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A IDENTIDADE DO SUJEITO NA LINGUAGEM CIBERNÉTICA

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Academic year: 2021

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A IDENTIDADE DO SUJEITO NA LINGUAGEM

CIBERNÉTICA

Zuleica Aparecida Cabral (MS) 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Resumo

Este trabalho objetiva discutir quais as configurações identitárias na linguagem cibernética. Os aportes teóricos apontam considerações parciais, uma vez que o estudo está em andamento, considera-se que as identidades são construídas socialmente, por meio de escolhas e as questões de linguagem na prática social permeiam a estruturação da sociedade e consequentemente a questões identitárias.

Palavras-chave: Identidade, linguagem cibernética, aldeia global

1 Considerações iniciais

Tem-se vivido uma grande revolução na linguagem nos últimos tempos, revolução essa devido ao advento da internet, a velocidade de informações, o avanço tecnológico, mais especificamente nos últimos trinta anos quando as novas tecnologias de comunicação começaram a fazer parte do cotidiano das instituições, bem como da rotina de cada pessoa. Conforme Marcuschi (2004) afirma:

A linguagem é uma das faculdades cognitivas mais flexíveis e plásticas que são adaptáveis às mais diversas mudanças de comportamento além de responsável pela disseminação das constantes transformações sociais, políticas, culturais geradas pela criatividade do ser humano. As inúmeras modificações nas formas e possibilidades de utilização da linguagem em geral e da língua, em particular, são reflexos incontestáveis das mudanças tecnológicas emergentes no mundo [...] (MARCUSCHI 2004, p. 7).

E é por essa revolução que interessa estudar, neste momento, quais as configurações identitárias presentes na linguagem cibernética, mais especificamente no uso do gênero blog. Tendo em vista que a escrita é um modo de analisar traços identitários e assim buscar compreender o que distancia e aproxima gerações que fizeram parte da pesquisa bibliográfica e a geração chamada de nativos digitais, Prensky (2001), ou seja, a geração que nasceu junto com a internet.

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Mestranda da Universidade Estadual de Ponta Grossa vinculada ao Programa de Pós-graduação em Linguagem, Identidade e Subjetividade. E-mail:zucabral@yahoo.com.br

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Questiona-se a respeito das identidades considerando que ao mesmo tempo em que esses diferentes sujeitos participam da aldeia global2, percebe-se que as novas gerações vivem muito mais enclausuradas nesse mundo virtual, necessitando de doses diárias de estar on-line, mas presencialmente são tímidos, amedrontados e mascaram suas dúvidas, seus medos por saberes, talvez superficiais, talvez aprofundados. Sob esse aspecto, o mundo virtual pode funcionar como um instrumento de inclusão, mas também de exclusão. Esse espaço virtual é heterogôneo, diz admitir todos e quaisquer sujeitos, mascara identidades, acaba sendo um nó que mistura diversas vozes e sujeitos, mas que se mostram na aldeia global, no entanto se escondem. Se mundo virtual é um metamundo, e o mundo real passa a ser o quê? Levy (1999) ressalta:

O uso crescente do padrão VRML3 deixa prever a interconexão de mundos virtuais disponíveis na Internet e projeta o horizonte de um ciberespaço parecido com um metamundo virtual heterogêneo, em transformação permanente, que conteria todos os mundos virtuais. (LÉVY, 1999; p. 44).

No que tange essa transformação permanente é que se discute a questão identitária e como esse ciberespaço age sob as identidades dos usuários desse meio.

2 O Advento da Internet

A revolução tecnológica abriu espaço para fortes discussões de como o poder da internet se tornou veículo de globalização. (Block, 2004 e Lévy (1999) afirmam que esse advento se deu com a invenção do transistor em 1947 e circuitos integrados em 1957, abriu caminho para a criação do microprocessador em 1971 que é a base do computador, da tecnologia de informação. Por incrível que pareça a internet foi criada para garantir a segurança dos Estados Unidos no final da guerra fria contra um ataque soviético. Era uma tecnologia de guerra usada para garantir que um ataque do inimigo em uma área não destruísse toda a rede.

A primeira rede aberta de computadores foi criada (University College de Londres para a rede Arpanet EUA acadêmico) em 1973. A partir de 1975 com a transmissão via satélite cresceu a interconexão de maneira assustadora, barateando o

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O conceito de "aldeia global", criado pelo sociólogo canadense Marshall McLuhan (1996), quer dizer que o progresso tecnológico estava reduzindo todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia.

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Virtual Reality Modeling Language. Note-se que o padrão VRML, atualmente usado na Web, organiza a exploração de modelos tridimensionais com o uso de um mouse, e não pela imersão com visores estereoscópicos e datagloves.

