Introdu¸
c˜
ao
Normas da disciplina
A disciplina de Resistˆencia de Materiais ser´a leccionada na sequˆencia da dis-ciplina de Mecˆanica, e tem como principal objectivo introduzir os conceitos de tens˜ao, extens˜ao e seguran¸ca de elementos estruturais.
A carga lectiva ´e distribu´ıda em aulas te´oricas e pr´aticas:
Aulas te´oricas Duas aulas por semana
Aulas pr´aticas Duas aulas por semana
A frequˆencia `as aulas pr´aticas ´e obrigat´oria.
A avalia¸c˜ao baseia-se na resolu¸c˜ao de problemas online, num relat´orio sobre um ensaio laboratorial e num exame final. A resolu¸c˜ao correcta de, pelo menos, 80% dos exerc´ıcios disponibilizados online ´e obrigat´oria para obter frequˆencia.
O exame final pode ser substitu´ıdo por dois testes durante o semestre. O peso de cada um destes momentos de avalia¸c˜ao ´e:
Relat´orio 10% da nota final
Exerc´ıcios online 10% da nota final
Exame ou testes 80% da nota final
Cap´ıtulo 1
Introdu¸
c˜
ao ao
comportamento de corpos
1.1
Pe¸
ca linear
O principal objecto da resistˆencia dos materiais s˜ao as pe¸cas lineares. Uma pe¸ca linear ´e um objecto tridimensional gerado por uma figura plana que ´e deslocada ao longo de uma linha com grande raio de curvatura que passa no centr´oide da ´area plana. Para que seja considerada uma pe¸ca linear, o comprimento da linha tem que ser muito maior que as dimens˜oes da ´area plana. A ´area plana ´e denominada por sec¸c˜ao transversal, enquanto a geratriz ´e denominada eixo da barra.
Eixo da barra
Secção transversal
x
y z
Figura 1.1:
Se a sec¸c˜ao transversal for de geometria constante, diz-se que a pe¸ca tem sec¸c˜ao constante. Se o eixo for um segmento de recta, diz-se que a pe¸ca
2 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS
linear ´e rectil´ınea. Se for rectil´ınea e de sec¸c˜ao constante, a pe¸ca linear diz-se prism´atica.
Para representar uma pe¸ca linear ´e comum representar-se apenas o seu eixo.
Em geral ´e importante referir um referencial da pe¸ca linear. Se esta n˜ao for prism´atica, o referencial muda de sec¸c˜ao transversal para sec¸c˜ao transversal. Em todo o caso, ´e comum definir-se o eixo perpendicular `a sec¸c˜ao transversal como sendo o eixo dos xx, enquanto os outros dois eixos s˜ao referidos como eixos yy e zz, como se representa na Figura 1.1
1.2
Grandezas fundamentais
Os conceitos mais fundamentais para a resistˆencia dos materiais s˜ao a tens˜ao e a deforma¸c˜ao.
Considere-se como exemplo a situa¸c˜ao representada na Figura 1.2.
Figura 1.2: Adaptado de Beer et al. (2003)
O cabo inclinado apenas est´a sujeito a for¸cas segundo o seu eixo. Estas for¸cas s˜ao denominadas por for¸cas axiais ou esfor¸cos axiais. Sujeita a um esfor¸co axial, uma barra aumenta ou dimimui de comprimento, como se re-presenta na Figura 1.3.
Embora este aumento de comprimento possa ser muito pequeno, e dificil-mente observ´avel, est´a sempre presente e ´e de importˆancia crucial na an´alise de s´olidos.
1.2. GRANDEZAS FUNDAMENTAIS 3
Figura 1.3: Adaptado de Beer et al. (2003)
Considere-se agora que cort´avamos a barra por uma plano imagin´ario, per-pendicular ao eixo da barra. A for¸ca que ´e transmitida pela barra ´e distribu´ıda por toda a sua sec¸c˜ao, como se representa na Figura 1.4.
Figura 1.4: Adaptado de Beer et al. (2003)
A for¸ca ´e transmitida de uma lado da barra para outro pela sec¸c˜ao. As for¸cas aplicadas em cada ´area infinitesimal denominam-se por tens˜oes, σ.
Assim a for¸ca P ´e a resultante das tens˜oes distribu´ıdas na sec¸c˜ao Assu-mindo que a tens˜ao ´e constante na sec¸c˜ao
σ = P
A (1.1)
As tens˜oes normais, σ s˜ao classificadas em:
4 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS
tens˜oes de compress˜ao se provocam uma diminui¸c˜ao de comprimento
Mais tarde vamos falar de outro tipo de tens˜oes (tens˜oes tangenciais ou de corte).
´
E fundamental definir uma conven¸c˜ao para os sinais das tens˜oes normais. Normalmente define-se tens˜oes de trac¸c˜ao como positivas e de compress˜ao como negativas.
As tens˜oes tˆem como unidades:
σ = F A=
N
m2= P a (1.2)
em Engenharia o Pascal (Pa) ´e uma unidade muito pequena (100 gramas por metro quadrado).
´
E mais comum utilizar-se o kPa ou o MPa
1.3
Limita¸
c˜
oes
A equa¸c˜ao
σ = P
A (1.3)
´e v´alida apenas se a tens˜ao for uniformemente distribu´ıda na sec¸c˜ao. Con-siderando apenas for¸cas aplicadas segundo o eixo da barra, isto acontece se:
1. A for¸ca for aplicada no centr´oide da sec¸c˜ao
2. a sec¸c˜ao for suficientemente distante dos apoios e dos pontos de aplica¸c˜ao de for¸cas concentradas
3. n˜ao ocorrerem mudan¸cas de sec¸c˜ao transversal
4. o material for homog´eneo e isotr´opico
Quando a ´area que se considera tende para zero, a tens˜ao tende sempre para um valor constante. Assim, a defini¸c˜ao correcta de tens˜ao normal ´e:
Defini¸c˜ao
σ = lim
A→0
F
1.4. EXTENS ˜OES 5
Concentra¸c˜ao de tens˜oes
Se as condi¸c˜oes anteriores forem cumpridas a tens˜ao normal devida a um es-for¸co axial ´e constante na sec¸c˜ao. O que acontece quando temos uma varia¸c˜ao s´ubita de sec¸c˜ao, como um corte ou um furo. Nesse caso a distribui¸c˜ao deixa de ser constante, com valores da tens˜ao substancialmente mais altos junto ao furo, como se representa na Figura 1.6.
