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Centro Universitário do Distrito Federal UDF Coordenação do Curso de Direito ARMANDO MARCOS MACHADO FILHO

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Centro Universitário do Distrito Federal – UDF Coordenação do Curso de Direito

ARMANDO MARCOS MACHADO FILHO

A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA PARA PORTADORES DE DOENÇA GRAVE EM ATIVIDADE:

A inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 6.º da Lei n.º 7.713/1988

Brasília 2019

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ARMANDO MARCOS MACHADO FILHO

A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA PARA PORTADORES DE DOENÇA GRAVE EM ATIVIDADE

A inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 6.º da Lei n.º 7.713/1988

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito Orientadora: Ms. Tainá Aguiar Junquilho

Brasília 2019

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Machado, Armando.

A isenção de imposto de renda para portadores de doença grave em atividade: A inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 6.º da Lei n.º 7.713/1988/ Armando Machado. – Brasília, 2019.

54 f.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito Orientador:

1. Isenção de imposto de renda. 2. Constitucionalidade. 3. Isonomia. I. Título.

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ARMANDO MARCOS MACHADO FILHO

A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA PARA PORTADORES DE DOENÇA GRAVE EM ATIVIDADE

A inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 6.º da Lei n.º 7.713/1988

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito Orientadora: Ms. Tainá Aguiar Junquilho

Brasília, 22 de Novembro de 2019.

Banca Examinadora

_________________________________________ TAINÁ AGUIAR JUNQUILHO

Mestre

UDF Centro Universitário

__________________________________________ PAULO CAMPANHA SANTANA

Doutor

UDF Centro Universitário

_________________________________________ MURILO BORSIO BATAGLIA

Mestre

Universidade de Brasília, UnB

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Dedico este artigo a todos aqueles que me apoiaram ao longo destes cinco longos anos, em especial a meus pais pelo todo suporte que me forneceram, aos meus amigos e colegas que me acompanharam diariamente e a minha orientadora que ao longo destes últimos dois semestres tanto me ensinou e se hoje lhes entrego este trabalho é muito graças a ela.

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“O direito é a arte do bom e do justo. ”

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RESUMO

Este trabalho apresenta um questionamento sobre a constitucionalidade da Lei 7.713/88 – Lei de Imposto de Renda, que ao limitar sua isenção aos aposentados e pensionistas. A hipótese aqui defendida diz que tal limitação seria inconstitucional, pois não há de se diferenciar um portador de doença grave inativo de um ativo, visto que os dispêndios de ambos são equiparados e, portanto, deve ser estendida a todos que sejam portadores de quaisquer das moléstias contidas na Lei, independentemente de sua condição. Esta inconstitucionalidade, se daria pela contradição da Lei de Imposto de Renda a alguns princípios e direitos implícitos e até explícitos da Constituição Federal, tais como a Igualdade e Isonomia, bem como o Direito à saúde, à vida e a dignidade da pessoa humana, através de uma análise qualitativa das jurisprudências de alguns dos principais tribunais do Brasil, chegando ao STF por meio da ADI 6.025, da qual se aguarda julgamento para pacificação do tema, sendo certo que neste artigo se apresenta o entendimento da necessidade de concessão de imposto de renda aos ativos.

Palavras-chave: Isenção de imposto de renda, portador de doença grave, isonomia, aposentado, ativo.

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ABSTRACT

This article presents a question about the constitutionality of the Law 7.713/88 – Income Tax Law, by limiting its exemption to retirees and pensioners. The hypothesis defended here says that such limitation would be unconstitutional, because there is no differentiating between a person inactive for a severely disease from an asset person, since the expenditures of both are equated and, therefore, should be extended to all who have any of the diseases contained in the Law, regardless of their condition. This unconstitutionality would be given by the contradiction of the Income Tax Act to some implicit and even explicit principles and rights of the Federal Constitution, such as Equality and Isonomy, as well as the right to health, life and dignity of the human person, through a qualitative analysis of the jurisprudence of some of Brazil's main courts, reaching the Supreme Court through ADI 6.025, from which trial is awaited for pacification of the theme, it is true that this article presents the understanding of the need for income tax.

Key words: Income tax exemption, bearer of serious illness, isonomy, retired, asset person.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABREVIATURAS Art. Artigo Obs. Observação Dra. Doutora Dr. Doutor

Resp. Recurso Especial RE Recurso Extraordinário Rel. Relator

Min. Ministro

AC Apelação Civel AP Apelação

AGI Agravo de Instrumento RO Recurso Ordinário Min. Ministro

Des. Desembargador

SIGLAS

TRF1 Tribunal Regional da Primeira Regional STJ Superior Tribunal de Justiça

STF Supremo Tribunal Federal

TJDFT Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios ADI Ação direta de inconstitucionalidade

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE REDA PELA LEI 7.713/88 ... 10

3 A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA APLICADA AO ATIVO ... 18

4 A AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.025 ... 27

6 CONCLUSÃO ... 30

REFERÊNCIAS ... 32

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1- INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo discutir a possível inconstitucionalidade da Lei 7.713/88, em virtude de sua concessão de Isenção de Imposto de Renda para portadores de doenças graves limitada aos aposentados e/ou pensionistas.

Destaca-se que aqui será utilizado método de pesquisa explicativa-analítica, com abordagem qualitativa, em que analisar-se-á em profundidade entendimento jurisprudencial sobre o tema, bem como se baseará em dados qualitativos, observado os entendimentos contrapostos entre o Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região para com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e o Superior Tribunal de Justiça.

Deveras, este grande conflito nasce dentre um dos princípios da Constituição Federal, qual seja o da Isonomia, sobre o qual se destaca trecho de Dicionário Jurídico publicado pela professora Anne Joyce Angher:

[...]

Isonomia significa igualdade de todos perante a lei. Refere-se ao princípio da igualdade previsto no art. 5º, "caput", da Constituição Federal, segundo o qual todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Assim, de acordo com tal princípio, os méritos iguais devem ser tratados de modo igual, e as situações desiguais, desigualmente, já que não deve haver distinção de classe, grau ou poder econômico entre os homens. 1

Ademais, este não é o único princípio constitucional que é diretamente atacado com a limitação da norma, sendo certo que demais como da Dignidade da Pessoa Humana e direitos básicos como o Direito à vida e saúde são colocados em “xeque” pela norma.

Assim sendo, nasce a grande problemática do presente artigo, qual seja: a não concessão de Isenção de Imposto de Renda ao Portador de Doença Grave em Atividade é constitucional?!

Para tanto, este Artigo analisará detidamente julgados selecionados a partir de sua conexão ao tema do presente trabalho, proferidos pelos seguintes Egrégio Tribunais: Tribunal de Justiça do Distrito Federal – TJDFT, Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF1, Superior Tribunal de Justiça – STJ e Supremo Tribunal Federal – STF.

