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LA REINVENCIÓN DE LA ESCUELA EN TIEMPOS DIFÍCILES A REINVENÇÃO DA ESCOLA EM TEMPOS DIFÍCEIS

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LA REINVENCIÓN DE LA ESCUELA EN TIEMPOS DIFÍCILES A REINVENÇÃO DA ESCOLA EM TEMPOS DIFÍCEIS

Antonio Luiz Caldas Junior1 UNESP Botucatu Estado de São Paulo Brasil

Maria do Carmo Caldas Leite2 UNISANTOS Estado de São Paulo Brasil

Simposio: Formación integral de niños, adolescentes y jóvenes. la prevención y mitigación de multirriesgos de desastres naturales, tecnológicos y sanitarios.

RESUMEN

Este artículo parte de aspectos generales de la amenaza sanitaria, tratada como pandemia, que provocó un cambio inusual en la forma de vida de las personas, abordando la cuestión de la suspensión de actividades presenciales debido al Covid-19, la “desmaterialización” de la escuela y los diversos impactos de esta coyuntura en la Educación. Ante este escenario, se profundizan temas relacionados al tensionamiento de los espacios y tiempos familiares en la pandemia, la garantía de un posible aprendizaje para los estudiantes, la diversidad de las realidades sociales y la situación de los docentes, dentro de los límites de las relaciones capitalistas, vinculadas a las causas socioemocionales involucradas en el proceso de aislamiento. Se trata de una revisión de la literatura del tipo scoping review, valiéndose de distintas bases de datos. Al plantear los vectores saludables para enfrentar esta realidad, buscando respuestas a problemas, reflexionamos sobre las posibilidades de cambios pospandémicos, en el desarrollo de la oferta en las redes educativas, en medio de la recesión económica, cuando ciertamente los espacios de enseñanza serán reconfigurados.

Palabras llave: Covid-19; Pandemia; Desastre sanitario; Educación; Aislamiento.

RESUMO

Neste artigo parte-se de aspectos gerais da ameaça sanitária, tratada como pandemia, que conduziu a uma inusitada mudança no modo de viver das pessoas, tocando na questão

1 Médico, Professor Doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) caldasbt@uol.com.br 2 Professora Titular de Física da Universidade Católica de Santos, Mestre e Doutoranda em Educação pela UNISANTOS.marialcl@unisantos.br.

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da suspensão das atividades presenciais em razão do Covid-19, da “desmaterialização” da escola e nos impactos diversos dessa conjuntura na Educação. Neste cenário, profundam-se, de forma específica, as questões ligadas ao tensionamento dos espaços e tempos familiares na pandemia, à garantia das possíveis aprendizagens aos alunos, às diversidades das realidades sociais e à situação de professores. nos limites das relações capitalistas, vinculadas às causas socioemocionais envolvidos no processo de isolamento. Trata-se de uma revisão de literatura do tipo scoping review, valendo-se de distintas bases de dados. Ao levantar os vetores saudáveis no enfrentamento dessa realidade, buscando respostas aos problemas, pondera-se sobre as possibilidades de mudanças pós-pandemia, no desenvolvimento da oferta nas redes educacionais, em meio à recessão econômica, quando certamente os espaços do ensino estarão reconfigurados.

Palavras-chave: Covid-19; Pandemia; Desastre sanitário; Educação; Isolamento.

INTRODUÇÃO

Una importante especie biológica está en riesgo de desaparecer por la rápida y progresiva liquidación de sus condiciones naturales de vida: el hombre.

(FIDEL CASTRO, Eco-Rio 1992)

Em princípio de 2020, o mundo foi tomado por notícias controversas sobre um surto de síndrome respiratória aguda grave, que se disseminava em Wuhan, na China. Era produzida por um coronavírus, afetando pessoas de todas idades e condições sociais. Embora a maioria dos casos ocorresse de forma assintomática ou leve, cursava de maneira severa e alta letalidade em idosos e indivíduos com algumas comorbidades. Ao contrário, em crianças e jovens patogenicidade e letalidade, embora não desprezíveis, eram muito baixas (algo, em torno de 0,1 a 0,3%). Sua alta transmissibilidade, por via respiratória (gotículas) ou objetos contaminados, aliada a ausência de tratamento específico ou vacina, apontavam para uma rigorosa estratégia de prevenção primária, que impedisse que as fontes de infecção pudessem transmitir o vírus (Sars-CoV-2) a indivíduos susceptíveis, fossem eles os de alto risco de morte (idosos), fossem aqueles responsáveis pela alta prevalência e disseminação (jovens).

