Teologia Sistemática
Patriarcado de Lisboa| Instituto Diocesano de Formação Cristã Escola de Leigos | 1º Semestre 2014/2015
Tema da sessão
Os Sacramentos da Cura
O Sacramento da Penitência
• Os nomes do sacramento
• Evolução histórica
• Breve sistematização teológica
O Sacramento da Unção dos Doentes
• Nome do sacramento
• Evolução histórica
O Sacramento da Penitência
Os nomes do sacramento: Confissão.
Confissão da glória de Deus. Confissão dos pecados.
Penitência
Caminhada pessoal e eclesial de conversão, de arrependimento e de satisfação por parte do cristão pecador.
Indica conversão, mudança de mente e de vida, exterior e interior. Reconciliação
O amor de Deus que reconcilia
O Sacramento da Penitência
Evolução histórica:
A penitência antiga ou canónica (Séc. II-VI).
Trata-se de uma penitência pública (mas não de uma confissão pública) para pecados particularmente graves como a apostasia, o homicídio ou o adultério; era particularmente rigorosa e só podia receber-se uma vez na vida. A celebração da penitência canónica compreendia 3 momentos distintos: a entrada no grupo dos penitentes e a imposição da penitência, numa celebração comunitária; o período de penitência ou expiação; a reconciliação pública e reintegração na comunidade. Era claramente um percurso que imitava a preparação para o Batismo, dada a sua característica de “segundo Batismo”, renovação e prolongamento daquele sacramento.
O Sacramento da Penitência
Evolução histórica:
A penitência privada (Séc. VI-XII)
O século VI assiste ao aparecimento da chamada penitência “tarifada”. Tratava-se de uma prática penitencial usada por monges britânicos e irlandeses. Tinha como característica o ser privada e reiterável. O monge confessava ao prior ou a outro monge os seus pecados; era imposta uma penitência que depois de cumprida possibilitava o ser reconciliado. A partir de 580, os monges irlandeses começaram a difundir esta prática abrindo-a a todos os cristãos. Os confessores, para o seu ministério, dispunham dos chamados “penitenciais”, livros que indicavam para cada falta a respetiva penitência (daí o nome de penitência “tarifada”).
O Sacramento da Penitência
Evolução histórica:
A confissão auricular privada (a partir do Séc. XII)
Progressivamente, começa a admitir-se o dar a absolvição de imediato, no ato da confissão, deixando para depois a penitência. Se até aqui o dinamismo era sempre: confissão – penitência – reconciliação / absolvição, progressivamente começa a admitir-se confissão – absolvição - penitência. Com esta inversão, o foco passa da penitência para a confissão dos pecados (daí o generalizar-se a designação de “confissão”). Com o aparecimento das Ordens mendicantes dos Franciscanos (1210) e dos Dominicanos (1216) favoreceu-se a confissão privada e fez-se do sacramento da penitência um meio de purificação e de progresso espiritual.
O Sacramento da Penitência
Evolução histórica:
O Concílio Vaticano II
O Concílio Vaticano II determinou a reforma do rito da Penitência (SC 72). Embora a prática, em muitos aspetos, tenha permanecido quase inalterada, a verdade é que as alterações são significativas. A edição típica do Ordo Paenitentiae foi promulgado a 2 de Dezembro de 1973. A novidade introduzida é dupla: de ordem ritual e de ordem doutrinal (aspeto comunitário e eclesial do pecado e da reconciliação, importância dada à conversão e à Palavra de Deus). Nos preliminares do Ritual da Penitência, a conversão do coração é o elemento unificador das várias partes da penitência.
O Sacramento da Penitência
Breve sistematização teológica:
Dimensão eclesial da penitência.
A penitência é um ato litúrgico, com essencial dimensão comunitária. Dimensão pessoal da penitência.
O penitente não recebe o sacramento passivamente: celebra-o ativamente com o sacerdote. O itinerário passa pela contrição (desejo de conversão), pela confissão e pela satisfação (vida conforme a conversão).
Dimensão teológica do sacramento.
É no confronto da própria vida com Deus que o crente toma consciência da rutura. O pecado não é a desobediência a uma regra, mas sim rutura de uma relação.
O Sacramento da Penitência
Breve sistematização teológica:
A acentuação da ação de Deus Uno e Trino na celebração deste
sacramento, revela-nos a sua natureza própria: o sacramento não se centra no pecado, mas em Deus e na sua misericórdia
Este é o mistério celebrado! Não celebramos o pecado nem a fragilidade humana; celebramos sim a infinita misericórdia de Deus que nos oferece a reconciliação como dom que se acolhe com gratidão.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Nome do sacramento:
Quanto à designação deste sacramento, não oferece dúvidas: Unção dos Doentes (ou dos Enfermos) ou Santa Unção.
