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BIOCOMBUSTÍVEL DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS A REALIDADE DO SONHO

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Academic year: 2021

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BIOCOMBUSTÍVEL DE ÓLEOS E GORDURAS RESIDUAIS – A

REALIDADE DO SONHO

Luciano Hocevar *

RESUMO

O modelo energético atual baseado no petróleo dá sinais de esgotamento e com ele o paradigma produtivo que utiliza o petróleo também como fonte de matéria-prima para grande parte dos produtos que usamos e consumimos.

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a viabilidade econômica e tecnológica do uso de resíduos de óleos e gorduras vegetais (OGR) para produção de um combustível alternativo ao óleo diesel convencional - Biodiesel, trazendo para a discussão a ótica de um participante do mercado de coleta de OGR, que também é professor e engenheiro.

PALAVRAS-CHAVE:

Biodiesel, OGR; óleos e gorduras vegetais; reuso de óleo residual.

1 INTRODUÇÃO

A produção industrial atingiu patamares mais elevados do que em toda a sua história e seus efeitos podem ser usufruídos nos produtos que consumimos e no conforto que trazem, mas também podem ser sentidos de forma negativa no descarte destes mesmos produtos no meio ambiente, poluindo o ar, águas e terras.

O aumento do consumo traz consigo o aumento dos dejetos e de embalagens, resíduos que são fruto de uma mentalidade produtiva voltada para o consumo imediato, sem preocupação com as conseqüências para o meio ambiente ou para o futuro dos próprios consumidores.

Sob uma ótica ampliada, quem assim procede recolhe os lucros advindos de sua atividade e repassa o ônus de sua limpeza para a sociedade e nem sempre os impostos gerados compensam os gastos públicos com saúde - coletiva e individual- e a recuperação do meio ambiente, quando ela ainda é possível.

_______________________

*

Engenheiro Químico, Mestre em Administração, Professor das Faculdades de Tecnologia e Ciências-FTC e Área 1, de Salvador/BA, hocevar@terra.com.br

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Felizmente esta mentalidade tem mudado em anos recentes, com o fortalecimento de uma corrente que defende a produção com tecnologias limpas e o reaproveitamento de resíduos, o que tem levado empresas e governos a buscarem viabilidade econômica para os produtos, sub-produtos e resíduos dos processos produtivos, diminuindo os impactos no meio ambiente, estimulando a não-geração de resíduos, a reciclagem de matérias-primas e/ou subprodutos e evitando a geração de passivos ambientais.

Por outro lado, o modelo energético atual baseado no petróleo dá sinais de esgotamento, o que é grave, pois além de fonte de energia o petróleo é utilizado em larga escala para a produção de plásticos, roupas, fertilizantes e medicamentos, por exemplo, movimentando uma verdadeira “civilização do petróleo” (RIFKIN, 2003). Como matéria-prima nobre e cada vez mais escassa, é fácil concluir que sua queima não é a aplicação mais inteligente.

Urge, portanto, aprimorarmos tecnologias para aproveitar outras fontes de energia, de preferência renováveis, como a solar, a eólica e a estrela do momento: o biodiesel.

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a viabilidade do uso de resíduos de óleos e gorduras vegetais para produção de combustível alternativo ao óleo diesel convencional.

Suas características encontram-se extensivamente discutidas, assim como a destinação, para o mesmo fim, de óleos vegetais usados em frituras, mas carecem ainda da visão de um participante do mercado, que também é professor e engenheiro. Acreditamos que desta forma estaremos contribuindo para tornar ainda mais produtiva a discussão acadêmica e científica.

2 VIABILIDADE TÉCNICA DO BIODIESEL A PARTIR DE OGR

Biodiesel é “um combustível composto de ésteres monoalquilados de ácidos graxos de cadeia longa obtidos de óleos vegetais ou gorduras animais” (ASTM - PS 121/99).

A utilização de resíduos de óleo de soja e gordura vegetal hidrogenada oriundos de frituras – OGR como matéria-prima para o biodiesel tem sido bastante estudada e sua viabilidade técnica comprovada (MENDES et al., 1989; COSTA NETO; ROSSI, 2000; RABELO, 2001).

Comparado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodiesel pode reduzir em 78% as emissões de gás carbônico, considerando-se a reabsorção pelas plantas.

Além disso, reduz em 90% as emissões de fumaça e praticamente elimina as emissões de óxido de enxofre. É importante frisar que o biodiesel pode ser usado em qualquer motor de ciclo diesel, com pouca ou nenhuma necessidade de adaptação (LIMA, 2004).

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Na Bahia existe, desde 2000, no campus da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, uma planta-piloto com capacidade de produção de 1.400 litros de biodiesel / dia a partir de óleo de dendê e OGR (LIMA, 2004).

Convênios assinados em 2003 entre a USP (Depto. de Química da USP/Ribeirão Preto), a UFRJ (COPPE) e lanchonetes destinaram OGR para pesquisas com biodiesel e a estimativa inicial era reprocessar de 60 a 100 toneladas de óleo por mês, segundo Miguel Dabdoub, do Projeto Biodiesel Brasil.

A Petrobrás também desenvolve, desde 2000, projeto com biodiesel a partir de OGR, em convênio com a COPPE e COMLURB (COPPE, 2005).

3 ESTIMATIVA DE VOLUME DE ÓLEO RESIDUAL

A fritura por imersão utiliza óleos vegetais, gorduras animais ou vegetais para transferir rapidamente calor para produção de alimentos, em processo de alta temperatura.

Em estabelecimentos comerciais usam-se fritadeiras elétricas com volumes de 15 a 300 litros, podendo ultrapassar os 1.000 litros nos processos industriais.

