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Centro Universitário do Distrito Federal UDF Coordenação do Curso de Direito DAYANE ALVES SILVA

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DAYANE ALVES SILVA

OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA NO SINDICALISMO BRASILEIRO

Brasília 2019

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DAYANE ALVES SILVA

OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA NO SINDICALISMO BRASILEIRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

Brasília 2019

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Silva, Dayane Alves

Os Impactos da Extinção da Contribuição Sindical Compulsória no Sindicalismo Brasileiro / Dayane Alves Silva. – Brasília, 2019.

69 f.

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

1. Os sindicatos no direito brasileiro. 2. O sindicalismo no brasil e a constituição federal de 1998 3. Os impactos da extinção da contribuição sindical compulsória no sindicalismo brasileiro.

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OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSÓRIA NO SINDICALISMO BRASILEIRO

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Coordenação de Direito do Centro Universitário do Distrito Federal - UDF, como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Orientadora: Rúbia Zanotelli Alvarenga.

Brasília, _____ de _________ de 2019.

Banca Examinadora

_________________________________________

Rúbia Zanotelli Alvarenga

Doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Professora do Centro Universitário do Distrito Federal – UDF

__________________________________________

Nome do Examinador

Titulação

Instituição a qual é filiado

___________________________________________

Nome do Examinador

Titulação

Instituição a qual é filiado

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Dedico esta monografia, a Deus, pois proporcionou sabedoria e discernimento para esta realização. A minha família que sempre esteve ao meu lado. Aos professores em especial a minha orientadora pela disponibilidade de compartilhar conhecimento e experiências que agregaram muito ao trabalho. Enfim, a todos que incentivaram e que puderam tornar este caminho árduo e prazeroso.

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"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." Eduardo Galeano

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O presente trabalho tem por objetivo examinar algumas das alterações trazidas pela Reforma Trabalhista - Lei 13.467/2017, no âmbito do fim da Contribuição Sindical compulsória, que trouxe um novo cenário para a organização sindical brasileira, abalando assim seriamente as estruturas das entidades sindicais. Para se chegar ao objetivo principal se faz necessário, uma breve exposição da evolução histórica do sindicalismo no Brasil, analisando o sistema sindical brasileiro, referente à sua estrutura, funções, princípios e prerrogativas, as receitas sindicais que no ordenamento jurídico nacional são compostas por quatro tipos: contribuição sindical obrigatória, contribuição confederativa, da chamada contribuição assistencial e das mensalidades dos associados do sindicato. Os impactos da contribuição sindical que anteriormente era de forma compulsória passa ser facultativa, sendo que o respectivo recolhimento está condicionado à autorização prévia e expressa do empregado. A reforma trabalhista evidentemente aumentou o alcance dos poderes negociais jurídicos e político ao sindicato, porém ao mesmo tempo em que, paradoxalmente reduz seus recursos necessários à sobrevivência das entidades sindicais.

Palavras-chave: Sindicalismo; Contribuição sindical compulsória; Funções sindicais;

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13,467 / 2017 in the ambit of the end of the compulsory Union Contribution, which brought a new scenario for the Brazilian union organization, thus seriously undermining the structures of the unions. In order to reach the main objective it is necessary a brief exposition of the historical evolution of unionism in Brazil, analyzing the Brazilian union system, referring to its structure, functions, principles and prerogatives, the union revenues that in the national legal system, are composed by four types: compulsory union contribution, confederative contribution, the so-called assistance contribution and the monthly membership dues. The impacts of the previously compulsory union contribution are now optional, and the respective payment is subject to prior and express authorization of the employee. Labor reform evidently increased the reach of the union's legal and political negotiating powers, but at the same time, paradoxically reduces its resources necessary for the survival of trade unions.

Keywords: Keywords: Unionism; Compulsory union contribution; Union functions; Labor reform.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

ART Artigo

CF Constituição Federal de 1988.

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CGTB Central Geral dos Trabalhadores do Brasil CNES Cadastro Nacional de Entidades Sindicais),

CONTTMAF Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo,

na Pesca e nos Portos

CTB Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

CUT Central Única dos Trabalhadores

DIESSE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico

EC Emenda Constitucional

FS Força Sindical

NCST Nova Central Sindical de Trabalhadores OIT Organização Internacional do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

SINTUFRJ Sindicato dos Servidores Públicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 11

1.OSSINDICATOSNODIREITOBRASILEIRO ... 13

1.1 HISTÓRIA DO SINDICALISMO ... 13

1.2OSSINDICATOS ... 16

1.3CENTRAISSINDICAIS ... 18

1.4NATUREZAJURÍDICA ... 21

1.5CRIAÇÃOEREGISTRODOSSINDICATOS ... 22

2. PRINCÍPIOS E FUNÇÕES SINDICAIS ... 26

2.1OPRINCÍPIODALIBERDADEASSOCIATIVAESINDICAL ... 26

2.2PRINCÍPIODAAUTONOMIASINDICAL ... 28

2.3PRINCÍPIODAINTERVENIÊNCIASINDICALNARELAÇÃOCOLETIVA ... 30

2.4PRINCÍPIODACRIATIVIDADEJURÍDICANANEGOCIAÇÃOCOLETIVA ... 31

2.5PRINCÍPIODAEQUIVALÊNCIADOSCONTRATANTESCOLETIVOS ... 32

2.2.1FUNÇÕES SINDICAIS ... 34

3. OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL COMPULSORIA NO SINDICALISMO BRASILEIRO ... 40

3.1RECEITASSINDICAIS ... 40

3.2 O HISTÓRICO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA ... 45

3.3 OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA: O ENFRAQUECIMENTO GRADATIVO E O POSSÍVEL FIM DOS SINDICATOS NO BRASIL ... 49

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INTRODUÇÃO

A reforma trabalhista gerou uma série de alterações na Consolidação das Leis Trabalhistas - CLT, em especial para o presente trabalho aquelas promovidas nos artigos 545, 578, 579, 582, 583, 587 e 602 da CLT, que retiraram o caráter compulsório da contribuição sindical, a qual anteriormente era devida por toda a categoria profissional, independente de filiação ou autorização.

Contudo, antes de analisar o fim da contribuição sindical obrigatória, e as repercussões na realidade das entidades sindicais, inicialmente o presente trabalho fará uma breve exposição da evolução histórica do sindicalismo no Brasil, que remonta do século XVIII, na Europa medieval, no movimento ocorrido durante a revolução industrial, na Inglaterra. Logo em seguida, será realizada uma explanação dos sindicatos, que são pessoas físicas ou jurídicas, que têm atividades econômicas ou profissionais, visando à defesa dos interesses coletivos ou individuais da sua categoria. Esclarecendo ainda sobre as suas estruturas, funções, princípios e prerrogativas.

Posteriormente, é necessário averiguar a composição da receita do sindicato e as princípais características das contribuições que compreendem o financimanto das entidades sindicais. A Constituição Federal de 1988 disciplina, além da contribuição sindical obrigatória, contribuição confederativa, da chamada contribuição assistencial e das mensalidades dos associados do sindicato.

