• Nenhum resultado encontrado

Freehand drawing and digital representation: a discussion in the architectonic projective process

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Freehand drawing and digital representation: a discussion in the architectonic projective process"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

Freehand drawing and digital

representation: a discussion in the

architectonic projective process

RESUMEN. Este artículo se refiere a una investigación cuyo tema es la relación entre los medios de representación, principalmente los bocetos a mano alzada, y, la conciencia crítica urbana o arquitectónica del espacio. Hoy en día, las computadoras y los medios de comunicación se ha mejorado constantemente, y, además de esta evolución, también los medios de representación se ven influidos por las mejoras tecnológicas. Teniendo en cuenta estos al parecer, de un solo sentido innovaciones, este artículo tiene como objetivo reanudar el debate sobre el papel de el dibujo a mano alzada en el caso del proceso arquitectónico proyectivo y también para sugerir un acercamiento con el dibujo realizado por los experimentos en el área de representación digital. Este investigación es apoyada por los resultados de una enseñanza interdisciplinaria prácticas desarrolladas en el primer año del Curso de Arquitectura y Urbanismo (Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).

PALABRAS CLAVE: boceto, dibujo a mano alzada, el proceso de proyección arquitectónica

ABSTRACT. This paper regards to a research which subject is the relationship between the means of representation, mainly the freehand sketches, and, the urban or architectural critical awareness of the space. Nowadays, computers and the communication means are been constantly improved, and, besides this evolution, also the means of representation are influenced by the technological enhancements. Considering these apparently one-way innovations, this article aims to resume the discussion about the role of the freehand drawing in the case of architectonic projective process and also to suggest a rapprochement with the sketch performed by experiments in the digital representation area. This research is supported by the results of an interdisciplinary teaching practices developed in the first year of the Architecture and Urbanism´s Course (Institute of Architecture and Urbanism – São Paulo University).

(2)

Simone Helena Tanoue Vizioli

Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos - Universidade de São Paulo; simonehtv@sc.usp.br; 00 55 16 3373-9311;

www.usp.br and http://www.arquitetura.eesc.usp.br/.

Paulo César Castral

Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos - Universidade de São Paulo, pcastral@sc.usp.br; 00 55 16 3373-9311;

www.usp.br and http://www.arquitetura.eesc.usp.br/.

Joubert José Lancha

Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos - Universidade de São Paulo, lanchajl@sc.usp.br; 00 55 16 3373-9311;

(3)

Biografía

Simone Helena Tanoue Vizioli - Professor at the Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – São Carlos. Ph.D. in Architecture and Urbanism – University of São Paulo. Main areas of researching: sustainable development, representation and language. Orientation of two ongoing researches (2011): freehand drawing and the expressionism artists and the use of the tablet in the Drawing Course. Paulo César Castral - Professor at the Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – São Carlos. Ph.D. in Social Communication (Media Studies) – Instituto de Artes, Universidade de Campinas (IA-UNICAMP). Main areas of researching: “Photography, art and architecture: approachs” and “The relationship between the means of representation, artistic or not, and critical consciousness of spatiality, whether urban or architectural”.

Joubert José Lancha - Associate Professor at the Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – São Carlos. PhD (1999) in Architecture and Urbanism from the University of São Paulo, Brazil. Granted the degree of Associate Professor (Livre Docente) at the University of São Paulo in 2008. Professor at the University of São Paulo since 1988, teaching undergraduate and graduate courses. Coordinator of the research group “Quadro - USP”.

(4)

Freehand drawing and digital

representation: a discussion in the

architectonic projective process

Ao estudar o significado do desenho na arquitetura, é fundamental definir a que tipo de representação está se referindo: tem-se o desenho de observação, o desenho criativo, o desenho artístico, o desenho à mão livre, o desenho técnico, feito com uso de instrumentos específicos, o desenho feito com auxílio do computador, enfim, a palavra “desenho” abarca inúmeras abordagens. Este texto insere-se em uma linha de investigação que tem como questão a relação entre os meios de representação, com ênfase no desenho à mão livre, e a consciência crítica de espacialidades, seja urbana ou arquitetônica.

No quadro histórico, o desenho foi se constituindo uma alternativa que ainda hoje subsiste. Alternativa entre o rigor e o imediatismo. No caso da arquitetura, entre uma tradição especifica - do desenho técnico - e uma outra, que com a idéia de arquitetura conserva uma relação mais direta - os primeiros esboços ou croquis.