______

1 ANGHER, Anne Joyce e SIQUEIRA, Luiz Eduardo Alves de. Dicionário Jurídico. 6ª ed. São Paulo: Rideel, 2002

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10

2- ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA PELA LEI 7.713/88

Inicialmente a Lei n. 7.713/88 (Lei de Imposto de Renda), que teve sua redação original alterada pela Lei 11.052/04, prevê em seu artigo 6º, XIX c/c XXI, que todos aposentados, reformados e/ou pensionistas terão direito à Isenção de seus proventos, desde que comprovem ser portadores de algumas das doenças taxadas na lei.

Todavia, antes de se iniciar a aplicação da isenção, faz-se interessante antes, apresentar breve introdução sobre o que é uma isenção.

O Código Tributário Nacional, em seu artigo 175, em seu inciso I apresenta a isenção como forma de exclusão do crédito tributário, devendo ser prevista em Lei, podendo ainda depois de concedida ser revogada ou modificada a qualquer tempo, salvo se estipulada por prazo determinado, nos termos do art. 178 CTN.

Sobre tanto, o STF na pessoa do Ex-Ministro Maurício Corrêa, definiu a isenção como sendo “a dispensa do pagamento de um tributo devido em face da ocorrência de seu fato gerador”, por meio da ADI 286-42.

Assim sendo, a isenção é forma de dispensa de pagamento, ou seja, o fato gerador continuará a ocorrer normalmente, sendo dispensado apenas o pagamento em si.

Logo, a isenção de imposto de renda (tema aqui tratado), seria a desobrigação do contribuinte em pagar tal tributo, inicialmente em decorrência de duas situações específicas: receber proventos de aposentadoria ou pensão e estar acometido de doença grave.

Como já exposto, o presente artigo tem por objetivo discutir a limitação imposta pelo primeiro quesito (a inatividade do contribuinte), todavia, vale que se faça breve análise sobre o segundo (as doenças), o que se passa a observar.

Como dito, o rol contido no artigo 6º, XIX da Lei 7.713/88 é taxativo e se limita às seguintes patologias: moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados

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2 Disponível em: <

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avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida.

Sobre a taxatividade da Lei, destaca-se trecho de julgado proferido pelo então Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Luiz Fux:

O conteúdo normativo do art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88, com as alterações promovidas pela Lei 11.052/2004, é explícito em conceder o benefício fiscal em favor dos aposentados portadores das seguintes moléstias graves: moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma. Por conseguinte, o rol contido no referido dispositivo legal é taxativo ( numerus clausus), vale dizer, restringe a concessão de isenção às situações nele enumeradas. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.116.620 - BA (2009/0006826-7)3

Nota-se que embora o rol da lei seja indiscutivelmente taxativo, há notória subjetividade em boa parte das patologias por ela apresentada, afinal, termos como “moléstia profissional”, “alienação mental”, “paralisia irreversível e incapacitante”, “cardiopatia grave”, “nefropatia grave”, “hepatopatia grave” e “estados avançados da doença de Paget”, não possuem definição especifica, tampouco CID (Código internacional de doenças) que os definam de forma expressa.

Tal questão, por controversa que seja, ainda não foi completamente superada pelo Judiciário, o qual se utiliza por diversas vezes de perícias especializadas para confirmação ou não do enquadramento das doenças daqueles que buscam a isenção aqui debatida em suas respectivas patologias taxadas no art. 6ª da Lei 7.713/88.

Todavia, ao longo dos anos, inúmeros documentos oficiais foram se destacando e vêm sendo constantemente utilizados para fundamentar o enquadramento das ditas “doenças subjetivas”, dos quais se destacam a Diretriz Brasileira de Cardiopatia Grave e principalmente o Manual de Perícia do Servidor Público Federal, o qual em sua literatura tenta de forma clara explicar o que seria e como se configuraria cada uma das doenças supracitadas.

Assim, nos termos da Lei seriam necessárias a comprobação de apenas dois requisitos para a concessão da isenção aqui debatida, quais sejam a percepção de ______

3Disponível em: <

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proventos de aposentadoria (leia-se aposentadoria, reforma ou reserva nos casos de militares) e/ou pensão, bem como a comprobação por meio de “conclusão de medicina especializada” (leia-se laudo médico especializado), do fato de o contribuinte ser portador de uma das moléstias constantes do rol inserto na Lei n. 7.713/88

A jurisprudência (STJ e STF) e doutrina atuais são unanimes no sentido de que esta comprovação não necessitará ser provada por meio de laudo médico oficial, como anteriormente determinava a Lei nº 9.250/95, em seu artigo 30.

A fim de encerrar esta discussão, o STJ em novembro de 2017, pacificou o entendimento sobre o caso, a partir da súmula 598, que em sua literatura apresenta, Verbis:

É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da isenção do imposto de renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova.4

Sobre tal, destaca-se ementa de recentíssima decisão proferida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região sobre o assunto:

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. CEGUEIRA MONOCULAR. ISENÇÃO SOBRE REMUNERAÇÃO. DESNECESSIDADE DE LAUDO MÉDICO OFICIAL. 1. Os laudos médicos comprovam que o autor é portador de cegueira monocular irreversível desde de 30/06/2013. Tem, assim, direito à isenção do imposto de renda a partir de 17/11/2014, ainda que esteja em atividade, nos termos da Lei 7.713/1988. 2. A cegueira prevista na mencionada lei inclui tanto a binocular quanto a monocular, conforme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: REsp 1.553.931/PR, r. Ministra Regina Helena Costa, 1ª Turma, julgado em 15/12/2015 3. "É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da isenção do imposto de renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave por outros meios de prova" (Súmula 598/STJ). 4. Não obstante o disposto no art. 111 do CTN e o REsp nº 1.116.620-BA, representativo de controvérsia, r. Ministro Luiz Fux, 1ª Seção, a orientação da 4ª Seção deste Tribunal contém adequada e específica fundamentação estendendo o benefício fiscal também para o servidor em atividade, levando em conta o fim social a que se destina o art. 6º/XIV da Lei 7.713/1988 (CPC, art. 8º): 5. Apelação do

autor provida (TRF-1 - AC:

0006542462017401330700065424620174013307, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL NOVÉLY VILANOVA, OITAVA TURMA, Data de Publicação: 01/03/2019) (sem grifos no original)5

______

4Disponível em:

<https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?materia=%27DIREITO%20TRIBUT%C1RIO%27.mat.> Acesso em 09/09//2019

5 Disponível em: <

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Oportunamente, através de trecho destacado em tópico de número “2” da ementa supracitada, nota-se que a jurisprudência entende que o termo “cegueira” não se limita à dita Cegueira total (dos dois olhos), mas também àquele que possui visão monocular.