Nesse sentido, será recepcionada as alterações advinda da Lei 13.467/2017 em relação ao fim do caráter compulsório da contribuição sindical, que houve mudança substancial no teor da norma, tornando-a facultativa quanto à obrigatoriedade, sendo necessária para o desconto, a uma autorização prévia dos trabalhadores de uma determinada categoria. Ocorre que a referida reforma, representando mais um passo na tentativa de esvaziar a coerência da organização sindical, revela-se inadequada à maneira inesperada da retirada da fonte de custeio, gerando vários impactos na realidade das entidades sindicais, bem como de seus reflexos para a atuação dos seus representados, além de verificar a legalidade da norma legal que provocou a alteração.

Por fim, diante desse novo cenário as entidades sindicais, com corte brusco no financiamento põe em risco a própria existência da entidade sindical e cria uma situação inexistente no mundo: um sistema em que os trabalhadores têm acesso

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aos direitos produzidos e conquistados pelos sindicatos, mas sua contribuição para a entidade torna optativa.

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1. OS SINDICATOS NO DIREITO BRASILEIRO

1.1 HISTÓRIA DO SINDICALISMO

A história do sindicalismo remonta do século XVIII, na Europa medieval, no movimento ocorrido durante a revolução industrial na Inglaterra, dos trabalhadores nas indústrias têxteis. Durante a escravidão, o sindicalismo ainda não representou a base para a formação de uma união que formasse o movimento sindical ou somente uma união de classe, pois o sindicalismo é um movimento que depende de pessoas livres, sendo que o escravo não auferia direitos, pois eram pessoas excluídas de qualquer meio social e, ainda, desenvolviam qualquer trabalho ordenado pelo seus senhores.1

Desse modo, atesta José Carlos Arouca:

Ao fim do império, havia cerca de 60 mil operários no país, trabalhando em pequenas oficinas e grandes indústrias. Para uma população de 14 milhões, e perto de 1 milhao de escravos esse número bem diz o que representava o operariado no conjunto da população: pouco mais que nada. Por isso mesmo prossegue basbaum, esses 60 mil operários, não chegaram a constrruir uma classe, ideologicamente falando.2

No Brasil, o movimento sindical não se iniciou na mesma época que na Europa, pois enquanto naquele continente a industrialização era predominante, o Brasil ainda era colônia portuguesa e a coroa nao tinha interesse na industrialização de colônias para que as mesmas continuassem a ser exploradas pelo reino português. De acordo com Wagner Rachf Scofield “De qualquer forma, até a abolição da escravatura, em 1888, não se pode falar em movimento sindical organizado e muito menos expressivo”.3

O contexto social brasileiro foi rapidamente se alterando, surgindo novas classes influenciadas pelos imigrantes europeus que aqui chegaram com idéias sindicais reformistas e revolucionárias. Esse novo componente introduziu mudanças sensíveis nos setores econômicos e sociais com resultados positivos e negativos nas primeiras décadas do século XX.4

1 AROUCA. Jose Carlos. Repensando o sindicato. São Paulo: LTr, 1998, P.58. 2 Ibidem, P. 15

3 SCOFIELD, Wagner Rachd. Historia e momento do sindicalismo no Brasil. Justilex, Ano IV nº48.

Dez. 2005. p.55.

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Na verdade, as relações trabalhistas e sindicais no Brasil só começaram a evoluir a partir do final da década de 20 e início da década de 30, em docorrência da crise na economia cafeeira de 1929, que deixou o país com reduzida capacidade de bens de consumo, tendo que dar passos em direção à industrialização, o que fez surgir uma nova fase na história do Brasil, porque quebrava a antiga oligarquia rural. Surgia um incipiente empresariado, incluindo a classe média urbana. Entretando, a classe operária, que crescia numericamente nos centros urbanos, continuava a margem dessa nova ordem que emergia.5

Insta destacar que a evolução do sindicalismo nas relações Capital x Trabalho despontou a partir da Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII, com o surgimento da industrialização dos países europeus, podendo ser dividida em duas épocas, quais sejam: a) de 1780 a 1860, denominada Primeira Revolução Industrial, destacando o carvão e o ferro; b) de 1860 a 1914, destacando o aço e a eletricidade. Na Primeira Revolução, dava-se ênfase na mecanização da indústria e da agricultura, e a aplicação de força motriz com o advento da máquina a vapor. Houve o desenvolvimento do sistema fabril, com a extinção do artesão e de sua pequena oficina dando lugar ao operário e às fábricas.6

Acerca disso, assinala Eunice Lacava Kwasnicka:

Entre o sistema doméstico e o fabril, introduziu-se um sistema de intermediação que permanece até hoje em alguns sistemas produtivos, que operavam como elos entre o produtor e o consumidor. Devemos observar que a evolução de um sistema não necessariamente elimina o outro; muitas vezes, e apenas incorporado, o mesmo adaptado. Outro aspecto e de que o surgimento de um sistema gera maior grau de sofisticação no sistema anterior e decorre de uma necessidade desde, como maior sofisticação no processo de produção, maior controle do seu mercado abastecedor e consumidor, novas tecnologias e assim por diante.7

Impende ressaltar que durante a revolução os empresários submetiam os trabalhadores a duras condições de trabalho sem aumentar os salários, para assim aumentar a produção e garantir uma margem maior de lucros. Apesar do rigor da disciplina, as condições de trabalho nem sempre ofereciam segurança. Algumas fábricas impunham uma jornada que ultrapassava 15 horas, os descansos e férias não eram cumpridos sem tratamento diferenciado a mulheres e crianças. Surgem,

5 PEREIRA. João Batista Brito. O sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Escola Superior de Guerra,

1991. P 108.

6 FARIA, José Carlos. Administração: introdução ao estudo. São Paulo: Pioneira, 1994, p 35. 7 KWASNICKA, Eunice Lacava. Teoria geral da administração. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 17.

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então, os conflitos entre operários revoltados com as péssimas condições de trabalho, e com o empresariado. As primeiras manifestações são de depredação de máquinas e instalações fabris. 8

Prosseguindo, com o grande impacto da revolução industrial se iniciou um movimento social que buscava a melhoria das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores, que foram as greves. Originário do Francês, a palavra greve tem sua origem proveniente da place, pois ela ocorria às margens do Rio Sena em Paris. O lugar era utilizado para embarque e desembarque de navios, assim como era o local para reunião de desempregados e dos demais empregados insatisfeitos com a maneira com que eram tratados no ambiente de trabalho.