Hoje, vive-se uma época em que a informática e os meios de comunicação se renovam a cada instante, e neste percurso, também os meios de representação são palco de inovações tecnológicas. Inserido neste avanço, aparentemente de mão única, este artigo pretende retomar a discussão sobre o papel do desenho à mão livre, principalmente do croqui.

O desenho - um breve histórico

A linguagem, sistema de signos que serve de meio de comunicação de idéias, para alguns, teve sua origem nos gestos corporais, passando para os sinais sonoros e posteriormente gráficos. Entre estes últimos, enquadra-se o deenquadra-senho. Cada povo, cada cultura, em cada época, apoiado sobre idéias determinadas, criou sua maneira particular de traduzir para uma superfície plana o mundo real.

As formas arquitetônicas foram, ao longo da história, desafios aos mestres de obras, projetistas e arquitetos. Durante a Idade Média, os desenhos bidimensionais das grandes construções – pontes, fortes, igrejas - eram executados muitas vezes no próprio canteiro de obras, no chão ou nas paredes. Ainda hoje se adota, na prática da interpretação dos espaços, os

(5)

desenhos que combinam plantas, cortes e fachadas, introduzidos provavelmente no século XVI (REBELLO, ELOY e LEITE, 2006).

De acordo com Righetto (s/d), quatro momentos importantes para o desenho de arquitetura podem ser destacados: a) o Renascimento, onde a perspectiva e o desenho eram usados como método de projeto de grandes edificações, representados em corte e planta e complementados com maquetes; b) o século XVIII, marcado pela introdução do pincel nos desenhos de arquitetura, pela adoção da unidade “metro” e pelo surgimento do sistema de projeções ortogonais de Gaspar Monge; c) o Modernismo, momento da separação do “desenho de execução” do “desenho de apresentação”, isto é, o desenho técnico atinge um grau de abstração e destina-se à execução do objeto arquitetônico e o desenho de apresentação assume um caráter mais livre e d) final do século XX, período em que ocorrem grandes mudanças nos sistemas de expressão gráfica com a utilização do computador.

O croqui

Para Nascimento (2002) a arquitetura, considerada como organização do espaço, não tem uma forma necessária e previsível, mas pode revelar-se através de tantas linguagens de arquitetura quantos forem os indivíduos que se projetarem sobre ela, ou melhor, o arquiteto ao concebê-la não adota métodos nem códigos, mas encontra-se plenamente imerso na sua atividade criadora.

Os desenhos à mão livre, produzidos durante o processo projetivo, são uma somatória de experimentações, percepções e impressões. Os esboços, por meio de seus gestos rápidos, são capazes de captar o pensamento antes de sua depuração, isto é, o pensamento frui da mente para o papel, se concretiza, repousa sobre o plano e então passa a ser lida, analisada, e modificada.

O desenho é uma linguagem, um meio de expressão, um meio de transmissão do pensamento. O desenho, perpetuando a imagem de um objeto, pode ser um documento contendo todos os elementos necessários para evocar o objeto desenhado, quando este desaparece. [...] O desenho permite transmitir integralmente o pensamento sem a concorrência das explicações escritas ou verbais. Ele ajuda o pensamento a se cristalizar, a tomar corpo, a se desenvolver. (LE CORBUSIER, 1968 apud NASCIMENTO, 2002, p. 48).

Para a maioria dos arquitetos os esboços do projeto são parte de um processo onde as idéias passam do plano abstrato para o concreto do papel, passível de alterações, somas e subtrações. Segundo Rafael Perrone (in SCHENK, 2010), o projeto enquanto atividade é compreendida

(6)

como um conjunto de atos e procedimentos utilizados para descrever um objeto inexistente no início de seu processo, sendo este um percurso realizado por aproximações sucessivas.

Embora os procedimentos sejam variados, esse caminho das aproximações sucessivas quase sempre tem seu início em desenhos livres (os croquis ou estudos preliminares) onde as formas estão se definindo, evoluindo-se para desenhos cada vez mais precisos (desenhos técnicos), onde os sistemas gráficos, normatizados, representam formas perfeitamente definidas. Neste sentido, Perrone nomeia o primeiro momento do projeto como “desenhos representativo-sugestivo” e o segundo como “desenhos descritivos-operativos”.