De fato, tal posicionamento também é pacífico quanto à Fazenda Nacional que através de seu Ato Declaratório PGFN n. 3, de 30 de março de 2016¸ reconhecidamente dispensa a apresentação de contestação em casos que seja comprovado a cegueira monocular da parte, litteris:

PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL, no uso da competência legal que lhe foi conferida, nos termos do inciso II do art. 19 da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002, e do art. 5º do Decreto nº 2.346, de 10 de outubro de 1997, tendo em vista a aprovação do Parecer PGFN/CRJ/Nº 29/2016, desta Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, pelo Senhor Ministro de Estado da Fazenda, conforme despacho publicado no DOU de 29 de março de 2016, DECLARA que fica autorizada a dispensa de

apresentação de contestação, de interposição de recursos e a desistência dos já interpostos, desde que inexista outro fundamento relevante:

“nas ações judiciais fundadas no entendimento de que a isenção do Imposto de Renda prevista no art. 6º, incisos XIV e XXI, da Lei 7.713, de 1988,

abrange os valores recebidos a título de aposentadoria, reforma ou pensão, quando o beneficiário for portador do gênero patológico “cegueira”, seja ela binocular ou monocular, desde que devidamente caracterizada por definição médica6. (Sem grifos no original) ”

Ademais, outra discussão, já pacificada pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça sobre o tema, diz respeito à comprovação da contemporaneidade da moléstia, pois segundo alegava (e ainda alega a administração pública como um todo), haveria a necessidade de atualidade da doença, ou seja, que o contribuinte sofra no momento do requerimento da isenção, com efeitos nefastos da sua respectiva patologia.

Em resposta ao recorrente argumento, o STJ, por meio da recente Súmula 627 de Dezembro de 2018, pacificou tal entendimento, nos seguintes termos:

O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do imposto de renda, não se lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade.7

Atualmente, dentre os pontos constantemente controvertidos judicialmente pelo Fisco, destaca-se o argumento sobre a ausência de prévio requerimento ______ 6Disponível em: < http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=72879&visao=anotado> Acesso em 09/09/2019 7 Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?materia=%27DIREITO%20TRIBUT%C1RIO%27.mat.> Acessado em 09/09/2019

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administrativo por parte do contribuinte, o qual segundo alegam, configuraria a falta do interesse de agir.

De fato, tal posicionamento vem sendo inclusive adotado pelo Judiciário, em especial em decisões proferidas pela 1ª Instância da Justiça Federal do Distrito Federal, sendo, todavia, unanimemente derrubada tanto pelo Egrégio Tribunal Regional Federal, pelo Superior Tribunal de Justiça e ainda pelo Supremo Tribunal Federal.

Sobre tal questionamento, vale trazer à baila posicionamento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça:

Trata-se de recurso especial interposto com fundamento no artigo 105, III, “a” e “c”, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo TRF4, assim ementado (fl. ): IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. RESTITUIÇÃO. AUSÊNCIA DE PRÉVIO REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO. FALTA DE INTERESSE DE AGIR. Há falta de interesse de agir, no que se refere à pretensão de repetição de indébito, se o contribuinte ajuíza a demanda sem ter adotado o correto procedimento administrativo para buscar a restituição dos valores recolhidos indevidamente. O recorrente sustenta ofensa ao(s) artigos 3º, 4º e 267, IV, do CPC/1973 e dissídio jurisprudencial, pugnando seja afastada a conclusão quanto à falta de interesse de agir, uma vez que não há outra forma de se discutir o débito indevido senão pela via judicial (fl. 270). Com contrarrazões. Juízo positivo de admissibilidade às fls. 297. O MPF opina pelo provimento do recurso especial. É o relatório. Passo a decidir. Inicialmente, registra-se que "[a]os recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo n. 2, aprovado pelo Plenário do Superior Tribunal de Justiça em 9/3/2016)". Observo que a solução adotada pelo Tribunal de origem diverge do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, segundo o qual não resulta em falta de interesse de agir na ação de repetição de indébito a ausência de prévia postulação na via administrativa. 8(REsp n. 1.517.539/PR; Min. Benedito Gonçalves; DJe 11/12/2017; (sem grifos no original)”

Ressalta-se que este também é o posicionamento do Supremo, que se manifestou por meio do Ministro Luis Roberto Barroso, no sentido de não extensão ao Tema 350 à casos de matéria tributária, haja vista que este se limita aos casos previdenciários, Verbis:

(...)

O recurso busca fundamento no art. 102, III, a e b, da Constituição Federal. A parte recorrente alega violação aos arts. 2º, 5º, XXXV e LV, 22, I, 37, caput, e 93, IX, todos da Carta. A parte recorrente sustenta que o caso

se assemelha à assentada no Tema 350, pela qual a concessão de benefícios previdenciários e, como no presente caso, a repetição de indébito geralmente reconhecida pela Receita Federal, depende de ______

8 Disponível em: <

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prévio requerimento administrativo. Aduz a total ausência de interesse de agir da autora no caso concreto. A pretensão recursal não merece

prosperar. Quanto à suposta ofensa ao art. 93, IX, da CRFB, a jurisprudência desta Suprema Corte é firme no sentido de que as decisões judiciais podem ser realizadas de forma sucinta, sem a necessidade de exame pormenorizado de todas as alegações da parte recorrente (AI 791.292-QO-RG/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes). Verifico que a questão

não está inserida no Tema 350 da sistemática da repercussão geral, uma vez que no referido tema refere-se à concessão de benefícios previdenciários, prestação positiva estatal, e não à restituição de valores recolhidos acima do teto do INSS, matéria afeta ao sistema tributário.Com efeito, a matéria acerca da restituição dos valores

indevidamente cobrados a título de contribuição previdenciária está adstrita a legislação infraconstitucional. Nesse sentido:

“RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Contribuição previdenciária declarada inconstitucional. Valores descontados compulsoriamente. Restituição. Tema infraconstitucional. Precedentes. Ausência de repercussão geral. Recurso extraordinário não conhecido. Não apresenta repercussão geral o recurso extraordinário que, tendo por objeto o direito de servidores públicos estaduais à restituição de valores descontados compulsoriamente a título de contribuição previdenciária declarada inconstitucional, versa sobre tema infraconstitucional.” (RE 633.329, Rel. Min. Cezar Peluso)”

(...)9 (ARE n. 1.090.535/PE; Min. Rel. Luis Roberto Barroso; j. 23/11/2017; (sem grifos no original)

Assim, apresentadas as condições básicas, bem como maiores controvérsias para a concessão da isenção de imposto de renda, passa-se à observância de suas razões de existir.

Sobre tal, se manifestou Lucas de Almeida e Pedro Rodrigues em artigo recentemente publicado:

De fato, como se pode depreender da exposição de motivos do projeto de lei, o intuito do legislador ao isentar aqueles acometidos por moléstia grave foi mitigar o sofrimento e o dispêndio de recursos dessas pessoas em razão do tratamento de que necessitam, em conformidade com os ideais da Constituição de 1988, publicada no mesmo ano da Lei 7.713, não havendo motivo para diferenciar os ativos dos inativos. 10

Logo, depreende-se da leitura do trecho supracitado que em suas razões a lei possibilita ao contribuinte que caso acometido de alguma de suas doenças ali taxadas, que este possa mitigar seu sofrimento através da devida aplicação de seus recursos em tratamentos adequados à sua respectiva patologia.

