooperação para o desenvolvimento de
aqua-cultura comunitária, em países africanos de língua oficial portuguesa.
www .lidel.pt
Patrocinadores
C M Y CM MY CY CMY KI N T R O D U Ç Ã O
À AQUACULTURA
MARIA TERESA DINIS
RUI MIRANDA ROCHA
Lidel – edições técnicas, lda. www.lidel.pt
© L id el – E di çõ es T éc ni ca s
ÍNDICE
Autores
...VII
Prefácio
...IX
Luís Conceição e Jorge Dias
Siglas/Abreviaturas
...XI
CAPÍTULO 1
•
Conceito e História da Aquacultura
...1
1.1. Definição de aquacultura
...8
1.2. História da aquacultura
...9
CAPÍTULO 2
•
Aquacultura, Ambiente e Sociedade
...17
2.1. Sustentabilidade ambiental da aquacultura
...18
2.2. Intensificação da produção aquícola e impactes ambientais
...20
2.3. Impactes ambientais do cultivo de diferentes grupos
...23
2.3.1. Algas e plantas aquáticas
...24
2.3.2. Moluscos
...24
2.3.3. Crustáceos
...26
2.3.4. Peixes
...27
2.4. Qualidade da água
...28
2.5. Ecologia do bentos
...29
2.6. Localização das aquaculturas e os conflitos com outras atividades
...32
2.6.1. Conflitos na utilização de água e terra para aquacultura
...32
2.6.2. Efeitos dos efluentes
...33
2.6.3. Hipernutrificação e eutrofização
...34
2.7. Resumo
...36
CAPÍTULO 3
•
A Água como Meio de Cultivo
...37
3.1. Origem da água para aquacultura
...38
3.1.1. Água doce
...38
3.1.2. Água salgada
...42
3.2. Qualidade da água
...44
3.2.1. Parâmetros químicos
...45
3.2.1.1. Dureza e salinidade
...45
3.2.1.2. Oxigénio dissolvido
...48
3.2.1.3. Sobressaturação de gases na água de cultivo
...51
3.2.1.4. pH e alcalinidade
...56
IV
•
INTRODUÇÃO À AQUACULTURA
3.2.2 Parâmetros físicos
...68
3.2.2.1. Temperatura
...68
3.2.2.2. Turbidez e matérias em suspensão
...69
3.3. Resumo
...71
CAPÍTULO 4
•
Infraestruturas de Produção em Aquacultura
...73
4.1. Infraestruturas de produção em terra
...76
4.1.1. Tanques
...76
4.1.1.1.
Raceways
...78
4.1.1.2. Tanques circulares, retangulares e ovais
...80
4.1.1.3. Tanques escavados em terra
...81
4.1.1.4. Diques
...83
4.1.1.5. Esgoto
...88
4.1.2. Jaulas em águas interiores
...91
4.2. Infraestruturas de produção em zonas de entremarés
...92
4.2.1. Cultivo em parques
...94
4.2.2. Cultivo em estacas e em mesas
...94
4.3. Infraestruturas de produção em zonas costeiras e mar aberto
...96
4.3.1. Cultivos suspensos
...96
4.3.1.1. Cultivo em jangadas
...96
4.3.1.2. Cultivos em long-line
...97
4.3.1.3. Cultivo em jaulas
...99
4.4. Escolha do local e das espécies
...103
4.4.1. Escolha do local
...103
4.4.2. Escolha das espécies
...107
4.4.2.1. Aspetos biológicos
...109
4.4.2.2. Aspetos nutricionais
...110
4.4.2.3. Aspetos ambientais
...111
4.4.2.4. Aspetos patológicos
...111
4.4.2.5. Comercialização e valor de mercado
...111
4.5. Resumo
...113
CAPÍTULO 5
•
Sistemas de Produção em Aquacultura
...115
5.1. Regimes de produção em aquacultura
...116
5.2. Modelos de produção em aquacultura
...120
5.2.1. Sistemas fechados
...120
5.2.1.1. Aplicações práticas
...121
5.2.1.2. Tecnologia dos sistemas fechados
...122
© L id el – E di çõ es T éc ni ca s
ÍNDICE
•
V
5.2.3.