Uma primeira característica do esboço, que determina a impossibilidade de sua eliminação é porque é feito a mão e ao mesmo tempo porque é veloz. O esboço permite que a mão corra atrás da imprevisibilidade e da descontinuidade do pensamento. Permite reconduzir a trama das formas a uma substância mais profunda e mais longínqua. Para Athur (in ROZESTRATEN, 2006):

Não se trata de uma simples tradução, exteriorização ou materialização de uma imagem mental preexistente. Afinal a concepção da forma sensível não poderia preceder a sua execução ou fatura, posto que o processo formativo é, necessariamente, a gênese de sua materialidade. Ou seja, o ato de desenhar ou modelar é indistinto da criação, e como tal é aberto: sujeito a críticas, revisões e alterações. (ROZESTRATEN, 2006, p. 1).

Dentre as obras da arquitetura paulistana, Katinsky (in ARTIGAS, 1998) ressalta a importância da coleção dos croquis do edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde se pode verificar “progressões, marchas e contramarchas, próprias de um deambular por território desconhecido.” Katinsky considera que o esboço faz parte de um processo criativo em constante transformação: “[...] a criação no homem se alimenta, para se aperfeiçoar, da própria criação [...] é criando que se aprende a criar.” (KATINSKY in ARTIGAS, 1998, p. 14).

(7)

Figura 1: croquis da FAUUSP de Vilanova Artigas Fonte: ARTIGAS, 1998.

A Figura 1 refere-se aos croquis do Arquiteto Artigas, para o projeto da Universidade de São Paulo. Artigas manteve a maioria de seus croquis, que foram compilados em livro, onde se pode “ler” a história do projeto por meio dos desenhos.

“O traço, registro do gesto (...)” configura seu percurso deixando indícios de sua velocidade e de sua energia, de quem o fez com suas certezas e vacilações. O traço figura e materializa o gesto. Torna-se desenho, ao se lhe aderirem às intenções. (DWORECKI, 1984 apud DWORECKI, 1998, p.115). No caso do desenho, além da função documental, se constitui como importante instrumento de interpretação, análise e compreensão de determinadas obras ou elementos, espaços e lugares. A representação gráfica extrapola o simples registro mecânico, é resultado de sensações, percepções e olhares críticos. O desenho pode permitir uma compreensão mais dilatada e reflexiva sobre o território, a paisagem, a cidade e a arquitetura

A relação entre a percepção e o desenho

O desenho é um meio de expressão da cultura, da sociedade, do urbano. Para se alcançar esta significância, antes do gesto do desenhar, há uma depuração, uma percepção do objeto, dos indivíduos, de suas relações, do espaço, dos edifícios e da cidade.

Neste contexto, a percepção tem no olhar a sua ferramenta inicial. Não se trata de um olhar qualquer, mas de um olhar atento, um olhar curioso, um olhar que busca contradições e armazena informações na busca de soluções.

Para Bosi (in NOVAES, 1998) o olho é a fronteira móvel e aberta entre o mundo externo e o sujeito, tanto recebe estímulos luminosos quanto se move à procura de alguma coisa, que o sujeito irá distinguir, conhecer, interpretar e pensar. Há um ver-por-ver, sem o ato intencional do olhar e há um ver como resultado obtido a partir de um olhar ativo.

O arquiteto percebe o espaço construído, seja pela arquitetura, seja pela cidade. Mas, o que significa perceber o espaço? A percepção não é a representação fiel do real. Ela se dá ao interagir com seu objeto, alterando-o. A percepção é alimentada pelas condições do lugar e do momentalterando-o. No entanto, segundo Merleau-Ponty (1994), o processo de percepção do mundo passa a se dar a partir do que os psicólogos chamam de experience error, ou seja, “construímos a percepção com o percebido”. A questão aponta a substituição da experiência em si pelo uso dos registros de

(8)

experiências anteriores, conduzindo a uma falta de distinção e compreensão das particularidades tanto das novas experiências quanto daquelas já passadas. (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 25).

Vasconcelos (2006) resgata a percepção como uma forma efetiva de se aprender e neste sentido, o desenho comparece como uma ferramenta valiosa para entender melhor o mundo e imprimir um significado pessoal. Por meio da promoção da capacidade de observação, análise, seleção, compreensão, memória e julgamento, o desenho concretiza uma consciência perceptiva.