Rapidamente, em todo mundo, esta ameaça sanitária, tratada como pandemia, conduziu a uma inusitada mudança no modo de viver das pessoas, em meio ao extremo e estranho medo de um vírus desconhecido. Extremo em sua intensidade, estranho porque a maioria das pessoas e da própria ciência tinha mais dúvidas do que certezas sobre este inimigo invisível, quase “imaterial”. Atividades comerciais e de serviços foram encerradas, à exceção

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de algumas consideradas essenciais (alimentos, combustíveis, bancos, por exemplo). A maioria das pessoas pôs-se em isolamento voluntário, ou compulsório, em suas moradias dependendo do país, com a ruptura das relações familiares e de amizade presenciais: a atomização da vida privada. Em muitos países, medidas de proteção social e de caráter econômico foram adotadas para mitigar os efeitos da crise. Prontamente foram instaladas estratégias de serviços adequadas à nova situação: o delivery, o home office e o homeschooling, especialmente para as classes médias e alta, como alternativas de permanência das famílias em casa.

No Brasil, estes movimentos aconteciam sob o cenário da ausência de um plano consistente e coerente de enfrentamento da pandemia de amplitude nacional. Na verdade, os mandatários maiores do país embarcaram nas ondas “negacionistas” que vagavam pelo mundo, incluindo, principalmente, a minimização da relevância e gravidade da doença, a oferta de “tratamento fácil”, o desdém pelas medidas de prevenção e, mais recentemente, o confronto às estratégias de vacinação em massa. Isto resultou em graves debilidades nas políticas de enfrentamento da Pandemia e de suas consequências econômicas e sociais, inclusive na esfera da Educação. Tal cenário, em um país de marcantes desigualdades sociais e territoriais, e vulnerabilidades de classe, etnia e de gênero, não poderia ter resultado outro do que colocá-lo no topo negativo dos indicadores epidemiológicos e de serviços prestados à população, salvo exceções decorrentes das ações de governos estaduais e municipais (MANIFESTO, 2020).

Em março de 2020, em consonância com o estado geral de quarentena, creches (círculos infantis) e outros centros educacionais brasileiros de educação infantil (pré-escola), ensino fundamental, médio e superior (universidades) suspenderam suas atividades presenciais. Isto em um país em que a educação, de grande capilaridade em seus níveis fundamentais, é marcada por profundas desigualdades de qualidade, organizativas e operacionais, com sistema públicos e privados díspares. E, apesar disso, a suspensão de todas atividades educacionais presenciais não se fez acompanhar pela elaboração oficial de estratégias de superação das consequências pedagógicas e sociais advindas. O que prevaleceu foram medidas majoritariamente improvisadas, a critério dos governos federados e das mantenedoras de instituições privadas. Aquilo que popularmente se convencionou chamar de “cada um para si!”

O interrogante que as instituições educadoras – famílias e escolas -, passaram a vivenciar passou a ser o cotidiano e, em meio a ele, o desenvolvimento das crianças, adolescentes e adultos. O que fazer? Primeiramente tratou-se de superar o estranhamento ao

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universo, que exige novas relações de comunicação, além do domínio das expressões tais como: lives, web meet, chat, podcast, entre outras, além de competências para promoção de aprendizagem apropriadas a este novo ambiente virtual ou on-line.

Mais que isso, a prolongada quarentena evidenciou novos espaços e tempos reinventados, onde foram colocados em cena as hierarquias e as formas de controle, assim como o acirramento das desigualdades e carências sociais crônicas, como a privação de espaços relativamente seguros e organizados de convivência com outras crianças e jovens, até a fome e insegurança alimentar em situações de pobreza. Ao confinamento e distanciamento da escola, se associam situações de sofrimento emocional e, infelizmente, de exposição a violências domésticas de natureza variada.