De fato, a Lei possibilita através da Isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física Retido na Fonte, que ao invés do contribuinte dispendiar valores mensais ao ______

9 Disponível em: <

https://www.jusbrasil.com.br/processos/174149874/processo-n-05070152020174058300-do-trf5-pe-3-turma-recursal > Acessado em 09/09/2019

10Isenção de Imposto de Renda deve ser garantida a servidores ativos e inativos; Almeida; Rodrigues; Disponível em: < https://www.blogservidorlegal.com.br/post-artigo-14/ > Acessado em 09/09/2019

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Fisco, que este “invista” tais valores em sua própria saúde a fim de buscar uma melhor qualidade de vida, bem como que ao fim, acarrete menores gastos indiretos ao Estado, pois caso este não possua condições de arcar com seu tratamento, ele acabará por buscar assistência pública para tal.

Assim sendo, voltar-se-á ao foco do presente artigo, pois se a razão de existir da Isenção prevista na Lei 7.713/88 é a melhora na qualidade de vida do Aposentado ou Pensionista, pelo dispêndio integral de seus proventos ao tratamento de sua patologia, não seria inconstitucional que tal previsão não se estenda aos portadores de doença grave que se encontram em plena Atividade?!

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3- A ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA APLICADA AO ATIVO

Como dito anteriormente, este trabalho se baseia no método qualitativo para consumação de suas hipóteses, sendo principalmente analisado aqui os entendimentos jurisprudenciais sobre o tema.

Ainda, faz-se nota para transcrever trecho de parecer proferido pela Ex-Procuradora Geral da República, Dra. Raquel Dodge:

A presença de características arbitrárias no conteúdo intrínseco da norma que culminem na outorga de privilégios estatais desproporcionais em favor de determinados contribuintes afronta o princípio constitucional da igualdade na lei” [Dodge Raquel, 2018]11

Assim, percebe-se que a limitação imposta pela Lei, causa inquietude também nas mais altas cúpulas do nosso sistema político/jurídico, a ponta da Ilustre Ex-PGR, propor perante nossa Corte Máxima, a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 6.025, que será mais a frente aprofundada em capítulo específico.

Esta inquietude também assolou muitos de nossos operadores do Direito, em especial a classe dos advogados, que levaram por incontáveis vezes tal questionamento ao Judiciário, que por sua vez nunca demonstrou qualquer pacificidade sobre o tema.

Em verdade, acabaram criando-se animosidades entre as Cortes, as quais firmaram seus próprios entendimentos sobre o assunto. Principalmente neste ano de 2019 tal divergência foi salientada, em especial pelo posicionamento firmado pelo STJ, Verbis:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. CONHECIMENTO. SÚMULAS 126 E 211 DO STJ. NÃO INCIDÊNCIA. IMPOSTO DE RENDA. ISENÇÃO. MOLÉSTIA GRAVE. SERVIDOR EM ATIVIDADE. IMPOSSIBILIDADE. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. PREQUESTIONAMENTO. INVIABILIDADE. 1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC" (Enunciado Administrativo n. 3/STJ). 2. O acórdão proferido pelo Tribunal a quo teve apenas fundamento infraconstitucional, não estando o ente fazendário obrigado a interpor recurso extraordinário, nos termos da Súmula 126 do STJ. 3. A jurisprudência do STJ tem entendido que o acolhimento do prequestionamento ficto na via do especial exige do recorrente a indicação de violação do art. 1.022 do CPC/2015, "para que se possibilite ao Órgão julgador verificar a existência do vício inquinado ao acórdão, que uma vez constatado, poderá dar ensejo à supressão de grau facultada pelo dispositivo de lei" (AgInt no AREsp 1.067.275/RS, Rel. Ministra ASSUSETE

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11 Disponível em: <

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MAGALHÃES, Segunda Turma, julgado em 03/10/2017, DJe 13/10/2017, e AgInt no REsp 1.631.358/RN, Rel. Ministro OG FERNANDES, Segunda Turma, julgado em 27/06/2017, DJe 30/06/2017), o que ocorreu, in casu. 4.

A jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que a isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei n. 7.713/1988 incide somente sobre os rendimentos da inatividade, não se aplicando sobre o que é recebido pelos servidores da ativa. Precedentes. 5. Não cabe a esta Corte Superior, ainda que para fins de prequestionamento, examinar na via especial suposta violação de dispositivo ou princípio constitucional, sob pena de usurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.

6. Agravo interno desprovido.(STJ - AgInt no REsp: 1759989 DF 2018/0208564-7, Relator: Ministro GURGEL DE FARIA, Data de Julgamento: 21/05/2019, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 31/05/2019)12 (Sem grifos no original)

Por consequência, diversos tribunais que há tempos já haviam entendido pela não concessão da Isenção de Imposto de Renda, àqueles ainda em atividade, firmaram seu entendimento, como é visível pelos recentes julgados proferidos pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, por exemplo. Litteris:

DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. SERVIDOR PÚBLICO EM ATIVIDADE. NEOPLASIA MALIGNA. ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA. IMPOSSIBILIDADE. I - Não obstante ser a autora portadora de neoplasia

maligna, a isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei n.º 7.713/1988 se refere a proventos de aposentadoria e, portanto, pressupõe a inatividade de seu beneficiário. II - A questão relativa a concessão de isenções, em matéria tributária, deve se nortear pelo princípio da estrita legalidade, não se admitindo que o Poder Judiciário proceda a interpretações ampliativas do alcance das normas que outorgam tais

benefícios. III - Negou-se provimento ao recurso.(TJ-DF

07092038920188070018 DF 0709203-89.2018.8.07.0018, Relator: JOSÉ DIVINO, Data de Julgamento: 03/05/2019, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/05/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)13 (Sem grifos no original)

DIREITO TRIBUTÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. IMPOSTO DE RENDA DA PESSOA FÍSICA. ISENÇÃO. SERVIDOR EM ATIVIDADE ACOMETIDO DE DOENÇA GRAVE. PELO BENEFÍCIO FISCAL INDEVIDO. 1. Na presente

hipótese, a servidora em atividade pretende obter o reconhecimento da isenção ao imposto de renda pessoa física em virtude de se encontrar acometida de neoplasia maligna. 2. As regras jurídicas que dispõe a respeito de isenção legal não podem ser aplicadas ampliativamente. 3. O art. 6º, inc. XIV, da Lei nº 7.783/1988 concede isenção ao pagamento do IRPF no caso de proventos de aposentadoria e reforma das pessoas acometidas por algumas moléstias graves como a neoplasia maligna. 4. Diante da previsão estabelecida no art. 111 do Código Tributário Nacional não pode haver interpretação ampliativa para a hipótese de isenção tributária, que não pode ser estendida para o servidor público em atividade. Precedentes do Colendo Superior ______