Figura 1.5: Beer et al. (2003)
Figura 1.6:
1.4
Extens˜
oes
Como vimos inicialmente, quando uma barra ´e sujeita a uma for¸ca de trac¸c˜ao, aumenta de comprimento. Embora possa n˜ao ser observ´avel a olho nu, isto ocorre para todos os materiais. Consideremos a barra representada na Figura 1.7.
Se considerarmos apenas metade da barra, ou seja, um tro¸co com metade do comprimento, o alongamento ´e δ
2.
6 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS
Figura 1.7: Adaptado de Beer et al. (2003)
ε = δ
L (1.5)
Tal como acontecia com as tens˜oes, devemos notar que a extens˜ao pode variar de ponto para ponto. Devemos portanto definir a extens˜ao como
Defini¸c˜ao
ε = lim
L→0
δ
L (1.6)
1.5
Propriedades mecˆ
anicas dos materiais
O comportamento real dos materiais ´e muito complexo. Depende fortemente do tipo de material, das condi¸c˜oes de fabrico (no caso de materiais manu-facturados) ou das condi¸c˜oes que levaram `a sua forma¸c˜ao, das condi¸c˜oes de carregamento, e at´e da temperatura ou da humidade.
Por essa raz˜ao foram definidos testes padr˜ao, que permitem comparar o comportamento de diferentes materiais. Um dos testes mais ´uteis consiste em traccionar um provete at´e atingir a rotura, no que ´e denominado ensaio de trac¸c˜ao. Outros ensaios significativos s˜ao os ensaios de compress˜ao pura e de flex˜ao.
Na Figura 1.9 ´e apresentado um esquema tradicional para o ensaio `a trac¸c˜ao de elementos met´alicos.
Um pequeno provete ´e preso pelas suas extremidades, e ´e traccionado (ou seja o seu comprimento ´e aumentado) a velocidade constante.
1.5. PROPRIEDADES MEC ˆANICAS DOS MATERIAIS 7
Figura 1.8: Adaptado de Beer et al. (2003)
Para um provete em a¸co, se tra¸carmos a rela¸c˜ao entre o aumento de compri-mento ∆L e a for¸ca aplicada F , obtemos uma curva semelhante `a representada na Figura 1.9. Variação de comprimento, LD Forçaaplicada ,F F F
Figura 1.9: Adaptado de Beer et al. (2003)
Se considerarmos um provete com o dobro do comprimento obtemos o dobro do alongamento. Se considerarmos um provete com o dobro da ´area da
8 CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS
sec¸c˜ao obtemos o dobro da for¸ca. Ou seja, os resultados assim obtidos n˜ao dependem apenas do material utilizado, mas tamb´em da geometria do provete. Se queremos obter resultados que sejam utiliz´aveis qualquer que sejam as dimens˜oes do provete, temos que converter os resultados para unidades de tens˜ao e extens˜ao:
σ = F
A (1.7)
ε = ∆L
L (1.8)
Nesse caso obtemos a curva representada na Figura 1.10.
Extensão, e Tensãonormal , s F F Figura 1.10:
Esta curva n˜ao depende das dimens˜oes do provete, mas apenas do material utilizado.
No entanto, este ensaio requer alguns cuidados especiais. De facto, se considerarmos a ´area da sec¸c˜ao inicial, obtemos o que se denomina por tens˜ao nominal. Durante o ensaio, na zona pr´oxima do rotura esta ´area diminui, como se representa na Figura 1.11. Como tal a tens˜ao real ´e um pouco mais alta que a assim obtida.
Se se considerar o comprimento inicial, L, obtemos a extens˜ao nominal. No entanto o comprimento aumenta durante o ensaio. Se corrigirmos para esse comprimento, temos a extens˜ao verdadeira.
A diferen¸ca entre estas grandezas normalmente n˜ao ´e significativa em pro-blemas de engenharia.
1.6. CLASSIFICAC¸ ˜AO DOS MATERIAIS 9
Figura 1.11: Adaptado de Beer et al. (2003)
1.6
Classifica¸
c˜
ao dos materiais quanto ao seu
comportamento mecˆ
anico
Acima apresentou-se o comportamento do a¸co quando sujeito a for¸cas de trac¸c˜ao. No entanto, outros materiais tˆem comportamentos completamente diferentes deste.
A primeira distin¸c˜ao em termos de comportamentos mecˆanicos respeita `
a capacidade de alguns materiais de recuperarem as deforma¸c˜oes ap´os ser retirado o carregamento. Diz-se que um material tem um comportamento el´astico se as deforma¸c˜oes resultantes de um carregamento desaparecem uma vez retirado o carregamento. Um exemplo deste tipo de materiais ´e a borracha. A curva de carga/descarga ´e apresentada na Figura 1.12.a.
Outros materiais apenas recuperam parte das deforma¸c˜oes a que foram sujeitos. Diz-se que parte da deforma¸c˜ao ´e el´astica, enquanto outra parte ´e pl´astica.
Um material com capacidade de sofrer grandes deforma¸c˜oes pl´asticas antes de atingir a rotura diz-se d´uctil (barro, a¸co). Como oposto, temos materiais que atingem a rotura para pequenas deforma¸c˜oes pl´asticas, os materiais fr´ageis (vidro, algumas pedras).