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custo de ligações telefônicas e melhorando a qualidade de contato. No início, a internet era usada para partilha de computador de processamento e envio de dados. O primeiro e-mail foi criado na década de 70 entre um pequeno grupo de cientistas norte-americanos para conexão de quatro Instituições (UCLA, Universidade da Califórnia em Santa Barbara, Stanford e a Universidade de Utah). Em meados da década de 70 a Apple lançou a era do computador pessoal. A partir de então esse advento desponta até o surgimento para a verdadeira explosão tecnológica em 1992 com a Criação da World Wide Web. Desde então, temos assistido de maneira assustadora a invasão massiva da internet em todas as esferas da população, primeiramente de modo tímido devido às dificuldades de conexão. No Brasil, inicialmente discada, em seguida banda larga e sucessivamente os demais meios de acesso e diferentes provedores até a rede de wireless.

Assiste-se e se adapta a esse novo meio de comunicação de massa e atualmente podemos julgar que estamos presos na rede. Pesquisa, informações, troca de correspondências, conversas em tempo real, páginas e links que arrebanharam sujeitos para uma revolução cibernética (Lévy, 1999) e uma nova maneira de construção e reconstrução identitária.

3 Identidade, ciberespaço e modernidade

O computador serve como metáfora para pensar a respeito da própria identidade, porque por meio dele vive-se um tribalismo cibernético - diz-se daquele que vive o seu mundo na tela do computador e escolhe seu grupo, segundo McLuhan (1996). Os nativos digitais parecem indivíduos mais abertos e mais fluidos, adquirem múltiplas personalidades cibernéticas, compartilham de todas as suas experiências na rede tribalizante que é a internet, baseado nas teorias de Hall (2006). Eles utilizam de todas as ferramentas possíveis para disponibilizarem gratuitamente suas vidas à de quem quer que seja.

Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares, imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicas e parecem flutuar livremente. (HALl, 2006, p. 75).

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Como afirma Rajagopalan (2003, p.59) “[...] a linguagem está no epicentro deste verdadeiro abalo sísmico que está em curso de lidar com as nossas vidas e as nossas identidades.” No que tange à escrita, é através dela que se pensa em linguagem e por meio dessa escrita que o sujeito adquire autonomia de se expor e legitima sua identidade, pois dessa maneira, legitimando ele expulsa do seu grupo o ser social que não se estabelece na sua tribo. Bourdieu (1998, p. 95) sugere que “a eficácia simbólica das palavras se exerce apenas na medida em que a pessoa-alvo reconhece quem a exerce como podendo exercê-la de direito, ou então, o que dá no mesmo, quando se esquece de si mesmo ou se ignora, sujeitando-se a tal eficácia [...]”. Por meio da escrita, o sujeito expõe seu conceito e quem sabe, nas entrelinhas, o preconceito, deixando suas marcas identitárias, sua maneira de pensar para quem realmente gosta e caso exista os que não gostem são livres para não participar de sua tribo, fragmentando assim seu ser.

[...] pelas mudanças bruscas que enfrentamos neste início de milênio, notadamente, o acesso aos meios eletrônicos de comunicação, que torna possível, tanto nas telas de televisão como nas dos computadores, uma exposição constante e imediata à multiplicidade de discursos sobre quem somos ou uma visão da vida humana como múltipla e plural, e ao mesmo tempo fragmentada. (MOITA LOPES, 2006, p 15).

Giddens (2002) afirma que a modernidade é uma cultura de risco e que ela altera radicalmente a natureza da vida social cotidiana e afeta aspectos mais íntimos da própria existência. Por um lado, temos as múltiplas influências da aldeia global, do mundo globalizado e por outro nos deparamos com as disposições pessoais do sujeito/usuário dessa aldeia. Afinal, quando tratamos de sujeito, não podemos entendê-lo como um ser passivo, mas em meio às influências sociais que são gentendê-lobais em suas consequências e implicações.

[...] a vida social moderna é caracterizada por profundos processos de reorganizações do tempo e do espaço, associados à expansão de mecanismos de desencaixe – mecanismos que deslocam as relações sociais de uns lugares específicos, recombinando-as através de grandes distâncias no tempo e no espaço. A reorganização do tempo e do espaço somada aos mecanismos de desencaixe radicaliza e globaliza traços institucionais preestabelecidos da modernidade; e atua na transformação do conteúdo e da natureza social cotidiana. (GIDDENS 2002, p. 10)

Essas transformações na vida social cotidiana mexem com dois pólos da interação, o local e o global, e que Giddens (2002) chama de transformação da