A greve é um dispositivo democrático assegurado pelo artigo 9º da Constituição Federal de 1988:

Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei9. É importante destacar que as greves tem papel fundamental nas conquistas auferidas pela classe trabalhadora, pois as negociações devem fazer parte do cotidiano laboral. Com a análise da real necessidade dos proletários e dos patrões constituiu-se uma relação necessária para atendimento recíproco dos lados.10

Sob tal perspectiva, Ricardo Antunes ainda elucida que a greve pode ser definida da seguinte forma:

As greves ensinam aos trabalhadores o seu poder e a necessidade da união. Greves são escolas de guerra, onde os operários aprendem a desencadear a guerra contra seus inimigos pela emancipação de todo o povo e de todos os trabalhadores do jugo do governo e do capital. Porém, a escola de guerra não é ainda a própria guerra.... As greves são um dos meios da classe operária para sua emancipação, porém não o único, e se os operários não prestam atenção aos outros meios de luta, com isso demoram o desenvolvimento e os êxitos da classe operária. A luta sindical é uma luta contra os efeitos do capitalismo e não contra as suas causas. 11

8 FARIA, José Carlos. Administração: introdução ao estudo. São Paulo: Pioneira, 1994, p.98.

9 BRASIL. Constituição (1988). In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 9.

10 ANTUNES, Ricardo. Novo sindicalismo no Brasil. São Paulo: Pontes, 1981, p.72. 11 Ibidem, p 73.

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1.2 OS SINDICATOS

Na lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, “o sindicato pode ser definido como a associação de pessoas físicas ou jurídicas, que têm atividades econômicas ou profissionais, visando à defesa dos interesses coletivos ou individuais dos membros da categoria (art. 511, CLT)”.12

Sindicato, na elucidativa visão de Mauricio Godinho Delgado:

São entidades associativas permanentes, que representam trabalhadores vinculados por laços profissionais e laborativos comuns, visando a tratar de problemas coletivos das respectivas bases representadas, defendendo seus interesses trabalhistas e conexos, com o objetivo de lhes alcançar melhores condições de labor e vida.13

Na mui precisa visão de José Cláudio Monteiro de Brito Filho, “os sindicatos nasceram como forma de concentração de esforços de um grupo de indivíduos em prol de seus interesses comuns, neste primeiro momento apenas profissionais”.14

Então, “sindicato é uma união de pessoas que se reúnem para os fins de defesa de seus interesses comuns e que se caracterizam como profissionais ou econômicos”.15

O direito sindical compõe-se de duas representações básicas, quais sejam: categorias profissionais e categoria econômica.

De acordo com a Convenção n. 87 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, que trata do principio da liberdade sindical e proteção ao direito de sindicalização, no seu art. 2º disciplina:

Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os estatutos das mesmas. (OIT Nº87/1948).

Desse modo, o poder público é bloqueado na interferência e a intervenção na criação sindical, não podendo ter condição legal de prévia autorização do Estado para instituição de sindicato. No comovente nível de representação, os sindicatos brasileiros hoje representam uma categoria na sua respectiva base territorial, elencadas nos artigos 511 e 513, da CLT, veja-se:

12 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 14 ed. São Paulo: Saraivajur,

2019, p. 1138.

13 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 100. 14 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito sindical. 7 ed. São Paulo: LTr, 2018, p. 117. 15 Ibidem, p. 117.

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Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.

Art. 513. São prerrogativas dos sindicatos:

a) representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias os interesses gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos associados relativos á atividade ou profissão exercida; b) celebrar contratos coletivos de trabalho;

c) eleger ou designar os representantes da respectiva categoria ou profissão liberal;

d) colaborar com o Estado, como orgãos técnicos e consultivos, na estudo e solução dos problemas que se relacionam com a respectiva categoria ou profissão liberal;

e) impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas.16 Por sua vez, o §3º, do artigo 511, da Consolidação das Leis do Trabalho, relaciona a categoria profissional diferenciada. Que são aqueles sindicatos de categoria formados por trabalhadores de uma mesma profissão; sindicatos de profissionais liberais e de trabalhadores autônomos ou especifico de determinada categoria.

Não sendo provável haver mais de um sindicato na mesma base territorial, pelo princípio da unicidade sindical da representação é estabelecida por lei. Contudo, tal sistema é flexibilizado pela lei, já que é possível a criação de categorias diferenciada.

É preciso destacar para além que, o sistema sindical brasileiro é confederativo. Assim, os sindicatos representam entes de base, enquanto as associações sindicais de grau superior são as federações e as confederações.

Nesse aspecto, acentua Mauricio Godinho Delgado que “há, no sistema, uma pirâmide, que se compõe do sindicato, em seu piso, da federação, em seu meio, e da confederação, em sua cúpula. ”17

As federações resultam da conjugação de, pelo menos, cinco sindicatos da mesma categoria profissional, diferenciada ou econômica (art. 534, CLT).

As confederações, por sua vez, resultam da conjugação de, pelo menos, três federações, respeitadas as respectivas categorias, tendo sede em Brasília (art. 535, CLT).

16BRASIL.Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 868.

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1.3 CENTRAIS SINDICAIS

Há que se registrar que no final dos anos 70 e início da década de 80 a efervescência social pelas Diretas e a abertura política revitalizaram as articulações políticas para a criação das centrais sindicais, sobretudo, a partir das greves ocorridas no Grande ABC.

Segundo João Batista Brito Pereira:

O movimento em prol da criação das centrais sindicais fortaleceu-se aos poucos, graças a reação contra o estado regulador, que entrevia até na administração sindical, sem permitir desse modo representação independente aos trabalhadores. Com tal conflito vieram as greves e os congressos que foram os instrumentos que produziram os primeiros resultados imediatos, com melhoria salarial, conquistas sociais, etc.18

Embora a central sindical faça parte do cenário político nacional, somente por intermédio da Lei nº 11.648, de 2008, ocorreu o seu reconhecimento formal como entidade sindical, com definição de suas atribuições, prerrogativas e requisitos para representação dos trabalhadores em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral dos trabalhadores (art. 1º e 2º CLT, 1988).

Nos termos da Lei nº 11.648, de 2008, aos artigos 589 e 593 da CLT, pela primeira vez na história do sindicalismo brasileiro seis centrais sindicais receberam recursos da contribuição sindical - que equivale a um dia de salário do trabalhador no ano, de acordo com os critérios para rateio definidos nessa Lei - a saber: CUT (Central Única dos Trabalhadores), FS (Força Sindical), UGT (União Geral dos Trabalhadores), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) e CGTB (Central Geral dos Trabalhadores do Brasil).19

Ainda de acordo com Amauri Mascaro Nascimento:

Se as centrais são associações civis, e não sindicais, nada impede a sua existência nem pluralidade, porque a unicidade é proibição constitucional direcionada, unicamente, para as organizações sindicais e não para as

18 PEREIRA. João Batista Brito. O sindicalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Escola Superior de

Guerra, 1991. P 108.

19 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 29 ed. São Paulo: LTr, 2003, p.

