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A FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE AGRÁRIA. A POSSE AGRÁRIA E O DIREITO AMBIENTAL.

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Academic year: 2021

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A FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE AGRÁRIA. A POSSE AGRÁRIA E O

DIREITO AMBIENTAL.

Jesus Crisóstomo de Almeida

RESUMO

O trabalho objetiva facilitar o acompanhamento do debate atual sobre a função social da posse agrária e de seu relacionamento com o Direito Ambiental. Para melhor tratamento do tema, abordam-se os antecedentes lógicos, os aspectos mais sensíveis e relevantes para a compreensão da função social da posse agrária, bem como da relação entre a posse agrária e o Direito Ambiental.

A FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE AGRÁRIA.

A análise do sistema constitucional brasileiro, principalmente do que estabelecem os arts. 1º, II e III, 5º, XXIII, 170, III, VI e VII, 184 e 186, todos da Constituição Federal, permite reconhecer que os imóveis rurais têm uma magna e complexa função social.

Não poderia ser diferente. Sendo a terra bem de produção, isto é, bem destinado à produção de outros bens hábeis a satisfazer as necessidades da humanidade, aquela não pode ser entendida e admitida a partir de uma visão exclusivamente individualista. Há que se atribuir à mesma uma função econômico-sócio-ambiental.

Quando se exige que se atribua uma função social à terra não se estão estabelecendo limites negativos (restrições) aos titulares de direito sobre imóveis, mas impondo-se o dever (feição positiva, e não negativa) de dar à coisa destino vinculado a determinados objetivos de natureza difusa (e não meramente individualista).

Atribuindo-se uma função social à terra, há que se concluir, de forma lógica, que referida função social se projeta e deve ser observada em qualquer direito ou atividade que tenha por objeto a terra. Assim, identificam-se dentre outras, a função social da propriedade, da posse agrária, da empresa agrária e dos contratos agrários.

Pode ser dito que a função social da terra é o gênero do qual são espécies as funções dos direitos e atividades que recaiam sobre a terra.

Como espécie da função social da terra, a função social da posse agrária engloba os aspectos econômicos, social e ambiental previstos no art. 186 da Carta Magna.

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A propósito desse dispositivo constitucional, deve ser salientado que a melhor doutrina tem argumentado que ele apresenta imprecisão terminológica ao utilizar a expressão propriedade rural, em vez de imóvel rural, pois estar-se-ia referindo à espécie função social da propriedade, e não ao gênero função social da terra como seria desejável.

O aspecto econômico da função social da posse impõe o exercício da atividade agrária com aproveitamento racional e adequado do imóvel rural.

O art. 9º, §1º, da Lei 8.629/93 estabelece que o aproveitamento racional e adequado do imóvel rural é observado quando se atinge o grau de utilização da terra igual ou superior a 80% e o grau de eficiência da exploração igual ou superior a 100%.

O caráter social, em sentido estrito, da função social da posse exige que o exercício dos atos possessórios se faça com a observância das disposições que regulam as relações de trabalho e que favoreçam o bem-estar dos posseiros e dos trabalhadores.

O §4º do art. 9º da Lei 8.629/93 estabelece que a observância das disposições que regulam as relações de trabalho implica tanto o respeito às leis trabalhistas e aos contratos coletivos de trabalho, como às disposições que disciplinam os contratos de arrendamento e parceria rurais.

Já o §5º do mesmo dispositivo legal prescreve que a exploração que favorece o bem-estar dos posseiros e trabalhadores rurais é a que objetiva o atendimento das necessidades básicas dos que trabalham a terra, observa as normas de segurança do trabalho e não provoca conflitos e tensões sociais no imóvel.

O aspecto ambiental da função social da posse atribui o dever de o possuidor utilizar adequadamente os recursos naturais disponíveis e preservar o meio ambiente.

O §2º do dispositivo legal antes citado estabelece que se considera adequada a utilização dos recursos naturais disponíveis quando a exploração se faz respeitando a vocação natural da terra, de modo a manter o potencial produtivo desta.

Por sua vez, o §3º do art. 9º da Lei 8.629/93 dispõe que se considera preservação do meio ambiente a manutenção das características próprias do meio natural e da qualidade dos recursos ambientais, na medida adequada à manutenção do equilíbrio ecológico da terra e da saúde e qualidade de vida das comunidades vizinhas.