As dinâmicas do dia a dia, imprevisíveis e angustiantes, foram se configurando, criativamente reinventadas nos limites entre a acomodação e a criação de novos contornos de existência, onde, em meio às inquietações dos câmbios climáticos, da destruição da natureza, das ameaças de escassez dos bens comuns como água e ar de qualidade, o agente da covid-19, o Sars-CoV-2 ou, simplesmente, coronavírus, passou a ser o inimigo mais próximo.

Desta forma, tomando como pressuposto a relação dialética entre estratégias e táticas, como nos diria o escritor Mario Benedetti, procuramos, em uma primeira dimensão, contextualizar os desdobramentos e as consequências da pandemia no Brasil; em um segundo momento, as alterações impostas na relação entre escolas e famílias com as tecnologias e processos de ensinar e de aprender; para, finalmente, expressar de que forma as relações capitalistas incidem no quadro pandêmico. Entendemos que, em conjunto, essas extensões trazem elementos de discussão ao que parece ser o marco de uma singularidade sem antecedentes, do presente de dificuldades e dos interrogantes do futuro. Seguramente, outras dimensões poderiam ser abordadas, mas escolhemos aqui, para focalizar de maneira resumida, o cenário de enfrentamento à covid-19 no Brasil e a reflexão daquilo que, em meio à pandemia, se apresenta como desafios e possibilidades no campo educativo.

O TENSIONAMENTO DOS ESPAÇOS E TEMPOS FAMILIARES NA PANDEMIA

Os tempos escolares são estratégias advindas da universalização da escola para as massas populares, que demarcam a rotina da vida de crianças, jovens e adultos, em espaços específicos e limitadores. Repentinamente, porém, ocorreu o afastamento de milhões de estudantes dos ambientes físicos escolares, aqui tratados simplesmente como “escolas”: prédios vazios, sem a presença de seus atores essenciais: alunos e professores. A ruptura

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daquilo que sempre pareceu ser o essencial da atividade ensino-aprendizagem, a relação direta entre educador e educando, além das demais relações interpessoais bi ou multilaterais entre professores, alunos, pais e comunidades. Algo, até então inimaginável, se passava.

De um dia para o outro, a casa do professor foi transformada em “escola”; na verdade, uma rede de “unidades escolares celulares”, milhões de pequenas células, articuladas, conectadas e hierarquizadas, com todas as exigências físicas e comunicacionais decorrentes: mobiliário, equipamentos de informática, como computadores, câmeras, microfones e outros. Tudo isso a exigir habilidades operacionais, metodológicas e pedagógicas inusitadas.

A outra parte da escola foi, por assim dizer, para a casa dos alunos. Ou seja, a experiência de aprendizagem passou a ser feita no ambiente onde ele, o aluno, habitualmente se abrigava, para fruir, principal ou exclusivamente, suas horas de repouso, alimentação, lazer e contato com os meios de comunicação, em especial a televisão e, na maioria dos casos, interfaces computacionais. Estes espaços e rotinas, que o confinamento decorrente da quarentena em si já havia transmutado, viram-se convertidos em “ambientes escolares”, muitas vezes articulados com outra novidade, qual seja, o trabalho em home office, a prestação de serviços fora de suas dependências habituais, com o emprego de tecnologias de informação.

O desafio era, portanto, dialeticamente manter e reorganizar novas e velhas rotinas, preservando um espaço privativo para as atividades escolares à distância, para as aulas on-line para o estudo individual, mesclada rotinas e com a convivência íntima com as pessoas presentes no “ambiente escolar doméstico”.

Na medida que foram fechados os ambientes escolares usuais (escolas) e as atividades remotas passaram a envolver o dinamismo das casas, as “táticas educacionais” se viram transferidas de forma acentuada às famílias, especialmente aos pais, que passaram a se ver envolvidos, diária e diretamente, em atividades de ensino-aprendizagem, principalmente na educação infantil e no ensino fundamental, onde os pequenos alunos demandam maior apoio de um “orientador”. Esta sobrecarga, afetou especialmente as mulheres a quem são atribuídas, numa sociedade patriarcal e machista como a brasileira, os chamados “afazeres domésticos”, mesmo àquelas com jornadas de trabalho profissional extensas e agora, em tempos de quarentena, executados muitas vezes em home office.

