As Ciências
Humanas na
saúde e o
pensamento
social em saúde
Heitor Pasquim (Grupo ECOS), Programa de Pós-graduação em Educação Física, UFGObjetivo
• Apresentar as Ciências Humanas na Saúde (ex.
elementos da Cultura corporal).
1. Identificar o pensamento social nos modelos explicativos da saúde do Ocidente na antiguidade e na idade média; 2. Apresentar as perspectivas modernas do pensamento
1. Identificar o pensamento
social nos modelos explicativos
da saúde do Ocidente na
Pensamento social em saúde
• Intervenções conscientes na saúde de coletividades existem desde a antiguidade; • Existem vários modelos explicativos hegemônicos e emergentes na história;
• O processo de esgotamento do velho e aparecimento do novo não significa a eliminação e a destruição absoluta do velho;
Modelo Mágico-Religioso
• Mobilizam práticas supersticiosas e mitos • Doença é evidência de pecado (individual ou
coletivo) e ânimo dos deuses, o que exige respostas coletivas e comunitárias
❖O “social” está submetido ao pensamento religioso
❖Quem pratica a cura ou o cuidado? Há o protagonismo dos sacerdotes
Muitos deuses no
Ocidente
Quiron /quirurgia (Grécia).
Embora imortal, não conseguia curar a si mesmo, estava
condenado a viver em sofrimento, o que o
transformara no curandeiro ferido, aquele que, por meio de sua própria dor,
compreende a dor dos outros Esculápio (Grécia e Roma). Era o deus da cura. Ele possuía duas filhas: Panaceia – que conhecia todos os remédios da terra e era capaz de curar
qualquer doença humana; e Higeia – responsável pelo bem-estar social, cuidava da higiene e da saúde da coletividade
SIMPATIA PARA
CURAR HAS
Pegar um caroço de noz moscada, fazer um
buraquinho, colocar um alfinete e, por dentro da roupa, colocar em cima do peito esquerdo
Modelo empírico-racional
no Ocidente: Grécia Antiga
• A saúde era estudada pelos Filósofos
• O conhecimento sobre o mundo, inclusive a doença, se acumula da experiência sentida • Rejeitava a superstição e as práticas mágicas • Doutrina humoral adota a organização da
moderação social (razão e equilíbrio) como valor
Hipócrates, pai da medicina ocidental
• Teoria dos quatro humores: sangue; fleuma; bile amarela; e bile negra
• A saúde dependeria da exata proporção dos humores, que poderiam alterar-se por causas externas ou internas
• Podemos auxiliar as forças curativas da natureza, com quatro métodos
terapêuticos: sangria; purgativos; eméticos; e clisteres
• O tratamento para "doença do pulso rígido" consistia em reduzir a
quantidade de sangue através de sangrias ou de sanguessugas
Galeno
(122-199 d.C.)
Adaptação moderna
da teoria humoral
(em academias)
Modelo Miasmático ou dos Miasmas
(Idade Média)
• Odores provenientes de matéria orgânica em putrefação
• Emanações reconhecidas principalmente pelo olfato. Exemplo, malária "mau ar" • A doença é relacionada a uma 'abertura
dos poros' às sensações (AF?)