Neste processo que se inicia pelo olhar, percorre a percepção e a criação, chega-se à representação. Para Dworecki (1998) a representação se dá quando o percebido, a consciência de percebê-lo, as intenções e as técnicas, se aderem à expressão. É como impregnar o traço de pessoalidade, tornando-o desenho. A expressão torna-se representação num ato de redução. Para o autor, ambas, “expressão” e “representação” são fatos da cultura, coisas da comunicação da espécie. “No ato de perceber, sensação torna-se emoção. Traço torna-se desenho nessa circunstância em que expressão se converte em representação sempre possível, única e transformável” (DWORECKI, 1998, p.14)

O desenho à mão livre é único, não apenas pelo seu traço singular e pessoal, mas principalmente, pela percepção que cada um constrói em sua consciência.

Disciplina de Desenho de Arquitetura I

Este artigo traz a metodologia de duas disciplinas do Curso de Arquitetura – Desenho de Arquitetura I e Projeto I, ministradas no primeiro ano do Curso. O objetivo da disciplina de Desenho de Arquitetura é introduzir fundamentos da sintaxe visual e expressão gráfica além de sistemas de representação espacial da arquitetura. A disciplina tem como enfoque a percepção e a representação por meio do traçado à mão-livre.

Desenhar, desenhar, desenhar e desenhar. Através de escolhas, enfatismos e exclusões. Quem desenha aprende e reaprende a ver todos os dias. A experiência tanto a nível pedagógico como da prática efectiva do desenho, traduz que se observa melhor, observando e que se desenha melhor desenhando. (TAVARES, 2009, p. 21).

As palavras de Tavares representam a metodologia adotada na Disciplina de Desenho I. As aulas são preenchidas por trabalho intenso, porém gradual, de desenhos a mão livre, desenhos de observação, desenhos cegos, para que o aluno recém ingressado domine essa linguagem e possa se utilizar dela no processo projetivo. É preciso fazer o aluno compreender

(9)

que o desenho não é apenas um processo manual, mas também intelectual e a prática o fará mais apto a incorporar os vários fatores que alimentam esse processo.

Os alunos iniciam o Curso estabelecendo uma intimidade maior com o desenho, o papel, o lápis, sem o objetivo de um resultado pronto e acabado. A disciplina procura estabelecer um desenvolvimento crescente nos exercícios propostos, indo do corpo, para a relação do corpo no espaço chegando ao espaço construído.

Figura 2: croquis de alunos (Gabriela Villa e Pedro Ivo Teixeira) do primeiro ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo do IAU-USP, 2010.

Fonte: exercícios da Disciplina de Desenho de Arquitetura I.

Disciplina de Projeto I

Como ponto de partida para o primeiro exercício de projeto aos alunos do primeiro ano, foi proposta a elaboração de uma composição tridimensional onde as figuras do círculo e do quadrado estivessem presentes. O objetivo era estimular os alunos a confrontar essas duas figuras no exercício objetivando discutir os vínculos existentes entre composição, representação e história.

Esse exercício joga com dois importantes debates que no âmbito da arquitetura ocorriam no século XVI. Naquele momento, as bases teóricas da profissão estavam sendo elaboradas, seja naquilo que se refere ao papel do arquiteto como do vínculo estreito entre essa figura que se constituía e o papel da representação bi e tridimensional. Representação da arquitetura que se diferenciava daquela utilizada pela pintura e pela escultura entrando como momento intermediário entre a idéia e o canteiro. A atribuição do arquiteto, assim como, os princípios da representação em arquitetura como se conhece e se opera ainda hoje – da compreensão do edifício através da sua secção em partes (planta, corte, elevação e perspectiva) - estavam

(10)

sendo debatidos. E o edifício com planta central se constituía, naquele momento, como a tipologia que suscitava o debate entre um grande número de arquitetos. Um amplo debate, como se observa pelo grande número de projetos, que nasce em função das sugestões que essas formas propunham, dos valores simbólicos que carregavam, mas também das dificuldades em saldar esse encontro de formas e da necessidade da representação e do tensionamento de suas regras. No exercício, ou em um primeiro exercício é importante que essa amplitude da dimensão da

representação e da composição seja observada (Figuras 3 a 5).

Figura 3: croquis e exercício de projeto de Pedro Ivo Teixeira (1º ano), 2010. Figura 4: croquis e exercício de projeto de Murilo Silveira Arruda (1º ano), 2010.