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associações não sindicais. Nesse caso, as centrais estariam inteiramente respaldadas pelo ordenamento jurídico, nada impedindo a sua livre criação, tantas quantas quiserem os seus fundadores.20

Para obter a representatividade necessária ao recebimento da contribuição sindical e o reconhecimento de sua atuação, a central precisa obedecer a quatro requisitos cumulativos, estabelecidos no art. 2º da Lei 11.648, de 2008. O mais relevante deles define que as centrais precisam comprovar nos primeiros vinte e quatro meses, a contar de 31 de março de 2008, a filiação de sindicatos que representem 5% (cinco por cento) do total de empregados sindicalizados em âmbito nacional, índice que se amplia para 7% após o período especificado.

Ainda quanto à indevida intervenção do Estado na organização sindical, pode-se citar a Instrução Normativa nº 1, de 30 de pode-setembro de 2008, expedida pelo Ministro do Trabalho e Emprego, que dispõe sobre o recolhimento da contribuição sindical prevista no art. 578, da CLT, por todos os servidores e empregados públicos, observado o disposto nos artigos 580 e seguintes do texto celetista.

As centrais sindicais têm por maior finalidade a representatividade em relação à organização sindical, onde são denominadas de uniões ou confederações de trabalhadores, consideradas entidades de cúpula, pois se situam no topo da estrutura sindical, acima dos sindicatos, das federações e confederações de trabalhadores. Assim, as Centrais Sindicais representam outras entidades sindicais (e não trabalhadores isoladamente), que a ela se filiam espontaneamente. São consideradas entidades intercategoriais, pois abraçam categoriais profissionais distintas.21

Ainda de acordo com Eduardo Gabriel Saad:

Já assinalamos que a Carta Magna impõe o monismo sindical nas entidades de grau superior. Destarte, um dado segmento da economia só pode gerar uma federação no plano estadual ou uma confederação no plano nacional. Semelhante dispositivo constitucional não deixa espaço para que as Centrais Sindicais se organizem legitimamente.22

O surgimento desta entidade como órgão de cúpula foi explicado por Carlos Henrique da Silva Zangranado, nos seguintes termos:

20 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 29 ed. São Paulo: LTr, 2003, p.

204.

21 SAAD. Eduardo Gabriel. Constituição e direito do trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 1989. p. 39. 22 Ibidem, P. 180.

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O ambiente político propício, além do fenômeno inflacionário, a estagnação da economia trouxeram a necessidade de uma luta efetiva e constante para a recomposição das perdas salarial e demais direita dos trabalhadores. Isso não poderia acontecer sem uma organização central, coordenativas dos esforços das entidades sindicais de primeiro grau. Por tudo isso, e algo mais, as centrais sindicais se estabeleceram e cresceram em importância.23 No tocante às centrais sindicais, estatui Mauricio Godinho Delgado:

As centrais sindicais (por exemplo: Central Única dos Trabalhadores – CUT; Força Sindical – FS; União Central dos Trabalhadores – UGT; Central dos Trabalhadores e Trabalhadores do Brasil – CTB; Nova Central Sindical de Trabalhadores – NCST; Central dos Sindicatos Brasileiros – CSB) não compõem o modelo corporativista, sendo, de certo modo, seu contraponto. Sua existência efetiva e seu reconhecimento legal (Lei n. 11.648, de 31.3.2008) constituem, na verdade, dimensão importante da superação democrática dos nódulos corporativistas do sistema sindical do País.24 Nessa linha, ainda acentua o autor em destaque que na história brasileira, apenas recentemente é que as centrais sindicais foram institucionalizadas por diploma normativo específico, embora sem poderes de negociação coletiva trabalhista (Lei n. 11.648, de 31.3.2008). A jurisprudência, antes e depois da Lei n. 11.648/08, também não reconhece às Centrais Sindicais os poderes inerentes è negociação coletiva trabalhista.25

Foi em apenas quase vinte anos após a Constituição de 1988, que a ordem jurídica infraconstitucional produziu novo avanço no processo de transição democrática do sistema sindical brasileiro, ao realizar o reconhecimento formal das centrais sindicais, embora sem poderes de negociação coletiva, por meio da Lei n. 11.648, de 31.3.2008.26

Cabe registrar, por último, conforme Mauricio Godinho Delgado, que a importância das centrais sindicais é notável, sendo, componente decisivo da Democracia contemporânea. De acordo com o autor:

No plano interno de suas atividades, não apenas fixam linhas gerais de atuação para o sindicalismo em contextos geográficos e sociais mais amplos, como podem erigir instrumentos culturais e logísticos de grande significado para as respectivas bases envolvidas. No plano externo de suas atividades, participam da fundamental dinâmica democrática ao dialogarem com as grandes forças institucionais do País, quer as de natureza pública, quer as de natureza privada.27

23 ZANGRANADO, Carlos Henrique da Silva. Breves Considerações sobre a lei das Centrais Sindicais. Jornal Trabalhista Consulex, São Paulo, 2009.p 4.

24 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2018 p. 119. 25 Ibidem. P. 119

26 Ibidem, p. 120. 27 Ibidem. P.120.

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1.4 NATUREZA JURÍDICA

A natureza jurídica dos sindicatos consiste em associação ou filiação de natureza privada, voltada ao interesse dos trabalhadores e empregadores.

Quando a isso, destaca Gustavo Filipe Barbosa Garcia:

A natureza jurídica do sindicato é de associação, tratando-se de pessoa jurídica de direito privado. No atual regime democrático, pautado pela liberdade sindical, não mais de admite o sindicato atrelado ao Estado, como órgão dele dependente ou exercendo funções delegadas pelo Poder Público.28

Nesse mesmo contexto, Mauricio Godinho Delgado ensina que sindicato se distância das demais associações por ser necessariamente uma entidade coletiva e não um simples agrupados de pessoas permanente:

[...] A natureza jurídica dos sindicatos é de associação privada de caráter coletivo, com funções de defesa e incremento dos interesses profissionais e econômico de seus representados, empregados e outros trabalhadores subordinados ou autônomos, além de empregadores.29

Sendo assim, no Brasil, o sindicato é pessoa jurídica de direito privado, pois estabelece requisitos formais, apenas para que o a entidade sindical contraia personalidade jurídica.

De acordo com Sérgio Pinto Martins, referente ao art. 8º da Constituição Federal de 1988, a natureza jurídica do sindicato é de direito privado por não existir interferência da entidade sindical:

O sindicato é pessoa jurídica de direito privado, pois não pode haver interferência ou intervenção nos sindicatos (art., 8º, II CF/88). Não se pode dizer que o sindicato tem natureza publica, pois, o próprio caput do art. 8º da CF/88 dispõe que livre a associação profissional ou sindical (...) o reconhecimento do sindicato por parte do Estado não o transforma em entidade de direito público, nem a negociação coletiva. A associação e uma forma de exercícios de direitos privados.30

Por assim ser, o sindicato é uma organização de pessoas jurídicas ou físicas que figuram como sujeitos nas relações coletivas de trabalho. Tal organização é

28 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 14 ed. São Paulo: LTr, 2019, p.

1138.

29 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015, p. 979. 30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 19 ed. São Paulo: Atlas, 2004. P. 697.

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instituída para reunir tanto, pessoas físicas quanto jurídicas, e não visando fins indiscriminados.