Se, nestes tempos adversos, professores foram colocados diante de novos desafios pedagógicos, é de se imaginar os desafios impostos aos pais que, ao contrário dos primeiros, sequer tiveram a preparação formal para tanto. Afinal, ser professor não é um “estado de

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espírito”, mas sim uma profissão e como tal é precedida de formação específica e prolongada. Em decorrência disto, a maior parte do tempo dedicado à educação era administrada pela escola, em um ambiente próprio e restrito. Agora, é a família quem deve administrar a maior parte do que a criança ou o jovem, está fazendo, pensando, vendo, ouvindo, e a suas necessidades em geral, deve atender uma parte relevante das necessidades pedagógicas.

A relação do conhecimento com a aprendizagem, assim como o manuseio de tecnologias de informação, acabaram forçando a adaptação a uma nova realidade das casas. Estas passam a ser o cenário onde tudo acontece, muitas vezes sem qualquer condição de repensar os lugares para as crianças brincarem e estudarem, com as fronteiras fechadas, sob o controle dos adultos. O comer, o dormir e o falar ocorrem em limites demarcados, podendo transformarem o cotidiano em algo difícil para todos, quando não fora de controle. Pais procurando formas de trabalhar, cozinhar, limpar e fazer “homeschooling”, fora do lugar institucionalizado. Com a quarentena, a compulsão às novas relações em isolamento, impostas a todos, fez brotar novas relações e de reavaliar os marcos sociais tão legitimados, tais como a família e a escola. Toda esta situação evidenciou as brutais desigualdades e diferenças sociais no Brasil, que se refletiram na educação e no progresso dos estudantes durante a etapa de ensino remoto, do qual muitos foram excluídos, por falta de acesso aos meios tecnológicos. No momento atual, muitas escolas, públicas e privadas, exageram as expectativas do que os responsáveis conseguem fazer. Há diferenças substanciais entre as famílias, pois muitos necessitam trabalhar externamente para garantir a renda mensal e inúmeras questões devem ser levadas em conta quanto ao papel dos pais em tempos de pandemia.

TRABALHO DOCENTE E TECNOLOGIAS DE ENSINO A DISTÂNCIA NOS LIMITES DAS RELAÇÕES CAPITALISTAS

A crise do coronavírus ofereceu uma oportunidade urgente de experimentação das novas maneiras de fazer as coisas. Há anos que pesquisadores expressam o desejo de incrementar os processos digitais e a revolução na informática no âmbito da educação. Esta incorporação tecnológica e pedagógica, tendo como exemplo o ensino à distância, que vinha se construída há décadas, foi atropelada pela pandemia.

Com a “desmaterialização” da escola e seus espaços de socialização, alunos e professores passaram a conviver num novo espaço/tempo de ensino. No Brasil, mais de 54 milhões de estudantes (da educação infantil ao ensino superior), tiveram suas rotinas alteradas

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em virtude da pandemia, segundo dados dos governos estaduais. Entretanto, dos 5.570 municípios brasileiros, pouco mais de 1.500 não têm pleno acesso à internet.

A intenção inicial foi de que o ensino remoto empregasse a tecnologia para mediar a relações pedagógicas, principalmente através das redes virtuais e plataformas digitais. Sem um levantamento preciso do número de alunos excluídos por estas medidas, a organização curricular e seu desenvolvimento, supostamente, seguiram os pressupostos do ensino presencial. Desta forma, em tempo real, por meios remotos, professores, de todos níveis de ensino, passaram a interagir com os alunos para o desenvolvimento das aulas, em processo que determinou a acelerada ressignificação da sala de aula. Em substituição às aulas presenciais, as escolas passaram cumprir o calendário escolar anual com classes remotas e

lives. Os mais diferentes conteúdos foram assim abordados e disseminados, incluindo-se

apresentações artísticas e a educação física, visando elevar conectividade e a rápida implementação de novas modalidades de ensino. Era imperativa, portanto, a preparação dos professores e gestores de escola para o domínio das ferramentas que exigem uma postura pedagógica distinta da habitual. Não houve, porém, uma preparação material e de habilidades para isso: nem professores, nem alunos, nem família, tendo isso se passado em momento de muitas adversidades decorrentes da própria pandemia.