(11)

Cumplicidade entre desenho e projeto

O processo projetivo pode ser sinteticamente dividido em três etapas: 1ª – a estruturação do problema; 2ª – a concepção do projeto e 3ª – a realização do projeto. A primeira contempla o levantamento de dados relativos ao “problema existente” e sua avaliação; já a segunda busca a procura da solução, o desenvolvimento do projeto propriamente dito. É nesta etapa que o desenho dá a sua maior contribuição, como elemento de especulação contrapondo-se com as tecnologias digitais utilizadas com maior freqüência na terceira etapa.

Maria Vasconcelos ressalta a possibilidade de se articular diferentes lógicas de pensamento por meio do desenho, ou seja, o gesto rápido permite numa mesma ação a constituição de relações objetivas e lineares e a percepção das mesmas de maneira integrada e generalizada. Para a autora:

It seems that “denseness” and “ambiguity” of freehand sketches allow multiple interpretations and identification of problems stimulating new design alternatives. There is a clarification of concepts through sketching in the ideation phase that by allowing an evaluation provokes the exploration of new ideas. (VASCONCELOS, 2006, p. 3)

Novo contexto

De acordo com Duff (2005, in VASCONCELOS, 2006) não é possível pensar o desenho hoje, da mesma forma que há trinta anos, pois existe uma nova gramática e sintaxe criada pelas novas tecnologias. A atividade de desenhar é dinâmica e reflete o contexto de seu tempo. Mas ressalta-se que o momento atual é de coexistência entre os diferentes tipos de tecnologias.

Diferentemente do croqui, que permite uma interação imediata entre autor e projeto, os programas digitais, como o próprio termo indica, exige um seqüenciamento de operações na execução da tarefa de desenho. Uma técnica ou tecnologia não substitui outra, mas sim, acrescenta novas possibilidades de trabalho de modo integrado.

Os novos softwares, como o CAD, o Revit, o Sketch-up, entre outros, são ferramentas importantes e devem ser incorporadas no processo projetivo. Porém, a conexão entre corpo, mente e expressão ainda é dada pelo processo analógico – o desenho feito à mão. Os meios digitais podem dar suporte e continuidade a esta primeira etapa, mas, o esboço ainda é ferramenta insubstituível no processo projetivo.

É inquestionável o avanço que o CAD imputou à área de Arquitetura, ele facilita e reduz o tempo de execução de um desenho, além de fornecer uma precisão técnica insuperável pelo desenho feito à mão. Alguns acadêmicos

(12)

e profissionais questionam certas limitações do programa, como a impossibilidade de uma visualização global do projeto, que é condicionado ao tamanho da tela do computador.

De acordo com Righi (2008) estudos apontam que durante o processo de parametrização das soluções em sistemas CAD ocorre uma simplificação digital da proposta inicial. Perde-se parte da imprecisão dos croquis, dos estudos, que permitem a flexibilização das ações dos arquitetos. Por outro lado, existem instrumentos digitais que auxiliam no processo projetivo, como por exemplo os tablets. Eles possibilitam o desenvolvimento de projetos em equipe, pois, conectadas a um notebook e com as imagens projetadas em uma tela, os participantes podem desenhar, somar e subtrair idéias por meio de alterações nos desenhos de forma interativa.

Uma das vantagens em se desenhar no tablet é a possibilidade de armazenamento dos desenhos e sua posterior edição por meio de outros softwares. As telas digitais, no seu início, não eram capazes de reproduzir o gesto livre do croqui, mas ainda há muito a ser desenvolvido neste campo. A Figura 6 ilustra três desenhos: o desenho de observação da mão e a cópia da Menina Sentada de Schiele foram feitos com uso do tablet e o desenho de observação de detalhe de um edifício foi feito no tablet com edição no photoshop.

Figura 6: desenhos de Gabriela Villa feitos no tablet.

O tablet se apresenta também como instrumento capaz de fazer um link entre o desenho analógico e o digital. Ele é capaz de captar a pressão e a velocidade empregada pelo traço (caneta digital) aproximando o processo de inserir dados no computador à imprecisão e ambiguidade do gesto próprio ao desenho à mão livre. É importante apontar que não se trata de uma simples alteração de suporte, do papel à tela do tablet, mas a possibilidade de uma sinergia entre duas lógicas de grafias. Assim o processo de sistematização próprio dos softwares pode ser contagiado pelo imediatismo do desenho à mão livre, e este ter seu processo de reconstrução significante potencializado por meio das posteriores edições

(13)

digitais. A Figura 7 ilustra um croqui (de estudo) feito para o concurso da Sede da Confederação Nacional dos Municípios, em Brasília, realizado em 2010, onde o desenho foi feito no tablet e posteriormente editado no photoshop.