Muitos materiais apresentam, pelo menos no seu ramo el´astico, uma pro-porcionalidade entre as tens˜oes e as deforma¸c˜oes. Estes dizem-se materiais el´asticos lineares.
10CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS Extensão, e Tensãonormal , s F F Extensão, e Tensãonormal , s F F
{
Deformação plástica Figura 1.12: σ = Eε (1.9)em que E ´e o m´odulo de elasticidade de Young.
Assim, um maior valor do m´odulo de elasticidade de Young indica um material que, para o mesmo n´ıvel de tens˜ao, se deforma menos. Na Tabela 1.1 apresentam-se valores do m´odulo de elasticidade de Young para v´arios materiais comuns.
Coeficiente de Poisson
Quando o material ´e traccionado, al´em de um aumento de comprimento, d´a-se uma redu¸c˜ao da sec¸c˜ao transversal, como representado na Figura 1.13.
A rela¸c˜ao entre a deforma¸c˜ao axial e a transversal ´e uma propriedade do material e ´e dada por:
ν = −ε
0
ε = −
deforma¸c˜ao transversal
deforma¸c˜ao axial (1.10) Na zona el´astica, o coeficiente de Poisson ´e constante.
Os valores correntes do coeficiente de Poisson para a maioria dos materiais variam entre 0.25 e 0.35.
A corti¸ca tem um coeficiente de Poisson pr´oximo de 0, enquanto na bor-racha ´e pr´oximo de 0.5.
1.6. CLASSIFICAC¸ ˜AO DOS MATERIAIS 11
Tabela 1.1:
Material M´odulo de Young (E) [GPa]
Borracha 0.01-0.1
Bacteriophage capsids (virus) 1-3
Nylon 2-4
Madeira de carvalho 11.00 Bet˜ao de alta resistˆencia (`a compress˜ao) 30.00
Magn´esio 45.00
Alum´ınio 69.00
Vidro 72.00
Bronze 103-124
Titˆanio 105-120
Pl´astico refor¸cado com fibras 150.00 Ferro forjado e a¸co 190-210
Tungst´enio 400-410
Diamante 1050-1200
Figura 1.13: Adaptado de Beer et al. (2003)
ν = 0 n˜ao h´a varia¸c˜ao de sec¸c˜ao transversal
ν = 0.5 n˜ao h´a varia¸c˜ao de volume
O coeficiente de elasticidade de Young e o coeficiente de Poisson definem o comportamento el´astico de um material se este for homog´eneo e isotr´opico.
12CAP´ITULO 1. INTRODUC¸ ˜AO AO COMPORTAMENTO DE CORPOS
Se o comportamento do material variar conforme a direc¸c˜ao, este diz-se anisotr´opico. Nesse caso temos um m´odulo de elasticidade para cada direc¸c˜ao. Se tiver uma conjunto de propriedades numa direc¸c˜ao, e outro conjunto de propriedades em todas as direc¸c˜oes paralelas diz-se ortotr´opico (caso de algumas rochas).
1.7
Varia¸
c˜
oes de temperatura
Quando ocorre um aumento de temperatura, os materiais aumentam de com-primento. Podemos considerar este aumento dizendo que:
ε = σ
E+ α ∆T (1.11)
Este aumento de comprimento ocorre em todas as direc¸c˜oes. g
1.8
Tens˜
oes tangenciais ou de corte
J´a fal´amos de tens˜oes normais, ou seja, tens˜oes perpendiculares `a face que estamos a analisar.
No entanto, como vimos anteriormente, o vector da tens˜ao numa face tem tamb´em uma componente tangente `a face.
Como exemplo, considere-se o parafuso.
Figura 1.14: Adaptado de Beer et al. (2003)
Ao traccionar as duas barras ligadas pelo parafuso, este est´a sujeito a uma tens˜ao importante, paralela `a sua sec¸c˜ao transversal. Podemos falar numa tens˜ao tangencial m´edia dada por:
τmed=
V
1.8. TENS ˜OES TANGENCIAIS OU DE CORTE 13
embora a tens˜ao real nunca seja constante
Deforma¸c˜ao por corte
Vamos pensar num pequeno rectˆangulo sujeito a uma tens˜ao tangencial como se representa na Figura 1.15.
Figura 1.15:
As tens˜oes tangenciais n˜ao provocam um aumento de comprimento quer segundo x quer segundo y. Mas x e y, que inicialmente eram perpendiculares (π
2) passam a ter formar um ˆangulo π
2 −γ. O ˆangulo γ ´e uma medida da distor¸c˜ao.
Em materiais el´asticos lineares a rela¸c˜ao entre a distor¸c˜ao ´e linear:
τ = Gγ (1.13)
G = E
2 (1 + ν) (1.14)
Cap´ıtulo 2
An´
alise de tens˜
oes
A fundamenta¸c˜ao para a ´analise de tens˜oes que vai ser realizada nesta disci-plina ´e bastante complexa. Efectivamente, a base te´orica ´e aplic´avel a todos os materiais e portanto muito geral.
Nesta disciplina apenas se analiza parte dessa teoria.
Vamos come¸car por pensar num cubo de muito pequenas dimens˜oes. Se o cubo pertencer a um elemento traccionado, temos o estado de tens˜ao repre-sentado na Figura 2.1.
Figura 2.1:
Por outro lado, podemos ter tens˜oes tangenciais como as do exemplo do parafuso. Nesse caso teremos o estado de tens˜ao representado na Figura 2.2.
Se tivermos todas as tens˜oes tangenciais e normais possiveis, temos o estado de tens˜ao representado na Figura 2.3.
Temos portanto nove tens˜oes nas faces vis´ıveis, e outras 9 nas faces in-vis´ıveis.