• “Fugir cedo, fugir para longe e retornar tarde”, equivalente medieval do
Eugênio Espejo
(Equador)
• Defendia que existiam organismos invisíveis no ar que causavam doenças e relacionava os processos de contágio com as condições de vida
• “Si se pudieran apurar más las observaciones microscópicas (…), quizá encontraríamos en la incubación, desarrollamiento, situación, figura, movimiento y duración de estos corpúsculos movibles” (…) “a la escasez de víveres, se sigue indefectiblemente la peste (…) los pobres pasan a nutrirse de cuanto llega a sus manos” (ESPEJO, 1785)
Polêmica miasmática
• No século XVI, surgiram a teoria da constituição epidêmica (anticontagionista), e a teoria do contágio (contagionista); • A teoria do contágio ressaltava a necessidade de uma causa
externa e “contato” (de pele). Enfatiza as generalizações;
• A teoria da constituição epidêmica vê a doença sob o prisma da “predisposição”. Valoriza a singularidade e totalidade;
• Para Virchow, as epidemias seriam causadas por “defeitos da sociedade”, por isso requer a responsabilização coletiva e democracia na produção da saúde
O pensamento social em saúde
não é uma criação da Saúde
Coletiva
“Não existe hoje em dia nenhuma corrente importante nas ciências sociais que afirme que a medicina [ou as ciências da saúde] tem uma autonomia completa da estrutura social ou das partes, instâncias ou elementos que a integram” (GARCIA, 1983: 97)
2. Apresentar as perspectivas
modernas do pensamento
em saúde na
contemporaneidade
“O livro do mundo está escrito em linguagem matemática” (Galileu Galilei)
Senso comum x atitude
científica
• Galileu Galilei foi o primeiro a fazer
uso científico do telescópio;
• Defendeu o heliocentrismo, teoria
oposta a doutrina oficial da Igreja;
• As suas ideias deram origem à ciência
moderna. Defendeu o uso da
matemática como linguagem da física,
estabelecendo assim um novo método
para a ciência da natureza
• A ciência da natureza é capaz de
descrever e explicar um fenômeno
da natureza
Modelo Bacteriológico
• Invenção do microscópio eletrônico
Sec. XIX
• Foi o período da chamada era
bacteriológica (teorias unicausais)
• A prática de prevenção se dá através
de identificação do agente etiológico
• A cura seria a eliminação deste agente
Positivismo
• A "física social" foi a primeira tentativa de sistematização de esforços científicos para a análise de questões sociais;
• É nesse contexto que surge o positivismo e a teorias funcionalistas;
• No meio desse contexto está o
surgimento da EF, com as primeiras iniciativas de práticas educativas;
• O modelo se firmou “vitoriosa” e produziu um enfraquecimento de critérios
subjetivos e sociais
Nascimento do Método Clínico
• Problema deve ser resolvido de forma imediata
• Sistema de pensamento aplicado ao indivíduo
• Concentra a atenção nos processos que se desenvolvem nos sistemas
orgânicos
• Aplica principalmente as ciências da natureza na investigação e
tratamento dos casos
Teoria unicausal não
responde...
• Não consegue responder às questões
que emergiam da configuração
econômico-social e das
crônico-degenerativas, comportamentais e
ocupacionais;
• O reconhecimento da complexidade
da saúde fez emergir a necessidade de
novos modelos explicativos
epidemiologista
Oswaldo Cruz em 1903
• Enfrentou epidemias de peste bubônica, varíola efebre amarela no Rio de Janeiro
• Peste bubônica. Internou os doentes e fez a
campanha “caça aos ratos”, que eram comprados; • Febre Amarela. Publicou folhetos e jornais
(Conselhos ao Povo). Criou a “Polícia dos Focos” que passou a entrar na casa das pessoas para desinfetar esses espaços;
• Varíola. Vacinou a população (Revolta da Vacina); • “Ele me xingou de Oswaldo Cruz”!
• O Rio passa por grandes reformas no centro da cidade. Começa então o “bota-abaixo”, demolição de centenas de prédios de comércio e cortiços
Positivismo na saúde
(metade do séc. XIX)
Teoria da produção
social da saúde
• Criada na AL, recebe o nome de Saúde Coletiva no Brasil;
• SC é parte das ciências sociais e humanas (objetivo dela é explicar e transformar); • NÃO substitui as ciências da natureza, mas
se opõe ao Positivismo. Ou seja, é precisa criar OUTRA ciência para explicar os
fenômenos sociais;
• O sujeito da SC é o sujeito coletivo, social e histórico, que produz saúde em um modo de produção da existência;
• A saúde não está isenta da tensão (neutra), mas tem o valor da objetividade;
• Queixa é um momento do processo que é início e resultado, porque é a afirmação da história que se inicia com anterioridade.
3 influências
modernas para as
Ciências humanas na
saúde
• Projeto preventivista;
• MOI;
• Medicina Social.