Figura 7: croqui de estudo para concurso de arquitetura de VIZIOLI, R.

Considerações finais

Mesmo diante das transformações tecnológicas do sec XX, seria ingênuo acreditar que o desenho à mão-livre não tenha mais espaço no processo projetivo. Trata-se de um momento de complementaridade entre as diversas técnicas, os desenhos a mão livre ainda são imperativos, mas não se pode ignorar os avanços computacionais.

Na relação entre obra e desenho, ou entre cidade e desenho é necessário partir da compreensão de que a obra é por tendência hermética, um mundo que se apresenta cifrado e com poucas condições de falar. Este se propõe tão carregado de consistência e de experiências e tempos acumulados que se torna mudo. Os desenhos, ao contrário, se apresentam e é proposto como sombras que abrem possibilidades e permitem a leitura da obra de pontos de vistas múltiplos; decompõe a sua compactação. Oferecendo não uma só evidência, mas tantas. O desenho passa a ser uma espécie de terreno de conflito. E nisso está a sua grandeza e sua dignidade.

Por isso, esse desenho impulsivo deve ser re-introduzido e se tornar parte de uma didática da arquitetura. O croqui alimenta o debate entre o “pensar o espaço” e a “espacialização das idéias”, principalmente por meio de suas características de abstração, imprecisão e ambigüidade. Configura-se, assim, um caráter aberto a diversas possibilidades de investigação e experimentação, ocupando papel importante no processo de resolução de problemas.

(14)

Bibliografía

ARTIGAS, João Batista Vilanova. Caderno contendo o anteprojeto para a

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (croquis), 1998.

DWORECKI, Silvio. Em busca do traço perdido. São Paulo: Scipione – Editora da Universidade de São Paulo, 1998.

MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

MARIA VASCONCELOS, Helena Elias. Questioning drawing for designers: Project work as a strategy and examples from practice. In 2006 Desining Research Society. International Conference in Lisbon. IADE.

NASCIMENTO, Myrna de Arruda. Arquiteturas do Pensamento. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção de título de Doutor. São Paulo: FAU-USP, 2002.

NOVAES, Adauto et al. O olhar. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

REBELLO, Yopanan; ELOY, Edison; LEITE, Maria Amélia D´Azevedo. A métrica da forma. In Arquitetura e Urbanismo, out, 2006.

RIGHI, T. A .F; Celani, G. Esboços na era digital: uma discussão sobre as mudanças na metodologia de projeto arquitetônico. Congresso Iberoamericano de gráfica digital SIGRADI. In Anais... Havana Cuba 2008.

RIGHETTO, A. V. D. A dinâmica do elaborar e do apresentar o projeto de arquitetura. Sigradi – Visualizacion en arquitectura y patrimônio, s/d. In Anais…p. 628-633.

ROZESTRATEN, Artur. O desenho, a modelagem e o diálogo in: Arquitextos (portal vitruvius) Texto Especial 392 – novembro 2006 disponível em: http://www.arquitextos.com.br/arquitextos/arq000/esp392.asp acesso 9/3/2010 SCHENK, Leandro Rodolfo. Os croquis na concepção arquitetônica. São Paulo: Annablume, 2010.

TAVARES, Paula. O desenho como ferramenta universal. O contributo do processo do desenho na metodologia projectual. In Revista de Estudos Politécnicos

Referências

Documentos relacionados

A motivação para o desenvolvimento deste trabalho, referente à exposição ocupacional do frentista ao benzeno, decorreu da percepção de que os postos de

São por demais conhecidas as dificuldades de se incorporar a Amazônia à dinâmica de desenvolvimento nacional, ora por culpa do modelo estabelecido, ora pela falta de tecnologia ou

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

Esse resultado justifica o presente trabalho, cujo objetivo é analisar a formação de soluções na fase sólida, para os sistemas binários: ácido láurico + ácido mirístico e

Do amor," mas do amor vago de poeta, Como um beijo invizivel que fluctua.... Ella