16 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.2:
Figura 2.3:
Por uma quest˜ao de equilibro, as tens˜oes nas faces invis´ıveis s˜ao iguais mas de sentido contr´ario `as das faces vis´ıveis.
Vamos tentar come¸car por dar um nome a cada uma destas tens˜oes. O primeiro passo consiste em definir um referencial como o representado na Figura 2.3.
Cada faceta tem o nome do eixo que lhe ´e perpendicular.
Se a normal exterior coincidir com um eixo, a faceta diz-se positiva. Caso contr´ario diz-se negativa.
As tens˜oes s˜ao designadas por dois ´ındices. O primeiro indica a faceta onde ocorrem, o segundo a sua direc¸c˜ao.
17
Figura 2.4:
τzy= τ yz (2.1)
τxy = τ yx (2.2)
τxz= τ zx (2.3)
18 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
2.1
Tensor das tens˜
oes
O estado de tens˜ao num ponto ´e dado por nove componentes, cada uma cor-respondente `a tens˜ao numa faceta (x,y,z) segundo uma direc¸c˜ao (x,y,z). `A partida esta parce ser a organiza¸c˜ao t´ıpida de uma matriz. Na realidade, o estado de tens˜ao ´e definido por uma entidade um pouco mais geral que uma matriz.
Vamos portanto ver quais s˜ao as entidades matem´aticas que normalmente usamos:
Escalares definidos por um valor (massa, temperatura,...)
Vectores: definidos por 2 ou 3 valores (velocidade, for¸ca)
Podemos definir uma grandeza que inclui todos estes e outros mais com-plexos, designada tensor.
De uma forma geral podemos definir:
escalar: tensor de ordem 0
vector: tensor de ordem 1
matriz: tensor de segunda ordem
O estado de tens˜ao ´e definido por 3 componentes para cada faceta. Faz sentido defini-lo com um tensor de 2a ordem
[τ ] = σx τxy τxz τyx σy τyz τzx τzy σz (2.4)
Um caso particular de estados de tens˜ao, ´e o caso em que uma linha e uma coluna tem todos os valores nulos.
[τ ] = σx τxy 0 τyx σy 0 0 0 0 (2.5)
Este estado de tens˜ao ´e denominado estado plano de tens˜ao. ´E relativa-mente comum e mais simples de analisar.
Devido `a igualdade descritas nas equa¸c˜oes (2.1) a (2.3) ambos os tensores s˜ao sim´etricos.
2.2. RELAC¸ ˜AO TENS ˜AO-EXTENS ˜AO 19
2.2
Rela¸
c˜
ao tens˜
ao-extens˜
ao
Como vimos, a rela¸c˜ao tens˜ao-extens˜ao `a trac¸c˜ao ´e constante para cada ma-terial, n˜ao dependendo da forma do provete.
No entanto, esta rela¸c˜ao ´e extremamente complexa, e raramente pode ser utilizada para efeitos pr´aticos.
Na realidade, para aplica¸c˜oes correntes considera-se que os materiais tˆem comportamentos mais simples, como sejam o comportamento el´astico linear. .
Pode, em alguns casos, existir mais uma parcela nesta equa¸c˜ao. Com efeito, quando um material ´e sujeito a um aumento de temperatura, o seu comprimento aumenta. Assim:
ε = σ
E + α × ∆T (2.6)
em que α ´e o coeficiente de expans˜ao t´ermica, e ∆T ´e a varia¸c˜ao de tem-peratura.
De um modo generalizado, e desprezando o efeito da temperatura, uma barra sujeita apenas a um esfor¸co axial, apresenta, em cada ponto, as seguintes extens˜oes: εx = σx E (2.7) εy = −ν · σx E (2.8) εz = −ν · σx E (2.9)
Se, inv´es de uma tens˜ao normal, tivermos tens˜oes normais nas trˆes di-rec¸c˜oes, usamos o principio da sobreposi¸c˜ao de efeitos:
εx = 1 E(σx−νσy−νσz) (2.10) εy = 1 E(σy−νσx−νσz) (2.11) εz= 1 E (σz−νσx−νσy) (2.12)
2.3
Equa¸
c˜
oes constitutivas
Tal como as tens˜oes num ponto, as deforma¸c˜oes podem ser apresentadas sobre a forma de tensor. Assim:
20 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES ε = εx γxy γxz γyx εy γyz γzx γzy εz (2.13)
em que εx´e a extens˜ao de uma fibra orientada segundo xx, e γxy ´e a varia¸c˜ao
de ˆangulo entre duas fibras, inicialmente orientadas segundo xx e yy.
O c´alculo das distor¸c˜oes, com base nas tens˜oes presentes, pode ser descrita por:
τ = Gγ (2.14)
em que G ´e o m´odulo de distor¸c˜ao:
G = E
2(1 + ν) (2.15)
Juntado a componente devido `as tens˜oes tangenciais, `a componente devido `
as tens˜oes normais, podemos relacionar tens˜oes e extens˜oes por:
εx εy εz γxy γxz γyz = 1 E 1 −ν −ν 0 0 0 −ν 1 −ν 0 0 0 −ν −ν 1 0 0 0 0 0 0 2(1 + ν) 0 0 0 0 0 0 2(1 + ν) 0 0 0 0 0 0 2(1 + ν) σx σy σz τxy τxz τyz (2.16)
NOTA: Esta express˜ao ´e v´alida para materiais homog´eneos, el´asticos li-neares e isotr´opicos
2.4
Tens˜
oes - esfor¸
cos
At´e agora, o ´unico esfor¸co considerado foi o esfor¸co axial. Foi dito, que o es-for¸co normal era igual `a resultante das tens˜oes normais na faceta. Na realidade todos os esfor¸cos correspondem `a resultante das tens˜oes na sec¸c˜ao transversal. Assim, considerando que a sec¸c˜ao transversal corresponde `a face perpen-dicular a x:
N = Z
A
σx (2.17)
O esfor¸co transverso, segundo y, ´e igual `a resultante das tens˜oes tangenciais segundo yy. Ou seja,
2.5. FLEX ˜AO 21
Vy =
Z
A
τxy (2.18)
O esfor¸co transverso segundo z, ´e:
Vz=
Z
A
τxz (2.19)
O momento flector ´e igual ao momento de todas as tens˜oes em rela¸c˜ao ao eixo x. As tens˜oes tangenciais na face intersectam ou s˜ao paralelas a este eixo, portanto o momento ´e provocado apenas pelas tens˜oes normais:
My=
Z
A
σxz (2.20)
O momento flector segundo Mz ´e dado por:
Mz=
Z
A
σxy (2.21)
Por ´ultimo consideremos o momento torsor.