12 Disponível em: <

https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/716150972/agravo-interno-no-recurso-especial-agint-no-resp-1759989-df-2018-0208564-7/relatorio-e-voto-716150996?ref=serp

> Acesso em 02/10/2019

13Disponível em: <

https://tj- df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/714893701/7092038920188070018-df-0709203-8920188070018?ref=serp> Acesso em 02/10/2019

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Tribunal de Justiça e deste Egrégio Sodalício. 5. Recurso conhecido e

não provido.(TJ-DF 07041615920188070018 DF 0704161-59.2018.8.07.0018, Relator: ALVARO CIARLINI, Data de Julgamento: 28/08/2019, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 12/09/2019 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)14 (Sem grifos no original)

Nada obstante, um Tribunal em especial, persiste em negar tal entendimento e continua de forma muito precisa, a aplicar de forma pacífica a concessão aqui debatida não apenas aos Aposentados e Pensionistas, mas também àqueles que se encontram em atividade.

Como é de se presumir, trata-se do egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, o qual a partir de suas 7ª e 8ª Turmas (turmas tributárias), que conjuntamente compõe a 4ª Seção do Tribunal, ao longo dos últimos anos vêm reiteradamente firmando tal entendimento.

Deveras, tal entendimento fora firmado há um bom tempo. Realmente desde meados do ano de 2009, tal jurisprudência, passou a se firmar dentro do TRF1, a ponto de julgados recentemente proferidos se baseares em tal entendimento, Verbis:

TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE RITO ORDINÁRIO. IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA. RENDIMENTOS DA ATIVIDADE. ISENÇÃO. LEI N. 7.713/1988, ART. 6º, XIV. CARDIOPATIA GRAVE. LAUDO MÉDICO OFICIAL. CONJUNTO PROBATÓRIO. LIVRE APRECIAÇÃO PELO JUIZ. TERMO INICIAL. DATA DO DIAGNÓSTICO DA DOENÇA. PRECEDENTES DO STJ E DESTE REGIONAL. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. LC 118/2005. CORREÇÃO MONETÁRIA. MANUAL DE CÁLCULOS DA JUSTIÇA FEDERAL. COMPENSAÇÃO DOS VALORES RESTITUÍDOS NA DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. 1. Válida a aplicação do prazo prescricional de 05 (cinco) anos da Lei Complementar n. 118/2005 às ações ajuizadas a partir de 09/06/2005 (RE n. 566.621/RS, STF, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ellen Gracie, Repercussão Geral, DJe 11/10/2011). 2. Comprovado por meio de documentos e laudos médicos acostados aos autos que a parte autora é portadora de cardiopatia grave, cabível a isenção prevista no art. 6º, inciso XIV, da Lei n. 7.713/1988. 3. A

isenção do imposto de renda prevista no inciso XIV do artigo 6º da Lei n. 7.713/1988 alcança também a remuneração do contribuinte em atividade. Precedentes deste Regional. 4. A distinção entre proventos da aposentadoria e ganhos da atividade deve ser afastada em prol dos valores constitucionais, dos quais deve ser destacado o valor da saúde, como uma garantia fundamental prevista na Constituição (CF/1988, arts. 1º, III, 5º, caput, 170 e 196, caput).5. A despeito da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, dando tratamento à questão sob a ótica da legislação infraconstitucional, no sentido de não ser cabível a extensão do benefício de isenção do imposto de renda por força do art. 111 do Código Tributário Nacional, "cabe ao intérprete da norma legal extrair da sua objetividade normativa o seu alcance social, não significando, tal, ampliação dos seus destinatários ______

14Disponível em: <

https://tj- df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/756062886/7041615920188070018-df-0704161-5920188070018?ref=serp> Acesso em 02/10/2019

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e/ou casos de incidência" (EIAC 0009540-86.2009.4.01.33/BA, TRF1, Quarta Seção, Rel. Des. Fed. Luciano Tolentino Amaral, e-DJF1 08/02/2013). 6. A isenção deve retroagir à data do diagnóstico da moléstia.

Precedentes. 7. Em relação à correção monetária e aos juros de mora, deverão ser observados os parâmetros fixados pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução CJF n. 134, de 21/12/2010, com alterações da Resolução CJF n. 267, de 02/12/2013). 8. Os valores a serem repetidos devem ser compensados com aqueles eventualmente já restituídos por ocasião da declaração de ajuste anual do imposto de renda, sob pena de se configurar excesso de execução. Precedentes. 9. Apelação parcialmente provida.(AC 0003923-73.2009.4.01.4100/RO, TRF1, Oitava Turma, de minha relatoria, e-DJF1 26/01/2018.)15 (Sem grifos no original)

TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA. ISENÇÃO. ART. 6º, XIV, LEI Nº 7.713/88. SERVIDOR PÚBLICO EM ATIVIDADE REMUNERADA. DOENÇA GRAVE. 1. Este egrégio Tribunal reconheceu que: "O benefício

conferido aos afastados das atividades laborais deve ser reconhecido também àqueles que, embora portadores de moléstia grave, continuam

contribuindo com a força de trabalho.(AC

0021348-79.2009.4.01.3400/DF, Rel. Juiz Federal Alexandre Buck Medrado Sampaio (conv.), Rel. Acor. Desembargadora Federal Maria do Carmo Cardoso, Oitava Turma, e-DJF1 p.1000 de 22/06/2012). /A e. 4ª Seção deste Tribunal, em julgado (30/01/2013), sob a Relatoria do Des. Luciano Tolentino Amaral entendeu que 'tratar, pois, igualmente a tributação do IRPF dos contribuintes portadores de moléstias graves, trate-se de salário/atividade, trate-se de proventos/inatividade, sendo ambos rendimentos, é a única alternativa lógico-tributário possível (em leitura exata da isenção); e, ainda que interpretação extensiva exigisse (por isonomia), configuraria tratamento adequado, necessário, pertinente e proporcional aos fins da norma isentiva. Em reforço de argumento, a norma do caput do art. 6º da Lei nº 7.713/88 fala em rendimentos (termo que – de comum sabença - inclui salários da atividade e proventos da inatividade), e aponta (explicitamente o Inciso XIV do art. 6º), ao menos para mim, interseção entre proventos (aposentadoria/reforma) e verbas percebidas por portadores de moléstia grave, estipulando (em compreensão sistemática) isenção ampla que avança, portanto, sobre rendimentos de salários ou proventos daquele que, ainda que só ulteriormente viu diagnostica a moléstia.'Assim, no caso de doença preexistente, não há falar em reconhecimento do direito à isenção apenas a partir do momento em que publicado o ato de aposentadoria, devendo retroagir até o instante em que efetivamente reconhecida a doença grave, prevista em lei, a

gerar a hipótese de isenção. Precedente: (EIAC

0009540-86.2009.4.01.3300). / Apelação provida para declarar o direito de isenção do imposto de renda de pessoa física, auferida por servidor público em atividade." (AC 0030696-14.2015.4.01.3400 / DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ AMILCAR MACHADO, SÉTIMA TURMA, e-DJF1 de 19/12/2016). 2. Apelação provida. (AC 0068673-38.2014.4.01.3800/MG, TRF1, Sétima Turma, Rel. Des. Fed. Hercules Fajoses, e-DJF1 08/09/2017.)16 (Sem grifos no original)