Ademais, tudo isso esbarrou no acesso limitado à internet, sobretudo em extratos societários de baixa renda. Destarte, professores passaram a realizar suas tarefas de forma imprevista, por meio tecnológicos e plataformas digitais, sem terem recebido condições materiais e prescrições mínimas para tal. Esta exigência obrigou os profissionais subitamente a se acomodarem à nova modalidade de ensino e de trabalho, tendo que reinventar o próprio espaço doméstico. Em termos reais, essa relação precarizada de trabalho, que não é exclusiva da pandemia, segundo Druck (2011), contribui para a ‘desprofissionalização docente’, porque incluiu a possibilidade de contratos de pessoal sem qualificação específica para ministrar aulas. Ademais, todos os custos relacionados às condições materiais de trabalho, como equipamentos e sua manutenção, passaram a correr por conta dos sujeitos do processo educativo, sejam pais e alunos, sejam professores.

Na perspectiva de Antunes (2018) e de muitos pesquisadores do campo progressista, ao capitalismo convém transferir para o trabalhador despesas que antes eram de atribuição exclusiva de patrões. Os novos procedimentos do trabalho remoto contribuíram para ratificar a lógica dos conglomerados de ensino privado de baixo custo econômico, por meio da combinação entre a utilização abusiva das tecnologias da informação e a redução do quadro de professores. De acordo com Andrade (2020), observa-se assim a contenção de despesas

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com o trabalho presencial. Parece acertado afirmar que se trata de uma complexa configuração do trabalho que se aprofunda no contexto de pandemia e faz uso exacerbado da tecnologia, articulando novos modos de controle.

No Brasil, a política necroliberal, imposta pelo atual governo federal ignora as consequências trágicas da pandemia, que afeta radicalmente as esferas econômicas, políticas, administrativas, sociais e, em especial, as educacionais. Como consequência, a educação, inclusive a universitária pública, tem sido atacada com cortes constantes de verbas (PONTES, 2020 e INSTITUTO UNIBANCO, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pandemia avança em uma denominada “segunda onda”, tendo como nova alternativa de enfrentamento, além das mencionadas inicialmente, a ampla vacinação das populações. Esta expectativa, que em muitos países se traduz em momentos planejados, mergulha em um quadro de provisoriedade e imprevisibilidade em outros países, como é o caso destacado do Brasil, onde os governantes sequer tomaram as medidas para garantir vacinas e insumos necessários à imunização em massa.

No Brasil, vive-se uma situação paradoxal, de afrouxamento das medidas preventivas, a despeito da intensa ascensão de casos e mortes por Covid-19. Atividades, mesmo as de lazer, as supérfluas, como reuniões de familiares e de amigos, frequência a bares e atividades desportivas, foram sendo retomadas, com maior ou menor observância das normas sanitárias. Mas as escolas, como regra, permaneceram fechadas, embora, sabidamente, “desempenhem papel secundário na transmissão do SARS-CoV-2, desde que adotadas as medidas de prevenção indicadas” (MANIFESTO, 2020). Tal perspectiva fez com que nesta nova ascensão da pandemia, muitos países tenham preservado a educação presencial e a (com)vivência escolar, reforçando as medidas profiláticas da infecção.

Como a educação emergirá no pós-pandemia? No estágio de avanço da covid-19 configura-se, quase como consenso, que o futuro demandará uma nova normalidade. A quarentena estendida introduziu um dinamismo entre estratégias e táticas, que movimentam probabilidades de criação, em que as ameaças se mesclam com as promessas aplicadas em benefício de todos. Quando as escolas reabrirem, o que já começou a ocorrer em diversos países e algumas poucas regiões do Brasil, em meio a recessão econômica, certamente os espaços do ensino estarão reconfigurados.

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No entendimento deste exercício reflexivo, não é possível perder de vista que a duração prolongada do confinamento, a falta do contato pessoal, o receio de ser infectado, a carência de espaços domiciliares e a falta de merenda para os alunos de famílias com baixa renda afetou a saúde física e mental de parte dos estudantes brasileiros e de suas famílias. Estimular a volta das relações sociais amistosas entre educadores e alunos, neste período de pós-pandemia é fundamental para reduzir os níveis elevados de ansiedade e promover a proteção social. Este prolongado afastamento da escola, longe de consolidar uma esperada hegemonia da tecnologia sobre as pessoas, tem revelado a supremacia das dos aspectos relacionais e afetivos, do vínculo e do contato interpessoal direto, nos processos educacionais, cuja ausência tem gerado desconforto emocional em muitos, sejam professores ou alunos.