As tens˜oes normais n˜ao provocam momento, por serem paralelas ao eixo de rota¸c˜ao. Apenas as tens˜oes tangenciais provocam momentos. Estes s˜ao dados por:
T = Mt=
Z
A
τpρ (2.22)
em que ρ ´e a distˆancia ao centro de rota¸c˜ao, e τp ´e a componente da tens˜ao
perpendicular ao raio.
2.5
Flex˜
ao
Vamos considerar uma barra sujeita apenas a um esfor¸co de flex˜ao.
Vamos come¸car por analisar um problema muito simples, como o repre-sentado na Figura 2.5.
A barra vai deformar-se, de um modo semelhante ao representado na Fi-gura 2.6.
Embora saibamos que a resultante das tens˜oes tem que ser igual ao mo-mento flector na sec¸c˜ao, existe uma infinidade de distribui¸c˜oes de tens˜oes que verificam esta condi¸c˜ao.
22 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.5: Flexao
Figura 2.6:
Para resolver este problema considera-se uma assump¸c˜ao, que experimen-talmente se verifica realista. Assim, considera-se que um elementos apenas su-jeito `a flex˜ao, sofre deforma¸c˜oes que verificam o principio de Navier-Bernoulli (ver Figura 2.7):
”Sob efeito apenas de flex˜ao, as sec¸c˜oes transversais da pe¸ca linear per-manecem constantes e perpendiculares `a linha m´edia.”
Se analisarmos a posi¸c˜ao inicial e final da sec¸c˜ao, verificamos que para al´em de um deslocamento vertical de corpo r´ıgido, as fibras da zona superior aumentaram de tamanho e da zona inferior diminu´ıram de tamanho.
Por outro lado, para que as sec¸c˜oes continuem planas, este aumento ou diminui¸c˜ao de comprimento, tem que ser uma fun¸c˜ao linear.
Por outras palavras, considerando o referencial representado na Figura 2.9, as extens˜oes s˜ao:
2.5. FLEX ˜AO 23
Figura 2.7:
em que αεz e αεy s˜ao as inclina¸c˜oes da deformada em torno de z e y,
respec-tivamente e ε0 ´e a extens˜ao ao n´ıvel do centro de massa.
Sabendo que as tens˜oes s˜ao dadas por:
σ = E × ε (2.24)
temos:
σ = σ0+ y × θσz + z × θσy (2.25)
Considerando que apenas existe momento flector segundo o eixo z, Mz,
e o esfor¸co normal N , e momento segundo y, My s˜ao ambos nulos, podemos
escrever: N =R Aσ dA = 0 Mz= R Aσ × y dA My = R Aσ × z dA = 0 (2.26) e que σ = σ0+ y × θσz + z × θσy (2.27)
24 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.8:
Figura 2.9:
Podemos substituir, chegando-se a:
N =R Aσ dA = σ0+ y × θσz+ z × θσy = 0 Mz = R A(σ0+ y × θσz + z × θσy) × y dA My = R A(σ0+ y × θσz+ z × θσy) × z dA = 0 (2.28)
Do primeiro termo de (2.38), chegamos a:
N = Z A σ0+ y × θσz+ z × θσydA = 0 (2.29) ⇔N = Z A σ0dA + Z A y × θσz dA + Z A z × θσydA (2.30)
2.5. FLEX ˜AO 25
Passando para fora dos integrais, as constantes, ficamos com:
⇔N = σ0 Z A 1 dA + θσz Z A y + θσy Z A z dA (2.31) ⇔N = σ0 Z A 1 dA + θσz Z A y + θσy Z A z dA (2.32)
O primeiro integral corresponde `a ´area, os segundo e terceiro termos corre-spondem aos momentos est´aticos. Como nos estamos a referir a um referencial central estes dois integrais s˜ao nulos.
Assim:
⇔N = σ0A (2.33)
ou seja
σ0 = 0 (2.34)
Consideremos as outras duas condi¸c˜oes de equil´ıbrio:
Mz= R A(σ0+ y × θσz+ z × θσy) × y dA My = R A(σ0+ y × θσz+ z × θσy) × z dA = 0 (2.35)
Utilizando o m´etodo utilizado anteriormente, temos
Mz = θσz R Ay2A + θσy R Ay · z dA My = θσzRAyz dA + θσyRAz2 dA = 0 (2.36) ⇔ Mz= θσz·Iz+ θσyIyz My = θσzIyz+ θσyIz= 0 (2.37) ⇔ Mz= θσz·Iz+ θσyIyz My = θσzIyz+ θσyIz= 0 (2.38)
Se o referencial considerado for um referencial central de in´ercia, o produto de in´ercia, Iyz, ´e nulo. Nesse caso:
⇔ Mz= θσz·Iz My = θσyIz = 0 (2.39)
26 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES ⇔ θσz = MzIz θσy = 0 (2.40)
Neste caso o estado de tens˜ao ´e:
σ = σ0+ y × θσz+ z × θσy (2.41)
⇔σ = Mz Iz
y (2.42)
A situa¸c˜ao ´e algo mais complexa se o referencial n˜ao for principal. Nesse caso, resolvendo o sistema de equa¸c˜oes:
(
θσz = Iz·IyIy−Iyz·M 2
θσy= −IzIyzIy−IyzM 2
(2.43)
Logo a tens˜ao ´e dada por:
σ = Iy·M Iz·Iy−Iyz2
·y − IyzM IzIy−Iyz2
·z (2.44)
Esta express˜ao ´e relativamente complexa, e portanto, por regra, considera-se um referencial central principal de in´ercia.
