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VARIAÇÃO ANATÔMICA DO TENDÃO DISTAL DO MÚSCULO FIBULAR LONGO EM UM CADAVER HUMANO: UM RELATO DE CASO

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VARIAÇÃO ANATÔMICA DO TENDÃO DISTAL DO MÚSCULO

FIBULAR LONGO EM UM CADAVER HUMANO: UM RELATO DE CASO

Carlos E. A. Grinbaum 1*, Henrique A. Vasconcelos 2, Marcelo Abidu-Figueiredo 3, Antônio V. Abreu 4

1 Departamento de Anatomia – Universidade Estácio de Sá

2 Departamento de Anatomia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro 3 Departamento de Anatomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 4 Departamento de Ortopedia e Traumatologia, Universidade Federal do Rio de

Janeiro - Brasil

__________________________________________________________________________________________ RESUMO

O músculo fibular longo em seu trajeto inferior a partir do terço médio da perna contorna três saliências ósseas: o maléolo lateral, a seguir a tróclea fibular do calcâneo e por fim um último desvio no sulco do cubóide. E pode ser alvo potencial de variações, adaptações ou anomalias, no seu desenvolvimento anatômico, sendo assim, o fibular longo poderá apresentar em sua morfologia, músculos, cartilagens e ou ossos supranumerários. O nosso objetivo foi descrever uma variação tendinosa na articulação fíbulo-cubóidea que se assemelha muito ao V tipo, das variações de Hecker sobre as ocorrências do músculo fíbulo-calcâneo, podendo corresponder a uma fusão do fibular longo com o curto, ou o aparecimento do fibular quarto segundo Macalister.

Unitermos: Tornozelo, Músculo Fibular Longo, Variações Anatômicas. Acta Scientiae Medica: Vol. 1(1): 19-24; 2008

__________________________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO

Sob a ótica da biomecânica, pé e tornozelo formam um complexo de 34 estruturas ósteo-mio-ligamentares sendo capazes de alterar a anatomia flexível de apoio único na marcha, para uma estrutura estática de sustentação de cargas. Quando o pé toca o solo, as faces lateral e medial da planta (os arcos plantares) marcam o solo (Treccia, 1977; Kapandji, 1987; Smith et al., 1997). A região lateral do pé, portanto, tem especial importância por ser uma zona de cruzamento entre os arcos plantar longitudinal lateral e transverso.

Essa região possui considerável atrito entre a face lateral do osso cubóide e a parte distal do tendão do músculo fibular longo (MFL), e tem seu

trajeto inferior a partir do terço médio da perna na face póstero-lateral da fíbula. Nesse trajeto o tendão contorna três saliências ósseas: o maléolo lateral, a seguir a tróclea fibular do calcâneo e um último desvio no sulco do osso cubóide (Gardner et al., 1978). No entanto, para manter o seu curso, o tendão conta com a ajuda de três túneis ósteo-fibrosos: um retromaleolar, formado pelo retináculo fibular superior, que envolve ambos tendões fibulares; outro ao nível da tróclea fibular do calcâneo, formado pelo retináculo fibular inferior, que individualiza cada tendão em seu túnel; e o túnel plantar, formado pelo cubóide e a base do quinto dedo (Schaeffer, 1953; Testut, 1959; Warwick & Williams, 1973; Basmajian, 1988; Moore, 1997).

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Por ser alvo potencial de variações, adaptações ou anomalias, no desenvolvimento anatômico, o MFL pode apresentar em sua morfologia, músculos, cartilagens e ou ossos supranumerários (Sarrafian, 1983). Sendo assim, o nosso objetivo foi descrever uma variação tendinosa na articulação fíbulo-cubóidea encontrada num cadáver adulto humano.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado em 50 cadáveres humanos adultos, 48 masculinos e 2 femininos , fixados e conservados em solução de formaldeido a 10%, com idades compreendidas entre 50 e 80 anos. Os cadáveres faziam parte do acervo do Departamento de Anatomia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Estácio de Sá. Durante a dissecção dos pés foi encontrado um cadáver com variação no pé direito no segmento cubóide.

