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ARMAZÉM TEMPORÁRIO INDIVIDUALIZADO
DA CENTRAL NUCLEAR DE ALMARAZ
RESUMO PÚBLICO DO RELATÓRIO DO GRUPO DE TRABALHO TÉCNICO
O “Projeto para Armazenamento Temporário Individualizado (ATI) de Combustível Irradiado na Central Nuclear de Almaraz” enquadra-se na tipologia de projeto prevista no n.º 3, alínea b), subalínea v) do anexo I da Diretiva 2011/92/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de dezembro de 2011 relativa à avaliação dos efeitos de determinados projetos públicos e privados no ambiente (Diretiva AIA).
Tal como expresso pelos promotores e pelas autoridades do Estado Espanhol, este projeto terá por objetivo resolver as necessidades de armazenamento do combustível nuclear irradiado produzido pela central nuclear de Almaraz (CNA), até que seja possível o seu transporte para o Armazém Temporário Centralizado (ATC), cujo processo de aprovação se encontra em curso em Espanha.
Considerando o mencionado enquadramento do projeto na Diretiva AIA e no respetivo diploma de transposição da mesma para o ordenamento jurídico espanhol, o Estado Espanhol desencadeou um processo de avaliação dos impactes no ambiente do projeto ATI, nos termos descritos no ponto 4. do presente documento, sem contudo ter promovido as diligências previstas no artigo 7.º da referida Diretiva, nomeadamente, a consulta ao Estado Português, enquanto Estado-Membro potencialmente afetado pelo projeto e tendo este solicitado a consulta ao abrigo desse normativo.
Neste contexto, a República Portuguesa apresentou à Comissão Europeia parecer fundamentado nos termos do segundo parágrafo do número 3 do artigo 4.º Tratado da União Europeia (TUE), e para os efeitos do segundo parágrafo do artigo 259.º Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia (TFUE).
Tendo por base o dirimir esta matéria foram desencadeadas um conjunto de diligências ao nível do Gabinete da Presidência da Comissão Europeia, o qual culminou com a assinatura de um Acordo Amigável relativo ao caso de Almaraz envolvendo 3 partes: Portugal, Espanha e a Comissão Europeia.
Este Acordo pretendeu promover um diálogo e um processo de consulta construtivo com vista a alcançar uma solução para o atual litígio sobre a construção do Armazém Temporário Individualizado na Central Nuclear de Almaraz, tendo como objetivo ter em
2 conta as preocupações legítimas de Portugal quanto a este projeto e acordar medidas adequadas para dar resposta a estas preocupações de forma proporcional.
Para efeitos da operacionalização do Acordo, o Governo Português entendeu proceder à criação de um Grupo de Trabalho Técnico, constituído por elementos da administração e peritos externos, com o mandato de proceder à apreciação de toda a informação técnica em matéria de ambiente e segurança nuclear, disponibilizada pelo Governo Espanhol, nos termos do Acordo.
Em paralelo, foi promovido um processo de divulgação pública entre 20 de março e 7 de abril de 2017. Neste âmbito, foi disponibilizada toda a documentação remetida pelas autoridades espanholas sobre o projeto considerada pelas mesmas como sendo de caráter público.
Todas as 9 exposições recebidas manifestaram-se contra o projeto do ATI, destacando ainda os seguintes aspetos: necessidade de medidas de proteção, controlo, e retenção adequadas; ocorrência de eventos extremos; consideração da possibilidade de rutura da barragem de Valdecañas; avaliação da estabilidade geotécnica do local e aspetos relacionados com a segurança física e meios/procedimentos de planeamento e resposta a emergências. Estas questões foram também consideradas pelo Grupo de Trabalho e refletidas na análise do grupo de trabalho.
Tendo por base a documentação disponibilizada por Espanha por solicitação de Portugal e face à análise desenvolvida, o grupo de trabalho formulou várias conclusões sobre vários tópicos, como: o procedimento; o local de implantação e o projeto; a opção de armazenamento; a avaliação de impactes, das quais se destacam as seguintes:
O projeto de construção do ATI e a seleção do local para este efeito encontram-se justificados e os estudos realizados denotam rigor e profundidade técnica, sem embargo de algumas questões carecerem de aprofundamento.
Em termos de terrenos de fundação, verifica-se que o substrato apresenta bom comportamento tanto do ponto de vista estático como dinâmico.
Em relação à sismicidade, a zona de localização do ATI da CNA corresponde a uma zona de baixa perigosidade sísmica, pelo que se considera que esta ação possa não ser condicionante para o dimensionamento da estrutura.
Os ensaios de permeabilidade in situ, para além de serem em número reduzido, não foram realizados de forma contínua e, em consequência, alguns trechos
3 mais arenosos e mais permeáveis podem não ter sido caracterizados adequadamente.