Quando se est´a a analisar sistemas em que se pode considerar que todos os materiais s˜ao el´asticos lineares, podemos considerar o principio da sobre-posi¸c˜ao de efeitos.
Assim, uma sec¸c˜ao sujeita a um momento flector segundo um eixo principal apresenta o diagrama de tens˜oes representado na Figura 2.10.
Figura 2.10:
Assim, se tivermos mais que um esfor¸co aplicado, podemos considerar que as tens˜oes resultantes de todos os esfor¸cos s˜ao iguais `a soma das tens˜oes provocadas por cada um deles.
2.5. FLEX ˜AO 27
Assim, sabemos que um esfor¸co axial provoca uma tens˜ao dada por:
σN =
N
A (2.45)
Considerando um referencial principal, (y, z):
σMz = ± Mz·y Iz (2.46) Por analogia σMy = ± My·z Iy (2.47)
Logo, se todos os esfor¸cos existirem em simultˆaneo, temos
σ = N A ± Mz·y Iz ±My·z Iy (2.48)
Note-se que os sentidos das tens˜oes devidas aos momentos flectores depen-dem dos eixos definidos. Como tal ´e mais definir o sentido das tens˜oes em cada ponto considerando os esfor¸cos na estrutura a ser analisada.
Em fun¸c˜ao dos esfor¸cos presentes, diz-se que temos flex˜ao:
simples Apenas momento flector segundo um dos eixos principais de in´ercia;
desviada Momento flector segundo um eixo qualquer, mas sem esfor¸co axial;
composta Esfor¸co axial e momento flector segundo um dos eixos principais de in´ercia;
composta desviada Esfor¸co axial e momento flector segundo um eixo qual-quer;
A flex˜ao simples ´e comum em vigas de edif´ıcios, enquanto a flex˜ao composta e a flex˜ao composta desviada s˜ao comuns em pilares de edif´ıcios.
28 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Exemplo
Considere a sec¸c˜ao representada na Figura 2.11, sujeita a um momento posi-tivo igual a 150 kN.
Calcule as tens˜oes instaladas na sec¸c˜ao, considerando:
Iy = 0.21517 m4 (2.49)
Iz = 0.317708 m4 (2.50)
Figura 2.11:
Considerando que estamos em flex˜ao simples:
σ = M
I z (2.51)
Sabendo que um momento positivo provoca trac¸c˜oes nas fibras inferiores, temos, para a fibra inferior e superior, respectivamente:
σi = 150 0.21517×0.90625 = 631.8kPa (2.52) σs= 150 0.21517×0.59375 = 413.917kPa (2.53)
2.5. FLEX ˜AO 29
Figura 2.12:
Exemplo
Agora consideremos que temos dois momentos, como representado na Figura 2.13.
Figura 2.13:
O momento de 150 kN.m provoca as tens˜oes que calcul´amos anteriormente. O outro momento provoca:
σ = M
I z (2.54)
σe= σd=
180
30 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.14:
Assim, a tens˜ao em cada ponto da sec¸c˜ao ´e dada pela soma das tens˜oes provocadas por cada um dos momentos. Assim, a tens˜ao na extremidade superior direita ´e:
σ = −413.92 − 424.92 = −838.84kPa (2.56) Na extremidade inferior esquerda, a tens˜ao ´e:
σ = 631.77 + 424.92 = 1056.7kPa (2.57) A verifica¸c˜ao da seguran¸ca pode ser, em alguns materiais, feita comparando a tens˜ao m´axima numa sec¸c˜ao com uma tens˜ao resistente.
Em flex˜ao simples a tens˜ao m´axima ocorre sempre na fibra mais afastada do centro de massa. Assim:
σmax=
M Iy
zmax (2.58)
Podemos definir um termo, designado m´odulo de flex˜ao el´astica, como:
Wel=
Iy
zmax
2.6. SECC¸ ˜OES EFICIENTES 31
e nesse caso a equa¸c˜ao acima passa para:
σmax=
M Wel
(2.60)
2.6
Sec¸
c˜
oes eficientes
A sec¸c˜ao mais eficiente `a flex˜ao, seria aquela com um m´odulo de flex˜ao el´astico mais alto, para uma ´area transversal mais baixa. Uma an´alise relativamente simples mostraria que a sec¸c˜ao mais eficaz seria semelhante `a representada na Figura 2.15.
Figura 2.15: Sec¸c˜ao eficiente
Esta forma ´e semelhante `a dos perfis met´alicos mais comuns. No caso do bet˜ao uma forma deste tipo ´e quase imposs´ıvel de produzir, e portanto usam-se em geral formas menos eficientes, como sejam formas rectangulares.
2.7
Linha Neutra
Uma das propriedades mais importantes das sec¸c˜oes submetidas `a flex˜ao, ´e a linha neutra ou eixo neutro.
A linha neutra corresponde ao lugar geom´etrico de todos os pontos que est˜ao sujeitos a tens˜ao normal nula.
Para calcular a linha neutra, basta igualar a equa¸c˜ao 2.67 a zero e resolver em ordem a y e z. σ = N A ± Mz·y Iz ±My·z Iy = 0 (2.61)
32 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
A resolu¸c˜ao ´e relativamente simples, no caso de flex˜ao simples. Como N e My s˜ao nulas, temos:
Mz·y
Iz
= 0 (2.62)
Obtendo-se:
y = 0 (2.63)
Ou seja, se apenas existir momento flector segundo um eixo principal, a linha neutra coincide com esse eixo.