Sea ranching
...163
5.2.4. Aquacultura multitrófica integrada
...164
5.2.5. Aquaponia
...167
5.2.6. Mesocosmos
...173
5.2.7. Aquacultura comunitária
...174
5.3. Resumo
...178
CAPÍTULO 6
•
Gestão e Maneio de Reprodutores
...179
6.1. Gestão de reprodutores
...179
6.1.1. Requisitos biológicos das espécies
...180
6.1.1.1. Lotes de reprodutores
...183
6.1.1.2. Indução da reprodução por métodos não invasivos
...184
6.1.1.3. Indução da reprodução por métodos invasivos
...184
6.1.2. Infraestruturas para estabulação e manutenção de reprodutores
...184
6.1.2.1. Regime de operação do sistema
...185
6.1.2.2. Dimensionamento e configuração dos tanques
...187
6.1.2.3. Equipamentos técnicos
...191
6.2. Resumo
...192
CAPÍTULO 7
•
Cultivos Auxiliares
...193
7.1. Cultivo de microalgas
...194
7.1.1. As microalgas como cultivos auxiliares em aquacultura
...195
7.1.1.1. Critérios de seleção
...198
7.1.1.2. Valor nutricional
...198
7.1.1.3. Diâmetro celular
...200
7.1.2. As microalgas na produção de biomassa algal
...200
7.1.3. Condições físicas e químicas dos cultivos
...201
7.1.3.1. Meios de cultivo e nutrientes
...203
7.1.3.2. Luz e fotoperíodo
...203
7.1.3.3. pH
...204
7.1.3.4. Aeração
...205
7.1.3.5. Temperatura
...205
7.1.3.6. Salinidade
...206
7.1.4. Crescimento padrão de uma cultura
...206
7.1.4.1. Fases de crescimento de um cultivo
...207
7.1.4.2. Fatores limitantes no cultivo
...208
7.1.5. Métodos de cultivo de microalgas
...209
7.1.6. Protocolos de cultivo de microalgas
...212
VI
•
INTRODUÇÃO À AQUACULTURA
7.1.6.2. Protocolo para produção em médios e grandes volumes
...215
7.2. Cultivo de copépodes
...216
7.2.1. Características gerais
...216
7.2.1.1. Calanoides
...217
7.2.1.2. Harpacticoides
...218
7.2.1.3. Ciclopoides
...218
7.2.2. Reprodução e ciclo de vida dos copépodes
...218
7.2.3. Técnicas de cultivo
...220
7.2.3.1. Cultivo extensivo ao ar livre
...222
7.2.3.2. Cultivo intensivo
...223
7.3. Cultivo de rotíferos
...224
7.3.1. Morfologia
...224
7.3.2. Utilização em aquacultura
...225
7.3.3. Principais espécies e estirpes
...227
7.3.4. Ciclo de vida de Brachionus plicatilis
...228
7.3.5. Tecnologias de cultivo
...231
7.3.5.1. Condições físicas e químicas
...232
7.3.5.2. Conservação de estirpes
...234
7.3.5.3. Cultivo intensivo em pequenos volumes (cultivos intermédios)
...234
7.3.5.4. Cultivo intensivo em grandes volumes
...235
7.3.5.5. Alimentação de rotíferos nos cultivos em grandes volumes
...236
7.3.5.6. Fontes de contaminação
...238
7.3.5.7. Avaliação do estado de uma cultura
...239
7.3.5.8. Bioencapsulação
...240
7.4. Cultivo de artémia
...243
7.4.1. Considerações gerais
...243
7.4.2. Utilização em aquacultura
...244
7.4.3. Características abióticas
...246
7.4.4. Características bióticas
...247
7.4.5. Ciclo de vida
...248
7.4.5.1. Estádios larvares
...250
7.4.6. Tecnologia de cultivo
...251
7.4.6.1. Cistos
...251
7.4.6.2. Descapsulação dos cistos
...253
7.4.6.3. Incubação
...255
7.5. Resumo
...257
Bibliografia Recomendada
...259
© L id el – E di çõ es T éc ni ca s
AUTORES
Maria Teresa Dinis
Professora Emérita e Catedrática Aposentada da Universida‑
de do Algarve, onde foi Vice ‑Reitora para a Investigação e
Inovação (2006 ‑2009). Foi membro da Comissão Diretiva do
Centro de Ciência Viva do Algarve (1999 ‑2004) e do Board
of Directors da European Aquaculture Society (2010 ‑2014).