Nota-se que em seus julgados, as Colendas 7ª e 8ª Turma, utilizam como argumento principal, os direitos constitucionais à igualdade e isonomia, mas não é ______

15 Disponível em: <

https://trf-1.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/605002363/apelacao-civel-ac-686733820144013800-0068673-3820144013800?ref=serp> Acesso em 02/10/2019

16 Disponível em: <

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só. Como bem destaca o Desembargador Federal, Dr. Kassio Marques, há em tal decisão diversos preceitos constitucionais, taxados em seus artigos 1º, III (dignidade da pessoa humana), 5º, caput (direito à vida), 170 (ordem econômica) e 196, caput (direito à saúde).

Assim sendo, há de se discutir a razão e importância da cada um desses princípios, a começar pelo da Isonomia e da Igualdade.

De fato, como se sabe o Princípio da Igualdade, decorre do caput do Artigo 5º da nossa Constituição Federal e tem como ordem a seguinte literatura:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes.

Todavia, como é pertencente ao senso comum, a “igualdade” em sua literalidade é impossível de se ser alcançada e mesmo que se fosse possível, nela não repousaria a justiça pela qual se é aguardada.

Assim, nasce o chamado princípio da Isonomia, que consiste exatamente nesse tratamento “diferenciado” para aqueles que de fato são diferentes, mas que dadas as circunstâncias hão de receber tratamento equitativo, para que a partir deste consigam atingir os mesmos objetivos.

Ademais, Celso Antônio Bandeira de Mello em seu livro Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade, diz:

[...]

O preceito magno da igualdade, como já tem sido assinalado, é norma voltada quer para a aplicação da lei quer para o próprio legislador. Deveras, não só perante a norma posta se nivelam os indivíduos, mas, a própria edição dela assujeita-se ao dever de dispensar tratamento equânime às pessoas.17

Assim sendo, é cristalino o entendimento que cabe não apenas ao judiciário aplicar tal princípio constitucional em suas decisões, mas também é dever do Legislativo observá-lo ao editar suas normativas.

Deveras, como expresso por Celso de Mello, tal obrigação não se limita ao “nivelamento” entre as pessoas, mas a sua equidade, ou seja, não basta fazer com que todos tenham acesso às mesmas possibilidades, é preciso consignar que a partir de tal acesso, àqueles que necessitem de cuidados especiais possam de fato atingir os objetivos que pleiteiam.

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17 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. São Paulo: Malheiros Editores, 3ª edição, 15ª tiragem, p. 09, 1995.

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Sobre tal, também se manifesta Nelson Nery Junior:

O princípio da igualdade pressupõe que as pessoas colocadas em situações diferentes sejam tratadas de forma desigual: “Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades”.18

Assim, entende-se que dadas as reais diferenças entre as pessoas, estas hão de receber tratamento desigual para alcançar as mesmas condições para qualquer que sejam seus atos ou vontades. Daí vem a Isonomia para alcance da Igualdade.

Fechando-se tal entendimento para o tema ora analisado, tange-se a isenção de Imposto de Renda apresentada pela Lei n. 7.713/88, com redação alterada pela Lei n. 11.052/04, em seu art. 6º, XIV, nos seguintes termos:

Art. 6º, XIV – os proventos de aposentadoria ou reforma motivada por acidente em serviço e os percebidos pelos portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação, síndrome da imunodeficiência adquirida, com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma;

Logo, ao determinar a hipótese de isenção do Imposto de Renda para os portadores de doenças graves, o legislador deixa claro que essa parcela da sociedade merece um tratamento diferenciado por parte do Estado, com a possibilidade do emprego integral dos seus acréscimos patrimoniais (não gravados pelo Imposto de Renda) para tratamentos médicos.

Assim sendo, apesar de o preceito normativo acima reproduzido, dar conta de que em tese apenas os rendimentos auferidos por aposentados ou reformados são isentos, é mandatória a conclusão no sentido de que também os rendimentos percebidos por aqueles em Atividade também são acobertados pela mesma isenção. De fato, é importante consignar que a referida concessão de isenção existe pelo simples motivo de as pessoas acometidas por quaisquer das graves moléstias taxadas na lei, não poderem receber o mesmo tratamento tributário dispensado a pessoas sadias, pois aquelas têm expressivos dispêndios constantes com medicamentos e tratamentos para o controle da sua saúde, pelo simples objetivo de se manterem vivos.

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18 NERY JÚNIOR, Nélson. Princípios do processo civil à luz da Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 42, 1999.

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Ora, nesse contexto, é inequívoco que a diferenciação entre os Rendimentos da Atividade e os Proventos de Aposentadoria claramente esbarra no Princípio Constitucional da Isonomia – encartado no caput do art. 5º da CF/88.

Assim, é impossível diferenciar a situação de um portador de Doença Grave que se encontre em Plena Atividade da situação de um portador de Doença Grave Aposentado, especialmente se se parte da premissa de que a isenção para tais pessoas acometidas de moléstias decorre da necessidade de dispêndios com medicamentos e tratamentos.

Deveras, é plausível o entendimento que tanto o portador de Doença Grave na Ativa quanto o portador de Doença Grave Aposentado são absolutamente iguais no que tange às suas necessidades com medicamentos/tratamentos.

Em verdade, há de se explanar que aqueles que ainda se encontram em atividade possui danos ainda maiores, pois além dos imperiosos gastos decorrentes de suas patologias, estes ainda dão sua contraprestação diária para com o Estado, em decorrência de seu labor.

Não se justifica, pois, o tratamento benéfico e diferenciado conferido pela Lei n. 7.713/88 exclusivamente aos proventos de aposentadoria e pensão, já que tal diferenciação arbitrária ofende visceral e frontalmente o Constitucional Princípio da Isonomia.

Ademais, como apontado anteriormente, tal diferenciação também fere outros princípios basilares do nosso Ordenamento Jurídico, tais como o da Dignidade da Pessoa Humana, da Ordem Econômica, o Direito à Vida e o Direito à Saúde.