Com a constitucionalização da função social da terra e, conseqüentemente, da posse agrária, não se pode ter por recepcionada, para fins de caracterização da posse agrária, a concepção de posse constante do Código Civil.

Não se pode, diante da imposição de as normas infraconstitucionais se conformarem com o seu fundamento de validade, a Constituição, defender que o possuidor agrário é aquele que detém qualquer um dos poderes inerentes ao domínio, conforme consta do art. 485 do CC.

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A Carta Magna não admite que seja entendida como posse agrária a situação de mera detenção de um dos poderes de usar, gozar, dispor e reaver a coisa de quem injustamente a detenha.

Pode-se dizer que a exigência da observância da função social por parte da posse agrária interfere na caracterização e conteúdo desta, acabando por lhe moldar o conceito, instituindo um conceito mais abrangente e mais dinâmico. A função social conforma a posse agrária.

Não caracterizado o cumprimento da função social, afastada estará a possibilidade de visualização da posse agrária, bem como afastada a proteção à posse, uma vez que esta não existe.

Como só estará evidenciada a posse agrária se a atividade agrária desempenhada estiver conformada à função social, de conseqüência, só será possuidor agrário aquele que desempenhar atividade agrária, orientada ao resguardo concomitante de interesses individuais e difusos (bem estar da coletividade).

O certo é que a existência da posse agrária exige a constatação do cumprimento da função social.

Impõe-se, diante de tal constatação, a necessidade de se romper com a concepção de que a posse agrária deve ser vista sob o ângulo do Código Civil, como se este é que conformasse a Carta Magna.

A POSSE AGRÁRIA E O DIREITO AMBIENTAL.

Conforme se apontou anteriormente, a função social da terra, que se projeta na posse agrária, engloba três aspectos diversos e integrados: o econômico, o social e o ecológico.

O caráter ecológico da função social da posse agrária, que está a exigindo o correto e adequado manejo dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, permite estabelecer um nexo entre a posse agrária e o Direito Ambiental.

Com efeito, estando a função ambiental da posse a exigir a adoção de medidas protetivas do meio ambiente, e figurando o Direito Ambiental como uma resposta à necessidade ingente de dar um basta à devastação do ambiente, flagrante é a vinculação entre posse agrária e Direito Ambiental.

sta vinculação permite aferir a junção de raízes e a conseqüente interdisciplinariedade entre o Direito Agrário e o Direito Ambiental.

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A destacada interdisciplinariedade permite, por exemplo, que se exclua da condição de ato possessório o plantio de vegetal modificado geneticamente, quando houver ameaça de sérios danos ao meio ambiente, mesmo não havendo certeza científica quanto aos mencionados danos, em virtude da aplicação do princípio constitucional ambiental da precaução.

Com efeito, se há risco ao meio ambiente, a atividade não pode ser entendida como configuradora de posse agrária, diante da ausência do cumprimento da função ambiental.

Da situação exemplificativa, constata-se que a observância de um princípio do Direito Ambiental foi decisiva na configuração ou não da posse agrária.

CONCLUSÕES.

Da exposição anterior, podem ser extraídas as seguintes conclusões: a) o ordenamento constitucional brasileiro prevê a função social da terra;

b) a função social da terra se projeta sobre qualquer direito ou atividade que recaia sobre o imóvel, podendo-se, portanto, falar em função social da propriedade, da posse agrária, da empresa agrária etc.;

c) a função social da terra e, conseqüentemente, da posse, engloba os deveres econômicos, sociais e ecológicos;

d) a posse agrária tem o seu conteúdo e caracterização moldados pela exigência de cumprimento da função social;

e) não há posse agrária se a atividade não observou os ditames da função social; f) não havendo cumprimento da função social, não se poderá proteger a posse agrária,

pois esta não existirá;

g) não se pode admitir a concepção de posse constante do Código Civil, uma vez que tal enfoque não se encontra em sintonia com a Constituição Federal;

h) o aspecto ambiental da função social da posse agrária permite que se estabeleça uma estreita ligação entre a posse agrária e o Direito Ambiental;

i) o Direito Agrário e o Direito Ambiental apresentam junção de raízes, o que possibilita aferir a interdisciplinariedade entre os dois ramos do Direito.

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ABSTRACT

This text objective is to make one actual discussion about social function of the agrarial possession, and the implications with ambiental law. To make it more intelligible, the writer shows the social function of the agrarial possession and the logical relation between Ambiental Law.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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