Membro fundador e, atualmente, Investigadora do Centro
de Ciências do Mar da Universidade do Algarve, Laboratório
Associado do Sistema Científico Nacional.
Fez o seu Doutoramento na Universidade da Bretanha Oci‑
dental em Brest (França), estudando a biologia e o cultivo de peixes planos. O princi‑
pal contributo científico da sua tese foi a descrição do desenvolvimento dos ovos e
larvas do linguado (Solea senegalensis).
Desde os anos 1980 tem coordenado e participado em numerosos projetos nacio‑
nais e internacionais na área da piscicultura marinha e efetuado estudos pioneiros
na área das novas espécies para a aquacultura mediterrânica. Colabora ativamente
com universidades e institutos em muitos países europeus e tem experiência aca‑
démica a nível internacional em países asiáticos (Vietname) e africanos (Cabo Verde,
Namíbia e Seychelles). Publicou mais de 200 artigos científicos em revistas indexa‑
das, dos quais 6 capítulos de livros.
Avaliadora da Fundação para a Ciência e Tecnologia na área das Ciências do Mar.
Perita da Agência de Inovação (ANI), desde 2008, em numerosos programas no
âmbito da ANI e da Direção Geral dos Recursos do Mar, de outros organismos inter‑
nacionais, como o Norwegian Research Council, CzechScience (República Checa),
FWO (Research Foundation Flanders), BARD Program (Cooperação Texas e Israel),
ANEP (Ministério da Ciência e Inovação de Espanha) e da Comissão Europeia.
Nos últimos anos tem dado o seu contributo em grupos de trabalho envolvidos na
definição de uma estratégia para o desenvolvimento da aquacultura em Portugal e
coordenado equipas envolvidas na avaliação dos Planos Operacionais. Fez parte das
equipas que realizaram estudos relativos à definição de estratégias para a área do
mar, para a Região Autónoma da Madeira e países da lusofonia (Cabo Verde, Angola
e Moçambique).
Em 2020, foi agraciada pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com
a Medalha de Mérito Científico pela sua contribuição na área da aquacultura em
Portugal.
Crédito da fotografia: Ciência Viva/ /Mulheres na Ciência
VIII
•
INTRODUÇÃO À AQUACULTURA
Rui Miranda Rocha
Atualmente é Diretor de Operações e de Inovação e Desen‑
volvimento na empresa Riasearch e Professor Auxiliar Con‑
vidado no departamento de Biologia da Universidade de
Aveiro. É membro do Centro de Estudos do Ambiente e do
Mar (CESAM), Laboratório Associado da Universidade de
Aveiro.
Em 2002, licenciou ‑se em Biologia Marinha e Pescas, ramo
Pescas, opção Aquacultura, pela Universidade do Algarve.
Realizou a sua tese de licenciatura na Universidade de Wageningen, Países Baixos,
em 2001, tendo estudado os processos de nitrificação em filtros biológicos aplica‑
dos ao cultivo de peixe ‑gato africano em sistemas fechados. Concluiu o seu dou‑
toramento, em 2013, na Universidade de Aveiro, estudando o efeito da iluminação
no cultivo ex situ de corais tropicais fotossintéticos.