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intimidade. Nesse momento, voltamos para as questões de práticas de linguagem intrinsecamente arraigadas nessas transformações. O mundo globalizado sofre inúmeras influências na esfera das relações sociais, e elas são escolhas que o sujeito assume dado a situação em que se encontra. Quando se faz escolhas, adentramos as questões políticas que perpassam por interesses. Ou seja, é preciso escolher aquilo que é conveniente para aquela situação. O mundo globalizado, e consequentemente desterritorializado, coloca o sujeito frente a frente a situações que podem excluí-lo ou incluí-lo definitivamente nessa aldeia. Nesse sentido, as múltiplas influências devem ser muito bem analisadas para saber até que ponto uma escolha será ou não “adequada”. Basta observar que esse mundo cibernético que é para ser veloz, acaba aprisionando sujeitos diante da tela do computador, o mundo moderno é escravo da internet. Não se vive sem e-mail ou o que qualquer outro instrumento do mundo cibernético Toda a vida acaba pautada na rede, até receitas médicas são encaminhadas através dela, quem não escolhe fazer parte dessa aldeia global fica excluído do mundo, no entanto obriga outros a se engajarem nessa aldeia, pois as necessidades cotidianas e serviços cotidianos exigem a interconexão.

Nessa interconexão perguntas como: quem eu sou, é muito comum no mundo moderno. Uma crise de identidade? Pode ser. Mas essa pergunta ecoa, dado o fato que o ciberespaço é um novo espaço de comunicação, como aduz Lévy (1999). Se é um novo espaço o que devo fazer, como agir, como reconhecer esse mundo inédito que cerca a sociedade moderna, globalizada? Não cabe encontrar um sim ou um não como resposta, porém como usufruir disso tudo de forma a saber usá-lo e não ser usado por ele. Bauman (2001, p.30) sustenta que “a modernidade liquida nos projeta num mundo em que tudo é ilusório, onde a angústia, a dor e a insegurança causadas pela ‘vida em sociedade exigem uma análise paciente e contínua da realidade e do modo como os indivíduos são nela inseridos”. Se as identidades são construídas socialmente ao agir no mundo por intermédio da linguagem, as novas tecnologias da inteligência mostram que o campo é conflituoso, aberto e parcialmente indeterminado, conforme Lévy (1993):

Não há identidade estável na informática porque os computadores, longe de serem os exemplares materiais de uma imutável ideia platônica, são redes de interfaces abertas as novas conexões, imprevisíveis que podem transformar radicalmente seu significado e seu uso. (LÉVY1993, p. 102)

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As mensagens se alteram e seus significados também na passagem de um sujeito a outro no processo de comunicação. As mudanças estão ocorrendo em toda parte, mas também em nosso interior, em nossa forma de representar o mundo e a cibernética precisa ser vista sob o ponto de vista de um terreno político, como lugar de conflitos, de interpretações divergentes, afinal é a partir da comunicação que se organiza em grande parte a vida das cidades no cotidiano.

4 Considerações finais

Os estudos teóricos mostram que identidade na rede cibernética é fluida e multifacetada, pois para cada situação os usuários como aduz Bauman (2005), usam a identidade que convém como abrir o guarda-roupa e escolher a roupa para a ocasião oportuna. Essas identidades sofrem influências e as refletem, numa busca por uma identidade ou a reconstrução dela. A linguagem cibernética é usada como prática identitária para solicitar voz e mostrar o posicionamento do sujeito fluido e oprimido por políticas. Diante desse quadro, considera-se que as identidades são construídas socialmente, por meio de escolhas, portanto políticas e as questões políticas permeiam a estruturação da sociedade e consequentemente a questões identitárias do sujeito. Saber fazer as escolhas adequadas diante desse quadro conflituoso pode fazer com que o sujeito saiba usar a cibernética a seu favor e não ser usado por ela, muito embora não há uma dicotomia para nossas escolhas entre certo e errado, mas reflexões e ponderações que podem ou não ser condizentes com a situação.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Liquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

______. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Trad de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas lingüísticas. Tradução Sérgio Miceli. 2. Ed. Edusp, São Paulo, 1998,

BLOCK. D. Globalization, transnational communication and the Internet International: Journal on Multicultural Societies (IJMS), 2004 - portal.unesco.org

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GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identidade. Tradução de Plínio Dentzien. 2.ed. Zahar, Rio de Janeiro, 2002.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Ed. 34, 1999

______. As Tecnologias da inteligência: O futuro do pensamento na era da informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 2010. MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Orgs.). Hipertexto e Gêneros Digitais: Novas formas de construção de sentido. Rio de janeiro: Lucerna, 2004.

MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Identidades fragmentadas: a construção de raça, Gênero e sexualidade em sala de aula. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2006. RAJAGOPALAN, Kanavillil. Por uma linguística crítica: linguagem, identidade e a questão da ética. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

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