No caso de flex˜ao composta (ou seja, apenas um momento e esfor¸co axial), temos: σ = N A ± Mz·y Iz = 0 (2.64) ou seja, σ = K1+ K2y = 0 (2.65)
Ou seja, a linha neutra ´e paralela ao eixo principal, mas n˜ao passa no centro de massa (y 6= 0).
No caso de flex˜ao desviada, (My e Mz), temos:
σ = ±Mz·y Iz ±My·z Iy = 0 (2.66) ou seja σ = K1 z + k2y = 0 (2.67)
Ou seja, a linha neutra passa pelo centro de massa, mas n˜ao ´e paralela a nenhum dos eixos principais.
At´e aqui assumimos:
• Tens˜ao proporcional `a distˆancia ao eixo neutro
Isto s´o ´e verdade para elementos homog´eneos no regime el´astico. N˜ao ´e verdade para elementos plastificados ou heter´ogeneos
• Sec¸c˜oes permanecem planas
Correcto longe de varia¸c˜oes de sec¸c˜ao, cargas concentradas, e efeito das condi¸c˜oes de fronteira
2.7. LINHA NEUTRA 33
Exemplo
Calcule a posi¸c˜ao da linha neutra de uma sec¸c˜ao rectangular de altura 0.5m e largura 0.3m, `a qual est´a aplicado um momento segundo o eixo de maior in´ercia de 100kN.m, como se representa na Figura 2.16.
0.3 m
0.5 m 100 kN.m
Figura 2.16:
A in´ercia ´e dada por:
Iy =
bh3
12 = 0.003125m
4 (2.68)
As tens˜oes na sec¸c˜ao s˜ao dadas por:
σ = M z I =
100z
0.003125 (2.69)
A linha neutra ´e dada por
σ = 32000 z = 0 (2.70) Ou seja
z = 0 (2.71)
Ou seja, como foi referido anteriormente, a linha neutra coincide com o eixo principal segundo o qual ´e aplicado o momento.
34 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES 0.3 m 0.5 m 100 kN.m Figura 2.17: Exemplo
Calcule a posi¸c˜ao da linha neutra de uma sec¸c˜ao rectangular de altura 0.5m e largura 0.3m, `a qual est´a aplicado um momento segundo o eixo de maior in´ercia de 100kN.m e segundo o eixo de menor in´ercia de 50kN.m.
A in´ercia segundo o eixo de menor in´ercia ´e dada por:
Iy =
b3h
12 = 0.001125m
4 (2.72)
As tens˜oes na sec¸c˜ao s˜ao dadas por:
σ = My z Iy +Mz y Iz = 100z 0.003125 + 50y 0.001125 (2.73) A linha neutra ´e dada por
σ = 32000 z + 44444.44444 y = 0 (2.74) Um dos pontos que verifica esta equa¸c˜ao ´e
(y, z) = (0, 0) (2.75) outro pode ser obtido, admitindo que y = 0.25m, nesse caso:
σ = 32000 z + 44444.44444 · 0.25 = 0 (2.76) Ou seja
2.8. FORC¸ AS EXC ˆENTRICAS 35
Ou seja, como foi referido anteriormente, a linha neutra passa no centro de massa, mas n˜ao ´e paralelo a nenhum dos eixos principais.
A linha neutra tem algumas propriedades que a tornam particularmente importante para a engenharia civil, nomeadamente:
A linha neutra divide o espac¸o em duas regi˜oes. Uma destas zonas est´a toda comprimida, enquanto a outra est´a toda trac-cionada.
Como o diagrama de tens˜oes normais numa secc¸˜ao ´e linear, e a linha neutra ´e uma isolinha, as tens˜oes num ponto s˜ao propor-cionais `a distˆancia `a linha neutra.
Como tal, se a linha neutra estiver fora da sec¸c˜ao, todos os pontos da sec¸c˜ao est˜ao comprimidos ou traccionados.
O comportamento de muitos materiais ´e substancialmente diferente `a trac¸c˜ao e `a compress˜ao. Portanto ´e importante saber em que situa¸c˜oes a linha neutra intersecta a sec¸c˜ao ou n˜ao.
2.8
For¸
cas excˆ
entricas
Consideremos que temos apenas uma for¸ca de compress˜ao aplicada, mas que esta pode ser aplicada em qualquer ponto da sec¸c˜ao.
Figura 2.18: Ac¸c˜ao de uma for¸ca excentrica
Para converter esta for¸ca em esfor¸cos, temos que considerar que ela, al´em de comprimir a barra tamb´em provoca flex˜ao.
36 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.19:
Os esfor¸cos na sec¸c˜ao s˜ao:
N = −F (2.78) My = F · ez (2.79) Mz = F · ey (2.80) (2.81) σ = N A ± Mz·y Iz ±My·z Iy = 0 (2.82) Obtemos F A + F · ey·y Iz +F · ez·z Iy = 0 (2.83)
Dividindo todos os termos por FA temos:
1 + ey·y i2 z +ez·z i2 y = 0 (2.84)
2.9. C ´ALCULO DO N ´UCLEO CENTRAL 37
em que iy ´e o raio de gira¸c˜ao dado por:
iy =
r Iy
A (2.85)
Conforme o ponto de aplica¸c˜ao da carga se vai aproximando do centro de massa, a linha neutra vai-se afastando do centro de massa.
Isto quer dizer que para uma for¸ca de compress˜ao aplicada no centro de massa, toda a sec¸c˜ao est´a comprimida.
Ao lugar geom´etrico dos pontos para os quais a linha neutra n˜ao intersecta a sec¸c˜ao, chama-se n´ucleo central.