RELATO DO CASO

Foi observado no pé direito de um cadáver do sexo masculino, com idade aproximada de 50-60 anos, uma variação tendinosa, na extremidade distal do MFL (Figura 1). A sua localização foi superior à região do retináculo superior dos fibulares, acima do maléolo, de aspecto indefinido quanto à forma e característica tecidual, se inserindo de forma irregular na face lateral do calcâneo (Figura 2). Todavia o tendão do MFL em sua inserção distal apresentou morfologia e trajeto normais (Figura 3).

Figura 1 - vista da porção tendinosa e sua inserção. (A) fibular longo, (B). fibular curto, C.maléolo lateral.

Figura 2 - Detalhe da face medial do tendão, mostrando o brotamento anormal (asterisco).

Figura 3 - Vista medial do FL e sua inserção indefinida (asterisco).

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DISCUSSÃO

O interesse desta variação se refere ao fato do ventre muscular apresentar-se como o que está descrito classicamente, entretanto com indefinição tendinosa desta porção específica, inclusive devido ao aparecimento de um brotamento, de aspecto tendíneo, superiormente ao maléolo lateral. A sua consistência era dura e notava-se uma total ausência do complemento tendinoso, pós-tróclea no osso calcâneo, isto é, em direção ao seu ponto fixo (inserção distal), na região plantar da base do 1º metatarso e do cuneiforme medial.

Este caso chamou a atenção, pois se sabe que o desenvolvimento dos músculos apendiculares tem sentido crânio-caudal (Wilson & Wilson, 1978), e esta variação poderia ser um fator coadjuvante das patologias mesmo em pés e tornozelos, de aspecto morfológico normal. Sendo um eversor secundário da articulação subtalar, o MFL, mantém e estabiliza os ossos tarsais e metatarsais, pois junto com o MFL formam o arco lateral da a abóbada plantar (Kapandji, 1987, Smith et al., 1997).

Em 1875, Macalister (apud Bergmann et al., 1988) descreveu 8 tipos de variações anatômicas, na face lateral da perna, sendo a fusão dos fibulares a mais observada.

Segundo Hecker (1923), em seu trabalho sobre variações anatômicas enfatiza a freqüência rara de ocorrência de variações nos músculos fibulares. Quando acontecem essas variações, são classificadas em 3 tipos: o músculo fíbulo-calcâneo, o fíbulo-cubóide e o fíbulo-fibular longo. Hecker (1923) descreveu que a maioria das variações são do tipo fíbulo-calcâneo, e as subdividiu em mais seis subtipos. No tipo I, se origina de uma massa muscular do MFL e músculo fibular curto (MFC) ; o tipo II, o músculo deriva do MFC do seu

terço médio; já o tipo III, o músculo continua derivando do MFC, mas agora do seu terço inferior; a variação do tipo IV é bastante similar ao tipo III, contudo o músculo é largo e estende-se acima da fíbula e do septo intermuscular póstero-lateral; no tipo V, o músculo inicia-se no terço inferior da perna, e neste mesmo nível emite três feixes musculares próximos ao maléolo lateral, um posterior, um médio e outro anterior, com a porção média se inserindo na tróclea do calcâneo, e as demais inserções um pouco mais superiores; o tipo VI irá representar o fibular lateral do tarso, novamente fundindo-se com o MFC, emergirá da fíbula a partir de seu terço médio-lateral, anteriormente a sua crista e lateral ao seu septo intermuscular, para finalmente inserir-se, com um formato em hélice, e com um segmento médio bem largo, destacando-se dos demais. Sua indestacando-serção distal irá localizar-se na face calcânea, dorsalmente ao ligamento calcâneo-cubóide, e em seguida à superfície lateral do cubóide.

O músculo fíbulo-cubóide, não possui sub-variações, apenas se origina no terço inferior do compartimento lateral da perna, mas indo fixar-se no próprio osso cubóide, em sua superfície lateral. Também poderá ocorrer, o aparecimento de um tendão bífido no MFL que permite uma passagem estreitada do MFC entre estes tendões. E finalmente, poder ser encontrado um músculo denominado fíbulo-fibular longo, que igualmente origina-se no terço inferior do compartimento lateral da perna, para depois se fixar no próprio tendão do MFL .

Não obstante, ainda segundo Sarrafian (1983), as variações dos fibulares onde há adição de músculos envolvem, na maioria dos casos, o MFC que geralmente projeta um ramo extenso até a cabeça do quinto osso metatarso. Pois para o autor é rara a freqüência de outras formas de variação muscular que possam ocorrer.