Entre 2002 e 2005 foi técnico no grupo de investigação em aquacultura do Centro
de Ciências do Mar da Universidade do Algarve. Posteriormente e até ao início do
seu doutoramento, trabalhou no setor privado, ligado ao cultivo e comércio de
organismos ornamentais marinhos.
Após a conclusão do seu doutoramento, tem desenvolvido atividade científica
através da orientação de diversos alunos de licenciatura, mestrado e doutoramen‑
to e da participação em diversos projetos financiados por fundos internacionais,
na área da aquacultura, bem como em projetos de cooperação para desenvolvi‑
mento da aquacultura comunitária em países africanos de língua oficial portugue‑
sa. Participou na autoria de várias publicações científicas, mais de cinquenta arti‑
gos em revistas indexadas e diversas comunicações orais em reuniões científicas
internacionais.
Colabora ativamente com universidades e institutos em diversos países europeus
e em países da lusofonia (Brasil, Moçambique, Angola e São Tomé e Príncipe).
© L id el – E di çõ es T éc ni ca s
PREFÁCIO
A aquacultura é uma indústria com um crescimento impressionante nos últimos 30
anos, ultrapassando em ritmo de crescimento todos os outros setores da produção
animal. Mais importante do que isso, tornou ‑se um complemento fundamental à
atividade da pesca para fornecer produtos aquáticos de alto valor nutricional, que
permitem uma dieta mais saudável para a humanidade, e contribuem para assegu‑
rar a segurança alimentar desta. Este rápido crescimento da indústria da aquacultura
só foi possível com a constante integração de conhecimento. Este conhecimento
assenta em desenvolvimentos científicos e tecnológicos que resultam do esforço
de muitos investigadores entusiastas, um pouco por todo o mundo e em que pon‑
tificam, em Portugal, os autores deste livro. Estes dois investigadores representam
as suas gerações e a excelência da investigação em aquacultura e das suas bases
biológicas, sendo que em Portugal há muitos e bons especialistas em várias áreas
científicas da aquacultura.
Os autores cobrem de forma muito assertiva o estado da arte e os desafios com
que se depara a aquacultura enquanto indústria moderna, entre eles os de encon‑
trar para cada sistema de produção o equilíbrio que garanta simultaneamente a
sustentabilidade ambiental, social e económica. O livro começa por enquadrar a
aquacultura enquanto atividade, definindo a aquacultura e os seus diferentes tipos
e importância e faz uma interessante resenha sobre a história desta atividade eco‑
nómica no mundo e em Portugal. Depois aborda as consequências da intensifica‑
ção da produção aquícola e os seus impactes ambientais, incluindo a questão da
localização das aquaculturas e os potenciais conflitos com outras atividades. A sus‑
tentabilidade ambiental da aquacultura, passa por conhecer a água como meio de
cultivo e identificar de forma crítica as várias vertentes da exploração aquícola que
podem afetar a qualidade da água, e que medidas de monitorização e mitigação
podem ser adotadas. A grande variedade de organismos produzidos em aquacultu‑
ra é descrita e os tipos muito diferentes de infraestruturas e soluções técnicas para
a produção em terra, em tanques, tanques escavados, zonas lagunares e entrema‑
rés, cultivos suspensos ou em jangadas em mar aberto são caracterizados. Os cri‑
térios a ter na escolha do local e as espécies a cultivar também são detalhados. Os
diferentes regimes de produção em aquacultura são descritos, desde a aquacultura
de subsistência, importante para garantir o aporte de proteína e outros nutrientes
para muitas populações com uma frágil segurança alimentar, até aos vários graus
de intensificação da aquacultura industrial. São apresentadas aplicações práticas de
sistemas de produção em aquacultura, incluindo tecnologia de tratamento de água
dos sistemas fechados, e seus mecanismos de controlo e automação. As vantagens e
X
•
INTRODUÇÃO À AQUACULTURA
constrangimentos da aquacultura em zonas com limitações de água, de aquacultura
multitrófica integrada, de aquaponia, de sea ranching e de aquacultura comunitária
são também descritas. Há ainda capítulos dedicados às questões críticas para o cul‑
tivo de muitas espécies, como são a gestão e maneio de reprodutores e os cultivos
auxiliares de alimento vivo.