O preventivismo
(década de 1940)
• Diagnosticou-se que a formação
extremamente especializada e fragmentada aumentava os custos e descontrole público • Mudanças no ensino médico, incorporando
nele uma determinada ideia de prevenção (OPAS, Juan Cesar Garcia)
• Criticava-se a biologização do ensino, as práticas individuais e centradas no hospital • Porém, dele resultou apenas a inclusão de
disciplina curricular, sem outros projetos integradores
Modelo Operário
Italiano – MOI
(déc. 1960)
• Validação consensual;
• Não-delegação;
• Grupo homogêneo.
Otimismo (berlinguista): Ganho na
saúde pública = melhora na
A medicina social
(déc. 1960 e 1970)
• Pessimismo em relação a sociedade
capitalista
• Medicina Social surge em oposição a
experiência ideológica da
disciplinarização da população urbana
(radicalmente democrática)
• Reposicionamento do social enquanto
esfera de determinação dos
adoecimentos e possibilidades de
saúde, na prevenção das doenças e na
promoção da saúde, assim como
Domínios da AF
e Iniquidades
• Observa-se que o engajamento com
atividade física no Brasil é marcado
por iniquidades socioeconômicas;
• O perfil de AF no Brasil está marcada
pela necessidade de sobrevivência;
• É preciso reconhecer que a
possibilidade de acesso, os espaços
voltados à AF são lugares
hierarquizados socialmente;
Epidemiologia
Crítica
latinoamericana
• Propõe um dialogo com a
Epidemiologia “do norte”, mas não com o Positivismo
• Ferramenta científica que reúne
métodos das ciências da natureza e das ciências sociais
• Perfis epidemiológicos são resultado da conjunção entre os perfis de
reprodução social - mediações
sociais do processo saúde-doença - e os perfis de saúdedoença
-resultados de morbidade e mortalidade (BREILH, 2003)
Saúde Coletiva
no Brasil
• Suas origens situam-se no final da
década de 1970, em um contexto no
qual o Brasil ainda estava vivendo a
ditadura militar;
• A Saúde Coletiva no Brasil nasce então
vinculada à luta pela democracia e ao
movimento da Reforma Sanitária;
• No país, duas instituições surgem
diretamente ligadas a esse projeto: o
CEBES (Centro Brasileiro de Estudos de
Saúde) e a Abrasco (Associação
Depois da
criação da SC,
déc. de 1980
• Em meio ao fortalecimento do
neoliberalismo, surge outro “modelo”
a Nova Saúde Pública (OMS)
• BM aponta quais devem ser as
“prioridades na pesquisa &
desenvolvimento em saúde” (saúde
como parte do capital)
• Valoriza perspectivas subjetivistas
(saúde não é apreendida no
pensamento, mas se origina nele; não
mostra como a dimensão subjetiva se
articula com a vida social)
Finalmente
• Falsa polêmica entre pesquisas
qualitativas x quantitativas ou ciência da
natureza x ciências sociais e humanas;
• Positivismo e Subjetivismo
• Objeto é explicar e transformar
fenômenos sociais
• Defender vidas e afirmar aS ciênciaS
nunca foi tão necessário
Referências
GARCIA, J. C. Medicina e sociedade: as correntes de pensamento no campo da saúde. In: NUNES, E. D. (Org.). Medicina social: aspectos históricos e
teóricos. São Paulo: Global. 1983. p. 95-132.
FURTADO R. O não-lugar do professor de educação física em academias de ginástica. Dissertação de Mestrado, UFG, 2007. Disponível em:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/6/o/Dissert-%20Roberto%20Furtado.pdf
ESPEJO, E. Reflexiones acerca de las viruelas. Disponível em:
http://www.cervantesvirtual.com/obra- visor/escritos-del-doctor-francisco-javier-eugenio- santa-cruz-y-espejo-tomo-ii--0/html/0039b8fc-82b2-11df-acc7-002185ce6064_22.html
BREILH, J. Epidemiologia crítica: ciência