“Unção” porque é esse o sinal sacramental: a unção daquele que se encontra numa situação de doença com óleo dos enfermos. É de evitar a designação, em uso durante séculos, a partir do século XII, de “Extrema Unção”, por desvirtuar a realidade do sacramento, que é destinado aos cristãos em situação de doença grave e não especificamente aos moribundos.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Evolução histórica: Séc. III - VIII
Se bem que o testemunho da Carta de S. Tiago deixe claro que esta prática sacramental acompanha a Igreja desde as suas origens, é necessário esperar pelo século III para encontrarmos as outras referências explícitas a esta prática. Em finais do século IV e no século V encontramos fórmulas explícitas de bênção de óleo para uso dos enfermos.
Neste período não são conhecidos rituais da Unção dos doentes, mas apenas as orações de bênção do óleo pelo bispo. O óleo é que é considerado o sacramento e não a sua aplicação, pelo que o “ministro”,
O Sacramento da Unção dos Doentes
Evolução histórica:
Séc. VIII ao Concílio Vaticano II
Os rituais da Unção dos doentes são de 3 tipos. Os primeiros rituais (finais do século VIII e inícios do século IX) apresentam uma só fórmula para todas as unções. Fazia-se a unção dos 5 sentidos e/ou da parte do corpo “onde a dor é mais forte”.
Entre os séculos IX e XII surge o segundo tipo de rituais, que têm como característica a multiplicação das unções, correspondendo a cada uma delas uma fórmula própria.
O terceiro tipo de rituais (a partir do século X) apresenta apenas a unção dos cinco sentidos, com uma fórmula própria para cada um.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Evolução histórica:
Séc. VIII ao Concílio Vaticano II
No entanto, mais interessante que estas características rituais, é de destacar a evolução da teologia da Unção dos doentes neste período: nos rituais do primeiro tipo, este sacramento aparece como “remédio” contra a doença; nos rituais do segundo tipo, começa a suplicar-se, para além da cura corporal, o perdão dos pecados cometidos com as várias partes do corpo; nos rituais de terceiro tipo, as fórmulas de unção são já praticamente só fórmulas de absolvição penitencial.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Evolução histórica:
Séc. VIII ao Concílio Vaticano II
Ora, tal como a Penitência também a Unção dos doentes se começou a adiar para o fim da vida, quando já dificilmente se poderia obter a cura corporal. Por este motivo, vai desaparecendo a súplica pela cura da doença e insiste-se sobre o efeito espiritual. A unção dos doentes passa a ser a unção dos moribundos, o sacramento dos que vão morrer (por isso “Extrema Unção”). Ora, os teólogos da Idade Média vão refletir sobre este sacramento a partir da prática que conhecem. Assim, falam explicitamente da “Unção dos que partem”, “dos moribundos”.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Evolução histórica:
Depois do Concílio Vaticano II
Dando cumprimento à decisão conciliar, o novo Ritual da Unção e
Pastoral dos Doentes foi publicado em 1972. Este Ritual é antecedido
da Constituição Apostólica «Sacram Unctionem Infirmorum», do Papa Paulo VI, que determina:
"O Sacramento da Unção dos Doentes é administrado aos que se encontram enfermos em perigo de vida, ungindo-os na fronte e nas mãos com óleo de oliveira ou, segundo as circunstâncias, com outro óleo de origem vegetal, devidamente benzido, proferindo uma só vez as palavras: «por esta santa unção e pela sua infinita misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua misericórdia, alivie os teus sofrimentos»"
O Sacramento da Unção dos Doentes
Breve sistematização teológica:
Por este sacramento, Cristo aproxima-se do cristão doente, por ação do Espírito Santo, ajudando-o na situação de doença, auxiliando-o na vivência da sua condição batismal no meio das dificuldades próprias da situação de sofrimento que atravessa.
A verdadeira e original ação «curativa» da Igreja consiste precisamente em ajudar o doente a lutar contra a enfermidade a partir da sua própria situação, sem cair nem no dolorismo, nem na exaltação do sofrimento. Como ato eclesial, a unção não pode ser entendida como consagração da doença ou da resignação passiva. Pela unção, a Igreja diz ao enfermo que não foi chamado ao sofrimento, mas à vida, à salvação; e a salvação não coincide necessariamente com a cura corporal.
O Sacramento da Unção dos Doentes
Breve sistematização teológica:
A Unção é o sacramento dos doentes. Como tal, é ação de Deus, gesto do seu amor, na situação concreta de sofrimento em que a pessoa está mergulhada. A salvação que faz experimentar diz respeito à totalidade da pessoa, porque a situação de enfermidade grave afeta também a pessoa toda, quer a nível somático, quer psicológico, quer espiritual, quer relacional. Ao carácter totalizante da situação de enfermidade, responde o sacramento da Unção, tornando Deus presente no mistério profundo do ser contingente e frágil que caracteriza o ser humano.
Orientações Bibliográficas
Carlos Cabecinhas, Teologia dos Sacramentos. Fundamentos e iniciação, Texto para uso dos alunos da Licenciatura de Ciências Religiosas da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, ano letivo de 2011-2012.
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