Com o uso contínuo o óleo oxida-se, torna-se mais viscoso, escurece, desenvolve “ranço” e só quando a oxidação compromete a qualidade do produto o óleo é trocado.

Não havendo legislação sobre o tema, a troca segue um critério particular e por estes motivos é difícil estimar o volume de OGR descartado, mas o Centro de Saúde Ambiental da Prefeitura Municipal de Curitiba indica 100 toneladas de OGR/mês na cidade e região metropolitana (COSTA NETO, 1993).

4 VIABILIDADE ECONÔMICA DO BIODIESEL A PARTIR DE OGR

Para ser viável economicamente o biodiesel de OGR precisa mudar a rota atual, que inclui a produção de sabão, de massa de vidraceiro e de ração para animais, entre outros.

Estudo elaborado pela UFRJ / COPPE indica que o custo médio de produção de biodiesel a partir de OGR é de US$ 0,25 / litro (ROSA et al., 2002).

Admitindo-se que o preço médio do óleo diesel nas capitais do país é cerca de R$ 1,40 e o custo de produção do óleo diesel seja cerca de R$ 0,50 (LIMA, 2004); em termos econômicos o biodiesel não pode concorrer, nas atuais condições, com o diesel convencional.

Como player deste mercado de coleta e reciclagem, questionamos os dados dos

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aquisição de OGR nos estabelecimentos comerciais e industriais do país, como se ele fosse simplesmente jogado fora ou trocado por produtos de limpeza.

O que ocorre na realidade é muito diferente do citado em artigos, pois o OGR é comprado por preços que podem chegar facilmente a R$ 0,50 o litro, dependendo do local e do volume coletado. Há, além de tudo, pouca margem de negociação na compra de OGR, já que a referência de cada estabelecimento é o preço de compra do óleo ou gordura novos e a granel, produto que não tem diminuído seu preço mesmo que a cotação da soja esteja em baixa, como ocorre hoje.

Apesar do romantismo com que é vista a reciclagem por quem não a exerce, a atividade é considerada tarefa de verdadeiros “intocáveis” e tratada com desprezo pelos demais segmentos da cadeia produtiva. Os locais de coleta – normalmente lixeiras ou junto a elas - são sujos, o que impede o transporte com outros produtos; há necessidade de força física para a movimentação dos recipientes dos locais de coleta para os veículos de transporte e destes para os depósitos, pois cada recipiente pesa até 120 kg, sendo sua movimentação manual.

Além disso, a rede de coleta é micro-pulverizada, com grande número de pontos e pequeno volume em cada ponto. Um típico e bom ponto de coleta fornece em média 60 litros de OGR por mês, o que significa cerca de 3.000 pontos de coleta para um volume de 180 litros de OGR bruto por mês, volume que após a eliminação de água e impurezas cai para 120 litros. Todas estas características têm impacto negativo sobre o custo de produção.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para competir no mundo em permanente transformação em que vivemos, antecipar-se às necessidades de novos produtos e tecnologias é condição para a sobrevivência, e isto não é diferente para as novas fontes de energia, muito menos para o biodiesel. De acordo com Martins (2000), para ter êxito todo produto deve ser de fácil utilização, ser compatível com as preocupações de preservação do meio ambiente, apoiar-se em tecnologia conhecida no sentido de ser facilmente fabricado (manufaturável), agradar os clientes e ser vendável. Se esta última condição não for atendida, as demais de nada adiantarão e a história está cheia de excelentes produtos que foram retumbantes fracassos de mercado.

No caso do biodiesel temos um produto com excelentes perspectivas para se tornar uma estrela do mercado, pois atende às preocupações com o meio ambiente, agrada os clientes e tem tecnologia relativamente conhecida, mas ainda não podemos afirmar que seja

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facilmente manufaturável tendo OGR como matéria-prima. Tanto pelas dificuldades de obtenção, quanto do preço inicial de produção, temos indicadores que não recomendam a fabricação do biodiesel a partir de OGR, nas atuais condições.

O Brasil apresenta grande potencial e nível tecnológico adequado para desenvolver o biodiesel, mas é possível que isto seja economicamente viável com outras fontes, como mamona ou dendê e que o OGR sirva apenas de plataforma para desenvolvermos a tecnologia, diminuindo a dependência do petróleo cada vez mais raro.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA NETO, P. R.; ROSSI, L.F.S. Produção de Biocombustível Alternativo ao Óleo Diesel Através da Transesterificação de Óleo de Soja Usado em Frituras. In: Revista

QUÍMICA NOVA, n.23, ano 4, 2000. p.531.

COPPE 2005. Disponível em: http://www.planeta.coppe.ufrj.br/artigo.php?artigo=451. Acesso em 30/06/2005.

LIMA, P.C.R., O biodiesel e a inclusão social. Consultoria Legislativa. Brasília: Câmara dos Deputados. 2004.

MARTINS, P.G.; LAUGENI, F.P. Administração da Produção. São Paulo: Saraiva. 2000. MENDES, A.P.C.S. et al., Emprego de Óleos Vegetais Para Fins Carburantes. Belo Horizonte: Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC). 1989.

RABELO, Ivan Darwiche. Estudo de desempenho de combustíveis convencionais

associados a biodiesel obtido pela transesterificação de óleo usado em fritura. Dissertação

de Mestrado. Curitiba: CEFET – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. 2001.

RIFKIN, Jeremy. A Economia do Hidrogênio. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2003.

ROSA, L. P. et al. Análise Prospectiva de Introdução de Tecnologias Alternativas de

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