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Para Bergmann et al. (1988), as

variações do MFL são mais encontradas na região plantar, servindo de origem do músculo flexor do quinto dedo ou do interósseo plantar.

Adicionado aos MFL e MFC, o fibular quarto, poderá aparecer normalmente originando-se do MFC e inserindo-se no tubérculo do calcâneo, e podendo estar presente em 13% a 22% da população (Sobel et al. 1990; Zammit & Singh, 2003).

CONCLUSÕES

A variação relatada se assemelha ao V tipo, das variações descritas por Hecker (1924) sobre as ocorrências do músculo fíbulo-calcâneo, podendo corresponder a uma fusão do MFL com o MFC. O resultado deste estudo pode ser importante para entender melhor os sintomas associados com as patologias do tendão do fibular longo e o papel desempenhado pelo tendão do fibular longo na manutenção o arco do pé.

REFERÊNCIAS

1) Treccia RP: Il Piede dell’Uomo, profilo storico-strutturale. Prima edizione. Roma, Verduci editore, 1977.

2) Kapandji IA: Fisiologia Articular. 5ª ed. São Paulo, Manole, 1987.

3) Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD: Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5ª ed. São Paulo, Manole, 1997.

4) Gardner E, Gray DJ, O’Rahilly R: Anatomia - estudo regional do corpo humano. 4ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1978.

5) Schaeffer JP: Morris’s Human Anatomy. 11th edn. New York, The Blakinston Company, 1953.

6) Testut L, Latarjet A: Tratado e Anatomía Humana. Barcelona, Salvat editores, 1959.

7) Warwick R, Williams PL: Gray’s Anatomy. 35th edn. Brtish edition. Philadelphia, W.B. Sauders Company, 1973.

8) Wilson DB, Wilson WJ: Human Anatomy. 1st. edn. New York, Oxford University, 1978.

9) Basmajian JV: Grant’s Method of Anatomy. 9th. edn. Baltimore, The Williams & Wilkins Conmpany, 1975. 10) Moore KL, Dalley AF: Anatomia

Orientada para Clínica. 4ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2001.

11) Sarrafian SK: Anatomy of the Foot and Ankle, Descriptive, Topographic, Funcional. 1st.edn. Philadelphia, J.P. Lippincott Company, 1983.

12) Bergman RA, Thompson SA, Afifi AK, et al.: Compendium of Human Anatomic Variation: Catalog, Atlas and World Literature. Baltimore. Urban Schwarzenberg, 1988.

13) Hecker P: Study on the peroneus of the tarsus. Anatomical Record. 1923, 26: 78-82.

14) Sobel M, Levy ME, Bohne WH: Congenital variations of the peroneus quartus: an anatomic study. Foot Ankle. 1990,11: 81-9.

15) Zammit J, Singh D. The peroneus quartus: anatomy and clinical relevance. J Bone and Joint Surg. 2003, 85-b:1134-7.

Aceito após revisão: Janeiro de 2008

____________________________________________ Autor Correspondente

Prof. Carlos Eduardo Affonso Grinbaum Rua Dr.José Acurcio Benigno 63/ 201 Nova Friburgo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil E-mail: ceagrinbaum@gmail.com

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_______________________________________________________________________________________________ ABSTRACT

The fibular longus muscle in his inferior itinerary starting from the medium third of the leg outlines three bone saliencies: the lateral malleolus, the fibular trochlea of the calcaneus and a groove of the cuboid. Multiple pathologies are associated with the fibular longus tendon including traumatic injury, tendinitis, tenosynovitis, dislocation, acute rupture and avulsion fractures. The objective of this report was to describe a tendineous variation in the fíbulo-cuboid articulation. Dissection was performed on the feet of 50 adult, embalmed cadaver limbs of both sexes. This report described a tendineous variation in the fíbulo-cubóid articulation that resembles each other to the V type, of the variations of Hecker on the fíbulo-calcaneus muscle, which correspond a fusion of the fibular longus with the short, or the emergence of the fourth fibular according to Macalister. The result may be important to better understand the symptoms associated with fibular longus tendon pathologies and the role played by the fibular longus tendon in maintaining the arch of the foot.

Key words: fíbulo-cuboid articulation, fibular longus muscle, anatomic variation

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