Como observa Amauri Mascaro Nascimento, “o sindicato é um ente de direito privado, disciplinado, como as demais associações, pelas regras pertinentes a esse setor”.31

Nesse sentido, o sindicato brasileiro é de direito privado, detendo função de defesa dos interesses coletivos e individuais dos seus representados, tendo atribuições de interesse público.

1.5 CRIAÇÃO E REGISTRO DOS SINDICATOS

É livre a criação das entidades, o que se dará, hoje em dia, com a realização de assembleia geral, convocada pelo grupo que deseja a fundação do sindicato, assembleia esta em que a categoria deliberará sobre a criação ou não de entidade sindical. Em caso de a deliberação ser positiva, o passo seguinte é o registro da entidade, condição indispensável para a aquisição da personalidade jurídica, pelo sindicato.32

De acordo com Henrique Macedo Hinz, “no regime jurídico anterior à CF/88, a criação de um sindicato deveria ser antecedida pela existência de uma associação que representasse os interesses da categoria”. Logo,

A Constituição Federal de 1988 não só revogou necessidade de prévia existência de uma associação, mais também atribuiu a empregados e empregadores a possibilidade de, a seu critério, criar entidade sindical, manteve ainda, o princípio da unicidade sindical, o que gerou a necessidade de determinar qual seria o órgão responsável pelo registro das entidades sindicais, conforme previsto no art. 8º, I da lei magna, o qual garantiria a observância desse princípio. 33

Em cumprimento aos artigos 512 e 558 da CLT, há algumas especificações de como a entidade sindical deve proceder para ser registrada, tendo em vista que a sua criação, lhe conferem poderes para agir em nome de sua categoria.

Vale transcrever os arts. 512 e 558 da CLT, verbis:

Art. 512. Somente as associações profissionais constituídas para os fins e na forma do artigo anterior e registradas de acordo com o art. 558 poderão

31 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

P. 1295.

32 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Direito sindical. 7 ed. São Paulo: LTr, 2018, p. 126. 33 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo de trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005. P 41.

(23)

ser reconhecidas como Sindicatos e investidas nas prerrogativas definidas nesta Lei.

Art. 558. São obrigadas ao registro todas as associações profissionais constituídas por atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas, de acordo com o art. 511 e na conformidade do Quadro de Atividades e Profissões a que alude o Capítulo II deste Título. As associações profissionais registradas nos termos deste artigo poderão representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses individuais dos associados relativos à sua atividade ou profissão, sendo-lhes também extensivas as prerrogativas contidas na alínea "d" e no parágrafo único do art. 513.34

Alusivo às questões das práticas de registro, é preciso observar o art. 515 da CLT, que prediz os requisitos necessários para o reconhecimento da entidade sindical, tendo relacionado três condições básicas, quais sejam:

Art. 515. As associações profissionais deverão satisfazer os seguintes requisitos para serem reconhecidas como sindicatos :

a) reunião de um terço, no mínimo, de empresas legalmente constituídas, sob a forma individual ou de sociedade, se se tratar de associação de empregadores; ou de um terço dos que integrem a mesma categoria ou exerçam a mesma profissão liberal se se tratar de associação de empregados ou de trabalhadores ou agentes autônomos ou de profissão liberal;

b) duração de 3 (três) anos para o mandato da diretoria;

c) exercício do cargo de presidente por brasileiro nato, e dos demais cargos de administração e representação por brasileiros.

Parágrafo único. O ministro do Trabalho, Indústria, e Comércio poderá, excepcionalmente, reconhecer como sindicato a associação cujo número de associados seja inferior ao terço a que se refere a alínea a.35

Dessa forma, complementando os ditames consolidados, atualmente a lei que rege a criação de uma entidade sindical é a portaria 501 de 30 de abril de 2019, que dispõe sobre os procedimentos administrativos para o registro de entidades sindicais pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, sendo o órgão competente para conferir a personalidade sindical.

Em tal prisma, elucida Sergio Martins que “apenas o registro do sindicato no cartório não lhe dará personalidade jurídica de entidade sindical, ante a necessidade do Registro no Ministério do Trabalho”. Ocorre dessa forma, tendo em vista a jurisprudência dominante nos Tribunais Superiores é no sentido de que o registro no Ministério do Trabalho é indispensável, para fins de verificação da unicidade sindical.

34BRASIL.Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 868.

(24)

A Súmula nº 677, do STF dispõe o seguinte: "Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade sindical”.

Preceitua ainda a Orientação Jurisprudencial 15 da SDC do TST:

OJ-SDC-15 SINDICATO. LEGITIMIDADE "AD PROCESSUM". IMPRESCINDIBILIDADE DO REGISTRO NO MINISTÉRIO DO TRABALHO. Inserida em 27.03.1998. A comprovação da legitimidade "ad processum" da entidade sindical se faz por seu registro no órgão competente do Ministério do Trabalho, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

É de suma importância frisar que a finalidade é meramente cadastral. O Ministério do Trabalho não fará qualquer juízo de conveniência ou interferência da criação da nova entidade, apenas verificará a existência de outros sindicatos, o que não é possível nos cartórios de registro civil.

Consoante ensina Gustavo Filipe Barbosa Garcia:

O registro no Cartório de (títulos e documentos e de) de pessoas jurídicas apenas confere personalidade jurídica de associação, não sendo suficiente para a aquisição da personalidade sindical, sabendo-se que o sindicato é uma pessoa jurídica de direito privado com diversas funções especiais e peculiaridades.36

Ainda no tocante ao registro das entidades sindicais, José Cláudio Monteiro de Brito Filho assinala que só podem ser constituídas organizações sindicais que integrem o sistema confederativo, que são o sindicato, a federação e a confederação. Qualquer outra entidade, no caso das centrais sindicais, não será considerada como tendo personalidade jurídica de direito sindical e, portanto, não gozará das prerrogativas das entidades sindicais.37

Ademais, “só poderá ser criada entidade sindical se houver respeito à unicidade sindical, à base territorial mínima e à sindicalização por categoria”.38

O Ministério da Economia e o órgão competente para o Registro das entidades sindicais à organização representativa de categoria profissional ou econômica. Para pleitear êxito no referido registro, e preciso atender todos os

36 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 14 ed. São Paulo: Saraivajur,

2019, p. 1138.

37 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro. Direito sindical. 7 ed. São Paulo: LTr, 2018, p. 125. 38 Ibidem, p. 125.

(25)

requisitos da portaria 501 de 30 de abril de 2019, que regula todos os procedimentos administrativos.39

A entidade sindical deverá ter Certificação Digital, emitida conforme a ICPBrasil, em concordância com a portaria nº 268, de 21 de fevereiro de 2013 que estabelece o uso obrigatório da Certificação Digital, emitida conforme a ICPBrasil, nas solicitações realizadas eletronicamente via internet no Cadastro Nacional de Entidades Sindicais – CNES, para proceder com a solicitação de registro junto ao sistema Eletrônico SEI.40

Após cumpridas todas as formalidades legais, o processo será encaminhado para publicação do Registro Sindical – RES no Diário Oficial da União – DOU, adquirindo então, a personalidade sindical necessária para o reconhecimento da investidura sindical e para o exercício legal das prerrogativas.