Em resumo, este livro é uma ferramenta indispensável para estudantes e empreen‑
dedores que se estejam a iniciar na aquacultura, bem como para investigadores na
área da aquacultura e áreas afins, que procurem conhecimentos fora da sua espe‑
cialidade. Um grande obrigado aos autores por cobrirem a lacuna que havia na
área no espaço editorial nacional, com uma obra construída sobre a realidade da
aquacultura portuguesa, mas seguramente também relevante para muitas outras
partes do mundo. E que sirva de inspiração a novas gerações de investigadores e
empreendedores em Portugal e nos outros países de língua oficial portuguesa, con‑
tribuindo para concretizar o potencial, muitas vezes adiado, desta indústria que fará
certamente parte integrante de um futuro sustentável.
Luís Conceição
Sócio‑gerente da empresa SPAROS, Lda., e investigador em nutrição de peixes. Licen‑
ciado em Ciências do Meio Aquático pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Sala‑
zar ‑ Universidade do Porto, mestre e doutorado pela Universidade de Wageningen
(Países Baixos). Foi investigador no SINTEF (Noruega) e no Centro de Ciências do Mar
(Portugal).
Jorge Dias
Sócio‑gerente da empresa SPAROS, Lda., e investigador em nutrição de peixes. Licencia‑
do em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve, DEA pela Universidade
de Bordéus (França) e doutorado pelas Universidades do Porto e de Bordéus. Foi inves‑
tigador no INRA‑IFREMER e DSM Nutritional Products (França) e no Centro de Ciências
do Mar (Portugal).
CAPÍTULO
1
CONCEITO E HISTÓRIA DA
AQUACULTURA
Na história da humanidade, o homem subsistiu como coletor dos recursos
naturais disponíveis até ao período neolítico. A pesca desenvolveu‑se como
parte dessa atividade de subsistência e foi objeto de importantes aperfeiçoa‑
mentos, sobretudo no que diz respeito aos métodos de captura. Em conse‑
quência, essa produção aumentou rapidamente, devido ao incremento do
esforço de esforço de pesca
1, resultante de maiores e mais eficientes frotas
pesqueiras. Contudo, a gestão dos recursos explorados não foi, ao longo de
todo este processo, a mais adequada, devido, por um lado, a um deficien‑
te conhecimento da biologia das espécies exploradas e, por outro, a uma
ausência de estatísticas corretas relativas aos montantes capturados.
Ao longo dos tempos, a nossa sociedade tem desenvolvido uma dependên‑
cia do cultivo de animais e plantas. Inicialmente, nas sociedades nómadas,
os alimentos (animais ou plantas) eram procurados e recolhidos nas zonas
onde eram mais abundantes, mas posteriormente, e ao longo dos séculos,
o Homem tem adotado formas de cultivo e de pastorícia com o fim de con‑
trolar e estabilizar a produção em função das necessidades e do aumento da
procura, resultante do aumento demográfico. Por razões várias, esta estra‑
tégia tem tido uma resposta lenta no que se refere aos recursos aquáticos.
1
O esforço de pesca é uma estimativa da captura máxima sustentável de um recurso pesqueiro. Pode ser
obtido através da quantificação do equipamento de pesca utilizado numa área, durante uma determinada
unidade de tempo (por exemplo, horas de arrasto por dia, número de anzóis utilizados em determinada
área por semana ou número de lanços de uma rede de cerco por mês).
© L id el – E di çõ es T éc ni ca s, L da .