O modelo hidrogeológico regional esquemático permite considerar que qualquer contaminação das águas subterrâneas poderá ir para a albufeira de Arrocampo e só em situações extremas de baixa probabilidade atingir o rio Tejo. Tomando como referência padrões e práticas internacionais, a construção do
ATI é uma solução adequada em termos de segurança no armazenamento do CI.
A segurança radiológica e nuclear assenta principalmente na segurança intrínseca e passiva do contentor ENUN 32P que cumpre os requisitos de segurança exigidos aos contentores do Tipo B para o transporte de matérias radioativas de elevada atividade, como é o caso do Combustível Irradiado. Da documentação disponibilizada é possível concluir que não foi analisada ou
determinada a ausência de impactes significativos do projeto em território português. Acresce que o parecer do CSN identificou lacunas em matérias que podem assumir relevância na consideração de potenciais impactes, incluindo em território português.
Tendo em vista salvaguardar as preocupações de Portugal expressas na apreciação desenvolvida, considerou-se relevante efetuar as seguintes recomendações:
No que respeita ao procedimento:
i Acompanhamento pelas autoridades portuguesas da avaliação a desenvolver pelo CSN e outras autoridades espanholas, na fase de autorização e de operação do ATI, permitindo verificar o desenvolvimento de temas como o planeamento e resposta a emergências, segurança física, vigilância radiológica ambiental e a prevenção, deteção e combate a incêndios.
ii Participação das autoridades portuguesas no procedimento de AIA relativo ao desmantelamento do ATI.
No que respeita ao local de implantação e ao projeto:
iii Realização de ensaios de bombagem e disponibilização dos respetivos resultados antes da entrada em operação do ATI, de modo a estabelecer um modelo hidrogeológico que permita, se necessário, definir e operacionalizar ações mitigadoras.
4 iv Caraterização mais detalhada dos aquíferos subterrâneos existentes no local e implementação de uma rede de piezómetros devidamente segmentados em função dos aquíferos existentes que permita monitorizar os níveis e a qualidade das águas subterrâneas.
v Demonstrar que as medidas projetadas pelo operador são suficientes para evitar a descarga de material contaminado na bacia hidrográfica do rio Tejo, em caso de ocorrer um acidente com perda de estanquicidade dos contentores, cumulativa com uma situação de combate a incêndio. Em particular que o CSN estabeleça todas as medidas a este respeito consideradas pertinentes, ante as melhores práticas internacionais.
No que respeita à opção de armazenamento:
vi Identificação dos meios adequados de vigilância, monitorização e intervenção durante todas as etapas do processo de transporte do CI e armazenamento no ATI.
No que respeita à avaliação de impactes:
vii Apresentação da análise dos possíveis impactes para o ATI decorrentes de uma rotura na barragem de Valdecañas e identificação de eventuais medidas associadas.
viii Desenvolvimento/apresentação da avaliação dos impactes radiológicos do ATI, em caso de acidente severo, incluindo uma estimativa das áreas potencialmente afetadas por uma libertação de material radioativo e a quantificação estimada do impacte desta libertação.
Identificaram-se duas vias pelas quais poderão ocorrer impactes em território nacional: por via aérea, devido à libertação de gases, espécies voláteis e aerossóis do CI em caso de acidente severo e seu transporte atmosférico, e pelo meio aquático, devido à contaminação da bacia do rio Tejo quer seja por deposição das espécies voláteis e aerossóis nos lençóis de água, quer seja pela descarga de águas de superfície ou subsuperfícial eventualmente contaminadas.
ix Acompanhamento pelas autoridades portuguesas da implementação das medidas de melhoria específicas em relação a eventos extremos que decorrem da ITC pós-Fukushima identificados no parecer do CSN.
5 No que respeita à interação entre o ATI e a CNA:
x Identificação das áreas relevantes em termos de segurança contra incêndios e atualização dos procedimentos de atuação e meios de combate a grandes incêndios.
xi Revisão do plano de vigilância radiológica da CNA, em função da necessidade de contemplar a inclusão de uma nova fonte de radiação e de risco.
xii Demonstração da análise de segurança física do ATI, em articulação com os sistemas implementados para a CNA.
xiii Revisão dos planos de emergência interno e externo da CNA para acomodar os procedimentos de resposta a emergência do ATI e sua eventual repercussão ao exterior.
Por último, salienta-se a importância de desenvolver esforços adicionais de cooperação entre ambos os países no sentido de consolidar o espírito construtivo e a confiança entre as partes, através de um reforço da aplicação dos instrumentos bilaterais existentes de forma a refletir as lições aprendidas e melhorar os procedimentos.