39 Portaria 501/2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/portaria-501-moro-institui-registro.pdf. Acesso em 25 out. 2019.

40 Portaria 501/2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/portaria-501-moro-institui-registro.pdf. Acesso em 25 out. 2019.

(26)

2. PRINCÍPIOS E FUNÇÕES SINDICAIS

2.1 O PRINCÍPIO DA LIBERDADE ASSOCIATIVA E SINDICAL

Esse é o princípio essencial do direito coletivo do trabalho assegurado de forma ampla pela Constituição Federal de 1988, que visa estabelecer o direito de reunião em associação de trabalhadores e empregadores de maneira democrática, sem intervenção e sem a necessidade de autorização prévia do Estado.

Segundo Mauricio Godinho Delgado o princípio da liberdade de associação:

O princípio da liberdade de associação assegura consequências jurídico-institucional a qualquer iniciativa de agregação estável e pacifica entre pessoas, independentemente do seu segmento social ou dos temas causadores da aproximação. Não restringe, portanto, a área temática econômico-profissionais (onde se situa a ideia de liberdade sindical).41 Verifica-se que o direito de associação foi assegurado através do princípio da liberdade sindical, sendo que a liberdade de associação é fundamental para que as pessoas se unam em busca do mesmo senso comum, podendo assim lograr com êxito nas demandas relativas ao grupo. Ocorre que uma vez associado à entidade sindical, o indivíduo pode lutar em prol de toda a coletividade.42

Conforme entendimento de Mendes: “A liberdade de associação propicia autoconhecimento, desenvolvimento da personalidade, constituindo-se em meio orientado para busca da autorealização.”43

Desse modo, a liberdade de associação constitui uma função do princípio da liberdade sindical. E tal princípio deve ser visto de maneira mais ampla, não só no que concerne à liberdade de se associar ou deixar de se associar, conforme assegurado no art. 5º, inciso XX da Constituição Federal de 1988, mas também quanto à liberdade de estruturação interna do sindicato no tocante à atuação na defesa de seus interesses.44

A liberdade associativa garante a prerrogativa de que o trabalhador tem de se associar ou não, abrangendo o direito de liberdade para a livre vinculação a uma entidade sindical, bem como a desvinculação de seus quadros associativos.

41 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 60. 42 MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 8 ed. São

Paulo: Saraiva,2016. P. 120.

43 Ibidem. P 128.

44 ALVES, Amauri César. Liberdade sindical como exigência constitucional. Revista LTr, Vol. 78,

(27)

No tocante ao princípio da liberdade sindical, é preciso destacar, de antemão, que o movimento sindical surgiu para eliminar a exploração dos trabalhadores, pelos detentores do poder e do capital, no episódio da industrialização proveniente da revolução industrial.

Acerca disso, destaca Maurício Godinho Delgado:

E evidente que o processo de democratização do sistema sindical brasileiro passa pela alteração desses velhos traços, da matriz corporativista oriunda das décadas de 1930 e 40 e que foram preservadas no texto constitucional de 1988. A proposito a combinação de regras princípios e estudos que sempre se mostraram contraditório a historia na historia do sindicalismo (alguns democráticos, outros de origem autoritária-corporativa), tentada pela carta magna de 1988. 45

Insta destacar que a Carta Magna promoveu avanços democráticos para os sindicatos, como a prerrogativa de elaborar seus próprios estatutos sociais, a autonomia de eleger seus representantes, organizar sua gestão, criar programa de ação, sem a intervenção do Poder Publico, em conformidade com artigo 8º, I da Constituição Federal de 1988, que assim preceitua:

Art. 8 É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical.46

Nessa perspectiva, Sergio Pinto Martins assinala que liberdade sindical constitui o direito de os trabalhadores e empregadores se organizarem e constituírem livremente as agremiações que desejarem, no número por eles idealizado, sem que sofram qualquer interferência ou intervenção do Estado, nem uns em relação aos outros, visando à promoção de seus interesses ou dos grupos que irão representar. Essa liberdade sindical também compreende o direito de ingressar e retirar-se dos sindicatos47.

Nessa linha, elucida com exatidão Maria Cristina Cintra Machaczek, que a liberdade sindical:

Pressupõe o direito consagrado internacionalmente que têm os trabalhadores e empregadores de organizarem-se livremente, sem intervenção do Estado, no sentido de constituírem entidades sindicais, bem como delas se filiarem ou não, com ampla liberdade de opiniões, ideologias,

45 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 10 ed. São Paulo: LTr, 2011. p.

1.266

4646BRASIL. Constituição (1988). In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 9

(28)

desde que respeitados os limites mínimos estabelecidos e seguido o objetivo a que se propõem. A liberdade sindical está vinculada ao reconhecimento dos princípios fundamentais que devem necessariamente ser observados e cumpridos. Um dos princípios fundamentais para a concretização da liberdade sindical é a livre oportunidade de constituição de sindicatos e de filiação, aliado à liberdade de auto-organização autogerência em função dos interesses da classe e, finalmente, à possibilidade da existência de mais de um sindicato para mesma categoria e na mesma base territorial.48

De acordo com José Cairo Júnior, a liberdade sindical significa “a inexistência de óbices legais para que patrões e empregados possam se associar para a defesa dos seus interesses, sem qualquer intervenção do Estado”.49

Além disso, a constituição vigente preconiza a legitimidade dos sindicatos de agir na defesa dos direitos e interesses individuais e coletivos da categoria. A cerca desse papel, vale destacar o pensamento de Vólia Bomfim Cassar, referente ao princípio da liberdade sindical:

O referido princípio é espinha dorsal do Direito Coletivo representado por um Estado Social e Democrático de Direito. Sendo um direito subjetivo público que veda a intervenção do Estado na criação ou funcionamento do sindicato. A Convecção da OIT n. 87, não ratificada pelo Brasil, informa que está liberdade consiste no direito dos empregadores e trabalhadores, sem distinção e intervenção estatal, de constituírem as organizações que consideravam convenientes, assim como de se filiarem a essas organizações ou delas se desligarem.50

A mesma autora enfatiza que a liberdade sindical possui duas faces: positiva e negativa. A positiva caracteriza-se no direito que os trabalhadores e empregadores têm de se reunirem para fundar sindicatos, o direito de cada trabalhador ou empregador de verem a possibilidade de filiar-se ao sindicato de sua livre escolha e não naquele previamente determinado por um terceiro. Enquanto que a liberdade de filiação negativa é o direito que tem o trabalhador de não filiar-se a nenhum sindicato.51

2.2 PRINCÍPIO DA AUTONOMIA SINDICAL

48 MACHACZEK, Maria Cristina Cintra. A liberdade sindical como concretização dos direitos da

pessoa humana do trabalhador. In: PIOVESAN, Flávia; CARVALHO, Luciana Parla Vaz. Direitos

humanos e direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2010, p. 297.