2
•
INTRODUÇÃO À AQUACULTURA
Assim, verifica‑se que, no que diz respeito à agricultura e à pecuária, o
aumento da produção baseou‑se em melhorias dos métodos de produção
e na adoção de novas tecnologias. No entanto, relativamente aos recursos
aquáticos, o incremento da produção baseou‑se apenas no aumento da efi‑
ciência das capturas e na exploração de novos recursos. Por outro lado, o
facto de os oceanos terem sido considerados de livre acesso, independente‑
mente da capacidade dos seus recursos, contribuiu para os efeitos negativos
na regeneração desses mesmos recursos.
Ao não terem sido equacionadas as alterações ambientais, como consequência
da industrialização e das alterações climáticas, e o aumento da exploração de
novos recursos, com o objetivo de manter os níveis da pesca face ao aumento
da procura por parte da população mundial sempre crescente, muitas espécies
foram afetadas quanto à sua sobrevivência como recurso e outras acabaram
mesmo por ser extintas devido à sobrepesca. No entanto, há atualmente a
consciência de que a produção oriunda da pesca atingiu o seu máximo explo‑
rável, não se prevendo, por isso, um aumento nos próximos anos.
Na verdade, desde 1985 a produção mundial da pesca tem‑se estabiliza‑
do entre 80‑85 milhões de toneladas. No entanto, algumas espécies ditas
“nobres”, isto é, de elevado valor comercial, como algumas espécies de crus‑
táceos (por exemplo, lagostas e camarões) e peixes (por exemplo, salmão,
robalo ou dourada), que atingiram o seu máximo de captura, continuam a
ser muito pretendidas a nível dos mercados, por isso tem‑se assistido a um
esforço importante no desenvolvimento tecnológico aplicado ao seu cultivo.
Os resultados desse investimento têm‑se refletido num aumento gradual da
produção em aquacultura, tendo atingido 49% do total do pescado consu‑
mido a nível mundial em 2016 (Figura 1.1).
É preciso ter a noção de que a flora e a fauna aquáticas não são um reservató‑
rio inesgotável posto à disposição da humanidade, e que a sobre‑exploração
dos recursos aquáticos, que se desenvolveu a partir de 1960, subestimou o
CONCEITO E HISTÓRIA DA AQUACULTURA
•
3
© L id el – E di çõ es T éc ni ca sfacto de esses recursos estarem já afetados pela poluição de origem indus‑
trial e urbana, contribuindo, assim, para a situação atual, em que se promove
mais a gestão de recursos do que a sua exploração. Assim, as pescas lacustres
e fluviais só podem manter‑se através de uma proteção restrita ligada a cus‑
tosos repovoamentos, e no caso da pesca marítima, foi necessário o estabe‑
lecimento de quotas, a fim de limitar as capturas de numerosas espécies nos
setores mais explorados.
180
160
140
120
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80
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1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2016
Milhões de toneladas
Anos
Produção - aquacultura Captura - pesca180
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Milhões de toneladas
Anos
Produção - aquacultura Captura - pesca180
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M
ilhões de t
oneladas
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
2016
Anos
Figura 1.1
•
Estatísticas mundiais de captura e produção de pescado, FAO
2, 2016.
Nos anos mais recentes, tem‑se assistido a um desvio das dietas alimenta‑
res a nível mundial, no sentido de um aumento do consumo de produtos
AQUACULTURA, AMBIENTE E SOCIEDADE
•
21
© L id el – E di çõ es T éc ni ca sdoenças provocadas por vírus, e para as quais não existem vacinas, é neces‑
sário recorrer à utilização de fármacos, que têm impactes ambientais, os
quais são fonte de alguma preocupação, face às consequências negativas
que possam ter no meio ambiente.
Introdução de espécies exóticas
Utilização de fármacos: antibióticos, anestésicos ou pigmentos
Utilização de substâncias antivegetativas para
controlo de algas nas jaulas Utilização de peixes selvagens para farinhas e óleos para incorporar em rações
Fuga de espécies não nativas Cultivo de organismos geneticamente modificados Incubação de patógenos Introdução de novos agentes patogénicos
Acumulação de restos de ração e produtos de excreção