Sobre a dignidade da pessoa humana, Fahd Medeiros Awad entende que:

A dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. O conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional, não uma qualquer idéia apriorística do homem, não podendo se reduzir o sentido da dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a nos cesquecendo-asos de direitos sociesquecendo-ais, ou invocá-lesquecendo-a pesquecendo-aresquecendo-a construir “teoriesquecendo-a do núcleo da personalidade” individual, ignorando-a quando se trate de garantir as bases da existência humana. Daí decorre que a ordem econômica há de ter por fim assegurar a todos existência digna; a ordem social visará à realização da justiça social, à educação, ao desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania.19

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19 19 Disponível em: <

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Assim, entende-se a Dignidade da Pessoa Humana, como “princípio mor”, do qual se decorrem inúmeros outros como bem expressos da Ordem Econômica, que deve ter por objetivo assegurar não apenas o mínimo existencial, mas assegurar condição digna para que o cidadão alcance seu Direito à vida, não apenas no sentido literal de “estar vivo”, mas no sentido de gozar plenamente de sua vida e sua Saúde.

Logo, ao passo que o Estado priva o contribuinte de valores consideráveis de seus rendimentos todos os meses, o contribuinte também acaba sendo privado de uma melhor condição de vida, tendo por óbvio sua dignidade perfurada pelo ato nocivo da Administração Tributária.

Deveras, o STJ já reconheceu expressamente o Direito à Saúde como sendo “elemento essencial à dignidade da pessoa humana”, por meio do Recurso Especial 695.396/RS20, sendo inquestionável pois, sua legitimidade na presente discussão.

Ademais, o STF de forma corroborada também já se manifestou sobre tal, Verbis:

PACIENTE PORTADOR DE DOENÇA RARA. PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS FINANCEIROS. DIREITO À VIDA E À SAÚDE. FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTOS. DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PÚBLICO (CF, ARTS. 5º, CAPUT, E 196).PRECEDENTES (STF). RECURSO EXTRAORDINÁRIO NÃO CONHECIDO.- O direito público subjetivo à saúde representa

prerrogativa jurídica indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe formular - e implementar -políticas sociais e econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos, inclusive àqueles portadores de doenças raras, o acesso universal e igualitário à assistência farmacêutica e médico-hospitalar.- O direito à saúde - além de qualificar-se como direito fundamental que assiste a todas as pessoas - representa conseqüência constitucional indissociável do direito à vida. O Poder

Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no plano da Federação brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave comportamento inconstitucional.- O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a Federação brasileira - não pode converter-se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado.- (...)" (,, Rel. p/o acórdão Min. CARLOS VELLOSO - RE

195.186-______

20 Disponível em: <

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RS, Rel. Min. ILMAR GALVÃO - RE 195.192-RS, Rel. Min. MARÇO AURÉLIO, v.g.)21 (sem grifos no original)

Por assim ser, aplicando tal entendimento ao presente artigo, conclui-se que a privação de valores destinados ao mantimento da Saúde do contribuinte, o imposto pela Carta Magna em seu artigo 196, pois ao passo que priva valores em sede de tributo, impede que o contribuinte procure auxílio médico hábil para suas patologias.

Por fim, há de se assegurar que as verbas aqui questionadas, embora possuam natureza tributária, também possuem caráter alimentar, pois além de decorrerem de Salário, têm como razão de existir o mantimento da vida e da saúde dos contribuintes, sendo-a, portanto impenhorável e irrestituível.

Assim sendo, pode se concluir o presente tópico com apresentação de trecho de decisão proferida pelo Ministro Mauro Campbell, no REsp n. 1718558/RS22, litteris:

Vale destacar que a restituição do imposto de renda nada mais é do que a devolução do desconto indevidamente efetuado sobre verba de natureza salarial, após o ajuste na base de cálculo realizado pelo fisco. Com efeito, uma parcela do salário ou vencimento do contribuinte é direcionada ao pagamento do imposto de renda e, anualmente, ao realizar a declaração, terá ele ciência se recolheu a menos ou a mais. Se o recolhimento for superior, deverá esperar a devolução de seu próprio salário, ou melhor, da parte dele indevidamente recolhida. Daí porque se pode dizer que a devolução do imposto de renda constitui mera restituição de parcela do salário ou vencimento, fato que, por conseguinte, de maneira alguma, desmerece o caráter alimentar dos valores a serem devolvidos. Ademais, o lapso temporal existente entre a data de percepção da verba salarial e a restituição do valor indevidamente recolhido não tem o condão de modificar sua natureza, até porque esse interregno não decorre da vontade do contribuinte, mas sim do modo utilizado pelo fisco para viabilizar a determinação da base de cálculo e o recolhimento do referido tributo. Dessa forma, ao valor a ser restituído aplica-se o disposto no inciso IV do art. 833 do CPC/2015 em face do seu caráter remuneratório-alimentar.

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21 Disponível em: <

https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/14818557/recurso-extraordinario-re-198265-rs-stf > Acesso em 02/10/2019

22 Disponível em: <

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4- A AÇÃO DIRETA DE INSTITUCIONALIDADE N. 6.025

Assim, diante de tamanha discussão e divergência entre os tribunais causando enorme insegurança jurídica quanto ao tema, felizmente tal discussão chegou até o Supremo Tribunal Federal por meio da ADI 6.025, por meio da Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge.

Deveras, a Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI de nº 6.025 (em anexo), objetiva exatamente o reconhecimento da ilegalidade do Inciso XIV, do artigo 6º da Lei 7.713, tendo sido apresentado sua inicial e distribuída em 24 de setembro de 2018, pela então Procuradora-Geral da República, Raquel Elias Ferreira Dodge, com seguinte preambulo:

[AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. IMPOSTO DE RENDA. ISENÇÃO. ART. 6.º–XIV DA LEI N.º 7.713/1988. DOENÇA GRAVE. CONCESSÃO SOBRE RENDIMENTOS DE TRABALHADOR EM ATIVIDADE. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ART. 1.º–III DA CONSTITUIÇÃO), DOS VALORES SOCIAIS DO TRABALHO (ART. 1.º–IV DA CONSTITUIÇÃO) E DA IGUALDADE (ART. 5.º–CAPUT DA CONSTITUIÇÃO). ESPECIAL PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL CONFERIDA ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA PELA CONSTITUIÇÃO E PELA CONVENÇÃO DE NOVA YORK]

Inicialmente, a presente ADI, apresenta entre suas principais alegações em seus objetivos, que a dita inconstitucionalidade se daria em síntese pelos seguintes preceitos legais/constitucionais:

A concessão de isenção do imposto de renda apenas a aposentados acometidos das doenças graves especificadas no dispositivo e, não, aos trabalhadores em atividade, afronta os princípios da dignidade da pessoa

humana (art. 1.º–III da Constituição), dos valores sociais do trabalho (art.

1.º–IV da Constituição) e da igualdade (art. 5.º–caput da Constituição), bem como a especial proteção constitucional conferida às pessoas com

deficiência pela Constituição (arts. 7.º–XXXI, 23–II, 24–XIV, 37–VIII, 40–

§4.º–I, 100–§2.º, 201–§1.º e 203– IV) e sedimentada pela Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (também conhecida como Convenção de Nova York), que foi incorporada no ordenamento jurídico brasileiro com status de norma constitucional (de acordo com o rito do art. 5.º–§3.º da Constituição). (sem grifos no original)

Nota-se que os argumentos utilizados pela Ex- Procuradora Geral são diversos e passam por princípios básicos contidos em nossa Constituição chegando à Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiência de 2007– Tratado de New York – do qual o Brasil é signatário desde o ano de 2009 com a promulgação do decreto Nº 6.949 de 2009.