Não podemos, deste modo, reduzir este retorno à mera retomada das atividades presenciais. Muito além disto, deve se buscar fortalecer a educação pública inclusiva, afirmativa e de qualidade. Não se trata, pois, de seguir estritamente as normas sanitárias apropriadas (ESTADO DE SÃO PAULO, 2020), o que já é complexo diante das distintas possibilidades de colocá-las em prática efetiva. Por mais justa e necessária que seja, esta normatividade técnica não será suficiente para promover o processo de reocupação da escola em sua plenitude.

Em um país tão heterogêneo nas perspectivas geográficas e sociais, o almejado “Novo Normal” deverá seguir os preceitos da justiça equitativa, tratando os desiguais de forma desigual, para que a igualdade não seja um ponto de partida, mas sim de chegada, priorizando as populações mais vulneráveis, com destaque às pessoas com deficiência.

Para construirmos um futuro mais saudável e seguro, em meio às ameaças sanitárias, precisamos de políticas públicas que garantam um financiamento adequado às escolas, para que cumpram plenamente sua função social, incluindo a valorização dos professores e uso democratizado das tecnologias disponíveis, com um estado forte e presente. É necessário e urgente que se elabore um plano nacional de enfrentamento da pandemia na esfera educacional, com ampla e democrática participação de professores e demais servidores da educação, alunos e seus responsáveis, em articulação com medidas emanadas do Sistema Único de Saúde (SUS).

Tomado em conta a concepção educativa, como bem diz Freire (1987), abraçada por práticas sociais humanizadoras, com integridade e planejamento, será possível aprender com a crise e cambiar a Educação no Brasil e no mundo.

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REFERÊNCIAS

ANDRADE, Rodrigo. A educação brasileira e a pandemia: breve olhar conjuntural. Le Monde Diplomatique Brasil. São Paulo, 21 maio 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/a-educacao-brasileira-e-a-pandemia-breve-olhar-conjuntural/ . Acesso em: 13/12.2020.

ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo: Boitempo, 2018.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO (CNTE).

"Diretrizes para a Educação Escolar durante e pós-pandemia - contribuições da CNTE". 28p. Disponível em:

https://www.cnte.org.br/images/stories/2020/cnte_diretrizes_enfrentamento_coronavirus_final web.pdf

DRUCK, Graça. Trabalho, precarização e resistências: novos e velhos desafios? Cadernos CRH. Salvador, v. 24, p. 37-57, 2011. Número especial 1. DOI:

10.1590/S0103-49792011000400004.

ESTADO DE SÃO PAULO. Decreto nº 65.061, de 13 de julho de 2020. Dispõe sobre a retomada das aulas e atividades presenciais, no contexto da pandemia de COVID19, e dá providências correlatas. Disponível em:

https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/2020/decreto-65061-13.07.2020.html

FIOCRUZ. Manual de biossegurança para reabertura de escolas no contexto da Covid-19. Rio de Janeiro: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fundação Osvaldo Cruz), 24 de julho 2020. Disponível em:

https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/manual_reabertura.pdf FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. São Paulo, SP: Paz e Terra, 1987. INSTITUTO UNIBANCO & TODOS PELA EDUCAÇÃO. COVID-19 Impacto Fiscal na Educação Básica: O cenário de receitas e despesas nas redes de educação em 2020. Disponível em:

https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/449.pdf?181895214=&utm_source=si te-content&utm_campaign=lancamento

Manifesto. Ocupar escolas, proteger pessoas, valorizar a educação de 18 nov. 2020 Disponível em:

http://cebes.org.br/site/wp-content/uploads/2020/11/OCUPAR-ESCOLAS-PROTEGER-PESSOAS-VALORIZAR-A-EDUCAC%CC%A7A%CC%83O_21_11_20-vf.pdf

PONTES, Rosana Aparecida Ferreira. Didática universitária: o ato de ensinar com pesquisa na perspectiva do inédito viável. Tese (doutorado) - Universidade Católica de Santos, Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação, 2020.

Referências

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