49 CAIRO JUNIOR, José. Curso de direito do trabalho. 11 ed. Salvador: JusPodvim, 2016. p.

1023.

50 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 16 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. P. 1241. 51 Ibidem, p. 1.241.

(29)

O princípio da autonomia sindical, nas palavras de Maurício Godinho possui o seguinte significado:

Tal princípio sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e sindicais dos trabalhadores, sem interferências empresariais ou do Estado. Trata-se ele, portanto, da livre estruturação interna do sindicato, sua livre atuação externa, sua sustentação econômico-financeira e sua desvinculação de controles administrativos estatais ou em face do empregador52.

Desta forma, fica comprovado que foi a partir da Carta Magna de 1988 que os sindicatos conquistaram autonomia frente ao Estado, pois a Constituição Federal de 1988 eliminou o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura dos sindicatos quanto a sua criação e gestão, visto que tanto as associações profissionais como os sindicatos promoveram suas próprias organizações buscando estruturarem-se de acordo com o próprio estatuto, sem qualquer interferência, ou seja, sem intervenção estatal em sua administração que pudesse afetar as atividades desenvolvidas nessas entidades, construindo assim, uma liberdade potencializada.

Consoante ensina Mauricio Godinho Delgado:

Somente a partir da Constituição de 1988 é que passou a ter sentido se sustentar que o princípio autonomista ganhou corpo na ordem jurídica do País. De fato, a nova Constituição eliminou o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura dos sindicatos, quer quanto à sua criação, quer quanto à sua gestão (art. 8º, I). Além disso, alargou as prerrogativas de atuação dessas entidades, seja em questões judiciais e administrativas (art. 8º, III), seja na negociação coletiva (arts. 8º, VI, e 7º, XXVI), seja pela amplitude assegurada ao direito de greve (art. 9º).53

O Artigo 8º, inciso I, da Constituição Federal de 1988, ao tratar da autonomia sindical, estabelece, in verbis:

Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical;54

Diante do contexto, o princípio da autonomia sindical garante que as entidades sindicais sejam geridas livremente sem intromissão de empresas

52 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p 1.551. 53 DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios constitucionais do trabalho e princípios de direito individual e coletivo do trabalho. 5 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 112.

5454BRASIL. Constituição (1988). In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 9

(30)

particulares ou do Estado, permitindo com isso que o sindicato tenha livre desempenho externo e liberdade de estruturação interna.

2.3 PRINCÍPIO DA INTERVENIÊNCIA SINDICAL NA RELAÇÃO COLETIVA

Na lição do Mauricio Godinho Delgado “o princípio da interveniência sindical na relação coletiva, propõe, que a validade do processo negocial coletivo de trabalho se submetam a necessária intervenção do ser coletivo institucionalizado obreiro. No caso do brasileiro, o sindicato.”55

Ainda de acordo com o autor:

Assumido pela Constituição de 1988 (art. 8, III e VI, da CF/1988), o princípio visa assegurar a existência de efetiva equivalência entre os sujeitos contrapostos, evitando a negociação informal do empregador com grupos coletivos obreiros estruturados apenas de modo episódico, eventual, sem a força de uma institucionalização democrática como a propiciada pelo sindicato (com garantias especiais de emprego, transparência negocial etc).56

Em virtude do princípio supracitado, qualquer alteração feita sem a interferência do sindicato terá caráter de simples cláusula contratual, e nessa qualidade “submete-se a todas as restrições postas pelo ramo justrabalhista às alterações do contrato de trabalho, inclusive o rigoroso princípio da inalterabilidade contratual lesiva.”57 Logo,

A presente diretriz atua, pois, como verdadeiro princípio de resistência trabalhista. E corretamente, pois não pode a ordem jurídica conferir a particulares o poderoso veículo de criação de normas jurídicas (e não simples cláusulas contratuais) sem uma consistente garantia de que os interesses sociais mais amplos não estejam adequadamente resguardados. E a presença e a atuação dos sindicatos têm sido consideradas, na história do Direito do Trabalho, uma das mais significativas garantias alcançadas pelos trabalhadores em suas relações com o poder empresarial58

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 8º, incisos III e VI, afirma categoricamente a imprescindibilidade da participação dos sindicatos nas convenções coletivas em matéria trabalhista:

55 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 59. 56 DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios constitucionais do trabalho e princípios de direito individual e coletivo do trabalho. 5 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 112.

57 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2011. p. 57. 58 DELGADO, Mauricio Godinho. Princípios constitucionais do trabalho e princípios de direito individual e coletivo do trabalho. 5 ed. São Paulo: LTr, 2017, p. 113.

(31)

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

Isto posto, a necessidade e a exigência da atuação do sindicato no processo de negociação coletiva. Contudo a razão do referido princípio, sendo a necessidade de equiparar os seres contratantes na negociação coletiva, ou seja, que o empregador tem por si só a essência de ser coletivo, mas os trabalhadores necessitam da representação do sindicato para adquirir assim a natureza coletivizada, para que o mesmo trabalhe na defesa dos direitos coletivos e individuais da categoria.59

2.4 PRINCÍPIO DA CRIATIVIDADE JURÍDICA NA NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Esse princípio é baseado na autonomia privada coletiva, que permite que os sindicatos criem suas próprias normas jurídicas, reflete o poder de auto normatização conferido aos seres coletivos, que por meio dos instrumentos negociais coletivos acordos e convenções coletivos de trabalho, podem criar normas jurídicas destinadas a regular os contratos individuais de trabalho das categorias profissionais envolvidas.

Conforme Mauricio Godinho Delgado:

O principio da criatividade jurídica de negociação coletiva traduz a noção que os processos negociais coletivos e seus instrumentos (contrato coletivo, acordo coletivo, convenção coletiva do trabalho) tem o real poder de cria norma jurídica qualidade e prerrogativa e efeitos próprios a esta, em harmonia com a normatividade heterônoma estatal.60

Importa salientar que o poder dado à negociação coletiva trabalhista permite a criação de normas jurídicas e não meras cláusulas contratuais, que, em geral, o Direito autoriza a qualquer agente particular. Na negociação coletiva, os sindicatos de empregados e empregadores, criam regras amplas, gerais e abstratas, semelhantes às leis. Quando há regras específicas, afasta-se o que a legislação prevê e aplicam-se as regras criadas pelo sindicato a todos seus representados.

59 TEODORO, Maria Cecília Máximo. Princípio da adequação setorial negociada no direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2007 p. 74.