Ademais, em sequência, há de se ressaltar que em suas razões, a petição deixa claro que em nada há de se falar em a declaração da

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inconstitucionalidade por ela discutida ultrapasse os limites constitucionais das separações dos poderes.

Realmente, é expresso o entendimento de vedação ao STF de atuar como legislador positivo, vedação esta reconhecida pelo próprio Supremo, conforme demonstram julgados citados na fundamentação da peça que concretizaram a jurisprudência.

Nada obstante, requer então o Parquet, que o Supremo se utilize de método diversas vezes já utilizada por ele: o da interpretação extensiva da norma.

Deveras, em momento algum se questiona sobre a legitimidade da isenção aos aposentados, pensionistas ou reformados, mas sim da sua limitação, pois por óbvio, àqueles também é legítima sua concessão, o que não é legitimo é a limitação a este grupo.

Afinal, esta diferenciação acarreta tratamento menos benéficos àqueles que por ainda estarem em atividade, não poderão gozar de tal isenção. Ora, não faz sentido que pessoas acometidas pelas mesmas patologias, ou seja, com as mesmas deficiências possam ser prejudicadas por estarem em atividade.

Como bem diz André de Carvalho Ramos23, não se pode mais falar em

exigência para que a pessoa com deficiência se adapte, mas sim o contrário, que a sociedade trate de maneira desigual os desiguais de modo a assegurar a todos uma convivência mais justa e igualitária.

Sobre tal, destaca-se trecho novo trecho da ADI, Verbis:

A integração das pessoas com deficiência – assim como a das pessoas acometidas de doença grave – não pode ser compreendida apenas como o direito a tratamento médico e curativo, mas, sim, ao dever da sociedade e dos Estados de atenuar as dificuldades enfrentadas por elas, por meio de adaptação razoável de diferentes aspectos (arquitetônico, social, material, educacional etc). Não é por acaso que o conceito de pessoas com deficiência adotado pela Convenção não está ligado apenas à perspectiva biomédica da deficiência, mas também às diversas barreiras que dificultam a sua participação plena e efetiva na sociedade, em igualdade de condições com as demais pessoas .

Nota-se que a influência da convenção de Nova Iorque é muito presente nas palavras do Ministério Público, pois de fato, a Convenção determinou que em seu art. 26.1, que caberá aos Estados membros tomar medidas efetivas ao fim de

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23 RAMOS, André de Carvalho. Linguagem dos direitos e a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. In: Direitos humanos e direitos fundamentais. Diálogos contemporâneos. ANJOS FILHO, Robério Nunes dos (org.). Salvador: JusPodivm, 2013, p. 16.

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toda forma que de modo direto ou indireto prejudiquem a autonomia das pessoas com deficiência.

Assim sendo, se uma pessoa com deficiência ou doença grave (nos termos da Lei 7.713/88) não está recebendo a devida contraprestação do Estado pelo simples fato de estar em atividade, cabe ao poder público sanar tal erro, a fim de que o portador de doença grave possa, in casu, empregar a totalidade de seus rendimentos no custeio de sua própria saúde.

Assim, conclui em seus pedidos pelo reconhecimento da inconstitucionalidade parcial do Lei aqui debatida para “declarar que, no seu âmbito incidência, está incluída a concessão do benefício fiscal aos trabalhadores com doença grave que permanecem em atividade”.

Destaca-se que em decorrência do ingresso da ADI, diversas associações ingressaram na Ação com pedido de Amicus Curiae, a fim de defender e acompanhar a tese do Ministério Público.

Dentre elas destacam-se algumas muito importantes em nosso país tais como a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho – ANPT e a Associação dos Magistrados Brasileiros- AMB.

Atualmente, o caso encontra-se concluso para análise do relator, o Ministro Alexandre de Morais o qual ainda não se manifestou sobre o caso.

Assim sendo, caberá ao Supremo definir o tema, que pelo todo o exposto, deve reconhecer da inconstitucionalidade omissiva da norma, dando-a interpretação extensiva para reconhecer do direito dos ativos à isenção aqui tanto debatida.

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5- CONCLUSÃO

O presente estudo teve por finalidade analisar, à luz da jurisprudência dos egrégios Tribunal Regional Federal da 1ª Região para com o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e o Superior Tribunal de Justiça (enquanto o Supremo se mantem inerte ao tema), sobre a possibilidade de concessão de isenção de imposto de renda para portadores de doenças graves aos ativos, bem como se a limitação imposta pela Lei 7.713/88 de concessão apenas aos inativos seria constitucional.

A controvérsia como dito encontra-se na limitação da Lei 7.713/88, mais especificamente em seu art. 6.º, inciso XIV, que diz que “os proventos de aposentadoria ou reforma (...) com base em conclusão da medicina especializada, mesmo que a doença tenha sido contraída depois da aposentadoria ou reforma;” limita a um seleto grupo o benefício isencional aqui debatido.

Nesse diapasão, tal limitação imposta pelo legislador pátrio em relação à isenção de imposto de renda dá azo à construção de proposições jurídico-normativas distintas entre nossos Tribunais, os quais dentre os mais conservadores, tendem a negar tal isenção aos ativos portadores de doença grave, pela negativa a interpretação extensiva à norma tributária, enquanto alguns mais à frente já entendem pela concessão baseados em preceitos fundamentais de nossa Constituição Federal, tais como a isonomia, saúde, dignidade da pessoa humana, etc.

Em lado outro, a fim de sanar tal controvérsia, recentemente foi apresentado ao Supremo Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 6.025 –, que se encontra pendente de julgamento.

A relevância do presente debate é inquestionável pois trata de questão constitucional-tributária que pode vir afetar um número alarmante de nossa população e consequentemente a arrecadação aos cofres públicos.

Pelo todo exposto, há de se concluir que a limitação apresentada pela Lei 7.713/88 é contrária a diversos preceitos e normas constitucionais, sendo devido o reconhecimento de sua inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal.

Deveras, embora não caiba ao STF agir como legislador positivo, cabe-os o dever de interpretar a norma conforme o todo de nossa constituição.

Assim, cabe à Corte Suprema, reconhecer da inconstitucionalidade da norma não pelo sua literatura, mas pelo sua omissão, ou seja, a

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inconstitucionalidade da Lei não se encontra na concessão aos Inativos, que é mais que legitima, mas na sua limitação.

Portanto, há de se concluir que deve o STF, a partir do julgamento da ADI 6.025, reconhecer do cabimento de interpretação extensiva, de forma a abarcar não apenas os inativos portadores de doença grave, mas também aos ativos que se encontram em mesma e temerária situação.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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