Quando uma carga ´e aplicada no n´ucleo central, toda a sec¸c˜ao est´a com-primida ou traccionada.
2.9
C´
alculo do n´
ucleo central
Se considerarmos todas as rectas que n˜ao intersectam a sec¸c˜ao, vemos que estas s˜ao limitadas pela contorno convexo da sec¸c˜ao.
O contorno convexo ´e a menor figura geom´etrica que incluindo a sec¸c˜ao, e ´e convexa. Uma figura ´e convexa se quaisquer dois pontos poderem ser unidos, sem que o segmento de recta que os une saia da figura.
A cada lado do contorno convexo corresponde um v´ertice do n´ucleo central e a cada v´ertice do contorno corresponde uma lado do n´ucleo central.
Assim o c´alculo do n´ucleo central pode ser feito calculado qual o ponto de aplica¸c˜ao da carga cuja linha neutra corresponde a cada lado do contorno convexo.
O n´ucleo central ´e sempre uma figura convexa, que inclui o centro de massa, e com tantos v´ertices quanto o n´umero de lados do contorno convexo. O primeiro passo consiste em calcular o contorno convexo da figura a ser analisada.
38 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.21:
Os v´ertices do n´ucleo central podem ser encontrados determinando o ponto onde deve ser aplicada uma for¸ca excˆentrica de modo a que o linha neutra coincida com os lados no contorno convexo.
Exemplo
Calcule o n´ucleo central de um rectˆangulo de largura b e altura h.
Figura 2.22:
O contorno convexo corresponde ao pr´oprio rectˆangulo. Portanto o contorno convexo ´e definido por 4 rectas.
Consideremos o lado 1. A linha neutra ´e caracterizada pela equa¸c˜ao:
z = −h/2
2.9. C ´ALCULO DO N ´UCLEO CENTRAL 39
Figura 2.23:
Considerando a equa¸c˜ao da linha neutra
1 + ey·y i2 z +ez·z i2 y = 0 (2.87)
Substituindo pela equa¸c˜ao da recta obtemos:
1 +ey·y i2 z + ez·h 2i2 y = 0 (2.88) Reorganizando, temos: 1 +ez·h 2i2 y +ey·y i2 z = 0 (2.89)
Os momentos de in´ercia da figura s˜ao:
i2y = h 2 12 i 2 z = b2 12 (2.90) Logo: 1 +ez·h 2h122 + ey·y b2 12 = 0 (2.91)
Esta equa¸c˜ao tem a forma:
40 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
E tem que se verificar para todos os valores de y.
Por exemplo tem que se verificar para y = 0. Nessa caso
1 + ez·h 2h2
12
= 0 (2.93)
E para y = 1. Nesse caso:
ey·1 b2 12
= 0 (2.94)
Daqui verifica-se que:
( ey = 0 ez = − 2h2 12 h = − h 6 (2.95)
Repetindo para os outros 3 lados, obtemos:
2.10. FLEX ˜AO EM ELEMENTOS HETEROG ´ENEOS 41
2.10
Flex˜
ao em elementos heterog´
eneos
Quando um elementos heterog´eneo ´e sujeito `a flex˜ao, a hip´otese de Bernoulli ainda se verifica. Ou seja, a sec¸c˜ao continua plana e perpendicular ao eixo. Por outras palavras, as extens˜oes tˆem uma distribui¸c˜ao linear, como vimos para as sec¸c˜oes homog´eneas. J´a as tens˜oes deixam de ter distribui¸c˜ao linear.
Consideremos a sec¸c˜ao abaixo representada na Figura 2.25.
Figura 2.25:
Nesta figura considera-se que o elementos ´e constitu´ıdo por dois materiais, em que o material a sombreado tem um m´odulo de elasticidade mais pequeno que o a branco.
Sabendo que o diagrama de extens˜oes ´e linear, e que a tens˜ao ´e o produto da extens˜ao pelo m´odulo de elasticidade, podemos concluir que o diagrama de extens˜oes e tens˜oes vai ser semelhante ao representado na Figura 2.26.
Podemos analisar estas tens˜oes considerando uma sec¸c˜ao homogeneizada. Ou seja, a parte da sec¸c˜ao constitu´ıda por um dos materiais ´e substitu´ıda por uma regi˜ao equivalente de outro material.
Vamos considerar que toda a sec¸c˜ao ´e constitu´ıda pelo material 1. A zona constitu´ıda pelo material dois ´e mais r´ıgida e para ter as mesmas propriedades e ser constitu´ıda pelo material 2, devia ser mais larga.
42 CAP´ITULO 2. AN ´ALISE DE TENS ˜OES
Figura 2.26:
Figura 2.27:
Em que a nova largura ´e dada pela largura inicial multiplicada pelo factor de homogeniza¸c˜ao, m. O factor de homogeniza¸c˜ao ´e:
m = E2 E1
(2.96)
Se calcularmos a in´ercia homogeneizada, temos:
I = I1+ I2×m (2.97)
As tens˜oes no material 1 s˜ao agora dadas por:
σ1 =
M
I z (2.98)
e no material 2 (o que foi substitu´ıdo) por
σ2 = m
M
I z (2.99)
Este procedimento pode ser utilizado em flex˜ao composta, ou composta desviada.
2.10. FLEX ˜AO EM ELEMENTOS HETEROG ´ENEOS 43
Deve ter-se em aten¸c˜ao que no caso de flex˜ao desviada a analogia da redu¸c˜ao da largura da sec¸c˜ao deixa de ser verdadeira.
Por outro lado, se a sec¸c˜ao n˜ao for sim´etrica, ´e necess´ario calcular o centro de massa homogeneizado.
Basicamente o principio b´asico consiste em multiplicar todas as proprieda-des do material (´area, in´ercias e tens˜oes) pelo coeficiente de homogeniza¸c˜ao.