(32)

Seguindo a visão de Mauricio Godinho Delgado, a criação de normas jurídicas:

É o marco distintivo do Direito Coletivo do Trabalho em todo o universo jurídico. Trata-se de um dos poucos segmentos do Direito que possui, em seu interior, essa aptidão, esse poder, que, desde a Idade Moderna tende a se concentrar no Estado. A geração de regras jurídicas que se distanciam em qualidades e poderes das meras cláusulas obrigacionais, dirigindo-se a normatizar os contratos de trabalho das respectivas bases representadas na negociação coletiva, é um marco de afirmação do segmento juscoletivo, que confere a ele papel econômico, social e político muito relevante na sociedade democrática.61

A criatividade jurídica consubstancia a própria razão de ser da negociação coletiva, uma vez que a criação de normas jurídicas pelos seres coletivos de uma comunidade econômico-profissional realiza o princípio democrático de descentralização política e de avanço da autogestão social pelas comunidades localizadas62. No mesmo pensamento do autor entende-se que as normas jurídicas

“não aderem permanentemente à relação jurídica pactuada entre as partes”63, sendo

capaz de ser revogadas e extintas, deixam assim de produzir os seus efeitos jurídicos.

Assim sendo, a negociação coletiva trabalhista, realizada com a participação do sindicato de trabalhadores, tem esse poder de produzir normas jurídicas, e não simples cláusulas contratuais. Desse modo, merece destaque o fato de que o ordenamento autorize que entes privados concebam suas próprias obrigações e deveres com força normativa.

Coerentemente, é o poder de conceber normas jurídicas pelos seres coletivos trabalhistas não é pleno e indomável, pois ocorre que a própria ordem jurídica trabalhista determina os limites à autonomia coletiva.

2.5 PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA DOS CONTRATANTES COLETIVOS

O princípio da equivalência entre os contratantes coletivos requer que as partes ao celebrar convenções e acordos coletivos de trabalho, possam estabelecer idêntica natureza jurídica e ter os mesmos instrumentos de ameaça igualmente capazes e equilibrados para a defesa de seus interesses contrários, como resultado

61 DELGADO, Mauricio Godinho Delgado. Direito coletivo do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2015,

p. 33.

62 DELGADO, Maurício Godinho. Direito coletivo do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 59. 63 Ibidem, P.1495.

(33)

de legítima negociação. Desse modo, “o reconhecimento de um estatuto sócio jurídico semelhante a ambos os contratantes coletivos (o obreiro e o empresarial) ”.64

Sendo que os sujeitos da negociação coletiva trabalhista se equivalem, tem a mesma natureza, são todos seres coletivos.

O empregador por si já é considerado um ser coletivo, independentemente de se de agrupar em alguma entidade sindical. Por outro lado, os trabalhadores têm sua face coletiva institucionalizada quando se agrupam e formam os sindicatos.65

Na planície das relações coletivas de trabalho, o sindicato dos trabalhadores e os empregadores estão em plano de igualdade, podem valer-se dos instrumentos de ação e resistência, a serem utilizados no decorrer do processo negocial coletivo. Por conta da atuação intermediária obrigatória do sindicato dos trabalhadores e das liberdades e garantias asseguradas à entidade sindical, não é possível verificar a existência de vulnerabilidade da representação dos trabalhadores, muito menos falar em aplicação do princípio da proteção no âmbito das relações coletivas de trabalho66

Nas palavras de Maurício Godinho Delgado, tal equivalência resulta, portanto,

da satisfação de “dois aspectos fundamentais: a natureza os

processos característicos aos seres coletivos trabalhistas.”67

Explica o mesmo autor, sobre o primeiro aspecto:

Os sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho têm a mesma natureza, são todos seres coletivos. Há, como visto, o empregador que, isoladamente, já é um ser coletivo, por sua própria natureza, independentemente de se agrupar em alguma associação sindical. É claro que pode também atuar através de sua entidade representativa; contudo, mesmo atuando de forma isolada, terá natureza e agirá como ser coletivo.68

Claramente, a natureza coletiva dos sindicatos deve ser de acordo com a realidade. Sendo que os sindicatos dos empregados têm de exibir consistência, estrutura organizativa, além de efetiva representatividade no que diz respeito à sua base profissional trabalhista. Tendo em vista que o sindicato frágil e sem representatividade verdadeira consiste na oposição da ideia de sindicato, improvavelmente sendo apta a impedir a natureza de ser coletivo obreiro.

64 DELGADO, Maurício Godinho. Direito coletivo do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 55. 65 Ibidem, p. 55.

66 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do

trabalho. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.p 182.

67DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 17 ed. São Paulo: LTr, 2018, p. 1557.

68 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P.91.

(34)

No que pulsa ao segundo aspecto, aludido ao instrumento de pressão a cargo dos sujeitos coletivos, aptos de garantir equivalência na negociação de interesses contrários, assim salienta Maurício Godinho os seguintes argumentos:

O segundo aspecto essencial a fundamentar o presente princípio é a circunstância de contarem os dois seres contrapostos (até mesmo o ser coletivo obreiro) com instrumentos eficazes de atuação e pressão (e, portanto, negociação). Os instrumentos colocados à disposição do sujeito coletivo dos trabalhadores (garantias de emprego, prerrogativas de atuação sindical, possibilidade de mobilização e pressão sobre a sociedade civil e Estado, greve, etc.) reduziriam, no plano juscoletivo, a disparidade lancinante que separa o trabalhador, como indivíduo, do empresário. Isso possibilitaria ao Direito Coletivo conferir tratamento jurídico mais equilibrado às partes nele envolvidas. Nessa linha, perderia sentido no Direito Coletivo do Trabalho a acentuada diretriz protecionista e intervencionista que tanto caracteriza o Direito Individual do Trabalho69

Outro aspecto a fundamentar a equiparação dos contratantes coletivos é a circunstância de contarem os dois sujeitos da relação com instrumentos eficazes de atuação e pressão, o que afasta a disparidade que sempre se evidenciou entre o trabalhador individual e o empresário. Dessa maneira, não faz sentido a acentuada diretriz protecionista e intervencionista do direito individual do trabalho.

Consoante as reflexões de Mauricio Godinho Delgado:

Em sentido contrário a tal entendimento – sobre não haver sentido a diretriz protecionista e intervencionista do Estado, ante a equivalência dos seres contratantes – Maurício Godinho Delgado aduz que, no caso brasileiro, mesmo depois de mais de vinte anos após a promulgação da Constituição, ainda não se completou a transição para um direito coletivo pleno, equânime e eficaz, que realmente assegure a equivalência das partes contratantes. Isso porque, a Constituição, em que pese tenha afirmado alguns princípios fundamentais do Direito Coletivo do Trabalho no país, não se fez seguir de uma Carta de Direitos Sindicais que adequasse a velha legislação heterônoma às reais necessidades da democratização do sistema trabalhista e da negociação coletiva. Nesse sentido, portanto, é possível vislumbrar que, talvez, a diretriz protecionista, ao menos, ainda faça sentido.70

Mais uma vez, é necessário atentar para os limites da negociação coletiva trabalhista, haja vista que mesmo havendo equivalência entre contratantes coletivos, não se pode falar em total e plena autonomia privada coletiva.

2.2.1 Funções sindicais

69DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P. 55.

70DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P. 55.

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